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Diagnóstico de enfermagem em pessoa idosa com risco para lesão por pressão* * Extraído da dissertação “Perfil de pessoas idosas hospitalizadas: fatores de risco, prevalência e intervenções para prevenção de lesões por pressão”, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande, 2020.

RESUMO

Objetivo:

Elaborar diagnósticos de enfermagem e plano de cuidados para indivíduos idosos com lesão por pressão com base nos fatores de risco, visando a prevenção de sua ocorrência nas pessoas idosas hospitalizadas.

Método:

Estudo exploratório, descritivo, transversal com abordagem quantitativa, realizado na Unidade de Clínica Médica de um Hospital Universitário, com 87 prontuários.

Resultados:

Entre as pessoas idosas que apresentaram algum risco para o desenvolvimento de lesão por pressão, verificou-se uma prevalência do sexo feminino, com mais de 80 anos de idade e classificados em risco moderado na Escala de Braden. Destacaram-se as intervenções de enfermagem que estimulam a mobilidade do paciente, controle da pressão, supervisão da pele, nutrição, incontinência e higiene.

Conclusão:

A enfermagem tem papel importante na manutenção da integridade da pele dos pacientes. Cabe salientar a utilização das escalas preditivas de lesão como dispositivo complementar à clínica, para auxiliar no diagnóstico de enfermagem com vistas às intervenções direcionadas aos fatores de risco.

DESCRITORES
Idoso; Hospitalização; Lesão por Pressão; Diagnóstico de Enfermagem; Cuidados de Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To develop nursing diagnoses and care plans for older adults with pressure injuries based on risk factors, aiming at preventing their occurrence in hospitalized older adults.

Method:

Exploratory, descriptive, cross-sectional, quantitative study conducted with 87 medical records at the Medical Clinic Unit of a University Hospital.

Results:

Among older adults at some risk for the development of pressure injury, there was a prevalence of the female sex, age over 80 years and moderate risk classification on the Braden Scale. Nursing interventions that encourage patient mobility, pressure control, skin supervision, nutrition, incontinence and hygiene stood out.

Conclusion:

Nursing has an important role in maintaining the integrity of patients’ skin. It is worth highlighting the use of injury predictive scales as a complement to clinical practice in order to assist in the nursing diagnosis with a view to interventions aimed at risk factors.

DESCRIPTORS
Aged; Hospitalization; Pressure Ulcer; Nursing Diagnosis; Nursing Care

RESUMEN

Objetivo:

Desarrollar diagnósticos y planes de atención de enfermería para adultos mayores con lesiones por presión basados en factores de riesgo, con el objetivo de prevenir su ocurrencia en adultos mayores hospitalizados.

Método:

Estudio exploratorio, descriptivo, transversal y cuantitativo realizado en la Unidad de Clínica Médica de un Hospital Universitario con 87 historias clínicas.

Resultados:

Entre los adultos mayores con algún riesgo de desarrollar una lesión por presión, hubo una prevalencia del sexo femenino, mayor de 80 años y clasificado en riesgo moderado en la Escala de Braden. Destacaron las intervenciones de enfermería que favorecen la movilidad del paciente, el control de la presión, la supervisión cutánea, la nutrición, la incontinencia y la higiene.

Conclusión:

La enfermería tiene un papel importante en el mantenimiento de la integridad de la piel de los pacientes. Cabe destacar el uso de escalas predictivas de lesiones como complemento a la práctica clínica para ayudar en el diagnóstico de enfermería con miras a intervenciones dirigidas a factores de riesgo.

