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Efeitos do sexo, do vigor e do tamanho da planta hospedeira sobre a distribuição de insetos indutores de galhas em Baccharis pseudomyriocephala Teodoro (Asteraceae)

Effects of gender, vigor and size of the host plant Baccharis pseudomyriocephala Teodoro (Asteraceae) on gall-inducing insect distribution

Resumo

Several hypotheses have been proposed to explain the patterns of host plant utilization by herbivorous insects in natural communities. We tested four hypotheses aiming to understand the pattern of attack by gall-inducing insects on the dioecious shrub, Baccharis pseudomyriocephala (Asteraceae). The shrub occurs in the Parque Estadual do Itacolomi, Southeastern Brazil, and supports ten species of galling insects. The following hypotheses were tested: i) male plants are more attacked by galling insects than female plants; ii) larger plant modules are preferentially attacked by galling insects; iii) galling insects perform better on larger modules than on smaller modules; iv) galling insects increase in abundance with meristematic availability. To address these questions, 240 plants (120 of each sex) were sampled in both reproductive and vegetative periods. We recorded the growth rate (4 cm), inflorescence and fruit production, attack rates of the galling insects, and their survivorship and mortality per shoot (module). Modules were separated into size classes (cm) and analyzed by regressions and ANCOVAs. Module size and reproductive effort were positively correlated with host plant size. We did not observe any effect of host plant gender on either variables. In the same way, host plant sex did not show any influence on the abundance and richness of galling insects. Although the abundance of galling insects showed a positive correlation with shoot size, the trend disappeared when the analyses were performed taking into consideration the number of galls per unit of growth (number of galls/cm of shoot) or biomass (number of galls/dry weight). Larval survivorship was not influenced by shoot size. Also, we observed that the abundance of one species of hemipteran galling insect showed a positive relation with leaf biomass. Therefore, we conclude that gender and vigor of this plant species do not influence the community structure of its galling herbivores.

Dioecy; galling insects; insect herbivore; plant architecture; plant vigour hypothesis


Dioecy; galling insects; insect herbivore; plant architecture; plant vigour hypothesis

Efeitos do sexo, do vigor e do tamanho da planta hospedeira sobre a distribuição de insetos indutores de galhas em Baccharis pseudomyriocephala Teodoro (Asteraceae)

Effects of gender, vigor and size of the host plant Baccharis pseudomyriocephala Teodoro (Asteraceae) on gall-inducing insect distribution

Ana Paula A. AraújoI; Marco Antonio A. CarneiroI, II; G. Wilson FernandesIII

ILaboratório de Padrões de Distribuição Animal, Departamento de Ciências Biológicas-ICEB, Universidade Federal de Ouro Preto, Campus Morro do Cruzeiro. 35400-000 Ouro Preto-MG, Brasil. Endereço eletrônico:carneiro@iceb.ufop.br

IIEcologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais, Departamento de Biologia Geral-ICB, Universidade Federal de Minas Gerais. Caixa Postal 486, 30161-970 Belo Horizonte-MG, Brasil

ABSTRACT

Several hypotheses have been proposed to explain the patterns of host plant utilization by herbivorous insects in natural communities. We tested four hypotheses aiming to understand the pattern of attack by gall-inducing insects on the dioecious shrub, Baccharis pseudomyriocephala (Asteraceae). The shrub occurs in the Parque Estadual do Itacolomi, Southeastern Brazil, and supports ten species of galling insects. The following hypotheses were tested: i) male plants are more attacked by galling insects than female plants; ii) larger plant modules are preferentially attacked by galling insects; iii) galling insects perform better on larger modules than on smaller modules; iv) galling insects increase in abundance with meristematic availability. To address these questions, 240 plants (120 of each sex) were sampled in both reproductive and vegetative periods. We recorded the growth rate (4 cm), inflorescence and fruit production, attack rates of the galling insects, and their survivorship and mortality per shoot (module). Modules were separated into size classes (cm) and analyzed by regressions and ANCOVAs. Module size and reproductive effort were positively correlated with host plant size. We did not observe any effect of host plant gender on either variables. In the same way, host plant sex did not show any influence on the abundance and richness of galling insects. Although the abundance of galling insects showed a positive correlation with shoot size, the trend disappeared when the analyses were performed taking into consideration the number of galls per unit of growth (number of galls/cm of shoot) or biomass (number of galls/dry weight). Larval survivorship was not influenced by shoot size. Also, we observed that the abundance of one species of hemipteran galling insect showed a positive relation with leaf biomass. Therefore, we conclude that gender and vigor of this plant species do not influence the community structure of its galling herbivores.

