Absentesmo e ndice de segurana tcnica da equipe de enfermagem de um hospital tercirio^*

Resumo

Objetivo:

Identificar a taxa de absentesmo da equipe de enfermagem, calcular o ndice de Segurana Tcnica e compar-los ao percentual estabelecido pelo Conselho Federal de Enfermagem.

Mtodo:

Estudo descritivo, analtico, retrospectivo, que incluiu profissionais de enfermagem, atuantes em um hospital pblico e tercirio. Para a coleta de dados, foi utilizado o banco de dados do Departamento de Recursos Humanos da Instituio. Consideraram-se como absentesmo as ausncias no previstas.

Resultados:

Participaram 99 profissionais, sendo 21 enfermeiros e 78 tcnicos. As folgas semanais prevaleceram entre as ausncias previstas, sendo 17% para ambas as categorias. Quanto ao absentesmo, prevaleceu a licena maternidade entre enfermeiros e a licena mdica entre tcnicos de enfermagem, cujas mdias foram de 12% e 9%, respectivamente. O ndice de Segurana Tcnica foi de 42% para enfermeiros e 38% para tcnicos de enfermagem.

Concluso:

A taxa de absentesmo da equipe de enfermagem foi de 21,5%, enquanto o ndice de Segurana Tcnica foi de 40%, portanto, superiores aos valores estabelecidos pelo Conselho Federal de Enfermagem.

Descritores:
Absentesmo; Equipe de Enfermagem; Recursos Humanos de Enfermagem no Hospital; Administrao de Recursos Humanos em Hospitais; Indicadores de Gesto

Abstract

Objective:

To identify the nursing team absenteeism rate, calculate the Technical Safety Index and compare them to the percentage established by the Federal Nursing Council.

Method:

A descriptive, analytical, and retrospective study which included nursing professionals working in a public and tertiary hospital. The Human Resources Department database of the Institution was used for data collection. Absenteeism was considered as any unplanned absence.

Results:

Ninety-nine (99) professionals participated, of which 21 were nurses and 78 were nursing technicians. Weekly days off prevailed among the expected absences, with 17% for both categories. Maternity leave prevailed among nurses and medical leave among nursing technicians regarding absenteeism, with averages of 12% and 9%, respectively. The Technical Safety Index was 42% for nurses and 38% for nursing technicians.

Conclusion:

The nursing teams absenteeism rate was 21.5%, while the Technical Safety Index was 40%, thus constituting higher values than those established by the Federal Nursing Council.

Descriptors:
Absenteeism; Nursing Team; Nursing Staff, Hospital; Personnel Administration, Hospital; Management Indicators

Resumen

Objetivo:

Identificar el ndice de absentismo del equipo de enfermera, calcular el ndice de Seguridad Tcnica y compararlos al porcentual establecido por el Consejo Federal de Enfermera.

Mtodo:

Estudio descriptivo, analtico, retrospectivo, que incluye a profesionales enfermeros actuantes en un hospital pblico y terciario. Para la recoleccin de datos, se emple el banco de datos del Departamento de Recursos Humanos del Centro. Se consideraron como absentismo las ausencias no previstas.

Resultados:

Participaron 99 profesionales, siendo 21 enfermeros y 78 tcnicos. Los das libres semanales prevalecieron entre las ausencias previstas, siendo el 17% para ambas categoras. En cuanto al absentismo, prevaleci la licencia de maternidad entre enfermeros y la licencia mdica entre tcnicos de enfermera, cuyos promedios fueron del 12% y el 9%, respectivamente. El ndice de Seguridad Tcnica fue del 42% para enfermeros y del 38% para tcnicos de enfermera.

Conclusin:

El ndice de absentismo del equipo de enfermera fue del 21,5%, mientras que el ndice de Seguridad Tcnica fue del 40%, por lo tanto, superiores a las cifras establecidas por el Consejo Federal de Enfermera.

