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Comunidade de Euglossini (Hymenoptera, Apidae) das dunas litorâneas do Abaeté, Salvador, Bahia, Brasil

Resumo

Community of Euglossini (Hymenoptera, Apidae) from the coastal sand dunes of Abaeté, Salvador, Bahia, Brazil. The Euglossini community structure was analyzed by attracting males with the scents eucalyptol, eugenol, vanillin, benzyl benzoate and methyl salicylate, and by netting bees on flowers. The samplings took place three times a month along one year from 6:00 a.m. to 6:00 p.m. The scent baits attracted 670 individuals belonging to seven species of three genus. The predominant species were Euglossa cordata (Linnaeus, 1758) (76.6%) and Eulaema nigrita Lepeletier, 1841 (21.8%). Euglossini males visited the scents along the whole year, being more abundant in May and in August. The most efficient fragrance was eucalyptol, attracting 624 individuals of five species. The males abundance fluctuated along the day, being the highest frequency observed between 8:00 a.m. to 10:00 a.m. Forty eigth Euglossini females of four species were netted visiting flowers of 14 plant species belonging to 13 families. Solanaceae and Caesalpiniaceae were the most visited. The species catched on flowers were Euglossa cordata, Eulaema nigrita, Euplusia mussitans (Fabricius, 1787) and Eulaema meriana flavescens Friese 1899. Euglossa cordata was the predominant species on flowers (64.6%), being collected during almost the whole year. Euplusia mussitans was the only species netted on flowers which males were not sampled on the scents.

Community structure; Euglossini; richness; scent baits; sand dunes


Community structure; Euglossini; richness; scent baits; sand dunes

Comunidade de Euglossini (Hymenoptera, Apidae) das dunas litorâneas do Abaeté, Salvador, Bahia, Brasil

Blandina Felipe VianaI, II; Astrid Matos Peixoto KleinertIII; Edinaldo Luz das NevesI

ILaboratório de Biologia e Ecologia de Abelhas (LABEA), Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia. Rua Barão de Geremoabo s/n, Campus Universitário de Ondina, 40170-110 Salvador-BA, Brasil. Endereço eletrônico: blandefv@ufba.br

IIPrograma de Pós-Graduação em Ecologia e Biomonitoramento, Universidade Federal da Bahia. Endereço eletrônico: ecologia@ufba.br

IIIDepartamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo. Rua do Matão, Travessa 1, nº 327, 05508-900 São Paulo-SP, Brasil. Endereço eletrônico: astridkl@usp.br

ABSTRACT

Community of Euglossini (Hymenoptera, Apidae) from the coastal sand dunes of Abaeté, Salvador, Bahia, Brazil. The Euglossini community structure was analyzed by attracting males with the scents eucalyptol, eugenol, vanillin, benzyl benzoate and methyl salicylate, and by netting bees on flowers. The samplings took place three times a month along one year from 6:00 a.m. to 6:00 p.m. The scent baits attracted 670 individuals belonging to seven species of three genus. The predominant species were Euglossa cordata (Linnaeus, 1758) (76.6%) and Eulaema nigrita Lepeletier, 1841 (21.8%). Euglossini males visited the scents along the whole year, being more abundant in May and in August. The most efficient fragrance was eucalyptol, attracting 624 individuals of five species. The males abundance fluctuated along the day, being the highest frequency observed between 8:00 a.m. to 10:00 a.m. Forty eigth Euglossini females of four species were netted visiting flowers of 14 plant species belonging to 13 families. Solanaceae and Caesalpiniaceae were the most visited. The species catched on flowers were Euglossa cordata, Eulaema nigrita, Euplusia mussitans (Fabricius, 1787) and Eulaema meriana flavescens Friese 1899. Euglossa cordata was the predominant species on flowers (64.6%), being collected during almost the whole year. Euplusia mussitans was the only species netted on flowers which males were not sampled on the scents.

Keywords: Community structure; Euglossini; richness; scent baits; sand dunes.

INTRODUÇÃO

Os Euglossini são abelhas com distribuição, praticamente, restrita à Região Neotropical. Os limites ao norte são as regiões de Bownsville, Texas e Silverbell, Arizona (MINCKLEY & REYES 1996). Ao sul, são encontrados representantes deste grupo em Cordoba, Argentina (MOURE 1967) e nas florestas do Rio Grande do Sul (WITTMANN et al. 1988).

