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Vivências de idosos dependentes de álcool: teoria fundamentada nos dados* *Extraído da dissertação de mestrado: “Vivências de idosos dependentes de álcool”, Faculdade de Medicina de Marília, 2021.

RESUMO

Objetivo:

Interpretar as vivências dos idosos dependentes de álcool.

Método:

Pesquisa qualitativa desenvolvida por meio dos pressupostos teórico-metodológicos da Teoria Fundamentada dos Dados na versão straussiana. Foi realizada em um município de pequeno porte da região centro-oeste paulista. A seleção foi por amostragem teórica, totalizando 25 participantes a partir de três grupos amostrais. Foram conduzidas entrevistas semiestruturadas entre março de 2019 a janeiro de 2020.

Resultados:

O fenômeno “Vivenciando a dependência de álcool na velhice”, está condicionado pela categoria “Iniciando o consumo de Álcool”, são ações/interações “Justificando o consumo de álcool” e “Enfrentando o tratamento e a abstinência do álcool” cujas consequências são “Experienciando os danos da dependência de álcool” e “Expressando sentimentos”.

Conclusão:

Evidenciou-se que os idosos participantes consideram a dependência de álcool como forma de lidar com emoções negativas, e, nessa trajetória, experienciam consequências físicas, mentais e sociais. Os idosos em abstinência expressam sentimentos de solidão, arrependimento e desejo de uma vida com qualidade, e indicam que a mudança comportamental ocorre por meio do tratamento e conscientização de seus malefícios.

DESCRITORES
Idoso; Envelhecimento; Alcoolismo; Teoria Fundamentada; Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To interpret the experiences of alcohol-dependent elderly people.

Method:

Qualitative research developed through the theoretical and methodological assumptions of the Grounded Theory in the Straussian version. It was carried out in a small town in the mid-western region of the state of São Paulo. The selection was by theoretical sampling, totaling 25 participants from three sample groups. Semistructured interviews were conducted from March 2019 to January 2020.

Results:

The phenomenon “Experiencing alcohol dependence in old age”, is conditioned by the category “Initiating Alcohol Consumption”, are actions/interactions “Justifying alcohol consumption” and “Coping with alcohol treatment and abstinence” whose consequences are “Experiencing the harms of alcohol dependence” and “Expressing feelings”.

Conclusion:

It was evidenced that the elderly participants consider alcohol dependence as a way to deal with negative emotions, and, in this trajectory, they experience physical, mental, and social consequences. The elderly in abstinence express feelings of loneliness, regret, and desire for a life with quality, and indicate that behavioral change occurs through treatment and awareness of its harmful effects.

KEYWORDS
Aged; Aging; Alcoholism; Grounded Theory; Nursing

RESUMEN

Objetivo:

Interpretar las experiencias de las personas mayores dependientes del alcohol.

Método:

Investigación cualitativa desarrollada a través de los supuestos teóricos y metodológicos de la Teoría Fundamentada en Datos en su versión straussiana. Se llevó a cabo en un municipio de pequeño tamaño de la región centro-oeste del Estado de São Paulo. La selección fue por muestreo teórico, totalizando 25 participantes de tres grupos de muestra. Las entrevistas semiestructuradas se realizaron entre marzo de 2019 y enero de 2020.

Resultados:

El fenómeno “Experimentar la dependencia del alcohol en la vejez”, está condicionado por la categoría “Iniciar el consumo de alcohol”, son acciones/interacciones “Justificar el consumo de alcohol” y “Afrontar el tratamiento del alcohol y la abstinencia” cuyas consecuencias son “Experimentar el daño de la dependencia del alcohol” y “Expresar sentimientos”.

Conclusión:

Se evidenció que los participantes de edad avanzada consideran la dependencia del alcohol como una forma de lidiar con las emociones negativas y, en esta trayectoria, experimentan consecuencias físicas, mentales y sociales. Los ancianos en abstinencia expresan sentimientos de soledad, arrepentimiento y deseo de una vida con calidad, e indican que el cambio de comportamiento se produce gracias al tratamiento y a la conciencia de sus efectos nocivos.

DESCRIPTORES
Anciano; Envejecimiento; Alcoholismo; Teoría fundamentada; Enfermería

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional vem ocorrendo de maneira acelerada em escala mundial e estima-se que até 2060 o número de idosos irá quadruplicar e que a expectativa de vida desta população irá ultrapassar 80 anos(11. Guimarães MSF, Tavares DMS. Prevalência e fatores associados ao abuso e provável dependência de álcool entre idosos. Texto Contexto Enferm. 2019;28:e20180078. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2018-0078.
http://dx.doi.org/10.1590/1980-265x-tce-...
). Essa mudança no perfil etário traz consigo novos desafios, como o aumento dos problemas crônicos de saúde, dentre eles, a dependência de álcool, afetando especialmente países em desenvolvimento como o Brasil(11. Guimarães MSF, Tavares DMS. Prevalência e fatores associados ao abuso e provável dependência de álcool entre idosos. Texto Contexto Enferm. 2019;28:e20180078. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2018-0078.
http://dx.doi.org/10.1590/1980-265x-tce-...
,22. Noronha BP, Souza MAN, Costa MFL, Peixoto SV. Padrões de consumo de álcool e fatores associados entre idosos brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde (2013). Cien Saude Colet. 2019;24(11):4171-80. doi: https://doi.org/10.1590/1413-812320182411.32652017.
https://doi.org/10.1590/1413-81232018241...
). O álcool possui consumo permitido, é de fácil acesso, baixo custo, grande popularidade e, juntamente com o tabaco, é a substância mais comumente utilizada pelos idosos(33. Costa LP, Oliveira FKS, Pimenta CJL, Almeida MR, Moraes JCO, Costa SP. Aspectos relacionados ao abuso e dependência de álcool por idosos. Rev Enferm UFPE on line. 2017;11(6):2323-8. doi: http://dx.doi.org/10.5205/reuol.10827-96111-1-ED.1106201710.
http://dx.doi.org/10.5205/reuol.10827-96...
).

