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Cotidiano laboral docente: enfrentamentos dos professores de enfermagem na contemporaneidade* * Extraído da dissertação: “O reconhecimento e a valorização profissional do docente de enfermagem no contexto neoliberal”, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2017.

Resumo

Objetivo:

Descrever a organização do trabalho do docente de enfermagem e analisar seus aspectos limitadores e facilitadores.

Método:

Pesquisa qualitativa e descritiva, composta por docentes de universidades públicas federais do Rio de Janeiro. A coleta de dados ocorreu em por meio de entrevista semiestruturada. A técnica para o tratamento dos dados foi a análise de conteúdo.

Resultados:

Participaram 27 docentes. Os elementos facilitadores do trabalho docente foram: ambiente de trabalho; autonomia e flexibilidade; gosto pelo que faz; uso das tecnologias; e solidariedade do coletivo profissional. Os elementos dificultadores foram: alta demanda de trabalho; ritmo laboral intenso; escassez de recursos material e humano; e competitividade acadêmica.

Conclusão:

A configuração da organização laboral docente é complexa e multifacetada, apresentando alta exigência psicoafetiva, cognitiva e física, o que potencializa o adoecimento desses trabalhadores.

Descritores:
Docentes de Enfermagem; Condições de Trabalho; Modelos Econômicos; Saúde do Trabalhador

Abstract

Objective:

To describe the organization of nursing professors’ work and analyze its limiting and facilitating aspects.

Method:

A qualitative and descriptive study composed of professors from the federal public universities of Rio de Janeiro. Data collection took place through semi-structured interviews. The content analysis technique was used for data processing.

Results:

Twenty-seven (27) professors participated. Facilitating elements of the teaching work were: work environment; autonomy and flexibility; liking what they do; use of technologies; and solidarity of the professional group; while hindering elements included: high work demand; intense work rhythm; scarcity of material and human resources; and academic competitiveness.

Conclusion:

The configuration of the teaching work organization is complex and multifaceted, presenting high psycho-affective, cognitive and physical demands which enhance illness in these workers.

Descriptors:
Faculty, Nursing; Working Conditions; Models, Economic; Occupational Health

Resumen

Objetivo:

Describir la organización del trabajo del docente de enfermería y analizar sus aspectos limitadores y facilitadores.

Método:

Investigación cualitativa y descriptiva, compuesta de docentes de universidades públicas federales de Río de Janeiro. La recolección de datos ocurrió mediante entrevista semiestructurada. La técnica para el tratamiento de los datos fue el análisis de contenido.

Resultados:

Participaron 27 docentes. Los elementos facilitadores del trabajo docente fueron: ambiente laboral; autonomía y flexibilidad; aprecio por lo que hace; empleo de las tecnologías; y solidaridad del colectivo profesional. Los elementos dificultadores fueron: alta demanda de trabajo; ritmo laboral intenso; escasez de recurso material y humano; y competitividad académica.

Conclusión:

La configuración de la organización laboral docente es compleja y multifacética, presentando alta exigencia psicoafectiva, cognitiva y física, lo que potencia que se enfermen dichos trabajadores.

Descriptores:
Docentes de Enfermería; Condiciones de Trabajo; Modelos Económicos; Salud Laboral

INTRODUÇÃO

Define-se trabalho como a capacidade de um indivíduo de alterar o estado de materiais advindos da natureza, melhorando sua utilidade. Dessa forma, trabalho, em sentido amplo, é toda atividade humana que modifica a natureza de uma dada matéria, incorporando nela o valor de uso dessa força de trabalho, tendo em vista primordialmente a manutenção dos meios de subsistência(11. Braverman H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: LTC; 2011. A habituação do trabalhador ao modo capitalista de produção; p. 124-34.). No entanto, o trabalho não se caracteriza somente como um meio de sobrevivência material; ele é também uma forma de socialização, de construção da identidade e de status social. A configuração do trabalho, dependendo da forma como se dá, pode resgatar ou promover a saúde, ou ser potencializadora do adoecimento do trabalhador(22. Pires AS, Ribeiro LV, Souza NVDO, Sa CMS, Gonçalves FGA, Santos DM. A permanência no mundo do trabalho de profissionais de enfermagem com possibilidade de aposentadoria. Ciênc Cuid Saúde. 2013;12(2):338-45. DOI: https://10.0.15.185/cienccuidsaude.v12i2.18298
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A organização do trabalho é o processo de divisão de homens e de tarefas para a produção. Nela, encontram-se as hierarquias, os comandos, as cadências, a repartição de responsabilidades e de tarefas laborais(33. Dejours C. A metodologia em psicodinâmica do trabalho. In: Lancman S, Sznelwar LI, organizadores. Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2011. p. 105-26.). Tal processo fundamenta-se em preceitos dos modelos econômicos, os quais ditam a forma de produção.

Dentre os modos de produção capitalista, cita-se o taylorismo, que surgiu em meados do século XX e focava a divisão de tarefas e a consequente fragmentação do processo produtivo. O fordismo surgiu como uma evolução do taylorismo, mantendo a mecanização da produção e inserindo a esteira rolante; dita-se, assim, um novo e elevado ritmo ao processo de trabalho. Em meados da década de 1960, com o declínio do fordismo, surgiu o toyotismo, caracterizado como uma forma flexível de produção, tendo como pilares a execução do trabalho em equipe, a cooperação, o melhoramento contínuo da produção e o “just in time(44. Davoglio TR, Timm JW, Santos BS, Conzatti FBK. Necessidades psicológicas básicas: definições operacionais na docência universitária. Educ Temática Digital. 2017; 19(2):510-31. DOI: https://doi.org/10.20396/etd.v19i2.8644789
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Esse modo de produção visava a contenção de custos, sendo produzido exatamente o suficiente para suprir a demanda do mercado. Nesse contexto, o trabalhador, que antes desempenhava uma função específica, passou a ser responsável por funções diversas, executando-as conforme as necessidades da empresa. Com essa premissa de acumulação flexível, em meados da década de 1970, surgiu o modelo neoliberal(55. Antunes R. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 14ª ed. São Paulo: Cortez; 2011.).

