Acessibilidade / Reportar erro

Capacidade de autocuidado e qualidade de vida no pré-operatório de revascularização miocárdica* * Extraído da dissertação "Capacidade de autocuidado e qualidade de vida em indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica", Universidade Federal de Pernambuco, 2013.

Resumo

OBJETIVO

Analisar os fatores condicionantes básicos do autocuidado e a qualidade de vida relacionada à saúde, associando-os à capacidade de autocuidado em indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica.

MÉTODO

Estudo descritivo com abordagem quantitativa, ancorado teórico-metodologicamente na Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado. Coleta de dados realizada entre março e agosto de 2013, utilizando-se da Escala para Avaliação do Autocuidado e do Medical Outcomes 36 Item Short Form Health Survey.

RESULTADOS

Há correlação entre capacidade de autocuidado e a qualidade de vida no pré-operatório de revascularização miocárdica.

CONCLUSÃO

Entre os participantes do estudo pode ocorrer uma redução na qualidade de vida, tendo em vista a convivência com doenças e agravos não transmissíveis e, mesmo assim, os indivíduos buscam as melhores maneiras de cuidar de si.

Descritores
Revascularização Miocárdica; Autocuidado; Qualidade de Vida; Cuidados Pré-Operatórios; Teoria de Enfermagem

Abstract

OBJECTIVE

To analyze basic self-care conditioning factors and quality of life associated with health, relating them to self-care capacity among individuals in the preoperative period of coronary artery bypass graft surgery.

METHOD

Descriptive study with a quantitative approach, theoretically and methodologically anchored in the Self-care Deficit Nursing Theory. Data were collected between March and August 2013, using the Self-care Assessment Scale and the Medical Outcomes 36 Item Short Form Health Survey.

RESULTS

There was a correlation between self-care capacity and quality of life in the preoperative period of coronary artery bypass graft surgery.

CONCLUSION

Among participants of this study, a reduction in quality of life may have occurred due to the presence of noncommunicable diseases; nevertheless, individuals sought the best ways to care for themselves.

Descriptors
Myocardial Revascularization; Self-care; Quality of Life; Preoperative Care; Nursing Theory

Resumen

OBJETIVO

Analizar los factores condicionantes básicos del autocuidado y la calidad de vida relacionada con la salud, asociándolos a la capacidad de autocuidado en individuos en el preoperatorio de revascularización miocárdica.

MÉTODO

Estudio descriptivo con abordaje cuantitativo, anclado teórica y metodológicamente en la Teoría Enfermera del Déficit de Autocuidado. Recolección de datos llevada a cabo entre marzo y agosto de 2013, utilizándose la Escala para Evaluación del Autocuidado y el Medical Outcomes 36 Item Short Form Health Survey.

RESULTADOS

Existe correlación entre la capacidad de autocuidado y la calidad de vida en el preoperatorio de revascularización miocárdica.

CONCLUSIÓN

Entre los participantes en el estudio puede ocurrir una reducción en la calidad de vida a la vista de la convivencia con enfermedades y agravios no transmisibles, pero aun así los individuos buscan las mejores maneras de cuidarse.

Descriptores
Revascularización Miocárdica; Autocuidado; Calidad de Vida; Cuidados Preoperatorios; Teoría de Enfermería

Introdução

A incidência de Doenças e Agravos não Transmissíveis (DANT), concomitantemente ao envelhecimento populacional, tem ocasionado aumento na demanda por serviços especializados, como a Cirurgia de Revascularização Miocárdica (CRM)11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.

2 Cramm JM, Hartgerink JM, Steyerberg EW, Bakker TJ, Mackenbach JP, Nieboer AP. Understanding older patients' self-management abilities: functional loss, self-management, and well-being. Qual Life Res. 2013;22(1):85-92.
-33 Dessotte CAM, Dantas RAS, Schmidt A, Rossi LA. Health-related quality of life in patients admitted after a first episode of acute coronary syndrome. Rev Latino Am Enfermagem. 2011;19(5):1106-13. , a qual prescinde da atuação de enfermeiros na educação em saúde de indivíduos que se submeterão a tal procedimento.

Essa atuação pode ser ancorada em teorias próprias da Enfermagem, a fim de assistir os indivíduos em uma fase marcada por ansiedade, medo e dúvidas referentes ao autocuidado. Nesse cenário, destaca-se a Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado, desenvolvida por Dorothea Orem44 Hewitt-Taylor J, Heaslip V, Rowe NE. Applying research to practice: exploring the barriers. Br J Nurs. 2012;21(6):356-9.

5 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.
-66 Galdeano LE, Rossi LA, Dantas RAS. Deficient knowledge nursing diagnosis: identifying the learning needs of patients with cardiac disease. Int J Nurs Terminol Classif. 2010;21(3):100-7..

A supracitada teoria é constituída por três construtos teóricos inter-relacionados: Teoria do Autocuidado, Teoria do Déficit do Autocuidado e Teoria dos Sistemas de Enfermagem55 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.. Esses construtos são permeados por concepções teóricas sobre o autocuidado, a Capacidade de Autocuidado (CAC), além dos Fatores Condicionantes Básicos do Autocuidado (FCB), centralizando o cuidado nos indivíduos, famílias e comunidades44 Hewitt-Taylor J, Heaslip V, Rowe NE. Applying research to practice: exploring the barriers. Br J Nurs. 2012;21(6):356-9.