A dependência de álcool entre idosos é uma demanda emergente, considerada uma epidemia invisível devido ao grande número de casos subnotificados. No Brasil, dados de 2008 do primeiro levantamento sobre padrões de consumo de álcool em idosos mostram que 12% eram bebedores compulsivos, 10,4% tinham subliminar dependência e 2,9% eram dependentes de álcool(22. Noronha BP, Souza MAN, Costa MFL, Peixoto SV. Padrões de consumo de álcool e fatores associados entre idosos brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde (2013). Cien Saude Colet. 2019;24(11):4171-80. doi: https://doi.org/10.1590/1413-812320182411.32652017.
https://doi.org/10.1590/1413-81232018241...
). Em outro estudo conduzido com 111 idosos residentes da zona urbana de um município do interior do estado de São Paulo, foi constatado que 22% dos entrevistados relataram consumo excessivo e provável dependência de álcool(11. Guimarães MSF, Tavares DMS. Prevalência e fatores associados ao abuso e provável dependência de álcool entre idosos. Texto Contexto Enferm. 2019;28:e20180078. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2018-0078.
http://dx.doi.org/10.1590/1980-265x-tce-...
).

Acontecimentos no decorrer da vida dos idosos como aposentadoria, desemprego, perda de entes queridos, solidão e isolamento social podem deixá-los vulneráveis à adoção de hábitos não saudáveis e o desenvolvimento de problemas de saúde, dentre eles, a dependência de álcool, caracterizada como um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, na qual o uso de álcool alcança uma prioridade maior ao indivíduo em detrimento de outros comportamentos que, antes, tinham maior valor, bem como a incapacidade de controlar seu consumo apesar das consequências à saúde(44. Chagas C, Paula TCS, Machado DA, Martins LB, Opaleye D, Piedade T, et al. Alcohol consumption by older people in Brazil: a systematic review of population-based studies. Addict Disord Their Treat. 2019;18(4):229-37. doi: http://dx.doi.org/10.1097/ADT.0000000000000168.
http://dx.doi.org/10.1097/ADT.0000000000...
,55. Maldonado GF, Brown D, Hoffman H, Kahlon C, Grossberg G. Alcohol use disorder in older adults. Clin Geriatr Med. 2022;38(1):1-22. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cger.2021.07.006. PubMed PMID: 34794695.
http://dx.doi.org/10.1016/j.cger.2021.07...
).

Com o avançar da idade, os idosos sofrem mudanças biológicas e sua tolerância fisiológica ao álcool tende a diminuir. Sendo assim, a dependência de álcool expõe os idosos a maiores riscos de agravamento e desenvolvimento de problemas físicos, mentais, sociais e familiares(66. Rossow I, Traeen B. Alcohol use among older adults: a comparative study across four European countries. Nordisk Alkohol Nark. 2020;37(6): 526-43. doi: http://dx.doi.org/10.1177/1455072520954335. PubMed PMID: 35308653.
http://dx.doi.org/10.1177/14550725209543...
). Convém acrescentar que muitos idosos não consideram a dependência de álcool como um comportamento de risco, seja por vergonha, medo, insegurança ou estilo de vida, o que dificulta a identificação de novos casos e intervenções precoces, contribuindo para o aumento de internações hospitalares, morbidades e mortalidade(77. Bareham BK, Kaner E, Spencer LP, Hanratty B. Drinking in later life: a systematic review and thematic synthesis of qualitative studies exploring older people’s perceptions and experiences. Age Ageing. 2019;48(1):134-46. doi: http://dx.doi.org/10.1093/ageing/afy069. PubMed PMID: 29733341.
http://dx.doi.org/10.1093/ageing/afy069...
). Essa situação pode se agravar ao considerar que idosos tendem a procurar o tratamento apenas quando a dependência de álcool causa graves consequências físicas ou sociais(88. Emiliussen J, Andersen K, Nielsen AS, Braun B, Bilberg R. What do elderly problem drinkers aim for? Choice of goal for treatment among elderly treatment-seeking alcohol-dependent patients. Nordisk Alkohol Nark. 2019;36(6):511-21. doi: http://dx.doi.org/10.1177/1455072519852852.
http://dx.doi.org/10.1177/14550725198528...
).

A relação entre a dependência de álcool, motivação e compromisso com a mudança é complexa nos casos dos idosos, bem como sua preocupação com a bebida e sua capacidade de controlar o consumo, quando comparados aos mais jovens(88. Emiliussen J, Andersen K, Nielsen AS, Braun B, Bilberg R. What do elderly problem drinkers aim for? Choice of goal for treatment among elderly treatment-seeking alcohol-dependent patients. Nordisk Alkohol Nark. 2019;36(6):511-21. doi: http://dx.doi.org/10.1177/1455072519852852.
http://dx.doi.org/10.1177/14550725198528...
,99. Veerbeek MA, ten Have M, van Dorsselaer SA, Oude Voshaar RC, Rhebergen D, Willemse BM. Differences in alcohol use between younger and older people: results from a general population study. Drug Alcohol Depend. 2019;1(202):18-23. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2019.04.023. PubMed PMID: 31284118.
http://dx.doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2...
). Assim, é de suma importância que o idoso dependente de álcool seja tratado na sua integralidade, destacando a prevenção de doenças e promoção da saúde, tendo em vista a redução de danos por meio do seu acompanhamento nas redes de atenção à saúde. Dados sobre dependência de álcool entre idosos no Brasil são escassos, o que torna um desafio para os profissionais de saúde investigarem o impacto que a dependência causa em suas vidas nas dimensões físicas, mentais e sociais(11. Guimarães MSF, Tavares DMS. Prevalência e fatores associados ao abuso e provável dependência de álcool entre idosos. Texto Contexto Enferm. 2019;28:e20180078. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2018-0078.
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1010. Guidolin BL, Silva Fo IG, Nogueira EL, Ribeiro Jr FP, Cataldo No A. Padrões de consumo de álcool em uma amostra de idosos no município de Porto Alegre, Brasil. Cien Saude Colet. 2016;21(1):27-35. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015211.10032015.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152...
).

