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A análise institucional na produção científica em saúde: uma revisão integrativa de literatura

Resumo

Objetivo:

Analisar, nos estudos da área da saúde, a utilização do referencial teórico-metodológico da Análise Institucional e do conceito central de instituição em seus três momentos - instituído, instituinte e institucionalização.

Método:

Revisão integrativa realizada nas bases PubMed/Medline, LILACS, Scopus, CINAHL, sendo incluídos na busca artigos originais de pesquisa, publicados entre 2012 e 2017.

Resultados:

Foram analisadas 26 publicações. Encontrou-se uma pluralidade de objetos de estudo, sendo mais comuns os relacionados à saúde coletiva: saúde mental, violência, relação família-equipe, saúde da família, atenção primária, saúde da mulher, infância e adolescência, saúde bucal, educação permanente, micropolítica do trabalho em saúde, vigilância em saúde, HIV, direito, práticas pedagógicas, educação escolar e Autismo. A enfermagem e a psicologia foram as áreas que mais optaram pela Análise Institucional. A polissemia do conceito de instituição se confirma nos achados, indicando uma riqueza nos modos e usos dos conceitos.

Conclusão:

A Análise Institucional apresenta conceitos-ferramenta capazes de operar análises de práticas em saúde condizentes com o Sistema Único de Saúde.

Descritores:
Análise Institucional; Organizações; Saúde Pública; Técnicas de Pesquisa; Revisão

Abstract

Objective:

To analyze the use of the Institutional Analysis theoretical-methodological framework and of the central concept of institution in its three moments - instituted, instituting and institutionalizing in health studies.

Method:

Integrative review conducted in databases of PubMed/Medline, LILACS, Scopus, and CINAHL including original research articles published between 2012 and 2017.

Results:

Analysis of 26 publications. A plurality of study objects was found, and the most common were related to collective health, namely: mental health, violence, family-team relationship, family health, primary care, health of women, children and adolescents, oral health, continuing education, micropolitics of health work, health surveillance, HIV, law, pedagogical practices, school education and Autism. Nursing and psychology were the areas that most opted for Institutional Analysis. The polysemy of the institution concept was confirmed in the findings, indicating the richness of modes and uses of the concepts.

Conclusion:

Institutional Analysis presents tool-concepts to perform analyzes of health practices consistent with the Unified Health System.

Descriptors:
Institutional Analysis; Organizations; Public Health; Investigative Techniques; Review

Resumen

Objetivo:

Analizar, en los estudios del área sanitaria, la utilización del marco de referencia teórico metodológico del Análisis Institucional y del concepto central de institución en sus tres momentos - instituido, instituyente e institucionalización.

Método:

Revisión integradora llevada a cabo en las bases de datos PubMed/Medline, LILACS, Scopus, CINAHL, incluyéndose en la búsqueda artículos originales de investigación, publicados entre 2012 y 2017.

Resultados:

Fueron analizadas 26 publicaciones. Se encontró una pluralidad de objetos de estudio, siendo los más comunes los relacionados con la salud colectiva: salud mental, violencia, relación familia-equipo, salude de la familia, atención primaria, salud de la mujer, infancia y adolescencia, salud bucal, educación permanente, micropolítica del trabajo en salud, vigilancia en salud, VIH, derecho, prácticas pedagógicas, educación escolar y Autismo. La enfermería y la psicología fueron las áreas que más optaron por el Análisis Institucional. La polisemia del concepto de institución se confirma en los hallazgos, señalando una riqueza en los modos y usos de los conceptos.

Conclusión:

El Análisis Institucional presenta conceptos herramienta capaces de operar análisis de prácticas en salud acordes con el Sistema Único de Salud.

Descriptores:
Análisis Institucional; Organicaciones; Salud Pública; Técnicas de Investigación; Revisión

INTRODUÇÃO

A Análise Institucional é um referencial teórico-metodológico oriundo das ciências sociais e construído a partir da interlocução de diferentes disciplinas e campos de conhecimento - direito, economia, sociologia, psicologia e antropologia - e correntes de pensamento - filosofia do direito, marxismo, psicanálise, psicossociologia, psicopedagogia e pedagogia institucional(1). A gênese social e histórica da Análise Institucional (AI) emerge nos anos de 1960 na França, marcados pela insatisfação de grande parte da sociedade francesa em relação ao papel de algumas organizações: dos estudantes com a universidade, dos trabalhadores com as empresas, das famílias com as escolas, da sociedade em geral com a política, com o atendimento dos hospitais psiquiátricos, dentre outros. Sindicatos e partidos apoiaram essa insatisfação geral, culminando em um movimento contestatório amplo de Maio de 68(11. Lourau R. A Análise institucional. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; 2014.

2. Lourau R, Lapassade G. Chaves da sociologia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1972.

3. Rodrigues HBC. Análise Institucional francesa e transformação social: o tempo (e contratempo) das intervenções. Acheront Internet . 2004 jul citado 2010 nov. 02 ;19. Disponível em: //www.acheronta.org/acheronta18/barrosconde.htm
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-44. L'Abbate S. Análise institucional e saúde coletiva: uma articulação em processo. In: L'abbate S, Mourão LC, Pezzato LM, organizadores. Análise institucional e saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p.31-88.)
. Embora a mobilização estudantil tenha sofrido, desde o início, forte repressão policial, em pouco tempo o movimento se ampliou, chegando a paralisar 2/3 das atividades do país, levando à renúncia do presidente da época e a realização de novas eleições. Todavia, embora as reivindicações tenham interrogado o conservadorismo na política, na economia, na educação, na cultura e nas artes, propondo transformações estruturais amplas, passado o Maio de 68, “instaura-se na França uma paradoxal presença deprofecias a posteriori”, havendo uma linha que “conduziu as agitações do maio a águas de calmaria” e outra que “prefere tempestades a calmarias”(33. Rodrigues HBC. Análise Institucional francesa e transformação social: o tempo (e contratempo) das intervenções. Acheront Internet . 2004 jul citado 2010 nov. 02 ;19. Disponível em: //www.acheronta.org/acheronta18/barrosconde.htm
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)
.

