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Conhecimento da população portuguesa sobre Suporte Básico de Vida e disponibilidade para realizar formação

Resumos

OBJETIVO

Avaliar o nível de conhecimento e a disponibilidade da população portuguesa para realizar formação sobre Suporte Básico de Vida (SBV) e identificar alguns fatores relacionados ao seu nível de conhecimento sobre SBV.

MÉTODO

Estudo observacional realizado com 1.700 pessoas que responderam a um questionário composto por dados sociodemográficos e profissionais, formação, interesse na formação e conhecimentos sobre SBV.

RESULTADOS

Dos 754 homens e 943 mulheres, apenas 17,8% (303) frequentou um curso sobre SBV, mas 95,6% manifestou disponibilidade para realizar a formação. Em média, não apresentaram bons níveis de conhecimentos em suporte básico de vida (acertaram em 25,9 ± 11,5 dos 64 indicadores). Os inquiridos mais velhos, do sexo masculino, os que efetuaram formação e os que já prestaram SBV acertaram em média mais questões (p<0,01).

CONCLUSÃO

Os níveis de conhecimento da população portuguesa são baixos, mas as pessoas estão disponíveis para formação, sendo importante desenvolver cursos de formação e treino para melhorar os seus conhecimentos.

Ressuscitação Cardiopulmonar; Primeiros Socorros; Conhecimento; Educação em Saúde


OBJECTIVE

To evaluate the level of knowledge and the availability of the Portuguese population to attend training in Basic Life Support (BLS) and identify factors related to their level of knowledge about BLS.

METHOD

Observational study including 1,700 people who responded to a questionnaire containing data on demography, profession, training, interest in training and knowledge about BLS.

RESULTS

Among 754 men and 943 women, only 17.8% (303) attended a course on BLS, but 95.6% expressed willingness to carry out the training. On average, they did not show good levels of knowledge on basic life support (correct answers in 25.9 ± 11.5 of the 64 indicators). Male, older respondents who had the training and those who performed BLS gave more correct answers, on average (p<0.01).

CONCLUSION

The skill levels of the Portuguese population are low, but people are available for training, hence it is important to develop training courses and practice to improve their knowledge.

Cardiopulmonary Resuscitation; First Aid; Knowledge; Health Education


OBJETIVO

Evaluar el nivel de conocimiento y la disponibilidad de la población portuguesa para llevar a cabo la formación sobre Soporte Básico de Vida (SBV) e identificar algunos factores relacionados con su nivel de conocimiento acerca del SBV.

MÉTODO

Estudio observacional realizado con 1.700 personas que respondieron a un cuestionario compuesto de datos sociodemográficos y profesionales, formación, interés en la formación y conocimientos sobre SBV.

RESULTADOS

De los 754 hombres y 943 mujeres, solo el 17,8% (303) asistió a un curso sobre SBV, pero el 95,6% manifestó disponibilidad para realizar la formación. En promedio, no presentaron buenos niveles de conocimientos en soporte básico de vida (contestaron bien 25,9 ± 11,5 de los 64 indicadores). Los respondedores mayores, del sexo masculino, los que llevaron a cabo la formación y los que ya prestaron SBV contestaron bien, en promedio, más cuestiones (p<0,01).

CONCLUSIÓN

Los niveles de conocimiento de la población portuguesa son bajos, pero las personas están disponibles para la formación, por lo que es importante desarrollar cursos de formación y entrenamiento a fin de mejorar sus conocimientos.

Resucitación Cardiopulmonar; Primeros Auxilios; Conocimiento; Educación en Salud


Introdução

Uma emergência médica é a atividade na área da saúde que abrange tudo o que se passa, desde o local onde ocorre uma situação de emergência até ao momento em que se conclui, com o restabelecimento do nível de saúde adequado(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.). Em Portugal, os intervenientes no sistema integrado de emergência médica são: o público, os operadores das centrais de emergência (112), os técnicos do centro de orientação de doentes urgentes (CODU), agentes da autoridade, bombeiros, tripulantes de ambulância, os técnicos de ambulância de emergência, médicos e enfermeiros, pessoal técnico-hospitalar, pessoal técnico de telecomunicações e de informática(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.).

Salvar uma vida envolve uma sequência de passos que constituem a "cadeia de sobrevivência", com quatro elos: acesso precoce ao sistema integrado de emergência médica; início precoce de suporte básico de vida (SBV); desfibrilação precoce e suporte avançado de vida (SAV)(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.).

