Acessibilidade / Reportar erro

Fatores associados à diminuição de força de preensão manual em idosos longevos* * Extraído do projeto de pesquisa intitulado “Efeitos da fragilidade em idosos longevos da comunidade”, Universidade Federal do Paraná; 2012

Resumos

Objetivo

Investigar a prevalência da redução da força de preensão manual e fatores associados em idosos longevos, usuários da atenção básica de saúde.

Método

Estudo quantitativo transversal, cujos dados foram coletados no período de janeiro a dezembro de 2013, por meio de testes e aplicação de questionários. A amostra por conveniência compreendeu 157 idosos.

Resultados

Apontam que a redução da força de preensão manual possui prevalência moderada (25,5%), com predomínio do sexo feminino (19,1%), da faixa etária de 80 a 89 anos (18,5%) e baixa escolaridade (15,9%). A associação entre diminuição da força de preensão manual e as variáveis idade e índice de massa corpórea mostrou significância estatística.

Conclusão

As investigações sobre o componente da força de preensão manual são fundamentais para a identificação das condições clínicas dos idosos longevos brasileiros e contribuem para a construção de planos voltados para a gestão da fragilidade.

Idoso fragilizado; Força da mão; Enfermagem geriátrica; Saúde do idoso


Objective

To investigate the prevalence of reduced grip strength and associated factors in long-lived elderly, who are users of primary health care.

Method

Cross-sectional quantitative study, data were collected during the period of January to December of 2013, by applying tests and questionnaires. The convenience sampling was comprised of 157 seniors.

Results

The findings indicate that the reduction in grip strength presents a moderate prevalence (25.5%), predominantly among females (19.1%), in the age group of 80-89 years (18.5%) and in those with lower educational levels (15.9%). The association between reduced grip strength and the variables of age and body mass index showed a statistical significance.

Conclusion

Investigations about the handgrip strength are essential for identifying clinical conditions of Brazilian long-lived elderly, and contribute to the development of plans towards the management of frailty.

Frail elderly; Hand strength
; Geriatric nursing; Health of the elderly


Objetivo

Investigar la prevalencia de la reducción de la fuerza de agarre manual y los factores asociados en ancianos longevos, usuarios de la atención básica a la salud.

Método

Estudio cuantitativo transversal, cuyos datos fueron recogidos en el período de enero a diciembre de 2013, por medio de pruebas y aplicación de cuestionarios. La muestra por conveniencia comprendió a 157 ancianos.

Resultados

Señalan que la reducción de la fuerza de agarre manual tiene prevalencia moderada (25,5%), con predominio del sexo femenino (19,1%), del rango de edad de 80 a 89 años (18,5%) y baja escolaridad (15,9%). La asociación entre la disminución de la fuerza de agarre manual y las variables de edad e índice de masa corpórea mostró significación estadística.

Conclusión

Las investigaciones acerca del componente de la fuerza de agarre manual son fundamentales para la identificación de las condiciones clínicas de los ancianos longevos brasileños y contribuyen para la construcción de planes dirigidos a la gestión de la fragilidad.

Anciano frágil
; Fuerza de la mano
; Enfermería geriátrica
; Salud del anciano


Introdução

A expectativa de vida para os idosos com 80 anos ou mais, também denominados longevos, vem aumentando a cada década. De acordo com o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem três milhões de indivíduos nessa faixa etária no Brasil(101 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Síntese de Indicadores Sociais. Uma análise das condições de vida da população brasileira [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2012 [citado 2013 ago. 10]. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociais/Sintese_de_Indicadores_Sociais_2012/SIS_2012.pdf
ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociai...
). Apesar da prevalência de fragilidade física nesse grupo etário ser elevada devido à síndrome estar relacionada ao envelhecimento biológico, nem todos os idosos tornam-se obrigatoriamente frágeis(202 Neri AL. Fragilidade e qualidade de vida na velhice. Campinas: Alínea; 2013. Fragilidade e qualidade de vida na velhice; p.16-29), fato que indica a necessidade de rastreio dessa condição, especialmente em longevos.

