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Cuidados de Enfermagem ao povo Warao: um relato de experiência baseado na teoria transcultural

RESUMO

Objetivo:

Relatar a experiência de enfermeiros do Consultório na Rua no cuidado à população indígena venezuelana da etnia Warao em Maceió/AL a partir da Teoria Transcultural de Madeleine Leininger.

Metodologia:

Estudo descritivo, do tipo relato de experiência, a partir do cuidado da população indígena Warao à luz da Teoria Transcultural de Madeleine Leininger, realizado durante o ano de 2022.

Resultados:

Utilizaram-se tecnologias leves para formação de vínculo e compreensão do universo cultural do povo Warao. Os conceitos de preservação, acomodação e reestruturação cultural do cuidado da teoria Transcultural de Leininger contribuíram para elucidar a prática vivenciada. Ofertou-se uma atenção integral conforme os programas preconizados pelo Ministério da Saúde, com cuidado transcultural, inclusive com respeito à recusa de assistência. A barreira linguística e as crenças no que tange à saúde representaram desafios no contexto do cuidado singular.

Conclusão:

A experiência de enfermeiros do Consultório na Rua no cuidado a população indígena favoreceu uma significativa interação social e ampliou as possibilidades para o alcance da integralidade em saúde. A aplicação da Teoria Transcultural se mostrou como um dispositivo eficaz e congruente para o cuidado em saúde.

DESCRITORES
Enfermagem; Teoria de Enfermagem; Atenção Primária à Saúde; Povos Indígenas; Comportamento Ritualístico

ABSTRACT

Objective:

To report on the experience of nurses from the Street Clinic in caring for the Indigenous Venezuelan population of the Warao ethnic group in Maceió/AL based on Madeleine Leininger’s Transcultural Theory.

Metodology:

A descriptive study, of the experience report type, based on the care of the Warao Indigenous population in the light of Madeleine Leininger’s Transcultural Theory, carried out during the year 2022.

Results:

Light technologies were used to form bonds and understand the cultural universe of the Warao people. The concepts of preservation, accommodation and cultural restructuring of care from Leininger’s transcultural theory helped to elucidate the practice. Comprehensive care was offered in accordance with the programs recommended by the Ministry of Health, with transcultural care, including respect for refusal of care. The language barrier and health beliefs represented challenges in the context of singular care.

Final considerations:

The experience of nurses from the Street Clinic in caring for the Indigenous population favored significant social interaction and expanded the possibilities for achieving comprehensive health care. The application of Transcultural Theory proved to be an effective and congruent device for health care.

DESCRIPTORS
Nursing; Nursing Theory; Primary Health Care; Indigenous Peoples; Ceremonial Behavior

RESUMEN

Objetivo:

Referir la experiencia de enfermeros de una Unidad Sanitaria Móvil en la atención a la población indígena venezolana de la etnia Warao, en Maceió/AL, a partir de la Teoría Transcultural de Madeleine Leininger.

Metodología:

Se trata de un estudio descriptivo, del tipo informe de experiencia, basado en la atención a la población indígena Warao a la luz de la Teoría Transcultural de Madeleine Leininger, realizado durante el año 2022.

Resultados:

Se utilizaron tecnologías leves para crear vínculos y comprender el universo cultural del pueblo Warao. Los conceptos de preservación, acomodación y reestructuración cultural de los cuidados de la teoría transcultural de Leininger ayudaron a dilucidar la práctica. Se ofreció atención integral según los programas recomendados por el Ministerio de Salud, con atención transcultural y se respetó el rechazo a la atención. La barrera lingüística y las creencias sanitarias representaron desafíos en el contexto de la atención singular.

Conclusión:

La experiencia de los enfermeros de la Unidad Sanitaria Móvil en la atención a la población indígena favoreció mucho la interacción social y amplió las posibilidades de lograr una atención sanitaria integral. La aplicación de la Teoría Transcultural demostró ser un dispositivo eficaz y adecuado para el cuidado de la salud.

DESCRIPTORES
Enfermería; Teoría de Enfermería; Atención Primaria de Salud; Pueblos Indígenas; Conducta Ceremonial

INTRODUÇÃO

No mundo, estima-se a existência de 400 milhões de pessoas indígenas, dos quais cerca de 764 mil estão aldeados no Brasil. Eles se encontram distribuídos no território nacional em aproximadamente 305 povos com 180 dialetos diferentes(11. Souza ES, Rocha ESC, Toledo NN, Pina RMP, Pereira RSF. organizadores. Enfermagem na saúde Indígena. 2. ed. Brasilia, DF: Editora ABen; 2022.). Na perspectiva histórica, a população indígena é marcada, desde o período da colonização, pela estigmatização, manifestada nas práticas de maus tratos, escravidão, sedentarização, guerras, genocídio e epidemias(11. Souza ES, Rocha ESC, Toledo NN, Pina RMP, Pereira RSF. organizadores. Enfermagem na saúde Indígena. 2. ed. Brasilia, DF: Editora ABen; 2022.,22. Maia AS, Nascimento EM, Carvalho TP, Sousa CG. The challenges of nursing in integral health care for indigenous people. Enferm Foco. 2021;12(2):333–8. doi: http://dx.doi.org/10.21675/2357-707X.2021.v12.n2.4166.
https://doi.org/10.21675/2357-707X.2021....
). Ainda nos dias atuais, essas comunidades sofrem com tensões, ameaças e vulnerabilidades, com determinantes e condicionantes da saúde fragilizados relacionados à precariedade na higiene e alimentação, moradias superlotadas, contaminação ambiental e infecções(11. Souza ES, Rocha ESC, Toledo NN, Pina RMP, Pereira RSF. organizadores. Enfermagem na saúde Indígena. 2. ed. Brasilia, DF: Editora ABen; 2022.33. Rodrigues GASC, Terra MF. Nursing assistance to the indigenous population: a bibliographic study. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo. 2018;63(2):100–4. http://dx.doi.org/10.26432/1809-3019.2018.63.2.100.
https://doi.org/10.26432/1809-3019.2018....
).