Esse modelo, cuja origem advém do pensamento liberal, pode ser preliminarmente definido como a política econômica que defende que o Estado não participe da economia. Sua consolidação no Brasil ocorreu na década de 1990, tendo como base programática o “Estado mínimo” e o “Mercado máximo”, bem como a abertura indiscriminada da economia nacional ao mercado internacional. Nessa lógica, propunha-se o mínimo para os trabalhadores e o máximo para o capital(66. Gonçalves FGA, Souza NVDO, Pires AS, Santos DM, D'Oliveira CAFB, Ribeiro LV. Modelo neoliberal e suas implicações para a saúde do trabalhador de enfermagem. Rev Enferm UERJ Internet . 2014 citado 2015 jul 27 ;22(4):519-25. Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v22n4/v22n4a14.pdf
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Com a implantação desse modelo, surgem diversas formas de contratação de trabalhadores, originando a flexibilização dos contratos laborais e, consequentemente, perdas de direitos trabalhistas, somadas ao aumento do desemprego estrutural. Constata-se a desvalorização da mão de obra trabalhadora, pois, além de exigir dos empregados um ritmo de produção intenso e oferecer baixos salários, acirram-se a competitividade e os tensionamentos nos ambientes laborais(55. Antunes R. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 14ª ed. São Paulo: Cortez; 2011.).

A influência dos preceitos neoliberais foi tão marcada no mundo e no Brasil que as organizações laborais, sejam privadas ou públicas, têm sistematicamente e crescentemente aplicado tais preceitos à produtividade a fim de potencializar resultados e lucros. O setor educacional não se distanciou desse contexto, observando-se especialmente a adoção dos princípios neoliberais nas universidades a partir da década de 2000(55. Antunes R. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 14ª ed. São Paulo: Cortez; 2011.,77. Borges TS, Alencar G. Metodologias ativas na promoção da formação crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático na formação crítica do estudante do ensino superior. Cairu Rev. 2014;3(4):119-43.). Tal influência do neoliberalismo nas instituições universitárias transformou consideravelmente o processo de trabalho docente, trazendo repercussões para a saúde desses trabalhadores e para a lógica produtiva do processo ensino-aprendizagem(66. Gonçalves FGA, Souza NVDO, Pires AS, Santos DM, D'Oliveira CAFB, Ribeiro LV. Modelo neoliberal e suas implicações para a saúde do trabalhador de enfermagem. Rev Enferm UERJ Internet . 2014 citado 2015 jul 27 ;22(4):519-25. Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v22n4/v22n4a14.pdf
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-77. Borges TS, Alencar G. Metodologias ativas na promoção da formação crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático na formação crítica do estudante do ensino superior. Cairu Rev. 2014;3(4):119-43.)
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Nesse contexto está o trabalho docente, cuja finalidade é a formação de sujeitos capazes de analisar de maneira crítica a realidade social, objetivando sua transformação positiva, seja pela ação pedagógica direta do docente ou construção insidiosa do senso crítico nos estudantes por meio de exemplos de conduta do corpo pedagógico(77. Borges TS, Alencar G. Metodologias ativas na promoção da formação crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático na formação crítica do estudante do ensino superior. Cairu Rev. 2014;3(4):119-43.).

Para alcançar tal objetivo, é importante que o docente desenvolva habilidades e competências, em especial a empatia e a comunicação, a fim de instrumentalizar-se para obter uma melhor relação com os discentes. É necessário também o constante aperfeiçoamento teórico e prático, além de se atenderem exigências científico-acadêmicas, como realização de leituras sistemáticas, publicações científicas, participação em eventos científicos e orientações de trabalhos, dentre outras atividades específicas desse profissional(88. Silveira RCP, Ribeiro IKS, Teixeira GS, Teixeira LN, Souza PHA. Estilo de vida e saúde de docentes de uma instituição de ensino pública. Rev Enferm UFSM Internet . 2017 citado 2019 abr 15 ;7(4): 601-14. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/24713
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Com o advento do neoliberalismo nas organizações laborais do setor educacional, as cobranças e pressão sobre o professor aumentam consideravelmente, fazendo com que este, além de ensinar com excelência, intensifique a produção de pesquisas e publicações em periódicos internacionais de alto impacto científico. Configura-se a polivalência e multifuncionalidade desse trabalhador, principalmente por conta do enxugamento de recursos humanos, sobretudo de funcionários técnico-administrativos, resultando na necessidade de os docentes também assumirem essa função. Verificam-se, então, mudanças radicais no processo laboral que impactam negativamente na dimensão subjetiva dos professores universitários(33. Dejours C. A metodologia em psicodinâmica do trabalho. In: Lancman S, Sznelwar LI, organizadores. Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2011. p. 105-26.

