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O desenvolvimento das habilidades comunicativas e a atuação do professor na perspectiva do aluno de enfermagem

Resumos

Objetivo

Compreender, sob a ótica de graduandos de enfermagem, as experiências no desenvolvimento de habilidades comunicativas e a atuação do professor neste processo de ensino-aprendizagem, considerando dois tipos de organização curricular.

Método

Pesquisa descritiva com abordagem qualitativa, realizada em duas instituições de ensino públicas, situadas no interior do estado de São Paulo, Brasil. A coleta dos dados foi realizada pelo autopreenchimento de formulário por 81 alunos de segundo e quartos anos da graduação. Os resultados foram analisados à luz da Análise de Conteúdo.

Resultados

Revelaram que o desenvolvimento desta habilidade está relacionado à: características individuais dos alunos, dos pacientes, do processo saúde-doença, perfil da equipe e dos conhecimentos teóricos sobre comunicação em saúde e em enfermagem. O papel do professor foi percebido apoiando e incentivando as interações com pacientes e equipes de saúde e ensinando e orientando sobre comunicação interpessoal.

Conclusão

Os alunos identificam e valorizam a importância da atuação de seus professores no desenvolvimento e aquisição de habilidades comunicativas. Além disso, os estudantes que vivenciaram as metodologias ativas de ensino-aprendizagem reconhecem o docente essencial para oportunizar a expressão de conhecimentos e pensamentos dos alunos.

Comunicação; Educação em Enfermagem; Habilidade; Docentes de Enfermagem; Estudantes de Enfermagem


Objective

To understand experiences in the development of communication skills and the teacher’s role in this teaching-learning process under the perspective of undergraduate nursing students by considering two types of curriculum organization.

Method

Descriptive study with a qualitative approach conducted in two public schools located in São Paulo state, Brazil. Data were collected by means of self-completed forms from 81 students in the second and fourth years of the undergraduate program. Results were analyzed in light of Content Analysis.

Results

Results showed that the development of such skills is related to: students’ individual characteristics, patients’ characteristics, those of the health-disease process, the health-care team’s profile and the theoretical knowledge acquired on communication in health-care provision and nursing. The teacher’s role was perceived as one that supports and encourages interactions with patients and health-care teams by teaching and providing orientation about interpersonal communication.

Conclusions

Students identify and value the importance of their teachers’ performance in the development and acquisition of communication skills. Additionally, students who experience active teaching-learning methodologies acknowledge the teacher as essential to provide opportunities for students to express their knowledge and thoughts.

Communication; Nursing Education; Faculty; Nursing; Nursing Students


Objetivo

Comprender bajo la óptica de los estudiantes de enfermería de pregrado las experiencias en el desarrollo de habilidades de comunicación y la actuación del profesor en este proceso de enseñanza y aprendizaje, considerando dos tipos de organización curricular.

Método

Investigación descriptiva con enfoque cualitativo, realizada en dos instituciones de educación públicas, ubicadas en el interior de San Pablo, Brasil. La recolección de los datos fue hecha con el auto llenado de un formulario por 81 alumnos del segundo y cuarto año de pregrado. Los resultados se examinaron con base en el Análisis de Contenido.

Resultados

Revelaron que el desarrollo de esta habilidad está relacionado a: las características individuales de los alumnos, de los pacientes, del proceso de salud y enfermedad, al perfil del equipo y de los conocimientos teóricos adquiridos sobre comunicación en salud y en enfermería. El papel del profesor fue percibido apoyando e incentivando las interacciones con pacientes y equipos de salud, enseñando y orientando sobre la comunicación interpersonal.

Conclusión

Los alumnos identifican y valorizan que tan importante es la actuación de sus profesores en el desarrollo y adquisición de habilidades en la comunicación. Por otra parte, los estudiantes que experimentaron las metodologías activas de enseñanza y aprendizaje reconocen al docente parte esencial para crear oportunidades en la expresión de conocimientos y pensamientos de los estudiantes.

