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Estudo de caso de um adolescente segundo o Modelo Teórico do Ajuste ao Cancro Parental

RESUMO

Objetivo:

descrever e analisar experiência de um adolescente a vivenciar cancro parental, fundamentado no Modelo Teórico do Ajuste dos Adolescentes ao Cancro Parental, e prescrever intervenções de enfermagem em linguagem classificada.

Método:

estudo de caso único, tipo qualitativo, de adolescente de 16 anos de idade a vivenciar cancro da mãe. Analisou-se uma entrevista semiestruturada, baseada em um roteiro concetualizado pelo modelo teórico selecionado. Tratamento de dados ocorreu através de análise de conteúdo. Obteve-se autorização da Comissão de Ética TI 25/2020.

Resultados:

a análise da entrevista do adolescente permitiu identificar categorias concordantes com as variáveis do modelo. As dimensões de ajuste psicossocial e sintomas de resposta ao estress, como performance acadêmica e sintomas somáticos, foram reconhecidas no processo de ajuste do adolescente. As intervenções de enfermagem serão focadas na educação e apoio.

Conclusão

o modelo teórico contribuiu para avaliar as necessidades do adolescente a vivenciar cancro parental, permitindo prescrever intervenções de enfermagem em linguagem classificada que considerem variáveis moderadoras e mediadoras, promovendo-se o ajuste. O modelo demonstrou ser adequado para futuras intervenções a adolescentes a experienciar situações semelhantes.

DESCRITORES
Adolescente; Neoplasias; Enfermagem; Modelos Teóricos

ABSTRACT

Objective:

To describe and analyze the experience of an adolescent experiencing parental cancer, based on A Model of Children’s Adjustment to Parental Cancer, and to prescribe nursing interventions in classified language.

Method:

This is a single case study, qualitative, of a 16-year-old adolescent experiencing maternal cancer. We analyzed a semi-structured interview, based on a script conceptualized by the selected theoretical model. Data processing took place through content analysis. Authorization was obtained from the Research Ethics Committee TI 25/2020.

Results:

The analysis of the adolescent’s interview allowed identifying categories in agreement with the model variables. Psychosocial adjustment dimensions and stress response symptoms, such as academic performance and somatic symptoms, were recognized in the adolescent’s adjustment process. Nursing interventions will focus on education and support.

Conclusion:

The theoretical model contributed to assess the needs of adolescents experiencing parental cancer, allowing nursing interventions to be prescribed in classified language that consider moderating and mediating variables, promoting adjustment. The model proved to be suitable for future interventions for adolescents experiencing similar situations.

DESCRIPTORS
Adolescent; Neoplasms; Nursing; Models; Theoretical

RESUMEN

Objetivo:

Describir y analizar la experiencia de un adolescente con cáncer en los padres, a partir del Modelo Teórico de Adaptación del Adolescente al Cáncer en los Padres, y prescribir intervenciones de enfermería en lenguaje clasificado.

Método:

Estudio de caso único, cualitativo, de una adolescente de 16 años con cáncer materno. Se analizó una entrevista semiestructurada, a partir de un guión conceptualizado por el modelo teórico seleccionado. El procesamiento de datos se llevó a cabo a través del análisis de contenido. Se obtuvo autorización del Comité de Ética TI 25/2020.

Resultados:

El análisis de la entrevista adolescente permitió la identificación de categorías de acuerdo con las variables del modelo. En el proceso de ajuste del adolescente se reconocieron dimensiones de ajuste psicosocial y síntomas de respuesta al estrés, como rendimiento académico y síntomas somáticos. Las intervenciones de enfermería se centrarán en la educación y el apoyo.

Conclusión:

El modelo teórico contribuyó para evaluar las necesidades de los adolescentes que experimentan cáncer en los padres, permitiendo que las intervenciones de enfermería sean prescritas en un lenguaje clasificado que considere variables moderadoras y mediadoras, promoviendo el ajuste. El modelo demostró ser adecuado para futuras intervenciones con adolescentes en situaciones similares.