Nas últimas décadas, o termo fragilidade tem se destacado nos estudos sobre o envelhecimento. As diversas definições teóricas e operacionais são controversas(303 Morley JE, Vellas B, Kan GAV, Anker SD, Bauer JM, Bernabei R, et al. Frailty consensus: a call to action. J Am Med Dir Assoc. 2013;14(6):392-7-404 Lacas A, Rockwood K. Frailty in primary care: a review of its conceptualization and implications for practice. BMC Med. 2012;10:4). No entanto, em 2012, um grupo formado por representantes de seis expressivas sociedades internacionais e especialistas no tema acordaram acerca de aspectos importantes da síndrome, embora sem definir ainda um consenso final. Dessa forma, a fragilidade física passou a ser caracterizada como uma síndrome médica, com múltiplas causas e contributos, que se caracteriza por diminuição da força e da resistência e reduzida função fisiológica que aumenta a vulnerabilidade do indivíduo e desenvolve maior dependência e/ou morte(303 Morley JE, Vellas B, Kan GAV, Anker SD, Bauer JM, Bernabei R, et al. Frailty consensus: a call to action. J Am Med Dir Assoc. 2013;14(6):392-7).

Essa condição encontra-se alicerçada num tripé de alterações relacionadas à senescência: alterações neuromusculares, desregulação do sistema neuroendócrino e disfunção do sistema imunológico. Essas alterações, quando associadas a um ciclo fisiológico de exacerbação do declínio de múltiplos sistemas, leva o idoso a um estado de vulnerabilidade(505 Fried L, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56).

O fenótipo da fragilidade física é composto por marcadores para avaliação e caracterização dos idosos, os quais são: lentidão da marcha, diminuição da força de preensão manual, perda de peso não intencional, exaustão auto relatada e baixo nível de atividade física(505 Fried L, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56-606 Fried L, Ferrucci L, Darer J, Williamson JD, Anderson G. Untangling the concepts of disability, frailty and comorbidity: implications for improved targeting and care. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2004;59(3):255-63). Idosos que não apresentem nenhum dos marcadores são considerados não frágeis, aqueles com um ou dois são chamados de pré-frágeis, e três ou mais caracterizam os idosos frágeis.

Dentre esses componentes, elegeu-se a Força de Preensão Manual (FPM) como objeto de estudo, a qual é utilizada em pesquisas como indicador da força muscular do corpo, e um importante marcador de fragilidade(707 Xue QL. The frailty syndrome: definition and natural history. Clin Geriatr Med. 2011;27(1):1-15). É considerado um previsor de incapacidade, morbidade e mortalidade(808 Geraldes AAR, Oliveira ARM, Albuquerque RB, Carvalho JM, Farinatti PTV. A força de preensão manual é boa preditora do desempenho funcional de idosos frágeis: um estudo correlacional múltiplo. Rev Bras Med Esporte. 2008;14(1):12-6-909 Silva NA, Menezes TN, Melo TLP, Pedraza DF. Força de preensão manual e flexibilidade e suas relações com variáveis antropométricas em idosos. Rev Assoc Med Bras. 2013;59(2):128-35), e estudos apontam sua associação com idade, pois idosos com 80 anos ou mais apresentam maior probabilidade de FPM diminuída, e correlação entre a diminuição da massa e a força muscular(909 Silva NA, Menezes TN, Melo TLP, Pedraza DF. Força de preensão manual e flexibilidade e suas relações com variáveis antropométricas em idosos. Rev Assoc Med Bras. 2013;59(2):128-35-1010 Ribeiro LHM, Neri AL. Exercícios físicos, força muscular e atividades de vida diária em mulheres idosas. Ciênc Saúde Coletiva. 2012;17(8):2169-80).

A redução da força da mão dominante em idosos fragilizados pode prejudicar a realização de tarefas manuais e está associada a outras limitações funcionais importantes na marcha e no equilíbrio, com consequências significativas, como aumento no risco de quedas e a perda da independência funcional(1111 Pereira R, Cardoso BS, Itaborahy AS, Machado M. Análise da força de preensão de mulheres idosas: estudo comparativo entre faixas etárias. Acta Med Port. 2011;24(4):521-6). Dessa maneira, avaliar a força de preensão manual é um teste útil como parte da avaliação clínica, a fim de determinar o risco de declínio acelerado da saúde em idosos(1212 Taekema DG, Gussekloo J, Maier AB, Westendorp RG, Craen AJ. Handgrip strength as a predictor of functional, psychological and social health. A prospective population-based study among the oldest old. Age Ageing. 2010;39(3):331-7).

Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi investigar a prevalência da redução da força de preensão manual e fatores associados em idosos longevos, usuários de serviços da Atenção Básica.