Descriptores:
Absentismo; Grupo de Enfermeira; Personal de Enfermeira en Hospital; Administracin de Personal em Hospitais; Indicadores de Gestin

INTRODUO

A dimenso gerencial constitui a parte essencial do processo de trabalho da enfermagem, pois, a partir dela, o enfermeiro planeja e implementa aes que visam a qualidade assistencial, como condies de trabalho favorveis, incluindo a previso e proviso de recursos humanos^(1-2).

O uso eficiente de recursos amplamente discutido como forma de se reduzir custos nas instituies. Dentre os profissionais de sade, a equipe de enfermagem ocupa lugar de destaque por representar o maior quantitativo de pessoal. Assim, frente necessidade de otimizar gastos, tanto os recursos materiais quanto humanos tendem a ser comprometidos. Nesse sentido, a equipe de enfermagem frequentemente afetada^(2-3).

Embora a deficincia de recursos materiais limite as condies de trabalho, os danos decorrentes da inadequao de recursos humanos, tanto quanti como qualitativamente, comprometem em maior proporo a qualidade assistencial⁽⁴⁾.

O dficit de pessoal aumenta a carga de trabalho da enfermagem, contribuindo para a ocorrncia de iatrognias, como as infeces relacionadas assistncia sade, leses por presso, aumento do tempo de hospitalizao, com consequente elevao dos custos totais. Ainda, tal dficit pode gerar riscos ocupacionais, uma vez que as exigncias no trabalho tornam-se altas e a margem de tomada de deciso baixa, originando tenso psicolgica^(5-6).

Em contrapartida, o quantitativo ideal de profissionais incide positivamente sobre os indicadores gerenciais e assistenciais, proporcionando qualidade do cuidado, segurana aos pacientes e profissionais, alm de melhorias no ambiente laboral^(7-8). Assim, o adequado dimensionamento do pessoal de enfermagem torna-se indispensvel, pois permite ajustar a equipe s necessidades dos pacientes, alm de prevenir a sobrecarga de trabalho^(2,9).

Nesse contexto, diferentes metodologias tm sido propostas visando dimensionar os profissionais de enfermagem. No Brasil, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) apresenta como diretriz a Resoluo 543 de 2017, que se baseia no Sistema de Classificao dos Pacientes para indicar as horas mnimas de assistncia e a distribuio percentual dos profissionais de enfermagem para cada tipo de cuidado, incluindo: cuidados mnimos, intermedirios, semi-intensivos, de alta dependncia e intensivos⁽¹⁰⁾.

Ressalta-se, contudo, que as legislaes vigentes referentes ao dimensionamento de profissionais de enfermagem vm sendo lentamente incorporadas prtica clnica, ou seja, o quantitativo de profissionais de enfermagem encontra-se aqum do ideal^(2,11).

Para dimensionar a equipe de enfermagem, deve-se considerar o servio de sade, o de enfermagem e o perfil do paciente atendido. Ainda, outras variveis so consideradas, incluindo-se o percentual de absentesmo⁽¹⁰⁾.

Absentesmo o termo utilizado para caracterizar a falta de assiduidade ao trabalho ou a outras obrigaes sociais. A etiologia multifatorial reflete sua complexidade, sendo na atualidade considerado um importante indicador gerencial. Contudo, reconhecidamente um problema de difcil controle, alm de pouco monitorado, configurando-se um desafio aos gestores^(12-13). Ocasiona prejuzos tanto aos pacientes quanto aos trabalhadores, comprometendo a qualidade assistencial, a segurana dos pacientes e dos profissionais, sobrecarregando os demais membros da equipe e onerando as instituies^(14-15).

Outra varivel a ser considerada no dimensionamento de pessoal consta do ndice de Segurana Tcnico (IST), que se refere ao percentual a ser acrescido ao quantitativo de profissionais de enfermagem, de acordo com a categoria profissional, para assegurar a cobertura de ausncias previstas, ou no⁽¹⁰⁾.

