Acessibilidade / Reportar erro

Incontinência urinária na predição de quedas em idosos hospitalizados* * Extraído da dissertação "Incidência e fatores associados a quedas em idosos hospitalizados", Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Mato Grosso, 2014

Resumos

Objetivo

Analisar o efeito da incontinência urinária como preditora da incidência de quedas entre idosos hospitalizados.

Método

Estudo de coorte concorrente onde foram acompanhados 221 idosos internados, desde a data da admissão hospitalar até a alta, óbito ou queda. A análise de sobrevivência e a verificação da associação entre a variável de exposição e as demais variáveis foram realizadas pelos métodos de Kaplan-Meier, densidade de incidência e o modelo de regressão de Cox.

Resultados

A incontinência urinária foi um forte preditor de quedas nos idosos pesquisados e esteve associada ao menor tempo de ocorrência do evento. A incontinência urinária, concomitante à disfunção de equilíbrio e marcha e uso de antipsicóticos foram associadas às quedas.

Conclusão

São necessárias medidas de prevenção de risco de quedas específicas aos pacientes idosos hospitalizados que apresentam incontinência urinária.



Idoso; Pacientes internados; Incontinência urinária; Acidentes por quedas; Análise de sobrevida; Enfermagem geriátrica


Objective

Analyzing the effect of urinary incontinence as a predictor of the incidence of falls among hospitalized elderly.

Method

Concurrent cohort study where 221 elderly inpatients were followed from the date of admission until discharge, death or fall. The Kaplan-Meier methods, the incidence density and the Cox regression model were used for the survival analysis and the assessment of the association between the exposure variable and the other variables.

Results

Urinary incontinence was a strong predictor of falls in the surveyed elderly, and was associated with shorter time until the occurrence of event. Urinary incontinence, concomitant with gait and balance dysfunction and use of antipsychotics was associated with falls.

Conclusion

Measures to prevent the risk of falls specific to hospitalized elderly patients who have urinary incontinence are necessary.



Aged; Inpatients; Urinary incontinence; Accidental falls; Survival analysis; Geriatric nursing


Objetivo

Analizar el efecto de la incontinencia urinaria como pronosticadora de la incidencia de caídas entre ancianos hospitalizados.

Método

Estudio de cohorte concurrente en el que se acompañaron a 221 personas mayores en estancia hospitalaria, desde la fecha del ingreso hasta el alta, defunción o caída. El análisis de supervivencia y la verificación de la asociación entre la variable de exposición y las demás variables se llevaron a cabo por los métodos de Kaplan-Meier, densidad de incidencia y el modelo de regresión de Cox.

Resultados

La incontinencia urinaria fue un fuerte pronosticador de caídas en los añosos investigados y estuvo asociada con el menor tiempo de ocurrencia del evento. La incontinencia urinaria, concomitante con la disfunción de equilibrio y marcha y el uso de antipsicóticos, estuvieron asociadas con las caídas.

Conclusión

Son necesarias medidas de prevención de riesgo de caídas específicas a los pacientes añosos hospitalizados que presentan incontinencia urinaria.


Anciano; Pacientes internos; Incontinencia urinaria; Accidentes por caídas; Análisis de supervivencia; Enfermería geriátrica


Introdução

A incontinência urinária (IU) e o acidente por quedas são consideradas duas das mais importantes e recorrentes síndromes geriátricas devido à magnitude de sua ocorrência e suas consequências(101 Santos CRSS, Santos VLCGS. Epidemiologia das incontinências urinária e anal combinadas. Acta Paul Enferm. 2009;22(3):328-30-202 Edwards R, Martin FC, Grant R, Lowe D, Potter J, Husk J, et al. Is urinary continence considered in the assessment of older people after a fall in England and Wales? Cross-sectional clinical audit results. Maturitas. 2011;69(2):179-83). Podem afetar idosos em todas as faixas etárias, em especial os de idade mais avançada(303 Du Moulin MF, Hamers JP, Ambergen AW, Janssen MA, Halfens RJ. Prevalence of urinary incontinence among community-dwelling adults receiving home care. Res Nurs Health. 2008;31(6):604-12