Método

Trata-se de estudo quantitativo transversal, realizado em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Curitiba (PR). A população-alvo foi composta por idosos com 80 anos ou mais que aguardavam consulta nas UBS. A coleta de dados foi realizada no período de janeiro a dezembro de 2013 e a mostra de conveniência compreendeu 157 idosos longevos. Os critérios de inclusão foram: idade igual ou superior a 80 anos; estar cadastrado em uma das Unidades de Saúde de realização da pesquisa e obter pontuação superior ao ponto de corte na aplicação da testagem cognitiva do MiniExame do Estado Mental (MEEM), sendo 13 pontos para analfabetos, 18 para média e baixa escolaridade e 26 pontos para alta escolaridade(1313 Folstein MF, Folstein SE, McHugh PR. “Mini-mental state”: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. J Psychiatr Res. 1975;12(3):189-98-1414 Bertolucci PH, Brucki SM, Campacci SR, Juliano Y. O Mini-exame do estado mental em uma população geral: impacto da escolaridade. Arq Neuropsiquiatr. 1994;52(1):1-7).

Foram excluídos os indivíduos com diagnósticos prévios de doenças ou déficits mentais graves que impedissem a participação no estudo, residentes em instituição de longa permanência e em tratamento quimioterápico. Naqueles com dificuldade de comunicação verbal ou que não atingiram os pontos de corte, o cuidador familiar foi convidado a participar da entrevista, de modo a responder às questões sociodemográficas e clínicas, com exceção dos testes que foram realizados com os idosos. Foram critérios de inclusão do cuidador: ter idade igual ou superior a 18 anos, ser cuidador familiar e residir com o idoso longevo por no mínimo três meses. Foi critério de exclusão o desejo de retirar o consentimento de sua participação.

Para a coleta de dados foi aplicado o questionário sociodemográfico, o clínico e o teste de Força de Preensão Manual. As variáveis sociodemográficas investigadas foram: gênero, idade, estado civil, com quem residem, escolaridade e situação financeira. As variáveis clínicas incluíram: doenças referidas, número de hospitalizações e histórico de quedas nos últimos 12 meses, incontinência urinária, uso de medicamentos e índice de massa corpórea (IMC). Na caracterização clínica foram incluídas as variáveis: sente solidão, uso de tecnologias assistivas (bengala, andador, muleta, lentes corretivas), tabagista e consumo atual de bebida alcoólica, por entender que influenciam a saúde dos idosos e a maneira como vivem, sendo significativas para o estudo.

O Índice de Massa Corpórea (IMC), em Kg/m2 foi calculado a partir das seguintes medidas antropométricas: altura: resultado em metros, a partir do uso de fita métrica inelástica e flexível, com precisão de 0,1 cm; peso: resultado em quilogramas, obtido por meio de balança portátil digital, com capacidade de até 150 Kg e precisão de 100 g. Os pontos de corte estabelecidos para idosos foram: IMC ≤ 22 kg/m² (baixo peso); 22 kg/m² < IMC < 27 kg/m² (peso adequado); IMC ≥ 27 kg/m² (sobrepeso)(1515 Brasil. Ministério da Saúde. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: norma técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Brasília; 2011).

O teste de Força de Preensão Manual (FPM) foi realizado na presença simultânea de dois examinadores, com o dinamômetro hidráulico em quilograma/força (Kgf), da marca Jamar, seguindo a recomendação da American Society of Hand Therapists (ASHT)(1616 Bohannon RW, Peolsson A, Massy-Westropp N, Desrosiers J, Bear-Lehman J. Reference values for adult grip strength measured with a Jamar dynamometer: a descriptive meta-analysis. Physiotherapy. 2006;92(1):11-5). O idoso permaneceu sentado, com os pés tocando o solo; o membro superior em teste foi posicionado com o ombro em adução, articulação do cotovelo fletida a 90º e antebraço na posição neutra. A empunhadura foi ajustada na mão dominante do idoso, de forma que a segunda falange do segundo, terceiro e quarto dedos tocasse a curva da haste do dispositivo. O participante realizou três preensões com a mão dominante, intercaladas por um minuto para retorno da força e observou-se a medida mais alta(808 Geraldes AAR, Oliveira ARM, Albuquerque RB, Carvalho JM, Farinatti PTV. A força de preensão manual é boa preditora do desempenho funcional de idosos frágeis: um estudo correlacional múltiplo. Rev Bras Med Esporte. 2008;14(1):12-6). Depois do ajuste para gênero, os valores do quintil mais baixo foram considerados com redução da FPM(606 Fried L, Ferrucci L, Darer J, Williamson JD, Anderson G. Untangling the concepts of disability, frailty and comorbidity: implications for improved targeting and care. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2004;59(3):255-63).

