Acessibilidade / Reportar erro

Descrição do macho de Chlorotabanus leucochlorus Fairchild (Diptera, Tabanidae)

Description of the male of Chlorotabanus leucochlorus Fairchild (Diptera, Tabanidae)

Resumos

É descrito o macho de Chlorotabanus leucochlorus Fairchild, 1961, espécie com registros para o norte do Brasil, Suriname, Venezuela e leste do Peru. Para o estudo foram utilizados sete machos provenientes de diferentes localidades do estado do Amazonas, Brasil. O material está depositado na Coleção de Invertebrados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e na Coleção Zoológica Paulo Bührnheim (UFAM), ambas em Manaus, Brasil.

Amazônia; Brachycera; mutucas; taxonomia


The male of Chlorotabanus leucochlorus Fairchild, 1961 is described for the first time. The species is known from northern Brazil, Suriname, Venezuela and eastern Peru. Seven males from various locations in the state of Amazonas, Brazil were examined. The material was deposited in the Invertebrate Collections of the Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) and Zoological Collection Paulo Bührnheim (UFAM), both in Manaus, Brazil.

Amazon; Brachycera; horse flies; taxonomy


SISTEMÁTICA, MORFOLOGIA E BIOGEOGRAFIA

Descrição do macho de Chlorotabanus leucochlorus Fairchild (Diptera, Tabanidae)

Description of the male of Chlorotabanus leucochlorus Fairchild (Diptera, Tabanidae)

Tiago Kütter KrolowI, II; Augusto Loureiro HenriquesII

IBolsista de Mestrado do Curso de Entomologia. tkkrolow@yahoo.com.br

IICoordenação de Pesquisas em Entomologia-Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Caixa Postal 478, 69.011-970 Manaus-AM, Brasil. loureiro@inpa.gov.br

RESUMO

É descrito o macho de Chlorotabanus leucochlorus Fairchild, 1961, espécie com registros para o norte do Brasil, Suriname, Venezuela e leste do Peru. Para o estudo foram utilizados sete machos provenientes de diferentes localidades do estado do Amazonas, Brasil. O material está depositado na Coleção de Invertebrados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e na Coleção Zoológica Paulo Bührnheim (UFAM), ambas em Manaus, Brasil.

Palavras-chave: Amazônia; Brachycera; mutucas; taxonomia.

ABSTRACT

The male of Chlorotabanus leucochlorus Fairchild, 1961 is described for the first time. The species is known from northern Brazil, Suriname, Venezuela and eastern Peru. Seven males from various locations in the state of Amazonas, Brazil were examined. The material was deposited in the Invertebrate Collections of the Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) and Zoological Collection Paulo Bührnheim (UFAM), both in Manaus, Brazil.

Keywords: Amazon; Brachycera; horse flies; taxonomy.

Os adultos dos tabanídeos (Diptera), popularmente chamados de mutucas, variam de 5 a 25 mm de comprimento, com grande uniformidade em sua estrutura básica (Fairchild 1981). São relativamente bem estudados através de suas fêmeas, entretanto, o conhecimento de machos e imaturos ainda é insuficiente (Godoi & Rafael 2007).

O gênero Chlorotabanus foi proposto por Lutz (1913), para Tabanus mexicanus Linnaeus, 1758, está alocado na subfamília Tabaninae, tribo Diachlorini. Engloba espécies com as seguintes características: tamanho mediano (12 - 17 mm), coloração predominantemente esverdeada, com pilosidade amarelada. Ausência de calo frontal e tubérculo ocelar, olhos sem bandas e pêlos. Antena com placa basal mais longa que o estilo, sem apêndice e com protuberância dorsal pouco acentuada. Labela esclerotizada e brilhante. Basicosta nua, asa hialina ou com pequenas manchas escuras nos intercruzamentos das veias. As espécies de Chlorotabanus possuem atividade crepuscular ou noturna e geralmente não são observadas durante o dia (Rafael & Charlwood 1981).