04 Liapis A, Bakas P, Liapi S, Sioutis D, Creatsas G. Epidemiology of female urinary incontinence in the Greek population: EURIG study. Int Urogynecol J. 2010;21(2):217-22
-505 Haylen BT, Ridder D, Freeman RM, Swift SE, Berghmans B, Lee J, et al. An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint report on the terminology for female pelvic floor dysfunction. Neurourol Urodyn. 2010;29(1):4-20).

Estima-se que um terço dos idosos que vivem na comunidade e aproximadamente metade dos hospitalizados ou que vivem em instituições de longa permanência apresentem IU(505 Haylen BT, Ridder D, Freeman RM, Swift SE, Berghmans B, Lee J, et al. An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint report on the terminology for female pelvic floor dysfunction. Neurourol Urodyn. 2010;29(1):4-20). Por sua vez, 30% a 50% dos idosos hospitalizados e que residem em instituições de longa permanência sofreram quedas uma vez na vida(606 Stevens JA, Corso PS, Finkelstein EA, Miller TR. The costs of fatal and non-fatal falls among older adults. Inj Prev. 2006;12(5):290-5-707 Ferreira DCO, Yoshitome AY. Prevalência e características das quedas de idosos institucionalizados. Rev Bras Enferm. 2010;63(6):991-7).

Ambas as síndromes estão relacionadas à necessidade de cuidados institucionais, ao aumento do tempo de hospitalização e, ainda à prevalência de ansiedade e depressão(505 Haylen BT, Ridder D, Freeman RM, Swift SE, Berghmans B, Lee J, et al. An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint report on the terminology for female pelvic floor dysfunction. Neurourol Urodyn. 2010;29(1):4-20,808 Offermans MPW, Du Moulin MFMT, Hamers JPH, Dassen T, Halfens RJ. Prevalence of urinary incontinence and associated risk factors in nursing home residents: a systematic review. Neurourol Urodyn. 2009;28(4):288-94-909 Foley AL, Loharuka S, Barrett JA, Mathews R, Williams K, McGrother CW, et al. Association between the geriatric giants of urinary incontinence and falls in older people using data from the Leicestershire MRC Incontinence Study. Age Ageing. 2012;41(1):35-40).

Estudos têm relatado associações entre IU e quedas(909 Foley AL, Loharuka S, Barrett JA, Mathews R, Williams K, McGrother CW, et al. Association between the geriatric giants of urinary incontinence and falls in older people using data from the Leicestershire MRC Incontinence Study. Age Ageing. 2012;41(1):35-40

10 Dellaroza MSG, Pimenta CAM, Lebrão ML, Duarte YAO, Braga PE. Associação entre dor crônica e autorrelato de quedas: estudo populacional - SABE. Cad Saúde Pública. 2014;30(3):522-32
-1111 Hunter KF, Voaklander D, Hsu ZY, Hsu ZY. Lower urinary tract symptoms and falls risk among older women receiving home support: a prospective cohort study. BMC Geriatr. 2013;13:46). A maioria deles tem sido desenvolvida com idosos residentes na comunidade, com desenhos epidemiológicos transversais, e mostram que esta condição é frequentemente associada à ocorrência de quedas nessa população, principalmente a IU de urgência(505 Haylen BT, Ridder D, Freeman RM, Swift SE, Berghmans B, Lee J, et al. An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint report on the terminology for female pelvic floor dysfunction. Neurourol Urodyn. 2010;29(1):4-20,909 Foley AL, Loharuka S, Barrett JA, Mathews R, Williams K, McGrother CW, et al. Association between the geriatric giants of urinary incontinence and falls in older people using data from the Leicestershire MRC Incontinence Study. Age Ageing. 2012;41(1):35-40). Contudo, até o momento, estudos longitudinais realizados com idosos hospitalizados e que identificaram a IU como fator de risco associado às quedas são poucos(1212 Corsinovi L, Bo M, Ricauda Aimonino N, Marinello R, Gariglio F, Marchetto C, et al. Predictors of falls and hospitalization out comes in elderly patients admitted to an acute geriatric unit. Arch Gerontol Geriatr. 2009;49(1):142-5-1313 Tanaka B, Sakuma M, Ohtani M, Toshiro J, Matsumura T, Morimoto T, et al. Incidence and risk factors of hospital falls on long-term care wards in Japan. J Eval Clin Pract. 2012;18(3):572-7).