5 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.
-66 Galdeano LE, Rossi LA, Dantas RAS. Deficient knowledge nursing diagnosis: identifying the learning needs of patients with cardiac disease. Int J Nurs Terminol Classif. 2010;21(3):100-7..

O arcabouço teórico desenvolvido por Dorothea Orem pode subsidiar estratégias de educação em saúde, desde uma fase diagnóstica, passando por intervenções e suas respectivas avaliações, cujo objetivo é o desenvolvimento humano, bem como a melhor qualidade de vida44 Hewitt-Taylor J, Heaslip V, Rowe NE. Applying research to practice: exploring the barriers. Br J Nurs. 2012;21(6):356-9.

5 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.

6 Galdeano LE, Rossi LA, Dantas RAS. Deficient knowledge nursing diagnosis: identifying the learning needs of patients with cardiac disease. Int J Nurs Terminol Classif. 2010;21(3):100-7.
-77 Polinder S, Haagsma JA, Belt E, Lyons RA, Erasmus V, Lund J, et al. A systematic review of studies measuring health-related quality of life of general injury populations. BMC Public Health [Internet]. 2010 [cited 2015 July 16];10:783. Available from: Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3019196 /
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
.

Estudos que utilizaram esse arcabouço teórico em suas premissas11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.,88 Fex A, Flensner G, Ek AC, Söderhamn O. Self-care agency and perceived health among people using advanced medical technology at home. J Adv Nurs. 2012;68(4):806-15. destacaram a CAC, que se constitui na habilidade de engajamento em ações de autocuidado, para manutenção da saúde e do bem-estar55 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011., fins que foram relacionados à Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS), por esta enfatizar a percepção sobre saúde e bem-estar nas investigações sobre o processo saúde-doença11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.,33 Dessotte CAM, Dantas RAS, Schmidt A, Rossi LA. Health-related quality of life in patients admitted after a first episode of acute coronary syndrome. Rev Latino Am Enfermagem. 2011;19(5):1106-13. ,77 Polinder S, Haagsma JA, Belt E, Lyons RA, Erasmus V, Lund J, et al. A systematic review of studies measuring health-related quality of life of general injury populations. BMC Public Health [Internet]. 2010 [cited 2015 July 16];10:783. Available from: Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3019196 /
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
-88 Fex A, Flensner G, Ek AC, Söderhamn O. Self-care agency and perceived health among people using advanced medical technology at home. J Adv Nurs. 2012;68(4):806-15..

Além da sinergia em comum da CAC e da QVRS para manutenção da saúde e do bem-estar, ambas podem sofrer influência de fatores intrínsecos e extrínsecos aos seres humanos, como idade, sexo, aspectos socioculturais e econômicos. Tais fatores, de acordo com Dorothea Orem, são denominados de FCB33 Dessotte CAM, Dantas RAS, Schmidt A, Rossi LA. Health-related quality of life in patients admitted after a first episode of acute coronary syndrome. Rev Latino Am Enfermagem. 2011;19(5):1106-13. ,55 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.,77 Polinder S, Haagsma JA, Belt E, Lyons RA, Erasmus V, Lund J, et al. A systematic review of studies measuring health-related quality of life of general injury populations. BMC Public Health [Internet]. 2010 [cited 2015 July 16];10:783. Available from: Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3019196 /
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
.

Desse modo, entende-se que o conhecimento sobre CAC, QVRS e FCB de indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica é importante, e pode subsidiar a ação de enfermeiros, seja na educação em saúde ou na prática clínica11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.-22 Cramm JM, Hartgerink JM, Steyerberg EW, Bakker TJ, Mackenbach JP, Nieboer AP. Understanding older patients' self-management abilities: functional loss, self-management, and well-being. Qual Life Res. 2013;22(1):85-92.,55 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.,88 Fex A, Flensner G, Ek AC, Söderhamn O. Self-care agency and perceived health among people using advanced medical technology at home. J Adv Nurs. 2012;68(4):806-15.. Entretanto, são raros os estudos que agreguem esses três fatores relacionados aos cuidados à saúde.

Diante disso, este estudo objetivou analisar os fatores condicionantes básicos do autocuidado e a qualidade de vida relacionada à saúde, associando-os à capacidade de autocuidado em indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica.

Método

Trata-se de estudo descritivo com corte transversal, e abordagem quantitativa99 Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2011.-1010 Agresti A, Finlay B. Métodos estatísticos para as ciências sociais. 4ª ed. Porto Alegre: Penso; 2012., realizado no Pronto-Socorro Universitário Cardiológico de Pernambuco Professor Luiz Tavares, da Universidade de Pernambuco, que é uma instituição hospitalar do sistema público de saúde, referência em cirurgias cardiovasculares para as regiões Norte e Nordeste do Brasil, situando-se na cidade de Recife-PE.