Sua maior diversidade encontra-se nas zonas quentes e úmidas equatoriais (MOURE 1967), sendo consideradas importantes vetores de pólen de muitas espécies botânicas, principalmente da família Orchidaceae (DRESSLER 1982; ROUBIK 1989) . As fêmeas coletam pólen e néctar nas flores de algumas espécies vegetais (HEITHAUS 1979; CAMARGO & MAZUCATO 1984). Os machos, além de visitarem as flores para coletar néctar, também o fazem em busca de substâncias aromáticas produzidas por certas plantas, como aquelas da família Orchidaceae, e por fontes extra-florais (DODSON 1966; DRESSLER 1982; WILLIAMS 1982; ACKERMAN 1983a). Estes compostos servem provavelmente para atrair outros machos co-específicos e formar uma agregação: comportamento necessário para que as fêmeas sejam atraídas e ocorra o acasalamento (PERUQUETTI 2000).

A utilização de compostos sintéticos, análogos àqueles produzidos nas flores, como iscas para atração de machos, é uma importante ferramenta que permite a obtenção de dados mais completos sobre a ecologia de comunidades desse grupo de abelhas (PEARSON & DRESSLER 1985; ROUBIK & ACKERMAN 1987; OLIVEIRA & CAMPOS 1995; REBÊLO & GARÓFALO 1997), já que apenas coletas nas flores não fornecem dados suficientes sobre a diversidade desse grupo em uma dada localidade (REBÊLO & GARÓFALO 1991; NEVES & VIANA 1997; PERUQUETTI et al. 1999; BEZERRA & MARTINS 2001).

Através de coletas periódicas nas flores e em iscas-odores, a fauna de Euglossini das dunas litorâneas do Abaeté foi estudada, visando obter informações sobre alguns aspectos ecológicos do grupo, tais como: riqueza em espécies, abundância relativa, flutuação sazonal, horário de atividade, preferência por compostos aromáticos e recursos florais utilizados.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido em uma área de dunas costeiras coberta com vegetação de restinga na Área de Proteção Ambiental das Lagoas e Dunas de Abaeté (12º56'S e 38º21'W), Salvador, Bahia no período de fevereiro de 1996 a janeiro de 1997. As coletas foram realizadas três vezes ao mês, das 6:00 às 18:00 h, totalizando 432 h de amostragem.

Para a captura dos machos foram selecionados os compostos eucaliptol, eugenol, salicilato de metila, benzoato de benzila e essência de baunilha, colocados individualmente em armadilhas e em chumaços de algodão enrolados em gaze, conforme método descrito por NEVES & VIANA (1999), a fim de serem utilizados como iscas-odores.

Armadilhas e chumaços foram pendurados nos ramos de arbustos a de 1,7 m de altura, distribuídos na área a uma distância de aproximadamente 10 m uns dos outros. As armadilhas foram vistoriadas a cada 60 min, quando eram reabastecidas com essências e os indivíduos, ali aprisionados, retirados. Os machos atraídos aos chumaços, eram capturados diretamente com rede entomológica.

Os visitantes florais foram amostrados no mesmo local, entre janeiro e dezembro de 1996, em uma área de 8,2 ha. A captura das abelhas nas flores foi feita pelo método de varredura, utilizando-se rede entomológica, de acordo com os procedimentos descritos por SAKAGAMI et al. (1967). O tempo de espera em cada planta florida foi de, no máximo, 10 minutos.

Nos dias de coleta foram anotados os dados de temperatura e umidade relativa do ar, utilizando-se um termohigrômetro colocado no meio da área amostrada a uma altura de aproximadamente 1,5 m do solo. Os dados de precipitação mensal foram obtidos na estação meteorológica do Aeroporto Deputado Luís Eduardo Magalhães, Salvador, BA.

Para a determinação da estrutura etária da população de machos, o padrão de desgaste alar foi avaliado segundo a classificação proposta por RÊBELO & GARÓFALO (1991): idade 1: sem desgaste alar; idade 2: pequeno desgaste alar; idade 3: moderado desgaste alar e idade 4: grande desgaste alar.

Para verificar se houve variação significativa anual e diária na abundância relativa dos indivíduos foi aplicado o teste do c2.

RESULTADOS

Visitando as essências, foram coletados 670 machos pertencentes a três gêneros (Tabela I). Euglossa cordata foi a espécie mais abundante, representando 76,6% da amostra.

A essência mais atrativa foi o eucaliptol, com 93% do total das capturas, seguida por benzoato de benzila (3%) e salicilato de metila (2,6%); as menos visitadas foram o eugenol e a baunilha, tendo cada uma atraído apenas 0,7% do total dos visitantes. Quase todos os machos de Euglossa cordata e Eulaema nigrita foram atraídos por eucaliptol, enquanto que metade dos machos coletados de Eulaema meriana flavescens e todos os indivíduos de Eulaema bombiformis niveofasciata foram atraídos pelo salicilato de metila. O único indivíduo de Eulaema cingulata capturado foi atraído por eugenol.