DESCRIPTORES
Adolescente; Neoplasias; Enfermería; Modelos Teóricos

INTRODUÇÃO

A taxa de incidência de cancro nos adultos jovens tem aumentado significativamente nas últimas décadas. A nível internacional, estima-se que 15% das pessoas com cancro têm entre 20 e 50 anos(11. O’Neill C, O’Neill CS, Semple C. Children navigation parental cancer: outcomes of a psychosocial intervention. Compr Child Adolesc Nurs. 2020;43(2):111-27. doi: http://dx.doi.org/10.1080/24694193.2019.1582727. PubMed PMID: 30875484.
http://dx.doi.org/10.1080/24694193.2019....
).

O cancro parental compreende a vivência de cancro pelo doente e família, constituindo uma experiência estressante e perturbadora para toda a família, face à natureza da doença, às suas consequências físicas e psicológicas, incerteza sobre o futuro e potencial de ameaça de morte, podendo causar sofrimento e alterações na interação da díade(22. Kazlauskaite V, Fife ST. Adolescent experience with parental cancer and involvement with medical professionals: a heuristic phenomenological inquiry. J Adolesc Res. 2021;36(4):371-97. doi: http://dx.doi.org/10.1177/0743558420985446.
http://dx.doi.org/10.1177/07435584209854...
). Pode ser principalmente desafiador para as crianças e adolescentes(33. Karayağmurlu A, Naldan ME, Temelli O, Cos¸kun M. The evaluation of depression, anxiety and quality of life in children living with parental cancer: a case-control study. J Clin Psy. 2021;24(1):5-14. doi: http://dx.doi.org/10.5505/kpd.2020.87699.
http://dx.doi.org/10.5505/kpd.2020.87699...
).

Os adolescentes são uma população particularmente vulnerável, quando confrontada com o cancro dos pais, evidenciando ansiedade e depressão(22. Kazlauskaite V, Fife ST. Adolescent experience with parental cancer and involvement with medical professionals: a heuristic phenomenological inquiry. J Adolesc Res. 2021;36(4):371-97. doi: http://dx.doi.org/10.1177/0743558420985446.
http://dx.doi.org/10.1177/07435584209854...
,44. Landi G, Duzen A, Patterson P, McDonald F, Crocetti E, Grandi S, et al. Illness unpredictability and psychosocial adjustment of adolescent and young adults impacted by parental cancer: the mediating role of unmet needs. Support Care Cancer. 2022;30(1):145-55. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-06379-3. PubMed PMID: 34241699.
http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-063...
). O desenvolvimento do pensamento abstrato e o aumento das habilidades cognitivas os tornam mais suscetíveis à angústia, pois têm maior percepção sobre as consequências do cancro, como perdas, dor física e emocional dos pais(22. Kazlauskaite V, Fife ST. Adolescent experience with parental cancer and involvement with medical professionals: a heuristic phenomenological inquiry. J Adolesc Res. 2021;36(4):371-97. doi: http://dx.doi.org/10.1177/0743558420985446.
http://dx.doi.org/10.1177/07435584209854...
). Os adolescentes que vivem com um pai com doença oncológica têm maior risco de internalização (depressão, ansiedade, sintomas somáticos), problemas de externalização (comportamentos agressivos, delinquentes), menor qualidade de vida e alterações no desempenho escolar(44. Landi G, Duzen A, Patterson P, McDonald F, Crocetti E, Grandi S, et al. Illness unpredictability and psychosocial adjustment of adolescent and young adults impacted by parental cancer: the mediating role of unmet needs. Support Care Cancer. 2022;30(1):145-55. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-06379-3. PubMed PMID: 34241699.
http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-063...
).

Considerando as repercussões e desafios que a doença coloca, não só aos doentes mas também aos filhos, torna-se necessária uma intervenção de enfermagem inclusiva da díade(55. Tafjord T, Ytterhus B. Nurses’ realisation of an inadequate toolbox for approaching adolescents with a parent suffering from cancer: a constructivist grounded theory study. Nourdic J Nurs Res. 2021. Ahead of print. doi: https://doi.org/10.1177/20571585211035021.
https://doi.org/10.1177/2057158521103502...
). No entanto, apesar do impacto do cancro na díade pais-filhos, não existem orientações específicas relativas aos cuidados e relação com as famílias que experienciam tal realidade(66. Melchiors L, Geertz W, Inhestern L. Parental cancer: acceptance and usability of an information booklet for affected parents. Front Psychol. 2022;13(13):769298. doi: http://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2022.769298. PubMed PMID: 35282192.
http://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2022.769...
).