4. Davoglio TR, Timm JW, Santos BS, Conzatti FBK. Necessidades psicológicas básicas: definições operacionais na docência universitária. Educ Temática Digital. 2017; 19(2):510-31. DOI: https://doi.org/10.20396/etd.v19i2.8644789
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-55. Antunes R. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 14ª ed. São Paulo: Cortez; 2011.,99. Hood LJ. Conceptual bases of professional nursing. Philadelphia: Wolters Kluwer Health; 2014.)
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Outro fator que repercutiu fortemente na vida dos docentes, após a inserção do modelo neoliberal, foi a introdução de novas tecnologias, como computadores, smartphones, máquinas de alta complexidade, dentre outros. O surgimento dessas tecnologias teve grande impacto na categoria docente no que se refere ao aprendizado das novas tecnologias referentes ao cuidado em enfermagem, à execução das atividades acadêmicas e à quebra de limites entre as esferas vida-trabalho(1010. Silveira MS, Cogo ALP. Contribuições das tecnologias educacionais digitais no ensino de habilidades de enfermagem: revisão integrativa. Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(2):1-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/19831447.2017.02.66204
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Depreende-se então que, após o advento do modelo neoliberal, diversas mudanças ocorreram no cenário político-econômico brasileiro, as quais repercutiram fortemente no mundo do trabalho docente. Com base na premissa do Estado mínimo, setores fundamentais, em especial a saúde e a educação, sofreram consequências negativas, como escassez de material e pessoal, levando à intensificação e à sobrecarga laboral. Ademais, modificou-se também o perfil desejado do trabalhador, priorizando-se, assim, profissionais polivalentes e multifuncionais(66. Gonçalves FGA, Souza NVDO, Pires AS, Santos DM, D'Oliveira CAFB, Ribeiro LV. Modelo neoliberal e suas implicações para a saúde do trabalhador de enfermagem. Rev Enferm UERJ Internet . 2014 citado 2015 jul 27 ;22(4):519-25. Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v22n4/v22n4a14.pdf
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Considerando essa contextualização teórica envolvendo o foco do estudo, elencaram-se os seguintes objetivos: 1. descrever a organização do trabalho do docente de enfermagem; e 2. analisar os aspectos limitadores e facilitadores desse trabalho.

O presente estudo busca contribuir para uma análise mais ampliada sobre as transformações que vêm ocorrendo no mundo do trabalho, a partir da inserção do modelo neoliberal nas organizações laborais, e, sobretudo, dos impactos dessas transformações para dinâmica do trabalho dos docentes universitários de enfermagem. Faz-se necessário suscitar tais reflexões a fim de se buscarem estratégias de enfrentamento e resistência aos fundamentos e às implicações desse modelo para o processo de trabalho docente e para a saúde desses trabalhadores.

MÉTODO

Tipo do estudo

Esta é uma pesquisa qualitativa e descritiva, realizada em duas universidades públicas, no município do Rio de Janeiro, as quais abrigam faculdades de enfermagem. A fim de manter o sigilo sobre tais universidades, opta-se por denominá-las Universidade A e Universidade B.

População

O corpo docente da Universidade A é composto por 41 profissionais e o da Universidade B, por 72. Em ambas as Universidades, se desenvolvem atividades em nível de graduação e de pós-graduação, lato e stricto sensu (mestrado e doutorado).

Optou-se por desenvolver o estudo nessas universidades porque ambas são circunscritas ao município do Rio de Janeiro, são instituições públicas e desenvolvem processos de trabalho semelhantes. Portanto, buscou-se estudar contextos do trabalho docente aproximados e, ao mesmo tempo, abranger riqueza de informações e vivências subjetivas diferenciadas.

Critérios de seleção

Os participantes são 27 docentes, 14 da Universidade A e 13 da Universidade B. Os critérios de inclusão foram: docentes com vínculo empregatício estatutário; docentes em pleno exercício de suas funções há mais de quinze anos nas instituições investigadas. Esse recorte temporal fundamenta-se no fato de que esse período é relevante para que os docentes possam relatar as mudanças ocorridas no mundo do trabalho a partir do advento do modelo neoliberal no contexto das universidades investigadas.

Sobre os critérios de exclusão, consideraram-se os seguintes aspectos: docentes em licença, em período de férias ou cedidos a outras instituições no período de coleta de dados; e docentes diretamente envolvidos com a presente pesquisa (integrantes de sua banca examinadora).

Coleta de dados

A coleta de dados ocorreu por meio de uma entrevista individual semiestruturada, em maio e junho de 2016. Uma pesquisadora, que era mestranda à época, visitou as duas Universidades para abordar os possíveis participantes, convidando-os para contribuírem com o estudo. Todos os docentes que eram elegíveis para participar da pesquisa foram convidados e, de acordo com a disponibilidade de cada um, as entrevistas foram marcadas, não se registrando recusas para contribuir com a pesquisa.

Salienta-se que, durante o agendamento das entrevistas, se buscou um equilíbrio quantitativo de participantes inseridos nos departamentos que compunham as instituições investigadas e que foi utilizado o critério da reincidência das informações para finalizar as entrevistas(1111. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12ª ed. São Paulo: Hucitec-Abrasco; 2010.). Nesse sentido, nem todos os participantes que concordaram em participar da pesquisa foram entrevistados. Foi enviado um e-mail a esses participantes informando sobre o encerramento das entrevistas e agradecendo sua disponibilidade. Para referir-se a cada participante, criou-se ainda um código, iniciado pela letra “D”, de “docente”, seguido da letra referente à instituição investigada e de um numeral relativo à ordem em que foi coletada a entrevista.

Análise e tratamento dos dados

Os dados foram tratados com base na técnica de análise de conteúdo(1212. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2011.) , emergindo daí três categorias: I) Atividades desenvolvidas no cotidiano laboral docente; II) Fatores facilitadores do trabalho docente; e III) Aspectos limitadores do trabalho docente.

Aspectos éticos

Obedecendo aos preceitos éticos, esta pesquisa foi cadastrada na Plataforma Brasil do Ministério da Saúde, conforme preconiza a Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, obtendo-se parecer positivo do Comitê de Ética, com Protocolo nº 1.474.463, de 01 de abril de 2016. Os que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias, uma ficando de posse do participante da pesquisa e a outra sob domínio desta pesquisadora.