DESCRITORES
Anciano; Hospitalización; Úlcera por Presión; Diagnóstico de Enfermería; Atención de Enfermería

INTRODUÇÃO

As Lesões por Pressão (LP) são feridas consideradas crônicas que ocorrem devido à compressão da pele com uma superfície, por tempo prolongado, levando à morte celular. Geralmente isto ocorre em uma área sobre proeminência óssea e pode estar relacionado ao uso de dispositivos médicos. Podem ser classificadas em grau de estadiamento do 1 ao 4, que, em ordem crescente, representam a extensão do dano ocasionado na pele. Tal dano é determinado pela intensidade e duração da pressão e sofre influência de fatores intrínsecos e extrínsecos. Os intrínsecos são relacionados ao próprio organismo, como redução e/ou perda da sensibilidade, força muscular e imobilidade. Os extrínsecos dizem respeito às influências do meio externo, como fricção, cisalhamento e umidade(11. National Pressure Ulcer Advisory Panel. Pressure injury stages: overview of our updated staging definitions as of 2016. Washington: NPUAP; 2016.).

Levando-se em consideração os fatores intrínsecos e extrínsecos influenciadores da LP, a população idosa apresenta risco significativo de desenvolvimento das mesmas, pois além do envelhecimento fisiológico, chamado de senescência, que pode estar ligado ao declínio das reservas homeostáticas e da resposta às agressões; tem-se a senilidade, termo relacionado às doenças e causas externas que seguidamente resultam em comorbidades múltiplas e representam a principal causa das incapacidades da pessoa idosa. Tanto a senilidade quanto a senescência podem desencadear dependência funcional, que afeta ainda mais as reservas homeostáticas e gera um ciclo vicioso associado à progressão das incapacidades, hospitalização e óbito(22. Paraná. Secretaria de Estado da Saúde; Superintendência de Atenção à Saúde. Avaliação multidimensional do idoso [Internet]. Curitiba: SESA; 2017 [cited 2020 ago. 25]. Available from: http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/Apostila_Idoso241017.pdf
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).

No que diz respeito às pessoas idosas hospitalizadas, um estudo realizado em Portugal buscou estimar o efeito das LP no aumento do tempo da internação hospitalar e os ganhos na área da saúde provenientes das intervenções preventivas dos enfermeiros. Os dados foram coletados durante nove meses consecutivos e houve 8274 internações de pessoas com 65 anos ou mais, sendo a média de internação de 9–11 dias. Logo, foi possível identificar o tempo de internação por grau de estadiamento de uma LP: um paciente que desenvolve LP grau 1 permanece hospitalizado por mais 9,07% de tempo, o grau 2 por mais 13,61%, o grau 3 por mais 22,28% e o grau 4 por mais 55,99%. O autor afirma que a investigação é um ato fundamental para justificar a prevenção, objetivando sustentabilidade e melhoria da assistência(33. Venâncio B, Alves E, Ruano C, Matos D, Valente S, Abreu N, et al. O impacto económico da prevenção de úlceras de pressão num hospital universitário. J Bras Econ Saúde. 2019;11(1):64-72. https://doi.org/10.21115/JBES
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).

Este é um tema de relevância para a prática clínica, especialmente no que se refere ao cuidado de enfermagem, pois a incidência das LP, “além de relacionar-se com a condição clínica da pessoa idosa, reflete diretamente a qualidade da assistência prestada pelos profissionais de saúde, uma vez que sua prevenção é de fácil execução e baixo custo”(44. Souza NR, Freire DA, Souza MAO, Santos ICRV, Santos LV, Bushatsky M. Fatores predisponentes para o desenvolvimento da lesão por pressão em pacientes idosos: uma revisão integrativa. Estima. 2017;15(4):229-39. https://doi.org/10.5327/Z1806-3144201700040007
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).

No contexto da prevenção, o cuidado de enfermagem com a pessoa idosa em risco de desenvolver LP é essencial e deve estar focado na busca de informações, por meio de uma anamnese completa e exame físico detalhado, identificando os fatores de risco para LP e os diagnósticos de enfermagem específicos, elaborando um plano de assistência, implementando intervenções e avaliando os resultados(55. Lopes TF, Fernandes BKC, Alexandre SG, Farias FS, Day TC, Freitas MC. Medicamentos e sua relação com o desenvolvimento de lesão por pressão em idosos hospitalizados. Rev Online Pesq Cuid Fundam. 2020;12:212-16. https://doi.org/10.9789/2175-5361.rpcfo.v12.7993
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). Assim sendo, o estudo tem como objetivo elaborar diagnósticos de enfermagem e plano de cuidados para indivíduos idosos com lesão por pressão com base nos fatores de risco, visando a prevenção de sua ocorrência nas pessoas idosas hospitalizadas.