Frente a este contexto, compreende-se tratar de um problema complexo e de pouca visibilidade aos profissionais de saúde e, mais especificamente, aos enfermeiros que podem atuar na promoção e na reabilitação, seja por meio de suas ações nos serviços especializados em saúde mental ou na atenção primária à saúde. Para tanto, torna-se relevante aprofundar o conhecimento, com vistas a adoção de medidas que venham ao encontro das necessidades dessas pessoas. A presente investigação parte do seguinte questionamento: como têm sido as vivências dos idosos com dependência ao álcool? Tendo, como objetivo, interpretar as vivências de idosos dependentes de álcool.

MÉTODO

Tipo de Estudo

Trata-se de uma pesquisa qualitativa desenvolvida por meio dos pressupostos teórico- metodológicos da Teoria Fundamentada nos Dados (TFD) na perspectiva straussiana. A TFD tem sido muito utilizada na pesquisa qualitativa em enfermagem; sua proposta centrada na ação-interação humana a torna relevante para área da saúde, cujas práticas se baseiam nas interações entre pacientes, familiares e equipe de trabalho. Portanto, contribui para otimizar o cuidado prestado às pessoas a partir da compreensão de perspectivas e experiências vivenciadas diante de contexto específico da saúde, e busca desenvolver uma teoria que emerge da análise dos dados, sem a preocupação de confirmar ou confrontar uma teoria pré-existente(1111. Magalhães ALP, Lanzani GMM, Joerich C, Cunha KS, Kahl C, Meirelles BHS. Perspectiva Straussiana da teoria fundamentada nos dados. In: Lacerda MR, Santos JLG, editores. Teoria fundamentada nos dados: bases teóricas e metodológicas. Porto Alegre: Moriá; 2019. p. 59-78.,1212. Santos JLGD, Cunha KS, Adamy EK, Backes MTS, Leite JL, Sousa FGM. Análise de dados: comparação entre as diferentes perspectivas metodológicas da Teoria Fundamentada nos Dados. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03303. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017021803303. PubMed PMID: 29668789.
http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017...
). Para delinear maior rigor metodológico o estudo, foi empregado o checklist Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ)(1313. Souza VRS, Marziale MHP, Silva GTR, Nascimento PL. Tradução e validação para a língua portuguesa e avaliação do guia COREQ. Acta Paul Enferm. 2021;34:eAPE02631. doi: http://dx.doi.org/10.37689/acta-ape/2021AO02631.
http://dx.doi.org/10.37689/acta-ape/2021...
).

Cenário

O estudo foi desenvolvido em um município da região centro-oeste paulista com uma população de aproximadamente 22 mil habitantes, sua Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é constituída por oito unidades da Estratégia Saúde da Família (ESF), um ambulatório de saúde mental e um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I) destinado ao atendimento de pacientes com dependência de álcool. Inicialmente, a coleta de dados realizou-se nas dependências do CAPS e na sequência nas ESF.

Definição da Amostra

A definição amostral foi estabelecida por meio da Amostragem Teórica. Nesta perspectiva, a coleta de dados é iniciada com pessoas ou fontes de dados considerados relevantes para responder à questão de pesquisa e seus objetivos. À medida que os primeiros dados são analisados, os próximos participantes são selecionados. Ressalta-se que a amostra não é definida a priori, mas no decorrer do estudo, permitindo o preenchimento das lacunas da teoria emergente(1212. Santos JLGD, Cunha KS, Adamy EK, Backes MTS, Leite JL, Sousa FGM. Análise de dados: comparação entre as diferentes perspectivas metodológicas da Teoria Fundamentada nos Dados. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03303. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017021803303. PubMed PMID: 29668789.
http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017...
). Foram realizadas um total de 25 entrevistas

População

Em conformidade com os pressupostos teórico-metodológicos da TFD, foram realizadas entrevistas com três grupos amostrais, totalizando 25 participantes, com vistas a obter dados de forma ampliada sobre o fenômeno em estudo. O primeiro grupo amostral foi constituído por 10 idosos cadastrados no CAPS, que atendiam os critérios de inclusão: 60 anos ou mais, diagnóstico confirmado de dependência de álcool e capacidade cognitiva para fornecer as informações requeridas. Na coleta e análise das 10 entrevistas, verificou-se que os mesmos se encontravam em abstinência há pelo menos há seis meses.

Sendo assim, surgiu a necessidade de conhecer se os idosos que ainda permaneciam em uso excessivo de álcool poderiam acrescentar novas informações ao fenômeno. O segundo grupo amostral foi então composto por seis idosos com as mesmas características do grupo anterior, porém que mantinham o consumo excessivo de álcool durante a etapa de coleta de dados, sendo que dois deles estavam cadastrados no CAPS e os demais foram selecionados a partir de contato com profissionais dos serviços das unidades ESF. Nestas unidades, foi realizada reunião com a equipe de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e solicitada indicação de idosos com o perfil desejado.

A partir da coleta e análise das entrevistas do segundo grupo amostral, foi possível depreender que muitos dados que emergiram estavam associados ao contexto familiar e de amizades dos idosos. Assim, com a finalidade de elucidar conhecimento sobre o convívio social e as relações de amizades, ampliando a compreensão do fenômeno, foi constituído o terceiro grupo amostral composto por sete familiares e dois amigos dos idosos entrevistados, totalizando nove participantes. A coleta foi encerrada com o terceiro grupo amostral, respeitando os critérios de saturação teórica, momento em que nenhum dado adicional relevante foi encontrado, quando os achados preencheram as lacunas de conhecimento, o que permitiu a interpretação do fenômeno e foi possível estabelecer as relações entre as categorias(1111. Magalhães ALP, Lanzani GMM, Joerich C, Cunha KS, Kahl C, Meirelles BHS. Perspectiva Straussiana da teoria fundamentada nos dados. In: Lacerda MR, Santos JLG, editores. Teoria fundamentada nos dados: bases teóricas e metodológicas. Porto Alegre: Moriá; 2019. p. 59-78.).