Keywords: Dioecy; galling insects; insect herbivore; plant architecture; plant vigour hypothesis.

INTRODUÇÃO

Estudos sobre interações inseto-planta consideram que a riqueza de espécies em comunidades de insetos herbívoros é influenciada pelas características de suas plantas hospedeiras, como área de distribuição e sua complexidade estrutural (STRONG et al. 1984). A qualidade e a quantidade de recursos oferecidos pela planta hospedeira também exercem papel preponderante sobre a diversidade de insetos herbívoros (e.g. PRICE 1992). A hipótese do vigor de plantas (HVP) prevê que plantas ou suas partes mais vigorosas são preferencialmente selecionadas por fêmeas de insetos indutores de galhas como sítios de oviposição, por proporcionarem melhor performance larval da prole (PRICE 1991). O vigor é entendido como o crescimento de plantas ou módulos de plantas acima do crescimento médio de uma dada população (PRICE 1991). O tamanho da planta pode ter um efeito positivo sobre a diversidade de insetos devido ao efeito da área per se (STRONG et al. 1984). Plantas maiores disponibilizam maior quantidade de recursos (possuem mais sítios de oviposição) e são mais aparentes para o inseto galhador (LAWTON 1983, mas veja FERNANDES & PRICE 1988). Desta forma, existe uma maior chance de ataque em módulos vigorosos, mesmo que não haja uma seleção preferencial destes módulos pelo inseto galhador. Assim, FARIA & FERNANDES (2001) sugeriram que a disponibilidade de recursos deve ser considerada ao se testar a hipótese do vigor de plantas (HVP) a fim de eliminar o efeito da maior probabilidade de ataque nas plantas ou módulos mais vigorosos (veja também CORNELISSEN et al. 1997; GONÇALVES-ALVIM et al. 1999; CORNELISSEN & FERNANDES 2001).

Em plantas dióicas, o sexo pode afetar a qualidade nutricional da planta hospedeira. Plantas femininas apresentam um maior gasto de energia e nutrientes com a maturação de estruturas reprodutivas, aumentado a razão de carbono/nutrientes nas partes vegetativas (HERMS & MATTSON 1992). Este excesso de C seria utilizado na produção de compostos químicos defensivos (BOECKLEN & HOFFMAN 1993). Desta forma, embora plantas femininas cresçam menos, seriam mais resistentes ao ataque dos herbívoros do que as plantas masculinas (WALLACE & RUNDEL 1979; HOFFMAN & ALLIENDE 1984; JING & COLEY 1990).

Espécies do gênero dióico Baccharis L. (Asteraceae) são nativas do Novo Mundo (BARROSO 1976) e apresentam a maior diversidade de insetos galhadores da região Neotropical (FERNANDES et al. 1996). Baccharis possui cerca de 120 espécies no sudeste brasileiro, sendo constituído, em sua maioria, por arbustos perenes de 0,5 a 4 m de altura (BARROSO 1976). As plantas ocorrem em campos ou lugares abertos constituindo formações densas e dominantes nas capoeiras e terrenos degradados.

Neste trabalho, foi estudada a comunidade de insetos galhadores de B. pseudomyriocephala Teodoro (Asteraceae). Baccharis pseudomyriocephala é uma espécie que ocorre de Minas Gerais até a região sul do Brasil (BARROSO 1976). As seguintes hipóteses foram testadas: 1) hipótese do crescimento e reprodução diferenciais, HCRD (WALLACE & RUNDEL 1979), que prevê que plantas masculinas apresentam maior investimento em crescimento e menor investimento em estruturas reprodutivas do que plantas femininas; 2) hipótese da herbivoria mediada pelo sexo, HMS (BOECKLEN & HOFFMAN 1993), que prevê que plantas masculinas apresentam maior riqueza e abundância de insetos galhadores do que plantas femininas, 3) hipótese do vigor de plantas, HVP (PRICE 1991), que prevê maior ataque de herbívoros em plantas ou módulos de plantas mais vigorosos; e 4) hipótese da disponibilidade de sítios meristemáticos (WARING & PRICE 1990), que prevê o aumento da abundância de galhas com o número de tecidos meristemáticos que, para insetos galhadores, são sítios de oviposição.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo localiza-se no Parque Estadual do Itacolomi, no Estado de Minas Gerais, nos municípios de Ouro Preto e Mariana entre os paralelos 20º22'30'' e 20º30'00'' de latitude sul e os meridianos de 43º32'30'' e 43º 22'30'' de longitude oeste, abrangendo toda a Serra do Itacolomi pertencente à Cadeia do Espinhaço, Brasil. O parque tem uma área aproximada de 7.000 ha sendo o ponto mais elevado o pico do Itacolomi, com 1772 m. Apresenta como principais tipos vegetacionais as florestas estacionais semidecíduas, florestas de galeria, "candeiais", remanescentes de floresta de Araucária e campos quartzíticos e ferruginosos. As populações de B. pseudomyriocephala estudadas ocorrem em áreas degradadas de campo quartzítico e em áreas erodidas ao longo das estradas e vias de acesso do Parque Estadual do Itacolomi.