O Cofen, embora apresente o valor mnimo de 15% para o IST, orienta que o clculo deve ser individualizado, respeitando-se as especificidades dos diferentes processos de trabalho das equipes de enfermagem⁽¹⁰⁾. De fato, investigaes tm apontado discrepncias nos valores, reforando a necessidade de os gestores calcularem esse ndice em suas realidades assistenciais visando o real dimensionamento do quadro de pessoal^(16-18). Portanto, alm do absentesmo dos profissionais de enfermagem, a determinao do IST tem sido monitorada como indicador gerencial de recursos humanos⁽¹⁹⁾.

Frente ao exposto, buscou-se responder aos seguintes questionamentos: qual o percentual de absentesmo dos profissionais de enfermagem atuantes em um hospital pblico e tercirio? Qual o IST da equipe de enfermagem? O percentual de absentesmo e o IST esto em conformidade com o recomendado pelo Cofen?

Considerando-se a problemtica do absentesmo nas instituies de sade, bem como suas implicaes no processo de trabalho e segurana do paciente, sendo reflexo de ambiente desfavorvel ao cuidado de enfermagem, torna-se indispensvel identific-lo, incluindo sua etiologia, e, a partir desse diagnstico situacional, calcular o IST que reflita as reais necessidades, favorecendo o dimensionamento de pessoal assertivo.

Assim, os objetivos desta investigao foram: identificar a taxa de absentesmo da equipe de enfermagem, calcular o IST e compar-los aos respectivos percentuais estabelecidos pelo Cofen.

MTODO

Desenho do estudo

Estudo descritivo, analtico, retrospectivo, de delineamento quantitativo.

Cenrio

Foi realizado em um hospital pblico e tercirio, com 91 leitos, localizado no interior de So Paulo, Brasil. Este reconhecido por rgos nacionais e internacionais pelo servio de excelncia que presta populao em diferentes reas, incluindo a assistencial, de ensino e pesquisa, voltada ao paciente com anomalias craniofaciais e sndromes relacionadas. O Departamento Hospitalar composto pelas seguintes sees: Ambulatrio, Centro Cirrgico (CC) e Central de Material e Esterilizao (CME), Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Unidade de Cuidado Semi-intensivo (UCSI) e Unidade de Internao (UI).

Populao

A populao abrangeu profissionais de enfermagem, incluindo enfermeiros e tcnicos de enfermagem. Para este estudo, no foram estabelecidos critrios de incluso ou excluso. Assim, a amostra incluiu a totalidade da populao, ou seja, 99 profissionais, sendo 21 enfermeiros e 78 tcnicos de enfermagem.

Ressalta-se que as contrataes de profissionais na instituio cenrio desta pesquisa acontecem exclusivamente por meio de concurso pblico. Os profissionais atuam em regime da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), com carga horria semanal de 36 horas e, consequentemente, uma folga semanal. A atuao ocorre em regime de planto, ou seja, h quatro equipes: manh, tarde, noite par e noite mpar. Alm das folgas semanais, pautadas em legislaes internas, so concedidas anualmente seis folgas abonadas.

Coleta de dados

Para a coleta de dados, foi utilizado o banco de dados do Departamento de Recursos Humanos da Instituio. Foram considerados os registros referentes ao perodo de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2016.

Consideraram-se motivos de absentesmo, os dias de ausncias relativos s faltas justificadas ou no, licena mdica, maternidade, paternidade e por acidente de trabalho, por falecimento de familiar de primeiro grau, por casamento, abonos, afastamentos para participao em programas de treinamento e desenvolvimento, por convocaes judiciais, para doao de sangue, vinculadas justia eleitoral e para participao em atividades de ordem pblica, como comisses julgadoras de concursos, entre outros. Por ocorrerem em qualquer dia do ano, esses tipos de ausncias comportaram-se como variveis aleatrias. Para efeito de avaliao desses indicadores, identificou-se mensalmente o quantitativo dessas ausncias por categoria profissional e calculou-se a taxa de absentesmo dos profissionais.