Comunicación; Educación en Enfermería; Aptitud; Docentes de Enfermería; Estudiantes de Enfermería


Introdução

O cuidado de enfermagem se expressa nos relacionamentos interpessoais e constitui formas de comunicação. Por meio dessas, o enfermeiro acolherá o paciente, conhecerá seus medos, angústias, sentimentos e necessidades de saúde. Para isso, há necessidade do enfermeiro investir na habilidade de comunicação, decodificando o significado das mensagens enviadas e estabelecendo um plano de cuidados adequado e coerente com as necessidades do paciente(11. Stefanelli MC, Carvalho EC, organizadores. A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. 2a ed. Barueri: Manole; 2012.).

Assim, é fundamental que o enfermeiro tenha conhecimento sobre os referenciais teóricos e metodológicos de comunicação humana, desde o início da sua formação acadêmica, para que possa estabelecer relacionamentos efetivos e significativos em sua atividade profissional(22. Braga EM, Silva MJP. How communication experts Express comunicative competence. Interface (Botucatu). 2010; 14 (34): 529-38.).

Um estudo sobre o ensino da comunicação no currículo de enfermagem demonstra que tanto alunos, quanto professores valorizam a competência em comunicação para uma prática segura e de qualidade e, como a graduação é fundamental para o desenvolvimento dessa competência, portanto, necessária à estruturação de componentes relacionais na graduação em enfermagem(33. Boschma G, Einboden R, Groening M, Jackson C, MacPhee M, Marshall H, et al. Strengthening communication education in an undergraduate nursing curriculum. Int J Nurs Educ Scholarsh. 2010; 7(1): 1-14. doi:10.2202/1548-923X.2043).

Portanto, há necessidade da construção de habilidades comunicativas na qual o graduando de enfermagem compreenda a importância do relacionamento interpessoal e do uso adequado da comunicação no contexto do cuidado.

Neste sentido, reafirmando a importância do docente de enfermagem possuir competência comunicativa para estabelecer relações de ensino-aprendizagem efetivas(22. Braga EM, Silva MJP. How communication experts Express comunicative competence. Interface (Botucatu). 2010; 14 (34): 529-38.), temos como objetivo neste estudo, compreender, sob a ótica de graduandos de enfermagem, as experiências no desenvolvimento de habilidades comunicativas, bem como, a atuação do professor neste processo de ensino-aprendizagem, considerando dois tipos de organização curricular.

Método

O presente estudo, visando responder às questões norteadoras, selecionou como metodologia uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa.

A pesquisa qualitativa demonstra ser a melhor escolha para o desenvolvimento do tema do estudo, pois é capaz de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerente aos atos, às relações e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento, quanto na sua transformação, como construções humanas significativas(44. Minayo MCS, Deslandes SF, organizador. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 33a ed. Petrópolis: Vozes; 2013.).

A investigação foi realizada em duas instituições públicas de ensino, situadas no interior do estado de São Paulo, Brasil, sendo a seguir, identificadas como instituição 1 e instituição 2.

A instituição 1 foi selecionada para o estudo por utilizar metodologias de ensino-aprendizagem diversificadas nas disciplinas curriculares, ou seja, desde as tradicionais até as consideradas ativas. Já a instituição 2 foi selecionada pelo fato de, institucionalmente, adotar unicamente metodologias ativas de ensino-aprendizagem sendo estas, a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e a problematização (PBL) com currículo integrado e orientado por competência dialógica no ensino da enfermagem.

No que se refere aos procedimentos éticos, este estudo foi realizado de acordo com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP)(55. Ministério da Saúde [Internet]. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 466/2012, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras sobre pesquisas envolvendo seres humanos. 2012 [acesso 2014 Set 29]. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/...
), recebendo parecer favorável dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) das instituições envolvidas sob número CAAE: 18459013.0.3001.5413.

Foram convidados a participar e orientados sobre os objetivos da pesquisa todos os discentes de enfermagem matriculados nos 2º e 4º anos das instituições de ensino em dias aleatórios de atividade acadêmica.

Aos indivíduos que concordaram em participar da pesquisa, foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias, sendo uma destinada aos participantes e outra à pesquisadora. A liberdade de participação foi assegurada, bem como o direito do participante de retirar-se a qualquer momento da pesquisa, sem prejuízos ou qualquer constrangimento.