Coleta e Análise dos Dados

A coleta e análise dos dados se deram por meio do processo indutivo dedutivo, sendo que a dedução permite a construção de hipóteses, enquanto a indução possibilita a apreensão de implicações originárias das hipóteses para qualificá-las ou refutá-las(1212. Santos JLGD, Cunha KS, Adamy EK, Backes MTS, Leite JL, Sousa FGM. Análise de dados: comparação entre as diferentes perspectivas metodológicas da Teoria Fundamentada nos Dados. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03303. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017021803303. PubMed PMID: 29668789.
http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017...
). Os dados foram coletados no período de março de 2019 a janeiro de 2020 pelo pesquisador principal, que é mestrando e recebeu treinamento para técnica de entrevistas em profundidade. As entrevistas com o primeiro grupo amostral foram realizadas nas dependências do CAPS, sendo que os idosos foram abordados à medida que compareciam ao local para atendimento. Quando os sujeitos expressaram estar de acordo com a participação, foi marcado um horário de sua conveniência para a entrevista.

Para este grupo, foi elaborado um roteiro com os dados de identificação e as seguintes questões: Como foi o primeiro contato com álcool? Qual era a importância do álcool em sua vida? Quais as consequências decorrentes da dependência de álcool? Fale sobre a influência do consumo de álcool nas relações familiares. O que o (a) levou a procurar tratamento e quais os benefícios da abstinência? Fale sobre os seus sentimentos em relação ao consumo de álcool e suas expectativas para o futuro?

No segundo grupo, o contato com dois idosos foi realizado no próprio CAPS. Para os demais, foram feitas visitas domiciliares, acompanhado das ACS e a coleta foi realizada no próprio domicílio. Para este grupo amostral foram apresentados os seguintes questionamentos: Como foi o primeiro contato com álcool? Por que você mantém o consumo álcool? Qual a importância do álcool em sua vida? Como é o seu contexto familiar? Quais são as possíveis consequências vivenciadas, decorrentes do consumo excessivo de álcool? Fale sobre seus sentimentos e suas expectativas para o futuro.

Para o terceiro grupo amostral, além de dados sóciodemográficos coletados dos familiares e amigos, o roteiro de entrevista destinado aos familiares contou com questionamentos referentes à convivência com o idoso dependente de álcool, as consequências ao idoso e familiares e sentimentos expressos. Os amigos dos idosos foram questionados quanto ao convívio social e às relações de amizade. Não houveram recusas em participar da pesquisa, sendo realizada uma entrevista por participante com duração média de 30 minutos, conduzida individualmente, em ambiente calmo, livre de interrupções e com garantia de privacidade ao entrevistado. As entrevistas foram gravadas em áudio e, posteriormente, transcritas.

A análise dos dados na vertente straussiana da TFD é organizada em três etapas: codificação aberta, axial e integração. Na codificação aberta, o pesquisador deve se fixar nos dados coletados, examinando-os rigorosamente linha a linha, comparando-os e contextualizando-os com palavras que transmitam ação, possibilitando a identificação dos códigos substantivos. Na codificação axial, os dados que foram separados na etapa anterior são reagrupados, permitindo a emergência de categorias que serão reorganizadas e relacionadas as suas subcategorias, estabelecendo conexões entre elas e gerando explicações mais precisas e completas sobre o fenômeno(1111. Magalhães ALP, Lanzani GMM, Joerich C, Cunha KS, Kahl C, Meirelles BHS. Perspectiva Straussiana da teoria fundamentada nos dados. In: Lacerda MR, Santos JLG, editores. Teoria fundamentada nos dados: bases teóricas e metodológicas. Porto Alegre: Moriá; 2019. p. 59-78.,1212. Santos JLGD, Cunha KS, Adamy EK, Backes MTS, Leite JL, Sousa FGM. Análise de dados: comparação entre as diferentes perspectivas metodológicas da Teoria Fundamentada nos Dados. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03303. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017021803303. PubMed PMID: 29668789.
http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017...
).

Para organização de tais conexões, utiliza-se uma ferramenta analítica chamada de modelo paradigmático que ajuda a reunir e ordenar os dados para que a estrutura e o processo sejam integrados, constituído por três componentes: condições, ações/interações e consequências(1212. Santos JLGD, Cunha KS, Adamy EK, Backes MTS, Leite JL, Sousa FGM. Análise de dados: comparação entre as diferentes perspectivas metodológicas da Teoria Fundamentada nos Dados. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03303. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017021803303. PubMed PMID: 29668789.
http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017...
). As condições referem-se às razões ou explicações dadas pelas pessoas do porquê e como respondem aos eventos e situações problemáticas. As ações/interações correspondem aos significados atribuídos pelas pessoas aos eventos e situações problemáticas ocorridas em suas vidas e ações/interações tomadas para manejar o problema ou alcançar o objetivo. O componente consequências refere-se aos desfechos resultantes das ações e interações, essas consequências podem ser físicas, psicológicas ou sociais(1111. Magalhães ALP, Lanzani GMM, Joerich C, Cunha KS, Kahl C, Meirelles BHS. Perspectiva Straussiana da teoria fundamentada nos dados. In: Lacerda MR, Santos JLG, editores. Teoria fundamentada nos dados: bases teóricas e metodológicas. Porto Alegre: Moriá; 2019. p. 59-78.).

