Abordagem de integração multissensorial, domínios cognitivos, aprendizagem significativa: reflexões para o ensino de graduação em enfermagem

RESUMO

Ensinar com abordagem multissensorial auxilia o aluno a vincular informações novas ao conhecimento prévio e a entender relações entre conceitos. O objetivo deste estudo é refletir sobre convergências entre o Modelo de Abordagem de Integração Multissensorial com a Teoria da Assimilação da Aprendizagem e da Retenção Significativas com o Domínio dos Processos Cognitivos de Bloom, e propor uma tabela taxonômica de planejamento de aula para o ensino de Síndrome Coronariana Aguda, tendo em vista a confluência desses referenciais. Os três referenciais consideram a importância do conhecimento prévio do aluno, do processo de abstração e generalização do conhecimento e o relacionamento entre memória de trabalho e de longo prazo. Ao observar tais convergências e a tabela taxonômica produzida, observa-se que ensinar temas de interesse para graduandos de enfermagem, adotando o Modelo de Abordagem de Integração Multissensorial como um componente da tabela taxonômica (atividades pré-organizadoras ou de recall para suscitar diferentes percepções sensoriais alinhadas aos objetivos instrucionais e formas de avaliação), à luz da Teoria da Assimilação da Aprendizagem e da Retenção Significativas, tem potencial para favorecer a recepção e o processamento de conteúdos de instrução.

DESCRITORES
Educação em Enfermagem; Aprendizagem; Materiais de Ensino; Cardiologia; Estudantes de Enfermagem; Percepção

ABSTRACT

Teaching with a multisensory approach helps students link new information to prior knowledge and understand relationships between concepts. This study aimed to reflect on convergences between the Multisensory Integration Approach Model with the Learning Assimilation Theory and Meaningful Retention with Bloom’s Cognitive Process Domain, and to propose a taxonomic table of lesson planning for teaching Acute Coronary Syndrome, considering the confluence of these references. The three frameworks consider the importance of students’ prior knowledge, the process of abstraction and generalization of knowledge, and the relationship between working and long-term memory. By observing such convergences and the taxonomic table produced, it is observed that teaching topics of interest to nursing undergraduate students, adopting the Multisensory Integration Approach Model as a taxonomic table component (pre-organizing or recall activities to arouse different sensory perceptions aligned with instructional objectives and forms of assessment), in the light of the Learning Assimilation Theory and Meaningful Retention, has the potential to favor the reception and processing of instructional content.

DESCRIPTORS
Education, Nursing; Learning; Teaching Materials; Cardiology; Students, Nursing; Perception

RESUMEN

La enseñanza con un enfoque multisensorial ayuda al alumno a vincular la nueva información con el conocimiento previo y a comprender las relaciones entre los conceptos. El objetivo de este estudio es reflexionar sobre las convergencias entre el Modelo de Enfoque de Integración Multisensorial con la Teoría de la Asimilación y Retención del Aprendizaje Significativo con el Dominio de los Procesos Cognitivos de Bloom, y proponer una tabla taxonómica de planificación de lecciones para la enseñanza del Síndrome Coronario Agudo, en vista de la confluencia de estas referencias. Los tres marcos consideran la importancia del conocimiento previo del estudiante, el proceso de abstracción y generalización del conocimiento, y la relación entre la memoria de trabajo y la memoria a largo plazo. Al observar tales convergencias y la tabla taxonómica producida, se observa que la enseñanza de temas de interés para los estudiantes de enfermería, adoptando el Modelo de Enfoque de Integración Multisensorial como componente de la tabla taxonómica (actividades previas a la organización o recordación para suscitar diferentes percepciones sensoriales alineadas con objetivos instruccionales y formas de evaluación), a la luz de la Teoría de la Asimilación y Retención del Aprendizaje Significativo, tiene el potencial de favorecer la recepción y procesamiento del contenido instructivo.