A escolha dos discentes do segundo ano foi baseada na maior oportunidade de vivência com pacientes e equipe de saúde, possibilitando assim, subsídios para responder ao formulário deste estudo. O quarto ano foi selecionado por se constituir no último estágio do curso, quando há maior possibilidade da aplicação de habilidades comunicativas na prática.

A coleta de dados foi realizada de agosto a outubro de 2014, mediante o autopreenchimento de um formulário composto de duas partes, sendo a primeira relacionada à caracterização dos participantes, com variáveis como: idade, sexo, série do curso que estavam frequentando, e outra, composta por três questões norteadoras relacionadas ao ensino e desenvolvimento de habilidades comunicativas, sendo:

1) Quais são suas facilidades para se comunicar com os pacientes e equipe no ambiente de saúde?

2) Quais são suas dificuldades para se comunicar com os pacientes e equipe no ambiente de saúde?

3) Como você percebe a atuação do professor no processo de construção e desenvolvimento de habilidades comunicativas?

Neste estudo, os dados obtidos foram descritos e analisados à luz da Análise de Conteúdo, que constitui um conjunto de técnicas de análises das comunicações que visam obter, mediante procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens(66. Bardin L. Análise de conteúdo. 5a ed. São Paulo: Edições 70; 2011.).

Na pré-análise, fizemos a transcrição dos registros na íntegra e uma leitura flutuante dos textos, tomando contato exaustivo com o material(66. Bardin L. Análise de conteúdo. 5a ed. São Paulo: Edições 70; 2011.).

Na fase de descrição analítica, fizemos recortes e a escolha das unidades de registro, elegendo-as e codificando-as, mediante a convergência com o fenômeno. Desta forma, classificamos as unidades temáticas sob um título genérico, num processo chamado categorização semântica(66. Bardin L. Análise de conteúdo. 5a ed. São Paulo: Edições 70; 2011.).

No tratamento dos resultados, fizemos a inferência e a interpretação(66. Bardin L. Análise de conteúdo. 5a ed. São Paulo: Edições 70; 2011.) dos dados emergentes sobre as experiências dos graduandos de enfermagem em se comunicar nos ambientes de saúde e suas percepções acerca da atuação dos professores no desenvolvimento destas habilidades.

Resultados

Os participantes deste estudo foram 81 graduandos de enfermagem dos 2º e 4º anos de duas instituições públicas de ensino, sendo 24 estudantes do 2º ano e 21 do 4º ano da instituição 1 e 28 estudantes do 2º ano e 08 do 4º ano da instituição 2.

A faixa etária prevalente nos 2º anos das instituições 1 e 2 foi de 20 e 19 anos, respectivamente. Quanto aos alunos dos 4º anos, esta foi de 22 e 21 anos nas instituições 1 e 2, respectivamente.

Em relação ao gênero, o nosso estudo apontou prevalência do sexo feminino com a participação de 75 alunas.

Sob a perspectiva dos alunos de enfermagem dos 2º e 4º anos dos cursos de graduação em enfermagem estudados, as facilidades e dificuldades para se comunicar com os pacientes e equipes nos ambientes de saúde estão relacionadas aos seguintes fatores:

- Características pessoais dos estudantes;

- Características individuais dos pacientes e do processo saúde-doença;

- Perfil das equipes de saúde;

- Conhecimentos teóricos sobre comunicação em saúde e em enfermagem.

Características pessoais dos estudantes

A partir da análise dos dados, nota-se que apresentar dificuldades e facilidades comunicativas está primordialmente associado à individualidade dos estudantes, ou seja, sua personalidade.

Esta análise é corroborada também pelo fato de que potencialidades comunicativas existem tanto naqueles alunos que estão iniciando o curso, quanto fragilidades comunicativas naqueles que já estão no término do curso, que possuem maior bagagem teórica sobre os conceitos de saúde, de referenciais de comunicação e tiveram maiores oportunidades de vivenciar relacionamentos nos ambientes de saúde.