RESULTADOS

Atividades desenvolvidas no cotidiano laboral docente

A partir da análise das entrevistas, ganha destaque a questão da multiplicidade de tarefas executadas pelos docentes, as quais abarcam atividades no âmbito do ensino, da pesquisa, da extensão, além das atividades administrativas. Dezoito participantes (66,7%) apontam desenvolver atividades com a graduação em sala de aula e também em campos de estágios. Quinze entrevistados (55,5%) orientam estudantes de graduação e pós-graduação, lato e stricto sensu. Tal multiplicidade de tarefas é evidenciada na fala apresentada a seguir:

São muitas atividades que nós temos. Eu oriento mestrado e doutorado, dou aula na graduação teórica e prática, aula na especialização, auxílio um projeto de extensão e ainda tem toda essa parte administrativa de coordenação do programa de pós-graduação (DB10).

Na perspectiva das atividades administrativas do docente, quatorze participantes (52%) relatam assumir algum cargo administrativo, como coordenação de um programa de pós-graduação, coordenação da residência, chefia de departamento, gerência de apoio acadêmico, coordenação do mestrado profissional, direção da escola de enfermagem, coordenação substituta da pós-graduação, coordenação da graduação, coordenação do doutorado, diretoria adjunta da direção da escola, coordenação adjunta de graduação e direção do hospital universitário.

Sob esse prisma, a atividade de gestão pedagógica intensifica o trabalho administrativo assumido também pelos docentes, pois tais atividades envolvem submissão de projetos aos órgãos de fomento, solicitação de bolsas, manejo do sistema acadêmico etc. Somam-se a isso as demandas dos cargos de gestão. Outrossim, tal atividade requer dos profissionais constante aperfeiçoamento não só no âmbito educacional, mas também no da gerência.

Essa associação das atribuições docentes com as atividades administrativas e de gestão pode ser observada na fala a seguir:

Como sou coordenadora do Programa de Pós-Graduação, minha rotina laboral é mais focada na parte administrativa. Eu cuido das demandas administrativas ou acadêmicas dentro do programa. Depois, vou para o atendimento a professores e alunos, e também a questão de atendimento ao telefone. Tenho inclusive uma preocupação com o sistema acadêmico dos alunos. É muita coisa (DA12).

Outras atividades apontadas pelos docentes são: publicação de artigos científicos, parecer de artigos para revistas científicas, participação e organização de eventos, solicitação de bolsas de extensão e de iniciação científica e concorrência em editais a fim de captar recursos para a universidade.

Essa semana tem uma tarefa especial que é o Pibic - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - , pois temos que submeter o projeto para pedir bolsas. Como somos professores permanentes da pós-graduação, temos que estar sempre com isso em dia, bolsistas Pibic, bolsista Pibiti - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação - e ir atrás de editais de fomento à pesquisa. Também dou pareceres em revistas científicas e preciso publicar (DB2).

Os participantes revelam que, para executar todas essas atribuições, são necessárias algumas atividades de background, por vezes imperceptíveis aos discentes e aos colegas de trabalho. Referem-se, neste quesito, à necessidade de participação em inúmeras reuniões e comissões, a fim de planejar a execução das atribuições docentes, e de adaptações e improvisações frente às adversidades do cotidiano laboral.

Também participo de comissões em outros setores da universidade. Isso requer avaliação de relatório e as diversas reuniões que isso acarreta, e ninguém vê isso. Geralmente, à tarde, eu início a reunião do grupo de pesquisa, que vai até às 16 horas. Das 16 às 17, eu tenho uma outra reunião de um outro grupo de pesquisa (DA1).

Essa multiplicidade de tarefas acarreta repercussões na dimensão subjetiva do trabalhador, pois, para dar conta dessa demanda laboral, ele ultrapassa o horário de trabalho formal e leva tarefas para sua residência.

Trabalho de segunda à sexta na universidade, mas de domingo a domingo para a universidade, senão a gente não consegue dar conta (DB11).

Fatores facilitadores do trabalho docente

Incluem-se como fatores facilitadores do trabalho docente o bom ambiente de trabalho, a autonomia e a flexibilidade de horários nos ambientes de trabalho, o acesso rápido aos vários setores da universidade, o prazer no que faz e o uso de tecnologias.

Em relação ao bom ambiente de trabalho, onze participantes (41%) sinalizam, como aspectos facilitadores do trabalho docente, a colaboração e a solidariedade por parte dos pares, bem como a compreensão dos discentes frente às adversidades que configuram o mundo do trabalho público neste momento.

A facilidade está ligada à união que nós temos​, principalmente aqui no departamento, as pessoas se ajudam muito. Se a pessoa tem algum problema, seja pessoal ou físico, nós tentamos dar suporte para essa pessoa. Os alunos também são bem interessados e isso ajuda bastante (DA13).

Além do bom ambiente de trabalho, outro fator apontado como facilitador do trabalho docente é o gostar do que se faz. Esse sentimento está intimamente ligado à motivação e à possibilidade de se desenvolver o trabalho com qualidade, levando a um sentimento de plenitude em relação aos resultados de seu labor.

Eu gosto muito do que eu faço, então, para mim, a facilidade é fazer o que eu gosto. É trabalhar com algo que você se identifica (DB5).

Outra situação enfatizada pelos participantes como facilitadora do trabalho é a autonomia que a universidade proporciona. Essa característica foi abordada por seis entrevistados (23%), sendo mencionada especificamente em relação à liberdade que o docente tem para executar suas tarefas, como utilização de novas metodologias de ensino, e também à possibilidade de ajustar sua carga horária de trabalho da forma que deseja.