O SBV que compete ao cidadão(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.)é um conjunto de procedimentos bem definidos e com metodologias padronizadas que tem como objetivos: reconhecer as situações em que há risco de vida iminente; saber quando e como pedir ajuda; saber iniciar, de imediato e sem recurso a qualquer equipamento, manobras que contribuam para preservar a oxigenação e circulação até a chegada das equipes diferenciadas e eventualmente o restabelecimento do funcionamento cardíaco e respiratório normal(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.).

A prevalência de acidentes em Portugal tem ocasionado vítimas em casa, no trabalho, e na via pública, sendo um problema de saúde atual que reflete a forma de vida e a organização dos espaços e da sociedade. Em 2011, ocorreram 32.541 acidentes de viação, em Portugal, dos quais resultaram 42.851 vítimas. As vítimas mortais (contabilização a 30 dias) ascenderam a 891(3Portugal. Instituto Nacional de Estatística. Estatísticas dos transportes. Lisboa: INE; 2011.).

A doença cardíaca isquêmica é a principal causa de morte no mundo. Na Europa e nos EUA a doença cardíaca isquêmica é considerada a principal causa de parada cardíaca súbita(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.). Cerca de um terço das vítimas de enfarte agudo do miocárdio morre antes de chegar ao hospital, a maioria na primeira hora após o início dos sintomas. Dados de vários países da Europa indicam que a incidência anual de paradas cardíacas no sistema pré-hospitalar é de quase 40 por 100.000(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.).

A parada cardiorrespiratória súbita representa cerca de 11% das mortes por ano na Alemanha(4Meissner TM, Kloppe G, Hanefeld C. Basic life support skills of high school students before and after cardiopulmonary resuscitation training: a longitudinal investigation. Scand J Trauma Resusc Emerg Med [Internet]. 2012 [cited 2014 Apr 10];20:31. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3353161/
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). Nesta e noutras situações de emergência, a rápida intervenção salvaria pessoas e preveniria complicações. Cerca de 50 a 65% das paradas cardíacas acontecem em casa. Nestes casos, são os familiares que estão perto que têm possibilidade de intervir. Muitas destas pessoas seriam salvas se fossem socorridas nos primeiros 3 a 4 minutos após o evento crítico(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.-2European Resuscitation Council. Guidelines for Resuscitation [Internet]. 2010 [cited 2014 Apr 10]. Available from: http://www.cprguidelines.eu/2010/
http://www.cprguidelines.eu/2010/...
,4Meissner TM, Kloppe G, Hanefeld C. Basic life support skills of high school students before and after cardiopulmonary resuscitation training: a longitudinal investigation. Scand J Trauma Resusc Emerg Med [Internet]. 2012 [cited 2014 Apr 10];20:31. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3353161/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
). Por este fato, vários são os autores que salientam a importância de incluir a formação em primeiros socorros nos currículos escolares(5Lešnik D, Lešnik D, Golub J, Križmarić M, Mally S, Grmec S. Impact of additional module training on the level of basic life support knowledge of first year students at the University of Maribor. Int J Emerg Med [Internet]. 2011 [cited 2014 Apr 10];4:16. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3095545/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
).

Para prestar atendimento correto, a população necessita de conhecimentos suficientes e adequados sobre SBV, o que por vezes não acontece, sendo necessária a formação(8Marton J, Pandúr A, Pék E, Deutsch K, Bánfai B, Radnai B, et al. Knowledge about basic life support in European students. Orv Hetil. 2014;25;155(21):833-7.), presencial ou online(1010 Mori S, Whitaker IY, Marin HF. Evaluation of an educational website on first aid. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2013 [cited 2014 Aug 10];47(4):950-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n4/en_0080-6234-reeusp-47-4-0950.pdf
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). Esta última, se apresentar qualidade(1212 Liu KY, Haukoos JS, Sasson C. Availability and quality of cardiopulmonary resuscitation information for Spanish-speaking population on the Internet. Resuscitation. 2014;85(1):131-7.), pode favorecer o aumento do número de pessoas treinadas, por reduzir a necessidade de deslocamentos para frequentar os cursos.

Face ao exposto e ao potencial valor da formação em primeiros socorros como um elemento estratégico para reduzir a mortalidade e a morbidade provocados por acidentes e emergências(1111 Arbon P, Hayes J. First aid and harm minimization for victims of road trauma: a population study. Final Report June 2007 [Internet] . Adelaide, Australia: Flinders University; 2007 [cited 2014 Apr 24). Available from: http://clicktosave.com.au/wp-content/uploads/2013/06/Australian_Population_Study_on_victims_of_Road_Trauma1.pdf
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), este estudo teve como objetivos: avaliar o nível de conhecimento da população portuguesa sobre SBV; conhecer a sua disponibilidade para realizar a formação sobre SBV e identificar alguns fatores (idade, sexo, frequência a um curso de SBV e experiência anterior em SBV) relacionados ao nível de conhecimento sobre SBV.