Diante da diversidade, cada comunidade indígena tem sua forma de organização sociopolítica e econômica, além de seus modos próprios de lidar com o processo saúde-doença(11. Souza ES, Rocha ESC, Toledo NN, Pina RMP, Pereira RSF. organizadores. Enfermagem na saúde Indígena. 2. ed. Brasilia, DF: Editora ABen; 2022.). Nesse contexto, o Brasil tem sido cenário da migração venezuelana, impulsionada, sobretudo, pela crise política e econômica deste último país. Dentre os imigrantes, estão os povos indígenas da etnia Warao(44. Santos, RC, Aragão TAP, Ribeiro LKNP, Santos EAT, Valois-Santos NT. Challenges in attention and health promotion of venezuelan immigrants in the covid-19 context. Rev Interfaces. 2020;8(3):802–8. doi: http://dx.doi.org/10.16891/2317-434X.v8.e3.a2020.pp802-808.
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), os quais são tradicionalmente habitantes do delta do rio Orinoco, composto por um grupo étnico bastante diverso no que tange às suas formas de organização social e costumes, compartilhando uma língua comum, também homonimamente chamada Warao, além do espanhol em níveis variados de fluência(44. Santos, RC, Aragão TAP, Ribeiro LKNP, Santos EAT, Valois-Santos NT. Challenges in attention and health promotion of venezuelan immigrants in the covid-19 context. Rev Interfaces. 2020;8(3):802–8. doi: http://dx.doi.org/10.16891/2317-434X.v8.e3.a2020.pp802-808.
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,55. Andrade JT, Sousa CKS. Práticas indígenas de cura no Nordeste brasileiro: discutindo políticas públicas e intermedicalidade. Anu Antropol. 2016;41(2):174–204. doi: http://dx.doi.org/10.4000/aa.2581.
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). Os rituais espirituais ocupam um lugar central no processo de adoecimento e cura desses indígenas. Quando um membro da etnia adoece, a tradição indica que o primeiro diagnóstico deve partir de um de seus xamãs e que a pessoa só pode ser encaminhada para o tratamento convencional após sua liberação(55. Andrade JT, Sousa CKS. Práticas indígenas de cura no Nordeste brasileiro: discutindo políticas públicas e intermedicalidade. Anu Antropol. 2016;41(2):174–204. doi: http://dx.doi.org/10.4000/aa.2581.
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).

Dessa forma, sabe-se que a medicina tradicional indígena tem sido ratificada internacionalmente como parte crescente dos sistemas de cuidados em saúde. Seu entendimento no mundo moderno constitui um cenário de pluralidade terapêutica e diversidade epistemológica, na qual as práticas de saúde têm lugar(66. Chang L, Chen S, Hung S. Embracing diversity and transcultural society through community health practicum among college nursing students. Nurse Educ Pract. 2018;31:156–60. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.nepr.2018.05.004. PubMed PMID: 29908449.
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). Nesse contexto, há uma crescente defesa da integração da medicina tradicional ao conjunto de saberes e serviços da medicina convencional, porém, sabe-se que as ações das políticas públicas atuais voltadas para a saúde indígena promovem um limitado intercâmbio, ao invés de uma integração efetiva, como está instituída na política nacional indígena(66. Chang L, Chen S, Hung S. Embracing diversity and transcultural society through community health practicum among college nursing students. Nurse Educ Pract. 2018;31:156–60. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.nepr.2018.05.004. PubMed PMID: 29908449.
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,77. Gonçalves JE, Mendes RCMG, Silva WM, Peixinho BC, Oliveira MB, Albuquerque JLS, et al. Traditional indigenous medicine in the pandemic times of COVID-19. REAS/EJCH. 2020;12(10):e4713. doi: https://doi.org/10.25248/reas.e4713.2020.
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).

Dentre as principais teorias de enfermagem que enfatizam a natureza e o fenômeno do cuidado está a Teoria Transcultural, proposta pela enfermeira Madeleine Leininger(88. Silva ER, Alencar EB, Dias EA, Rocha LC, Carvalho SCM. Transculturality in nursing based on Madeleine Leininger’s theory. REAS/EJCH. 2020;13(2): e5561. doi: https://doi.org/10.25248/reas.e5561.2021.
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). Essa teoria é considerada abrangente e acolhedora, pois abarca e compreende as demandas de saúde em populações e comunidades multiculturais(99. Martins LA, Oliveira RM, Camargo CL, Aguiar ACSA, Santos DV, Whitaker MCO, et al. Practice of breastfeeding in quilombola communities in the light of transcultural theory. Rev Bras Enferm. 2020;73(4):e20190191. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0191. PubMed PMID: 32609176.
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), tornando a enfermagem capaz de (re)significar as diversidades, a cultura e também os elementos em comum dos indivíduos e(m) seus contextos socioculturais como características determinantes de seu estado de saúde ou doença, tanto quanto permite fornecer direções para uma visualização atenciosa e de respeito ao comportamento dos sujeitos(1010. Almeida AWB, Marin REA, Melo EA, organizadores. Pandemia e Território. 1. ed. São Luís: UEMA Edições; 2020.).

Logo, a atuação da enfermagem na saúde indígena exige um olhar intercultural, a partir da implementação de um cuidado humanizado e que respeite as crenças e valores do grupo assistido. Vale considerar que, durante a sistematização da assistência de enfermagem, faz-se imprescindível um cuidado norteado por uma teoria de enfermagem(1111. Brandão MAG, Barros ALBL, Primo CC, Bispo GS, Lopes ROP. Nursing theories in the conceptual expansion of good practices in nursing. Rev Bras Enferm. 2019;72(2):604–8. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0395. PubMed PMID: 31017224.
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0...
). É por isso que a Teoria Transcultural de Madeleine Leininger representa um suporte teórico apropriado no cuidado junto à comunidade indígena Warao.