Os dados foram tabulados e analisados no software Stata 12, descritos por medidas de frequência, média e desvio-padrão (DP). Verificou-se a associação entre as variáveis por meio dos testes qui-quadrado e Fisher, utilizando-se para avaliação dos resultados o nível de significância de 5% (p≤0,05).

O desenvolvimento do estudo atendeu às normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos. O Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Setor de Ciências da Saúde aprovou-o sob o registro CAAE: 07993712.8.0000.0102.

Resultados

Dos 157 idosos longevos, 40 (25,5%) possuíam força de preensão manual reduzida, a maioria mulheres (n=30; 28,8%), na faixa etária de 80 a 89 anos (n=29; 21%), sendo a idade mínima de 80 anos e a máxima de 95 anos (média=84.8; ±2,9). A variável idade mostrou-se significativa para FPM reduzida (p=0,001) (Tabela 1).

Entre as idosas de 80 anos ou mais, a menor e a maior FPM foram 8 e 38 Kgf, respectivamente, com média de 17,9 Kgf. Para o sexo masculino, a menor força de preensão foi de 15 Kgf, a maior de 48 Kgf e a média de 29,11 Kgf. O valor da FPM, que corresponde ao quintil inferior identificado na amostra, foi igual a 14 para mulheres e 23,6 Kgf para homens, o que correspondeu à FPM reduzida.

Quanto ao estado civil, 30 (30,6%) eram viúvos e 23 (25,8%) conviviam com familiares. No que se refere à escolaridade, 25 (25,8%) dos idosos possuíam o ensino fundamental incompleto. Dezoito (27,7%) consideravam sua situação financeira mediana (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição da (%) dos idosos longevos segundo características sociodemográficas e força de preensão manual - Curitiba, PR, Brasil, 2013

Na Tabela 2, observa-se um número significativo de idosos longevos que referiram problemas de saúde (n=39; 25,5%) e que faziam uso de medicamentos (n=37; 25%) entre os que apresentaram redução da FPM; no entanto, a maioria 29 (23,6%) não havia sido hospitalizada nos últimos 12 meses.

Dos entrevistados, 21 (25,6%) relataram não ter sofrido queda nos últimos 12 meses, 27 (27,5%) não se sentiam solitários, 20 (26,7%) não apresentavam incontinência urinária, 39 (25,5%) não fumavam e 37 (25,5%) não ingeriam bebidas alcoólicas. Quanto ao uso de tecnologias assistivas, 30 (23,3%) relataram não utilizar bengala e andador (n=38; 24,8%) ou muletas (n=39; 25%). O uso de lentes corretivas foi referido por 24 (24%). Ressalta-se que 15 (20%) apresentaram IMC normal. Houve associação entre a redução da FPM e o IMC compatível com peso normal (p = 0,002) (Tabela 2).

Tabela 2
Distribuição da (%) dos idosos longevos segundo condições clínicas referidas e força de preensão manual - Curitiba, PR, Brasil, 2013

Discussão

A maioria das mulheres apresentou força de preensão manual reduzida (n=30; 28,8%), fato que pode ser atribuído à faixa etária, sobretudo quando se trata de idosas de 80 anos ou mais. Estudos têm demonstrado associação significativa da redução da força de preensão e o sexo feminino(909 Silva NA, Menezes TN, Melo TLP, Pedraza DF. Força de preensão manual e flexibilidade e suas relações com variáveis antropométricas em idosos. Rev Assoc Med Bras. 2013;59(2):128-35,1717 Cheung CL, Tan K, Bow CH, Soong CSS, Loong CHN, Kung AWC. Low hand grip streng this a predictor of osteoporotic fractures: cross-sectional and prospective evidence from the Hong Kong Osteoporsis Study. Age (Dordr). 2012;34(5):1239-48).