A amostra do estudo foi calculada por equação para estudos de proporção com população finita, considerando-se pesquisa anterior no local deste estudo1111 Araujo NR, Araújo RA, Bezerra SMMS. Overweight and obesity repercussion in the postoperative of myocardial revascularization surgery. Rev Esc Enferm USP. 2014; 48(2):236-41. . Os participantes foram arrolados por amostragem não aleatória e intencional99 Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2011.-1010 Agresti A, Finlay B. Métodos estatísticos para as ciências sociais. 4ª ed. Porto Alegre: Penso; 2012., constituindo uma amostra de 62 indivíduos.

Na amostra do estudo foram incluídos os indivíduos que se submeteriam pela primeira vez à cirurgia de revascularização miocárdica, em caráter eletivo; de ambos os sexos; e com idade entre 50 e 70 anos, por esta ser a faixa etária predominante na população pesquisada1111 Araujo NR, Araújo RA, Bezerra SMMS. Overweight and obesity repercussion in the postoperative of myocardial revascularization surgery. Rev Esc Enferm USP. 2014; 48(2):236-41. . Foram excluídos os indivíduos com problemas neuromusculares; em uso de psicotrópicos; e com dificuldade ou incapacidade de comunicação.

A coleta de dados ocorreu entre março e agosto de 2013, sendo realizada individualmente e em ambiente privativo, por meio de entrevista, devido à baixa escolaridade da população pesquisada1111 Araujo NR, Araújo RA, Bezerra SMMS. Overweight and obesity repercussion in the postoperative of myocardial revascularization surgery. Rev Esc Enferm USP. 2014; 48(2):236-41. .

Na coleta de dados empregaram-se três questionários: (1) sobre informações sociodemográficas e clínicas relacionadas aos FCB; (2) sobre a QVRS - Medical Outcomes 36 Item Short Form Health Survey (SF-36); (3) sobre a CAC - Appraisal of Self-Care Agency scale (ASA-scale). O SF-361212 Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol. 1999;39(3):143-50. e a ASA-scale1313 Silva JV. Adaptação cultural e validação da escala para avaliar as capacidades de auocuidado. Rev Eletr Acervo Saúde . 2013;5(2):426-47. foram traduzidos e validados para o contexto brasileiro.

Os dados relacionados aos FCB foram coletados por um instrumento elaborado pelos autores do estudo, sendo pré-testado para determinar sua utilidade na coleta de dados válidos à pesquisa99 Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2011.. Esse instrumento constituiu-se por informações sobre idade, sexo, etnia/raça autodeclarada, união consensual, escolaridade, situação profissional, renda mensal da família e classificação socioeconômica. Tais informações podem influenciar tanto a CAC quanto a QVRS55 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.,77 Polinder S, Haagsma JA, Belt E, Lyons RA, Erasmus V, Lund J, et al. A systematic review of studies measuring health-related quality of life of general injury populations. BMC Public Health [Internet]. 2010 [cited 2015 July 16];10:783. Available from: Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3019196 /
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
.

A classificação socioeconômica foi realizada por meio do Critério de Classificação Econômica Brasil, que tem por finalidade estimar o poder de compra das pessoas e famílias, dividindo-as em cinco grupos: A (melhor status), B, C, D e E (pior status). Essa estimativa é dada pela quantidade de itens possuídos em casa e pelo grau de instrução do chefe da família1414 Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério de Classificação Econômica Brasil [Internet]. São Paulo: ABEP; 2012 [citado 2015 jul. 16]. Disponível em: Disponível em: http://www.abep.org/criterio-brasil
http://www.abep.org/criterio-brasil...
.

Os dados clínicos abordados foram as comorbidades presentes; o peso e a altura para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), considerando-se IMC < 25 kg/m2 sem excesso de peso; IMC ≥ 25 kg/m2 e < 30 kg/m2, sobrepeso; e IMC ≥ 30 kg/m2, obesidade1515 World Health Organization (WHO). Physical status: the use and interpretation of anthropometry. Geneva: WHO; 1995.; e a manifestação clínica que desencadeou a CRM.

A QVRS foi avaliada através do SF-36, um instrumento genérico constituído por 36 itens agrupados em oito domínios (ou subescalas), os quais podem ser agrupados em dois componentes, gerando escores entre zero e 100, que demonstram a percepção de saúde1212 Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol. 1999;39(3):143-50., tendo sua validade evidenciada por coeficientes alfa de Cronbach que variaram entre 0,59 e 0,851616 Weng LC, Dai YT, Huang HL, Chiang YJ. Self-efficacy, self-care behaviours and quality of life of kidney transplant recipients. J Adv Nurs. 2010;66(4):828-38..

A CAC, variável dependente neste estudo, foi avaliada por meio da ASA-scale, que compreende 24 itens voltados para a operabilidade do autocuidado, admitindo-se respostas tipo Likert, com pontuações que variam de um (discordo totalmente) a cinco (concordo totalmente)1313 Silva JV. Adaptação cultural e validação da escala para avaliar as capacidades de auocuidado. Rev Eletr Acervo Saúde . 2013;5(2):426-47..