Diante do exposto, o projeto denominado “Consultório na Rua” se mostra como uma porta de acesso aos serviços de saúde para a população em situação de rua e para pessoas em condições de vulnerabilidade, atuando com ações integrais frente às necessidades deste grupo(1212. Lima AFS, Almeida LWS, Costa LMC, Marques ES, Lima Jr MCF, Rocha KRSL. Recognizing the risks in the work of Street Medical Consultations: a participative process. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03495. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2018022603495. PubMed PMID: 31433022.
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). Convém mencionar que, quando o povo Warao chegou ao Brasil, muitos ficaram em situação de rua, tendo que pedir dinheiro e alimentação para sobreviver, sendo, mais tarde, acolhidos em abrigos(44. Santos, RC, Aragão TAP, Ribeiro LKNP, Santos EAT, Valois-Santos NT. Challenges in attention and health promotion of venezuelan immigrants in the covid-19 context. Rev Interfaces. 2020;8(3):802–8. doi: http://dx.doi.org/10.16891/2317-434X.v8.e3.a2020.pp802-808.
https://doi.org/10.16891/2317-434X.v8.e3...
,55. Andrade JT, Sousa CKS. Práticas indígenas de cura no Nordeste brasileiro: discutindo políticas públicas e intermedicalidade. Anu Antropol. 2016;41(2):174–204. doi: http://dx.doi.org/10.4000/aa.2581.
https://doi.org/10.4000/aa.2581...
), tornando-se, portanto, também, público alvo das equipes do Consultório na Rua.

Dessa forma, considerando o desafio enfrentado pelas equipes do Consultório na Rua de Maceió/AL para uma atenção integral a um grupo étnico estrangeiro, com suas especificidades, e levando em conta o histórico de imigração indígena venezuelana crescente para o Brasil, faz-se importante a discussão da temática para a enfermagem e área da saúde. Assim, com intuito de agregar à produção científica que discorra sobre o tema, o presente trabalho tem por objetivo relatar a experiência de enfermeiros do Consultório na Rua de Maceió/AL no cuidado à população indígena à luz da Teoria Transcultural de Madeleine Leininger como referencial teórico da prática.

MÉTODO

Desenho de Estudo

Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência de enfermeiros no cuidado à população indígena Warao à luz da Teoria Transcultural de Madeleine Leininger. Esse tipo de artigo descreve uma dada vivência que pode contribuir de forma relevante para determinada área de atuação. Deve ser escrito de modo contextualizado e com objetividade, contribuindo por meio do estímulo a trocas e proposições de ideias no campo em questão. O seu propósito é socializar uma experiência, suscitar o debate e viabilizar reflexões(1313. Mussi RF, Flores FF, Almeida CB. Assumptions for the preparation of an experience report as scientific knowledge. Prax Educ (St Rosa). 17(48):60–77. doi: http://dx.doi.org/10.22481/praxisedu.v17i48.9010.
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). Neste ínterim, a Teoria Transcultural norteou os cuidados de enfermagem com base nas três formas de atuação que a teórica prima, sendo elas: preservação cultural do cuidado, acomodação cultural do cuidado e reestruturação cultural do cuidado(1414. Gualda DMR, Hoga LAK. Estudo sobre teoria transcultural de Leininger. Rev Esc Enferm USP. 1992;26(1):75-86. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0080-6234199202600100075. PubMed PMID: 1496177.
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).

O conceito de preservação cultural do cuidado pode ser entendido como prestar a assistência a fim de facilitar e capacitar o usuário a manter e preservar hábitos saudáveis culturalmente embasados. Já a acomodação cultural do cuidado diz respeito a revelar formas de negociação e adaptação de hábitos de saúde e de vida dos sujeitos conforme suas crenças. E a reestruturação cultural do cuidado é o novo construído em prol da saúde e vida, de modo que seja significativo e congruente para o indivíduo(88. Silva ER, Alencar EB, Dias EA, Rocha LC, Carvalho SCM. Transculturality in nursing based on Madeleine Leininger’s theory. REAS/EJCH. 2020;13(2): e5561. doi: https://doi.org/10.25248/reas.e5561.2021.
https://doi.org/10.25248/reas.e5561.2021...
,1414. Gualda DMR, Hoga LAK. Estudo sobre teoria transcultural de Leininger. Rev Esc Enferm USP. 1992;26(1):75-86. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0080-6234199202600100075. PubMed PMID: 1496177.
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).

Ademais, este estudo tem como recorte temporal transversal e para fins de descrição desta experiência, considerou-se o período de fevereiro a dezembro de 2022, no exercício do cuidar de enfermagem na atuação do Consultório na Rua de Maceió/AL.

Local

Os cuidados de enfermagem aconteceram em alguns cenários de atuação das equipes do Consultório na Rua de Maceió, como o ambiente da rua, visto que alguns indígenas se encontravam nessas condições, em abrigos e casas improvisadas. Durante o inverno, no período de junho de 2022, os recursos recebidos do governo federal somados às fortes chuvas impulsionaram a organização, no centro da cidade, de um abrigo para as famílias indígenas imigrantes. Esse abrigo possui dez quartos para alojamento das famílias, além de estrutura com banheiros, sala de atividades, cozinha, refeitório e lavanderia. Além desse, outros abrigos foram sendo organizados posteriormente, porém observa-se uma estrutura precária desses locais, de modo que cada família é acomodada em único cômodo, ou seja, um quarto por família, independentemente de sua composição.

Verifica-se como vultoso mencionar que, no estado de Alagoas, somente a cidade de Maceió possui equipes do Consultório na Rua, contando com 6 equipes multidisciplinares, que atuam de forma itinerante e em conjunto com as equipes das Unidade Básicas de Saúde do território a fim de prestar assistência à População em Situação de Rua (PSR) ou em condições análogas em todos os distritos sanitários da capital nos três turnos de horários. As equipes se articulam com a Rede de Atenção à Saúde para garantir a integralidade na assistência nos diversos níveis de complexidade(1515. Timóteo AVG, Silva JVS, Gomes LKG, Alves ASS, Barbosa VMS, Brandão TM. Caracterização do trabalho e ações desenvolvidas pelas equipes do Consultório na Rua de Maceió - AL. Enferm Foco [Internet]. 2020 [cited 2023 Jan 26];11(1):126–30. Available from: http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/2757/716
http://revista.cofen.gov.br/index.php/en...
,1616. Cardoso AC, Santos DS, Mishima SM, Anjos DSC, Jorge JS, Santana HP. Challenges and potentialities of nursing work in street medical offices. Rev Latino-Am Enfermagem. 2018;26:e3045. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.2323.3045.
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).