Dentro da universidade pública, você tem a autonomia de criar, de inventar, de testar, e isso ajuda a manter a motivação. Além disso, a gente tem flexibilidade de horários. Por exemplo, eu cheguei hoje às 10:00 depois de ter lido o trabalho da minha orientanda em casa (DA14).

O uso de tecnologias em favor do bom desenrolar do trabalho também é apontado como um facilitador por parte dos docentes. A tecnologia de que fazem uso os participantes é principalmente a internet, pois o professor pode preparar aulas e manter contato com os alunos fora do espaço laboral, além de poder se qualificar e divulgar conhecimento por meio de artigos nas bases de dados on-line.

Como docente, a tecnologia melhorou para eu preparar aulas, para fazer buscas em periódicos internacionais e nacionais. Bato palma para tecnologia nesse sentido (DA8).

Aspectos limitadores do trabalho docente

Esta categoria abarca temas referentes à alta demanda, ao ritmo laboral, à precariedade das condições de trabalho e à dificuldade no relacionamento.

A alta demanda de trabalho é apontada por 12 docentes (44%), sendo mencionadas principalmente atividades no âmbito da graduação e pós-graduação, destacando-se tarefas como ensino, pesquisa, extensão e gestão, além de outras atividades que dão suporte a essas, como reuniões, atividades administrativas e estudos constantes.

Além da alta demanda laboral, os docentes indicam a intensificação do ritmo de trabalho, uma vez que os professores acabam por exercer atividades simultaneamente e com a cobrança de tempo pela organização laboral a fim de darem conta das tarefas rapidamente.

A gente vai fazendo todas as coisas ao mesmo tempo. E nesse ritmo de trabalho você acaba não tendo tempo nem de conversar com as pessoas. Você não tem tempo de tomar um cafezinho sem estar trabalhando. Você traz o cafezinho para sua mesa de trabalho e vai trabalhando, às vezes o cafezinho fica gelado (DB8).

Em relação aos recursos humanos, quatorze entrevistados (52%) indicam o baixo quantitativo de docentes como uma dificuldade, o que exige que esses profissionais sejam polivalentes e multifuncionais a fim de suprir as necessidades do trabalho na universidade. Além dessa deficiência de recursos humanos, existe também o alto quantitativo discente por turma, exigindo dos trabalhadores capacidade adaptativa e criatividade para enfrentar as variabilidades que envolvem a relação com o aluno.

Somos pouquíssimos professores para dar conta da graduação, dos cursos de especialização, de dois mestrados, do curso de doutorado e mais as questões administrativas que vêm em relação ao ensino, à pesquisa, e à extensão. Também temos um número muito grande de alunos para acompanhar em campos práticos e para ministrar aulas teóricas (DA9).

Além do baixo quantitativo de docentes, o trabalho fica dificultado em razão da deficiência de técnicos administrativos. Tal deficiência exige que os docentes, além de executarem tarefas inerentes à sua atividade, assumam também tarefas administrativas, aumentando sua demanda laboral e reforçando a ideia da polivalência e multifuncionalidade.

Uma dificuldade que nós temos é a escassez de técnico-administrativo. Seria interessante um secretário para nos ajudar na submissão de projetos e outras coisas. Facilitaria muito o trabalho, principalmente, do docente que está na pós-graduação (DB10).

A deficiência de recursos materiais e de infraestrutura da universidade é tema de elevada representatividade, sendo mencionado por dezoito docentes (63%). É importante observar que essa dificuldade também é apontada em cenários práticos. Aborda-se principalmente a dificuldade relativa à quantidade e à qualidade de itens como data show, ar condicionado, salas de aula, material administrativo, computadores, elevador, dentre outros.

Vem a reclamação de que o laboratório não está totalmente equipado, mas não tem verba para equipá-lo devidamente. O elevador sempre quebra, o certo seria comprar outro, mas não tem dinheiro. Então, há precarização desde o estrutural até as questões de fomento, como ter uma biblioteca atualizada, ter recursos de data show. Por exemplo, a gente conseguiu um simulador incrível, mas há dificuldades de conseguir manutenção (DA7).

Outra situação dificultadora do trabalho docente, imposta pelas agências de fomento à pesquisa e ao ensino, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é a cobrança por produtividade.

Nessa perspectiva, verifica-se um movimento em cadeia, uma vez que o docente necessita publicar artigos para qualificar seu currículo Lattes, o que, por conseguinte, possibilita captar recursos para a universidade por meio de editais de fomento à pesquisa. Assim, com a melhor colocação de seus currículos, os docentes têm melhores chances de conseguirem verbas para a qualificação do ensino, da pesquisa e da extensão. Porém, como não há verba específica para a publicação de artigos, o docente retira recursos de seu salário para publicá-los e, consequentemente, captar recursos para a universidade. Essa situação também estimula a competitividade entre os pares, fragilizando, assim, o relacionamento interpessoal na academia.

Eu acho que nós temos muitas despesas aqui. Ontem eu estava fazendo os cálculos de quanto eu gastei com publicação ano passado e eu vi que gastei R$3.800,00 do meu salário com publicação. Está certo que eu gosto de publicar e eu até incentivo os alunos para isso, mas acho que isso não deveria ser uma obrigação nossa, ou pelo menos deveríamos receber uma verba específica para isso (DA8).

Outra situação enfatizada pelos participantes que compromete o bom relacionamento interpessoal e, por sua vez, interfere no acúmulo de trabalho, é a inadequada distribuição das atividades pelo corpo de trabalhadores. Tem-se que o tripé da universidade brasileira é ensino, pesquisa e extensão, devendo o docente organizar, com base nessas instâncias, suas atividades no âmbito da graduação e pós-graduação. Assim, na medida em que alguns docentes lecionam apenas na graduação, imputam aos demais as outras necessidades da instituição.