MÉTODO

Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, transversal com abordagem quantitativa.

Cenário

Foi realizado em um hospital universitário localizado em um município do Rio Grande do Sul. Este hospital está vinculado a uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES).

População

Como critério de inclusão, foram selecionados os prontuários de todos os pacientes com idade igual ou superior a 60 anos de idade, internados na mencionada unidade no período de coleta dos dados. Os critérios de exclusão foram selecionados de acordo com os objetivos do artigo, excluindo prontuários que não possuíam informações completas, de pacientes que já possuíam LP instalada e de pacientes que não apresentavam escore da escala de Braden (EB). Foram incluídos no estudo um total de 101 prontuários e foram excluídos: um, que apresentou informações incompletas; 11, de pacientes que já apresentavam LP; e dois que não apresentavam a EB. Restaram 87 participantes.

Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada nos prontuários dos pacientes idosos internados na Unidade de Clínica Médica (UCM) do Hospital Universitário. A coleta inicial foi realizada entre 7 de fevereiro e 31 de maio de 2019. A extração dos dados para a construção do presente artigo ocorreu a partir do mês de abril do mesmo ano.

Um instrumento foi utilizado para auxiliar na coleta e registro dos dados contendo questões sociodemográficas, história clínica, motivo da internação e medicações utilizadas. Para responder aos objetivos deste artigo, foram selecionadas as seguintes questões: sexo; idade; estado marital; renda mensal; doenças crônicas; hábitos de vida (tabagismo e etilismo); peso e altura (IMC); exames laboratoriais (hematócrito, hemoglobina, glicemia e leucócitos); restrição à dieta hospitalar; controle de eliminações (urinária e intestinal); restrição de posicionamento; necessidade de auxílio para locomoção; presença de LP; e por fim, o escore da EB.

Para as variáveis relacionadas aos exames laboratoriais, utilizou-se como valores normais: hematócrito de 45% a 52% para homens e de 37% a 48% para mulheres; hemoglobina de 13,8 g/dl a 17,2 g/dl para homens e de 12,1 g/dl a 15,1 g/dl para mulheres; leucócitos de 4.300 a 10.800 células por milímetro cúbico(66. Organização Pan-Americana da Saúde. Hemograma completo. Brasília: OPAS; 2017.); e glicemia de 60 mg/dl a 100 mg/dl(77. Organização Pan-Americana da Saúde. Conheça os níveis de açúcar no sangue. Brasília: OPAS; 2019.). Os valores de referência do IMC foram utilizados de acordo com o Tratado de Geriatria e Gerontologia(88. Freitas VF, Costa EFA, Galera SC. Avaliação geriátrica ampla. In: Freitas EV, Py L. Tratado de geriatria e gerontologia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p. 415-54.), sendo: baixo peso, menor ou igual a 22; adequado, maior que 22 e menor que 27; e sobrepeso, maior ou igual a 27.

Análise e Tratamento dos Dados

Para a organização dos dados, foi elaborada uma planilha no programa Microsoft® Excel 2016 contendo um dicionário (codebook). A análise dos dados contou com o auxílio do software Statistical Package for the Social Sciences® (SPSS), versão 20.0. Foi realizada uma análise estatística descritiva, com descrição da frequência absoluta e relativa das variáveis. Também foi realizada uma análise inferencial, na qual se utilizou o teste qui-quadrado para verificar a associação entre a variável categórica dependente (risco de lesão) e demais variáveis. Para as análises inferenciais foram considerados o nível de significância de p < 0,05.