Participantes

Os cuidados de enfermagem foram prestados ao povo Warao por enfermeiros do Consultório na Rua e suas respectivas equipes, além de dois mestrandos do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas como etapa da produção de informações de suas pesquisas. É valido destacar que as equipes do Consultório na Rua de Maceió estão habilitadas pelo Ministério da Saúde na modalidade II, que corresponde à inserção de pelo menos seis profissionais, dos quais três devem ter nível superior e três nível médio(1515. Timóteo AVG, Silva JVS, Gomes LKG, Alves ASS, Barbosa VMS, Brandão TM. Caracterização do trabalho e ações desenvolvidas pelas equipes do Consultório na Rua de Maceió - AL. Enferm Foco [Internet]. 2020 [cited 2023 Jan 26];11(1):126–30. Available from: http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/2757/716
http://revista.cofen.gov.br/index.php/en...
,1616. Cardoso AC, Santos DS, Mishima SM, Anjos DSC, Jorge JS, Santana HP. Challenges and potentialities of nursing work in street medical offices. Rev Latino-Am Enfermagem. 2018;26:e3045. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.2323.3045.
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). Apesar da forma de organização, gestão e atribuições do Consultório na Rua serem semelhantes nos outros estados do Brasil, é preciso considerar as particularidades regionais que singularizam a atenção em saúde.

Aspectos Éticos

Este estudo foi desenvolvido mediante a vivência de enfermeiros que atuam no Consultório na Rua de Maceió/AL no cuidado ao povo indígena da etnia Warao, imigrantes da Venezuela. Logo, versa sobre a descrição da prática vivida, desafios na assistência de enfermagem e estratégias de cuidar a partir do suporte teórico da Teoria Transcultural de Madeleine Leininger. Dessa forma, não houve produção de informações que viessem a identificar pessoas ou instituições, sem haver a necessidade de submissão em Comitê de Ética.

RESULTADOS

As equipes do Consultório na Rua além de atender a população em situação de rua, também são referência no cuidado junto às pessoas indígenas imigrantes da Venezuela em Maceió/AL. O primeiro contato das equipes com os indígenas da etnia Warao foi em fevereiro de 2022, com um grupo formado por cerca de 20 pessoas. Durante os meses subsequentes, a equipe realizou aproximações e construiu vínculos, ampliando o alcance de pessoas e, em dezembro de 2022, conforme os cadastros realizados, contava-se com cerca de 100 pessoas indígenas Warao.

Desse modo, as equipes do Consultório na Rua integram a Atenção Primária à Saúde e, assim, devem seguir as diretrizes e orientações das políticas públicas preconizadas pelo Ministério da Saúde(1515. Timóteo AVG, Silva JVS, Gomes LKG, Alves ASS, Barbosa VMS, Brandão TM. Caracterização do trabalho e ações desenvolvidas pelas equipes do Consultório na Rua de Maceió - AL. Enferm Foco [Internet]. 2020 [cited 2023 Jan 26];11(1):126–30. Available from: http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/2757/716
http://revista.cofen.gov.br/index.php/en...
). Na assistência ao povo Warao, buscou-se ofertar um cuidado integral com respeito à cultura e crenças, subsidiado pela Teoria Transcultural de Madeleine Leininger. Para tanto, a equipe precisou imergir em suas práticas de cuidado e visão de mundo, o que permitiu a construção de uma relação de confiança ancorada no vínculo e no acolhimento, essencial para o cuidar em saúde. Assim, a equipe pôde facilitar a entrada nos serviços de saúde, formando pontes com as redes de atenção, ao longo do acompanhamento do usuário nos encaminhamentos e consultas, considerando a preservação do cuidado cultural relacionados aos rituais religiosos associados à saúde, porém com acomodação e reestruturação do cuidado cultural por meio da negociação, ajustamento e reconstrução, o que foi alcançado a partir do relacionamento interpessoal construído. Também foram organizadas reuniões para viabilização dos interesses e necessidades desse público. Ademais, realizou-se consultas de enfermagem; atividades de educação em saúde; procedimentos de enfermagem; interpretação de exames laboratoriais; realização de testes-rápidos para Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s); bem como atendimentos às necessidades apresentadas no momento da abordagem.

Para desenvolver essas ações, os enfermeiros, juntamente com a equipe multidisciplinar, depararam-se com a necessidade de um olhar compreensivo sobre as diferenças culturais e formas de organização do povo Warao. Como já mencionado, essa população se encontrava nas ruas, em abrigos, ou em habitações precárias e pequenas para a quantidade de membros da família. Considerando tais condições, as consultas de pré-natal foram realizadas na van [automóvel de trabalho] da equipe do consultório, dada a impossibilidade de se fazer no local de moradia. Essas situações que necessitaram de (re)adequações possibilitou reflexões, crescimento e aprendizado para os profissionais a partir da reinvenção do fazer em saúde para cuidar com integralidade e respeito aos valores culturais.

Além disso, observou-se os hábitos e formas de organização doméstica que oferecem riscos e podem comprometer a saúde, acarretando outros agravos a uma população já fragilizada: como a disposição de panelas, pratos e utensílios no chão das casas e quartos, além do hábito de desprezar os dejetos humanos e alimentares em locais inapropriados, próximo aos lugares de convivência do grupo. Nas consultas de puericultura, foi observada a presença de cáries e má higiene bucal.

Cabe mencionar que, o povo Warao, em seu local de origem, acomoda-se em casas próximas de rios, com o mínimo de móveis e sem saneamento básico. Portanto, inicialmente, foi um desafio para a equipe de saúde compreender essas práticas culturais, por vezes, deparando-se com o próprio preconceito. Neste momento, o conhecimento da teoria de Leininger por parte dos enfermeiros e mestrandos serviu de base para a discussão em equipe e permitiu a reflexão da importância de um cuidado cultural congruente, de modo que os diferentes saberes (profissional, pessoal e popular) devem ser ponderados para a garantia de um cuidado em conformidade aos valores culturais do grupo em questão.

Destarte, desenvolveu-se atividades de educação em saúde com o objetivo de acomodação e reestruturação do cuidado cultural para apoiar, facilitar e capacitar o ajustamento de hábitos/estilo de vida de modo a ser significativo e congruente ao grupo cuidado. Também foi elaborada uma ação de educação em saúde de forma lúdica para abordar o tema da higiene doméstica com as famílias, sem êxito na percepção da alteração de hábito. Todavia, a equipe também investiu na educação em saúde sobre a higiene oral com as crianças, a partir de uma abordagem dinâmica, distribuição de kits de higiene oral, além de constantes orientações a cada encontro da equipe com as famílias e crianças. Essas se mostraram receptivas, demonstrando interesse e dando feedback positivo nas visitas posteriores.