“Eu tenho bastante facilidade para me comunicar. Explico o máximo possível e com linguagem apropriada. Repito sempre que necessário...” (Estudante 78, 2º ano, instituição 1)

“A minha dificuldade é o fato de eu ser tímida, falar baixo, e isso, sem querer, passa insegurança para os pacientes.” (Estudante 24, 2º ano, instituição 2)

“Sempre tive dificuldades de comunicação e a timidez sempre me atrapalhou. Isso na comunicação com a equipe e com os pacientes é uma grande barreira.” (Estudante 42, 4º ano, instituição 1)

“Já sou uma pessoa comunicativa, não tendo dificuldades para me comunicar. Tenho facilidade em abordar os pacientes sobre diversos assuntos...” (Estudante 08, 4º ano, instituição 2)

Características individuais dos pacientes e do processo saúde-doença

Os participantes do estudo consideram que características relacionadas à individualidade dos pacientes e do processo de saúde-doença, como impossibilidade de expressão verbal e não verbal em pacientes críticos, dor, pacientes prolixos, tímidos, resistentes a tratamentos, procedimentos e opiniões interferem e dificultam a comunicação.

O momento inicial, ou seja, o estabelecimento do primeiro contato com os pacientes é considerado pelos alunos como o momento mais difícil da interação, pois ainda não possuem vínculos com os enfermos.

Os estudantes que participaram de nosso estudo também relataram que os temas que apresentam maiores dificuldades para abordar são a morte, sexualidade e religião.

“É difícil quando o paciente está mais quieto e você conversa com ele, e ele é bem breve, não dá muita brecha para perguntar mais.” (Estudante 67, 2º ano, instituição 1)

“Minha comunicação se torna facilitada, porque os pacientes se demonstram interessados quanto ao seu estado de saúde e desejam sanar muitas dúvidas.” (Estudante 32, 2º ano, instituição 2)

“A falta de receptividade, o modo hostil do paciente se portar, a barreira da dor, tudo isso, muitas vezes causam uma dificuldade para se relacionar com o paciente.” (Estudante 54, 4º ano, instituição 1)

“Pacientes tímidos e fechados dificultam o contato.” (Estudante 05, 4º ano, instituição 2)

Perfil das equipes de saúde

Para os discentes de enfermagem, o perfil das equipes de saúde, ou seja, a forma como os acolhem, a receptividade, atenção e resistência às opiniões dos alunos podem facilitar ou dificultar o relacionamento que os mesmos estabelecem com este grupo de profissionais.

A partir da análise dos dados, notamos que há diferenças no relacionamento que o 2º ano da instituição 1 e o 2º ano da instituição 2 estabelecem com as equipes. Os alunos do 2º ano da instituição 1 expõem que possuem pouco contato com estes grupos, sendo este frequentemente vinculado às informações anotadas nos prontuários por estes profissionais, que segundo eles, não são completas e claras. Ao compararmos com os estudantes do 2º ano da instituição 2, estes expressam que possuem contato regular com as equipes das Unidades de Saúde da Família (USF) e notam que estas, geralmente, contribuem para sua aprendizagem.

“Não tive muito contato com a equipe no ambiente de saúde...” (Estudante 69, 2º ano, instituição 1)

“... a equipe na qual estou inserida, se mostra muito aberta à comunicação e sempre disposta a colaborar com minha aprendizagem.” (Estudante 34, 2º ano, instituição 2)

“... a dificuldade encontrada na comunicação com os profissionais é devido à falta de “abertura” do profissional para se relacionar com os alunos.” (Estudante 39, 4º ano, instituição 1)

“A dificuldade é quando não encontramos profissionais dispostos a colaborar, alguns com suas opiniões formadas, não aceitando outras diferentes.” (Estudante 03, 4º ano, instituição 2)

Conhecimentos teóricos sobre comunicação em saúde e em enfermagem

Os estudantes expressaram em seus registros quão importante é conhecer os referenciais teóricos de comunicação interpessoal e ter conhecimentos prévios de enfermagem ao se relacionar com os pacientes.