Embora os machos tenham visitado os compostos durante todo o ano de estudo, isso não ocorreu de forma homogênea, havendo variação significativa no número de indivíduos entre os meses de coleta (c2=136,69; g.l.=11; p<0,001). As maiores freqüências de indivíduos foram observadas durante o período mais chuvoso (abril a agosto), com o máximo de abundância no mês de maio (Fig. 1).


Com relação ao horário de atividade, os machos de Euglossini apresentaram uma variação significativa no número de indivíduos coletados (c2=28,75; g.l.=5; p<0,001), ocorrendo uma maior freqüência entre 8:00 e 10:00 horas (Tabela II).

Quanto à estrutura etária das populações de machos, os indivíduos de idade 2 predominaram durante todo o ano. Machos das idades 1 e 3 também foram amostrados durante todo o ano, mas com menor predominância. Machos de idade 4 foram os menos freqüentes e estiveram ausentes nos meses de março e outubro (Fig. 2).


Em visita ao eucaliptol, três machos de Eulaema nigrita e dois de Euglossa cordata foram coletados transportando polínias. Os machos de Eulaema nigrita e um de Euglossa cordata portavam polínias de Catasetum sp. (Orchidaceae). Não foi possível identificar a que espécie de planta pertencia a polínia transportada pelo outro indivíduo de Euglossa cordata. Os exemplares de Eulaema com polínia de Catasetum sp. foram coletados em janeiro, julho e dezembro e o de Euglossa, em novembro; o outro indivíduo de Euglossa, com polínia desconhecida, em dezembro.

Dentre os visitantes florais, foram coletadas 48 fêmeas de Euglossini pertencentes a quatro espécies, sendo Euglossa cordata a espécie predominante, com 64,6% do total dos indivíduos amostrados. Euplusia mussitans foi a única espécie coletada nas flores que não teve machos amostrados nas essências (Tabela III).

As abelhas foram coletadas em 14 espécies de plantas pertencentes a 13 famílias. Solanaceae e Caesalpiniaceae foram as famílias mais visitadas (Tabela IV).

Euglossa cordata, espécie mais abundante, foi amostrada durante todo o ano, exceto nos meses de janeiro e novembro de 1996. A única representante de Eulaema meriana flavescens foi coletada no mês de dezembro (Fig. 3).


DISCUSSÃO

Diversos estudos sobre comunidades de Euglossini empregando compostos aromáticos para a atração de machos, têm sido realizados em muitas localidades nos neotrópicos (JANZEN et al. 1982; ACKERMAN 1983a; PEARSON & DRESSLER 1985; ROUBIK & ACKERMAN 1987; REBÊLO & GARÓFALO 1991).

Embora as comparações entre os trabalhos, principalmente em relação à riqueza e abundância, devam ser feitas de forma cautelosa devido à falta de padronização dos métodos (MORATO 1998), o número de espécies encontrado neste estudo pode ser considerado representativo da comunidade local de Euglossini, quando comparado à fauna desse grupo de abelhas amostrada em pesquisas realizadas em alguns ecossistemas da Região Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil (RAW 1989; WITTMANN et al. 1988; REBÊLO & GARÓFALO 1991; PERUQUETTI et al. 1999; NEVES & VIANA 1997, 1999; JESUS 2000). Porém, pode ser considerada pobre quando comparada aos levantamentos realizados nas florestas úmidas da América Central e Região Amazônica (PEARSON & DRESSLER 1985; ROUBIK & ACKERMAN 1987; MORATO & CAMPOS 1992; OLIVEIRA & CAMPOS 1995; SILVA & REBÊLO 1999; REBÊLO & SILVA 1999), onde o número de espécies amostradas foi, na maioria dos casos, bem maior do que o obtido neste trabalho.

Quanto à abundância, a predominância de duas espécies dentre as sete amostradas, pode estar representando o padrão da estrutura da comunidade local ou refletindo a fraca associação das espécies pouco representadas com as essências utilizadas.

Vários autores têm verificado que, apesar de utilizarem muitos compostos, o padrão de preferência tem se repetido. Os compostos utilizados nesse estudo estão entre aqueles destacados por WILLIAMS & WHITTEN (1983) como os mais eficientes na atração de machos.

Dentre as fragrâncias utilizadas, o eucaliptol foi a mais atrativa, tanto em número de indivíduos, como em número de espécies. Esses dados são semelhantes aos obtidos por outros estudos que também empregaram o eucaliptol (RAW 1989; AGUILAR 1990; NEVES & VIANA 1997, 1999; BEZERRA & MARTINS 2001).