A última etapa é a integração. As categorias e subcategorias são organizadas em torno de um conceito explanatório central que representa o tema principal da pesquisa. Ao final das etapas de codificação, a teoria gerada é reorganizada conforme os elementos do modelo paradigmático(1111. Magalhães ALP, Lanzani GMM, Joerich C, Cunha KS, Kahl C, Meirelles BHS. Perspectiva Straussiana da teoria fundamentada nos dados. In: Lacerda MR, Santos JLG, editores. Teoria fundamentada nos dados: bases teóricas e metodológicas. Porto Alegre: Moriá; 2019. p. 59-78.,1212. Santos JLGD, Cunha KS, Adamy EK, Backes MTS, Leite JL, Sousa FGM. Análise de dados: comparação entre as diferentes perspectivas metodológicas da Teoria Fundamentada nos Dados. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03303. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017021803303. PubMed PMID: 29668789.
http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2017...
). Todas as etapas da análise de dados contaram com a participação e consenso dos autores. O modelo teórico foi primeiramente validado pelos participantes da pesquisa por meio de encontros individuais nas dependências do CAPS e visitas domiciliares nas quais foi apresentado o modelo teórico e explicado os resultados desta pesquisa. Houve confirmação dos participantes de que aqueles resultados expressam sua vivência e traduzem seu dia a dia. Posteriormente, o trabalho foi submetido a uma banca de especialistas em pesquisa qualitativa e experiência com TFD, que validaram os resultados.

Aspectos Éticos

Para a realização desta pesquisa, todas as exigências éticas foram respeitadas conforme previsto na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição proponente sob parecer consubstanciado nº 3.325.707, de 01 de abril de 2019. A participação dos entrevistados ocorreu após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de forma voluntária. Os participantes foram identificados da seguinte forma: idosos em abstinência com as letras IA, idosos em uso excessivo de álcool com as letras IU, familiares dos idosos com a letra F e os amigos dos entrevistados com a letra A, seguidos de um número referente à ordem em que as entrevistas foram realizadas.

RESULTADOS

Entre os participantes do estudo, o primeiro e segundo grupos amostrais foram compostos por 10 e seis idosos, respectivamente. A maioria é do sexo masculino (13), média de idade de 66 anos, oito casados, cinco divorciados, dois solteiros e um separado. Seis idosos estão desempregados, cinco são aposentados e cinco autônomos, com renda mensal média de dois salários mínimos e não ter renda. Nove dos 16 idosos entrevistados possuem ensino fundamental incompleto, quatro completaram o ensino médio e três, o ensino fundamental.

Sobre o terceiro grupo amostral, entre os sete familiares dos idosos, a totalidade é do sexo feminino, com idades entre 41 e 71 anos e casadas. Três são autônomas, duas aposentadas, uma empresária e uma desempregada, com renda mensal variando entre acima de três salários mínimos e não possuir renda. Em relação ao nível de escolaridade, três têm ensino fundamental completo; três têm ensino fundamental incompleto e uma, o ensino médio completo. Os dois amigos, ambos do sexo masculino, com idades de 52 e 53 anos, sendo um casado, que reside com a esposa, trabalha como autônomo, possui renda mensal acima de três salários mínimos e ensino médio completo. O outro, divorciado, reside com a mãe, trabalha como funcionário público, renda mensal acima de dois salários mínimos, com ensino superior completo.

A partir da análise dos dados obtidos nas entrevistas, foi estruturada a figura 1, que apresenta o modelo teórico “Vivenciando a dependência de álcool na velhice”.

Figura 1.
Modelo teórico “Vivenciado a dependência de álcool na velhice” – Marília, SP, Brasil, 2021.

O modelo paradigmático permitiu sistematizar os dados relacionando seus componentes ao fenômeno “Vivenciando a dependência de álcool na velhice”, estando condicionado ao início do consumo de álcool na vida dos idosos, e são ações- interações as justificativas apresentadas para o consumo e o enfrentamento do tratamento e abstinência de álcool. Tais ações-interações têm, como consequências os danos decorrentes da dependência de álcool como malefícios à saúde física, mental e social e à expressão de sentimentos como arrependimento e solidão.

O componente condições do fenômeno é caracterizado pela categoria “Iniciando o consumo de álcool”. O início do consumo de álcool geralmente ocorre na adolescência, porém, em alguns casos, o seu início pode ser tardio, estando associado a acontecimentos ocorridos durante a vida como a aposentadoria, repercutindo negativamente na vida do idoso.

17 anos, eu iniciei porque, juventude né, curiosidade da juventude né (…) (IA 5)

Quando ele aposentou (…) depois que começou a ficar mais em casa, aí começou a beber direto e reto, todo dia e toda hora, (…) ele tinha tempo ocioso. (F 2)

Frente às condições vivenciadas, a categoria “Justificando o consumo de álcool” se caracteriza como uma das ações/interações, na qual os participantes justificam o consumo como recurso para lidar com situações fontes de sofrimento, as quais não conseguiriam manejar em abstinência. O uso de álcool está diretamente associado à sensação de bem-estar, prazer e aumento da disposição ao trabalho que somente são experienciadas sob efeito do álcool.

Bebia para fugir um pouco da realidade (…) me sentia sobrecarregada, eu bebia e ficava relaxada (…) quando eu não bebia eu ficava triste e chorava. (IA 11)

Quando eu bebia eu ficava alegre; quando não bebia eu ficava murcho (…) quando eu não bebia, parecia que estava faltando alguma coisa (…). (IA 6)

Eu bebia pinga para trabalhar, aí me dava coragem! (…) quando não tinha nada para tomar, dava vontade de ir embora, quando bebia, o trabalho rendia mais. (IA 8)

Os idosos dependentes de álcool que mantêm seu consumo, negam que este tenha ocasionado malefícios e, por isso, não reconhecem a necessidade de procurar ajuda.