Foram coletadas, aleatoriamente, ao longo de um transecto dentro da mesma população, no período reprodutivo (julho a setembro/2000) e no período vegetativo (fevereiro a abril/2001) das plantas, 20 indivíduos de cada sexo por mês, sendo 120 plantas no período reprodutivo e 120 no período vegetativo, totalizando 240 plantas. As plantas foram cortadas ao nível do solo e levadas para o laboratório. De cada planta, foram cortados todos os ramos apicais do último período de crescimento (= módulos) (Fig. 1). Os módulos e o restante de cada planta foram identificados, ensacados separadamente e mantidos em um freezer para análise posterior. De cada módulo foi medido o comprimento do eixo central, separadas as estruturas vegetativas e reprodutivas para medidas do peso seco, e contados o número de galhos, ramos e a abundância e riqueza de espécies de insetos galhadores. O peso seco de galhos, ramos e do restante não amostrados nos módulos (tronco e partes velhas das plantas) foram tomados como medida do tamanho da planta, baseado no pressuposto que existe uma relação direta entre crescimento e biomassa. O peso seco das inflorescências foi considerado como o investimento da planta hospedeira em reprodução. Também foram separadas e dissecadas as galhas, de cada módulo, para análise da sobrevivência e determinação dos fatores de mortalidade. Galhas fechadas sem a presença da larva, de parasitóides ou de fungos foram enquadradas na categoria de morte indeterminada (veja FERNANDES & PRICE 1992 para mais detalhes).


Insetos galhadores são taxonomicamente pouco conhecidos e a maioria das espécies de insetos indutores de galhas são novas para a ciência (GAGNÉ 1994; MAIA 2001). A morfologia da galha é única para cada inseto galhador e é definida pelo inseto e sua planta hospedeira (WEIS et al. 1988). De maneira geral, cada espécie de inseto induz uma galha em um único órgão de uma determinada espécie de planta hospedeira (DREGER-JAUFFRET & SHORTHOUSE 1992; FLOATE et al. 1996). Devido a esta íntima relação entre o inseto e sua planta hospedeira, as galhas podem ser utilizadas para separar categorias intrapopulacionais de genótipos da planta hospedeira (FLOATE & WHITHAM 1995; FLOATE et al. 1996). Desta forma, as galhas foram coletadas e separadas em morfoespécies, de acordo com sua morfologia e órgão da planta atacado. As galhas foram coletadas, individualizadas em sacos plásticos e levadas ao laboratório. No laboratório, parte das galhas coletadas foi dissecada para a obtenção de larvas e pupas, e uma outra parte foi montada para obtenção dos insetos adultos, de acordo com a metodologia descrita por GAGNÉ (1994). Amostras da planta hospedeira e de suas galhas foram depositadas no herbário José Badini, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e no herbário Uberlandense da Universidade Federal de Uberlândia. Os insetos foram depositados na coleção Zoológica do Departamento de Ciências Biológicas da UFOP.

Inicialmente, foi testado o tipo de distribuição de todas as variáveis respostas. Cada hipótese foi testada separadamente e as plantas individuais foram utilizadas como réplicas estatísticas. Como as plantas coletadas eram de diferentes tamanhos e esta variável tem um papel fundamental na análise do investimento em crescimento e reprodução, e na estruturação de comunidades de insetos herbívoros (STRONG et al. 1984), as hipóteses 1 e 2 foram testadas através de ANCOVAs. As análises foram realizadas com o tamanho da planta hospedeira como uma covariável (variável x) e o sexo e o estado fenológico (reprodutivo e vegetativo) da planta como um tratamento (variáveis categóricas). Para testar a hipótese 1, a biomassa de folhas e a biomassa de inflorescências foram utilizadas como estimativas do investimento em crescimento e em reprodução (variáveis dependentes), respectivamente. Para testar a hipótese 2, o número de espécies de insetos galhadores e o número de galhas de todos os insetos galhadores foram utilizados como estimativas do ataque de insetos (variáveis dependentes).