O valor médio da FPM dos idosos longevos foi significativamente maior entre os do sexo masculino (29,1 Kgf ±10,5) quando comparados aos do feminino (17,9 Kgf ±4,9), corroborando os resultados encontrados na literatura(909 Silva NA, Menezes TN, Melo TLP, Pedraza DF. Força de preensão manual e flexibilidade e suas relações com variáveis antropométricas em idosos. Rev Assoc Med Bras. 2013;59(2):128-35), e que podem ser explicados pelo fato dos homens apresentarem maior reserva de massa muscular que as mulheres(1818 Auyeung TW, Lee SWJ, Leung J, Kwok T, Woo J. Age-associated decline of muscle mass, grip strength hand gait speed: A 4-year longitudinal study of 3018 community-dwelling older Chinese. Geriatr Gerontol Int. 2014;14(1):76-84).

A faixa etária com maior número de idosos situou-se entre 80 e 89 anos. No entanto, 57,9% dos participantes com idade entre 90 a 94 anos mostraram redução da FPM, ou seja, apresentaram três vezes mais diminuição da FPM que os demais idosos de 80 anos ou mais. Estudos corroboram a esse dado, indicando que quanto mais elevada a idade, maior a probabilidade de redução da FPM (p=0,001)(1010 Ribeiro LHM, Neri AL. Exercícios físicos, força muscular e atividades de vida diária em mulheres idosas. Ciênc Saúde Coletiva. 2012;17(8):2169-80,1919 Reis Filho AD, Santini E, Neves T, Fett WCR, Fett CA. Análise do estado nutricional e da força de preensão palmar, lombar e escapular em mulheres de meia idade e idosas. Braz J Biomotr. 2012;6(4):245-53).

A maioria dos participantes com FPM reduzida era viúva (n=30; 30,6%). Resultado semelhante foi observado em estudo realizado na Holanda(1212 Taekema DG, Gussekloo J, Maier AB, Westendorp RG, Craen AJ. Handgrip strength as a predictor of functional, psychological and social health. A prospective population-based study among the oldest old. Age Ageing. 2010;39(3):331-7), com objetivo de avaliar a FPM como preditiva de mudanças na saúde funcional, psicológica e social de idosos. Dente os idosos longevos, a viuvez pode contribuir para o isolamento social e familiar, e, por conseguinte, levar ao desenvolvimento de déficit de autocuidado, por falta de estímulo do companheiro. Por sua vez, atitudes paternalistas do cônjuge e ou dos familiares podem comprometer a independência e autonomia dos mais idosos.

Quanto à escolaridade, a maioria dos idosos longevos com força de preensão manual reduzida possuía ensino fundamental incompleto (n=25; 25,8%), o que pode ser decorrente da falta de acesso ao sistema educacional das gerações passadas. Neste estudo, não houve associação significativa entre escolaridade e redução da FPM. Entretanto, pesquisadores afirmam que o baixo nível educacional é fator determinante para o declínio da força de preensão em idosos(2020 Quan S, Jeong JY, Kim DH. The relationship between smoking, socioeconomic status and grip strength among community-dwelling elderly men in Korea: Hallym Aging Study. Epidemiol Health [Internet]. 2013 [cited 2013 Aug 10];35(e201):3001. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3575580/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
).

Referente à situação financeira, 27,7% dos participantes declararam ser mediana. Estudo desenvolvido com 27.351 participantes do Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe identificou associação entre a condição financeira na velhice e a força de preensão manual(2121 Hairi FM, Mackenbach JP, Andersen-Ranberg K, Avendano M. Does socio-economic status predict grip strength in older Europeans? Results from the SHARE study in non-institutionalised men and women aged 50+. J Epidemiol Commmunity Health. 2010;64(9):829-37), o que sugere que idosos com boa condição financeira possuem menor índice de doença e mortalidade, ou seja, a situação econômica favorável ameniza os obstáculos em relação à diminuição da capacidade funcional(606 Fried L, Ferrucci L, Darer J, Williamson JD, Anderson G. Untangling the concepts of disability, frailty and comorbidity: implications for improved targeting and care. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2004;59(3):255-63,1010 Ribeiro LHM, Neri AL. Exercícios físicos, força muscular e atividades de vida diária em mulheres idosas. Ciênc Saúde Coletiva. 2012;17(8):2169-80,2020 Quan S, Jeong JY, Kim DH. The relationship between smoking, socioeconomic status and grip strength among community-dwelling elderly men in Korea: Hallym Aging Study. Epidemiol Health [Internet]. 2013 [cited 2013 Aug 10];35(e201):3001. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3575580/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
).