Método

Realizou-se um estudo observacional do tipo descritivo, correlacionado. A população foi a portuguesa residente em Portugal continental e ilhas dos Açores e da Madeira, com idade igual ou superior a 18 anos, que sabia ler e escrever e que se encontrava trabalhando em instituições públicas e privadas. A seleção dos locais de coleta de dados e da amostra foi efetuada da seguinte forma:

  1. Realizada uma lista de todas as instituições públicas e privadas a que tivemos acesso nas páginas amarelas;

  2. Sorteio de duas instituições públicas ou privadas de cada cidade de Portugal, incluindo as ilhas dos Açores e da Madeira;

  3. Envio do protocolo do estudo e respectivos pedidos de autorização aos conselhos de administração e comissões de ética das instituições sorteadas;

  4. Após as autorizações, foram definidos colaboradores em cada instituição, que ficaram responsáveis por aplicar os instrumentos. A estes foram enviadas as instruções para a colheita de dados;

  5. Os instrumentos foram aplicados aos inquiridos numa sala disponibilizada para isso, antes do início ou no final da atividade laboral.

  6. Após o seu preenchimento e para manter o anonimato, os questionários foram introduzidos pelos respondentes em uma urna que se encontrava na sala;

  7. Os questionários preenchidos foram devolvidos pelos colaboradores por correio aos investigadores.

A amostra, do tipo não probabilístico, foi constituída por 1.700 inquiridos de ambos os sexos (55,6% de mulheres e 44,4% de homens) com média de idade de 37,7 anos (DP= 10,5) que exerciam funções em 250 instituições das 318 selecionadas (taxa de adesão de 78,6%).

O instrumento aplicado continha três partes, descritas a seguir:

Dados sociodemográficos e profissionais: residência; idade; sexo; estado civil; habilitações literárias e profissão.

Formação e interesse na formação sobre SBV: frequência a algum curso de SBV; experiência em prestar SBV; qualquer cidadão pode socorrer uma vítima em perigo de vida: quem deve ter conhecimentos sobre SBV; opinião sobre o início da formação em SBV no programa de ensino; formação sobre SBV nos locais de trabalho; formação sobre SBV em associações; entidades formadoras em SBV; interesse em receber formação em SBV; disponibilidade para a formação em SBV e experiências anteriores de voluntariado ou em instituições de saúde.

Conhecimentos sobre SBV: 64 afirmações baseadas em orientações definidas em guidelines nacionais e internacionais para esta matéria(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.-2European Resuscitation Council. Guidelines for Resuscitation [Internet]. 2010 [cited 2014 Apr 10]. Available from: http://www.cprguidelines.eu/2010/
http://www.cprguidelines.eu/2010/...
,1313 American Heart Association. 2010 Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science. Circulation [Internet]. 2010 [cited 2014 Aug 10];122 Suppl 3:S639-946. Available from: http://www.counselling-care.it/pdf/pdf_ps/2010-aha-guidelines.pdf
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). Às respostas certas foi atribuída a classificação de um e às erradas, zero. Desse modo, a pontuação obtida poderia oscilar entre zero e 64 pontos. Para a validação do conteúdo, o instrumento foi apreciado por especialistas da área (médicos e enfermeiros) e efetuado um pré-teste com 20 pessoas com as mesmas caraterísticas da população-alvo. Não houve necessidade de efetuar alterações.

O protocolo de investigação foi aprovado por todas as comissões de ética das instituições onde foi aplicado. Nas instituições em que não havia comissão de ética (180 instituições) o protocolo foi aprovado pelos seus conselhos de administração. Antes da aplicação dos instrumentos, os objetivos e as finalidades do estudo foram explicados a todos os sujeitos. Antes do preenchimento todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 17, e usada a estatística descritiva e inferencial. Em virtude da variável nível de conhecimentos sobre suporte básico de vida apresentar distribuição normal (Kolmogorov-Smirnov), foram utilizadas a correlação de Pearson e o t de Student, estabelecendo um grau de significância de 95% com p<0,05.

Resultados

Caraterísticas sociodemográficas e profissionais da amostra

Mais da metade dos respondentes era do sexo feminino (55,6%), casados (60,7%), com idade média de 37,7 ± 10,5 anos. A escolaridade da maioria (65,1%) foi o 12o ano ou o ensino superior, e 30,2% dos respondentes era pessoal administrativo e similares (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição das respostas da amostra quanto às caraterísticas sociodemográficas e profissionais - Portugal, 2010-2012.