A prevenção de quedas de idosos nos hospitais constitui-se em ação imperativa nessas instituições. Idosos incontinentes, além de sofrerem mais quedas, apresentam maior tempo de internação e utilização de recursos de saúde(1212 Corsinovi L, Bo M, Ricauda Aimonino N, Marinello R, Gariglio F, Marchetto C, et al. Predictors of falls and hospitalization out comes in elderly patients admitted to an acute geriatric unit. Arch Gerontol Geriatr. 2009;49(1):142-5

13 Tanaka B, Sakuma M, Ohtani M, Toshiro J, Matsumura T, Morimoto T, et al. Incidence and risk factors of hospital falls on long-term care wards in Japan. J Eval Clin Pract. 2012;18(3):572-7
-1414 Härlein J, Halfens RJ, Dassen T, Lahmann NA. Falls in older hospital inpatients and the effect of cognitive impairment: a secondary analysis of prevalence studies. J Clin Nurs. 2011;20(1-2):175-83). Entretanto, estudos adicionais sobre a influência da IU na ocorrência de quedas entre idosos incontinentes são necessários a fim de que estratégias de prevenção específicas a esses pacientes sejam adotadas.

Assim, o propósito deste estudo foi analisar o efeito da incontinência urinária como preditora da incidência de quedas entre idosos internados em hospitais.

Método

Estudo de coorte prospectivo concorrente que acompanhou 221 idosos internados em enfermarias de clínica médica em três hospitais gerais, de grande porte, conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) do município de Cuiabá, Mato Grosso, no período de março a agosto de 2013.

Participaram do estudo pessoas de ambos os sexos com idade de 60 anos ou mais, que se encontravam internadas no setor de clínica médica dos referidos hospitais. Foram excluídos três idosos que apresentaram capacidade mental comprometida, avaliada pela aplicação do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM)(1010 Dellaroza MSG, Pimenta CAM, Lebrão ML, Duarte YAO, Braga PE. Associação entre dor crônica e autorrelato de quedas: estudo populacional - SABE. Cad Saúde Pública. 2014;30(3):522-32) e não tinham acompanhantes que pudessem responder ao questionário da pesquisa.

A variável de exposição (IU) foi obtida pelo questionamento sobre a perda involuntária de urina. As variáveis sociodemográficas incluídas na análise foram: sexo (feminino e masculino), idade (categorizada em anos, posteriormente re-categorizada em três faixas etárias [60 − 69 anos, 70 – 79 anos e 80 anos ou mais]), escolaridade (< 3 anos e 4 ou mais), renda do idoso em salários mínimos (SM) (menos de 1 e 2 ou mais SM). Como variáveis sobre as condições de saúde do idoso foram consideradas a presença de algumas comorbidades registradas no prontuário: hipertensão arterial, diabetes, osteoporose e acidente vascular cerebral. Também foi incluída a presença de distúrbio de marcha avaliada por meio da aplicação da Escala de marcha e equilíbrio de Tinetti(1515 Tinetti ME. Performace- oriented assessment of mobility problems in elderly patients. J Am Geriatr Soc. 1986;34(2):119-26), e ainda o uso dos medicamentos anti-hipertensivos, hipoglicemiantes, ansiolíticos, antipsicóticos e anticonvulsivantes.