Para o clculo do IST, considerou-se o percentual de absentesmo (ausncias no previstas) e o percentual referente s ausncias previstas, que incluram as folgas referentes ao descanso semanal remunerado de acordo com a carga horria semanal de trabalho, cobertura de feriados no coincidentes aos domingos e frias. Ressalta-se que, embora a legislao celetista garanta o gozo de 30 dias de frias no ano, esta permite o abono pecunirio de 10 dias, ou seja, existe a possibilidade de o trabalhador converter 1/3 dos dias de frias em dinheiro, desfrutando dos outros 20 dias.

Ainda, para efeito de comparao dos resultados, adotaram-se como parmetros as taxas de absentesmo de 6,7% e do IST de 15%⁽¹⁰⁾. Para os clculos, foram utilizadas as equaes dispostas no Quadro 1⁽¹⁶⁾.

Quadro 1 -
Equaes utilizadas para o clculo dos diferentes tipos de ausncias e do ndice de Segurana Tcnica Bauru, SP, Brasil, 2017.

Ausncias por folgas semanais (E%): $$E\%=\frac{e}{D-e}100$$ Onde: E% = percentual de folgas. e = nmero de dias de folga, por semana, trabalhadores da enfermagem. D = nmero de dias trabalhados na unidade.	Ausncias por frias (Vk%): $$V_k\%=\frac{V_k}{D-V_k}100$$ Onde: Vk% = percentual de frias, segundo a categoria profissional k (tcnicos e auxiliares de enfermagem). Vk = mdia de dias de frias, categoria profissional k D = dias do ano, 365 dias.
Ausncias por folgas referentes a feriados no coincidentes aos domingos (F%): $$F\%=\frac{f}{D-f}100$$ Onde: V% = percentual de dias de feriados. v = dias de feriados no ano. D = dias do ano, 365 dias.	Ausncias no previstas (por absentesmo - Ak%): $$A_k\%=\left(\frac{{?}_i{a}_{k,i}}{D-\underset{i}{?}{a}_{k,i}}\right)100$$ Onde: Ak% = percentual de ausncias no previstas, segundo a categoria profissional k (tcnicos e auxiliares de enfermagem). ?i ak,i= somatria de dias, mdias de ausncias no previstas, segundo os tipos de ausncias, por categoria de profissionais. D = dias do ano, 365 dias.
ndice de Segurana Tcnica (TSI%): $$IST\%=\left\{\left[\left(1+\frac{E\%}{100}\right)\left(1+\frac{F\%}{100}\right)\left(1+\frac{V_k\%}{100}\right)\left(1+\frac{A_k\%}{100}\right)\right]-1\right\}100$$

• Fonte: Rogenski e Fugulin, 2007¹⁶.

Para a organizao dos dados, foi utilizado o Programa Excel, verso 2015. A planilha foi organizada para registrar as ausncias em dias. Portanto, os registros disponibilizados em horas foram contabilizados a fim de corresponderem a um dia de trabalho. Incluram-se todos os registros referentes ao ano de 2016. O perodo de coleta e organizao dos dados realizou-se entre junho e setembro de 2017. Para a anlise estatstica, foram utilizados os testes de Correlao de Spearman, Mann-Whitney e a Anlise de Varincia de Kruskal-Wallis. Para todos, considerou-se o nvel de significncia de 5% (p=0,05).

Aspectos ticos

A coleta dos dados iniciou-se aps a aprovao do Comit de tica em Pesquisa da Instituio, em 2017, por meio do parecer 2.096.162/17. Ressalta-se que a metodologia empregada nesta pesquisa, que utilizou o banco de dados do Departamento de Recursos Humanos da Instituio, portanto fonte de dados secundria, inviabilizou a utilizao do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Entretanto, formalizou-se um Termo de Compromisso, em conformidade aos preceitos ticos da Resoluo 466/12, do Conselho Nacional de Sade.