A partir dos fatores de risco, foi proposto um plano de cuidados com as intervenções de enfermagem segundo a taxonomia da Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC)(99. Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman JM. Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC). 5ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2010.). Para isso, foram atribuídos diagnósticos de enfermagem, considerando suas características definidoras e fatores relacionados/de risco a partir da North American Nursing Diagnosis Association International (NANDA-I). Os diagnósticos de enfermagem são realizados pelo enfermeiro, após anamnese e exame físico completo no paciente, o que não foi realizado neste estudo, portanto, foram listados os possíveis diagnósticos de enfermagem dos pacientes da amostra de acordo com os fatores de risco (associados) para o desenvolvimento de LP(1010. NANDA Internacional. Diagnósticos de enfermagem da NANDA-I: definições e classificação 2018-2020. Porto Alegre: Artmed; 2018.).

Utilizou-se também a taxonomia Classificação dos Resultados de Enfermagem (NOC) para atribuir os resultados esperados para cada diagnóstico de enfermagem(1111. Moorhead SUE, Johnson M, Maas ML, Swanson FE. Classificação dos Resultados de Enfermagem (NOC): mensuração dos resultados em saúde. 5ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016.).

Aspectos Éticos

Este estudo faz parte de um macroprojeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o Parecer n. 166/2018 e consentido pela Gerência de Ensino e Pesquisa do hospital onde foi desenvolvido. Está em conformidade com a Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, que diz respeito à pesquisa com seres humanos.

RESULTADOS

Dos 87 idosos, 24 (27,6%) apresentaram risco para LP segundo a EB. Destes, cinco (20,8%) risco leve, 16 (66,7%) risco moderado, e, três (12,5%) risco grave. Tanto os idosos hospitalizados com risco, como sem risco apresentavam-se em sua maioria com companheiro e com renda entre dois e três salários mínimos. Os idosos hospitalizados com risco para lesão diferiram em relação ao sexo e faixa etária, sendo a maioria do sexo feminino (54,2%) e com 80 anos ou mais (37,5%). Nenhuma variável sociodemográfica apresentou associação estatística significativa (p < 0,05) com o risco para LP. Estes dados são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1
Distribuição de frequência das variáveis sociodemográficas de idosos hospitalizados de acordo com a presença de risco para Lesão por Pressão – Rio Grande, RS, Brasil, 2019.

A maioria dos idosos internados, com ou sem risco para LP, tinha doenças crônicas, era tabagista, não era etilista, não tinha controle urinário, não tinha controle intestinal, tinha dieta normal, não apresentava restrição de posição, não necessitava de auxílio para locomoção e tinha IMC adequado. O perfil dos idosos com risco para lesão foi semelhante, havendo apenas percentual um pouco maior de pessoas com restrição de posição e que necessitavam de auxílio para locomoção, em comparação com os sem risco. A única variável que diferiu complemente foi ser acamado, sendo que os com risco eram em sua maioria acamados e os sem risco, não. Neste sentido, houve uma associação estatística significativa entre as variáveis ser acamado, restrição de posição e necessitar de auxílio para locomoção e a presença de risco com valor de p < 0,001, p = 0,019 e p = 0,002 respectivamente, como mostra a Tabela 2.

Tabela 2
Distribuição de frequência das variáveis relacionadas à saúde de idosos hospitalizados de acordo com a presença de risco para Lesão por Pressão – Rio Grande, RS, Brasil, 2019.

A maioria dos idosos hospitalizados, tanto com risco como sem risco, tinha hematócrito com valor de referência abaixo do normal, hemoglobina abaixo do normal, glicemia normal, leucócitos normais. O perfil dos idosos com risco para lesão foi semelhante, havendo apenas percentual maior de pessoas com valores de hemograma e hemoglobina abaixo do normal e com leucócitos acima do normal. Contudo, não houve uma associação estatística significativa entre as variáveis referentes aos exames laboratoriais e a presença de LP.

A partir destes resultados, poucas variáveis apresentaram relação estatística com o risco de desenvolvimento de LP, sendo elas: ser acamado, restrição de posicionamento no leito e necessidade de auxílio para locomoção. Mesmo assim, tendo em vista que a prevenção se dá a partir do conhecimento e intervenção de todos os fatores que contribuem para o surgimento dessas lesões, para a elaboração dos DE e do plano de cuidados, foram considerados todos os fatores de risco encontrados nos prontuários, conforme Quadro 1.