Nesse contexto de crise e de rupturas, no qual evidenciou-se a lacuna entre o papel esperado das instituições - a educação, o trabalho, a política, a saúde - e o efetivamente desempenhado por elas na sociedade, o sociólogo francês René Lourau publicou em 1970 o livro A Análise Institucional, baseado em sua tese de doutorado, defendida em 1969 na Universidade de Nanterre. Neste, ele propõe o conceito de instituição a partir da relação dialética entre três momentos - instituído, instituinte e institucionalização - afastando qualquer noção de instituição como algo estático. Lourau diferencia instituição de estabelecimento e organização, enfatizando a dimensão imaterial de toda instituição(11. Lourau R. A Análise institucional. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; 2014.). Também foi importante, para esse campo, a publicação, em 1972 no Brasil, do livro Chaves da Sociologia (22. Lourau R, Lapassade G. Chaves da sociologia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1972.). A obra A Análise Institucional teve sua primeira edição brasileira em 1975.

Além do conceito de instituição, mencionado acima, são conceitos propostos pela AI: implicação, analisador, transversalidade, autogestão, autoanálise, resistência, encomenda e demanda, restituição e transdução(11. Lourau R. A Análise institucional. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; 2014.-22. Lourau R, Lapassade G. Chaves da sociologia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1972.). A AI pode ser utilizada para “análise de papel” baseada na análise de documentos, entrevistas e observações e como prática para intervenção - a Socioanálise. No âmbito da AI, considera-se ainda a abordagem Sócio-histórica, que tem como objeto a investigação de realidades históricas do passado que se relacionam com o presente. Em anos recentes, desenvolveu-se a Socioclínica Institucional, derivada da Socioanálise. Além dessa vertente, também está presente no Brasil a Esquizoanálise(55. Rodrigues HBC. As subjetividades em revolta: institucionalismo francês e novas análises dissertação . Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Medicina Social; 1993.).

Em nosso país, a AI inseriu-se na década de 1970, inicialmente junto a Departamentos de Psicologia de algumas universidades públicas e em diferentes grupos de pesquisa. Mas a articulação da AI com a Saúde e a Saúde Coletiva se daria somente nos anos 2000(44. L'Abbate S. Análise institucional e saúde coletiva: uma articulação em processo. In: L'abbate S, Mourão LC, Pezzato LM, organizadores. Análise institucional e saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p.31-88.). Ambas encontraram no aporte teórico-metodológico da AI conceitos que possibilitaram uma melhor compreensão das situações vividas no cotidiano dos serviços de saúde e contribuindo, assim, para aumentar a capacidade de análise e intervenção sobre elas(44. L'Abbate S. Análise institucional e saúde coletiva: uma articulação em processo. In: L'abbate S, Mourão LC, Pezzato LM, organizadores. Análise institucional e saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p.31-88.). Além de pesquisas acadêmicas com base nesse referencial, alguns conceitos da AI, como a transversalidade, autoanálise, autogestão, dispositivos, protagonismo dos sujeitos, inspiraram o arcabouço teórico de algumas políticas públicas do Sistema Único de Saúde (SUS), tais como a Política Nacional de Humanização (PNH) e a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS).

Alguns estudiosos(44. L'Abbate S. Análise institucional e saúde coletiva: uma articulação em processo. In: L'abbate S, Mourão LC, Pezzato LM, organizadores. Análise institucional e saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p.31-88.) mencionam que a história da AI no Brasil ainda não foi contada, que muito pouco se conhece a respeito de sua inserção, particularmente na área da saúde, e menos ainda sobre a forma de oferta nas universidades, nas organizações privadas ou filantrópicas. Ademais, também é pouco explorado como os conceitos se articulam com a prática cotidiana dos serviços de saúde; dentre outras formas de intervenção e análise, “uma investigação sobre estes textos, a partir dos descritores, seria bastante relevante para aprofundar o estudo da AI no Brasil”(44. L'Abbate S. Análise institucional e saúde coletiva: uma articulação em processo. In: L'abbate S, Mourão LC, Pezzato LM, organizadores. Análise institucional e saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p.31-88.). Por essas razões, e compreendendo os conceitos da AI como conceitos-ferramenta capazes de operar práticas sociais, dentre elas, as práticas de saúde, realizou-se esta revisão integrativa de literatura para se conhecer o atual panorama da produção científica com esse referencial.

Nesse contexto, levando em conta o conceito fundamental da AI, Instituição, sempre considerando seus três momentos - Instituído, Instituinte e Institucionalização - esta pesquisa foi realizada com a finalidade de obter respostas para as seguintes questões: 1) Quais objetos de estudos do campo da saúde vêm utilizando a Análise Institucional? 2) Como o conceito instituição e seus três momentos - instituído, instituinte, institucionalização - são empregados nesses estudos? 3) Quais áreas da saúde utilizam o conceito e seus três momentos? 4) Quais são as revistas escolhidas para a publicação desses estudos? 5) Como o conceito e seus três momentos vêm sendo operados nas pesquisas de saúde? Assim, o objetivo desta investigação foi analisar nos estudos da área da saúde o emprego do referencial teórico-metodológico da AI e do conceito central de instituição em seus três momentos - instituição, instituído, instituinte, institucionalização.

MÉTODO

Tipo de estudo

A revisão integrativa consiste em um “tipo de revisão da literatura que reúne achados de estudos desenvolvidos mediante diferentes metodologias, permitindo aos pesquisadores sintetizar resultados respeitando a filiação epistemológica dos estudos empíricos incluídos”. Esse tipo de análise requer que os revisores procedam à análise e à síntese dos dados primários de forma sistemática e rigorosa(66. Soares CB, Hoga LAK, Peduzzi M, Sangaleti C, Yonekura T, Silva DRAD. Integrative Review: concepts and methods used nursing. Rev Esc Enferm USP. 2014;48(2):335-45. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-6234201400002000020
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)
. Dentre as várias finalidades de desenvolver uma revisão integrativa, conforme um trabalho desse tipo realizado em 2014, esta constitui uma “forma de pesquisa que permite revisar, criticar e sintetizar a literatura representativa sobre um tópico ou assunto de forma integrada e capaz de gerar novas abordagens e perspectivas sobre o assunto revisado”(66. Soares CB, Hoga LAK, Peduzzi M, Sangaleti C, Yonekura T, Silva DRAD. Integrative Review: concepts and methods used nursing. Rev Esc Enferm USP. 2014;48(2):335-45. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-6234201400002000020
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)
.

Coleta de dados

A partir do objetivo dessa investigação, foi realizada uma busca de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) para selecionar os mais adequados a essa finalidade. A presente revisão foi realizada nas bases de dados Pubmed/Medline, LILACS, Scopus e CINAHL, com descritores controlados e não controlados. Foram utilizados o descritor controlado “Saúde” e os descritores não controlados, “Análise Institucional”, “Socioanálise”, “Esquizoanálise”, “Socioclínica”, em português e inglês. Para combinação destes, foram utilizados os operadores booleanos OR e AND.

