Acessibilidade / Reportar erro

Desenvolvimento pós-embrionário de Pattonella intermutans (Thomson) (Diptera: Sarcophagidae) em diferentes dietas

Post-embryonary development of Pattonella intermutans (Thomson, 1869) in different diets

Resumos

A proposta deste estudo foi de avaliar o desenvolvimento pós-embrionário de Pattonella intermutans (Thomson, 1869) em dietas artificiais preparadas com agar-agar. Dieta D1: leite em pó integral + fermento biológico; Dieta D2: leite em pó integral + fermento biológico + caseína; Dieta D3: leite em pó integral + ovo cru; Dieta D4: carne bovina moída (dieta controle). A carne bovina moída foi a dieta mais eficiente (peso larval de 195,63 mg e viabilidade de neolarva a adulto de 86,5%), quando comparada com as dietas artificiais. Os seguintes resultados foram obtidos para o grupo experimental: Dieta D3: 180,15 mg e 63,5%; Dieta D2: 141,07 mg e 61% e na Dieta D1: 147,98 mg e 51,5%.

Dieta artificial; Desenvolvimento pós-embrionário; Pattonella intermutans; Sarcophagidae


The purpose of this study was to evaluate the post-embryonary development of Pattonella intermutans (Thomson, 1969) in artificial diets composed of agar-agar. Diet D1: whole dried milk + dried brewer's yeast; Diet D2: whole dried milk + dried brewer's yeast+ casein; Diet D3: whole dried milk + whole egg; Diet D4: bovine meal (control diet). The bovine meat was the best diet (larval weight 195.63mg and viability from larvae to adult 86,5%), when compared to all other artificial diets. The following performances were obtained for experimental groups: diet D3: 180.15 mg and 63.5%; diet D2: 141.07 mg and 61% and diet D1: 147.98 mg e 51.5%.

artificial diet; Pattonella intermutans; post-embryonic development; Sarcophagidae


BIOLOGIA, ECOLOGIA E DIVERSIDADE

Desenvolvimento pós-embrionário de Pattonella intermutans (Thomson) (Diptera: Sarcophagidae) em diferentes dietas

Post-embryonary development of Pattonella intermutans (Thomson, 1869) in different diets

Marcio S. LoureiroI, II; Vanderleia C. OliveiraI, II; José Mário d'AlmeidaI, III

ILaboratório de Biologia e Controle de Insetos Vetores, Instituto Oswaldo Cruz. Avenida Brasil 4365, 21045-900 Rio de Janeiro-RJ, Brasil. vcris@ioc.fiocruz.br

IIBolsista CNPq

IIIDepartamento de Biologia Geral, Universidade Federal Fluminense, Outeiro de São João Batista s/n0 , 24020-150 Niterói-RJ, Brasil

RESUMO

A proposta deste estudo foi de avaliar o desenvolvimento pós-embrionário de Pattonella intermutans (Thomson, 1869) em dietas artificiais preparadas com agar-agar. Dieta D1: leite em pó integral + fermento biológico; Dieta D2: leite em pó integral + fermento biológico + caseína; Dieta D3: leite em pó integral + ovo cru; Dieta D4: carne bovina moída (dieta controle). A carne bovina moída foi a dieta mais eficiente (peso larval de 195,63 mg e viabilidade de neolarva a adulto de 86,5%), quando comparada com as dietas artificiais. Os seguintes resultados foram obtidos para o grupo experimental: Dieta D3: 180,15 mg e 63,5%; Dieta D2: 141,07 mg e 61% e na Dieta D1: 147,98 mg e 51,5%.

Palavras-Chave: Dieta artificial; Desenvolvimento pós-embrionário; Pattonella intermutans; Sarcophagidae.

ABSTRACT

The purpose of this study was to evaluate the post-embryonary development of Pattonella intermutans (Thomson, 1969) in artificial diets composed of agar-agar. Diet D1: whole dried milk + dried brewer's yeast; Diet D2: whole dried milk + dried brewer's yeast+ casein; Diet D3: whole dried milk + whole egg; Diet D4: bovine meal (control diet). The bovine meat was the best diet (larval weight 195.63mg and viability from larvae to adult 86,5%), when compared to all other artificial diets. The following performances were obtained for experimental groups: diet D3: 180.15 mg and 63.5%; diet D2: 141.07 mg and 61% and diet D1: 147.98 mg e 51.5%.