RESULTADOS

A amostra compreendeu 99 profissionais de enfermagem, sendo 21 enfermeiros e 78 tcnicos de enfermagem. Entre os enfermeiros, a mdia de idade foi de 47,7 anos, com predomnio do sexo feminino (n=20), atuantes na Unidade de Internao (n=9), no perodo diurno (n=17). Referente escolaridade, constatou-se equidade entre os que possuam especializao e mestrado (ambos n=9) (Tabela 1).

Em relao aos tcnicos de enfermagem, a mdia de idade foi de 45,3 anos, com predomnio do sexo feminino (n=71), atuantes no Centro Cirrgico e na Unidade de Internao (ambos n=22), no perodo diurno (n=57). Quanto escolaridade, prevaleceram os que possuam nvel mdio (n=61) (Tabela 1). Evidenciou-se ainda que nenhuma das variveis sociodemogrficas influenciou o absentesmo, em ambas as categorias (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuio dos enfermeiros e tcnicos de enfermagem segundo as variveis: sexo, escolaridade, turno de trabalho e Unidade de atuao - Bauru, SP, Brasil, 2017.

Variveis		EE (n %)	Valor de p	TE (n %)	Valor de p
Sexo#	Feminino	20 (95,0)	---	71 (91,0)	0,34
	Masculino	1 (5,0)		7 (9,0)
Escolaridade#	Especializao	9 (43,0)	0,43		0,13
	Mestrado	9 (43,0)
	Doutorado	3 (14,0)
	Ensino mdio			61 (78,0)
	Ensino superior			17 (22,0)
Turno de trabalho#	Diurno	17 (81,0)	0,08	57 (73,0)	0,42
	Noturno	4 (19,0)		21 (27,0)
Outro vnculo empregatcio#	Sim	18 (86,0)	0,20	21 (27,0)	0,71
	No	3 (14,0)		57 (73,0)
Unidade em que atua&	UI	9 (43,0)	0,14	22 (28,0)	0,06
	CC e CME	5 (24,0)		35 (45,0)
	UTI e UCSI	5 (24,0)		18 (23,0)
	Ambulatrio	2 (9,0)		3 (4,0)

• EE: Enfermeiros. TE: Tcnicos de enfermagem. UI: Unidade de Internao. CC: Centro Cirrgico. CME: Central de Material e Esterilizao. UTI: Unidade de Terapia Intensiva. UCSI: Unidade de Cuidado Semi-intensivo. ^#Teste de Mann-Whitney. ^&Anlise de Varincia Kruskal-Wallis. Nvel de significncia de 5% (p=0,05).

As folgas semanais prevaleceram entre as ausncias previstas, totalizando 17% para ambas as categorias. Quanto s frias, considerando-se a adeso ao abono pecunirio, a mdia para os enfermeiros foi de 28 dias por ano para cada profissional, enquanto para os tcnicos de enfermagem, foi de 25 dias. Ao se considerar o percentual referente ao total de ausncias previstas, identificou-se a prevalncia entre os enfermeiros (28%), em comparao aos tcnicos de enfermagem (27%) (Tabela 2).

Tabela 2
Percentual mdio anual referente s ausncias previstas, incluindo: folgas semanais, feriados no coincidentes aos domingos e frias, segundo a categoria profissional - Bauru, SP, Brasil, 2017.

Variveis	Enfermeiros (%)	Tcnicos de enfermagem (%)
Ausncias por folgas semanais	17,0	17,0
Ausncias por frias	8,0	7,0
Ausncias por feriados no coincidentes aos domingos	3,0	3,0
Total	28,0	27,0

Entre as ausncias no previstas, prevaleceu a licena maternidade para enfermeiros (4%) e a licena mdica para tcnicos de enfermagem (6%). Ao se comparar a mdia total de dias entre as categorias profissionais, evidenciou-se o predomnio entre os enfermeiros (12%) (Tabela 3).

Tabela 3
Valores mdios de dias de absentesmo (ausncias no previstas), segundo a categoria profissional - Bauru, SP, Brasil, 2017.