A análise do tempo até a ocorrência das quedas e identificação da associação entre variável de exposição e demais variáveis preditoras foi realizada pelo método de Kaplan-Meier, que estima a função e curva de sobrevida(1616 Klein JP, Moeschberger ML. Survival analysis: techniques for censored and truncated data. New York: Springer-Verlag; 1997). Utilizou-se a data da admissão hospitalar como tempo zero. Inicialmente, avaliaram-se as razões de taxa de incidência (Hazard Ratio – HR) de expostos e não expostos, tendo como variáveis explicativas a presença ou ausência de IU e demais variáveis e, como variável resposta, a ocorrência ou não de quedas. O método utilizado foi o de densidade de incidência, no qual o número de pessoas/tempo é calculado estimando-se o período de observação de cada indivíduo desde a data da internação até a data de ocorrência do evento (falha) ou alta/óbito (censura). Para a análise final utilizou-se o modelo de Regressão de Cox, no qual, para entrada das variáveis preditoras no modelo inicial, considerou-se um valor p de 0,20 e, para permanência da variável no modelo final, o nível de significância de 0,05. As análises foram realizadas utilizando-se o Statistical Package for Social Sciences 18.0 (SPSS).

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Julio Muller - protocolo de número 206.880/2013 da Plataforma Brasil.

Resultados

Dos 221 idosos pesquisados, a maioria era do sexo masculino (n = 117, 52,9%), estava na faixa etária de 70 a 79 anos (n = 85, 38,5%), idade média de 73,9 anos (±8,6 anos), tinha menos de 3 anos de estudo (n = 156, 70,6%) e percebia renda menor que 1 salário mínimo (n = 191, 86,5%).

Os resultados da análise de sobrevida (tábua de vida) estão apresentados na Tabela 1 e na Figura 1. A sobrevida global obtida pela estimativa de Kaplan-Meier foi de 42,0% ao final do período de estudo, enquanto que entre 20 e 39 dias a sobrevida estimada foi 70,0%.

Tabela 1
Tábua de vida para tempo até a ocorrência das quedas de idosos hospitalizados – Cuiabá, MT, 2013
Figura 1
Função de sobrevida de idosos hospitalizados até a ocorrência das quedas obtida por meio do Método de Kaplan-Meier – Cuiabá, MT, 2013

As variáveis associadas com quedas foram presença de incontinência urinária (RR= 6,80; IC 95%: 3,38–13,64), presença de disfunção de equilíbrio e marcha (RR= 5,30; IC 95%: 2,32–12,09), utilização de hipoglicemiantes (RR= 2,22 IC 95%: 1,12–4,40), utilização de ansiolíticos (RR= 4,36 IC 95% 1,84–10,30) e utilização de antipsicóticos (RR= 3,51 I C95%: 1,38–8,89) (Tabela 2).

As variáveis que permaneceram no modelo final de Cox foram presença de incontinência urinária (RR= 5,46; (2,48-12,01)), presença de disfunção de marcha e equilíbrio (RR= 4,56; (1,81-11,45)) e utilização de antipsicóticos (RR= 3,62; (1,33-7,04)) (Tabela 3).

Na Figura 2, a curva de Kaplan Meyer indica a influência da IU na sobrevivência dos idosos hospitalizados. Em comparação com os indivíduos sem IU, os pacientes incontinentes tiveram sobrevida significativamente menor, ou seja, foram mais susceptíveis a sofrer quedas nos primeiros dias de internação.