Como base conceptual para a intervenção de enfermagem, considerou-se como padrão de referência o Modelo Teórico do Ajuste dos Adolescentes ao Cancro Parental (MTAACP), proposto por Su e Ryan-Wenger(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
). Apesar de a evidência identificar pelo menos dois modelos, apenas o MTAACP incorpora a intervenção de enfermagem. O MTAACP ilustra a forma como conceitos importantes, como o ajuste e a adaptação, relacionam-se e como algumas variáveis moderam ou medeiam o ajuste à vivência do cancro parental(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
). Além disso, apresenta como princípios filosóficos a teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget, a teoria do Stress e Coping de Lazarus & Folkman e a teoria dos Sistemas Familiares de Bowen(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
).

O objetivo deste estudo foi descrever e analisar a vivência do cancro parental por um adolescente, a partir do MTAACP, e prescrever intervenções de enfermagem recorrendo à linguagem classificada.

MÉTODO

Tipo do Estudo

Estudo caso único, que se insere no paradigma do tipo qualitativo, relativo ao ajuste do adolescente à vivência do cancro parental. Para o desenvolvimento do estudo, usamos o checklist COREQ.

Modelo do Ajuste Teórico dos Adolescentes ao Cancro Parental

O MTAACP refere que o diagnóstico de cancro conduz, invariavelmente, ao estresse psicológico e social nos adolescente e que os fatores que contribuem para a adaptação do adolescente podem ser classificados como moderadores e mediadores. As variáveis preexistentes que influenciam a situação geradora de stress foram denominadas moderadoras, e as variáveis que exercem a sua influência após o diagnóstico da doença parental, mediadoras(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
). As variáveis moderadoras nos adolescentes incluem características, como a idade, sexo, desenvolvimento cognitivo e socioemocional, e experiências prévias de outro familiar com cancro e/ou outra doença grave. As variáveis moderadoras no progenitor incluem idade, sexo, estado civil e natureza da doença (tipo de tumor, estágio da doença, tempo desde o diagnóstico), nível socioeconómico familiar e rede de suporte social (familiar/outro)(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
). As variáveis mediadoras integram quatro conceitos fundamentais: coping familiar, relacionamento pais-filhos, avaliação do adolescente sobre o cancro parental e estratégias de coping do adolescente(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
). As intervenções de enfermagem preconizadas pelo modelo atendem às variáveis mediadoras. Essas são influenciadas pela intervenção e o resultado é a resposta à interação das variáveis moderadoras, mediadoras e intervenções de enfermagem. Consequentemente, pode verificar-se um bom ou mau ajuste dos adolescentes(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
). As intervenções de enfermagem compreendem três componentes: educação (sobre o cancro parental), normalização (criar um ambiente seguro que permita a expressão de sentimentos, disponibilizando apoio psicológico) e desenvolvimento dos pontos fortes (ajudando a reconhecer a capacidade de lidar com eventos de estresse que permitam desenvolver mecanismos de coping)(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
). A Figura 1 ilustra o MTAACP, demonstrando a interação entre o fator estress, as variáveis moderadoras e mediadoras e o resultado.

Figure 1.
Modelo Teórico do Ajuste do Adolescente ao C ancro Parental(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
).

Local

O estudo foi realizado em um hospital oncológico da região central de Portugal.

Período

A coleta de dados foi realizada em 26 de fevereiro de 2021.

Escolha da Amostra

Adolescente do sexo masculino, com 16 anos de idade, frequentando o 11º ano do ensino secundário.

Critérios de Seleção

Ser adolescente, entre 14 e 18 anos, filho de doente oncológico sem défices cognitivos, que compreenda e fale português fluentemente. Foi realizada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para participação no estudo pelos pais e pelo próprio adolescente. Seleção do adolescente ocorreu por facilidade de acesso através da mãe doente oncológica.

Instrumentos Utilizados Para a Coleta de Dados

Coleta de dados realizada com recurso a um roteiro de entrevista semiestruturada(88. Sousa AF, Santos MR, Lomba L. Guião de entrevista segundo modelo teórico do ajuste dos adolescentes ao cancro parental. In: Prática avançada em saúde: desafios e projeções interprofissionais, 7ª Jornada Internacional de Enfermagem, 4º Simpósio de Enfermagem Brasil-Alemanha, 5º Seminário de Saúde Materna-Infantil; 2021 maio 5-7. Brasil: Universidade Franciscana; 2021. doi: http://dx.doi.org/10.48195/jie2021-057.
http://dx.doi.org/10.48195/jie2021-057...
), alicerçado nos princípios metodológicos e conceitos apresentados no MTAACP(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
).

Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada em ambiente virtual, através da plataforma Colibri-Zoom, devido ao período pandémico, com vistas à manutenção da segurança dos intervenientes. A entrevista ocorreu em um ambiente calmo, selecionado pelo adolescente, o quarto. Após a apresentação do investigador ao adolescente, na presença da mãe, a entrevista foi realizada apenas entre o participante e o entrevistador, e teve a duração de 30 minutos. O vídeo-áudio foi gravado, e após a sua transcrição, destruído.

Tratamento e Análise de Dados

Os dados foram codificados e categorizados por unidades de significado, segundo o referencial de análise de conteúdo(99. Bardin L. Análise de conteúdo. 4ª ed. Lisboa, Portugal: Edições; 2020.), tendo por base o referencial teórico do MTAACP(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
). A categorização ocorreu de forma indutiva, para identificar dimensões ou temas, através da análise da entrevista(99. Bardin L. Análise de conteúdo. 4ª ed. Lisboa, Portugal: Edições; 2020.). Recorreu-se ao software MAXQDA.

Aspectos Éticos

Investigação foi aprovada pela Comissão de Ética da instituição onde se desenvolveu o estudo (Processo no. TI 25/2020). O adolescente e o responsável legal (mãe) consentiram a participação e gravação da entrevista, assinando o TCLE. Os depoimentos do participante foram codificados por forma a salvaguardar o anonimato e confidencialidade dos dados, identificando-se como A1.

RESULTADOS

O participante é um adolescente do sexo masculino, com 16 anos de idade. Em concordância com o teorizado por Piaget, encontra-se no estágio de operações formais, evidenciando capacidade de refletir sobre a sua situação atual, atividades de vida quotidianas, formular hipóteses, demonstrar autonomia sobre escolhas e decisões e compreender a situação que está a viver. De acordo com o MTAACP, o fator de estresse é ter a mãe com cancro. As variáveis moderadoras incluem as características do adolescente e as características do progenitor doente e família. O agregado familiar é constituído por quatro elementos, a mãe, de 50 anos, casada com o pai do adolescente, de 53 anos, e a irmã, com 20 anos. O adolescente tem experiência prévia de familiar com cancro, sua avó paterna. O nível socioeconómico familiar não sofreu alterações no status, e a família é a rede de suporte social. Quanto à natureza da doença, a mãe tem carcinoma mamário invasivo, estágio 2, diagnosticado há um ano. À data da entrevista, encontra-se a realizar tratamentos neoadjuvantes (quimioterapia, hormonoterapia e imunoterapia) e recuperação pós-operatória (mastectomia).

Quanto às variáveis mediadoras, foram identificados conteúdos da comunicação do adolescente que se integram em todas as categorias conceptualizadas no modelo e cujos resultados se apresentam no Quadro 1. Na variável mediadora “avaliação do adolescente sobre o cancro da mãe”, de acordo com a análise da entrevista do adolescente e segundo o modelo, classificou-se a vivência do cancro parental como “estressante”, com resposta de “desafio”, uma vez que, apesar de a experiência do cancro parental originar estress, houve oportunidade de crescimento e ganho do adolescente. Na variável mediadora “coping do adolescente”, identifica-se que este apresentou coping focado no problema e na emoção, procurando ajustar-se à situação e normalizar as emoções relacionadas com o cancro da mãe (fator de estresse). Atendendo à entrevista do adolescente e análise das variáveis moderadoras e mediadoras, identificaram-se as dimensões de ajuste psicossocial e sintomas de resposta ao estress, performance acadêmica e sintomas somáticos.

Quadro 1
Domínios, categorias, subcategorias e unidades de significado – Coimbra, Portugal, 2021.

A Figura 2, fundamentada no MTAACP e adaptada ao caso em estudo, representa esquematicamente a interação das variáveis moderadoras e mediadoras e das intervenções de enfermagem prescritas, que poderão ter como resultado um bom ou mau ajuste.