A maioria dos idosos longevos com redução da FPM possuía problemas de saúde. As doenças podem desencadear o ciclo da fragilidade nos idosos(606 Fried L, Ferrucci L, Darer J, Williamson JD, Anderson G. Untangling the concepts of disability, frailty and comorbidity: implications for improved targeting and care. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2004;59(3):255-63), isso mostra que as recomendações voltadas à prevenção de problemas de saúde são fortemente indicadas, principalmente aos idosos sem alteração da FPM.

Do mesmo modo, a maioria dos participantes relatou fazer uso de medicamentos. Estudos internacionais com idosos têm evidenciado a associação entre FPM reduzida e consumo de algumas classes de medicamentos, como psicotrópicos(2222 Galik E, Resnick B. Psychotropic medication use and association with physical and psychosocial outcomes in nursing home residents. J Psychiatr Ment Health Nurs. 2013;20(3):244-52) e cardiovasculares(2323. Ashfield TA, Syddall HE, Martin HJ, Dennison EM, Cooper C, Sayer AA. Grip strength and cardiovascular drug use in older people: findings from the Hertfordshire Cohort Study. Age Ageing. 2010;39(2):185-91), destacando que essa prática, quando excessiva ou inadequada, pode gerar um impacto negativo na capacidade funcional, mais especificamente na FPM dos idosos(2424 Jensen LD, Hallin M, Andersen O, Petersen J. Is weakness in older patients caused by inappropriate drug use? Eur J Hosp Pharm 2013;20 Suppl 1:A39).

Quanto à ocorrência de quedas, os resultados divergem da literatura atual, pois a maioria dos idosos com 80 anos ou mais com FPM reduzida referiu não ter caído no período de um ano. A literatura relata estudos com associação significativa entre a diminuição da força de preensão e maior incidência de quedas(1717 Cheung CL, Tan K, Bow CH, Soong CSS, Loong CHN, Kung AWC. Low hand grip streng this a predictor of osteoporotic fractures: cross-sectional and prospective evidence from the Hong Kong Osteoporsis Study. Age (Dordr). 2012;34(5):1239-48,2525 Rodrigues WKM, Rocha SV, Barros NA, Santos CA. Fatores associados ao declínio da força muscular em membros superiores entre idosos residentes em áreas rurais. Arq Ciênc Esporte. 2013;1(1):14-20). Neste estudo, este achado pode ser decorrente de uma amostra com participantes que apresentavam condições de ir até a UBS, o que possivelmente contribuiu para a não inclusão de indivíduos que tenham sofrido quedas nos últimos 12 meses.

A metade dos longevos relatou apresentar incontinência urinária. Essa síndrome geriátrica foi associada significativamente com a força de preensão em outros estudos(2626 Kim H, Yoshida H, Hu X, Saito K, Yoshida Y, Kim M, et al. Association between self-reported urinary incontinence and musculoskeletal conditions in community-dwelling elderly women: a cross-sectional study. Neurourol Urodyn. 2014 Jan 28. [Epub ahead of print]-2727 Seino S, Yabushita N, Kim MJ, Nemoto M, Jung S, Osuka Y, et al. Physical performance measures as a useful indicator of multiple geriatric syndromes in women aged 75 years and older. Geriatr Gerontol Int. 2013;13(4):901-10), o que reforça que o decréscimo de fatores relacionados à capacidade funcional, como a FPM, pode estar associado à dependência nas atividades de vida diária em idosos, independentemente da idade.

A variável IMC compatível com peso normal apresentou associação significativa para a redução da força de preensão manual. Resultado semelhante foi observado em estudo transversal realizado em Campina Grande, com 420 idosos, cujo objetivo foi verificar a correlação entre a força de preensão manual e flexibilidade às variáveis idade e medidas antropométricas. Os resultados revelaram que houve correlação significativa entre o IMC e a redução da FPM, no entanto, apenas para o sexo feminino(909 Silva NA, Menezes TN, Melo TLP, Pedraza DF. Força de preensão manual e flexibilidade e suas relações com variáveis antropométricas em idosos. Rev Assoc Med Bras. 2013;59(2):128-35).