Formação e experiência da população portuguesa sobre suporte básico de vida

Apenas 303 (17,8%) haviam frequentado um curso sobre SBV, a maioria na Cruz Vermelha Portuguesa (23,5%) ou em centros de formação qualificados (21,8%); 14,6% tiveram necessidade de prestar SBV, sendo a situação mais citada o acidente de viação (22,5%). A intervenção mais realizada (47,5%) foi ligar para o 112 (Tabela 2).

Tabela 2
Distribuição das respostas da amostra quanto à formação e experiência em SBV - Portugal, 2010-2012.

Para 54,1% dos participantes qualquer cidadão pode socorrer uma vítima e, para isso, deve ter conhecimentos sobre SBV (81,4%). Referiram igualmente que a formação deve ser efetuada nos locais de trabalho (84,9%). O Instituto Nacional de Emergência Médica (63,6%) e os Bombeiros (62,1%) foram os mais citados para realizar formação sobre SBV (Tabela 3).

Tabela 3
Distribuição das respostas da amostra quanto à opinião sobre quem deve efetuar formação sobre SBV e onde - Portugal, 2010-2012.

Dos inquiridos, 522 (30,9%) salientaram que a formação sobre SBV deve ser iniciada no 2º ciclo; 482 (29,8%) no 1º ciclo, 502 (28,6%) no 3º ciclo, 155 (9,8%) no secundário e 13 (0,8%) mencionaram que deve ser integrada ao ensino superior (0,4%) e igual percentual referiu que não deve integrar (0,4%). Quanto à disponibilidade para realizar a formação, 655 (38,6%) disseram ter muita disponibilidade, 378 (22,2%) disponibilidade, 592 (34,8%) referiram estar pouco disponíveis e 75 (4,4%) não manifestaram qualquer disponibilidade.

Conhecimentos da população sobre suporte básico de vida

Diante de uma vítima que respira, mais de 90% dos inquiridos pediria a alguém para chamar o 112 (número da Emergência Médica Portuguesa). Mais de metade dos inquiridos acertou vários indicadores, entre os quais se destacam: antes de abordar uma vítima, deve-se avaliar as condições de segurança (79,9%); perante uma situação de eletrocussão, o reanimador deve garantir que a fonte de energia elétrica foi desligada antes de se aproximar da vítima (79,6%); garantir que tem condições de segurança para se aproximar da vítima (79%); procurar ver, ouvir e sentir se a vítima respira durante 10 segundos (77,9%).

Tabela 4
Distribuição das respostas da amostra quanto aos conhecimentos sobre SBV - Portugal, 2010-2012.

Dos 64 indicadores, os participantes acertaram em média 25,9 ± 11,5, ou seja, menos de metade dos indicadores propostos. O nível de conhecimentos sobre SBV (r=0,98; p<0,01) aumentou à medida que aumentou a idade dos inquiridos. Os do sexo masculino, os que efetuaram formação e os que já prestaram SBV acertaram, em média, mais questões do que os do sexo feminino, que não efetuaram formação ou que não prestaram SBV (p<0,01), como mostra a Tabela 5.

Tabela 5
Resultados da aplicação do teste t de Student sobre o nível de conhecimento* * valores poderiam oscilar entre 0 e 64. da amostra sobre SBV - sexo, frequência de algum curso de SBV e prestação de SBV - Portugal, 2010-2012.

Discussão

Mais de metade da amostra deste estudo era do sexo feminino (55,6%), à semelhança do que se passa na população portuguesa(1414 Portugal. Instituto Nacional de Estatística. Censos 2011. XV Recenseamento Geral da População. V Recenseamento Geral da Habitação. Resultados definitivos. Lisboa: INE; 2012.). De acordo com o Censo de 2011(1515 Murad MK, Husum H. Trained lay first-helpers reduce trauma mortality: a controlled study of rural trauma in Iraq. Prehosp Disaster Med. 2010;25(6):533-9.), cerca de 47% da população é casada. Neste estudo os dados são diferentes, havendo um maior número de casados (60,7%). No entanto, os dados incluíram 13% de indivíduos que vivem em união, o que não acontece no Censo de 2011.