Variveis	Enfermeiros (%)	Tcnicos de enfermagem (%)
Absentesmo por licena maternidade	4,0	0,1
Absentesmo por licena mdica	4,0	6,0
Absentesmo por concesso de abono	1,3	2,5
Absentesmo por afastamento remunerado	1,2	---
Absentesmo por licena do INSS	1,0	0,3
Absentesmo por outros tipos de ausncias	0,5	0,1
Total	12,0	9,0

O percentual de absentesmo entre os enfermeiros foi de 12%, prevalecendo sobre os tcnicos de enfermagem (9%). O IST foi maior entre os enfermeiros (42%), em comparao aos tcnicos de enfermagem (38%). Os valores do absentesmo e do IST foram superiores aos valores estipulados pelo Cofen (Figuras 1 e (2).

Figura 1
- Percentuais mdios de absentesmo da equipe de enfermagem Comparados ao estipulado pelo Conselho Federal de Enfermagem, Bauru, SP, Brasil, 2017.

Figura 2
- Percentuais mdios do ndice de Segurana Tcnica da equipe de enfermagem, comparados ao estipulado pelo Conselho Federal de Enfermagem - Bauru, SP, Brasil, 2017.

DISCUSSO

No presente estudo, buscou-se correlacionar o absentesmo aos fatores sociodemogrficos e laborais. Contudo, no se observaram correlaes significativas, tanto para enfermeiros quanto para os tcnicos de enfermagem, contrariando os achados da literatura^{(5,11,17,20-21)}. Os fatores etiolgicos do absentesmo so complexos e multifatoriais, e incluem, entre outros: idade, sexo, escolaridade, funo, turno de trabalho, local de trabalho, tempo de formao, tempo de atuao na instituio, nvel de responsabilidade, processo de trabalho, condies desfavorveis, relacionamento interpessoal e hierrquico fragilizado, desumanizao, dupla jornada de trabalho, dficit salarial, funcionrios casados e com filhos em idade no escolar, funes insalubres, problemas ergonmicos e emocionais^{(5,11,17,20-21)}.

Quanto s ausncias previstas, prevaleceram as folgas semanais remuneradas, tanto para enfermeiros quanto para os tcnicos de enfermagem. Seus percentuais encontravam-se em conformidade ao estabelecido pelo Cofen para profissionais com carga horria semanal de 36 horas, sendo 16,6% referentes s folgas e 3,4% por feriados no coincidentes com o domingo⁽¹⁰⁾. Pesquisas realizadas em diferentes realidades institucionais destacaram, entre as ausncias previstas, as folgas remuneradas^(16,18).

Investigao que utilizou metodologia qualiquantitativa apontou que os percentuais referentes s ausncias no previstas foram inferiores aos das ausncias previstas, contrariando o relatado por enfermeiros, que apontaram as ausncias no planejadas como principal motivo de inadequao numrica dos profissionais de enfermagem⁽¹⁶⁾. Ressalta-se que, para o clculo do dimensionamento de pessoal, considerada a cobertura das folgas por descanso remunerado⁽¹⁰⁾.

Em referncia s ausncias no previstas entre os enfermeiros, prevaleceu a licena maternidade. Esse resultado explica-se pela concesso de 180 dias dessa licena na instituio cenrio desta pesquisa, diferindo das demais, que concedem 120 dias. Outro fato a ser considerado refere-se licena maternidade de duas enfermeiras no perodo estudado, ou seja, aproximadamente 10% do total de profissionais. Um resultado similar foi observado em outra pesquisa⁽¹⁶⁾.

Entre os tcnicos de enfermagem, a licena mdica prevaleceu enquanto ausncia no prevista, corroborando a literatura^(16-18). No entanto, ressalta-se que, embora entre os enfermeiros a principal causa do absentesmo tenha sido a licena maternidade, esta foi seguida da licena mdica. Infere-se que esse achado esteja relacionado ao ambiente laboral desfavorvel a que esto expostos os profissionais de sade, incluindo a equipe de enfermagem, onde se encontram vulnerveis violncia fsica e psicolgica, cujas repercusses negativas certamente incidem sobre a sade⁽²²⁾.