Tabela 2
Distribuição dos idosos hospitalizados que sofreram quedas por densidade de incidência de tempo de internação, segundo as variáveis de condições de saúde – Cuiabá, MT, 2013
Tabela 3
Regressão dos riscos proporcionais de Cox para a incidência de quedas de idosos hospitalizados – Cuiabá, MT, 2013
Figura 2
Função de sobrevida (Kaplan-Meier) de idosos hospitalizados com incontinência urinária – Cuiabá, MT, 2013

Discussão

Neste estudo, a IU foi um forte preditor de quedas na população estudada, semelhante ao encontrado em estudos longitudinais existentes(1212 Corsinovi L, Bo M, Ricauda Aimonino N, Marinello R, Gariglio F, Marchetto C, et al. Predictors of falls and hospitalization out comes in elderly patients admitted to an acute geriatric unit. Arch Gerontol Geriatr. 2009;49(1):142-5-1313 Tanaka B, Sakuma M, Ohtani M, Toshiro J, Matsumura T, Morimoto T, et al. Incidence and risk factors of hospital falls on long-term care wards in Japan. J Eval Clin Pract. 2012;18(3):572-7). Outro achado relevante foi que pacientes incontinentes sofreram quedas com menor tempo de internação do que os que não tinham IU, reforçando a suposição de que essa condição influencia a ocorrência de quedas em idosos hospitalizados. Uma das explicações é a necessidade mais frequente do idoso de urinar e da incapacidade de adiamento da micção, o que o obriga a ir ao banheiro mais vezes que o esperado, expondo-o ao maior risco de quedas(1717 Chiarelli PE, Mackenzie LA, Osmotherly PG. Urinary incontinence is associated with an increase in falls: a systematic review. Aust J Physiother. 2009;55(2):89-95). Em estudo com 77 adultos hospitalizados com IU, foi encontrado que 85,2% deles acordavam para ir ao banheiro(1818 Silva APM, Santos VLCG. Prevalência da incontinência urinária em adultos e idosos hospitalizados. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2005[citado 2014 fev. 04];39(1):36-45. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n1/a05v39n1.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n1/a0...
). Essa tarefa pode ser ainda mais difícil na concomitância de outros fatores de risco como comorbidades e iluminação precária do ambiente(1919 World Health Organization. Injuries and violence: the facts. Geneva: WHO; 2010). Aliado a isso, há que se considerar que idosos, principalmente no período noturno, tendem a não chamar a enfermagem para ajudá-los a realizar as atividades que consideram ser capazes de realizar(2020 Morris V, Hunter KF, Wagg A. Urinary incontinence and falls: a link ripe for interventions. Geriatr Med. 2011;41(6):333-6-2121 Paiva MC, Paiva SA, Berti HW, Campana AO. Characterization of patient falls according to the notification in adverse event reports. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2010 [cited 2014 Feb 04]; 44(1):134-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n1/en_a19v44n1.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n1/en...
).

Na presente pesquisa, a IU e a disfunção de equilíbrio e marcha foram independentemente associadas com quedas, bem como se mantiveram no modelo final. Esse resultado é semelhante ao de um dos estudos longitudinais existentes(1212 Corsinovi L, Bo M, Ricauda Aimonino N, Marinello R, Gariglio F, Marchetto C, et al. Predictors of falls and hospitalization out comes in elderly patients admitted to an acute geriatric unit. Arch Gerontol Geriatr. 2009;49(1):142-5), no qual o déficit de equilíbrio foi um dos fatores preditores para as quedas dos idosos hospitalizados.

As deficiências nos sistemas visual, vestibular e somatossensorial ocorrem com o envelhecimento e podem levar a dificuldades de equilíbrio e marcha. Essa disfunção, concomitante à IU podem resultar em queda devido à conjunção da instabilidade postural com a presença de necessidade urgente de o idoso ir ao banheiro e a preocupação de não urinar na roupa(2020 Morris V, Hunter KF, Wagg A. Urinary incontinence and falls: a link ripe for interventions. Geriatr Med. 2011;41(6):333-6).