Figure 2.
Modelo do Ajuste do Adolescente ao Cancro Parental, adaptado pelas autoras ao caso em estudo (diagrama original: Su & Ryan-Wenger(77. Su YH, Ryan-Wenger N. Children’s adjustment to parental cancer: a theoretical model development. Cancer Nurs. 2007;30(5):362-81, quiz 382-3. doi: http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290817.37442.e6. PubMed PMID: 17876182.
http://dx.doi.org/10.1097/01.NCC.0000290...
)).

De acordo com o MTAACP, o enfermeiro, no planeamento dos cuidados de enfermagem, identifica a natureza do fator de estresse e a interação das varáveis moderadoras e mediadoras, avaliando os seus efeitos reais e potenciais, para, em parceria com o adolescente e família, estabelecer um plano de cuidados adaptado às suas necessidades. Pela avaliação das necessidades do adolescente, o “conhecimento”, a “tristeza”, o “medo”, a “ansiedade”, a “adaptação” e o “coping familiar” são os focos de enfermagem com necessidade de intervenção mais premente no planeamento de cuidados.

Desta forma, elaborou-se o plano de cuidados de enfermagem recorrendo à taxonomia CIPE®(10), com a apresentação da respectiva codificação para os focos, diagnósticos de enfermagem (DE), intervenções, atividades de diagnóstico e de avaliação, e aos resultados de enfermagem esperados, conforme Quadro 2. A utilização desta classificação sustenta o processo de tomada de decisão, facilitando a documentação sistemática e a comunicação na equipe de enfermagem(1111. Garcia TR. ICNP: a standardized terminology to describe professional nursing practice. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(3):376-81. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420160000400001. PubMed PMID: 27556706.
http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342016...
).

Quadro 2
Plano de cuidados fundamentado na taxonomia CIPE®(10) – Coimbra, Portugal, 2021.

DISCUSSÃO

A análise da entrevista permitiu conhecer a experiência do adolescente, organizando-se os resultados nas categorias das variáveis mediadoras: Coping familiar; Relação mãe-filho; Avaliação do adolescente ao cancro da mãe; Coping do adolescente; Intervenções de enfermagem; e Ajuste.

Coping Familiar

A percepção do adolescente sobre o processo de ajuste da família foi positiva, referindo que souberam se adaptar e encarar a situação. Contudo, a vivência do cancro parental provocou alterações, evidenciando-se alterações nos comportamentos familiares, demonstrando maior preocupação e fortalecimento das redes de suporte familiar. Quando uma família se depara com o cancro parental, pode-se experienciar mudanças e dificuldades que prejudicam a qualidade de vida de pais e filhos, causando consequências em diferentes dimensões(44. Landi G, Duzen A, Patterson P, McDonald F, Crocetti E, Grandi S, et al. Illness unpredictability and psychosocial adjustment of adolescent and young adults impacted by parental cancer: the mediating role of unmet needs. Support Care Cancer. 2022;30(1):145-55. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-06379-3. PubMed PMID: 34241699.
http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-063...
). Constatou-se que a vivência da doença oncológica afetou a dinâmica desta família, com mudanças de comportamentos do adolescente, da irmã e do pai, ao nível da responsabilidade com as tarefas domésticas e com o cuidado aos avós maternos, passando os três elementos a assumir funções que outrora eram assumidas pela mãe. Essas alterações podem afetar a qualidade de vida de toda a unidade familiar nas dimensões emocionais, sociais, físicas, espirituais e financeiras(1212. Karayağmurlu A, Naldan ME, Temelli O, Cos¸kun M. The evaluation of depression, anxiety and quality of life in children living with parental cancer: a case-control study. J Clin Psy. 2021;24(1):5-14. doi: http://dx.doi.org/10.5505/kpd.2020.87699.
http://dx.doi.org/10.5505/kpd.2020.87699...
). De acordo com o que foi referido pelo adolescente, as dimensões mais afetadas foram a emocional, a social e a física, pelo desgaste da mãe, face às consequências dos tratamentos neoadjuvantes, determinando mudanças de papéis a nível de toda a estrutura familiar.

Relação Mãe-Filho

O adolescente referiu ter uma relação próxima e afetuosa com a mãe, evidenciando mudança de comportamento após o diagnóstico, com maior apoio emocional à mãe e colaboração nas tarefas domésticas.