No que tange aos entraves enfrentados pela equipe, visto que os Warao possuem um dialeto próprio, suscitou a necessidade do desenvolvimento de estratégias por parte dos enfermeiros e do restante da equipe para uma comunicação efetiva. Dentre elas, foram utilizadas a mímica, uso de imagens e aproximação daqueles que entendiam e falavam português para auxiliar na comunicação.

Em relação aos cuidados com a saúde, o povo Warao tem suas crenças, que envolvem o uso de ervas e rituais religiosos, e precisaram ser respeitadas pela equipe de saúde. Neste âmbito, foi vivenciado um conflito diante da recusa de um adolescente e de sua família diante da necessidade de internamento hospitalar para tratamento de tuberculose com complicações clínicas. Nesse momento, a equipe decidiu preservar o cuidado cultural. Entretanto, houve o agravamento do caso e a necessidade, de encaminhamento do menor para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ainda assim, alguns indígenas foram ao hospital e exigiram alta do paciente. A situação foi mediada a partir da acomodação e reestruturação do cuidado cultural, primeiramente evidenciada pela negociação da equipe com a família e, posteriormente, junto à equipe do hospital para liberação da entrada do líder espiritual para realização de ritual de cura; condição exigida para permanência na internação em leito da Unidade de Terapia Intensiva para o tratamento.

A enfermagem e a equipe interprofissional enfrentaram o desafio de promover saúde e prevenir doenças e agravos, porém, também se depararam com o dilema de superar os próprios preconceitos para assistir os usuários de maneira respeitosa à sua cultura. Nesse contexto, o conhecimento e a aplicação prática de uma teoria de enfermagem surgem como um fruto desse processo, instrumentalizando um cuidado mais sensível às necessidades do outro. Esse conhecimento permite a compreensão do ambiente, da pessoa, da saúde e do papel do enfermeiro frente às demandas, estimulando o agir com raciocínio crítico.

DISCUSSÃO

A teoria da Madeleine Leininger sobre a etno-enfermagem ou cuidado transcultural reflete sobre a necessidade de entender o contexto sócio-político-cultural de um indivíduo ou de determinado grupo para que se possa, então, compreender quais são as suas culturas de cuidado e suas interações com os sistemas de saúde popular (isto é, aquilo que contempla o nativo da cultura local) e profissional (onde a enfermagem geralmente está vinculada). Dessa forma, o enfermeiro ou a equipe de enfermagem pode estabelecer três tipos de relação com o cuidado cultural: preservação/manutenção, acomodação/adaptação, e reestruturação/repadronização(1414. Gualda DMR, Hoga LAK. Estudo sobre teoria transcultural de Leininger. Rev Esc Enferm USP. 1992;26(1):75-86. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0080-6234199202600100075. PubMed PMID: 1496177.
https://doi.org/10.1590/0080-62341992026...
,1717. Soares JL, Silva IGB, Moreira MRL, Martins AKL, Rebouças VCF, Cavalcante EGR. Transcultural theory in nursing care of women with infections. Rev Bras Enferm. 2020;73(Suppl 4):e20190586. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0586. PubMed PMID: 32965420.
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0...
,1818. Briñez Ariza KJ, Muñoz RL. Experiencias de cuidado cultural en personas con diabetes y el contexto familiar, con enfoque Leininger. Cult de los Cuid. 2016;20(45):81–90. doi: http://dx.doi.org/10.14198/cuid.2016.45.09.
https://doi.org/10.14198/cuid.2016.45.09...
). Para tanto, o percurso desta seção de discussão seguirá, primeiramente, discorrendo sobre o contexto mais amplo da população Warao.

O povo Warao é a segunda maior etnia da Venezuela. Encontram-se estabelecidos na região do delta do Rio Orinoco, correspondendo aproximadamente a 50.000 pessoas(1919. Moreira E. Os Warao no Brasil em cenas: “o estrangeiro”. Périplos: Revista de Estudos sobre Migrações [Internet]. 2018 [cited 2023 Jan 30];2(2):56–68. Available from: https://periodicos.unb.br/index.php/obmigra_periplos/article/view/25457
https://periodicos.unb.br/index.php/obmi...
). Essa área foi afetada pela exploração de petróleo e pela construção de barragens, trazendo, como consequência, a salinização da água e do solo, impactando as atividades que garantem o sustento deste povo, como a pesca e a agricultura(2020. Rensi JS, Câmara MLB. Public policy barriers regarding warao people in Rio Grande do Norte. Revista Monções. 2021;10(20):225–59. doi: http://dx.doi.org/10.30612/rmufgd.v10i20.14692.
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). Na década de 90, enfrentaram a epidemia da cólera, o que dizimou um número signficativo dessa população. Além disso, o contexto de crise econômica e perdas motivou a vinda de muitos desses indígenas ao Brasil, em 2014, com uma intensificação em 2017. Assim, a partir de 2018, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a Organização das Nações Unidas (ONU) e outras organizações se voltaram para o acolhimento e proteção desse grupo(1919. Moreira E. Os Warao no Brasil em cenas: “o estrangeiro”. Périplos: Revista de Estudos sobre Migrações [Internet]. 2018 [cited 2023 Jan 30];2(2):56–68. Available from: https://periodicos.unb.br/index.php/obmigra_periplos/article/view/25457
https://periodicos.unb.br/index.php/obmi...
,2020. Rensi JS, Câmara MLB. Public policy barriers regarding warao people in Rio Grande do Norte. Revista Monções. 2021;10(20):225–59. doi: http://dx.doi.org/10.30612/rmufgd.v10i20.14692.
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).