O uso de antipsicóticos foi associado ao risco de quedas. Pesquisas anteriores evidenciaram o uso de antipsicóticos como fator de risco para quedas em idosos hospitalizados(2222 Rhalimi M, Helou R, Jaecker P. Medication use and increased risk of falls in hospitalized elderly patients: a retrospective case-control study. Drugs Aging. 2009; 26(10):847-52-2323 Shuto H, Imakyure O, Matsumoto J, Egawa T, Jiang Y, Hirakawa M, et al. Medication use as a risk factor for inpatient falls in an acute care hospital: a case-crossover study. Br J Clin Pharmacol. 2010;69(5):535-42). Uma possível explicação é que esses medicamentos levam à maior ocorrência de efeitos adversos e, entre eles, a incontinência e/ou infecção do trato urinário, além de possíveis alterações de marcha e equilíbrio, o que, conjuntamente, podem levar à maior ocorrência de quedas(2424 Ramos MG, Rocha FL. Eficácia e segurança dos antipsicóticos atípicos nas demências: uma revisão sistemática. J Bras Psiquiatr. 2006;55(3):218-24-2525 Messinger-Rapport B, Dumas L. Falls in the nursing home: a collaborative approach. Nurs Clin North Am. 2009;44(2):187-95).

Neste estudo, a sobrevida não sofreu influência da idade dos idosos. Esse achado é diferente do encontrado em outros estudos(1212 Corsinovi L, Bo M, Ricauda Aimonino N, Marinello R, Gariglio F, Marchetto C, et al. Predictors of falls and hospitalization out comes in elderly patients admitted to an acute geriatric unit. Arch Gerontol Geriatr. 2009;49(1):142-5-1313 Tanaka B, Sakuma M, Ohtani M, Toshiro J, Matsumura T, Morimoto T, et al. Incidence and risk factors of hospital falls on long-term care wards in Japan. J Eval Clin Pract. 2012;18(3):572-7). Contudo, optou-se pela manutenção da variável faixa etária na regressão de Cox, o que permitiu um melhor ajuste no modelo final.

Estudos de coorte prospectivos concorrentes como o da presente pesquisa têm maior validade que os demais estudos observacionais, pois permitem a avaliação do desfecho no tempo em que este ocorreu, não sendo suscetíveis aos vieses de memória e de informação, entre outras limitações comuns dos estudos não concorrentes. Ademais, levando em consideração o objetivo proposto, a análise de sobrevida tem maior vantagem que outros métodos de análise estatística, já que utiliza a estimação da densidade de incidência e comparação de taxas através de pessoas-tempo, e não dados de prevalência. Contudo, por se tratar um método observacional, não se pode excluir a presença de outros possíveis vieses.

Por fim, considera-se que os resultados do presente estudo aprofundam o conhecimento sobre duas das principais síndromes que acometem os idosos – a incontinência urinária e a queda -, e pesquisas futuras devem considerá-los. A implicação clínica desses achados reside na necessidade de implementar intervenções multiprofissionais e intersetoriais que contribuam para reduzir o risco de quedas de pacientes idosos incontinentes. Há intervenções de enfermagem baseadas em evidências que tem contribuído para essa redução(2626 Wenger NS, Roth CP, Shekelle PG, Young RT, Solomon DH, Kamberg CJ, et al. A practice-based intervention to improve primary care for falls, urinary incontinence, and dementia. J Am Geriatr Soc. 2009;57(3):547-55-2727 Klay M, Marfyak K. Use of a continence nurse specialist in an extended care facility. Urol Nurs. 2005;25(2):101-2, 107-8). Essas medidas incluem identificação dos pacientes com IU, tratamento e cuidados específicos, assim como medidas protetoras que aumentem a segurança desses pacientes (grades nas camas, barras de proteção e iluminação adequada nos quartos e banheiros, papagaios e comadres próximos ao leito).