A tradução e a validação da ASA-scale, denominada Escala para Avaliação da Capacidade de Autocuidado (EACAC), mostrou um coeficiente alfa de Cronbach de 0,851313 Silva JV. Adaptação cultural e validação da escala para avaliar as capacidades de auocuidado. Rev Eletr Acervo Saúde . 2013;5(2):426-47., e em indivíduos com problemas cardiovasculares, esse coeficiente variou entre 0,77 e 0,851717 Sousa VD, Zauszniewski JA, Zeller RA, Neese JB. Factor analysis of the Appraisal of Self-care Agency Scale in american adults with diabetes mellitus. Diabetes Educ. 2008;34(1):98-108..

Um banco de dados foi construído no software EPI INFO 3.5.2, por meio de dupla entrada para validação dos dados inseridos. Os dados foram exportados e analisados no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 18, empregando-se frequências, intervalos (valor mínimo e máximo), média e desvio-padrão. Também foram descritos os intervalos de confiança e os escores médios da EACAC e dos oito domínios do SF-36.

O coeficiente alfa de Cronbach foi utilizado para avaliar a consistência interna do SF-36 e da EACAC, a fim de comprovar a confiabilidade destes instrumentos na amostra pesquisada1010 Agresti A, Finlay B. Métodos estatísticos para as ciências sociais. 4ª ed. Porto Alegre: Penso; 2012..

O teste qui-quadrado foi usado para comparar proporções entre os FCB pesquisados. Utilizaram-se do teste t de Student e do teste de Mann-Whitney para comparações entre dois grupos. O teste de Kruskal-Wallis e a Análise de Variância (ANOVA) foram empregados para comparações entre três ou mais grupos. Essas comparações envolveram os escores da EACAC e dos oito domínios do SF-36.

Na análise da associação entre os escores dos oito domínios do SF-36 com os escores da EACAC, aplicou-se o coeficiente de correlação de Pearson, sendo observada sua significância. Consideraram-se os seguintes graus de correlação: perfeito (+1 ou -1), forte (+0,9 a +0,7 ou -0,9 a -0,7), moderado (+0,6 a +0,4 ou -0,6 a -0,4) e fraco (+0,3 a +0,1 ou -0,3 a -0,1)1010 Agresti A, Finlay B. Métodos estatísticos para as ciências sociais. 4ª ed. Porto Alegre: Penso; 2012..

Aplicou-se a regressão de Poisson com variância robusta para a busca de fatores associados aos escores da EACAC. A seleção dos fatores que contribuíam independentemente para explicar a CAC realizou-se pela análise de regressão múltipla. O efeito de cada fator foi expresso como Razão de Prevalência (RP) com Intervalo de Confiança (IC) de 95%. A significância estatística foi determinada pelo teste de Wald. Considerou-se um nível de significância de 5% (p<0,05) em todos os testes.

Neste estudo, respeitaram-se os quatros referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. A execução do estudo ocorreu após aprovação por comitê de ética em pesquisa do Pronto-Socorro Universitário Cardiológico de Pernambuco Professor Luiz Tavares, da Universidade de Pernambuco, Parecer nº 194.388. Todos os indivíduos arrolados aceitaram participar voluntariamente do estudo, depois de prestados os devidos esclarecimentos e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Entre os participantes da pesquisa, verificou-se idade média de 60,69 (± 6,71) anos, além de uma renda mensal média dos participantes de R$ 896,80, salientando-se que não houve participantes na classe socioeconômica A e E. Os demais FCB estudados encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1
Fatores condicionantes básicos do autocuidado entre os participantes do estudo - Recife, PE, Brasil, 2013.

Em relação aos dados clínicos, o índice de massa corporal médio dos participantes foi de 26,52 (±3,57) kg/m2, com destaque para os participantes com sobrepeso (50%; p=0,001). Dentre as comorbidades, destacaram-se hipertensão (78,18%) e diabetes (32,72%). O hábito de tabagismo foi referenciado por 28 participantes (50,90%). E o infarto agudo do miocárdio foi a principal causa para realização da CRM (59,8%; p<0,001).

O emprego do SF-36 e da EACAC nos participantes da pesquisa obteve coeficientes alfa de Cronbach de 0,87 e 0,82, respectivamente. No SF-36, o aspecto físico foi o domínio com o menor escore (19,4 ± 30,2), enquanto a saúde mental possuiu o maior (70,5 ± 26,1). Na EACAC houve pontuação média de 87,5 (± 10,5). Além disso, ocorreu correlação fraca entre os domínios do SF-36 com a EACAC (Tabela 2).

Tabela 2
Análise descritiva e correlação dos domínios do SF-36 com a capacidade de autocuidado - Recife, PE, Brasil, 2013.

Observando-se a distribuição dos escores médios da EACAC e dos componentes físico e mental do SF-36, segundo a idade, sexo, união consensual, escolaridade e classe socioeconômica dos participantes, não foi encontrada significância estatística (Tabela 3).

Na análise por domínios do SF-36, verificou-se que os participantes casados tiveram maior escore no aspecto emocional (62,6 ± 46,7; p=0,045). Indivíduos que concluíram o nível secundário obtiveram o maior escore no aspecto social (58,3 ± 32,6; p=0,038), assim como aqueles que possuíam renda mensal da família superior a R$ 1.356,00 (54,3 ± 31,8; p=0,033), e aqueles da classe socioeconômica B (70,0 ± 25,9; p=0,008).