Estudos internacionais(606 Fried L, Ferrucci L, Darer J, Williamson JD, Anderson G. Untangling the concepts of disability, frailty and comorbidity: implications for improved targeting and care. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2004;59(3):255-63,2828 Walston J, Hadley EC, Ferrucci L, Guralnik JM, Newman AB, Studenski SA, et al. Research agenda for frailty in older adults: toward a better understanding of physiology and etiology: summary from the American Geriatrics Society/National Institute on Aging Research Conference on Frailty in Older Adults. J Am Geriatr Soc. 2006;54(6):991-1001) ressaltam que a redução progressiva da massa muscular em idosos tem relação com a incapacidade física, mobilidade e mortalidade. Seus autores recomendam que os profissionais de saúde identifiquem alterações funcionais e musculares nos idosos, em especial nos longevos, pois estas podem predizer os indivíduos frágeis e pré-frágeis.

Conclusão

A prevalência da redução da força de preensão manual foi moderada (25,5%) nos idosos longevos deste estudo, usuários de serviços da Atenção Básica. Essa condição esteve associada à idade e ao IMC.

Destaca-se como limitação do estudo a amostra por conveniência, composta por idosos longevos que apresentavam condições de ir até a UBS, o que possivelmente contribuiu para a não inclusão de indivíduos com força de preensão manual mais reduzida. Sugere-se que investigações realizadas com os idosos mais velhos incluam a visita domiciliar para a coleta das informações, de modo a abranger aqueles com menor desempenho funcional e que não frequentam a unidade de saúde.

O dinamômetro hidráulico, instrumento para mensurar a força de preensão manual, ainda não é algo presente nas UBS, o que dificulta a avaliação do componente no contexto da Atenção Básica. Embora esse trabalho acadêmico não tenha a intenção imediata de levar à prática profissional a avaliação da força de preensão manual, acredita-se que essa implementação seja possível na Atenção Básica de Saúde.

Investigações sobre a Síndrome da Fragilidade e seus componentes de avaliação são fundamentais para a identificação das condições clínicas dos idosos longevos brasileiros, bem como para angariar subsídios para seus cuidados na gestão da fragilidade física.

  • *
    Extraído do projeto de pesquisa intitulado “Efeitos da fragilidade em idosos longevos da comunidade”, Universidade Federal do Paraná; 2012
  • Apoio Financeiro