Tem aqueles que dão aula só na graduação e acham que não têm que fazer mais nada. Claro que é uma opção, contudo, o cargo docente que você desenvolve traz atribuições específicas. Então, eu não consigo entender como um professor associado, que tem um doutorado e sabe quais são as atribuições de um professor nesse cargo, dê aula só para graduação e não se envolva nas outras atividades (DB7).

DISCUSSÃO

O trabalho do docente de enfermagem em uma universidade é intenso, complexo e multifacetado, apresentando alta exigência psicoafetiva, cognitiva e física, pois, além de ministrar aulas teóricas, o professor acompanha alunos em atividades práticas e em estágios supervisionados. Atrelado às atividades de ensino - no campo teórico e no prático, no desenvolvimento das orientações de pesquisa e na extensão -, partilhando e ofertando o conhecimento técnico e científico para a comunidade, o docente também atua em atividades administrativas e participa ativamente no âmbito da gestão(1313. Lemos MC, Passos JP. Satisfação e frustração no desempenho do trabalho docente de enfermagem. Rev Min Enferm Internet . 2012 citado 2019 abr. 15 ;16(1). Disponível em: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/499
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A necessidade de executar tarefas administrativas desgasta os docentes, uma vez que eles percebem tal atividade como um entrave para a produção acadêmica, pois, em vez de exercerem atividades inerentes à docência, executam tarefas que um funcionário administrativo, com o devido treinamento, poderia realizar(1414. Santos CC, Pereira F, Lopes A. Experiences of management activities in university teaching. Educ Real 2018;43(3):998-1008. DOI: https://dx.doi.org/10.1590/2175-623674106
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Com a ascensão dos programas de pós-graduação nas universidades brasileiras, os docentes universitários, que anteriormente concentravam suas atividades e orientações na graduação, passaram a orientar também no âmbito da pós-graduação. Além disso, é fortemente recomendado que o docente produza conhecimento por meio de pesquisas, efetuando, assim, novas descobertas, que devem ser publicadas em artigos científicos em revistas de elevado impacto nacional ou mesmo internacional(1515. Borsoi ICF, Pereira FS. Professores do ensino público superior: produtividade, produtivismo e adoecimento. Univ Psychol. 2013;12(4). DOI: 10.11144/Javeriana.UPSY12-4.peps
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Nesse sentido, as publicações em si não são necessariamente um problema; o entrave, nesse contexto, é o excesso de publicações requeridas, baseadas na lógica produtiva exacerbada neoliberal. Tal lógica não é compatível com um trabalho especificamente intelectual. A pesquisa, a produção de novos estudos e a publicação de artigos são importantes de modo geral para facultar o desenvolvimento e o progresso do conhecimento. Porém, o conhecimento necessita de tempo para ser desenvolvido e não pode ser realizado numa lógica produtivista, de alcance de metas organizacionais que visem simplesmente a ascensão acadêmica do docente(1515. Borsoi ICF, Pereira FS. Professores do ensino público superior: produtividade, produtivismo e adoecimento. Univ Psychol. 2013;12(4). DOI: 10.11144/Javeriana.UPSY12-4.peps
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Dessa forma, a universidade, que surgiu com a premissa de uma instituição social na busca pela autonomia do saber face à Religião e ao Estado, parece ter sucumbido à lógica produtivista neoliberal, passando a ser regida por uma perspectiva de mercado. Em tempos de poucos investimentos em pesquisa, a disputa pela captação de recursos tornou-se acirrada, e como um dos requisitos para se obter financiamento é a produtividade, esta passou a ter um papel singular no meio universitário(1616. Paini LD, Costa LP. A função social da universidade na contemporaneidade: algumas considerações. Revista Even Pedagog Internet . 2016 citado 2019 maio 25 ;7(1):59-72. Disponível em: sinop.unemat.br/projetos/revista/index.php/eventos/article/download/2077/1701
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Como resultado desse enfoque exacerbado em publicação, o que se tem observado é a prática da “salami slicing”, na qual resultados adequados a apenas um artigo são fatiados em outros materiais, a fim de garantir maior quantitativo de publicações. Consequentemente, observa-se baixa inovação, pouca criatividade, superficialidade nas análises e até mesmo aumento de fraudes, como plágio e principalmente o autoplágio(1717. Iriart JAB, Deslandes SF, Martin D, Camargo KR, Carvalho MS, Coeli CM. A avaliação da produção científica nas subáreas da saúde coletiva: limites do atual modelo e contribuições para o debate. Cad Saúde Pública. 2015;31(10):2137-47. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00065515.
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Além da demanda por produtividade por meio de publicações científicas, o docente ainda precisa ministrar aulas e realizar orientações de seus alunos, redigir pareceres para revistas científicas, prestar consultoria ad hoc, elaborar relatórios de pesquisas, organizar e participar de eventos científicos, concorrer a editais e solicitar bolsas junto aos órgãos de fomento, dentre outras atividades que aceleraram exacerbadamente o ritmo de trabalho desses profissionais(1818. Almeida LP. Universidade, alienação e capitalismo. Rev Espaço Livre Internet . 2015 citado 2016 dez. 21 ;10(20):45-54. Disponível em: http://redelp.net/revistas/index.php/rel/article/view/319/348
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. Essa aceleração do ritmo laboral e a desvalorização da carreira docente são fatores que geram competitividade, estresse, sofrimento e adoecimento desses profissionais(1515. Borsoi ICF, Pereira FS. Professores do ensino público superior: produtividade, produtivismo e adoecimento. Univ Psychol. 2013;12(4). DOI: 10.11144/Javeriana.UPSY12-4.peps
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. Tal situação também se vincula à lógica neoliberal de intensificação da produção, de polivalência e de competitividade entre trabalhadores com o fito de alavancar resultados para a organização do trabalho(33. Dejours C. A metodologia em psicodinâmica do trabalho. In: Lancman S, Sznelwar LI, organizadores. Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2011. p. 105-26.,1515. Borsoi ICF, Pereira FS. Professores do ensino público superior: produtividade, produtivismo e adoecimento. Univ Psychol. 2013;12(4). DOI: 10.11144/Javeriana.UPSY12-4.peps
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Outro fator que leva ao aumento da demanda laboral e do ritmo de trabalho, igualmente apontado como um aspecto dificultador, é o déficit de recursos, tanto humanos quanto materiais, bem como a configuração da estrutura física da universidade. A inadequação de recursos e de condições de trabalho, além de causar sofrimento psíquico aos trabalhadores, leva-os a modificar suas práticas, ajustando o processo laboral com adaptações e improvisações a fim de suprirem essa escassez de recursos, podendo, inclusive, comprometer a qualidade do trabalho ofertado(1313. Lemos MC, Passos JP. Satisfação e frustração no desempenho do trabalho docente de enfermagem. Rev Min Enferm Internet . 2012 citado 2019 abr. 15 ;16(1). Disponível em: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/499
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. Essa situação se articula com o ideário neoliberal de enxugamento da máquina pública, do Estado mínimo e da desresponsabilização do Estado com setores básicos, como educação(11. Braverman H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: LTC; 2011. A habituação do trabalhador ao modo capitalista de produção; p. 124-34.,33. Dejours C. A metodologia em psicodinâmica do trabalho. In: Lancman S, Sznelwar LI, organizadores. Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2011. p. 105-26.,1313. Lemos MC, Passos JP. Satisfação e frustração no desempenho do trabalho docente de enfermagem. Rev Min Enferm Internet . 2012 citado 2019 abr. 15 ;16(1). Disponível em: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/499
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No entanto, em meio às diversas dificuldades elencadas pelos participantes para o desenvolvimento do trabalho docente, há também aspectos facilitadores, como o bom relacionamento interpessoal e a solidariedade entre os colegas de trabalho.