Para responder se os insetos indutores de galhas têm preferência por módulos mais vigorosos, os módulos foram agrupados em intervalos de classes de 4 cm (veja PRICE 1991). Em B. pseudomyriocephala, como em outras plantas hospedeiras estudadas até o momento (PRICE 1991; FARIA & FERNANDES 2001), módulos menores foram mais abundantes do que os módulos maiores na população amostrada (Fig. 2). Foi utilizada análise de regressão linear simples com erro binomial (CRAWLEY 1993), para testar o aumento da freqüência da proporção de módulos atacados por insetos galhadores (variáveis dependentes) com o comprimento dos módulos (variável independente). Após a análise, os resíduos foram checados para verificar o modelo utilizado.


Para tirar o efeito do maior número de módulos em classes menores de comprimento, o grau de ataque dos módulos, entre os intervalos de classe de comprimento dos módulos (cm), foi medido utilizando três estimativas: a) dividindo o número de galhas pelo número de módulos; b) dividindo o número de galhas pelo comprimento (cm) dos módulos; e c) dividindo o número de galhas pela unidade de biomassa (g) dos módulos. Quando se utiliza o método a, o número de galhas em módulos vigorosos tende a ser superestimado, já que existe um aumento da probabilidade de ataque com o tamanho do módulo (GONÇALVES-ALVIM et al. 1999; FARIA & FERNANDES 2001). Além disso, a probabilidade de erro é aumentada devido ao fato de módulos vigorosos serem mais raros nas populações amostradas (Fig. 2). Desta forma, os métodos b e c foram utilizados a fim de eliminar esta tendência, sendo considerado o grau de ataque através da disponibilidade de recursos - medida em peso seco (g) e comprimento (cm) - nos intervalos de comprimento dos módulos.

Em seguida, foram utilizadas análises de regressão linear simples para testar o efeito do vigor, medido através do comprimento do módulo (variável independente), sobre a abundância, a sobrevivência e a mortalidade de insetos galhadores (variáveis dependentes).

A hipótese do aumento do número de galhas com o aumento da disponibilidade de sítios meristemáticos foi testada apenas para a espécie de hemíptero galhador (Fig. 3j). A hipótese foi testada através de análises de regressões lineares, onde a variável independente foi a biomassa foliar (medida da disponibilidade de sítios de oviposição) e a variável dependente foi o número médio de galhas. Todas as análises foram seguidas pela inspeção dos resíduos (CRAWLEY 1993).


RESULTADOS

Planta hospedeira e insetos galhadores. Foi encontrado um total de 10 morfotipos de galhas novos para a ciência em B. pseudomyriocephala, sendo 8 induzidas por insetos da família Cecidomyiidae (Diptera), 1 por um Psyllidae (Hemiptera) e 1 por um Lepidoptera (Tabela I). Todas as galhas encontradas são glabras e unicamerais. A maior parte das galhas foi induzida nos ramos (64%), três nas folhas e uma na inflorescência. Nenhuma das galhas apresentou alteração da cor do tecido da planta e o formato mais comum foi o fusiforme (Fig. 3). As causas de mortalidade dos insetos galhadores incluíram o ataque por parasitóides e as doenças causadas por fungos.

Hipótese do crescimento e reprodução diferenciais. O peso seco de folhas foi positivamente relacionado com o tamanho da planta hospedeira (Tabela II). Setenta e um por cento da variação da biomassa de folhas (Fig. 4A) foram explicados pelo tamanho da planta hospedeira. O peso seco de folhas não variou com o sexo e o estado fenológico das plantas nem com a interação das variáveis (Tabela II). O peso seco de inflorescências (Tabela III) também foi positivamente relacionado com o tamanho da planta. Entretanto, apenas 5,6 % da variação dos resultados foram explicados pelo tamanho da planta hospedeira (Fig. 4B). O sexo e a interação das variáveis não influenciaram o peso seco de inflorescências (Tabela III).



Hipótese da herbivoria mediada pelo sexo. A abundância de galhas e o número de espécies de insetos galhadores foram positivamente relacionados com o tamanho da planta (Tabela IV). Quarenta e dois por cento da variação da abundância de galhas foram explicados pelo modelo (Fig. 5A). Entretanto, apenas 16% da variação do número de espécies de galhas foram explicados pelo modelo (Fig. 5B). O sexo, o período fenológico e a interação entre as variáveis não afetaram a abundância de galhas e o número de espécies de insetos galhadores. Como o sexo da planta não teve efeito sobre o ataque de insetos, para simplificar as análises, o sexo não foi considerado no teste do vigor de plantas.