Keywords: artificial diet; Pattonella intermutans; post-embryonic development; Sarcophagidae

A criação de insetos em dietas artificiais tem aplicações tanto na pesquisa básica quanto na aplicada (Parra 1990). São encontradas na literatura dietas artificiais para mais de 1.300 espécies de insetos, dentre elas, 279 se referem aos dípteros, sendo a maior parte de importância agrícola (Singh & Moore 1985). Parra (1990) relatou que as principais vantagens do uso de dietas artificiais são a uniformidade nutricional do meio de cultura; maior uniformização biológica da colônia; a possibilidade de manter a colônia de maneira contínua; utilização das colônias em estudos de exigências nutricionais e menor risco de contaminação com patogénos. Zuben (1995) ressaltou que a ausência do odor de putrefação na criação de moscas em meios artificiais, é uma das vantagens que deve ser destacada.

Apesar das vantagens da manutenção das colônias em dietas artificiais, os trabalhos com dípteros muscóides são escassos, dentre eles pode-se destacar os de Lopes (1973), Leal et al. (1982), Zuben (1995) e D'Almeida & Oliveira (2002).

Pattonella intermutans (Thomson, 1869) é um sarcofagídeo encontrado nas Américas (Lopes 1969), cujas larvas são tipicamente necrófagas desenvolvendo-se em carcaças de animais. Esta espécie foi considerada por Linhares (1981) em Campinas, D'Almeida (1984) no Rio de Janeiro e Dias et al. (1984) em Belo Horizonte, como uma espécie hemissinantrópica. Salviano (1996) ressaltou a importância desse sarcofagídeo para Entomologia Forense no Estado do Rio de Janeiro.

O presente estudo teve como objetivo avaliar a eficiência de diferentes dietas artificiais no desenvolvimento pós-embrionário de P. intermutans.

MATERIAL E MÉTODOS

Colônias de P. intermutans foram estabelecidas no Laboratório de Biologia e Controle de Insetos Vetores, a partir de adultos capturados no campus da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, RJ.

As dietas artificiais testadas foram modificadas a partir das utilizadas por Leal et al. (1982), para Chrysomya putoria (Wiedemann, 1830), e composta pelos seguintes ingredientes e proporções: Dieta D1 : leite em pó integral (20 g) + fermento biológico (20 g) + agar-agar (2 g) + água destilada (200 ml); Dieta D2 : leite em pó integral (20 g) + fermento biológico (20 g) + caseína (1 g) + agar-agar (2 g) + água destilada (200 ml); Dieta D3 : leite em pó integral (20 g) + ovo cru (clara e gema) (20 g) + agar-agar (2 g) + água destilada (200 ml); Dieta D4 :carne bovina moída (100 g), utilizada como controle.

Para a manutenção das colônias e obtenção das neolarvas de P. intermutans utilizou-se a metodologia descrita por Oliveira et al. (2002). Em cada repetição (4) foram inoculadas 25 neolarvas em 25 g de dieta, perfazendo o total de 200 larvas/dieta. Os potes de dietas contendo larvas foram mantidos em câmara climatizada regulada a 27 ± 2ºC, 60 ± 10% U.R.

Após o abandono espontâneo das larvas maduras das dietas, estas foram pesadas individualmente e transferidas para tubos de ensaio contendo serragem, tampados com algodão e mantidos em câmara climatizada a 27±2ºC, 60±10% U.R., até a emergência dos adultos.

Para avaliar a eficiência das dietas foram usados os seguintes parâmetros: 1)peso da larva madura; 2) duração média e a viabilidade dos estágios larval, pupal e do período de neolarva a adulto; 3) ritmo de abandono das larvas maduras e 4) ritmo de emergência de machos e fêmeas.