Em relação às cidades que receberam essa imigração, as principais foram Boa Vista e Pacaraima, visto que são municípios que fazem fronteira com a Venezuela. Outras cidades que têm um quantitativo significativo dessa etnia são Manaus, Santarém e Belém. Ao chegar nesses locais, os Warao ficaram em situação de rua, vivendo da mendicância nos semáforos, se acomodando em abrigos, em pequenas casas ou quartos coletivos alugados(1919. Moreira E. Os Warao no Brasil em cenas: “o estrangeiro”. Périplos: Revista de Estudos sobre Migrações [Internet]. 2018 [cited 2023 Jan 30];2(2):56–68. Available from: https://periodicos.unb.br/index.php/obmigra_periplos/article/view/25457
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,2020. Rensi JS, Câmara MLB. Public policy barriers regarding warao people in Rio Grande do Norte. Revista Monções. 2021;10(20):225–59. doi: http://dx.doi.org/10.30612/rmufgd.v10i20.14692.
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). Dessa mesma forma aconteceu o processo de chegada dos Warao em Maceió. A partir do mês de fevereiro, quando as equipes começaram a se aproximar e formar vínculo com esse povo, alguns deles se encontravam nas ruas, outros em casas alugadas em condições precárias, pedindo alimentos e doações para o sustento.

No que diz respeito à chegada à cidade de Boa Vista, os abrigos que acolhiam os Warao também sofreram superlotação de pessoas. Esse é um ponto que merece atenção, visto que esses espaços, por vezes, são organizados como medidas emergenciais e formados por profissionais que desconhecem a cultura do povo Warao e não a consideram no momento de abrigamento. Além disso, o ambiente aglomerado compromete a privacidade, favorecendo a disseminação de doenças e ferindo os direitos desse povo(1919. Moreira E. Os Warao no Brasil em cenas: “o estrangeiro”. Périplos: Revista de Estudos sobre Migrações [Internet]. 2018 [cited 2023 Jan 30];2(2):56–68. Available from: https://periodicos.unb.br/index.php/obmigra_periplos/article/view/25457
https://periodicos.unb.br/index.php/obmi...
,2121. Souza JH. Janokos brasileiros: uma análise da imigração dos Warao para o Brasil. Boletim Científico ESMPU [Internet]. 2018 [cited 2023 Jan 30];17(52):71–99. Available from: https://escola.mpu.mp.br/publicacoescientificas/index.php/boletim/article/view/449/401
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).

Infelizmente, o cenário não foi tão diferente nos abrigos emergenciais em Maceió, organizados, no mês de junho, devido às fortes chuvas, possuindo uma estrutura inadequada com aglomeração e falta de privacidade. No que tange aos recursos humanos, o fato da equipe do Consultório na Rua já ter formado um vínculo com algumas famílias Warao e manter visitas periódicas aos abrigados serviu para fortalecer a relação de confiança, bem como ser ponte para informar aos funcionários do abrigo as práticas pertinentes à cultura desse povo.

Assim, com relação à capacitação dos recursos humanos para atuar junto à diversidade cultural, um estudo aborda a situação dos Apalaches, nos Estados Unidos, os quais sofrem com as diferenças econômicas, culturais e de saúde em comparação ao restante do país, havendo a necessidade de recrutamento de profissionais de fora da região ou até mesmo de outros países, o que contribui para a desconexão cultural do profissional com o ser cuidado. O estudo aponta que o treinamento dos profissionais, no que se refere à compreensão em torno da cultura e das crenças desse povo, melhorou a comunicação e a interação entre profissionais e pacientes (apalaches)(2222. Seamon R. Addressing Appalachian Health Disparities: Applying Madeleine Leininger’s Culture Care Theory to Health Care in Appalachia. In: ASA Annual Conference [Internet]; 2019; Orlando. Huntington: Appalachian Studies Association; 2019 [cited 2023 Jan 30]. Session 8. Available from: https://mds.marshall.edu/asa_conference/2019/session8/3/
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).

Dessa forma, os enfermeiros e técnicos de enfermagem, como integrantes da equipe do Consultório na Rua, precisam considerar as individualidades para garantir dignidade no cuidado. Essa abordagem contrasta com o modelo biomédico em que o paciente é visto como dependente no processo de cuidado, sem autonomia e sem participação no tratamento. A partir do olhar holístico, o ser humano é visto em sua singularidade e em suas diversas dimensões, o que afeta sua experiência durante o processo saúde-doença-cuidado, em que a cultura tem interferência, pois caracteriza a identidade de um povo, seus valores, símbolos e normas, trazendo a noção de pertencimento ao referido processo(2323. Scheck G, Ianiski FR, Rzigoski D, Vontroba A, Mix PR. Care of a remaining quilombols community in the light of madeleine Leininger’s transcultural theory. Rev Saúde. 2020;14(3-4):71–8. doi: http://dx.doi.org/10.33947/1982-3282-V14N3-4-4327.
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).

Sobre prover cuidado às pessoas considerando os valores culturais, a Teoria Transcultural de Madeleine Leininger propõe o modelo “sunrise” ou “sol-nascente” a fim de nortear o enfermeiro na identificação das condições humanas para poder cuidar. O modelo é composto por quatro níveis: I) Universo cultural de cada grupo, que deve ser apreendido pelo enfermeiro no exercício do cuidar, a fim de interpretar como o seu cuidado vai ser recebido de acordo com as tradições; II) Individuo e família no contexto de um sistema de saúde em busca de entender seus significados; III) Saberes profissionais e populares a fim de determinar as semelhanças e diferenças; IV) Cuidado de enfermagem coerente com as culturas e por elas valorizados(1414. Gualda DMR, Hoga LAK. Estudo sobre teoria transcultural de Leininger. Rev Esc Enferm USP. 1992;26(1):75-86. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0080-6234199202600100075. PubMed PMID: 1496177.
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).

Nesse sentido, a fim de melhor compreender o universo cultural e hábitos do povo Warao, o Consultório na Rua precisou fazer uma aproximação e formação de vínculo. Tal movimento já faz parte do modus operandi do Consultório na Rua, a partir da utilização de tecnologias leves como: o acolhimento, a escuta e o diálogo para estabelecer relação de confiança com o usuário e permitir uma assistência integral, com respeito à singularidade de cada ser cuidado(1212. Lima AFS, Almeida LWS, Costa LMC, Marques ES, Lima Jr MCF, Rocha KRSL. Recognizing the risks in the work of Street Medical Consultations: a participative process. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03495. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220x2018022603495. PubMed PMID: 31433022.
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). Entretanto, a barreira na comunicação devido ao dialeto próprio do povo Warao se mostrou como um entrave a ser superado. A experiência do Consultório na Rua do Estado do Rio Grande do Norte também descreveu a dificuldade da comunicação como um limitante no processo de cuidado, já que a maioria dos indígenas possuem tanto um dialeto próprio do seu povo quanto o espanhol como língua materna, o que tem reflexo na compreensão das orientações(2424. Heufemann NEC, Ferla AA, Lima KMS, Martins FM, Lemos SM. organizadores. Saúde indígena: educação, gestão e trabalho [Internet]. 10. ed. Porto Alegre: Editora Unida; 2020 [cited 2023 Jan 30]. Available from: https://editora.redeunida.org.br/wp-content/uploads/2020/11/Livro-Saude-Indigena-educacao-gestao-e-trabalho.pdf
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).