A seguir, utilizou-se, para seleção dos estudos, os seguintes critérios de inclusão: a) artigos originais de pesquisa, b) disponibilizados na versão completa, c) publicados no período 2012-2017, nos idiomas português, francês, espanhol e inglês, d) pertencentes à área da saúde, conforme relação de profissões indicada pelo Ministério da Saúde(77. Brasil. Ministério da Saúde; Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde. Câmara de regulação do trabalho em saúde Internet . Brasília; 2006 citado 2017 nov. 01 . Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cart_camara_regulacao.pdf.
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)
. Inicialmente a definição do período da busca foi baseada na publicação pioneira no tema no Brasil(44. L'Abbate S. Análise institucional e saúde coletiva: uma articulação em processo. In: L'abbate S, Mourão LC, Pezzato LM, organizadores. Análise institucional e saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p.31-88.), a coletânea Análise Institucional no Brasil, de Saidón & Kamkhagi (1987), que completou 30 anos em 2017. Entretanto, em virtude do expressivo número de estudos encontrados, redefiniu-se a busca para os últimos cinco anos, permanecendo de 2012 a 2017.

Definimos como critérios de exclusão: a) trabalhos cuja abordagem da AI não tenha sido opção teórico-metodológica central do estudo nos resultados e conclusões; b) estudos que apresentem intervenções em AI, como em capacitações em nível institucional, c) relatos de experiência, notas, artigos de reflexão, dissertações, teses, políticas públicas e vídeos. A pesquisa nas bases de dados ocorreu entre 01 a 06 de novembro de 2017, via formulário avançado.

A estratégia de busca utilizada foi (saúde or health) AND (“análise institucional” OR “institutional analysis” OR socioclínica OR socioclinic OR socioanálise OR socioanalysis OR esquizoanálise OR schizoanalysis) no campo “palavras” e AND (2012 or 2013 or 2014 or 2015 or 2016 or 2017), no campo “país, ano de publicação”. Após a identificação, realizou-se a seleção dos estudos, de acordo com a questão norteadora e os critérios de inclusão e exclusão, previamente definidos. O instrumento, elaborado com a finalidade de extrair e analisar os dados dos estudos incluídos, era composto dos seguintes itens: 1- identificação do artigo; 2- presença ou não do conceito de instituição, considerando seus três momentos - instituído, instituinte e institucionalização; 3- autores que utilizam o conceito; 4-objetos de estudo.

Na pesquisa, foram encontrados na PubMed/Medline 450 artigos, na LILACS, 18, no Scopus, 138 e na CINAHL, 18. As etapas de seleção dos estudos compreenderam a identificação, triagem, elegibilidade e inclusão, totalizando 26 publicações(88. Romagnoli RC, Magnani NR. Nós e linhas: pesquisando a relação familia e equipe. Fractal Rev Psicol. 2012;24(2):287-306. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1984-02922012000200006
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9. Romagnoli RC. A violência contra a mulher em Montes Claros. Barbar Internet .2015 citado 2017 nov. 01 ;43:27-47. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/view/4815/4407
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10. Fortuna CM, Matumoto S, Camargo-Borges C, Pereira MJB, Mishima SM, Kawata LS, et al. Cartographic notes on the work in the family health strategy: relationships between workers and the population. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(3):657-64. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342012000300018
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11. Pezzato LM, L'Abbate S. A intervention-research-action in collective oral health: contributing to new analyses production. Saúde Soc. 2012;21(2):386-98. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902012000200012
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12. Archanjo AM, Schraiber LB. The practice of psychologists in primary care units in the city of São Paulo. Saúde Soc. 2012;21(2):351-63. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902012000200009
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13. Barreto L, Dimenstein M, Leite JF. Attention to women in gender violence situation with demands in mental health. Athen Digital. 2013;13(3):195-207 DOI: http://dx.doi.org/10.5565/rev/athenead/v13n3.1155
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14. Pereira WR, Ribeiro MRR, Santos NC, Depes VBS. Pedagogical practices, processo of subjectification and desire to learn from the institutionalist perpective. Acta Paul Enferm. 2012;25(6):962-8. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002012000600021
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15. Gontijo TL, Xavier CC, Freitas MIF. Evauation of the implementation of kangaroo care by health administrators, professionals, and mothers of newborn infants. Cad Saúde Pública. 2012;28(5):935-44. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2012000500012
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16. Muniz MP, Tavares CMM. Understanding the nursing team on the educational processo of a psychiatric hospital. Rev Pesq Cuid Fundam Online. 2012;4(2):2883-97. DOI: http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361
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17. Pezzato LM, L'Abbate S, Botazzo C. The production of micro-policies in the work process in oral health: a sócio-analytical approach. Ciênc Saúde Coletiva. 2013;18(7):2095-104. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013000700025
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18. Silveira L, Nunes MO. Para além e aquém de anjos, loucos ou demônios: CAPS e pentecostalismo em análise. Rev Police Psique. 2013;3(1). DOI: https://doi.org/10.22456/2238-152X.41767
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19. Sanches ICP, Couto IRR, Abrahão AL, Andrade M. Hospital treatment: right or concession to the hospitalized user? Ciênc Saúde Coletiva. 2013;18(1):67-76. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013000100008
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20. Depes VBS, Pereira WR. Mobilization of scientific knowledge by graduates of a nursing master's degree. Rev Gaúcha Enferm. 2013;34(4):84-90. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1983-14472013000400011
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21. Lima AIO, Severo AK, Andrade NL Soares GP, Silva LM. O desafio da construção do cuidado integralem saúde mental no âmbito da atenção primária. Temas Psicol. 2013;21(1):71-82. DOI: http://dx.doi.org/10.9788/TP2013.1-05
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22. Silva AB, Gomes BCF, Torres OM, Siniak DS. Matrix support and integral care networks in mental health. Rev Pesq Cuid Fundam Online. 2013;5(2):3655-66. DOI: http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361
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23. Zambenedetti G, Piccinini CA, Sales ALLF, Paulon SM, Silva RAN. Psicologia e análise institucional: contribuições para os processos formativos dos Agentes Comunitários de Saúde. Psicol Ciênc Prof. 2014;34(3):690-703. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703001302013
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24. Garcia RA, L'Abbate S. Institucionalização da Vigilância em Saúde de Campinas (SP) na perspectiva da análise institucional sócio-histórica. Saúde Debate. 2015;39(107):997-1007. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-110420151070531
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25. Romagnoli RC.Várias Marias: efeitos da Lei Maria da Penha nas delegacias. Fractal Rev Psicol. 2015;27(2):114-22. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1038
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26. Silva DCR. Medicalização e controle na educação: o autismo como analisador das práticas inclusivas. Psicol Educ. 2015;41:109-17. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/2175-3520.20150018
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27. Garcia RA, L'Abbate S, Arakaki J. Estrategias de articulación entre Atención Primaria y Vigilancia em Salud y la interfaz entre los sujetos. Interface (Botucatu). 2015;19(54):431-42. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622014.0185
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28. Spagnol CA, L'Abbate S, Monceau G, Jovic L. Dispositif socianalytique: instrument d'intervention et de collecte de données em recherche qualitative em soins infirmiers. Recherche Soins Infirmiers. 2016;1(124):108-17.

