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Rede de revistas em enfermagem: um desafio a ser compartilhado

EDITORIAL

Rede de revistas em enfermagem: um desafio a ser compartilhado

Margareth AngeloI; Maria Madalena Januário LeiteII; Valéria CastilhoIII

IProfessora Titular do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil, angelm@usp.br

IIProfessora Associada do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil, marimada@usp.br

IIIProfessora Associada do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil, valeriac@usp.br.

A evolução da ciência da Enfermagem global tem sido impulsionada pela crescente produção advinda de programas de Pós-Graduação. A pesquisa científica no Brasil é gerada majoritariamente nas universidades públicas e as revistas científicas têm sido o principal veículo divulgador desta produção disciplinar. Entretanto os leitores assíduos e atentos dos periódicos percebem que as revistas também apontam os caminhos e a evolução da própria produção em ciência. Revistas tradicionais, entre elas a REEUSP publicada há mais de quatro décadas ininterruptamente, são verdadeiras memórias da construção científica em enfermagem. A revista inova em seus processos, conforme a construção em ciência inova suas próprias estratégias.

A interface da ciência com a divulgação dos saberes construídos tem gerado um tipo específico de conhecimento que contribui para a compreensão do que é produzir em ciência e também do que é divulgar a ciência no século XXI. Houve um tempo, quando os programas de pós-graduação eram atividades isoladas de formação, que a produção também refletia uma atividade solitária, na qual os artigos eram produtos de um único autor. Com o passar do tempo, compreendeu-se que o pesquisador não trabalha sozinho, nem produz sozinho e as publicações passaram a refletir uma construção em pares de autor e co-autor.

A associação de pessoas em torno de um trabalho conjunto nos grupos de pesquisa representou um avanço na natureza processual da produção científica. É importante destacar que na constituição de um grupo de pesquisa, parte-se do reconhecimento dos limites individuais e da possibilidade de superação através da estratégia do trabalho coletivo(1). Assim, os grupos de pesquisa proliferaram e passaram a ocupar lugar privilegiado nas políticas de ciência e tecnologia no Brasil, totalizando em 2010, 27.523 grupos ativos no Diretório do CNPq(2). Esta nova configuração do contexto de produção acadêmica reflete-se nas publicações que introduzem os diversos participantes dos grupos de pesquisa na co-autoria dos trabalhos, dando início a um tempo em que novos conceitos se apresentam nos diálogos acadêmicos, dentre eles a globalização da pesquisa, a pesquisa translacional e a produção em rede.

A intercomunicação com pares, o trabalho em equipe, as redes de troca de ideias e disseminação de propostas e achados de investigação e os grupos de referência temática constituem hoje uma condição essencial para a realização de investigações científicas e para o avanço dos conhecimentos(3). Vivemos hoje a tendência nas pesquisas científicas atuais de trabalhar com o conceito de rede.

A informática transformou paradigmas de informação e de aprendizagem e a internet democratizou o conhecimento, introduzindo não somente novas tecnologias, como também novos hábitos e costumes, como a rede social. A rede social on-line é um espaço no qual as pessoas trocam experiências, vivências, ideias, onde há possibilidades de acesso à informação e a construção e o compartilhamento de conhecimento. A comunicação hoje passou a ser de muitos para muitos e os membros de uma rede são consumidores, produtores e articuladores do conteúdo. Teoricamente, cada homem ou cada mulher pode acessar qualquer banco de dados, rompendo o esquema poder/conhecimento(4). A partir daí, segundo o autor, podemos chegar a um conceito muito estimulante que é o conceito de rede.

O saber-fluxo, o saber-transação de conhecimento e as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva estão modificando profundamente os dados do problema da educação e da formação(4). Nesta linha de pensamento, é bem possível considerar a possibilidade destes novos hábitos se expandirem para o gerenciamento dos periódicos de enfermagem.

Dispomos hoje de vários tipos de redes sociais e interagimos confortavelmente com periódicos e bibliotecas virtuais, contudo ainda não desenvolvemos uma rede on-line entre periódicos de enfermagem nacionais e internacionais. Portanto, num momento em que se discute coletivamente estratégias para qualificar a produção acadêmica e as revistas, veículos principais desta produção, consiste um desafio pensar na possibilidade de organizar e implementar um tipo de rede que permita a construção de um novo ambiente de comunicação, conhecimento e inovação, além de ter como intencionalidade a sustentabilidade econômica e financeira das próprias revistas.

