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As superações da Ciência de Enfermagem e os novos desafios

EDITORIAL

As superações da Ciência de Enfermagem e os novos desafios

Ivone Evangelista CabralI

IProfessora Associada do Departamento de Enfermagem Materno Infantil da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora CNPq. Presidente da Associação Brasileira de Enfermagem-ABEn, Gestão 2010-2013. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. icabral44@hotmail.com

Entre 2007 e 2009, a produção científica de enfermagem brasileira registrada pelos 35 programas de pós-graduação no sistema de avaliação da CAPES(1) correspondeu a 5.194 artigos publicados em 595 periódicos. As autorias totalizaram 7.173, sendo 88,1% em periódicos e 11,9% em livros e capítulos de livros. No triênio, foram defendidas 1.517 dissertações de mestrado e 377 teses de doutorado. Os quantitativos da produção nos advertem para a necessidade de problematizar a utilidade social do conhecimento de Enfermagem e o compromisso em transformá-lo em bem-estar das pessoas, grupos e coletividades.

Quanto à difusão científica, o Fórum de Editores de Periódicos de Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), desde sua criação, nos anos 1990, tem contribuído para a melhoria da qualidade dos periódicos. No ano de 2010, dos 112 periódicos científicos internacionais na Web of Science editados no Brasil, quatro são de Enfermagem: Revista Latino-Americana de Enfermagem, Revista da Escola de Enfermagem da USP, Acta Paulista de Enfermagem e Texto & Contexto-Enfermagem. No ano de 2009, a visibilidade internacional da produção cientifica de Enfermagem brasileira foi marcada pela sexta posição no ranking mundial do SCIMAGO(2).

Se na produção e difusão do conhecimento a Enfermagem brasileira atingiu patamares de respeitabilidade, já na visibilidade do conhecimento consumido, que é medido pelo índice de citação, há ainda um grande desafio a ser superado pelos pesquisadores e pela Ciência de Enfermagem no Brasil. No SCIMAGO(2) registrou-se, em 2009, apenas 0.55 citações por documento. É preciso que se crie uma cultura de marketing dos artigos publicados, difundindo-os organicamente na geração de novos conhecimentos e transformando-os em políticas públicas e políticas de cuidados de Enfermagem.

Na atualidade, transitar da produção/difusão do conhecimento para o consumo e a transferência de conhecimento constitui-se um imperativo ético e cidadão do/a pesquisador/a de Enfermagem para com o sujeitos do seu Cuidar – pessoas, grupos e/ou coletividades. Os quantitativos apresentados anteriormente circunscrevem a produção científica à esfera acadêmica. O conhecimento gerado permanece afastado dos serviços e da vida social, exercendo pouca influência na formulação de políticas públicas de saúde(3). As entidades de Enfermagem e afins precisam continuar envidando esforços de superação dos velhos desafios e construir novos sentidos para a pesquisa de Enfermagem. Precisa-se ir além das contribuições/implicações do estudo, como um tópico dos relatórios de pesquisa. Faz-se necessário gerar consensos de práticas, partindo-se de resultados de pesquisa ou produzindo-se evidências que sejam capazes de contribuir para mudar modelos assistenciais, processos de cuidar, políticas institucionais de cuidados.

A Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) introduziu, no espaço político e cientifico do 15º SENPE de 2009, o debate articulando as interfaces do conhecimento, cuidado e cidadania em benefício do ser humano(4). Naquele evento, mais de mil pesquisadores brasileiros, oriundos das mais variadas instituições do país, analisaram o papel social da pesquisa em Enfermagem para além da produção, consumo, divulgação e difusão cientifica, bem como a tradução e transferência de conhecimento de seus centros produtores para os campos social e da saúde.

No 16º SENPE, que ocorrerá no período de 19 a 22 de junho de 2011, na cidade de Campo Grande (MS), espera-se proporcionar aos participantes a oportunidade logística, dialógica e epistemológica para debater as interfaces da Ciência de Enfermagem em tempos de interdisciplinaridade, em benefício dos cidadãos e das cidadãs no ciclo de vida; promover o intercâmbio interinstitucional e a socialização do conhecimento produzido pelas instituições de pesquisa e pelos pesquisadores(as) de Enfermagem; refletir sobre os limites e as possibilidades da produção do conhecimento de Enfermagem, e sua contribuição para a construção de uma prática de cuidar e educar sociocultural, interdisciplinar e transcultural do cidadão; discutir a interdisciplinaridade na produção do conhecimento e o estatuto da ciência de Enfermagem do século XXI; discutir as implicações da ciência de Enfermagem na formulação de políticas públicas (sociais e de saúde) de cuidado (em saúde e de Enfermagem), de formação de pesquisadores e de redes de pesquisa.

Para quem se inscreveu no 16º SENPE, sejam bem-vindos e bem-vindas! Divulguem seus artigos publicados, gerem consensos de práticas a partir de resultados de pesquisa, anunciem novas possibilidades de cuidar e formem redes de pesquisas e pesquisadores para gerar novos conhecimentos, retroalimentando, dessa maneira, o existir da Enfermagem como Ciência.

  • 1
    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Relatório de Avaliação Enfermagem [Internet]. Brasília; 2010 [citado 2011 mar. 31]. Disponível em: http://trienal.capes.gov.br/wp-content/uploads/2010/12/ENFERMAGEM-RELATÓRIO-DE-AVALIAÇÃO-FINAL-dez10.pdf
  • 2. SCImago Journal Country Rank (SJR). Country Ranks [Internet]. 2009 [cited 2011 Mar 31]. Available from: http://www.scimagojr.com/countryrank.php?area=2900&category=0®ion=all&year=2009&order=it&min=0&min_type=it
  • 3. Cabral IE, Tyrrel MAR. Pesquisa em enfermagem nas Américas. Rev Bras Enferm [Internet]. 2010 [citado 2011 mar. 31];63(1):104-10. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n1/v63n1a17.pdf
  • 4. Cabral IE. 15º SENPE: espaço político e científico para debater "Enfermagem: conhecimento, cuidado e cidadania" no Rio de Janeiro [editorial]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2009 [citado 2011 mar. 31];62(2):3. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v62n2/a01v62n2.pdf

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jun 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 2011
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