Nessa perspectiva, os convívios sociais que permitem o estabelecimento de vínculos de cordialidade e/ou amizade com o grupo de trabalho são profícuos tanto para a saúde dos trabalhadores quanto para a organização do trabalho, fazendo o trabalhador produzir mais e melhor. Quando as relações de trabalho são favoráveis, evidenciando respeito, diálogo, escuta, interação e camaradagem, mantém-se o prazer e a subjetividade dos trabalhadores é preservada, assim como a saúde e o bem-estar do coletivo profissional(33. Dejours C. A metodologia em psicodinâmica do trabalho. In: Lancman S, Sznelwar LI, organizadores. Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2011. p. 105-26.,66. Gonçalves FGA, Souza NVDO, Pires AS, Santos DM, D'Oliveira CAFB, Ribeiro LV. Modelo neoliberal e suas implicações para a saúde do trabalhador de enfermagem. Rev Enferm UERJ Internet . 2014 citado 2015 jul 27 ;22(4):519-25. Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v22n4/v22n4a14.pdf
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Outro elemento salientado como favorecedor do trabalho docente é o gosto pelo que se realiza, algo fundamental para que o docente desenvolva com eficácia suas competências e para criar situações de bem-estar no ambiente de trabalho. As necessidades de autorrealização referem-se à realização integral do indivíduo, ao crescimento e satisfação profissional e pessoal(33. Dejours C. A metodologia em psicodinâmica do trabalho. In: Lancman S, Sznelwar LI, organizadores. Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2011. p. 105-26.,1313. Lemos MC, Passos JP. Satisfação e frustração no desempenho do trabalho docente de enfermagem. Rev Min Enferm Internet . 2012 citado 2019 abr. 15 ;16(1). Disponível em: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/499
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A flexibilidade do horário e a autonomia no processo laboral também são elementos que contribuem com o desenvolvimento do trabalho docente. A possibilidade de alteração da prescrição da tarefa, de forma a adequá-la ao real do trabalho, promove o exercício da inteligência prática, oportuniza que os profissionais criem novos modos operatórios quando necessário e faz com que desenvolvam seu trabalho de forma satisfatória(44. Davoglio TR, Timm JW, Santos BS, Conzatti FBK. Necessidades psicológicas básicas: definições operacionais na docência universitária. Educ Temática Digital. 2017; 19(2):510-31. DOI: https://doi.org/10.20396/etd.v19i2.8644789
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Tal prática encontra-se ameaçada pela recente proposta de ponto eletrônico nas instituições públicas de ensino. Sob justificativa de se padronizar de forma equânime o horário de trabalho dos profissionais, estes são submetidos a mais uma forma de controle por meio desse modelo(1919. Ribeiro CVS, Leda DB. O trabalho docente no enfrentamento do gerencialismo nas universidades federais brasileiras: repercussões na subjetividade. Educ Rev. 2016, 32(4):97-117. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-4698161707.
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. Verifica-se então que tal modelo, além de ditar o ritmo de trabalho desses profissionais, se utiliza também de diferentes outras medidas que visam o aumento da produtividade(11. Braverman H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: LTC; 2011. A habituação do trabalhador ao modo capitalista de produção; p. 124-34.,1919. Ribeiro CVS, Leda DB. O trabalho docente no enfrentamento do gerencialismo nas universidades federais brasileiras: repercussões na subjetividade. Educ Rev. 2016, 32(4):97-117. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-4698161707.
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Diferentemente de profissionais técnicos, que exercem seu trabalho exclusivamente na instituição, os docentes, por vezes, necessitam trabalhar em horários diferenciados, ou mesmo em outros ambientes, uma vez que, para exercer o trabalho intelectual, é necessário um local calmo e silencioso. Tal prática não repercutiria de forma positiva para esses profissionais, podendo gerar insatisfação por parte dos docentes, que veem a flexibilidade e a autonomia como algumas das vantagens de sua prática profissional.