Uma rede dessa natureza possibilitaria formas multidirecionais de interação em um espaço inovador de conexão, promovendo o compartilhamento de conhecimento e construindo novas formas de cooperação. O compartilhamento nesta rede significaria que cada periódico também estaria disposto a contribuir com o crescimento do outro e do todo, abrindo espaço para a interação, para o diálogo e para trocas. Uma variedade e diversidade de possibilidades, onde conceitos e novas práticas de editoração seriam recriados e passariam a ter novos significados.

Quando se estabelecer a conexão entre os periódicos será possível perceber que compartilhar é o caminho que deve ser trilhado, que poderá inclusive levar a um desenvolvimento sustentável porque passará a ser algo construído coletivamente, a partir da perspectiva e experiência de muitos. Com o compartilhamento em rede entre as revistas de enfermagem, os conhecimentos seriam potencializados, como uma forma de empoderamento e o capital social da enfermagem se elevaria quase que instantaneamente.

Nessa rede on-line, além da troca de informações entre os vários editores, haverá condições para o desenvolvimento de uma visão estratégica que aborde os aspectos de custos e financiamento e formas de valorização, tanto no sistema Qualis no Brasil como nos sistemas internacionais. Além disso, essa rede ampliará a perspectiva de áreas de atuação, análise em conjunto das dificuldades e problemas e possíveis soluções e definição das contribuições dos diversos parceiros. Deverá ser uma rede flexível que possibilite que os sujeitos busquem e ganhem competências empresariais na área de editoração, criem alianças estratégicas, movimentando e construindo saberes e conhecimento.

Esta rede também poderá dar suporte aos editores e à equipe de editoração, no que diz respeito à organização, melhorando sua eficiência, impulsionando inovações, criando um ambiente mais produtivo que auxilie as revistas a responderem às pressões das políticas públicas, pró ativas, e principalmente potencializando a produção de conhecimentos que impactam os saberes da enfermagem e os cuidados avançados em saúde. Assim, a participação em rede levará as revistas a estabelecerem relações cooperativas e colaborativas, superando a competitividade e tornando-se parceiras, ao utilizarem novas formas de relacionamento e gerenciamento dos periódicos.

Acreditamos que a produtividade, a inovação e a satisfação como conseqüência da participação na rede impulsionará o conhecimento em enfermagem, o desenvolvimento de uma cultura de cooperação e o crescimento gerencial e empresarial.

Para tanto, neste contexto de rede, é essencial criar estratégias de trabalho em colaboração, relação de confiança entre os sujeitos, compartilhamento de responsabilidades e compromisso na realização das ações pactuadas entre os parceiros.

Concluindo, consideramos que embora a proposta de construção de uma rede social on-line dos periódicos de enfermagem é uma meta complexa de ser realizada, ela traria benefícios para a organização das revistas que passariam a ter condições de dar respostas rápidas e consistentes aos seus usuários, melhorando a qualidade do trabalho e o tempo de sua execução e diminuindo os custos, especialmente no que se refere ao acesso e compartilhamento ao conhecimento dos seus membros. Esta será uma estrutura que poderá fortalecer, capacitar e impulsionar os periódicos a processarem informações, tomarem decisões e produzirem inovações tecnológicas. Essa rede abriria novas perspectivas na construção de conhecimentos e na inovação de processos, produtos e serviços, reconfigurando-se continuamente. Enfim, levaria o processo de divulgação de conhecimentos a novos tempos, coerente com o modo de realizar pesquisa.

Com estas reflexões, próprias de quem contempla um futuro que se aproxima, encerramos mais um ano de trabalho e de compromisso da REEUSP, com a ciência da Enfermagem.

A todos os leitores e colaboradores, os nossos melhores votos de um feliz e produtivo 2012!!!

  • 1. Pereira GRM, Andrade M L. Aprendizagem científica: experiência com grupos de pesquisa. In: Bianchetti L, Meksenas P, organizadores. A trama do conhecimento: teoria, método e escrita em ciência e pesquisa. Campinas: Papirus; 2008. p.163-68.
  • 2
    Brasil. Ministério de Ciência e Tecnologia. Súmula estatística: Diretórios de Grupos de Pesquisa do Brasil [Internet]. Brasília; 2010 [citado 2011 set. 25]. Disponível em: http://dgp.cnpq.br/censos/sumula_estatistica/2010/grupos/index_grupo.htm
  • 3. Gatti BA. Formação de grupos e redes de pesquisa educacional: dialogia e qualidade. Rev Bras Educ. 2005;30(4):123-32.
  • 4. Levy P. Cibercultura. 3ª ed. São Paulo: Editora 34; 2010.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Jan 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011
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