Acrescenta-se a necessidade de que medidas educativas sobre o risco de quedas e as formas de preveni-las sejam implementadas junto aos pacientes e acompanhantes. Geralmente estes não têm conhecimentos sobre os fatores que levam à maior ocorrência de quedas nos hospitais. E pessoas que possuem mais conhecimento sobre sua situação de saúde e as formas de lidar com ela têm maior possibilidade de adotar comportamentos de saúde adequados e prevenir problemas. Estudos de intervenções educativas para prevenção de quedas em hospitais têm sido realizados e mostram evidências de que, em alguma medida, elas contribuem para a redução do evento(2828 Haines TP, Hill AM, Hill KD, McPhail S, Oliver D, Brauer S, et al. Patient education to prevent falls among older hospital inpatients: a randomized controlled trial. Arch Intern Med. 2011;171(6):516-24-2929 Hill AM, Etherton-Beer C, Haines TP. Tailored education for older patients to facilitate engagement in falls prevention strategies after hospital discharge: a pilot randomized controlled trial. Plos One. 2013;8(5):e63450).

Conclusão

A IU foi um forte preditor de quedas nos idosos pesquisados e esteve associada ao menor tempo de ocorrência do evento. Este estudo também demonstrou que a IU, concomitante à disfunção de equilíbrio e marcha e uso de antipsicóticos foram associadas às quedas. Esses resultados sugerem que medidas de prevenção de risco de quedas específicas devam ser adotadas aos pacientes idosos hospitalizados que apresentam incontinência urinária.

  • *
    Extraído da dissertação "Incidência e fatores associados a quedas em idosos hospitalizados", Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Mato Grosso, 2014