Por outro lado, a classe socioeconômica C obteve o maior escore na capacidade funcional (45,7 ± 26,8; p=0,006). Não houve significância estatística entre as demais variáveis com os domínios do SF-36 nem com a EACAC.

Entretanto, os escores da EACAC foram maiores na faixa etária entre 61 e 70 anos, entre os homens, entre os participantes casados, naqueles com maior escolaridade e nos indivíduos pertencentes à classe socioeconômica D.

Tabela 3
Relação dos fatores condicionantes básicos com os componentes do SF-36 e com a capacidade de autocuidado - Recife, PE, Brasil, 2013.

Na análise do modelo de regressão de Poisson para a EACAC, constatou-se que os fatores idade (p=0,046), união consensual (p<0,001), escolaridade (p=0,002) e renda mensal da família (p-valor<0,001) foram estatisticamente significativos.

Contudo, na Tabela 4, tem-se o ajuste do modelo de regressão para a EACAC segundo a idade e a renda mensal da família, após exclusão da escolaridade (p=0,390) e da união consensual (p=0,065). Observou-se que a faixa etária de 61 a 70 anos e a renda mensal da família menor que R$ 678,00 associaram-se a um maior escore na EACAC.

Tabela 4
Regressão de Poisson para a capacidade de autocuidado, segundo a idade e a renda mensal da família - Recife, PE, Brasil, 2013.

Discussão

A aplicação do SF-36 para avaliar a qualidade de vida mostrou que o componente mental apresentou-se com escores mais elevados que o componente físico, relacionando-se a fatores como indivíduos casados, com maior escolaridade, maior renda mensal da família e melhor classificação socioeconômica.

Isto pode mostrar a relevância desses fatores em um possível favorecimento ao enfrentamento da doença cardiovascular, que se associa a escores maiores no componente mental66 Galdeano LE, Rossi LA, Dantas RAS. Deficient knowledge nursing diagnosis: identifying the learning needs of patients with cardiac disease. Int J Nurs Terminol Classif. 2010;21(3):100-7.,1818 Horst R, Markou AL, Noyez L. Prognostic value of preoperative quality of life on mortality after isolated elective myocardial revascularization. Interact Cardiovasc Thorac Surg. 2012;15(4):651-4.. Em detrimento, os menores escores do componente físico, como verificados em outras pesquisas33 Dessotte CAM, Dantas RAS, Schmidt A, Rossi LA. Health-related quality of life in patients admitted after a first episode of acute coronary syndrome. Rev Latino Am Enfermagem. 2011;19(5):1106-13. ,1818 Horst R, Markou AL, Noyez L. Prognostic value of preoperative quality of life on mortality after isolated elective myocardial revascularization. Interact Cardiovasc Thorac Surg. 2012;15(4):651-4., podem refletir o impacto da doença cardiovascular em aspectos físicos dos indivíduos acometidos.

Nesta pesquisa, também se observou uma correlação apenas fraca entre os domínios do SF-36 e a EACAC. Todavia, pesquisas com portadores de DANT mostraram haver uma associação entre os aspectos supracitados, sendo que a melhor qualidade de vida relacionou-se com a maior capacidade de autocuidado11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.,88 Fex A, Flensner G, Ek AC, Söderhamn O. Self-care agency and perceived health among people using advanced medical technology at home. J Adv Nurs. 2012;68(4):806-15..

A correlação observada neste estudo entre a qualidade de vida e a capacidade de autocuidado, apesar de ser caracterizada como fraca1010 Agresti A, Finlay B. Métodos estatísticos para as ciências sociais. 4ª ed. Porto Alegre: Penso; 2012., possivelmente se relaciona a um envelhecimento ativo, porém não saudável, na amostra pesquisada. Hipoteticamente, haveria o convívio com DANT, prejudicando a qualidade de vida.

Entretanto, a busca por maior autocuidado não seria inviabilizado, mesmo com o impacto do adoecimento crônico. Assim, poderia ocorrer relação entre a manutenção e o desenvolvimento da capacidade de autocuidado, uma habilidade que é aprendida ao longo da vida, com as demandas subsequentes ao processo saúde-doença11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.-22 Cramm JM, Hartgerink JM, Steyerberg EW, Bakker TJ, Mackenbach JP, Nieboer AP. Understanding older patients' self-management abilities: functional loss, self-management, and well-being. Qual Life Res. 2013;22(1):85-92.,1717 Sousa VD, Zauszniewski JA, Zeller RA, Neese JB. Factor analysis of the Appraisal of Self-care Agency Scale in american adults with diabetes mellitus. Diabetes Educ. 2008;34(1):98-108.,1919 Karagozoglu S, Arikan A, Eraydin S. The fatigue and self-care agency levels of the elderly people staying in rest homes and the relation between these two conditions. Arch Gerontol Geriatr. 2012;54(3):e322-8..