Segundo Fairchild & Burger (1994) e Burger (1995), o gênero tem ampla distribuição ocorrendo do sul dos Estados Unidos à Argentina. Atualmente são reconhecidas seis espécies de Chlorotabanus na região Neotropical: C. fairchildi Wilkerson, 1979; C. inanis (Fabricius, 1787); C. leucochlorus Fairchild, 1961; C. mexicanus (Linnaeus, 1758); C. ochreus Philip & Fairchild, 1956; C. parviceps (Kröber, 1934), além de uma espécie exclusivamente Neártica, C. crepuscularis (Bequaert, 1926). Dessas espécies, apenas C. parviceps possui a descrição do macho (holótipo). C. inanis e C. mexicanus, não possuem descrição de seus machos, entretanto, conforme Fairchild (1940), Philip & Fairchild (1956) e Wilkerson (1979), machos e fêmeas destas espécies são muito similares, exceto pelos caracteres sexuais. Os machos de C. fairchildi e C. ochreus são desconhecidos e o de C. crepuscularis possui uma breve diagnose (Stone 1938).

A fêmea de Chlorotabanus leucochlorus é facilmente identificada dentro do gênero, pelo tórax recoberto por uma camada polinosa branca, além de pêlos brancos a prateados.

Conforme Gorayeb et al. (1982), algumas espécies de mutucas possuem dimorfismo sexual bastante acentuado, enquanto em outras a diferença está restrita à ausência da fronte e pequenas variações nos palpos dos machos. Dessa forma, o trabalho tem como objetivo descrever o macho de C. leucochlorus, apresentando os principais caracteres de identificação, bem como discussão sobre seu dimorfismo sexual.

MATERIAL E MÉTODOS

O material estudado pertence a Coleção de Invertebrados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e Coleção Zoológica Paulo Bührnheim (CZPB), Universidade Federal do Amazonas, ambas em Manaus, Brasil.

A terminologia adotada para a morfologia externa segue McAlpine (1981) e para a genitália, Sinclair et al. (1993). Para a dissecação do aparelho genital foi utilizado o protocolo de Cumming (1992).

RESULTADOS

Diagnose. Tamanho do corpo variando de 13,5-15,8 mm, com tórax branco e abdômen amarelo-esverdeado (Fig. 1). Asas hialinas com veias amareladas e tamanho médio de 11,1 mm. Pernas amarelo-amarronzadas. Antenas com estilo longo, quase tão longo quanto a placa basal, esta mais curta que a da fêmea.


Cabeça. Olhos glabros holópticos (Fig. 2), unicoloridos variando de marrom-avermelhado até preto nos espécimes secos. Os omatídios maiores ocupam cerca de 2/3 da área superior do olho e os menores 1/3 da área inferior; vértice sem tubérculo ocelar. Subcalo com polinosidade branca. Parafaciália, gena e face com polinosidade e pêlos brancos. Palpo porrecto amarelo com pêlos brancos e dourados. Antena (Fig. 3) concolor ao palpo. Placa basal com protuberância dorsal acentuada; altura no ponto mais largo semelhante ao comprimento do estilo; comprimento um pouco mais longo que o estilo. Ápice do último flagelômero com dois pêlos. Probóscide com teca marrom-clara e labela um pouco mais escurecida, ambas esclerotinizadas e brilhantes.


Tórax. Mesonoto e escutelo marrom-pálido, com polinosidade branco-neve e pêlos branco-prateados (idem na fêmea). Pleura e esterno como a fêmea, mantendo as cores do mesonoto e escutelo com maior densidade de pêlos. Pernas amarelo-amarronzadas com pêlos dourados, exceto por pêlos negros espalhados na tíbia anterior, bem como na superfície dorsal da tíbia posterior, continuando até o tarso posterior. Asa hialina com venação amarelada, exceto, pelas veias transversais amarelo-amarronzadas. Ausência de manchas na asa e apêndice na veia R4. Célula costal e pteroestigma amarelo-escuros. Asa semelhante à da fêmea, exceto pela coloração das veias, ao invés de amarelo-esverdeadas, amareladas.

Abdômen. Amarelo-esverdeado com pêlos amarelos mais claros, com exceção dos dois últimos segmentos com pêlos pretos longos (similar à fêmea).