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https://doi.org/10.5935/1678-4669.201500...

30. Fortuna CM, Mesquita LP, Matumoto S, Monceau G. A análise de implicação de pesquisadores em uma pesquisa-intervenção na Rede Cegonha: ferramenta da análise institucional. Cad Saúde Pública. 2016;32(9):e00117615. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00117615
https://doi.org/10.1590/0102-311X0011761...

31. Dobies DV, L'Abbate S. A resistência como analisador da saúde mental em Campinas (SP): contribuições da Análise Institucional. Saúde Debate. 2016;40(110):120-33. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-1104201611009
https://doi.org/10.1590/0103-11042016110...

32. Passos ICF, Vieira K, Moreira L, Rodrigues F, Amorim M, Santos C, et al. La promotion de la santé mentale des enfants et adolescents en situation de vulnérabilité et violence sociale: les défis pour un réseau intersectoriel. Érudit Internet . 2017 cité 2017 nov. 01 ;42(1). Disponible en: https://www.erudit.org/fr/revues/smq/2017-v42-n1-smq03101/1040257ar/.
https://www.erudit.org/fr/revues/smq/201...
-3333. Fortuna CM, Monceau G, Valentim S, Mennani KLE. Uma pesquisa socioclínica na França: notas sobre a análise institucional. Fractal Rev Psicol. 2014;26(2):255-66. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1309
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)
, as quais atenderam aos critérios definidos, conforme explica o fluxograma de análise (Figura 1).

Figura 1 -
Fluxograma do processo de seleção dos estudos para a revisão integrativa - Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2018.

Análise e tratamento dos dados

A categorização foi a forma adotada para a análise dos resultados relacionados ao conceito de instituição e seus três momentos - instituído, instituinte e institucionalização - conforme explicado acima. Tal categorização proporcionou o agrupamento por similaridades e/ou aproximações conceituais, conforme demonstrado no Quadro 2. O trabalho de análise e integração dos conceitos consistiu em uma tarefa delicada e complexa, a qual foi sendo transformada à medida que foram aparecendo formas plurais de operação dos conceitos, exigindo inúmeras retomadas e reanálises dos estudos. Optou-se por apresentar os resultados por meio de quadros sequenciais que procuraram demonstrar como o conceito de instituição, sempre considerando os três momentos que o compõem, foi utilizado pelos autores e como dialogou com os objetos de pesquisa.

Desse modo, interessou-se em conhecer e caracterizar o panorama dos estudos, com destaque para as várias possibilidades tomadas pelos pesquisadores, de acordo com o seu objeto investigado, optando-se assim por se distanciar da perspectiva de análise focalizada em uma única perspectiva de abordagem desses conceitos; nesse sentido, explorou-se a polissemia dos conceitos, suas aproximações e distanciamentos para diferentes autores.

RESULTADOS

Os artigos foram publicados em 19 diferentes periódicos das áreas de psicologia, enfermagem, saúde coletiva e educação, conforme demonstra o Quadro 1. Quanto ao ano de publicação, os anos 2012 e 2013 apresentaram 26,9% (7) cada; na sequência, ocorreu a seguinte distribuição: 7,7% (2) em 2014; 23% (6) em 2015; 11,5% (3) em 2016; 3,8% (1) 2017. No que se refere à língua, a maioria dos estudos foi publicada em português, além de um em espanhol(2727. Garcia RA, L'Abbate S, Arakaki J. Estrategias de articulación entre Atención Primaria y Vigilancia em Salud y la interfaz entre los sujetos. Interface (Botucatu). 2015;19(54):431-42. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622014.0185
https://doi.org/10.1590/1807-57622014.01...
)
e dois em francês(2828. Spagnol CA, L'Abbate S, Monceau G, Jovic L. Dispositif socianalytique: instrument d'intervention et de collecte de données em recherche qualitative em soins infirmiers. Recherche Soins Infirmiers. 2016;1(124):108-17.,3232. Passos ICF, Vieira K, Moreira L, Rodrigues F, Amorim M, Santos C, et al. La promotion de la santé mentale des enfants et adolescents en situation de vulnérabilité et violence sociale: les défis pour un réseau intersectoriel. Érudit Internet . 2017 cité 2017 nov. 01 ;42(1). Disponible en: https://www.erudit.org/fr/revues/smq/2017-v42-n1-smq03101/1040257ar/.
https://www.erudit.org/fr/revues/smq/201...
)
.

Os contextos dos estudos foram bastante variáveis, vinculados aos temas: Violência, Relação família-equipe, Saúde da Família, Parentalidade, Atenção Primária, Saúde da Mulher, Infância e Adolescência, Saúde Mental, Saúde Bucal, Formação e Educação Permanente, Micropolítica do Processo de Trabalho em Saúde, Vigilância em Saúde, HIV, Direito, Práticas Pedagógicas, Produção de Conhecimento Científico na Pós-Graduação, Educação Escolar e Autismo, conforme expressa o Quadro 2.

Quadro 1
Revistas escolhidas para publicação dos estudos - Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2018.

Quadro 2
Objeto/Questão/Objetivo do estudo, Tipo de estudo, Técnicas e/ou Ferramentas, Análise de dados - Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2018.

Majoritariamente, os estudos realizados a partir dessa perspectiva teórico- metodológica são do tipo qualitativo, dada a natureza dos seus objetos de estudo, conforme demonstra o Quadro 2. Entende-se que a AI oferece um arcabouço teórico que permite explicar como os objetos de estudo são construídos, se movimentam e se transformam segundo o panorama político, econômico, social e cultural do contexto no qual estão inseridos, constituindo construções sociais. Os conceitos da AI oferecem um aporte que permite auxiliar a visualização dos modos de funcionamento de uma dada realidade social, promovendo um movimento de complexificação das análises e das intervenções.