Os alunos dizem que, quando não possuem conhecimentos teóricos prévios, sentem-se inseguros para interagir com os pacientes. Contudo, quando estão fortalecidos sob o ponto de vista cognitivo, sentem-se mais confiantes e preparados para iniciar as interações com os pacientes e construir um vínculo efetivo.

É importante destacar o reconhecimento e valor conferido às disciplinas específicas, que abordam o relacionamento enfermeiro-paciente, pelos discentes do 4º ano da instituição 1. Estes expressaram que os ensinamentos aprendidos favoreceram as vivências nos ambientes de saúde.

“A maior dificuldade é falar para o paciente sobre o seu tratamento e os cuidados necessários.” (Estudante 73, 2º ano, instituição 1)

“A minha maior dificuldade é no sentido de ter certeza de um possível diagnóstico que faço em meu pensamento e, posteriormente, o plano de cuidados que vou fazer... fazer tudo isso com clareza e absoluta certeza é um pouco difícil.” (Estudante 24, 2 º ano, instituição 2)

“Minhas facilidades foram adquiridas com as disciplinas de relacionamento enfermeiro-paciente. Pude aprender a ter mais cuidado nas abordagens interpessoais e de grupos, assim como a prestar mais atenção ao não verbal das pessoas...” (Estudante 49, 4º ano, instituição 1)

“Conhecimentos prévios tornam a comunicação mais fácil e efetiva, assim como o domínio do conhecimento. Estes me deixam segura, facilitando então a conversa.” (Estudante 08, 4º ano, instituição 2)

Em relação à atuação do professor de enfermagem no desenvolvimento dessas habilidades nos alunos, estes identificaram que os docentes atuam:

- Apoiando e incentivando a interação com os pacientes e equipes de saúde;

- Ensinando e orientando sobre comunicação interpessoal;

- Estimulando a participação e expressão de pensamentos e conhecimentos nos pequenos grupos.

Apoiando e incentivando a interação com os pacientes e equipes de saúde

Os alunos enfatizaram que os professores oferecem apoio, sanam as dúvidas e os auxiliam a interagir com os pacientes e equipes de saúde, fazendo-se presente nos momentos das interações e encorajando-os a praticar a comunicação.

“O professor, muitas vezes, atua como um mediador, ajudando a construir uma comunicação eficiente.” (Estudante 71, 2º ano, instituição 1)

“O professor procura estimular o aluno a ter uma linguagem adequada com os pacientes e a desenvolver a empatia...” (Estudante 32, 2º ano, instituição 2)

“O professor possui maior habilidade para intervir na comunicação quando nós, alunos, “travamos”...” (Estudante 48, 4º ano, instituição 1)

“Eles sempre ajudaram muito, tanto na abordagem, como na forma de lidar com as situações.” (Estudante 02, 4º ano, instituição 2)

Ensinando e orientando sobre comunicação interpessoal

Os discentes participantes de nosso estudo reconhecem e valorizam os ensinamentos e orientações dos professores quanto à aquisição de habilidades comunicativas.

Estes ressaltam que os educadores atuam ensinando técnicas de como se aproximar dos pacientes e das equipes, evitar barreiras comunicativas, sobre os comportamentos adequados nos ambientes de saúde e a importância do registro claro e correto nos prontuários.

“Ela ensina sobre a comunicação e sobre a importância do registro correto no prontuário.” (Estudante 61, 2º ano, instituição 1)

“O professor procura estimular o aluno a ter uma linguagem adequada com os pacientes, além de estimular que desenvolvamos a empatia.” (Estudante 32, 2º ano, instituição 2)

“O professor teve importância fundamental, pois lecionou sobre os tipos de comunicação, como evitar barreiras de comunicação e como contorná-las.” (Estudante 50, 4º ano, instituição 1)

“... menciona o que é e o que não é apropriado que se diga aos pacientes e à equipe.” (Estudante 06, 4º ano, instituição 2)

Estimulando a participação e a expressão de pensamentos e conhecimentos nos pequenos grupos

Os graduandos de enfermagem da instituição 2 expressaram que uma das formas dos docentes atuarem na construção de habilidades comunicativas é estimulando a expressão verbal dos estudantes nas discussões relacionadas à aprendizagem em pequenos grupos, instigando-os a exporem seus conhecimentos, dúvidas, incentivando e promovendo a autorreflexão.