No Censo, a proporção da população com ensino superior é de 15%(1414 Portugal. Instituto Nacional de Estatística. Censos 2011. XV Recenseamento Geral da População. V Recenseamento Geral da Habitação. Resultados definitivos. Lisboa: INE; 2012.), valor muito inferior ao observado neste estudo (31,3%). Cerca de 30,2%, da amostra tem uma profissão da área do pessoal administrativo e similar, sendo este valor justificado pela seleção dos locais de coleta de dados (empresas e escolas). Na população em geral, o comércio, alojamento, transportes e comunicações eoutras atividades de serviços, são as atividades profissionais onde mais pessoas estão empregadas, cerca de 30% e 29%, respectivamente(1414 Portugal. Instituto Nacional de Estatística. Censos 2011. XV Recenseamento Geral da População. V Recenseamento Geral da Habitação. Resultados definitivos. Lisboa: INE; 2012.).

Os resultados encontrados em vários estudos comprovam que a implementação de medidas de suporte básico de vida pelo cidadão/leigo com formação reduz a taxa de mortalidade e morbidade(7Pergola AM, Araujo IEM. Laypeople and basic life support. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2009 [cited 2014 Apr 10];43(2):335-42. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n2/en_a12v43n2.pdf
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,1515 Murad MK, Husum H. Trained lay first-helpers reduce trauma mortality: a controlled study of rural trauma in Iraq. Prehosp Disaster Med. 2010;25(6):533-9.-1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
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). Os indivíduos que receberam ressuscitação cardiorrespiratória (CPR) de um cidadão/leigo com formação têm quatro vezes mais probabilidade de sobreviver por 30 dias que aqueles a quem a CPR não foi aplicada(1717 Wissenberg M, Lippert FK, Folke F, Weeke P, Hansen CM, Christensen EF, et al. Association of national initiatives to improve cardiac arrest management with rates of bystander intervention and patient survival after out-of-hospital cardiac arrest. JAMA. 2013;310(13):1377-84.).

No estudo agora apresentado é de salientar a baixa percentagem (17,8%) de pessoas que frequentaram um curso de SBV. Nesta matéria, os vários estudos têm resultados diversos: se em alguns a grande maioria dos espectadores de eventos críticos também não tinha formação em primeiros socorros(7Pergola AM, Araujo IEM. Laypeople and basic life support. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2009 [cited 2014 Apr 10];43(2):335-42. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n2/en_a12v43n2.pdf
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), em outros, por outro lado, mais da metade da amostra (54,1%) tinha formação em CPR e 21,2% iniciou imediatamente a CPR(1919 Swor R, Khan I, Domeier R, Domeier RM. CPR training and CPR performance: do CPR-trained bystanders perform CPR? Acad Emerg Med. 2006;13(6):596-601.). Em outro estudo(1111 Arbon P, Hayes J. First aid and harm minimization for victims of road trauma: a population study. Final Report June 2007 [Internet] . Adelaide, Australia: Flinders University; 2007 [cited 2014 Apr 24). Available from: http://clicktosave.com.au/wp-content/uploads/2013/06/Australian_Population_Study_on_victims_of_Road_Trauma1.pdf
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), os autores verificaram que 77,9% dos participantes tinham frequentado algum tipo de preparação na área de primeiros socorros, embora 61% não tinham efetuado nenhuma formação nos últimos cincos anos(2020 Larsson EM, Martensson NL, Alexanderson KA. First-aid training and bystander actions at traffic crashes: a population study. Prehosp Disaster Med. 2002,17(3):134-41.).

Entre os locais mais citados para a realização de formação estão os centros de formação qualificados (21,8%) e a Cruz Vermelha Portuguesa (23,5%), dados diferentes dos encontrados em outros estudos(1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
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,2020 Larsson EM, Martensson NL, Alexanderson KA. First-aid training and bystander actions at traffic crashes: a population study. Prehosp Disaster Med. 2002,17(3):134-41.

21 Jones CM, Owen A, Thorne CJ. Comparison of the quality of basic life support provided by rescuers trained using the 2005 or 2010 ERC guidelines. Scand J Trauma Resusc Emerg Med. 2012;20:53.
-2222 Akpek EA, Kayhan Z. Knowledge of basic life support: a pilot study of the Turkish population by Baskent University in Ankara. Resuscitation. 2003;58(2):187-92.). Num estudo realizado por entrevista telefônica com 7.320 inquiridos, as fontes mais comuns de formação na área dos primeiros socorros perante queimaduras foram os livros (41,7%) e a internet (32,9%). Apenas em 9,8% das situações as fontes de informação/formação a que os inquiridos recorreram foram as entidades de saúde e os médicos de cirurgia(2323 Harvey LA, Bar ML, Poulos RG, Finch CF, Sherker S, Harvey JG. A population- based survey of knowledge of burns in New South Wales. Med J Aust. 2011;195(8):465-8.). Por outro lado, num estudo realizado no Brasil, os autores(1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
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) verificaram que 35,6% realizaram formação no curso de formação de condutores e 20,6% no local de trabalho. Estas diferenças podem dever-se ao tipo de amostra, local e tipo de instrumento de coleta de dados.