Embora haja variação geográfica e/ou sazonal (WITTMANN et al. 1987; ACKERMAN 1989; REBÊLO & GARÓFALO 1991; OLIVEIRA & CAMPOS 1996) na preferência por compostos por parte dos machos de uma mesma espécie - o que pode estar refletindo as variações nas disponibilidades de fontes naturais de recursos - na maioria dos estudos tem-se observado que um grande número de indivíduos de espécies como Euglossa cordata e Eulaema nigrita é coletado em eucaliptol em diferentes épocas do ano e em diferentes localidades (RAW 1989; AGUILAR1990; REBÊLO & GARÓFALO 1991; NEVES & VIANA 1997, 1999; BEZERRA & MARTINS 2001).

Apesar da constatada eficiência do uso de algumas essências na avaliação das comunidades locais de Euglossini, muitos autores têm observado que nem todas as espécies presentes em uma área são atraídas às iscas-odores (PEARSON & DRESSLER 1985; ROUBIK & ACKERMAN 1987; REBÊLO & GARÓFALO 1991; NEVES & VIANA 1997; JESUS 2000; BEZERRA & MARTINS 2001).Neste estudo, esse fato também ocorreu, pois fêmeas de Euplusia mussitans, cujos machos não foram amostrados nas iscas-odores, foram coletadas em ninhos-armadilha (VIANA et al. 2001a,b) e nas flores.

A flutuação sazonal dos indivíduos em Abaeté parece estar sendo influenciada, dentre outros fatores, pela precipitação, pois a maior freqüência de indivíduos nas iscas ocorreu no inicio da estação mais chuvosa (maio) e a menor, no final da estação menos chuvosa (março). Resultados similares foram encontrados por REBÊLO & GARÓFALO (1991), em florestas semidecíduas, PERUQUETTI et al. (1999) em fragmentos de Mata Atlântica, na Região Sudeste, e OLIVEIRA (1999), em florestas de terra firme na Amazônia central, dentre outros.

A precipitação pode estar regulando a disponibilidade local de recursos que, por sua vez, estaria alterando o padrão de nidificação e emergência das abelhas (ACKERMAN 1983a, b).

A migração inter-hábitat (JANZEN et al. 1982) é um outro fator que pode estar envolvido na flutuação sazonal de Euglossini, em Abaeté. RAW (1989), estudando o comportamento de dispersão entre áreas florestadas isoladas entre si, em Salvador, Bahia, pelo método de marcação e recaptura, obteve uma baixa taxa de recaptura, sugerindo através desse resultado que os machos não fixam residência em um local para o qual retornam regularmente e, desse modo, cobrem longas distâncias ao longo de sua vida.

A Área de Proteção Ambiental das Lagoas e Dunas de Abaeté é formada por um mosaico de ecossistemas como matas, dunas com vegetação de restinga e brejos. A flutuação populacional das abelhas no sítio escolhido pode estar sendo influenciada pelas populações residentes nos habitats vizinhos que viriam às dunas apenas para coletar recursos.

Embora tenham sido coletados ao longo de todo o dia, o horário de atividade dos euglossíneos, em Abaeté, foi maior no período da manhã, confirmando as observações de DODSON et al. (1969). Um período mais longo (9:00 às 16:00 horas) de atividade de vôo foi observado por OLIVEIRA (1999), nas florestas da Amazônia central.

A temperatura do ar parece ser o principal controlador do horário de atividade dos Euglossini; por isso, essas abelhas tendem a evitar o forrageamento no período da tarde - quando a temperatura está mais alta – para evitar o superaquecimento do corpo (ARMBRUSTER & BERG 1994). Provavelmente, em Abaeté, as condições meteorológicas locais, entre 8:00 e 10:00 horas (temperatura e intensidade luminosa mais baixas e umidade mais alta), devem ter favorecido a atividade de forrageamento dessas abelhas.

Como o recurso oferecido manteve-se constante ao longo de todo o dia, sendo as armadilhas e chumaços abastecidos com essências a cada 60 minutos, esse padrão na atividade diária das abelhas pode estar refletindo também o período de oferta de substâncias aromáticas pelas plantas, demonstrando assim, a existência de estreitas relações entre abelhas e plantas secretoras de essências.