Hipótese do vigor de plantas. Os módulos menores foram mais freqüentes na população de módulos, representando a maior parte dos módulos disponíveis para utilização pelos insetos galhadores (Fig. 2). A freqüência de módulos atacados aumentou com o comprimento dos módulos (F = 88,38; P < 0,001, r2 =0,93 e n = 14; Fig. 6). Noventa e três por cento da variação dos resultados foi explicada pelo modelo. A abundância de galhas por módulo apresentou uma relação positiva com o comprimento dos módulos (F = 22,920 e P < 0,001; Fig. 7A). Não houve relação significativa entre a abundância de galhas por unidade de comprimento do módulo (cm) com o tamanho dos módulos (F = 0,005 e P = 0,946; Fig. 7B). Paradoxalmente, o número de galhas por unidade de peso (g) diminuiu com o aumento do comprimento dos módulos (F = 51,760, P < 0,001, r2 = 0,812; Fig. 7C). Não houve relação entre a freqüência de sobrevivência e/ou mortalidade (F = 0,040, P = 0,846 e n = 14) das galhas com o comprimento dos módulos. Entretanto, a maior parte das galhas analisadas (69%) teve seu desenvolvimento interrompido não sendo possível determinar os fatores de mortalidade.





Hipótese da disponibilidade de sítios meristemáticos. A abundância de galhas foliares formadas pela espécie de psilídeo galhador foi positivamente relacionada com a biomassa foliar (y = 1,879 + 0,270x; F = 32,138; P < 0,001 e n =240). Entretanto, a variação dos resultados explicada pelo modelo foi baixa (12%).

DISCUSSÃO

Nos últimos anos, a variação da abundância de insetos herbívoros entre os sexos de plantas dióicas foi bem documentada na região temperada (JING & COLEY 1990; BOECKLEN et al. 1990; BOECKLEN & HOFFMANN 1993). Este padrão pode ser explicado pela hipótese da disponibilidade diferencial de recursos e da razão entre carbono/nutrientes. Plantas femininas investem mais recursos e nutrientes em reprodução do que em crescimento, produzem mais compostos secundários defensivos e, conseqüentemente, são menos atacadas do que plantas masculinas (JING & COLEY 1990; HERMS & MATTSON 1992).

Os resultados encontrados neste estudo não corroboram a hipótese da existência de um padrão intersexual de crescimento (Tabela I, Fig. 4A) e reprodução (Tabela II, Fig. 4B) em B. pseudomyriocephala. Desta forma, não encontramos nenhuma variação da abundância e da diversidade de insetos galhadores entre os sexos da planta (Tabela III, Fig. 5). Nenhuma variação foi observada na fase reprodutiva. Outros trabalhos realizados em espécies do gênero Baccharis no sudeste brasileiro concluem pela falta de padrões. Por exemplo, em B. dracunculifolia D.C., não foram encontradas diferenças intersexuais na concentração de taninos, no crescimento de ramos e na abundância do inseto galhador Neopelma baccharidis Burckhardt 1987 (ESPÍRITO-SANTO & FERNANDES 1998; ESPÍRITO-SANTO et al. 1999; FARIA & FERNANDES 2001); em B. concinna Barroso, também não houve variação no número de insetos galhadores entre os sexos da planta, embora tenham sido encontradas diferenças intersexuais no crescimento e na reprodução (CARNEIRO & FERNANDES 1996). Desta forma, postulamos que em espécies do gênero Baccharis, o sexo da planta não tem efeito sobre o investimento da planta em crescimento e reprodução e, conseqüentemente, sobre o ataque de insetos herbívoros (BOECKLEN & HOFFMAN 1993).