Quadro 1
Diagnósticos de enfermagem, fatores associados, resultados esperados e intervenções de enfermagem – Rio Grande, RS, Brasil, 2020.

A partir da visão geral das ligações NANDA – NIC – NOC para cada diagnóstico de enfermagem pertinente, foi elaborado o plano de cuidados para pacientes com risco para o desenvolvimento de LP, segundo as principais intervenções de enfermagem da NIC. Predominaram intervenções relacionadas com a mobilidade do paciente, observadas em todos os diagnósticos de enfermagem propostos, seguidas de intervenções relacionadas ao controle da pressão, supervisão e controle/monitoração da nutrição. Por último e não menos importante, apareceram as intervenções relacionadas com a incontinência urinária/intestinal e higiene.

DISCUSSÃO

No âmbito da segurança do paciente, a EB é utilizada como um indicador de saúde por seu cunho preventivo e fornece apoio para uma avaliação global do risco para o desenvolvimento de LP(1212. Debon R, Fortes VLF, Rós ACR, Scaratti M. A visão de enfermeiros quanto a aplicação da Escala de Braden no paciente idoso. Rev Online Pesqui Cuid Fundam. 2018;10(3):817-23. http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361.2018.v10i3.817-823
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). Neste sentindo, optou-se pela EB como ferramenta para mensurar o risco de LP, pois a mesma apresenta predominância na utilização quando comparada as outras escalas preditivas de LP(1313. Castanheira LS, Werli-Alvarenga A, Correa AR, Campos DMP. Escalas de predição de risco para lesão por pressão em pacientes criticamente enfermos: revisão integrativa. Enferm Foco. 2018;9(2):55-61.1414. Salgado LP, Pontes APM, Costa MM, Gomes ENF. Escalas preditivas utilizadas por enfermeiros na prevenção de lesão por pressão. Saber Digital. 2018;11(1):18-35.).

A amostra total do estudo, revisão de literatura que objetivou identificar fatores predisponentes para o surgimento de LP em pessoas idosas, corrobora os achados, já que a maioria dos artigos analisados na revisão relacionou o sexo feminino com o risco para LP e nove dos 21 artigos trouxeram o extremo de idade como fator predisponente(44. Souza NR, Freire DA, Souza MAO, Santos ICRV, Santos LV, Bushatsky M. Fatores predisponentes para o desenvolvimento da lesão por pressão em pacientes idosos: uma revisão integrativa. Estima. 2017;15(4):229-39. https://doi.org/10.5327/Z1806-3144201700040007
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). Assim como pesquisa que objetivou avaliar a ocorrência e os fatores de risco para o desenvolvimento de LP em pacientes internados em três unidades de um hospital de Minas Gerais, onde a maioria dos participantes que desenvolveram LP eram idosos, de 60 a 96 anos, mulheres e brancas(1515. Barbosa JM, Salomé GM. Occurrence of pressure injury in patients hospitalized in a school hospital. Estima. 2018;16:e2718. https://doi.org/10.30886/estima.v16.523
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).

Das variáveis que se manifestaram nos pacientes com risco para desenvolvimento de LP, aquelas relacionadas com mobilidade, como ser acamado, ter restrição de posição e necessitar de auxílio para locomoção, se destacaram. Para isso, considerou-se restrição de posicionamento quando o paciente tem algum tipo de limitação que restringe o seu posicionamento no leito, como por exemplo, fraturas ou procedimentos cirúrgicos. Além disso, ao tratar da necessidade de auxílio para locomoção, entende-se que ao deambular ou locomover-se fora do leito, o paciente necessita ou não do auxílio de equipamentos ou de familiares/acompanhantes.