Dentre os autores dos artigos selecionados, prevalecem aqueles da área de Psicologia, com 45,4% (25), seguida da área de Enfermagem, com 43,6% (24). Em número menor, aparece a formação em Medicina, com 9% (5), Odontologia, com 5,4% (3), Pedagogia, com 1,8% (1) e Ciências Sociais, com 1,1% (1). Dois autores possuíam mais de uma graduação: um deles era graduado em Enfermagem e Medicina e outro em Direito e Psicologia.

A distribuição dos estudos por região no Brasil deu-se de forma variada, sendo a maioria da região Sudeste (23) (São Paulo-12, Minas Gerais-7, Rio de Janeiro-4), seguida da região Sul (4) (Paraná-2, Rio Grande do Sul-2), após o Nordeste (2) (Natal-1,Rio Grande do Norte-1), Centro-Oeste (2) (Mato Grosso-2) e a região Norte (0). Quatro artigos integravam autores estrangeiros: um da Argentina(2727. Garcia RA, L'Abbate S, Arakaki J. Estrategias de articulación entre Atención Primaria y Vigilancia em Salud y la interfaz entre los sujetos. Interface (Botucatu). 2015;19(54):431-42. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622014.0185
https://doi.org/10.1590/1807-57622014.01...
)
e três da França(2828. Spagnol CA, L'Abbate S, Monceau G, Jovic L. Dispositif socianalytique: instrument d'intervention et de collecte de données em recherche qualitative em soins infirmiers. Recherche Soins Infirmiers. 2016;1(124):108-17.,3030. Fortuna CM, Mesquita LP, Matumoto S, Monceau G. A análise de implicação de pesquisadores em uma pesquisa-intervenção na Rede Cegonha: ferramenta da análise institucional. Cad Saúde Pública. 2016;32(9):e00117615. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00117615
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,3333. Fortuna CM, Monceau G, Valentim S, Mennani KLE. Uma pesquisa socioclínica na França: notas sobre a análise institucional. Fractal Rev Psicol. 2014;26(2):255-66. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1309
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)
.

Nas pesquisas analisadas, houve uma multiplicidade de conceitos da AI que embasaram a produção de conhecimento em saúde, mas o mais utilizado foi o conceito escolhido para compor a presente revisão integrativa, ou seja, o conceito de instituição, sempre considerando os três momentos que o compõe - instituído, instituinte e institucionalização - conforme demonstra o Quadro 3.

Quadro 3
Definições empregadas para Instituição - Instituído, Instituinte e Institucionalização - Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2018.

Alguns dos estudos investigados também utilizaram outros conceitos da AI, os quais não se constituíram foco da presente revisão: Análise das demandas, Análise das implicações, Transversalidade(88. Romagnoli RC, Magnani NR. Nós e linhas: pesquisando a relação familia e equipe. Fractal Rev Psicol. 2012;24(2):287-306. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1984-02922012000200006
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)
; Análise de implicação(1010. Fortuna CM, Matumoto S, Camargo-Borges C, Pereira MJB, Mishima SM, Kawata LS, et al. Cartographic notes on the work in the family health strategy: relationships between workers and the population. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(3):657-64. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342012000300018
https://doi.org/10.1590/S0080-6234201200...
,3333. Fortuna CM, Monceau G, Valentim S, Mennani KLE. Uma pesquisa socioclínica na França: notas sobre a análise institucional. Fractal Rev Psicol. 2014;26(2):255-66. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1309
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)
; Análise da Encomenda e da Demanda, Implicação, Autogestão, Restituição(1111. Pezzato LM, L'Abbate S. A intervention-research-action in collective oral health: contributing to new analyses production. Saúde Soc. 2012;21(2):386-98. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902012000200012
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)
; Autoanálise, Auto-gestão, Analisador, Análise de implicações(1616. Muniz MP, Tavares CMM. Understanding the nursing team on the educational processo of a psychiatric hospital. Rev Pesq Cuid Fundam Online. 2012;4(2):2883-97. DOI: http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361
https://doi.org/10.9789/2175-5361...
)
; Analisadores, Análise de implicação(1818. Silveira L, Nunes MO. Para além e aquém de anjos, loucos ou demônios: CAPS e pentecostalismo em análise. Rev Police Psique. 2013;3(1). DOI: https://doi.org/10.22456/2238-152X.41767
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)
; Analisador, Análise de Implicação(2323. Zambenedetti G, Piccinini CA, Sales ALLF, Paulon SM, Silva RAN. Psicologia e análise institucional: contribuições para os processos formativos dos Agentes Comunitários de Saúde. Psicol Ciênc Prof. 2014;34(3):690-703. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703001302013
https://doi.org/10.1590/1982-37030013020...
,2727. Garcia RA, L'Abbate S, Arakaki J. Estrategias de articulación entre Atención Primaria y Vigilancia em Salud y la interfaz entre los sujetos. Interface (Botucatu). 2015;19(54):431-42. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622014.0185
https://doi.org/10.1590/1807-57622014.01...
)
; Princípios da Socioclínica Institucional(3030. Fortuna CM, Mesquita LP, Matumoto S, Monceau G. A análise de implicação de pesquisadores em uma pesquisa-intervenção na Rede Cegonha: ferramenta da análise institucional. Cad Saúde Pública. 2016;32(9):e00117615. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00117615
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)
; Implicação, Resistência, Analisador, Transdução, Autodissolução(3131. Dobies DV, L'Abbate S. A resistência como analisador da saúde mental em Campinas (SP): contribuições da Análise Institucional. Saúde Debate. 2016;40(110):120-33. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-1104201611009
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)
.

DISCUSSÃO

O conceito de instituição em seus três momentos foi analisado no presente estudo, na perspectiva de conceito-ferramenta, isto é, que tem como propósito compreender a forma de operar o conceito e de percebê-lo como vida em movimento que vai alargando as possibilidades de experimentar, uma ferramenta para viver o conceito(3434. Abrahão AL, Merhy EE. Health training and micropolitics: concept tools in teaching practices. Interface (Botucatu). 2014;18(49):313-24. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622013.0166
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)
.