DESCRIPTORES
Educación en Enfermería; Aprendizaje; Materiales de Enseñanza; Cardiología; Estudiantes de Enfermería; Percepción

INTRODUÇÃO

A educação envolve dois processos distintos e integrados: ensino e aprendizagem. A aprendizagem é o processo de entrada, processamento e armazenamento de informações no sistema cognitivo, assim como qualquer mudança persistente nos atributos comportamentais, produzida pela ação da experiência no sistema nervoso central(¹).

Especificamente, a aprendizagem multissensorial é um processo que consiste em aprender um novo assunto através do uso de dois ou mais sentidos, podendo incluir combinação visual, auditiva, tátil ou sensação sinestésica, olfativa e gustativa(²).

O processo de ensino consiste na criação de condições propícias para que a aprendizagem ocorra(³). Particularmente, ensinar com abordagem multissensorial fornece maneiras adicionais para o recebimento das informações no sistema cognitivo do estudante, ao realizar estimulação da audição, visão, tato, fala, paladar, movimento e ação, auxiliando o aluno a vincular informações novas ao conhecimento prévio e a entender as relações entre conceitos(⁴).

As definições de aprendizagem e ensino multissensorial se mostram coerentes com o fato de que, ao longo das vias sensoriais, as informações relativamente simples são transformadas em formas complexas, base da cognição(⁵).

Os receptores de cada um dos sistemas sensoriais fornecem representação neural do mundo externo, de forma que as informações advindas dos órgãos dos sentidos fluem centralmente para as regiões do encéfalo envolvidas na cognição(⁵). Além disso, ocorrem interações entre os córtex visual, auditivo e somatossensorial com o córtex pré-frontal(⁶), o qual suporta vários processos cognitivos superiores, incluindo percepção, memória e metacognição(⁷). Sabe-se que no cérebro humano ocorre a integração sensorial de baixo nível (visual-auditiva) ou integração sensorial de alto nível (visual-auditivo-tátil-olfativo-gustativo), envolvendo coordenação, atenção, função autonômica, emoções, funções cognitivas de alto nível e memória(⁸).

O ensino voltado à integração sensorial desempenha um papel vital na melhoria da memória de trabalho(²), a qual é entendida como “uma rede temporária que sustenta os conteúdos correntes do processamento”, possuindo sistemas subsidiários (capazes de reter informações baseadas em discurso e em informações relativas à percepção visual) e um centro executivo, capaz de manipular os resultados do processamento perceptual com informações estocadas na memória de longo prazo(⁹).

O treinamento multissensorial em educação pode melhorar a aprendizagem e apoiar o desenvolvimento de uma carreira de sucesso, criativa e sustentável em ambientes de trabalho complexos(¹⁰), pois processos multissensoriais são fundamentais para a percepção, cognição, aprendizagem e comportamento(⁶).

No ensino de graduação em enfermagem, alguns estudos têm sido realizados para explorar a atenção e percepções sensoriais dos graduandos, desenvolvendo o ensino voltado à abordagem multissensorial em aulas com utilização de metodologias tradicionais(¹¹–¹³) ou ativas(¹⁴). Nesses estudos, foram utilizados recursos diversificados, como ervilhas, embalagens de chocolates e doces(¹²), botões multicoloridos, luvas, protetores de ouvido(¹²), balões, desenho do coração humano no chão da sala de aula, papelão, fitas e cartões coloridos(¹³), colagens visuais brilhantes e coloridas em tamanho de pôster, fotografias infantis e imagens de objetos(¹⁴).