O diagnóstico e o desenvolvimento da doença oncológica em um dos pais provocam alterações no funcionamento familiar, causando alterações comportamentais, emocionais e físicas no adolescente(44. Landi G, Duzen A, Patterson P, McDonald F, Crocetti E, Grandi S, et al. Illness unpredictability and psychosocial adjustment of adolescent and young adults impacted by parental cancer: the mediating role of unmet needs. Support Care Cancer. 2022;30(1):145-55. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-06379-3. PubMed PMID: 34241699.
http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-063...
). Uma das mudanças referidas pelo adolescente foi passar a se responsabilizar por tarefas domésticas que anteriormente não realizava. A evidência científica aponta a inversão de papéis como uma consequência que o cancro parental acarreta nos padrões da vida familiar dos adolescentes(44. Landi G, Duzen A, Patterson P, McDonald F, Crocetti E, Grandi S, et al. Illness unpredictability and psychosocial adjustment of adolescent and young adults impacted by parental cancer: the mediating role of unmet needs. Support Care Cancer. 2022;30(1):145-55. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-06379-3. PubMed PMID: 34241699.
http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-063...
). O adolescente, apesar de referir que a execução das tarefas domésticas não interferiu nas atividades escolares nem no relacionamento com o grupo de pares, considerou que o seu desempenho escolar foi afetado; no entanto, relacionou esse fato com as alterações na dimensão emocional. A qualidade da comunicação entre pais e filhos, associada a uma “parentalidade calorosa”, pode desempenhar um papel protetor no ajuste dos adolescentes ao cancro parental, promovendo um enfrentamento mais eficaz e permitindo fortalecer as relações já existentes(1313. Egberts MR, Verkaik D, Spuij M, Mooren TTM, van Baar AL, Boelen PA. Child adjustment to parental cancer: a latent profile analysis. Health Psychol. 2021;40(11):774-83. http://dx.doi.org/10.1037/hea0001099. PubMed PMID: 34570533.
http://dx.doi.org/10.1037/hea0001099...
). No caso em estudo, apesar das alterações nas dinâmicas familiares provocadas pelo cancro parental, a relação positiva de proximidade com a mãe antes do diagnóstico, a existência de uma comunicação aberta e a capacidade de manter as atividades permitiram conservar e fortalecer o relacionamento da díade.

Avaliação do Adolescente Sobre o Cancro da Mãe

O adolescente identificou as limitações da mãe, decorrentes dos efeitos psicoemocionais e físicos do cancro, implicando maior necessidade de apoio. A situação classificou-se como “estressante”, com resposta de “desafio”, pois, apesar da vivência do cancro gerar estresse, houve oportunidade de crescimento, proporcionando ao adolescente maior noção da realidade, valorização da vida e melhoria dos valores pessoais. A avaliação do cancro da mãe é influenciada pelo processo de transição inerente ao crescimento/desenvolvimento do adolescente, corroborando com outros autores, que referem que adolescentes que vivenciam essas situações vivem sob pressão constante, lutam pela independência e confrontam com a necessidade de apoiar os pais, tanto ao nível físico como emocional(1212. Karayağmurlu A, Naldan ME, Temelli O, Cos¸kun M. The evaluation of depression, anxiety and quality of life in children living with parental cancer: a case-control study. J Clin Psy. 2021;24(1):5-14. doi: http://dx.doi.org/10.5505/kpd.2020.87699.
http://dx.doi.org/10.5505/kpd.2020.87699...
). O adolescente em estudo não relatou alterações na relação com os pares, mas não partilhou com nenhum a sua experiência, referindo desconhecimento sobre como relatar. Esta posição pode ser justificada, considerando que alguns adolescentes podem sentir dificuldade em comunicar e expressar as suas emoções, não partilhando as suas experiências por medo ou para suprimirem os seus próprios sentimentos(1414. Wray A, Seymour J, Greenley S, Boland J. Parental terminal cancer and dependent children: a systematic review. BMJ Support Palliat Care. 2022;0:1-13. doi: http://dx.doi.org/10.1136/bmjspcare-2021-003094. PubMed PMID: 35091436.
http://dx.doi.org/10.1136/bmjspcare-2021...
).