Cabe ao enfermeiro, de forma educativa e informativa, orientar o restante da equipe e familiares/pacientes, quanto aos cuidados de mudança de decúbito, hidratação da pele, uso de colchões pneumáticos, uso de coxins de apoio e travesseiros para proteção das áreas vulneráveis e uso de equipamentos que auxiliam na movimentação e posicionamento(1414. Salgado LP, Pontes APM, Costa MM, Gomes ENF. Escalas preditivas utilizadas por enfermeiros na prevenção de lesão por pressão. Saber Digital. 2018;11(1):18-35.). Esses cuidados visam a prevenção da LP, principalmente nos idosos com os fatores de risco relacionados a mobilidade, identificados no presente estudo. Estes são alguns exemplos de intervenções de fácil utilização e baixo custo para a instituição, que se não realizadas, podem representar o estopim para o comprometimento da pele.

No presente estudo, os exames laboratoriais não apresentaram associação estatística significativa com o risco de desenvolvimento de LP, embora a maioria dos pacientes com risco apresentasse valores de hemograma e hemoglobina abaixo do normal e leucócitos acima do normal. Em estudo realizado no estado do Paraná, o risco para LP mostrou associação estatística somente com os níveis baixos de albumina(1616. Fernandes LM, Silva L, Oliveira JLC, Souza VS, Nicola AL. Associação entre predição para lesão por pressão e marcadores bioquímicos. Rev Rene. 2016;17(4):490-7. https://doi.org/10.15253/2175-6783.2016000400008
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).

Destaca-se a importância do conhecimento do enfermeiro sobre todos os parâmetros bioquímicos, contribuindo para a prática baseada em evidências na prevenção de LP, uma vez que, tendo domínio sobre os indicadores bioquímicos, o profissional é capaz de elaborar um plano de cuidados mais assertivo. Neste sentido, o tratamento e a prevenção de lesões são aspectos que potencializam a autonomia do enfermeiro(1616. Fernandes LM, Silva L, Oliveira JLC, Souza VS, Nicola AL. Associação entre predição para lesão por pressão e marcadores bioquímicos. Rev Rene. 2016;17(4):490-7. https://doi.org/10.15253/2175-6783.2016000400008
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).

Neste âmbito, estudo com o objetivo de “estabelecer relações entre as intervenções e os resultados de enfermagem para o diagnóstico de risco de lesão por pressão em pacientes críticos”, estabeleceu resultados e intervenções para cada fator/domínio presente na EB: 100% dos pacientes eram acamados, 60,3% apresentaram maior possibilidade de fricção/cisalhamento e 52,4% apresentaram nutrição prejudicada(1717. Caldini LN, Silva RA, Melo GAA, Pereira FGF, Frota NM, Caetano JA. Intervenções e resultados de enfermagem para risco de lesão por pressão em pacientes críticos. Rev Rene. 2017;18(5):598-605. https://doi.org/10.15253/2175-6783.2017000500006
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). Destaca-se a relação com o estudo atual, em que predominaram intervenções acerca da mobilidade. Salienta-se a importância de cada domínio da EB como fator de risco para a elaboração do plano de cuidados e a necessidade de sua presença nos prontuários dos pacientes.

Além dos fatores de risco já discutidos, a respeito da mobilidade, controle da pressão e supervisão da pele, destaca-se o aspecto nutricional, onde o enfermeiro deve atuar ativamente, uma vez que ele tem contato diário com o paciente e observa fatores como a deglutição e a aceitação da dieta oferecida. Estudo recente destaca a realização precoce da avaliação nutricional, que constitui uma ferramenta fundamental no reconhecimento de pessoas idosas desnutridas ou em risco nutricional. O estado nutricional dos pacientes deve ser avaliado de forma que o aporte de energia e proteína seja garantido conforme o recomendado pelas diretrizes(1818. Oliveira KDL, Haack A, Fortes RC. Estado nutricional de idosos e prevalência de lesão por pressão na assistência domiciliar. Rev Enferm Atual. 2017;(n.esp). https://doi.org/10.31011/reaid-2017-v.2017-n.0-art.551
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).