Os autores dos referidos estudos descrevem que tais recursos e abordagens contribuíram para o aprendizado dos alunos, ao favorecer a compreensão dos temas de ensino e conceitos-chave(¹¹–¹³), ao facilitar a transferência de informações, resolução de problemas e pensamento crítico(¹³), e ao auxiliar na formação de pensamentos e ideias(¹⁴). Nesta perspectiva, pesquisas sobre aprendizado multissensorial são encorajadas, para que os mecanismos e processos de aprendizagem dentro de configurações naturais possam ser mais bem compreendidos(¹⁵). Apesar de fornecer caminhos adicionais para o aluno receber informações, o ensino multissensorial é amplamente aplicado no contexto de ensino e de aprendizagem de crianças com distúrbios de linguagem e aprendizagem, e pouco explorado em profundidade em outras disciplinas(¹⁶).

Uma maneira de estimular a percepção sensorial, para incentivar a participação dos alunos na construção de seu aprendizado, em uma aula expositiva dialogada dentro de uma sala de aula, é proposta por Prasannakumar e Saminathan(⁸), os quais descrevem o Modelo de Abordagem de Integração Multissensorial (MAIM) como constituído por sete fases; fases essas que se relacionam a “como” conduzir uma aula utilizando a abordagem de integração multissensorial.

Na fase 1, “Relacionando novas informações”, há discussão em sala para identificação de conhecimento prévio; na fase 2, “Concentrando a atenção nas informações”, há utilização de ilustrações inovadoras, gestos, fornecimento de informação através de discriminação visual, auditiva e tátil e repetição de ideias; na fase 3, “Desenvolvendo conexão sensorial”, há utilização de pistas verbais e não verbais utilizando sensação visual, auditiva e, em seguida, sensação tátil; na fase 4, “Organizando as informações”, há utilização de organizadores gráficos por meio de recursos visuais e auditivos, com objetivo de esclarecer e clarificar os conceitos aos alunos; na fase 5, “Expandindo imagens sensoriais”, há fornecimento de técnicas de dramatização e simulação, analogias e metáforas para melhorar a imagem sensorial dos alunos e fornecimento de tarefa que exige coordenação olho-mão para integrar conceitos; na fase 6, “Estruturando a informação”, apresenta-se um problema a ser resolvido usando sistema auditivo e imagens, fornecendo-se atividades para conceptualização tátil e formulação de hipóteses e generalizações sobre conceitos; na fase 7, “Praticando recall”, considera-se a memória de trabalho com repetição de informações, utilizam-se técnicas mnemônicas, e os alunos devem ser capazes de recordar e reconhecer informações usando memória auditiva e visual(⁸).

Prasannakummar e Saminathan(¹⁷) realizaram um estudo de intervenção para ensino de ciências, com grupo experimental (utilizando o MAIM) e grupo controle (método tradicional de ensino), e concluíram que o MAIM melhorou o desempenho dos alunos e contribuiu para uma “aprendizagem significativa e alegre”, sugerindo que a abordagem integração multissensorial seja utilizada em todos os níveis educacionais, a fim de otimizar a aprendizagem.

O MAIM apresenta potencialidades para favorecer/otimizar o processo de aprendizado dos alunos. Quando inserido no planejamento de aula, de forma alinhada aos objetivos instrucionais e ao formato de avaliação desejados, é possível a criação de um ambiente externo na sala de aula que suscite diferentes percepções sensoriais, com potencialidade para auxiliar no relacionamento existente entre memória de trabalho e memória de longo prazo (assuntos novos e conhecimento prévio). De fato, atividades que requerem movimento e o sentido do tato fazem com que os estudantes participem dinamicamente de sua educação, ao invés de absorver informações passivamente através de seus olhos e ouvidos(¹⁸).

A observação das setes fases do MAIM, em uma perspectiva reflexiva, possibilita uma aproximação deste com a Teoria da Assimilação da Aprendizagem e da Retenção Significativas de David Ausubel (ao observar a forma de conduzir as sete fases) e do MAIM com a Taxonomia de Bloom (ao observar os verbos das sete fases).