Diferentes investigaes apontaram o predomnio de absentesmo por licena sade entre profissionais de enfermagem, cujas doenas do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, seguidas dos transtornos mentais e comportamentais, prevaleceram^(19,23-24). Dentre as desordens mentais e psicolgicas, destacam-se a depresso, ansiedade e o estresse⁽²⁵⁾. Evidencia-se, portanto, a licena mdica como principal motivo do absentesmo da equipe de enfermagem, merecendo ateno por parte dos gerentes e pesquisadores^(19,23-25).

Identificou-se que o absentesmo prevaleceu entre os enfermeiros (12%), em comparao aos tcnicos de enfermagem (9%). Resultado similar foi evidenciado em outro estudo, que incluiu a equipe de enfermagem de um hospital universitrio da regio centro-oeste do Brasil, onde o percentual de ausncias no previstas entre os enfermeiros foi de 43%, contra 13% entre os tcnicos e auxiliares de enfermagem⁽¹⁷⁾.

Em contrapartida, outra investigao, que incluiu 613 profissionais de enfermagem do Hospital Universitrio da Universidade de So Paulo, constatou um ndice mdio de absentesmo de 5,6% para os enfermeiros e de 9,7% para os tcnicos/auxiliares de enfermagem⁽¹⁹⁾.

Outras pesquisas apontam prevalncia do absentesmo entre os tcnicos de enfermagem, associando esse achado s atividades desenvolvidas pela categoria^{(17,19,26-27)}. Um estudo, que incluiu 59 profissionais de enfermagem atuantes em Unidade de Terapia Intensiva de um hospital pblico e tercirio, evidenciou mdias das taxas de absentesmo de 9,41% entre enfermeiros e 12,52% entre tcnicos de enfermagem⁽²⁶⁾. Outra pesquisa, realizada em um hospital pblico de grande porte, apontou um ndice de absentesmo de 5,6% para os enfermeiros e de 9,7% para os tcnicos/auxiliares de enfermagem⁽¹⁷⁾. Investigao que avaliou o absentesmo da equipe de enfermagem de trs hospitais pblicos de So Paulo mostrou que o percentual anual entre enfermeiros foi de 7,2%, enquanto, para os tcnicos de enfermagem, foi de 10,8%⁽²⁷⁾. Ainda, outro estudo realizado em um hospital pblico e universitrio mostrou uma taxa de absentesmo de 5,6% para enfermeiros e 9,7% para tcnicos/auxiliares de enfermagem⁽¹⁹⁾.

Identificou-se ainda que, em ambas as categorias profissionais, o absentesmo foi superior ao recomendado pelo Cofen⁽¹⁰⁾. O envelhecimento dos trabalhadores, a estabilidade e o maior tempo de licena maternidade para funcionrios atuantes em instituies pblicas podem justificar esse achado⁽²¹⁾. Por exemplo, neste estudo, a mdia de idade dos profissionais de enfermagem foi de 46,5 anos.

Em suma, os diferentes percentuais referentes ao absentesmo, assim como seus valores superiores ao estipulado pelo Cofen, refletem sua complexidade e apontam a necessidade de seu monitoramento em cada realidade institucional.

O IST dos enfermeiros foi de 42% e o dos tcnicos de enfermagem, 38%. Ao se comparar o IST obtido neste estudo ao estipulado pelo Cofen (15%), evidenciou-se que foram superiores em ambas as categorias profissionais. A concesso de folgas adicionais, como as abonadas (seis por ano), e as referentes ao banco de horas, uma vez que no so pagas horas extras, assim como a licena maternidade de 180 dias, certamente contriburam para o aumento do absentesmo e, consequentemente, do IST. Nesse sentido, a literatura aponta maior nmero de ausncia entre os servidores pblicos, em comparao aos trabalhadores contratados⁽²¹⁾.