Destarte, a Teoria do Cuidado Transcultural de Leininger entende o cuidar como um ato cultural, em que cada povo tem sua particularidade no processo. Percebe-se a aplicação da teoria no caso da identificação dos hábitos que podem ser nocivos à saúde, a exemplo do costume de deixar panelas, pratos e outros utensílios dispostos no chão, bem como a forma de lidar com os dejetos e lixo, além da verificação da má higiene oral das crianças e da presença de pediculose. A partir da teoria, houve o processo de conhecimento da cultura e a tentativa de negociação e reestruturação por meio de educação em saúde, com orientações frequentes que eram retomadas a cada visita, a fim de sensibilizá-los quanto aos cuidados domésticos e de higiene necessários. No entanto, mesmo com uma assistência duradoura, não foi possível observar mudança significativa em relação a essa abordagem, estando muito ligada aos costumes desse povo(1919. Moreira E. Os Warao no Brasil em cenas: “o estrangeiro”. Périplos: Revista de Estudos sobre Migrações [Internet]. 2018 [cited 2023 Jan 30];2(2):56–68. Available from: https://periodicos.unb.br/index.php/obmigra_periplos/article/view/25457
https://periodicos.unb.br/index.php/obmi...
,2020. Rensi JS, Câmara MLB. Public policy barriers regarding warao people in Rio Grande do Norte. Revista Monções. 2021;10(20):225–59. doi: http://dx.doi.org/10.30612/rmufgd.v10i20.14692.
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). Já as práticas de educação em saúde direcionadas às crianças, sobretudo no mês de outubro, tiveram boa receptividade.

Vale destacar que essa experiência de educação em saúde confrontou as crenças dessas populações indígenas e desafiou os enfermeiros e equipe do Consultório na Rua a lidar com os próprios preconceitos. A forma de lidar com a higiene trouxe desconforto à equipe, mas a vivência exigiu que se rompesse com o modelo biomédico e se buscasse estratégias e referenciais para melhor assistir a essa população, valorizando a integração entre teoria e prática, a partir da compreensão de que as necessidades são subjetivas e precisam ser escutadas e (re)conhecidas visando ao cuidar em saúde em enfermagem, respeitando a autonomia e valores culturais.

A educação em saúde, na perspectiva da educação popular em saúde, pode ser uma ferramenta potente para o alcance de um cuidado transcultural, pois ela busca integrar os saberes da população com o dos profissionais de saúde e valorizar os aspectos socioculturais pela escuta e pelo diálogo, a fim de construir ações que fortaleçam o protagonismo das pessoas nas práticas de cuidado em saúde(2525. Freitas RJM, Bessa MM, Fernandes SF, Barreto FA, Trigueiro JG. Enfer(i)magem: espaço potente para o exercício da transdisciplinaridade no cuidado em saúde. Revista de Educação Popular. 2021;20(2):230–44. doi: https://doi.org/10.14393/REP-2021-55413.
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). Assim, faz-se necessário um desprendimento do profissional para buscar enxergar a realidade sob as lentes do usuário por meio da construção de vínculo, com vistas à implementação de um cuidado integral(2525. Freitas RJM, Bessa MM, Fernandes SF, Barreto FA, Trigueiro JG. Enfer(i)magem: espaço potente para o exercício da transdisciplinaridade no cuidado em saúde. Revista de Educação Popular. 2021;20(2):230–44. doi: https://doi.org/10.14393/REP-2021-55413.
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).

Ainda, pôde-se observar a aplicação da teoria Transcultural, na oferta de um cuidado congruente aos valores da cultura do povo Warao, no caso de um adolescente em tratamento de tuberculose. Os enfermeiros juntos à equipe de saúde buscaram preservar a cultura de saúde ao respeitar o direito de recusa de internação pela família. Porém, com o agravamento do quadro de saúde, houve a necessidade de reestruturar o cuidado ofertado com o objetivo de mantê-lo com maiores condições de sobrevivência e, com a família de acordo, o paciente foi internado. Após a manifestação do grupo para manter suas práticas de saúde, fez-se necessária a negociação com a estrutura social envolvida e, assim, foi concedida a entrada do líder espiritual para realização do ritual típico desta cultura(1414. Gualda DMR, Hoga LAK. Estudo sobre teoria transcultural de Leininger. Rev Esc Enferm USP. 1992;26(1):75-86. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0080-6234199202600100075. PubMed PMID: 1496177.
https://doi.org/10.1590/0080-62341992026...
,1717. Soares JL, Silva IGB, Moreira MRL, Martins AKL, Rebouças VCF, Cavalcante EGR. Transcultural theory in nursing care of women with infections. Rev Bras Enferm. 2020;73(Suppl 4):e20190586. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0586. PubMed PMID: 32965420.
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,1818. Briñez Ariza KJ, Muñoz RL. Experiencias de cuidado cultural en personas con diabetes y el contexto familiar, con enfoque Leininger. Cult de los Cuid. 2016;20(45):81–90. doi: http://dx.doi.org/10.14198/cuid.2016.45.09.
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).