Assim sendo, o presente estudo teórico tem como objetivos: 1) Refletir sobre as convergências existentes entre o MAIM com a Teoria da Assimilação da Aprendizagem e da Retenção Significativas (TAARS) de David Ausubel e com o Domínio dos Processos Cognitivos de Bloom, a fim de ampliar o olhar sobre o planejamento de uma aula (construção dos objetivos instrucionais, atividades a serem conduzidas durante a aula, formatos de avaliação da aprendizagem); 2) Propor uma tabela taxonômica de planejamento de aula para o ensino de Síndrome Coronariana Aguda, na confluência desses referenciais (MAIM, TAARS e de Bloom).

Para tanto, serão apresentadas, a seguir, quatro seções. A primeira discorrerá sobre a TAARS; a segunda, sobre o Domínio dos Processos cognitivos de Bloom para, posteriormente, discorrer, na terceira seção, sobre as convergências entre estes e propor (na quarta seção) uma atividade educativa com uma tabela taxonômica de planejamento de aula para o ensino de Síndrome Coronariana Aguda para graduandos de enfermagem, na confluência desses referenciais.

TEORIA DA ASSIMILAÇÃO DA APRENDIZAGEM E DA RETENÇÃO SIGNIFICATIVAS

A TAARS é definida pelo seu autor, David Ausubel, como teoria da “forma como os seres humanos apreendem e retêm grandes conjuntos de matérias organizadas na sala de aula e em ambientes de aprendizagem semelhantes”(¹⁹).

David Ausubel pontua que é provável que fatores cognitivos e de motivação interpessoal interajam, influenciando o processo de aprendizagem, e que este processo envolve o relacionamento com outros indivíduos. No entanto, recorta o âmbito de sua teoria em aspectos cognitivos, como princípios de organização e interação cognitivas e de mecanismos cognitivos(¹⁹). Assim sendo, a aprendizagem significativa descrita por David Ausubel consiste na ancoragem (ligação) seletiva do material de aprendizagem às ideias relevantes, existentes na estrutura cognitiva do aluno, e nas interações entre elas, de forma não arbitrária, em que o significado do que foi introduzido surge como produto de interação, bem como da ligação do novo significado com as ideias correspondentes no intervalo de memória (retenção)(¹⁹).

Às ideias ancoradas, dá-se o nome de subsunçores, e “é provável que os fatores que influenciam a clareza e a estabilidade das ideias de subsunção incluam a repetição (recall), o uso de exemplares e a exposição multicontextual”(¹⁹).

Ausubel(¹⁹) destaca que é fundamental o conhecimento prévio do aluno para a discussão de um novo assunto e que a repetição do assunto melhora a aprendizagem de duas formas distintas. Uma delas consiste no fato de que a repetição consolida o material apreendido de forma mais eficaz, quando realizada pouco depois da aprendizagem inicial (antes de ocorrer grande parte do esquecimento). Além disso, a repetição pode atuar no cenário de subsunçores ambíguos e instáveis, os quais fornecem fraca ancoragem para novas informações/conceitos, configurando-se como um fator influenciador da clareza e estabilidade de ideias de subsunção(¹⁸).

Outro ponto da TAARS, que cabe citar no escopo deste estudo, consiste na observação de que a estrutura cognitiva do aprendiz/aluno pode ser influenciada, de forma sistemática, pelos métodos de apresentação do conteúdo, ao utilizar um material de instrução organizado e pré-testado(¹⁹).

Há dois princípios importantes em um ensino expositivo: princípios da diferenciação progressiva e da reconciliação integrativa nos materiais de instrução, de forma que o primeiro reconhece que a aprendizagem e a sua retenção são hierárquicas, ou seja, ocorre realizando a abstração, depois generalização e inclusão. Já a reconciliação integrativa é facilitada no ensino expositivo se o professor e/ou materiais de ensino anteciparem e contra-atacarem, explicitamente, as semelhanças e diferenças confusas entre novas ideias e ideias já ancoradas na estrutura cognitiva do aprendiz(¹⁹).