Corroborando os achados deste estudo, uma investigao, que avaliou o IST da equipe de enfermagem da pediatria de um hospital pblico e de ensino durante cinco anos, apontou que o valor mdio entre os enfermeiros foi de 37,58%, oscilando entre 27,4 e 44,7%. Para os tcnicos de enfermagem, a mdia foi de 36,54%, variando entre 31,8 e 40,4%⁽¹⁶⁾. Outra investigao, realizada com profissionais da equipe de enfermagem das unidades clnicas de um hospital pblico e universitrio, apontou o IST de 70,4% para enfermeiros e 66,1% para tcnicos e auxiliares⁽²⁶⁾, bem superiores, portanto, aos encontrados aqui. Outra pesquisa, que incluiu tcnicos e auxiliares de enfermagem de um Pronto Socorro de um hospital pblico e universitrio, apontou o IST de 51%⁽¹⁸⁾.

Ressalta-se que a ponderao no uso de mtodos para quantificar a carga de trabalho de enfermagem, bem como o controle e domnio sobre as metodologias empregadas, so indispensveis. A argumentao por parte dos gestores junto administrao referente adequao do quadro de profissionais deve ser fundamentada e os benefcios a mdio e longo prazo, enfatizados^(2,28). Assim, identificar e monitorar o absentesmo e, consequentemente, o IST, torna-se indispensvel, configurando-se como importante indicador gerencial.

Por fim, acredita-se que esta investigao possibilitou identificar o absentesmo e o IST da equipe de enfermagem, assim como os principais fatores para sua determinao, fornecendo parmetros para o processo de tomada de deciso em relao ao gerenciamento de recursos humanos de enfermagem. Os achados deste estudo reforam a recomendao de se avaliar essas variveis em cada servio, considerando-se que sofrem influncias do processo de trabalho como um todo, uma vez que incluem subsdios indispensveis para a determinao do quadro de pessoal de enfermagem, principalmente pelo fato dos valores encontrarem-se superiores ao recomendado pela legislao.

Conforme discutido anteriormente, a concesso de folgas abonadas, o envelhecimento dos profissionais, a estabilidade e a licena maternidade de 180 dias podem justificar os maiores ndices de absentesmo e o IST identificados neste estudo. Embora esses benefcios constituam importantes conquistas aos profissionais de sade, na mesma proporo, os gestores devem se atentar s suas implicaes assistenciais, incluindo o quantitativo de pessoal necessrio para a cobertura dessas ausncias.

Algumas intervenes tm sido propostas visando minimizar o absentesmo. Nesse sentido, uma investigao apresentou seis fatores que favorecem a reduo do absentesmo, incluindo: horrio de trabalho flexvel, nmero suficiente de profissionais de enfermagem, diminuio do estresse na casa e no trabalho, condies adequadas de trabalho, melhores salrios, comunicao eficaz com superiores e com colegas e incentivo para os trabalhadores no utilizarem atestados⁽²⁹⁾. Outro estudo destacou como alternativas para a reduo das ausncias no trabalho: a gesto participativa, o trabalho em equipe, a organizao do servio e o suporte teraputico⁽³⁰⁾.

A heterogeneidade das metodologias para o clculo do absentesmo, bem como as diferentes realidades institucionais dos estudos, dificulta a comparao dos resultados, configurando-se como limitaes deste estudo.

CONCLUSO

A taxa de absentesmo da equipe de enfermagem foi de 21,5%, influenciada principalmente pela licena maternidade entre enfermeiros e a licena mdica entre os tcnicos de enfermagem, enquanto o ndice de Segurana Tcnica foi de 40%. Portanto, os percentuais de ambas as variveis foram superiores aos valores estabelecidos pelo Conselho Federal de Enfermagem.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  14 Ago 2020
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  07 Ago 2018
• Aceito
  24 Set 2019