Dos participantes neste estudo, 1.425 (85,4%) em 1.668 nunca tiveram de prestar SBV. O acidente de viação foi a situação mais relatada (22,5%) pelos que já prestaram auxílio, dado ligeiramente superior (12,2%) ao encontrado em outro estudo(1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
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).

Várias foram as medidas aplicadas pelos cidadãos perante uma emergência: a aplicação de um curativo(1818 Mauritz W, Pelinka LE, Kaff A, Segall B, Fridrich P. First aid measures provided by bystanders at the accident site: a prospective epidemiological study in the area of Vienna. Wien Klin Wochenschr. 2003;115(19-20):698-704.), posicionamento do acidentado(1111 Arbon P, Hayes J. First aid and harm minimization for victims of road trauma: a population study. Final Report June 2007 [Internet] . Adelaide, Australia: Flinders University; 2007 [cited 2014 Apr 24). Available from: http://clicktosave.com.au/wp-content/uploads/2013/06/Australian_Population_Study_on_victims_of_Road_Trauma1.pdf
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), controle de hemorragia(1111 Arbon P, Hayes J. First aid and harm minimization for victims of road trauma: a population study. Final Report June 2007 [Internet] . Adelaide, Australia: Flinders University; 2007 [cited 2014 Apr 24). Available from: http://clicktosave.com.au/wp-content/uploads/2013/06/Australian_Population_Study_on_victims_of_Road_Trauma1.pdf
http://clicktosave.com.au/wp-content/upl...
), garantir a segurança no local de acidente(1010 Mori S, Whitaker IY, Marin HF. Evaluation of an educational website on first aid. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2013 [cited 2014 Aug 10];47(4):950-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n4/en_0080-6234-reeusp-47-4-0950.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n4/en...
), libertação do acidentado(1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en...
), abertura das vias respiratórias(1111 Arbon P, Hayes J. First aid and harm minimization for victims of road trauma: a population study. Final Report June 2007 [Internet] . Adelaide, Australia: Flinders University; 2007 [cited 2014 Apr 24). Available from: http://clicktosave.com.au/wp-content/uploads/2013/06/Australian_Population_Study_on_victims_of_Road_Trauma1.pdf
http://clicktosave.com.au/wp-content/upl...
), precauções contra hipotermia(1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
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), reanimação cardiopulmonar(1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en...
) e proporcionar tranquilidade ao acidentado(1111 Arbon P, Hayes J. First aid and harm minimization for victims of road trauma: a population study. Final Report June 2007 [Internet] . Adelaide, Australia: Flinders University; 2007 [cited 2014 Apr 24). Available from: http://clicktosave.com.au/wp-content/uploads/2013/06/Australian_Population_Study_on_victims_of_Road_Trauma1.pdf
http://clicktosave.com.au/wp-content/upl...
).

Tendo em conta a probabilidade de evitar 4,5% das potenciais mortes pré-hospitalares com SBV imediato(2424 Ashour A, Cameron P, Bernard S, Fitzgerald M, Smith K, Walker T. Could bystander first-aid prevent trauma deaths at the scene of injury. Emerg Med Australas. 2007; 19(2):163-8.) e considerando o primeiro elo da cadeia de sobrevivência(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.), neste estudo, 47,5% dos participantes pediram ajuda acionando de imediato o sistema de emergência médica (112), o que vai ao encontro (31%) dos resultados de outra investigação(1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en...
).

Quando indagados sobre quem deve fazer formação, 63,6% referiram o Instituto Nacional de Emergência Médica. Nesta instituição a formação é realizada por médicos e enfermeiros, o que está de acordo com o salientado na bibliografia ao afirmar que esta deve ser efetuada por pessoal capacitado(7Pergola AM, Araujo IEM. Laypeople and basic life support. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2009 [cited 2014 Apr 10];43(2):335-42. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n2/en_a12v43n2.pdf
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,1010 Mori S, Whitaker IY, Marin HF. Evaluation of an educational website on first aid. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2013 [cited 2014 Aug 10];47(4):950-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n4/en_0080-6234-reeusp-47-4-0950.pdf
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,1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en...
).