O uso de pré-organizadores, no início da condução de uma aula/treinamento, pode fornecer uma estrutura em forma de âncora, para que o aluno apreenda o novo material(²⁰), desempenhando papel de mediador entre o conteúdo particular da tarefa de aprendizagem e o conteúdo mais geral das ideias potencialmente ancoradas na estrutura cognitiva do aprendiz(¹⁹). Desta forma, os pré-organizadores, compreendidos como um conceito geral ou mecanismo pedagógico, podem ser oferecidos como um diagrama, fluxograma, uma palavra geral ou uma frase(²⁰).

Além da utilização de pré-organizadores, docentes podem maximizar o aprendizado e a retenção da aprendizagem de seus alunos de diferentes maneiras, quer realizando mudança de estímulo regular e utilizando cor e movimento, quer efetuando mudanças nos métodos de ensino, utilizando gestos para auxiliar o aluno a se concentrar e a identificar conteúdos de importância para seu aprendizado(²⁰).

TAXONOMIA DE BLOOM: DOMÍNIO DOS PROCESSOS COGNITIVOS

A Taxonomia do Domínio dos Processos Cognitivos de Bloom é utilizada na educação superior(²¹,²²), configurando-se como instrumento para elaborar os objetivos de aprendizagem, para dirigir o processo de ensino e de aprendizagem, e para avaliar se a ação mental desejada foi demonstrada ou não pelo estudante(²³), pois favorece uma organização hierárquica de acordo com níveis de complexidade e objetivos de desenvolvimento cognitivo desejados e planejados(²⁴).

Para Bloom, todos aprendem, porém há diferenças em relação ao nível de profundidade e abstração do conhecimento incorporado(²⁴). As categorias do Domínio dos Processos Cognitivos envolvem a aquisição de um novo conhecimento, bem como desenvolvimento intelectual, habilidades e atitudes, de forma que as seis categorias são apresentadas em uma estrutura hierárquica em complexidade, da mais simples à mais complexa, do concreto para o abstrato, em que, para ascender em uma categoria, é preciso obter desempenho adequado na categoria anterior(²⁴), conforme Figura 1.

Figura 1.
Categorias do Domínio de Processos Cognitivos de Bloom e verbos para avaliação da aprendizagem. São Paulo, 2021.

A categoria “Lembrar” está intimamente relacionada ao processo de retenção do conteúdo apresentado na memória de longo prazo, ao passo que as outras cinco estão relacionadas ao processo de transferência(²⁵).

Um aspecto importante da referida taxonomia se refere ao grau de correspondência entre objetivos instrucionais, instruções (atividades) e avaliação, grau este verificado pela comparação dos objetivos com a avaliação, dos objetivos com a instrução e da instrução com a avaliação. Tais comparações ficam mais fáceis de serem realizadas quando é utilizada a tabela taxonômica, assim chamada pelos seus autores; porém, seu formato é um quadro, em que as colunas ilustram os processos cognitivos e as linhas a dimensão do conhecimento(²⁵).

As dimensões do conhecimento, de acordo com a Taxonomia de Bloom, incluem o conhecimento factual, o conceitual e o procedimental. Por conhecimento factual, entende-se o conhecimento de elementos de conteúdo discretos e isolados, que inclui o conhecimento da terminologia e o conhecimento de detalhes e elementos específicos(²⁵).

Por conhecimento procedimental, entende-se o “Conhecimento de como fazer algo”, incluindo o conhecimento de habilidades e algoritmos, técnicas e métodos, bem como conhecimento dos critérios usados, para determinar e/ou justificar “quando fazer o que” dentro de domínios e disciplinas específicas. Por conhecimento conceitual, entendem-se as formas de conhecimento “mais complexo e organizado”, incluindo o conhecimento de classificações e categorias, princípios e generalizações, teorias, modelos e estrutura(²⁵).