Coping do Adolescente

O adolescente em estudo demonstrou coping focado no problema, reagindo e se adaptando à situação, uma vez que mudou alguns dos seus comportamentos, passando a assumir maior responsabilidade pelas tarefas domésticas. Simultaneamente, apresentou coping focado na emoção, procurando normalizar as emoções relacionadas com o cancro da mãe através do isolamento, a que recorreu em alguns períodos, mantendo o contato com a mãe, optando por não partilhar a situação com o grupo de pares e negando falar e pensar sobre o problema. Alguns autores(1414. Wray A, Seymour J, Greenley S, Boland J. Parental terminal cancer and dependent children: a systematic review. BMJ Support Palliat Care. 2022;0:1-13. doi: http://dx.doi.org/10.1136/bmjspcare-2021-003094. PubMed PMID: 35091436.
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) referem que os adolescentes apresentam diferentes mecanismos de coping na vivência do cancro parental, como falar sobre a situação e enfrentá-la, ou bloquear o tema, evitando pensar mais sobre ela, podendo ostentar diferentes estratégias, como passar mais tempo com os pais e, por vezes, isolarem-se no seu espaço. Ambas as estratégias foram adotadas em diferentes momentos pelo adolescente em estudo, relatando como mecanismo de coping a distração, recorrendo a atividades lúdicas com amigos, atividades físicas, ou fazendo algo divertido.

Ajuste

O adolescente em estudo se encontra na fase tardia da adolescência (16-19 anos)(1515. Organização Mundial da Saúde. Mental health status of adolecents in South-East of Asia: evidence for action [Internet]. 2017 [cited 2022 Apr 1]. Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/254982.
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), considerada um período crítico que se caracteriza por alterações no contexto de vida dos indivíduos. Nesta faixa etária, é normal que se preocupem com o impacto da doença dos pais nas suas atividades diárias, sobretudo escolares, desportivas/lazer, podendo apresentar mudanças no desempenho escolar, queixas físicas de dor, desconforto e alterações sociais e interpessoais(44. Landi G, Duzen A, Patterson P, McDonald F, Crocetti E, Grandi S, et al. Illness unpredictability and psychosocial adjustment of adolescent and young adults impacted by parental cancer: the mediating role of unmet needs. Support Care Cancer. 2022;30(1):145-55. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-06379-3. PubMed PMID: 34241699.
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). No caso em análise, evidenciaram-se algumas dessas alterações, particularmente ao nível das dimensões de ajuste psicossocial e sintomas de resposta ao estresse, como mudança de pensamento, performance acadêmica, impacto no desempenho escolar e sintomas somáticos, com alterações no sono, ansiedade e diminuição da concentração.

Uma forma de minimizar as consequências psicossociais da vivência do cancro parental e potenciar o ajuste é atender às suas necessidades de informação sobre o cancro dos pais; funcionamento familiar; assistência profissional; “time out” e atividades lúdicas; lidar com os sentimentos; apoio do grupo de pares e de outros jovens que passaram por situações semelhantes(44. Landi G, Duzen A, Patterson P, McDonald F, Crocetti E, Grandi S, et al. Illness unpredictability and psychosocial adjustment of adolescent and young adults impacted by parental cancer: the mediating role of unmet needs. Support Care Cancer. 2022;30(1):145-55. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-06379-3. PubMed PMID: 34241699.
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). Neste caso, verifica-se que algumas necessidades foram atendidas, nomeadamente informação sobre o cancro da mãe, através de uma comunicação aberta, potenciada pela relação positiva entre os elementos familiares, especificamente entre mãe-filho. Constatou-se que o adolescente conseguiu manter as atividades lúdicas e a ligação com o grupo de pares, referindo crescimento pessoal no aprender a lidar com os seus sentimentos.