(…) nunca senti nada não, o médico só falou que eu tinha uma manchinha no pulmão do cigarro e a manchinha do fígado por conta da bebida e só! (IU 2)

Outra categoria associada as ações/interações é “Enfrentando o tratamento e abstinência de álcool”. Mediante o tratamento e abstinência do álcool, os idosos vivenciam benefícios físicos, financeiros e sociais, e surge a conscientização das consequências da dependência de álcool, e que a retomada de seu consumo seja um caminho sem volta por não terem mais condições físicas e emocionais para suportarem tal fardo.

Saúde está ótima, (…) a minha saúde é outra, você não me vê nem espirrar. (IA 3)

Depois que eu parei de beber, até dinheiro sobra (…) me sinto outro, eu não sei como explicar, eu estou tranquilo, não tenho mais problema de pressão. (IA 6)

(…) quero me manter firme, porque se eu cair de novo na bebida com essa idade e com essas doenças, talvez eu não consiga uma internação e voltar vivo. (IA 9)

Duas categorias se apresentam como consequência, sendo a primeira “Experienciando os danos da dependência de álcool”. As consequências da dependência de álcool afetaram a saúde física, mental, social e contexto familiar dos idosos, além de dificuldades financeiras.

(…) começou as pernas ficarem duras, não consegue mais comer sozinho, só toma banho sentado, não fica mais em pé, eu não vejo melhora meu pai está piorando (…). (F 7)

(…) antes só andava bêbado, servindo de boneco para turma, os caras tiravam sarro da gente: “A lá o bebedor! ”. É chato e vergonhoso. (IA 9)

(…) tinha vez que eu deixava de pagar uma conta para pagar a dívida do bar (…) às vezes, deixava de comprar alguma coisa para casa para comprar uma bebida. (IA 6)

Hoje em dia, a convivência também não é boa por causa dessas pingas que toma, aí eu durmo em um quarto com o meu neto e ele dorme em outro, isso já faz uns 7 anos. (F 6)

Outra categoria relacionada ao componente consequências é “Expressando sentimentos”. Os sentimentos expressos apenas pelos participantes em abstinência, estão relacionados à solidão, decorrentes do distanciamento afetivo de familiares e amigos, ao arrependimento pelas suas ações realizadas sob efeito do álcool e ao desejo de melhorar a qualidade de vida que foi afetada pela dependência de álcool.

Sinto solidão, falta dos filhos, muitos amigos meus morreram (…) o desprezo é a pior coisa do mundo, o desprezo é triste. (IA 4)

Eu tenho arrependimento de não ter uma casa e um carro melhores (…) ter perdido meu serviço e dois casamentos (…). Me arrependo de não ter uma vida melhor. (IA 9)

(…) quero melhorar mais (…) eu quero durar mais uns anos, mas o que puder fazer para melhorar minha saúde eu vou fazer sim, se Deus quiser! (IA 6)

DISCUSSÃO

O primeiro contato com o álcool pode ocorrer precocemente em razão da busca pelo novo e o desejo de novas experiências, melhores relações interpessoais ou mesmo de características individuais como a insegurança(1414. Willhelm LR, Pereira AS, Koller SH, Almeida RMM. Altos níveis de impulsividade e consumo de álcool na adolescência. Rev Latinoam Psicol. 2018;50(1):1-8. doi: http://dx.doi.org/10.14349/rlp.2018.v50.n1.1.
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). O início da ingestão de álcool pode, entretanto, ocorrer tardiamente, como recurso para lidar com eventos estressores como: aposentadoria, luto, solidão, isolamento social e dificuldades financeiras, tornando os idosos suscetíveis ao desenvolvimento da dependência de álcool(55. Maldonado GF, Brown D, Hoffman H, Kahlon C, Grossberg G. Alcohol use disorder in older adults. Clin Geriatr Med. 2022;38(1):1-22. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cger.2021.07.006. PubMed PMID: 34794695.
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).

No modelo teórico apresentado, o consumo de álcool está relacionado à expressão de sentimentos positivos. Os efeitos do álcool no organismo potencializam sensações de prazer, promovendo a socialização, desinibição social e efeitos positivos no humor(77. Bareham BK, Kaner E, Spencer LP, Hanratty B. Drinking in later life: a systematic review and thematic synthesis of qualitative studies exploring older people’s perceptions and experiences. Age Ageing. 2019;48(1):134-46. doi: http://dx.doi.org/10.1093/ageing/afy069. PubMed PMID: 29733341.
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1515. Carmo DRP, Faria FL, Pelzer MT, Terra MG, Santos MA, Pillon SC. Motivações atribuídas por adultos ao consumo de bebidas alcoólicas no contexto social. Psicol Teor Prat. 2018;20(2):225-39. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v20n2p240-253.
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). A escolha do consumo de álcool depende, em última instância, do livre arbítrio do sujeito que pode ser compreendido a partir de sua intencionalidade, com base em sua história de vida. Embora o livre arbítrio derive de uma causa, mesmo que seja a vontade própria, ainda é influenciado pela intersubjetividade e contexto em que o indivíduo está inserido(1515. Carmo DRP, Faria FL, Pelzer MT, Terra MG, Santos MA, Pillon SC. Motivações atribuídas por adultos ao consumo de bebidas alcoólicas no contexto social. Psicol Teor Prat. 2018;20(2):225-39. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v20n2p240-253.
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). Assim, os idosos podem consumir álcool como parte de sua vida social para obtenção de diversão e prazer, ou adotar tal hábito a partir de pessoas próximas a eles que avaliam o consumo como uma norma social(55. Maldonado GF, Brown D, Hoffman H, Kahlon C, Grossberg G. Alcohol use disorder in older adults. Clin Geriatr Med. 2022;38(1):1-22. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cger.2021.07.006. PubMed PMID: 34794695.
http://dx.doi.org/10.1016/j.cger.2021.07...
).