CONVERGÊNCIAS ENTRE MAIM, TAARS E DOMÍNIO DOS PROCESSOS COGNITIVOS DA TAXONOMIA DE BLOOM

Os elementos que refletem aproximações e convergências entre o MAIM e a TAARS, e entre o MAIM e o Domínio dos Processos Cognitivos de Bloom, consistem na observação e comparação das fases do MAIM com os conceitos explanados e defendidos na TAARS e com os Processos Cognitivos descritos por Bloom.

A TAARS e o MAIM vêm sublinhar a importância do conhecimento prévio do aluno e a repetição de ideias (recall). Para tanto, podem-se utilizar exemplares e pré-organizadores/organizadores gráficos e ofertar informações por meio de materiais de instrução organizados e pré-testados, com discriminação visual auditiva e tátil, ou por meio de pistas verbais e não verbais que envolvam o aluno, para parafrasear informações com sensações advindas dos órgãos dos sentidos. Pode-se também realizar o ataque e o contra-ataque de semelhanças e diferenças e técnicas de dramatização, simulação, analogias, metáforas e coordenação olho-mão, facilitando a diferenciação progressiva por meio da apresentação de um problema a ser discutido usando sistema auditivo, imagens e tato para formar hipóteses e generalizar.

As categorias do Domínio dos Processos Cognitivos de Bloom e o MAIM se aproximam, pois as fases do MAIM se configuram como “maneira” de trabalhar o conteúdo de instrução em sala de aula (para favorecer a recepção ou processamento dos conteúdos, almejando o alcance de diferentes habilidades cognitivas, de acordo com os processos cognitivos envolvidos), ou se configuram como condição necessária (importância de evocar conhecimentos prévios) para o alcance dos objetivos instrucionais desejados. A Figura 2 ilustra de forma detalhada as fases do MAIM e suas aproximações da TAARS e do Domínio dos Processos Cognitivos de Bloom.

Figura 2.
Convergências entre o Modelo de Abordagem de Integração Multissensorial, a Teoria da Assimilação da Aprendizagem e da Retenção Significativa e o Domínio dos Processos Cognitivos de Bloom, São Paulo, 2021.

A seguir, é apresentada uma proposta de aplicação das confluências ilustradas na Figura 2 no contexto de ensino e de aprendizagem de graduandos de enfermagem.

PROPOSTA DE ENSINO DE SÍNDROME CORONARIANA AGUDA PARA GRADUANDOS DE ENFERMAGEM COM ATIVIDADES VOLTADAS À INTEGRAÇÃO SENSORIAL

Para fins de reflexão e aproximação do MAIM ao cenário educacional em enfermagem, à luz da TAARS e do Domínio dos Processos Cognitivos de Bloom, elencou-se um tema de relevância mundial para o ensino de graduandos em enfermagem, a Síndrome Coronariana Aguda (SCA), pois a doença isquêmica cardíaca é a maior causa de morte no mundo, responsável por 8,9 milhões (16%) de mortes em 2019(²⁶).

Cabe ressaltar que esta proposta visa fazer conexões entre objetivos instrucionais, atividades com abordagem de integração multissensorial realizadas em sala de aula e avaliação da aprendizagem, considerando como público-alvo os graduandos de enfermagem que já cursaram disciplinas de anatomia, fisiologia e histologia humana e farmacologia. A intenção não é substituir estratégias e recursos que cada docente pode adotar em seu planejamento de aula, mas agregar e suscitar considerações sobre outra maneira de ensinar tal tema, de acordo com a inserção deste na disciplina voltada à assistência de enfermagem à pessoa adulta e idosa.