    Fundação Araucária, Programa Bolsa Sênior

References

  • 01
    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Síntese de Indicadores Sociais. Uma análise das condições de vida da população brasileira [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2012 [citado 2013 ago. 10]. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociais/Sintese_de_Indicadores_Sociais_2012/SIS_2012.pdf
    » ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociais/Sintese_de_Indicadores_Sociais_2012/SIS_2012.pdf
  • 02
    Neri AL. Fragilidade e qualidade de vida na velhice. Campinas: Alínea; 2013. Fragilidade e qualidade de vida na velhice; p.16-29
  • 03
    Morley JE, Vellas B, Kan GAV, Anker SD, Bauer JM, Bernabei R, et al. Frailty consensus: a call to action. J Am Med Dir Assoc. 2013;14(6):392-7
  • 04
    Lacas A, Rockwood K. Frailty in primary care: a review of its conceptualization and implications for practice. BMC Med. 2012;10:4
  • 05
    Fried L, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56
  • 06
    Fried L, Ferrucci L, Darer J, Williamson JD, Anderson G. Untangling the concepts of disability, frailty and comorbidity: implications for improved targeting and care. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2004;59(3):255-63
  • 07
    Xue QL. The frailty syndrome: definition and natural history. Clin Geriatr Med. 2011;27(1):1-15
  • 08
    Geraldes AAR, Oliveira ARM, Albuquerque RB, Carvalho JM, Farinatti PTV. A força de preensão manual é boa preditora do desempenho funcional de idosos frágeis: um estudo correlacional múltiplo. Rev Bras Med Esporte. 2008;14(1):12-6
  • 09
    Silva NA, Menezes TN, Melo TLP, Pedraza DF. Força de preensão manual e flexibilidade e suas relações com variáveis antropométricas em idosos. Rev Assoc Med Bras. 2013;59(2):128-35
  • 10
    Ribeiro LHM, Neri AL. Exercícios físicos, força muscular e atividades de vida diária em mulheres idosas. Ciênc Saúde Coletiva. 2012;17(8):2169-80
  • 11
    Pereira R, Cardoso BS, Itaborahy AS, Machado M. Análise da força de preensão de mulheres idosas: estudo comparativo entre faixas etárias. Acta Med Port. 2011;24(4):521-6
  • 12
    Taekema DG, Gussekloo J, Maier AB, Westendorp RG, Craen AJ. Handgrip strength as a predictor of functional, psychological and social health. A prospective population-based study among the oldest old. Age Ageing. 2010;39(3):331-7
  • 13
    Folstein MF, Folstein SE, McHugh PR. “Mini-mental state”: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. J Psychiatr Res. 1975;12(3):189-98
  • 14
    Bertolucci PH, Brucki SM, Campacci SR, Juliano Y. O Mini-exame do estado mental em uma população geral: impacto da escolaridade. Arq Neuropsiquiatr. 1994;52(1):1-7
  • 15
    Brasil. Ministério da Saúde. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: norma técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Brasília; 2011
  • 16
    Bohannon RW, Peolsson A, Massy-Westropp N, Desrosiers J, Bear-Lehman J. Reference values for adult grip strength measured with a Jamar dynamometer: a descriptive meta-analysis. Physiotherapy. 2006;92(1):11-5
  • 17
    Cheung CL, Tan K, Bow CH, Soong CSS, Loong CHN, Kung AWC. Low hand grip streng this a predictor of osteoporotic fractures: cross-sectional and prospective evidence from the Hong Kong Osteoporsis Study. Age (Dordr). 2012;34(5):1239-48
  • 18
    Auyeung TW, Lee SWJ, Leung J, Kwok T, Woo J. Age-associated decline of muscle mass, grip strength hand gait speed: A 4-year longitudinal study of 3018 community-dwelling older Chinese. Geriatr Gerontol Int. 2014;14(1):76-84
  • 19
    Reis Filho AD, Santini E, Neves T, Fett WCR, Fett CA. Análise do estado nutricional e da força de preensão palmar, lombar e escapular em mulheres de meia idade e idosas. Braz J Biomotr. 2012;6(4):245-53
  • 20
    Quan S, Jeong JY, Kim DH. The relationship between smoking, socioeconomic status and grip strength among community-dwelling elderly men in Korea: Hallym Aging Study. Epidemiol Health [Internet]. 2013 [cited 2013 Aug 10];35(e201):3001. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3575580/
    » http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3575580/
  • 21
    Hairi FM, Mackenbach JP, Andersen-Ranberg K, Avendano M. Does socio-economic status predict grip strength in older Europeans? Results from the SHARE study in non-institutionalised men and women aged 50+. J Epidemiol Commmunity Health. 2010;64(9):829-37
  • 22
    Galik E, Resnick B. Psychotropic medication use and association with physical and psychosocial outcomes in nursing home residents. J Psychiatr Ment Health Nurs. 2013;20(3):244-52
  • 23
    Ashfield TA, Syddall HE, Martin HJ, Dennison EM, Cooper C, Sayer AA. Grip strength and cardiovascular drug use in older people: findings from the Hertfordshire Cohort Study. Age Ageing. 2010;39(2):185-91
  • 24
    Jensen LD, Hallin M, Andersen O, Petersen J. Is weakness in older patients caused by inappropriate drug use? Eur J Hosp Pharm 2013;20 Suppl 1:A39
  • 25
    Rodrigues WKM, Rocha SV, Barros NA, Santos CA. Fatores associados ao declínio da força muscular em membros superiores entre idosos residentes em áreas rurais. Arq Ciênc Esporte. 2013;1(1):14-20
  • 26
    Kim H, Yoshida H, Hu X, Saito K, Yoshida Y, Kim M, et al. Association between self-reported urinary incontinence and musculoskeletal conditions in community-dwelling elderly women: a cross-sectional study. Neurourol Urodyn. 2014 Jan 28. [Epub ahead of print]
  • 27
    Seino S, Yabushita N, Kim MJ, Nemoto M, Jung S, Osuka Y, et al. Physical performance measures as a useful indicator of multiple geriatric syndromes in women aged 75 years and older. Geriatr Gerontol Int. 2013;13(4):901-10
  • 28
    Walston J, Hadley EC, Ferrucci L, Guralnik JM, Newman AB, Studenski SA, et al. Research agenda for frailty in older adults: toward a better understanding of physiology and etiology: summary from the American Geriatrics Society/National Institute on Aging Research Conference on Frailty in Older Adults. J Am Geriatr Soc. 2006;54(6):991-1001

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    17 Jul 2014
  • Aceito
    18 Set 2014
Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: reeusp@usp.br