Nesse cenário, destaca-se a Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado, por fomentar a manutenção e o desenvolvimento de práticas voltadas ao autocuidado, favorecendo melhor qualidade de vida. O fomento ao autocuidado e, por consequência, a melhor qualidade de vida, sobressai-se na amostra pesquisada, marcada pelo envelhecimento e pelo acometimento por DANT, apesar do necessário entendimento do contexto onde a Enfermagem realizará suas intervenções55 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.,88 Fex A, Flensner G, Ek AC, Söderhamn O. Self-care agency and perceived health among people using advanced medical technology at home. J Adv Nurs. 2012;68(4):806-15.,1919 Karagozoglu S, Arikan A, Eraydin S. The fatigue and self-care agency levels of the elderly people staying in rest homes and the relation between these two conditions. Arch Gerontol Geriatr. 2012;54(3):e322-8..

Tendo em vista o contexto pesquisado, observou-se que o escore da EACAC variou de acordo com os fatores condicionantes básicos do autocuidado, dentre os quais se destacaram idade, estado civil, escolaridade e renda. Após ajuste da análise multivariada, apenas a idade e a renda continuaram associando-se aos escores obtidos por meio da EACAC.

Esses fatores também se sobressaíram em estudos que avaliaram a capacidade de autocuidado em portadores de doenças crônicas11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.,88 Fex A, Flensner G, Ek AC, Söderhamn O. Self-care agency and perceived health among people using advanced medical technology at home. J Adv Nurs. 2012;68(4):806-15.,1717 Sousa VD, Zauszniewski JA, Zeller RA, Neese JB. Factor analysis of the Appraisal of Self-care Agency Scale in american adults with diabetes mellitus. Diabetes Educ. 2008;34(1):98-108. e idosos1919 Karagozoglu S, Arikan A, Eraydin S. The fatigue and self-care agency levels of the elderly people staying in rest homes and the relation between these two conditions. Arch Gerontol Geriatr. 2012;54(3):e322-8., mostrando a importância de características socioeconômicas na manutenção e no desenvolvimento do autocuidado.

Nesse sentido, idade e renda são fatores que influenciam na manutenção e no desenvolvimento do autocuidado1717 Sousa VD, Zauszniewski JA, Zeller RA, Neese JB. Factor analysis of the Appraisal of Self-care Agency Scale in american adults with diabetes mellitus. Diabetes Educ. 2008;34(1):98-108.. Nesta pesquisa, quanto maior a idade e menor a renda, maior foi o escore da EACAC. Por outro lado, estudos anteriores, realizados em contextos socioeconômicos díspares desta pesquisa, mostraram que idades menores e rendas maiores associaram-se a pontuações maiores na avaliação da capacidade de autocuidado11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.-22 Cramm JM, Hartgerink JM, Steyerberg EW, Bakker TJ, Mackenbach JP, Nieboer AP. Understanding older patients' self-management abilities: functional loss, self-management, and well-being. Qual Life Res. 2013;22(1):85-92.,88 Fex A, Flensner G, Ek AC, Söderhamn O. Self-care agency and perceived health among people using advanced medical technology at home. J Adv Nurs. 2012;68(4):806-15.,1919 Karagozoglu S, Arikan A, Eraydin S. The fatigue and self-care agency levels of the elderly people staying in rest homes and the relation between these two conditions. Arch Gerontol Geriatr. 2012;54(3):e322-8..

Assim, estudo desenvolvido na Turquia com portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica mostrou associação entre idades maiores e baixo poder aquisitivo com pior capacidade de autocuidado11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.. E uma pesquisa realizada na Holanda com idosos hospitalizados relatou associação entre idades maiores e renda menor com pior autocuidado22 Cramm JM, Hartgerink JM, Steyerberg EW, Bakker TJ, Mackenbach JP, Nieboer AP. Understanding older patients' self-management abilities: functional loss, self-management, and well-being. Qual Life Res. 2013;22(1):85-92..

Em estudo com adultos, que utilizou tecnologia médica avançada em domicílio, como ventilação mecânica e hemodiálise, verificou-se que a capacidade de autocuidado não se associou à idade dos participantes na análise de regressão. Entretanto, ocorreu uma relação linear negativa entre a capacidade de autocuidado e a idade, em que a maior capacidade de autocuidado relacionou-se a idades menores88 Fex A, Flensner G, Ek AC, Söderhamn O. Self-care agency and perceived health among people using advanced medical technology at home. J Adv Nurs. 2012;68(4):806-15..

Portanto, a associação da idade e da renda com os escores da EACAC entre os participantes do estudo pode refletir estratégias desenvolvidas por cada um dos indivíduos para o enfrentamento das DANT, além da vulnerabilidade social em que estão inseridos2020 Martin LG, Schoeni RF, Andreski PM, Jagger C. Trends and inequalities in late-life health and functioning in England. J Epidemiol Community Health. 2011;66(10):874-80.