De forma mais detalhada, para a concepção da proposta de ensino sugerida, seguiram-se os seguintes passos: 1) Definição da estratégia a ser adotada para condução da proposta (expositiva dialogada); 2) Adoção da TAARS para o desenvolvimento da proposta, ao compreender o graduando de enfermagem como ator de seu processo de aprendizagem, com conhecimento prévio sobre anatomia, fisiologia, histologia humana e farmacologia; 3) Utilização da Taxonomia de Bloom para o planejamento da proposta, por ser um instrumento didático-pedagógico que auxilia na elaboração dos objetivos instrucionais e na observação da correspondência entre estes com a instrução realizada e itens avaliativos da aprendizagem(²⁵); 4) Determinação de que o MAIM será utilizado especificamente como norteador da elaboração de atividades instrucionais voltados à integração sensorial para praticar recall ou para oferecer pré-organizadores (elementos estes descritos na TAARS como fatores que favorecem o processo de aprendizagem).

O princípio traçado foi a condução da aula com estratégia expositiva dialogada na modalidade presencial, utilizando recursos instrucionais que requerem baixo investimento financeiro (a fim de não comprometer sua implementação e replicação). É importante destacar que as atividades sugeridas podem ser aprimoradas (sendo apenas um esboço inicial) e desenvolvidas em uma aula expositiva dialogada, com a utilização de recurso multimídia e de materiais de uso doméstico/papelaria. Esses materiais podem ser providenciados pelos alunos ou adaptados/substituídos por objetos semelhantes, a partir da solicitação prévia do docente.

No Quadro 1, são descritos os objetivos instrucionais, suas respectivas atividades com abordagem de integração multissensorial e formas de avaliar o aprendizado à luz da TAARS, considerando o Domínio dos Processos Cognitivos da Taxonomia de Bloom.

Quadro 1
Proposta de objetivos instrucionais, correspondentes a atividades com abordagem de integração multissensorial e formatos de avaliação. São Paulo, Brasil, 2021.

Posteriormente a esta etapa de elaboração dos objetivos instrucionais para atividades com abordagem de integração multissensorial e formatos de avaliação, foi construída a tabela taxonômica, a qual sintetiza o enquadramento/correspondência dos objetivos instrucionais, das atividades planejadas e formatos de avaliação nas dimensões do conhecimento e dimensões dos processos cognitivos, simultaneamente, conforme Quadro 2.

Quadro 2
Proposta de tabela taxonômica da aula sobre Síndrome Coronariana Aguda para graduandos de enfermagem. São Paulo, Brasil, 2021.

A observação da tabela taxonômica (Quadro 2) oferece ao docente um panorama do processo de ensino, possibilitando a visualização do tipo de avaliação mais coerente com o objetivo instrucional que se pretende alcançar e qual atividade desenvolver para atingir os objetivos instrucionais distribuídos entre os domínios do conhecimento e dos processos cognitivos.

CONCLUSÃO

As convergências entre o MAIM, a TAARS e o Domínio dos Processos Cognitivos da Taxonomia de Bloom consistem no fato de que esses três referenciais consideram a importância do conhecimento prévio do aluno, o processo de abstração e profundidade do conhecimento, e a relação entre memória de trabalho e de longo prazo.

Tais convergências podem ser percebidas na tabela taxonômica para ensino de SCA, na qual o MAIM configura-se como um componente desta tabela, objetivando percepções sensoriais durante a condução da aula com realização de atividades de caráter pré-organizadora ou de recall, as quais proporcionam diferentes maneiras de promover a recepção e processamento de conteúdos de aprendizagem dentro de sala de aula.

No contexto da graduação em enfermagem, ensaios clínicos randomizados são necessários para verificar o real efeito do ensino, utilizando o MAIM na aprendizagem dos graduandos e baseando-se em referenciais norteadores, como a Taxonomia de Bloom à luz da TAARS. Estudos com metodologia qualitativa também são indispensáveis para compreender o ensino com tal abordagem, na perspectiva do graduando, quanto aos aspectos afetivos e de motivação interpessoal que permeiam o processo de aprendizagem.

EDITOR ASSOCIADO

Paulino Artur Ferreira de Sousa

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  11 Abr 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  22 Ago 2021
• Aceito
  07 Fev 2022