Os resultados foram submetidos à análise de variância (Anova) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (µ=0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na maioria dos parâmetros biológicos analisados, a dieta controle, a base de carne, foi a mais eficiente, o que era esperado, pois as moscas deste gênero, em condições naturais, se desenvolvem em carcaças de animais (Lopes 1969). O mesmo foi observado por Leal et al. (1982) e D'Almeida et al. (2000) quando compararam a eficiência de dietas artificiais com carcaça de camundongo e carne putrefata para dois califorídeos, também com larvas necrófagas: Chrysomya putoria (Wiedemann, 1830) e C. megacephala (Fabricius,1794), respectivamente.

A duração do estágio larval foi significativamente menor na dieta de carne e na dieta D3, não ocorrendo diferenças significativas entre elas (Tabela I). No entanto, a maior viabilidade larval foi na dieta de carne (Tabela II).

As larvas alimentadas com carne foram significativamente mais pesadas do que as das demais dietas o que, segundo Lopes (1941), resulta em adultos maiores. Entre as dietas D1 e D2 não foram observadas diferenças significativas nos pesos das larvas (Tabela I). Segundo Lopes (1941), o desenvolvimento ovariano e a fecundidade dos adultos estão associados com o tamanho das larvas maduras, o que depende da qualidade e quantidade do alimento ingerido. No presente estudo, pode-se observar que o desenvolvimento das larvas de P. intermutans nas dietas artificiais D1 e D2, contrastou bastante quando comparado com as dietas D3 e D4, sugerindo que os ingredientes das dietas podem ter sido insuficientes.

No preparo das dietas utilizou-se o leite em pó integral, que contém em sua composição duas importantes proteínas, a caseína e a lactoalbumina, sendo que a primeira, é uma das mais utilizadas para o desenvolvimento dos insetos (Parra 1990). Segundo House (1961) uma dieta artificial completa deve conter: proteínas ou aminoácidos, carboidratos, lipídios, vitaminas, principalmente as do grupo B, sais minerais e água. Entretanto, o balanço entre os nutrientes nas dietas é fundamental para proporcionar um melhor desenvolvimento dos insetos (House 1969). Em relação a dieta D3 , associou-se ao leite em pó, ovo cru. Na composição da clara do ovo a principal proteína é a ovoalbumina que corresponde a 59% de toda massa do ovo e na gema encontram-se proteínas, vitaminas, ácidos graxos, fosfolípideos e minerais (Bobbio & Bobbio 1992).

Na duração do estágio pupal, a dieta D3 foi a que apresentou o maior período comparado as demais dietas (Tabela I). A maior viabilidade pupal foi observada na dieta D3 (Tabela II).

Na avaliação da duração do período de neolarva a adulto a carne foi a que apresentou o menor período, sendo considerada a dieta mais viável, com 86,5%. Segundo D'Almeida et al. (2000) a avaliação das dietas com base na duração e viabilidade do período de neolarva a adulto é mais eficiente, evitando as distorções existentes entre a duração dos estágios larval e pupal.

Na Fig. 1 pode-se observar o ritmo de abandono das larvas maduras das dietas. Na dieta D1, a maioria das larvas abandonou a dieta no 7º dia, enquanto que as larvas da dieta D2 apresentaram um ritmo de abandono contínuo, tendo sido também observado um pico no 7º dia. Na dieta D3, abandonaram em maior número no 5º dia coincidindo com o pico de abandono da dieta D4, o que novamente aproxima a dieta de leite em pó integral e ovo (D3) com o controle (carne).


O ritmo de emergência dos adultos das diferentes dietas teve inicio no 19º dia, tendo sido observado um pico de emergência no 21º dia para as dietas D1 e D4, , enquanto que nas dietas D2 e D3 os adultos apresentaram pico de emergência no 20º e 21º dias (Fig. 2).


O aumento do estágio larval e a diminuição do estágio pupal observado nas dietas artificiais D1 e D2 pode ser uma estratégia para compensar a queda na qualidade nutricional do alimento consumido (Ullyett 1950; Kamal 1958).

Considerando-se que as larvas de P. intermutans, em condições naturais, são necrófagas, a viabilidade obtida nas dietas artificiais pode ser melhorada, através de estudos que visem o melhor balanceamento nutricional das dietas, principalmente da Dieta D3 , que apresentou viabilidade superior a 60%, o que é promissor.