“O professor instiga o aluno a falar sobre os assuntos abordados, a dinâmica do grupo e crescimento pessoal. Ele nos incentiva a olhar para nós mesmos e ter percepção das coisas; faz-nos ter certeza que podemos nos expressar, pois estamos em um lugar seguro para tal.” (Estudante 29, 2º ano, instituição 2)

“Eu acho que os professores daqui ajudam muito a desenvolver a comunicação, instigando a participação dos alunos nas discussões. Neste método, temos que falar o tempo todo e somos avaliados por isso. Acho que o aluno e a sua participação é o foco, por isso precisamos falar. Eles agem estimulando a participação do estudante.” (Estudante 03, 4º ano, instituição 2)

Discussão

Em nossa investigação, os resultados emergentes apontaram que as características pessoais dos estudantes influenciam significativamente no desenvolvimento de habilidades comunicativas, ressaltando a importância de se considerar a individualidade dos sujeitos quando estudamos processos relacionais.

A importância do autoconhecimento do enfermeiro é destacada por autores (11. Stefanelli MC, Carvalho EC, organizadores. A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. 2a ed. Barueri: Manole; 2012.,22. Braga EM, Silva MJP. How communication experts Express comunicative competence. Interface (Botucatu). 2010; 14 (34): 529-38.) que afirmam a necessidade do enfermeiro investir na compreensão de suas ações e nas reações dos indivíduos com os quais interage, a fim de estabelecer uma comunicação efetiva.

O autoconhecimento é essencial para o cuidado, pois quanto mais o enfermeiro se conhece, mais será capaz de minimizar ou evitar influências de suas crenças e valores ao interagir com o paciente (11. Stefanelli MC, Carvalho EC, organizadores. A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. 2a ed. Barueri: Manole; 2012.,77. Pizzinato A, Gustavo AS, Santos BRL, Ojeda BS, Ferreira E, Thiesen FV, et al. A integração ensino-serviço como estratégia na formação profissional para o SUS. Rev Bras Educ Med. 2012; 36 (1 Supl 2):170-7.).

Este estudo demonstrou que os estudantes se autopercebem, pois conseguiram relatar facilidades e dificuldades no processo de desenvolvimento de habilidades comunicativas, portanto, estão desenvolvendo o autoconhecimento, o que, na perspectiva dos teóricos em comunicação, é fundamental para o cuidado. Além disso, consideraram que características relacionadas aos pacientes e ao processo saúde-doença interferem nas relações interpessoais.

Estudo que abordou a integração ensino-serviço na formação profissional demonstrou a dificuldade da participação dos profissionais das equipes de saúde nas atividades de formação acadêmica, considerando um desafio constante integrar as práticas dos alunos ao cotidiano dos serviços de saúde, devido às rotinas das unidades e a demanda de usuários sempre crescentes(77. Pizzinato A, Gustavo AS, Santos BRL, Ojeda BS, Ferreira E, Thiesen FV, et al. A integração ensino-serviço como estratégia na formação profissional para o SUS. Rev Bras Educ Med. 2012; 36 (1 Supl 2):170-7.).

Quando interagimos com alguém, precisamos considerar que o ambiente, influencia na qualidade da comunicação e em seus resultados, pois a temperatura, os ruídos nos locais de assistência e a presença de pessoas estranhas, podem ser alguns dos desafios enfrentados pelo enfermeiro ao estimular a expressão comunicativa nos pacientes(11. Stefanelli MC, Carvalho EC, organizadores. A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. 2a ed. Barueri: Manole; 2012.).

Portanto, enfatiza-se a necessidade do acadêmico aprender a reconhecer as barreiras comunicativas e saber como atuar nessas diferentes situações.