2 Dowd JB, Zajacova A. Does self-rated health mean the same thing accross socioeconomic groups? Evidence from biomarker data. Ann Epidemiol. 2010;20(10):743-9.
-2222 Lima-Costa MF, Oliveira C, Macinko J, Marmot M. Socioeconomic inequalities in health in older adults in Brazil and England. Am J Public Health. 2012;102(8):1535-41.. Tal vulnerabilidade é agravada por fatores que podem afetar a capacidade de autocuidado, principalmente a baixa escolaridade, que dificulta, mas não inviabiliza, o desenvolvimento e a manutenção do autocuidado11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22..

A escolaridade, neste estudo, não teve significância estatística, apesar de ter sido associada à capacidade de autocuidado em outras pesquisas11 Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.-22 Cramm JM, Hartgerink JM, Steyerberg EW, Bakker TJ, Mackenbach JP, Nieboer AP. Understanding older patients' self-management abilities: functional loss, self-management, and well-being. Qual Life Res. 2013;22(1):85-92.,55 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.,88 Fex A, Flensner G, Ek AC, Söderhamn O. Self-care agency and perceived health among people using advanced medical technology at home. J Adv Nurs. 2012;68(4):806-15., sendo mostrado que indivíduos no pré-operatório da CRM com pouca escolaridade possuíam déficit de conhecimento sobre sua condição de saúde e seu tratamento66 Galdeano LE, Rossi LA, Dantas RAS. Deficient knowledge nursing diagnosis: identifying the learning needs of patients with cardiac disease. Int J Nurs Terminol Classif. 2010;21(3):100-7..

Frente ao cenário socioeconômico desfavorável, marcado pela baixa escolaridade, por uma renda precária e por um envelhecimento acompanhado de comorbidades, são constituídos obstáculos a melhores condições de saúde2323 Lopes MJ, Escoval A, Pereira DG, Pereira CS, Carvalho C, Fonseca C. Evaluation of elderly persons' functionality and care needs. Rev Latino Am Enfermagem. 2013 ;21(n.spe):52-60..

Porém, observou-se na amostra pesquisada a habilidade para lidar com tais adversidades, denominada de capacidade de autocuidado. Essas adversidades, de cunho socioeconômico e clínico, podem ter ocasionado adaptações, e um consequente crescimento pessoal e social, refletido na manutenção da capacidade de autocuidado, apesar da qualidade de vida precária, podendo caracterizar um estado de resiliência entre os participantes deste estudo2424 Ferreira CL, Santos LMO, Maia EMC. Resilience among the elderly cared for by the primary healthcare network in a city of northeast Brazil. Rev Esc Enferm USP. 2012; 46(2):328-34..

Dessa maneira, são necessárias ações de educação em saúde que potencializem o autocuidado2525 Erdmann AL, Lanzoni GMM, Callegaro GD, Baggio MA, Koerich C. Understanding the process of living as signified by myocardial revascularization surgery patients. Rev Latino Am Enfermagem. 2013;21(1):332-9., favorecendo melhor qualidade de vida, por meio da contextualização socioeconômica de tais ações, as quais podem ser ancoradas em teorias próprias da Enfermagem55 Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.,2222 Lima-Costa MF, Oliveira C, Macinko J, Marmot M. Socioeconomic inequalities in health in older adults in Brazil and England. Am J Public Health. 2012;102(8):1535-41.,2424 Ferreira CL, Santos LMO, Maia EMC. Resilience among the elderly cared for by the primary healthcare network in a city of northeast Brazil. Rev Esc Enferm USP. 2012; 46(2):328-34.. Também são necessárias pesquisas que corroborem os resultados mostrados, aprofundando a discussão sobre a capacidade de autocuidado, bem como sua relação com os fatores condicionantes básicos do autocuidado e a qualidade de vida.

Conclusão

Mostrou-se que entre os participantes do estudo houve correlação fraca entre os domínios do SF-36 e a EACAC. Apesar disso, observou-se a manutenção da capacidade de autocuidado frente a idades maiores e a rendas menores, fatores que poderiam ser desfavoráveis ao autocuidado, mas que no contexto pesquisado podem estar relacionados à resiliência entre os participantes desta pesquisa. Assim, embora a convivência com doenças crônico-degenerativas possa levar a uma redução na qualidade de vida, os indivíduos deste estudo buscaram as melhores maneiras de cuidar de si.

São necessárias outras pesquisas que abordem os conceitos empregados neste estudo e pesquisem outros aspectos da Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado. Destaca-se para os estudos futuros o envelhecimento populacional e a convivência com doenças crônico-degenerativas que requerem a manutenção e o desenvolvimento de práticas para o autocuidado, por meio da educação em saúde.

Os enfermeiros podem utilizar em pesquisas ou intervenções futuras a Teoria dos Sistemas de Enfermagem, conforme a Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado, partindo da atuação e interação com os indivíduos, a fim de favorecer a integralidade das práticas do cuidar por meio da educação em saúde. O objetivo de se considerar o indivíduo como um ser complexo, e não apenas como um receptor de informações é o seu empoderamento sobre o autocuidado e a promoção de melhorias em sua qualidade de vida.