Por último e não menos importante, apareceram as intervenções referentes a incontinência urinária/intestinal e higiene. A incontinência traz consequências fisiológicas e psicológicas, uma vez que os pacientes muitas vezes não aceitam submeter-se ao uso de fraldas geriátricas. E quando o uso se faz necessário, pode colaborar para umidade da pele e predispor a ocorrência de LP. Em estudo atual, ao analisar o uso de fraldas em pacientes adultos e idosos, os autores destacaram que se trata de uma prática não padronizada, em que critérios de cognição, mobilidade e a própria presença de incontinência não são rastreados(1919. Bitencourt GR, Alves LAF, Santana RF. Prática do uso de fraldas em adultos e idosos hospitalizados: estudo transversal. Rev Bras Enferm. 2018;71(2). http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0341
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).

Ainda neste sentido, estudo desenvolvido com o objetivo de analisar o perfil sociodemográfico e clínico associado aos cuidados com a pele e feridas em pessoas idosas hospitalizadas identificou um alto número de intervenções de enfermagem associadas aos cuidados com a pele(1919. Bitencourt GR, Alves LAF, Santana RF. Prática do uso de fraldas em adultos e idosos hospitalizados: estudo transversal. Rev Bras Enferm. 2018;71(2). http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0341
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). A necessidade de intervenções de enfermagem se mostrou relevante, tanto na associação entre hospitalização prolongada, doenças crônicas e envelhecimento, que demonstraram forte relação com LP, quanto na associação entre extremos de idade e o envelhecimento da pele(2020. Silva CFR, Santana RF, Oliveira BGRB, Carmo TG. High prevalence of skin and wound care of hospitalized elderly in Brazil: a prospective observational study. BCM Res Notes. 2017;10(1):81. https://doi.org/10.1186/s13104-017-2410-6
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).

No presente estudo, foram consideradas as intervenções possíveis de serem implementadas com pacientes idosos dentro do ambiente hospitalar, tendo em vista que, durante uma internação, deve-se ter a participação de uma equipe multidisciplinar para atuação. Cada intervenção de enfermagem considera diversas atividades que podem ser desenvolvidas pelos enfermeiros, mas segundo a NIC, muitas intervenções exigem treinamento especializado dos enfermeiros, enquanto outras descrevem práticas que podem ser desenvolvidas por técnicos, mas devem sempre ser planejadas e avaliadas por enfermeiros(99. Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman JM. Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC). 5ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2010.).

Estimula-se novas pesquisas acerca das intervenções de enfermagem capazes de atuar na prevenção de LP, principalmente em pacientes idosos, por se tratar de uma população vulnerável a agravos, considerando que se uma internação hospitalar for necessária, que seja rápida e resolutiva, pois eventos como as LP podem ser fatais neste público.

As LP representam um problema que atinge os pacientes, o sistema de saúde e a equipe de trabalho, especialmente os profissionais de enfermagem. Neste sentido, este estudo contribui para a área da saúde, quando se pensa nas diversas consequências da falta de prevenção das LP, principalmente no ambiente hospitalar e com pacientes idosos, onde este agravo pode levar a óbito.

O estudo apresentou limitações no que diz respeito às informações contidas nos prontuários, uma vez que a EB não pôde ser analisada considerando seus domínios, somente a pontuação final.

CONCLUSÃO

Os resultados e as intervenções de enfermagem foram propostos tendo em vista os diagnósticos possíveis para estes pacientes, destacando intervenções que estimulam a mobilidade do paciente, controle da pressão, supervisão da pele, nutrição, incontinência e higiene.

A elaboração de DE e intervenções possibilita a sistematização do cuidado prestado pelo enfermeiro, estimulando o raciocínio clínico com o objetivo de prestar um cuidado qualificado e individualizado para as necessidades individuais das pessoas idosas com lesões cutâneas, desde a identificação dos fatores de risco até a avaliação dos resultados esperados. Visando a prevenção de lesões por pressão, o presente estudo contribui para divulgar um plano de cuidados elaborado especificamente para a pessoa idosa hospitalizada, enaltecendo a importância do domínio do enfermeiro sobre as ferramentas científicas envolvidas na profissão.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    05 Dez 2020
  • Aceito
    23 Mar 2021
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