Outro estudo que objetivou conhecer as implicações da integração ensino-serviço para a formação em enfermagem, sob a ótica dos docentes, alunos e profissionais dos serviços de saúde, aponta pontos frágeis no âmbito das relações interpessoais, sendo evidenciadas a resistência e a indiferença por parte dos profissionais com os alunos de enfermagem, por considerarem que acompanhá-los na aprendizagem constitui sobrecarga frente às demandas de trabalho(88. Brehmer LCF, Ramos FRS. Teaching-service integration: implications and roles in experiences of undergraduate courses in nursing. Rev Esc Enferm USP. 2014; 48 (1): 119-26. ).

Em nossa pesquisa, notamos a diferença existente entre as instituições de ensino e a interação dos alunos com as equipes de saúde. Os estudantes da instituição 1 demonstram o relacionamento frágil e distante com as equipes. Em contrapartida, os estudantes da instituição 2, inseridos em metodologias ativas de ensino-aprendizagem, sentem-se parte das equipes.

Uma pesquisa de avaliação realizada em cursos de graduação, que utilizam metodologias ativas de aprendizagem, afirma que estas possibilitam o contato frequente dos alunos com os profissionais de saúde, valorizando o espaço de articulação entre ensino, serviço e comunidade, além de objetivar a integração da formação com o mundo do trabalho(99. Costa MCG, Francisco AM, Hamamoto CG. O envolvimento de diferentes parcerias na formação do profissional em saúde. In: Moraes MAA, Tonhom SFR, Hafner MLMB, Gomes R, organizadores. Avaliação nos cursos de medicina e enfermagem perspectivas e desafios. Curitiba: CRV; 2012. p. 187).

Também é importante destacar que os discentes de nosso estudo ressaltaram a importância dos conhecimentos teóricos em comunicação interpessoal e em enfermagem para o estabelecimento de vínculos efetivos nos ambientes de saúde, enfatizando que o déficit de aporte teórico pode prejudicar as interações.

O atual desafio no processo de formação de enfermeiros é ressaltado em estudo que afirma que muitos alunos de enfermagem vêm despreparados para cursar o ensino superior, devido à falta de conhecimentos prévios relacionados à defasagem de conteúdos do ensino fundamental e médio(1010. Silva KL, Sena RR, Silveira MR, Tavares TS, Silva PM. Desafios da formação do enfermeiro no contexto da expansão do ensino superior. Esc Anna Nery. 2012; 16(2): 380-7.), corroborado com nossa pesquisa quando os estudantes do 2º ano da instituição 2 relataram insegurança para relacionar os conhecimentos teóricos com a prática, enquanto que os do 4º ano afirmaram segurança nas relações afetivas, quando embasados no conhecimento teórico.

Outro estudo realizado sobre as fortalezas e fragilidades das metodologias ativas de aprendizagem ressalta que os estudantes sentem-se perdidos na busca pelo conhecimento, principalmente nas disciplinas básicas, devido à abrupta mudança do método tradicional de ensino para o método ativo. Esta mudança, sob a óptica dos estudantes, ocasiona insegurança, requer grande esforço dos atores envolvidos no processo e exige mudança de comportamento, bem como, maturidade e organização(1111. Marin MJS, Lima EFG, Pavioti ABM, Matsuyama DT, Silva LKD, Gonzalez C, et al. Aspectos das fortalezas e fragilidades no uso das metodologias ativas de aprendizagem. Rev Bras Educ Méd. 2010; 34 (1):13-20.).

No que se referem à atuação do professor, os resultados que emergiram da nossa pesquisa apontam o docente como elemento essencial no desenvolvimento de habilidades comunicativas, pois atua como mediador, estimulando as abordagens comunicativas, ensinando e orientando sobre comunicação interpessoal.

A proximidade da relação professor-aluno foi destacada nas atividades práticas, como favorecedora da relação, considerando que os professores de enfermagem sentem-se responsáveis por criar um ambiente propício à aprendizagem tanto nas relações que estabelecem com os discentes quanto com os profissionais de saúde(1212. Guedes GF, Ohara CVS, Silva GTR. Intensive care unit: a significant space for the professor-student relationship. Acta Paul Enferm. 2012; 25(2):146-50.).

Portanto, a prática é essencial no desenvolvimento de habilidades comunicativas, pois possibilita maior proximidade entre professor-aluno e oportuniza que os docentes atuem apoiando e incentivando a interação dos alunos com os pacientes e equipes de saúde.