Em outra perspectiva, a tecnologia foi entendida como ferramenta importante para o bom andamento do trabalho docente. A internet, por exemplo, facilita o acesso a recursos didáticos e melhora a interação entre professores e alunos, pois se trata de um recurso dinâmico e interativo que possibilita novas formas de ensinar e aprender, oferecendo uma variedade de benefícios no processo de aprendizagem(2020. Landeiro MJL, Freire RMA, Martins MM, Martins TV, Peres HHC. Educational technology in care management: technological profile of nurses in Portuguese hospitals. Rev Esc Enferm USP. 2015;49(spe2):150-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420150000800021
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Outras formas de tecnologia também favorecem o trabalho docente, como data show para projeção de aula teórica, laboratórios de informática, quadros interativos que proporcionam aulas mais dinâmicas e laboratórios de simulação realística, os quais possibilitam a aquisição de conhecimentos técnico-científicos e de habilidades psicomotoras antes mesmo da inserção dos alunos em cenários práticos(1010. Silveira MS, Cogo ALP. Contribuições das tecnologias educacionais digitais no ensino de habilidades de enfermagem: revisão integrativa. Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(2):1-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/19831447.2017.02.66204
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A utilização de ferramentas de ensino que tornam o processo ensino-aprendizagem mais dinâmico tem repercussões positivas tanto para o aluno quanto para o docente. Tais ferramentas estimulam criatividade, inovação e proatividade, fazendo com que os alunos se tornem mais ativos e envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Os docentes, por sua vez, se sentem gratificados, pois, ao perceberem que o discente se encontra envolvido com seu trabalho, têm sentimentos prazerosos frente ao labor(1010. Silveira MS, Cogo ALP. Contribuições das tecnologias educacionais digitais no ensino de habilidades de enfermagem: revisão integrativa. Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(2):1-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/19831447.2017.02.66204
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,2020. Landeiro MJL, Freire RMA, Martins MM, Martins TV, Peres HHC. Educational technology in care management: technological profile of nurses in Portuguese hospitals. Rev Esc Enferm USP. 2015;49(spe2):150-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420150000800021
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Embora a tecnologia apresente-se como uma importante aliada na produtividade docente, esta faz com que o trabalho invada o espaço do domicílio, comprometendo o relacionamento com os familiares e o descanso do trabalhador(1515. Borsoi ICF, Pereira FS. Professores do ensino público superior: produtividade, produtivismo e adoecimento. Univ Psychol. 2013;12(4). DOI: 10.11144/Javeriana.UPSY12-4.peps
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. Nesse sentido, com o advento da internet e devido às mais diversas formas de acessá-la (celular, computador e tablets), é possível trabalhar a qualquer hora e em qualquer lugar, o que se tem denominado de “boundaryless work”, termo que vem sendo aplicado na literatura internacional para caracterizar a perda de fronteiras entre vida e trabalho(2121. Mellner C, Kecklund G, Kompier M, Sariaslan A. Boundaryless Work, Psychological detachment and sleep: does working 'anytime - anywhere' equal employees are 'always on'? In: De Leede, J, editor. New ways of working practices. Bingley: Emerald Group; 2016, p. 29-47.).

Assim, a inserção do modelo neoliberal modificou não somente o cotidiano laboral docente, mas também a vida pessoal desses profissionais. Além dos diversos fatores dificultadores desse trabalho, alguns aspectos facilitadores encontram-se ameaçados, como no caso da flexibilidade de horário, ou ainda se configuram de forma dialética, podendo agir para o bem ou para o mal, como no exemplo da tecnologia.

CONCLUSÃO

Os resultados evidenciam que o trabalho docente na atualidade compreende uma diversidade de tarefas, sendo mais habitual nas falas dos participantes aspectos dificultadores do que facilitadores para sua execução. Como facilitadores, destacam-se o bom ambiente de trabalho, a autonomia, a flexibilidade, o gostar do que se faz, o uso das tecnologias e a solidariedade do coletivo profissional.

Os elementos dificultadores tiveram maior representatividade e estão estreitamente vinculados à organização do trabalho fundamentada no modelo neoliberal. Estes foram apontados pelos entrevistados desta pesquisa como sendo a alta demanda de trabalho, o ritmo laboral intenso, a escassez de recursos material e humano e a competitividade acadêmica.

Diante dos resultados apreendidos, é necessário que se criem medidas organizacionais com menos cobranças e menor volume de trabalho. No entanto, tais medidas são contrárias às premissas do modelo neoliberal, que visa reduzir a máquina pública e maximizar os lucros, abandonando, assim, os trabalhadores à própria sorte.

É necessário um movimento por parte dos trabalhadores, sobretudo daqueles que estão conscientes dos efeitos negativos desse modelo, a fim de instigar os demais profissionais a refletirem acerca dessa insólita situação, procurando promover debates no coletivo profissional com o fito de formar uma massa crítica que tenha maiores condições de resistir à consolidação desse modelo produtivo nas organizações educacionais e de saúde.

Propõe-se que esses trabalhadores busquem se engajar em movimentos políticos, participando de atos e sugerindo medidas que venham a garantir os direitos dos trabalhadores. É fundamental que a categoria crie uma vertente de reivindicação baseada em questões macroeconômicas, e não somente tecnicistas.

Somente com um quadro de profissionais empoderados de um capital cultural que faça resistência a tal modelo será possível que a universidade deixe de ser um lugar apenas de construção do conhecimento sucumbido por uma lógica produtivista e retome sua premissa de crítica social.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    29 Ago 2018
  • Aceito
    29 Ago 2019
Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
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