References

  • 01
    Santos CRSS, Santos VLCGS. Epidemiologia das incontinências urinária e anal combinadas. Acta Paul Enferm. 2009;22(3):328-30
  • 02
    Edwards R, Martin FC, Grant R, Lowe D, Potter J, Husk J, et al. Is urinary continence considered in the assessment of older people after a fall in England and Wales? Cross-sectional clinical audit results. Maturitas. 2011;69(2):179-83
  • 03
    Du Moulin MF, Hamers JP, Ambergen AW, Janssen MA, Halfens RJ. Prevalence of urinary incontinence among community-dwelling adults receiving home care. Res Nurs Health. 2008;31(6):604-12
  • 04
    Liapis A, Bakas P, Liapi S, Sioutis D, Creatsas G. Epidemiology of female urinary incontinence in the Greek population: EURIG study. Int Urogynecol J. 2010;21(2):217-22
  • 05
    Haylen BT, Ridder D, Freeman RM, Swift SE, Berghmans B, Lee J, et al. An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint report on the terminology for female pelvic floor dysfunction. Neurourol Urodyn. 2010;29(1):4-20
  • 06
    Stevens JA, Corso PS, Finkelstein EA, Miller TR. The costs of fatal and non-fatal falls among older adults. Inj Prev. 2006;12(5):290-5
  • 07
    Ferreira DCO, Yoshitome AY. Prevalência e características das quedas de idosos institucionalizados. Rev Bras Enferm. 2010;63(6):991-7
  • 08
    Offermans MPW, Du Moulin MFMT, Hamers JPH, Dassen T, Halfens RJ. Prevalence of urinary incontinence and associated risk factors in nursing home residents: a systematic review. Neurourol Urodyn. 2009;28(4):288-94
  • 09
    Foley AL, Loharuka S, Barrett JA, Mathews R, Williams K, McGrother CW, et al. Association between the geriatric giants of urinary incontinence and falls in older people using data from the Leicestershire MRC Incontinence Study. Age Ageing. 2012;41(1):35-40
  • 10
    Dellaroza MSG, Pimenta CAM, Lebrão ML, Duarte YAO, Braga PE. Associação entre dor crônica e autorrelato de quedas: estudo populacional - SABE. Cad Saúde Pública. 2014;30(3):522-32
  • 11
    Hunter KF, Voaklander D, Hsu ZY, Hsu ZY. Lower urinary tract symptoms and falls risk among older women receiving home support: a prospective cohort study. BMC Geriatr. 2013;13:46
  • 12
    Corsinovi L, Bo M, Ricauda Aimonino N, Marinello R, Gariglio F, Marchetto C, et al. Predictors of falls and hospitalization out comes in elderly patients admitted to an acute geriatric unit. Arch Gerontol Geriatr. 2009;49(1):142-5
  • 13
    Tanaka B, Sakuma M, Ohtani M, Toshiro J, Matsumura T, Morimoto T, et al. Incidence and risk factors of hospital falls on long-term care wards in Japan. J Eval Clin Pract. 2012;18(3):572-7
  • 14
    Härlein J, Halfens RJ, Dassen T, Lahmann NA. Falls in older hospital inpatients and the effect of cognitive impairment: a secondary analysis of prevalence studies. J Clin Nurs. 2011;20(1-2):175-83
  • 15
    Tinetti ME. Performace- oriented assessment of mobility problems in elderly patients. J Am Geriatr Soc. 1986;34(2):119-26
  • 16
    Klein JP, Moeschberger ML. Survival analysis: techniques for censored and truncated data. New York: Springer-Verlag; 1997
  • 17
    Chiarelli PE, Mackenzie LA, Osmotherly PG. Urinary incontinence is associated with an increase in falls: a systematic review. Aust J Physiother. 2009;55(2):89-95
  • 18
    Silva APM, Santos VLCG. Prevalência da incontinência urinária em adultos e idosos hospitalizados. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2005[citado 2014 fev. 04];39(1):36-45. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n1/a05v39n1.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n1/a05v39n1.pdf
  • 19
    World Health Organization. Injuries and violence: the facts. Geneva: WHO; 2010
  • 20
    Morris V, Hunter KF, Wagg A. Urinary incontinence and falls: a link ripe for interventions. Geriatr Med. 2011;41(6):333-6
  • 21
    Paiva MC, Paiva SA, Berti HW, Campana AO. Characterization of patient falls according to the notification in adverse event reports. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2010 [cited 2014 Feb 04]; 44(1):134-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n1/en_a19v44n1.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n1/en_a19v44n1.pdf
  • 22
    Rhalimi M, Helou R, Jaecker P. Medication use and increased risk of falls in hospitalized elderly patients: a retrospective case-control study. Drugs Aging. 2009; 26(10):847-52
  • 23
    Shuto H, Imakyure O, Matsumoto J, Egawa T, Jiang Y, Hirakawa M, et al. Medication use as a risk factor for inpatient falls in an acute care hospital: a case-crossover study. Br J Clin Pharmacol. 2010;69(5):535-42
  • 24
    Ramos MG, Rocha FL. Eficácia e segurança dos antipsicóticos atípicos nas demências: uma revisão sistemática. J Bras Psiquiatr. 2006;55(3):218-24
  • 25
    Messinger-Rapport B, Dumas L. Falls in the nursing home: a collaborative approach. Nurs Clin North Am. 2009;44(2):187-95
  • 26
    Wenger NS, Roth CP, Shekelle PG, Young RT, Solomon DH, Kamberg CJ, et al. A practice-based intervention to improve primary care for falls, urinary incontinence, and dementia. J Am Geriatr Soc. 2009;57(3):547-55
  • 27
    Klay M, Marfyak K. Use of a continence nurse specialist in an extended care facility. Urol Nurs. 2005;25(2):101-2, 107-8
  • 28
    Haines TP, Hill AM, Hill KD, McPhail S, Oliver D, Brauer S, et al. Patient education to prevent falls among older hospital inpatients: a randomized controlled trial. Arch Intern Med. 2011;171(6):516-24
  • 29
    Hill AM, Etherton-Beer C, Haines TP. Tailored education for older patients to facilitate engagement in falls prevention strategies after hospital discharge: a pilot randomized controlled trial. Plos One. 2013;8(5):e63450

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Out 2014

Histórico

  • Recebido
    18 Fev 2014
  • Aceito
    05 Ago 2014
Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: reeusp@usp.br