Os participantes de nosso estudo também afirmaram que perceberam os docentes atuando no desenvolvimento destas habilidades, ensinando e orientando sobre comunicação interpessoal. Relacionada a esse assunto, há uma pesquisa que sugere que os professores incluam aplicações práticas, coloquem os alunos em situações difíceis, que exijam a habilidade de comunicação empática com os pacientes, além de recomendar a prática de exercícios de simulação para promover o desenvolvimento de habilidades relacionais nos alunos(1313. McMillan LR, Shannon D. Program evaluation of nursing school instruction in measuring students’ perceived competence to empathetically communicate with patients. Nurs Educ Perspect. 2011. 32(3):150-4.).

Enfermeiros-professores, participantes de um estudo, afirmaram que suas competências vão além da transmissão de conhecimentos. Segundo eles, o educador deve ser considerado um mediador no processo de construção do conhecimento, sendo o sujeito capaz de desconstruir e construir saberes(1414. Sebold LF, Carraro TE. Ways of being nurse-teacher-teaching-nursing-care: a heideggerian look. Rev Bras Enferm. 2013; 66 (4):550-6. ).

Além disso, há necessidade que os professores tenham clareza das habilidades comunicativas que esperam dos alunos em cada fase da aprendizagem e que isso seja coerente com as expectativas dos estudantes de modo a não gerar incongruências(1111. Marin MJS, Lima EFG, Pavioti ABM, Matsuyama DT, Silva LKD, Gonzalez C, et al. Aspectos das fortalezas e fragilidades no uso das metodologias ativas de aprendizagem. Rev Bras Educ Méd. 2010; 34 (1):13-20.).

Nas metodologias ativas, o professor precisa assumir o papel de orientador do processo ensino-aprendizagem, não sendo apenas um espectador, mas aquele que realiza trocas recíprocas, favorece a autonomia dos alunos e estimula o pensamento crítico-reflexivo(1616. Paranhos VD, Mendes MMR. Competency-based curriculum and active methodology: perceptions of nursing students. Rev Latino-Am Enferm. 2010; 18(1): [07 telas].).

Em métodos ativos de aprendizagem, os professores são responsáveis por orientar os alunos nas fases do PBL e da ABP, em monitorar o trabalho em grupo e estimular os estudantes a expressarem seus pensamentos, ideias e conhecimentos. Além disso, também é papel destes docentes trabalhar com as dinâmicas das relações interpessoais e conflitos, bem como, serem sensitivos no processo de desenvolvimento de grupos(1717. Almeida EG, Batista NA. Desempenho docente no contexto PBL: essência para aprendizagem e formação médica. Rev Bras Educ Med. 2013; 37 (2):192-201.). Estes dados são congruentes com os resultados do nosso estudo, apontando o papel dos docentes de enfermagem como fundamental no desenvolvimento de habilidades comunicativas, especialmente, ao oportunizar a expressão de pensamentos, conhecimentos e a participação dos alunos nas discussões em pequenos grupos.

Conclusão

Concluímos, considerando que o desenvolvimento de habilidades comunicativas nos graduandos de enfermagem acontece sob a influência de fatores como: características pessoais, perfil das equipes de saúde, conhecimentos teóricos sobre comunicação em saúde e em enfermagem, bem como, características individuais dos pacientes e do processo saúde-doença.

Em relação à atuação do professor no desenvolvimento de habilidades comunicativas, os estudantes expressaram que estes atuam apoiando e incentivando a interação com os pacientes e equipes de saúde e ensinando e orientando sobre comunicação interpessoal. Além disso, os estudantes que vivenciaram metodologias ativas de ensino-aprendizagem reconheceram o papel essencial do docente no desenvolvimento das habilidades em comunicação, ao oportunizar a expressão dos pensamentos dos alunos nas discussões em pequenos grupos. Para esses estudantes, essa atuação docente, característica dos métodos ativos de ensino-aprendizagem, contribui significativamente para a aquisição de habilidades comunicativas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2016

Histórico

  • Recebido
    26 Mar 2015
  • Aceito
    14 Nov 2015
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