Diante dos efeitos positivos do álcool, muitos idosos dependentes subestimam as consequências de seu consumo, sua ingestão torna-se incontrolável, desencadeando a dependência e havendo necessidade de ingestão diária de álcool. Desse modo, priorizam seu uso em detrimento de outras atividades, minimizam seu efeito, negam-se a buscar assistência especializada, além de alegar uma falsa sensação de controle sobre seu consumo(77. Bareham BK, Kaner E, Spencer LP, Hanratty B. Drinking in later life: a systematic review and thematic synthesis of qualitative studies exploring older people’s perceptions and experiences. Age Ageing. 2019;48(1):134-46. doi: http://dx.doi.org/10.1093/ageing/afy069. PubMed PMID: 29733341.
http://dx.doi.org/10.1093/ageing/afy069...
).

Entretanto, encontra-se que os idosos são motivados a reduzir o consumo ou se abster totalmente do álcool quando entendem que a bebida pode afetar sua saúde e dificultar o controle em manter sua qualidade de vida e longevidade(1616. Bareham BK, Kaner E, Hanratty B. Managing older peolple’s perceptions of alcohol-related risk: a qualitative exploration on Northern English primary care. Br J Gen Pract. 2020;70(701):e916-26. doi: http://dx.doi.org/10.3399/bjgp20X713405. PubMed PMID: 33077511.
http://dx.doi.org/10.3399/bjgp20X713405...
). De acordo com os resultados do presente estudo, o idoso dependente de álcool, quando inicia o tratamento e mantém abstinência, pode vivenciar seus benefícios. Indivíduos em abstinência de álcool, apresentam melhora nas condições de saúde e capacidade para o trabalho, da situação financeira, dos níveis de concentração e energia e da confiança em resistir ao álcool(1717. Field M, Puddephatt J-A, Goodwin L, Owens L, Reaves D, Holmes J. Benefits of temporary alcohol restriction: a feasibility randomized trial. Pilot Feasibility Stud. 2020;6(9):9. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s40814-020-0554-y. PubMed PMID: 32021698.
http://dx.doi.org/10.1186/s40814-020-055...
).

Os idosos participantes relataram que por meio do tratamento surge a conscientização dos malefícios da dependência do álcool. A partir de experiências negativas e da percepção da vulnerabilidade de sua saúde, surge a compreensão, a confrontação do que deseja e o que não deseja mais vivenciar, emergindo o entendimento, a aceitação da doença e reconhecendo a necessidade de tratamento(1818. Mendes JS, Preis LC, Brolese DF, Santos JLG, Lessa G. Significado do tratamento hospitalar de desintoxicação para pessoas com alcoolismo: retomando a vida. Cogitare Enferm. 2018;23(2):e53410. doi: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v23i2.53410.
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). Salienta-se, no entanto que, para o idoso, a percepção sobre seu estado de saúde, envolve questões de cunho social e sua relação com o uso de álcool, o que pode se constituir tanto em fortaleza como em fragilidade na busca por tratamento.

Assim, entre os idosos entrevistados que mantêm o consumo excessivo de álcool, não reconhecem a doença ou apresentam desejo de mudança. A ausência de percepção da necessidade de tratamento é um comportamento complexo, relacionado a atitudes e crenças pessoais e padrões sociais que influenciam negativamente a busca por assistência(1919. Coêlho BM, Santana GL, Viana MC, Wang Y-P, Andrade LH. “I dont’t need any treatment”-barriers to mental health treatment in the general population of megacity. Br J Psychiatry. 2021;43(6):590-8. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1516-4446-2020-1448. PubMed PMID: 33950152.
http://dx.doi.org/10.1590/1516-4446-2020...
).

Devido a alterações associadas ao envelhecimento, os idosos são mais vulneráveis aos efeitos do álcool em comparação aos mais jovens. O álcool atinge níveis sanguíneos mais elevados, levando à intoxicação, mesmo em pequenas quantidades consumidas. Além disso, a sensibilidade ao álcool aumenta, pois, a tolerância diminui(2020. Lal R, Pattanayak RD. Alcohol use among the elderly: issues and considerations. J Geriatr Ment Health. 2017;13(40):4-10. doi: http://dx.doi.org/10.4103/jgmh.jgmh_34_16.
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). O consumo excessivo de álcool é apontado como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de uma série de problemas de saúde. Tais condições podem se agravar no caso de idosos com saúde física debilitada e que fazem uso de medicamentos que podem ter interação com o álcool(55. Maldonado GF, Brown D, Hoffman H, Kahlon C, Grossberg G. Alcohol use disorder in older adults. Clin Geriatr Med. 2022;38(1):1-22. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cger.2021.07.006. PubMed PMID: 34794695.
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2020. Lal R, Pattanayak RD. Alcohol use among the elderly: issues and considerations. J Geriatr Ment Health. 2017;13(40):4-10. doi: http://dx.doi.org/10.4103/jgmh.jgmh_34_16.
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).

Os relatos dos entrevistados destacam a relação da dependência de álcool com conflitos familiares, levando-os a vivenciar um contexto familiar, marcado por brigas e distanciamento afetivo, caracterizando a família como uma unidade deteriorada(2121. Nascimento LTR, Souza J, Gaino LV. Relacionamento entre familiar e usuário de álcool em tratamento em um centro de atenção psicossocial especializado. Texto Contexto Enferm. 2015;24(3):834-41. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072015003610013.
http://dx.doi.org/10.1590/0104-070720150...
). A dependência de álcool está associada a divórcios, especialmente entre os mais velhos, devido ao aumento de estresse, o que pode impactar na saúde física do indivíduo. Porém, encontrar dados sobre a população idosa, torna-se um desafio devido à subnotificação de casos e temática pouco estudada(55. Maldonado GF, Brown D, Hoffman H, Kahlon C, Grossberg G. Alcohol use disorder in older adults. Clin Geriatr Med. 2022;38(1):1-22. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cger.2021.07.006. PubMed PMID: 34794695.
http://dx.doi.org/10.1016/j.cger.2021.07...
).