References

  • 1
    Yildirim A, Aşilar RH, Bakar N, Demir N. Effect of anxiety and depression on self-care agency and quality of life in hospitalized patients with chronic obstructive pulmonary disease: a questionnaire survey. Int J Nurs Pract. 2013;19(1):14-22.
  • 2
    Cramm JM, Hartgerink JM, Steyerberg EW, Bakker TJ, Mackenbach JP, Nieboer AP. Understanding older patients' self-management abilities: functional loss, self-management, and well-being. Qual Life Res. 2013;22(1):85-92.
  • 3
    Dessotte CAM, Dantas RAS, Schmidt A, Rossi LA. Health-related quality of life in patients admitted after a first episode of acute coronary syndrome. Rev Latino Am Enfermagem. 2011;19(5):1106-13.
  • 4
    Hewitt-Taylor J, Heaslip V, Rowe NE. Applying research to practice: exploring the barriers. Br J Nurs. 2012;21(6):356-9.
  • 5
    Taylor SG, Renpenning K. Self-care science, nursing theory, and evidence-based practice. New York: Springer; 2011.
  • 6
    Galdeano LE, Rossi LA, Dantas RAS. Deficient knowledge nursing diagnosis: identifying the learning needs of patients with cardiac disease. Int J Nurs Terminol Classif. 2010;21(3):100-7.
  • 7
    Polinder S, Haagsma JA, Belt E, Lyons RA, Erasmus V, Lund J, et al. A systematic review of studies measuring health-related quality of life of general injury populations. BMC Public Health [Internet]. 2010 [cited 2015 July 16];10:783. Available from: Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3019196 /
    » http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3019196
  • 8
    Fex A, Flensner G, Ek AC, Söderhamn O. Self-care agency and perceived health among people using advanced medical technology at home. J Adv Nurs. 2012;68(4):806-15.
  • 9
    Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2011.
  • 10
    Agresti A, Finlay B. Métodos estatísticos para as ciências sociais. 4ª ed. Porto Alegre: Penso; 2012.
  • 11
    Araujo NR, Araújo RA, Bezerra SMMS. Overweight and obesity repercussion in the postoperative of myocardial revascularization surgery. Rev Esc Enferm USP. 2014; 48(2):236-41.
  • 12
    Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol. 1999;39(3):143-50.
  • 13
    Silva JV. Adaptação cultural e validação da escala para avaliar as capacidades de auocuidado. Rev Eletr Acervo Saúde . 2013;5(2):426-47.
  • 14
    Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério de Classificação Econômica Brasil [Internet]. São Paulo: ABEP; 2012 [citado 2015 jul. 16]. Disponível em: Disponível em: http://www.abep.org/criterio-brasil
    » http://www.abep.org/criterio-brasil
  • 15
    World Health Organization (WHO). Physical status: the use and interpretation of anthropometry. Geneva: WHO; 1995.
  • 16
    Weng LC, Dai YT, Huang HL, Chiang YJ. Self-efficacy, self-care behaviours and quality of life of kidney transplant recipients. J Adv Nurs. 2010;66(4):828-38.
  • 17
    Sousa VD, Zauszniewski JA, Zeller RA, Neese JB. Factor analysis of the Appraisal of Self-care Agency Scale in american adults with diabetes mellitus. Diabetes Educ. 2008;34(1):98-108.
  • 18
    Horst R, Markou AL, Noyez L. Prognostic value of preoperative quality of life on mortality after isolated elective myocardial revascularization. Interact Cardiovasc Thorac Surg. 2012;15(4):651-4.
  • 19
    Karagozoglu S, Arikan A, Eraydin S. The fatigue and self-care agency levels of the elderly people staying in rest homes and the relation between these two conditions. Arch Gerontol Geriatr. 2012;54(3):e322-8.
  • 20
    Martin LG, Schoeni RF, Andreski PM, Jagger C. Trends and inequalities in late-life health and functioning in England. J Epidemiol Community Health. 2011;66(10):874-80.
  • 2
    Dowd JB, Zajacova A. Does self-rated health mean the same thing accross socioeconomic groups? Evidence from biomarker data. Ann Epidemiol. 2010;20(10):743-9.
  • 22
    Lima-Costa MF, Oliveira C, Macinko J, Marmot M. Socioeconomic inequalities in health in older adults in Brazil and England. Am J Public Health. 2012;102(8):1535-41.
  • 23
    Lopes MJ, Escoval A, Pereira DG, Pereira CS, Carvalho C, Fonseca C. Evaluation of elderly persons' functionality and care needs. Rev Latino Am Enfermagem. 2013 ;21(n.spe):52-60.
  • 24
    Ferreira CL, Santos LMO, Maia EMC. Resilience among the elderly cared for by the primary healthcare network in a city of northeast Brazil. Rev Esc Enferm USP. 2012; 46(2):328-34.
  • 25
    Erdmann AL, Lanzoni GMM, Callegaro GD, Baggio MA, Koerich C. Understanding the process of living as signified by myocardial revascularization surgery patients. Rev Latino Am Enfermagem. 2013;21(1):332-9.
  • *
    Extraído da dissertação "Capacidade de autocuidado e qualidade de vida em indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica", Universidade Federal de Pernambuco, 2013.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2016

Histórico

  • Recebido
    09 Dez 2015
  • Aceito
    30 Mar 2016
Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: reeusp@usp.br