Os resultados apontaram que alguns estudos estabeleceram aproximações com o referencial da AI, sem optar por filiação específica às suas vertentes. Outros preferiram seguir exclusivamente os conceitos da Socioanálise ou da Esquizoanálise, sem cruzá-los. Um terceiro grupo realizou aproximações entre as vertentes da Socioanálise e Esquizoanálise. No Brasil, há dissenso entre a aproximação das vertentes da AI. Há autores que afirmam haver diferenças epistemológicas entre elas, mas optam por aproximar os conceitos, entendendo que eles coexistem e dialogam entre si para intervir. São eles: instituição - instituído, instituinte e institucionalização - implicação, analisador, fluxos, forças, agenciamentos, controle, territorialização e desterritorialização. A AI está inserida no movimento institucionalista, constituído por “um conjunto heterogêneo, heterológico e polimorfo de orientações, entre as quais é possível encontrar uma característica comum: sua aspiração a deflagrar, apoiar e aperfeiçoar processos autoanalíticos e autogestivos dos coletivos sociais”(3535. Baremblit GF. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática. 5ª ed. Belo Horizonte: Instituto Félis Guattari; 2002.). No entanto, embora as duas vertentes sejam oriundas da mesma gênese social - Maio de 68 na França - outros autores discutem diferenças importantes na gênese teórica entre elas(44. L'Abbate S. Análise institucional e saúde coletiva: uma articulação em processo. In: L'abbate S, Mourão LC, Pezzato LM, organizadores. Análise institucional e saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p.31-88.), que são conhecidas por mistura (mélange), como são denominadas essas produções.

Os estudos analisados fizeram uso de várias obras e autores da AI para sua fundamentação teórica e metodológica. Em primeira escolha, foi utilizado O compêndio da análise institucional (3535. Baremblit GF. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática. 5ª ed. Belo Horizonte: Instituto Félis Guattari; 2002.) e na sequência, a obra Análise Institucional (11. Lourau R. A Análise institucional. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; 2014.) . Talvez a escolha pela primeira obra esteja ligada à forma mais compreensível de escrita, especialmente para o leitor que realiza sua primeira aproximação ao tema. A obra Análise Institucional discute o conceito de instituição, perpassando diversas perspectivas teóricas das ciências sociais, tornando-se um texto rico, porém denso para uma leitura inicial. Seis anos após a escrita, o autor declarou que “sob o pretexto de teorização, de generalização, de ordenamento conceitual, escrevi um livro frio sobre um assunto abrasador”(11. Lourau R. A Análise institucional. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; 2014.).

O conceito Instituição foi analisado na presente revisão integrativa, dada sua centralidade para o referencial teórico da AI, conforme descrito no Quadro 3. Nas investigações sob análise, ele variou conforme a necessidade do tema em questão, demonstrando a multiplicidade de usos e modos para operar práticas em saúde, confirmando a polissemia em torno do conceito e do objeto em análise. A maioria dos modos e usos se aproximou da perspectiva louraudiana. Para a AI, a instituição tem uma dimensão aparente, que se materializa na organização e/ou estabelecimento, e uma dimensão imaterial, constituída pelas normas, regras e leis, que incluem a maneira como os indivíduos concordam, ou não, em participar dessas mesmas normas(11. Lourau R. A Análise institucional. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; 2014.-22. Lourau R, Lapassade G. Chaves da sociologia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1972.,3636. Lourau R. L'instituant contre l'institué. Paris: Anthropos; 1969.).

O conceito de instituição, na AI, está ligado à perspectiva dialética hegeliana, constituindo-se por três momentos: instituído (tese), instituinte (antítese) e institucionalização (síntese)(11. Lourau R. A Análise institucional. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; 2014.-22. Lourau R, Lapassade G. Chaves da sociologia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1972.,3636. Lourau R. L'instituant contre l'institué. Paris: Anthropos; 1969.

37. Lourau R. Objeto e método da análise institucional. In: Altoé S. Analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004.
-3838. Lourau R. O instituinte contra o instituído. In: Altoé S. Analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004.)
. A dialética tradicional grega, a dialética platônica, era constituída de dois momentos, uma dualidade com o caráter de exclusão (dois opostos). A adição do terceiro momento, proposta na dialética hegeliana, visava o caráter de superação e conservação, na busca da síntese entre opostos, onde a tese acomoda ou não a antítese, em infinitos movimentos de negação e acomodação, o que constitui o sistema hegeliano(3939. Hegel GWF. Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio 1830. v.1: A ciência da lógica. São Paulo: Loyola; 2007.). Na lógica hegeliana, “a dialética obriga a que não nos contentemos com a oposição dualista entre interesses particulares e interesse geral. A universalidade da instituição, pela mediação de cada caso particular, encarna-se nas formas singulares e diferenciadas”(3838. Lourau R. O instituinte contra o instituído. In: Altoé S. Analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004.).

Considerando-se a polissemia do conceito de instituição e a partir dos variados modos e usos nos estudos analisados (Quadro 3), ora tomado em sua dimensão imaterial, ora sua dimensão de regras, normas e leis, outras vezes sendo dois momentos, remetem a muitas possibilidades de análises. Entende-se que o jogo entre instituinte contra instituído pode resultar ou não na acomodação e conservação, podendo ser refutado ou aceito no processo de institucionalização, o que não invalida estudos que demonstrem apenas um ou outro momento do conceito, desde que apareça o processo de operação. Considera-se a AI um aporte teórico dinâmico e instituinte, com conceitos que podem ser dirigidos para operar práticas sociais, transformando-o, ao mesmo tempo que transforma realidades.

No entanto, alguns autores assinalam sobre o caráter polissêmico do conceito que isolar o instituído é deter-se na concepção positivista transcendente de instituição para com relações sociais reais. Isolar o instituinte, como tendem a fazer o economismo e o subjetivismo (psicologia dos grupos), é cair numa visão fenomenologista e psicologista. Isolar a institucionalização, como faz a sociologia das organizações e, em geral, a ideologia organizacionista, é autonomizar a racionalidade e a positividade das formas sociais, em detrimento da história, das contradições e da luta de classes(22. Lourau R, Lapassade G. Chaves da sociologia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1972.). Ou seja, para se captar o processo de institucionalização de toda instituição, torna-se “impossível isolar qualquer um dos três momentos”(44. L'Abbate S. Análise institucional e saúde coletiva: uma articulação em processo. In: L'abbate S, Mourão LC, Pezzato LM, organizadores. Análise institucional e saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p.31-88.).