Neste estudo, insetos galhadores não responderam ao vigor da planta hospedeira. Paradoxalmente, encontramos três diferentes respostas de acordo com a medida de ataque utilizada (Fig. 6). Módulos vigorosos tiveram mais galhas devido a um efeito da área, ou seja, módulos vigorosos são maiores e por isto apresentam mais recursos do que módulos menores. Um recurso importante para insetos galhadores é o número de sítios de oviposição (WARING & PRICE 1990). Módulos maiores podem possuir maior número destes sítios, apresentando uma relação positiva entre o número de galhas e o tamanho da planta (Fig. 6A) Quando o efeito da área foi retirado dividindo o número de galhas por uma medida de área (comprimento ou biomassa do módulo), a relação positiva entre o número de galhas e o tamanho do módulo desapareceu (número de galhas/cm; Fig. 6B) ou apresentou uma tendência negativa (número de galhas/g, Fig. 6C). Estes resultados estão de acordo com FARIA & FERNANDES (2001), que consideraram que o ataque do galhador N. baccharidis pode estar associado à quantidade de recursos (número de folhas = número de sítios de oviposição) e não ao crescimento da planta. Vários trabalhos têm sugerido a eliminação do efeito do tamanho dos módulos ao se testar a hipótese do vigor de plantas (GONÇALVES-ALVIM et al. 1999; CORNELISSEN & FERNANDES 2001; FARIA & FERNANDES 2001). Além disso, a sobrevivência das galhas também não aumentou com o tamanho dos módulos. Estes resultados não fornecem indícios de que há uma ligação entre preferência da fêmea e performance das larvas, conforme proposto pela hipótese do vigor de plantas (PRICE 1991).

Em outras espécies de Baccharis estudadas, a hipótese do vigor também foi rejeitada (GONÇALVES-ALVIM et al. 1999; CORNILISSEN & FERNANDES 2001; FARIA & FERNANDES 2001). Em B. dracunculifolia, o aumento do ataque nos ramos vigorosos não foi relacionado com uma seleção preferencial por módulos grandes (FARIA & FERNANDES 2001). A hipótese do vigor foi rejeitada para a maioria das espécies de insetos sugerindo que os insetos galhadores apresentam respostas idiossincráticas à qualidade nutricional de uma mesma planta hospedeira (CORNELISSEN et al. 1997; GONÇALVES-ALVIM et al. 1999). Com base nos nossos resultados e com os trabalhos publicados até o momento, postulamos que o vigor de plantas não explica satisfatoriamente a estrutura de comunidades de insetos galhadores em espécies de Baccharis do sudeste brasileiro.

Independentemente do sexo, indivíduos maiores de B. pseudomyriocephala apresentaram maior biomassa foliar e de inflorescências e maior abundância e riqueza de galhas (Fig. 5), confirmando a hipótese de que plantas maiores disponibilizam mais recursos e são mais atacadas por insetos herbívoros (STRONG et al. 1984; STRAW & LUDLOW 1994; COLLEVATTI & SPERBER 1997; HAYSOM & COULSON 1998). Por exemplo, neste estudo, a abundância de galhas foliares aumentou com a biomassa foliar. Plantas maiores oferecem mais recursos para insetos do que plantas menores no espaço e no tempo (LAWTON 1983). Um fator crítico para a riqueza e abundância de galhas é a disponibilidade de sítios de oviposição (WEIS et al. 1988). No Arizona, o número de galhas de Asphondylia sp. em Larrea tridentata (DC) Coville, aumentou com o número de sítios de oviposição (WARING & PRICE 1990). Plantas maiores oferecem mais sítios de oviposição e com isto mantêm maior número de galhas comparadas a plantas menores. Além disso, a maior disponibilidade e previsibilidade de sítios de oviposição podem ser um importante fator na explicação dos padrões de diversidade de insetos galhadores (MENDONÇA 2001).

Concluindo, este trabalho mostrou não existir efeito do sexo e da fenologia da planta sobre a indução de galhas em B. pseudomyriocephala, bem como não haver preferência dos insetos galhadores pela utilização de módulos vigorosos. Por outro lado, o estudo corrobora a relação espécie-área, já que a diversidade de insetos galhadores mostrou sempre uma variação positiva com o tamanho da planta hospedeira.

Agradecimentos. Agradecemos a C.F. Sperber, M.S. Mendonça e a dois revisores anônimos pelos comentários e críticas ao artigo. O estudo foi financiado pela FAPEMIG (CRA 2893/98), que também forneceu bolsa de iniciação científica à Ana Paula Albano Araújo (CRA 2893/98). O Parque Estadual do Itacolomi (IEF) forneceu suporte logístico. À M.C.T.B. Messias (Universidade Federal de Ouro Preto) e a J. N. Nakajima (Universidade Federal de Uberlândia) pela identificação da planta hospedeira.

Recebido em 20.IX.2002; aceito em 30.X.2003

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jun 2004
  • Data do Fascículo
    Dez 2003

Histórico

  • Aceito
    30 Out 2003
  • Recebido
    20 Set 2002
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