Recebido em 06.05.2004; aceito em 20.09.2004

  • Bobbio, F. O. & P. A. Bobbio. 1992. Química no Processamento de Alimentos 2 ed. São Paulo, Varela, 151 p.
  • d' Almeida, J. M. 1984. Sinantropia de Sarcophagidae (Diptera) na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Arquivos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 7: 101-110
  • d' Almeida, J. M.; M. B. Fraga & C. L. Ferro. 2000. Desenvolvimento pós-embrionário de Chrysomya megacephala (Diptera: Calliphoridae), em dietas artificiais. Entomologia y Vectors 7: 155-162.
  • d' Almeida, J. M. & V. C. Oliveira. 2002. Dietas artificiais para a criação, em laboratório, de Chrysomya (C. megacephala, C. albiceps e C. putoria) (Diptera: Calliphoridae). Entomologia y Vectores 9: 79-91.
  • Dias, E. S.; D. P. Neves & H. S. Lopes. 1984. Estudos sobre a fauna de Sarcophagidae (Diptera) de Belo Horizonte, Minas Gerais. I. Levantamento taxonômico e sinantrópico. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 79: 83-91.
  • House, H. L. 1961. Insect nutrition. Annual Review of Entomology 6: 13-26.
  • House, H. L. 1969. Effects of different proportions of nutrients on insects. Entomologia Experimentalis et Applicatta 12: 651-669.
  • Kamal, A. S. 1958. Comparative study of thirteen species of sarcosaprophagous calliphorids and sarcophagids. Annals of the Entomological Society of America 51: 261-271.
  • Leal, T. T.; A. P. Prado & J. A. Antunes. 1982. Rearing the larvae of the blowfly Chrysomya cloropyga (Wiedemann) (Diptera: Calliphoridae) on oligidic diets. Revista Brasileira de Zoologia 1: 41-44.
  • Linhares, A. X. 1981. Sinantropy of Calliphoridae and Sarcophagidae (Diptera) in the city of Campinas, São Paulo, Brazil. Revista Brasileira de Entomologia 25: 189-215.
  • Lopes, H. S. 1941. Esqueleto céfalo-faringeano e a sua importância na classificação. Revista Brasileira de Biologia 1: 215-221.
  • Lopes, H. S. 1969. A Catalogue of the Diptera of the Americas South of the United States: Family Sarcophagidae Departamento de Zoologia, Secretaria da Agricultura, São Paulo, 103: 88 p.
  • Lopes, H. S. 1973. Collecting and rearing Sarcophagidae flies (Diptera) in Brazil during forthy years. Anais da Academia Brasileira de Ciência 45: 279-291.
  • Oliveira, V. C.; R. P. Mello & R. F. S. Santos. 2002. Bionomics Aspects of Pattonella intermutans (Thomson, 1869) (Diptera, Sarcophagidae) under laboratory conditions. Brazilian Archives of Biology and Technology 45: 473-477.
  • Parra, J. R. P. 1990. Técnicas de Criação de Insetos para Programas de Controle Biológico Piracicaba, ESALQ, 125 p.
  • Singh, P. & R. F. Moore. 1985. Handbook of Insect Rearing Elsevier Publ, 600 p.
  • Salviano, R. J. B. 1996. Sucessão de Diptera Caliptrata em carcaça de Sus scrofa Linnaeus, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Tese de Mestrado, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 158 p.
  • Ullyett, G. C. 1950. Competition for food and allied phenomena in sheep-blowfly populations. Philosophical Transactions of the Royal Society of London B, Biol. Sci., 234: 77-174
  • Zuben, C. J. 1995. Competição larval e efeitos sobre a dinâmica populacional de Chrysomya megacephala (F.) (Diptera: Calliphoridae) Tese de Doutorado, UNESP, Rio Claro, 132 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Maio 2005
  • Data do Fascículo
    Mar 2005

Histórico

  • Aceito
    20 Set 2004
  • Recebido
    06 Maio 2004
Sociedade Brasileira De Entomologia Caixa Postal 19030, 81531-980 Curitiba PR Brasil , Tel./Fax: +55 41 3266-0502 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: sbe@ufpr.br