Por outro lado, alguns autores mencionam a forma criativa com que o Brasil aproxima as vertentes da AI(3535. Baremblit GF. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática. 5ª ed. Belo Horizonte: Instituto Félis Guattari; 2002.) - Socioanálise e a Esquizoanálise - e opera os conceitos. A AI brasileira está, historicamente, marcada pelo hibridismo entre a corrente da Socioanálise francesa e a produção latino-americana sobre grupos - especialmente Grupo Operativo - que integra o movimento institucionalista, constituindo-se no que se chama de um “casamento heterogêneo”(4040. Rodrigues HBC, Barros RDB. Socioanalise e práticas grupais no Brasil: um casamento de heterogêneos. Psicol Clín, 2003;15(1):55-70.).

Houve uma variabilidade interessante nos objetos de estudo que optaram pela AI, conforme demonstrou o Quadro 2; no entanto, alguns objetos de pesquisa do campo da saúde foram pouco explorados, como o da área hospitalar, o qual apenas três estudos se propuseram a interrogar(1515. Gontijo TL, Xavier CC, Freitas MIF. Evauation of the implementation of kangaroo care by health administrators, professionals, and mothers of newborn infants. Cad Saúde Pública. 2012;28(5):935-44. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2012000500012
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-1616. Muniz MP, Tavares CMM. Understanding the nursing team on the educational processo of a psychiatric hospital. Rev Pesq Cuid Fundam Online. 2012;4(2):2883-97. DOI: http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361
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,1919. Sanches ICP, Couto IRR, Abrahão AL, Andrade M. Hospital treatment: right or concession to the hospitalized user? Ciênc Saúde Coletiva. 2013;18(1):67-76. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013000100008
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)
. Observou-se o crescimento da utilização do referencial da AI nos estudos relacionados à Saúde Coletiva e à Saúde Mental.

As instituições que atravessaram os objetos de estudo de forma explícita foram a educação (universidade, pesquisa, escola)(88. Romagnoli RC, Magnani NR. Nós e linhas: pesquisando a relação familia e equipe. Fractal Rev Psicol. 2012;24(2):287-306. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1984-02922012000200006
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,1010. Fortuna CM, Matumoto S, Camargo-Borges C, Pereira MJB, Mishima SM, Kawata LS, et al. Cartographic notes on the work in the family health strategy: relationships between workers and the population. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(3):657-64. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342012000300018
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,3333. Fortuna CM, Monceau G, Valentim S, Mennani KLE. Uma pesquisa socioclínica na França: notas sobre a análise institucional. Fractal Rev Psicol. 2014;26(2):255-66. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1309
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)
, o grupo(1010. Fortuna CM, Matumoto S, Camargo-Borges C, Pereira MJB, Mishima SM, Kawata LS, et al. Cartographic notes on the work in the family health strategy: relationships between workers and the population. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(3):657-64. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342012000300018
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)
, a saúde(1010. Fortuna CM, Matumoto S, Camargo-Borges C, Pereira MJB, Mishima SM, Kawata LS, et al. Cartographic notes on the work in the family health strategy: relationships between workers and the population. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(3):657-64. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342012000300018
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)
, a divisão técnica e social do trabalho(1010. Fortuna CM, Matumoto S, Camargo-Borges C, Pereira MJB, Mishima SM, Kawata LS, et al. Cartographic notes on the work in the family health strategy: relationships between workers and the population. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(3):657-64. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342012000300018
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)
, a justiça(1010. Fortuna CM, Matumoto S, Camargo-Borges C, Pereira MJB, Mishima SM, Kawata LS, et al. Cartographic notes on the work in the family health strategy: relationships between workers and the population. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(3):657-64. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342012000300018
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)
e a parentalidade(3333. Fortuna CM, Monceau G, Valentim S, Mennani KLE. Uma pesquisa socioclínica na França: notas sobre a análise institucional. Fractal Rev Psicol. 2014;26(2):255-66. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1309
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)
. Em outras investigações, as instituições apareceram de forma implícita, como: as profissões da saúde, as crenças/religiões, a família, o machismo e/ou sociedade patriarcal, a morte e o modelo biomédico de atenção à saúde.

Nos vários objetos de estudo analisados, a instituição pesquisa, por exemplo, foi colocada em análise, interrogando-se o procedimento metodológico - técnicas e/ou ferramentas, os lugares cristalizados do pesquisador, a neutralidade e a ideia da não interferência do entrevistador na produção de dados, a falta de experiência e habilidade dos pesquisadores e o limite do tempo e cronograma de pesquisa frequentemente impostos pelas agências e fundações de pesquisa no país. Estas são questões que explicitam a forma instituída dessa instituição e que atravessam os objetos de pesquisa analisados. Nesse sentido, a AI interroga os modos instituídos e hegemônicos de produção de conhecimento, colocando em cena a possibilidade de arranjos criativos e mais flexíveis, sendo ela própria instituinte da instituição pesquisa.

Conforme demonstrado no Quadro 3, o momento mais analisado do conceito de instituição foi o instituído. Percebeu-se que as normas e as leis se repetiram em instituição e no momento instituído, demonstrando que os autores optaram por usar umas dentre várias dimensões dos conceitos. Assim, “considera-se que o instituído contempla as formas sociais instaladas, reconhecidas e validadas socialmente, no ‘instituído’ colocaremos não só a ordem estabelecida, os valores, modos de representação e de organização considerados normais, como igualmente os procedimentos habituais de previsão (econômica, social e política)”(3737. Lourau R. Objeto e método da análise institucional. In: Altoé S. Analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004.-3838. Lourau R. O instituinte contra o instituído. In: Altoé S. Analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004.). Um equívoco conceitual que pode ocorrer na operação desse conceito é pensá-lo como algo ruim e que deva ser sempre substituído por outra prática social nova, como se o “novo” e a mudança fossem sempre melhor do que o “velho”. O “modo de analisar as instituições trouxe algumas dificuldades para a AI, sobretudo na identificação do instituinte com o ‘bom’ e do instituído com o ‘mau’”(44. L'Abbate S. Análise institucional e saúde coletiva: uma articulação em processo. In: L'abbate S, Mourão LC, Pezzato LM, organizadores. Análise institucional e saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p.31-88.). A substituição de práticas sociais instituídas por outras instituintes, dentre elas as práticas em saúde, exige que se tenha como centralidade as necessidades de saúde das pessoas e coletividades; assim, a operação dos conceitos da AI é dirigida para interrogar quais objetivos tais práticas desejam instituir, quais projetos de sociedade em implantação e a quem interessam. Portanto, o instituído pode representar algo melhor que o instituinte e vice-versa, a depender do ponto de vista da análise e do objeto em questão.