Dentre outras consequências apontadas, o idoso dependente de álcool sofre com o estigma da doença. A dependência de álcool é a quarta condição de saúde mais estigmatizada em todo o mundo, tornando-os um grupo vulnerável da população, contribuindo para a deterioração da capacidade das relações sociais e solidão(2222. Canham SL, Mauro PM, Kaufmann CN, Sixsmith A. Association of alcohol use and loneliness frequency among middle-aged and older adult drinkers. J Aging Health. 2016;28(2):267-84. doi: http://dx.doi.org/10.1177/0898264315589579. PubMed PMID: 26082130.
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). Segundo entrevistados em abstinência, a dependência de álcool tem associação com a solidão, pois ao se abster do álcool, é necessário evitar relações que possam estimular seu consumo, o que pode significar, uma redefinição do ciclo social, procurando se conectar a pessoas que apoiem sua recuperação. E, este processo provavelmente aumenta o risco de solidão. Dados apontam associação entre o consumo de álcool ocasional e diminuição da solidão e estresse, bem como aumento da autoestima e otimismo, ao propiciar um ambiente de contato social e união entre os usuários, reduzindo o isolamento social e diminuindo o sentimento de solidão(2222. Canham SL, Mauro PM, Kaufmann CN, Sixsmith A. Association of alcohol use and loneliness frequency among middle-aged and older adult drinkers. J Aging Health. 2016;28(2):267-84. doi: http://dx.doi.org/10.1177/0898264315589579. PubMed PMID: 26082130.
http://dx.doi.org/10.1177/08982643155895...
,2323. Hajek A, Bock JO, Weyerer S, König HH. Correlates of Alcohol Consumption among Germans in the second half of life. Results of a population-based observational study. BMC Geriatr. 2017;17(1):207. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12877-017-0592-3. PubMed PMID: 28886697.
http://dx.doi.org/10.1186/s12877-017-059...
).

O sentimento de culpa ou arrependimento, somente é expresso depois que o indivíduo em abstinência reflete sobre o que fez. Aqueles que persistem no uso de álcool, mesmo reconhecendo as mudanças comportamentais e no contexto familiar, marcadas por agressividade e brigas, comumente não expressam reação de culpa ou arrependimento por minimizarem seu consumo(2424. Lopes APAT, Marcon SS, Decesaro MN. Abuso de bebida alcóolica e sua relação no contexto familiar. Estud Psicol. 2015;20(1):22-30. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1678-4669.20150004.
http://dx.doi.org/10.5935/1678-4669.2015...
).

É imprescindível a assistência especializada ao idoso dependente de álcool. Assim, o CAPS se destaca enquanto serviço de referência no tratamento para dependência de álcool da população adulta, ao desempenhar papel estratégico de articulador da rede e da política de saúde mental nos territórios. O CAPS segue a lógica de cuidado comunitário, voltado não apenas para o tratamento dos usuários e abstinência de álcool, mas para sua reinserção familiar, social e comunitária(2525. Santos EO, Eslabão AD, Kantorski LP, Pinho LB. Práticas de enfermagem no centro de atenção psicossocial. Rev Bras Enferm. 2020;73(1):e20180175. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0175. PubMed PMID: 32049233.
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). Isto posto, o profissional de Enfermagem apresenta-se como um dos principais prestadores de assistência ao dependente de álcool, pois mediante seu processo de trabalho, possui maior proximidade desta clientela. É imperativo repensar o ensino teórico/prático durante a formação acadêmica, devendo ser ancorado na atual política de saúde mental, com a desconstrução de preconceitos e rompimento de práticas e concepções tradicionais, bem como estimular a educação continuada e permanente nos espaços de assistência à saúde mental(2626. Nóbrega MPSS, Moreira WC, Chaves SCS, Freitas CM. Ensino teórico/prático na graduação em enfermagem para atuação em saúde mental. R Pesq Cuid Fundam. 2021;(13):1256-64. doi: http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361.rpcfo.v13.9534.
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).

O estudo tem, como limitação, ter sido conduzido em apenas um local de tratamento para dependência de álcool, porém não invalida seus resultados e pode contribuir com o desenvolvimento de futuros estudos.

CONCLUSÃO

Ao interpretar a vivência de idosos dependentes de álcool, destaca-se que os pressupostos teórico-metodológicos da TFD possibilitaram o aprofundamento e interpretação dos principais aspectos do fenômeno em questão, mediante intensa e constante interação com dados coletados, de reflexões e comparações realizadas, sendo de suma importância para explorar a riqueza e singularidade das vivências de idosos dependentes de álcool.

A construção do modelo teórico representa um contributo importante no que tange a dependência de álcool entre idosos ao analisar e interpretar a problemática do ponto de vista dos próprios sujeitos. Evidenciou-se que o início do consumo de álcool ocorre em momentos distintos, precocemente ou tardiamente. Foi unânime, na vivência dos idosos, relacionar a dependência de álcool como meio de lidar com emoções negativas e, aos poucos, assumindo papel central em suas vidas. Frente a esse significado, modificar tal comportamento se torna um desafio, a mudança comportamental ocorre por meio do tratamento e conscientização dos malefícios da dependência de álcool. Na trajetória da dependência de álcool, os idosos experienciam consequências físicas, mentais e sociais muitas vezes irreversíveis. Os idosos em abstinência, apesar de vivenciarem seus benefícios, expressam sofrimento e sentimentos de solidão devido à quebra do vínculo afetivo com entes queridos, arrependimento de seus atos enquanto faziam consumo de álcool, além do desejo de viver mais e com qualidade.

  • Apoio financeiro O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – código de Financiamento 001, a qual agradecemos.

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Editado por

EDITOR ASSOCIADO

Márcia Regina Martins Alvarenga

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    19 Fev 2022
  • Aceito
    17 Out 2022
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