Cerca de 95,6% da amostra manifestou-se disponível para realizar formação, resultado semelhante (94,45%) ao encontrado em pesquisa realizada com estudantes(2525 Khan A, Shaikh S, Shuaib F, Sattar A, Samani SA, Shabbir Q, et al. Knowledge attitude and practices of undergraduate students regarding first aid measures. J Pak Med Assoc. 2010;60(1):68-72.). Esta deve ser realizada em associações culturais, dirigidas a grupos da comunidade (88,4%) ou nos locais de trabalho (84,9,%). Essas opções facilitariam a adesão ao treinamento, pois evitariam o deslocamento dos participantes.

A formação em SBV deve se iniciar na população estudantil e antes de entrada no ensino superior(6Miró Andreu O, Escalada Roing X, Jiménez-Fábrega X, Díaz Miranda N, Sanclemente G, Villena O, et al. Programa de Reanimación Cardiopulmonar Orientado a Centros de Enseñanza Secundaria (PROCES): conclusiones tras 5 años de experiencia. Rev Soc Esp Med Urgencias Emerg. 2008;20(4):229-36.). Autores de estudos recentes(4Meissner TM, Kloppe G, Hanefeld C. Basic life support skills of high school students before and after cardiopulmonary resuscitation training: a longitudinal investigation. Scand J Trauma Resusc Emerg Med [Internet]. 2012 [cited 2014 Apr 10];20:31. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3353161/
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)demonstraram que mesmo as crianças com 9 anos podem realizar CPR se devidamente preparadas. A realização de formação é importante e deve ser reciclada para melhorar os conhecimentos e a confiança dos intervenientes(4Meissner TM, Kloppe G, Hanefeld C. Basic life support skills of high school students before and after cardiopulmonary resuscitation training: a longitudinal investigation. Scand J Trauma Resusc Emerg Med [Internet]. 2012 [cited 2014 Apr 10];20:31. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3353161/
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).

Num estudo quase-experimental realizado com estudantes com uma média de idade de 21,5 ± 0,74 anos, que receberam formação e prática formal em primeiros socorros, os autores(2525 Khan A, Shaikh S, Shuaib F, Sattar A, Samani SA, Shabbir Q, et al. Knowledge attitude and practices of undergraduate students regarding first aid measures. J Pak Med Assoc. 2010;60(1):68-72.) verificaram que estes apresentavam melhores conhecimentos do que os que não o tinham realizado (p< 0,001). Resultados semelhantes foram encontrados por outros autores(8Marton J, Pandúr A, Pék E, Deutsch K, Bánfai B, Radnai B, et al. Knowledge about basic life support in European students. Orv Hetil. 2014;25;155(21):833-7.) num estudo realizado em estudantes dinamarqueses (média de idade de 17,5±1,2 anos) e em estudantes de 13 países europeus(2626 Aaberg AMR, Larsen CEB, Rasmussen BS, Hansen CM, Larsen JM. Basic life support knowledge, self-reported skills and fears in Danish high school students and effect of a single 45-min training session run by junior doctors; a prospective cohort study. Scand J Trauma Resusc Emerg Med. 2014, 22:24.). Algumas investigações demonstraram que mesmo os indivíduos que fizeram formação apresentam valores baixos de conhecimento(2525 Khan A, Shaikh S, Shuaib F, Sattar A, Samani SA, Shabbir Q, et al. Knowledge attitude and practices of undergraduate students regarding first aid measures. J Pak Med Assoc. 2010;60(1):68-72.) e alguns referiram não se sentirem preparados(1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
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). Ainda assim, está comprovado que a formação de adultos em SBV é efetiva e necessária(2828 Janisha KP, Priya V, Fermina J. Effectiveness of planned teaching programme on knowledge regarding basic life support among young adults. Int J Nurs Educ. 2012;4 (1):28.), reforçando a necessidade de atualização(7Pergola AM, Araujo IEM. Laypeople and basic life support. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2009 [cited 2014 Apr 10];43(2):335-42. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n2/en_a12v43n2.pdf
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).