O segundo momento do conceito de instituição, o Instituinte, é descrito no Quadro 3. Este é constituído por forças sociais marginais que podem ou não ser reconhecidas pelas formas sociais instaladas, o que não é, necessariamente, bom ou ruim em relação ao instituído. “Por ‘instituinte’, entenderemos, ao mesmo tempo, a contestação, a capacidade de inovação e, em geral, a prática política como ‘significante’ da prática social”(3737. Lourau R. Objeto e método da análise institucional. In: Altoé S. Analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004.). Nos objetos de estudo analisados, destacaram-se processos instituintes que interrogaram o instituído. Dessa forma, a operação do momento pôde contribuir para manter práticas de saúde instituídas e/ou modificar aquelas que não estavam alinhadas com os pressupostos das instituições sob análise.

O terceiro momento analisado do conceito instituição foi Institucionalização, conforme descreve o Quadro 3, que foi o menos destacado pelos estudos. Esse terceiro momento incorpora a existência de outros dois momentos dentro da institucionalização: a institucionalização fundadora, compreendida como o momento inicial de criação e tomada de forma da instituição, e a institucionalização permanente, que consiste em reatualizar e retomar seu propósito de funcionamento ao longo do tempo, em direção ou não a seu propósito de criação(4141. Savoye A. Análise institucional e pesquisas sócio-históricas: estado atual e novas perspectivas. Mnemosine Internet . 2007 citado 2018 mar. 09 ;3(2):181-93. Disponível em: http://www.mnemosine.com.br/ojs/index.php/mnemosine/article/view/123/pdf_110.
http://www.mnemosine.com.br/ojs/index.ph...
)
. Trata-se do processo pelo qual a instituição se legitima e se mantém, ou não, ao longo do tempo, consistindo nos sucessivos processos de transformação que tornam sua existência duradoura ou efêmera. A análise dos sucessivos processos de institucionalização é fundamental; eles revelam capacidade de ajustes, refinamentos, de integrar suas contradições(4242. Monceau G. Pratiques socianalytiques et sócio-clinique intitutionnelle. L'Homme Société Internet . 2003 cité 2018 mar. 09 ;1(147):11-33. Disponible en: https://www.cairn.info/revue-l-homme-et-la-societe-2003-1-page-11.htm
https://www.cairn.info/revue-l-homme-et-...
)
. Para a AI, quanto mais transformações de acomodação do instituinte pelo instituído, mais duradoura a instituição se torna. A institucionalização é o terceiro momento da dialética hegeliana, “cabe ao momento da singularidade - momento da integração - em formas singulares de organização, de gestão, de administração, de funcionamento - assegurar a implicação institucional de cada indivíduo que constitui a sociedade. Neste sentido, a unidade negativa das formas sociais, sempre em equilíbrio instável, faz da singularidade o momento da regulação”(3737. Lourau R. Objeto e método da análise institucional. In: Altoé S. Analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004.). Um exemplo de longo processo de institucionalização é o da igreja católica: com mais de dois mil anos de existência, ela foi um dos objetos de estudo da AI(11. Lourau R. A Análise institucional. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; 2014.).

Os conceitos da AI agregaram conhecimento para área de enfermagem, assim como a psicologia, as duas áreas que mais publicaram trabalhos utilizando esse referencial teórico- metodológico no campo da saúde. Vários objetos de estudo analisados se constituem temas prioritários para as áreas da saúde e da enfermagem, os quais puderam ser interrogados a fim de se conhecer quais perspectivas atendem, se condizentes ou não, com os princípios e diretrizes do SUS. Desse modo, a AI contribuiu para analisar as formas sociais instituídas, seus modos de funcionamento, os movimentos instituintes, as instituições mais presentes e que têm atravessado o campo da saúde e da enfermagem, bem como seus processos de institucionalização.

Dentre os limites do estudo, destaca-se o número expressivo de publicações nos últimos cinco anos, o que ampliou a curiosidade de se conhecer outras formas de se colocar em ação a AI, as quais não se constituíram pesquisas. Sugere-se a produção de novas revisões para conhecer o panorama das teses e dissertações, de intervenções, dentre outras, para ampliar o conhecimento das experiências adquiridas com o tema no Brasil.

CONCLUSÃO

O panorama encontrado indicou que o arcabouço teórico-metodológico da AI oferece importante consistência para se analisar objetos de pesquisa da área da saúde, que estão atravessados por uma rede complexa e interligada de instituições, trazendo uma expansão a esse conceito. O conceito de instituição em seus três momentos - instituído, instituinte, institucionalização - sob análise nesta revisão integrativa, demonstrou tratar-se de um conceito-ferramenta capaz de interrogar práticas em saúde para melhor conhecê-las.

As múltiplas formas encontradas no emprego dos conceitos remeteram a uma criativa e interessante polissemia, com estudos que se aproximaram da perspectiva louraudiana, mas revelaram uma perspectiva paradigmática de produção de conhecimentos e práticas em saúde aberta e instituinte, que permite aproximar conceitos e favorecer a produção de novos modos de funcionamento das instituições.

Não se encontrou a criação de novos conceitos e tampouco concepções errôneas destes. Em nossa análise, a mais distante de todas se referia à compreensão de “instituição” como organização ou estabelecimento. Essa perspectiva se distancia da concepção que se apoia especialmente no postulado por esse referencial. É possível inferir que a forma polissêmica abordada pelos diferentes pesquisadores possa estar relacionada ao fato de como estes relacionaram tais conceitos com seus objetos de pesquisa, o que pode tê-los levado a reforçar uma determinada faceta do conceito de instituição ou seus movimentos (instituído, instituinte e institucionalização). Identificou-se nos artigos uma adoção parcial ou total dos conceitos da AI, ora apoiados no referencial da socioanálise e ora na esquizoanálise.

Como a Análise Institucional constitui-se como quadro teórico multirreferencial, percebeu-se que a maior parte dos objetos de estudo que optaram por ela dialogam com o campo da saúde coletiva, especialmente com os núcleos de conhecimento advindos das ciências sociais e da gestão.

O estudo revelou que, na área da saúde, a enfermagem e a psicologia têm adotado esse referencial teórico-metodológico e contribuído para interrogar objetos de estudo de temas prioritários, agregando conhecimento e propondo práticas de saúde mais condizentes com os princípios e diretrizes do SUS.

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  • Apoio financeiro:

    Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Bolsa de Treinamento Técnico 3.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    31 Out 2018
  • Aceito
    25 Set 2019
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