Intervenções de Enfermagem

Segundo o MTAACP, as intervenções de enfermagem incorporam elementos essenciais ao nível da educação, normalização e desenvolvimento de pontos fortes, que se coadunam com as necessidades do adolescente. Apesar de o adolescente deter uma comunicação aberta com a mãe, não conseguiu partilhar com o grupo de pares o que estava a vivenciar, evidenciando a necessidade de informação, pelo que se identificou no foco “conhecimento”. A necessidade de informação e conhecimento sobre o diagnóstico de cancro dos pais, implicações do tratamento e prognóstico é referida por outros autores como sendo a necessidade psicossocial mais fortemente relatada pelos adolescentes(22. Kazlauskaite V, Fife ST. Adolescent experience with parental cancer and involvement with medical professionals: a heuristic phenomenological inquiry. J Adolesc Res. 2021;36(4):371-97. doi: http://dx.doi.org/10.1177/0743558420985446.
http://dx.doi.org/10.1177/07435584209854...
,44. Landi G, Duzen A, Patterson P, McDonald F, Crocetti E, Grandi S, et al. Illness unpredictability and psychosocial adjustment of adolescent and young adults impacted by parental cancer: the mediating role of unmet needs. Support Care Cancer. 2022;30(1):145-55. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s00520-021-06379-3. PubMed PMID: 34241699.
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). Para os DE “tristeza” e “medo”, prescreveram-se intervenções que contribuem para a normalização, através da criação de um ambiente seguro que possibilite a expressão de emoções que, potenciada pela maximização de uma comunicação eficaz, promove o ajuste(1414. Wray A, Seymour J, Greenley S, Boland J. Parental terminal cancer and dependent children: a systematic review. BMJ Support Palliat Care. 2022;0:1-13. doi: http://dx.doi.org/10.1136/bmjspcare-2021-003094. PubMed PMID: 35091436.
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). As intervenções de enfermagem prescritas relativas ao DE “ansiedade” visam possibilitar ao adolescente desenvolver os seus pontos fortes, apoiando-o a reconhecer e lidar com eventos stressantes. A “adaptação” e “coping familiar” vão permitir ao adolescente, juntamente com a família, ajustar-se ao cancro parental. Estudo(1616. Sousa AFD, Rodrigues JFC, Dias MJGSN, Santos DGSM, Ferreira MMSRS, Lomba MLLF. Programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental: scoping review. Esc Anna Nery. 2022;26:e20210359. doi: http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2021-0359
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) sobre programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental identificou que as intervenções dominantes são as psicoeducacionais. A tipologia dessas intervenções integra a componente psicológica/emocional e educacional, objetivando fornecer apoio social às famílias, aumentar as competências parentais, permitindo melhorar a compreensão dos filhos sobre o cancro, reduzindo a angústia e os medos(1616. Sousa AFD, Rodrigues JFC, Dias MJGSN, Santos DGSM, Ferreira MMSRS, Lomba MLLF. Programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental: scoping review. Esc Anna Nery. 2022;26:e20210359. doi: http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2021-0359
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). Essas intervenções são consideradas apropriadas, contribuindo para aumentar a literacia em saúde, promover a expressão de emoções/experiências, auxiliar na mudança de papéis, melhorar os sintomas de ansiedade, desenvolver mecanismos de coping e otimizar a comunicação e relacionamento pais-filhos.

Considerando que o ajuste tem por base as intervenções de enfermagem, é esperado que o adolescente apresente um “bom ajuste”, pois, apesar de serem verificadas consequências, o mesmo demonstrou capacidade de se ajustar à situação, vendo-a como um desafio que resultou em uma oportunidade de crescimento.

Limitações do Estudo

A pesquisa de caso único apresenta potencial metodológico na minimização dos vieses, porém a análise de um único caso pode constituir uma limitação na generalização dos achados para outros adolescentes.

Implicações Para a Prática

Os resultados deste estudo poderão ser aplicados em situações semelhantes de adolescentes que vivenciam o cancro parental. Os enfermeiros que integram intervenções que respondam às necessidades do adolescente e da família que experienciam o cancro parental, promovendo o ajuste, contribuem para minimizar o impacto psicossocial decorrente desta situação. O modelo é aplicável e adequado para adolescentes em situações similares, permitindo identificar os focos de enfermagem e as consequentes prescrições e intervenções que respondam às necessidades prioritárias dos adolescentes com pais com doença oncológica.

CONCLUSÃO

O MTAACP demonstrou ser pertinente na avaliação das necessidades de um adolescente a vivenciar o cancro parental. A análise do caso permitiu identificar o cancro parental como fator de estresse, através da interação das variáveis moderadoras e mediadoras, que, coadjuvadas com as intervenções de enfermagem prescritas, podem promover o “bom ajuste” dos adolescentes vivendo com cancro parental. Sugere-se a realização de estudos em contextos de vivência do cancro parental, com recurso ao MTAACP, em que se proceda à implementação e avaliação das intervenções de enfermagem.

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Editado por

EDITOR ASSOCIADO

Ivone Evangelista Cabral

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Set 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    09 Maio 2022
  • Aceito
    08 Jul 2022
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