Quanto ao nível de conhecimentos, à semelhança de outro estudo(7Pergola AM, Araujo IEM. Laypeople and basic life support. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2009 [cited 2014 Apr 10];43(2):335-42. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n2/en_a12v43n2.pdf
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), verificou-se que a população estudada possui conhecimentos insuficientes e alguns incorretos. Os inquiridos do sexo masculino que frequentaram um curso de SBV e os que já tiveram experiência em SBV apresentam em média melhores níveis de conhecimentos em SBV. Em estudo realizado com estudantes, os autores(2525 Khan A, Shaikh S, Shuaib F, Sattar A, Samani SA, Shabbir Q, et al. Knowledge attitude and practices of undergraduate students regarding first aid measures. J Pak Med Assoc. 2010;60(1):68-72.) verificaram que as mulheres e os que realizaram formação anterior apresentaram maior nível de conhecimentos sobre SBV. A taxa de acertos nas 64 questões foi de 25,9%, superior aos 10% encontrada em outro estudo(1616 Pergola AM,. Araujo IEM The layperson in emergency situations. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2008 [cited 2014 Aug 10];42(4):769-76. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/en_v42n4a20.pdf
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). No entanto, o conteúdo e as questões não são similares a este (grau de dificuldade/abrangência diferentes).

De acordo com as guidelines internacionais(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.-2European Resuscitation Council. Guidelines for Resuscitation [Internet]. 2010 [cited 2014 Apr 10]. Available from: http://www.cprguidelines.eu/2010/
http://www.cprguidelines.eu/2010/...
,1313 American Heart Association. 2010 Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science. Circulation [Internet]. 2010 [cited 2014 Aug 10];122 Suppl 3:S639-946. Available from: http://www.counselling-care.it/pdf/pdf_ps/2010-aha-guidelines.pdf
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), mais de 50% errou nas questões relativas às compressões torácicas. No entanto, 79,9% dos inquiridos acertaram os itens relativos à segurança do reanimador.

Quando a vítima respira, e se não é politraumatizada, 51,4% acertaram a questão sobre o posicionamento adequado, valor superior ao encontrado em outro estudo(1414 Portugal. Instituto Nacional de Estatística. Censos 2011. XV Recenseamento Geral da População. V Recenseamento Geral da Habitação. Resultados definitivos. Lisboa: INE; 2012.). A vítima deve ser colocada na posição lateral a fim de prevenir a obstrução da via área e consequente parada respiratória(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.).

Quando a vítima se engasga, apenas 33% dos inquiridos referiram que deve ser realizada a manobra de Heimlich, que deve ser realizada sempre que a obstrução da via área seja grave e o acidentado esteja consciente. Se o engasgo for ligeiro e a tosse eficaz, deve-se encorajar a tosse e vigiar a pessoa. Se, pelo contrário, a pessoa estiver inconsciente e a obstrução for grave, deve-se chamar o 112 e iniciar RCP(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.).

Foi na área das intervenções à criança que se verificou uma menor taxa percentual de acertos, entre 22,5% (perante a criança inconsciente, fazer 1 minuto de SBV antes de chamar ajuda) e 11,8% (em lactente, em parada cardiorrespiratória deve-se alternar cinco compressões torácicas com duas ventilações). Em lactentes, as compressões torácicas devem obedecer à relação compressão ventilação de 15:2 (com dois reanimadores)(1Portugal. Instituto Nacional de Emergência Médica. Manual de suporte avançado de vida. 2ª ed. Lisboa: INEM; 2011.).

Conclusão

Os resultados deste estudo reforçam a necessidade da capacitação da população leiga em SBV, a fim de diminuir as taxas de mortalidade e morbidade em situações de acidente e doença súbita em cenário extra-hospitalar. Apesar de em Portugal existirem vários cursos na comunidade, presenciais e online, alguns de caráter obrigatório, há necessidade de começar a introduzir o mais precocemente possível a matéria nos currículos escolares de todos os jovens. Programas de formação teórica e prática devem ser realizados em escolas e locais de trabalho, com o objetivo de capacitar a população nesta área, diminuindo assim a mortalidade e morbidade decorrentes de acidentes e emergências.

Os inquiridos apresentaram baixos níveis de conhecimentos sobre SBV, salientando a necessidade e a disponibilidade para realizar a formação. Os cursos devem ser geridos por profissionais de saúde, incluindo enfermeiros, rentabilizando as competências destes profissionais em SBV. Apesar de algumas dificuldades no preenchimento do instrumento, dada a sua extensão, os respondentes acharam-no útil para perceber as lacunas de conhecimento e a importância de realizar a formação.

Encoraja-se a replicação do estudo em outros cenários de investigação, nomeadamente com crianças e professores. Em estudos futuros, seria importante aumentar o tamanho da amostra e desenvolver estudos longitudinais, após a realização de formação teórica e prática, a fim de avaliar sua eficácia. Seria igualmente interessante desenvolver análises documentais para verificar a mortalidade e morbidade de pessoas acidentadas ou com doença súbita, socorridas ou não por leigos com e sem preparação.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2015

Histórico

  • Recebido
    24 Jun 2014
  • Aceito
    13 Maio 2015
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