Nesse caso em específico foi possível perceber as três formas de atuação que a abordagem transcultural de enfermagem pode manifestar: preservação – mantendo o direito da família de cuidar de seu integrante com base em seus costumes; acomodação (negociação) – para ajustar o cuidado já praticado pelo povo Warao ao ambiente do hospital e aos conhecimentos propostos pela equipe; e reestruturação (repadronização) – intervindo na internação do usuário, mudando o padrão de cuidado ofertado, buscando sobrevida e restauração da saúde com ferramentas típicas do sistema profissional de saúde, no caso, o próprio SUS(1414. Gualda DMR, Hoga LAK. Estudo sobre teoria transcultural de Leininger. Rev Esc Enferm USP. 1992;26(1):75-86. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0080-6234199202600100075. PubMed PMID: 1496177.
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,1717. Soares JL, Silva IGB, Moreira MRL, Martins AKL, Rebouças VCF, Cavalcante EGR. Transcultural theory in nursing care of women with infections. Rev Bras Enferm. 2020;73(Suppl 4):e20190586. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0586. PubMed PMID: 32965420.
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,1818. Briñez Ariza KJ, Muñoz RL. Experiencias de cuidado cultural en personas con diabetes y el contexto familiar, con enfoque Leininger. Cult de los Cuid. 2016;20(45):81–90. doi: http://dx.doi.org/10.14198/cuid.2016.45.09.
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).

Um estudo com enfermeiros da província de Yunnan, na China, no cuidado transcultural a minorias étnicas, evidenciou que os enfermeiros também vivenciaram desafios na assistência de enfermagem e preocupação com a qualidade dos cuidados prestados. Para aperfeiçoar e superar esses desafios e tensões, sugeriu-se a capacitação contemplando pontos sobre o conhecimento e sensibilidade transcultural, línguas minoritárias e experiências multiculturais. Outras estratégias facilitadoras são sugeridas como: uma sala com recursos para instrumentalizar a assistência e cuidado em saúde, a adaptação da religião e culinária e uma equipe para conduzir cuidados transculturais nos hospitais(2727. Tong L, Tong T, Noji A, Kitaike T, Wang X. Nurses’ experiences of providing transcultural nursing care to minority patients in Yunnan province: a descriptive qualitative study. Nurs Health Sci. 2022;24(3):661–9. doi: http://dx.doi.org/10.1111/nhs.12959. PubMed PMID: 35633139.
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). Dessa forma, as equipes do Consultório na Rua de Maceió ainda continuam buscando capacitação e recursos para melhor assistir esse povo.

Vale considerar que as migrações no Brasil continuam e, com isso, o público de pacientes se diversifica. Somado ao fato das próprias diferenças regionais do país, o enfermeiro precisa ter sensibilidade e conhecimento sobre a cultura para cuidar de modo adequado. Para tanto, desde a formação acadêmica deve ser reforçado na grade curricular o cuidado transcultural. Um estudo na Eslovênia com 318 estudantes de Enfermagem do primeiro ao terceiro ano de uma instituição educacional, teve como resultado um nível satisfatoriamente alto sobre a consciência do cuidado transcultural entre alunos do segundo ano de curso, o que demonstra êxito na aplicação dos conteúdos e a importância de se manter nos decorrer de todo curso(2828. Ličen S, Karnjuš I, Prosen M. Measuring cultural awareness among slovene nursing student: a cross-sectional study. J Transcult Nurs. 2021;32(1):77–85. doi: http://dx.doi.org/10.1177/1043659620941585. PubMed PMID: 32666907.
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).

Pode-se apontar como limitação do estudo a não generalização dos dados apresentados, por características da metodologia adotada e pela temática abordada, visto que traz a realidade do cuidado de enfermagem prestado a um grupo étnico estrangeiro em uma determinada região e isto pode variar a depender da região do Brasil, além de ser um relato de enfermeiros, podendo ter interpretações diferentes de acordo com a vivência e contexto no qual cada um atua.

Pode-se inferir que este trabalho contribui para a sensibilização dos profissionais que lidam com este público, estimulando-os a aprofundar estudos com base na etno-enfermagem, buscando compreender mais o fenômeno migratório descrito, bem como as formas de atuação da enfermagem e da saúde coletiva, a partir do planejamento de ações, estratégias e quiçá políticas de saúde mais específicas a esta população. Com a tendência de avanços na união econômica e social entre países da América Latina, proposta pelas forças de governo vigentes, as atividades migratórias tendem a se tornar cada vez mais recorrentes, o que levanta a necessidade de novos estudos transculturais, como este apresentado.

CONCLUSÃO

A experiência de enfermeiros do Consultório na Rua em relação ao cuidado com a população indígena Warao, à luz da Teoria Transcultural de Madeleine Leininger, favoreceu uma significativa interação social e ampliou as possibilidades para o alcance da integralidade em saúde. O decorrer do processo de cuidar numa perspectiva intercultural, intersubjetiva e interacional de cuidado desafiou os profissionais da saúde a romper com os próprios preconceitos e com um modelo de saúde impositivo, em busca de uma prática de cuidado sob uma perspectiva cultural coerente com os valores do povo Warao. A referida teoria norteou as ações de modo a proporcionar não somente a reestruturação de hábitos dos indígenas, mas também o aprendizado, a mudança e a reflexão da equipe. O cuidado transcultural reconhece a diversidade de cuidados em saúde e os esforços pela integração entre as práticas de saúde com significado étnico e o sistema profissional de saúde.

Preservar a cultura, os saberes da ancestralidade indígenas e as crenças dos povos Warao envolve o cuidado de enfermagem e, para isso, é necessário adquirir conhecimento e competência específicos, permitindo que essas pessoas tenham liberdade para manejar recursos e práticas terapêuticas no enfrentamento das enfermidades. Sem o respeito às diferenças socioculturais, as interações positivas vão se tornando proporcionalmente improváveis, bem como o estabelecimento de espaços de comunicação e inteligibilidade mútua entre os indígenas venezuelanos e os profissionais que os atendem, perdendo oportunidades de crescimento e aprendizado de ambos os lados nesse processo.

Aprofundar o estudo transcultural em enfermagem, baseado na Teoria de Madeleine Leininger, em busca da melhor compreensão da cultura do povo Warao, bem como perspectivas e estratégias de cuidar, é fundamental nessa nova configuração social que o Brasil está vivenciando em diversas regiões, concentradas, atualmente, no Norte e Nordeste. Isso não exclui, mas incentiva esforços das ciências humanas e da saúde em discorrer melhor sobre o fenômeno, para que as instituições brasileiras estejam preparadas para gerir e lidar com esse processo complexo e dinâmico.

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Editado por

EDITOR ASSOCIADO

Rosa Maria Godoy Serpa da Fonseca

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    01 Fev 2023
  • Aceito
    01 Nov 2023
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