A predominância de machos jovens na amostra foi também observada por ZIMMERMAN & MADRINAN (1988) que, ao estudarem a estrutura etária de machos, verificaram que os mais jovens eram capturados coletando essências e os mais velhos, coletando néctar nas flores. A presença de maiores freqüências de indivíduos jovens nas essências foi confirmada por REBÊLO & GARÓFALO (1991) e NEVES & VIANA (1999), ao analisarem a estrutura etária de espécimes atraídos por iscas-odores. De acordo com ZIMMERMAN & MADRINAN (1988), este fato pode ser explicado pela necessidade que os machos mais jovens têm de coletar substâncias aromáticas antes de estabelecerem seus territórios, embora, ao longo de sua vida, possam abandonar seus territórios para novas coletas de fragrâncias.

A porcentagem de machos transportando polínias foi baixa (0,7%) em relação ao total de indivíduos amostrados. Isso pode estar relacionado, provavelmente, ao pequeno número de indivíduos de orquídeas floridos dentro do raio de coleta dos euglossíneos, associado ao fato de que, além das orquídeas, essas abelhas coletam fragrâncias em outras fontes de odores.

Euglossíneos têm sido observados coletando resinas (ZUCCHI et al. 1969) e essências em plantas das famílias Leguminosae, Myrtaceae, Araceae, Gesneriaceae, Solanaceae, Euphorbiaceae e Bignoniaceae (DRESSLER 1967; DRESSLER 1982; MONTALVO & ACKERMAN 1986), em fungos (JANZEN et al. 1982), em frutas, folhas úmidas e troncos velhos (ACKERMAN 1983a) e em raízes expostas (WILLIAMS 1982).

Neste trabalho, a riqueza em espécies observada nas coletas nas flores corrobora o fato, já mencionado anteriormente, de que apenas coletas realizadas nas flores não são suficientes para a caracterização da diversidade local da fauna de Euglossini.

Apenas fêmeas de euglossíneos foram amostradas nas flores. Esse resultado está de acordo com a hipótese levantada por JANZEN et al. (1982), de que fêmeas e machos de uma mesma espécie exploram micro-hábitats diferentes. Entretanto, se contrapõe às observações feitas por CAMPOS et al. (1989), que revelam a ocorrência de machos e fêmeas de Euglossa towsendi Cockerell, 1904 coletando nas flores de um mesmo micro-hábitat em uma área de cerrado em Minas Gerais.

A predominância nas flores, assim como nas essências, de Euglossa cordata seguida de Eulaema nigrita, aliada ao fato de terem sido encontrados, na área de estudo, ninhos de Euglossa cordata em ramos de Agaristha revoluta (Spr.) D.C. (Ericaceae) e em ninhos-armadilha (Viana et al. 2001a,b), sugerem que essas abelhas são residentes nessa área. Algumas espécies não predominantes também podem ser residentes na área como, por exemplo Euplusia mussitans, que foi amostrada em ninhos-armadilha (VIANA et al. 2001a,b) e nas flores.

Com relação às plantas visitadas, as fêmeas de Euglossini concentraram-se em espécies das famílias Caesalpiniaceae, Solanaceae, Fabaceae, Lythraceae, Bignoniaceae e Lamiaceae. ZUCCHI et al. (1969), HEITHAUS (1979) e CAMARGO & MAZUCATO (1984) também destacaram as famílias Solanaceae, Bignoniaceae e Fabaceae como as mais visitadas por euglossíneos.

Chamaecrista ramosa (Vog.) I & B var ramosa (Caesalpiniaceae), Cuphea brachiata Koehne (Lythraceae) e Eriope blanchetii (Benth) R Harley (Lamiaceae) estão, também, entre as espécies vegetais mais visitadas pela comunidade de Apoidea, em geral, em Abaeté (VIANA 1999), o que evidencia a não existência de uma relação, em nível específico, entre os euglossíneos e as plantas para a coleta de néctar e pólen. Embora estes tenham apresentado preferências florais, observa-se um comportamento relativamente polilético com relação à utilização dos recursos florais.

Agradecimentos. Ao CADCT/SEPLANTEC-BA, PIDCT/CAPES/UFBA e ao CNPq pelo apoio financeiro concedido ao projeto de pesquisa; ao Prof. Pe. Jesus Santiago Moure (Universidade Federal do Paraná) pela identificação das espécies de abelhas; ao Prof. Dr. Luciano P. Queiroz (Universidade Estadual de Feira de Santana) pela identificação das espécies vegetais e ao biólogo Ciáxares M. Carvalho pelo auxílio nas atividades de campo.

Recebido em 28.XI.2001; aceito em 30.VI.2002

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2008
  • Data do Fascículo
    2002

Histórico

  • Aceito
    30 Jun 2002
  • Recebido
    28 Nov 2001
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