Genitália. Epândrio largo na porção posterior, com um estreitamento a partir do primeiro terço até a extremidade proximal. Cercos unissegmentados, ultrapassando a margem distal do hipoprocto, este encoberto pelos cercos em vista dorsal, apenas com a porção médio-apical aparente. Gonocoxito com alguns pêlos na face ventral (Figs. 4 e 5).

Material Examinado. BRASIL, Amazonas: Parque Nacional do Jaú, Igarapé Miratuca, 1º 57' 08" S; 61º 49' 19" W. 26-27.vii.1995, Luz mista mercúrio luz negra, BL e BLD, lençol. col., Motta, C.S.; Xavier Fº, F.F. et al. ( INPA), Idem, sem data, col. Andreaze, R.; Costa, W.; Aquino, L. ( INPA); Idem, Rio Carabinani, 17.iv.1994, armadilha luminosa, col., Motta, C. ( INPA); Rio Juruá, Minerauzinho, 03º 34' 85" S; 66º 59' 15" W. 25.i.1996, Luz mista de mercúrio, col., Bührnheim P.F. & Otaviano N. ( CZPB); Tefé, Locação São Mateus, 4º 43' 24 S; 65º 40' 06" W. 07-16.ix.1994, Luz mista de mercúrio, col., Bührnheim P.F. et al. ( CZPB); Coari, Rio Urucu, 4º 55' 53" S; 65º 18' 13" W. RUC-36, 25.ii.-10.iii.1995, Luz mista de mercúrio, col. Bührnheim P.F. et al. ( CZPB); Coari, Rio Urucu, 4º 50' 73" S; 65º 02' 37" W. Igarapé Marta-3, 14-25.viii.1993, Luz mista de mercúrio, col., Bührnheim P.F. et al. ( CZPB).

DISCUSSÃO

Os tabanídeos, em geral, possuem dimorfismo sexual acentuado na ausência da fronte nos machos e na forma dos palpos. Em Chlorotabanus leucochlorus, além desses, as antenas das fêmeas apresentam uma placa basal alongada com o estilo curto, enquanto nos machos, a placa basal é mais curta, sendo o estilo quase tão longo quanto esta.

Fairchild (1940) e Philip & Fairchild (1956) não apresentaram ilustrações de caracteres internos para os machos de Chlorotabanus. Entretanto, Coscarón (1976) apresentou a descrição da genitália de C. parviceps, com boas ilustrações de ambos os sexos. A genitália masculina de C. parviceps e de C. leucochlorus apresentam grande similaridade na estrutura geral, porém ocorrem pequenas variações como o formato dos cercos, os quais são bastante arredondados no ápice em C. parviceps, enquanto em C. leucochlorus a margem distal é levemente arredondada com uma reentrância externa perceptível na porção média. Além disso a forma do gonocoxito é robusto e curto em C. parviceps e estreito e alongado em C. leucochlorus.

Agradecimentos. Ao Biólogo Fabio Siqueira Pitaluga de Godoi pelo auxílio na confecção das pranchas. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pela concessão da bolsa de mestrado ao primeiro autor.

Recebido em 22/11/2007; aceito em 06/02/2008

  • Burger, J. F. 1995. Catalog of Tabanidae (Diptera) of North America North of Mexico Contributions on Entomology, International. Associated Publishers, Vol. 1, Num. 1. 100 p.
  • Coscarón, S. 1976. Notas sobre tabánidos argentinos XIV. Sobre los géneros Diachlorus Osten Saken, Stibasoma Schiner, Stypommisa Enderlein, Cryptotylus Lutz y Chlorotabanus Lutz (Diptera). Revista de la Sociedad Entomológica Argentina 35: 3950.
  • Cumming, J. M. 1992. Lactic Acid as an Agent for Macerating Diptera Specimens. Fly Times 8: 7.
  • Fairchild, G. B. 1940. Notes on Tabanidae (Dipt.) from Panama. I. The genera Chlorotabanus and Cryptotylus Revista de Entomologia 11: 713723.
  • Fairchild, G. B. 1961. Insecta Amapaensia Diptera: Tabanidae. Studia Entomologica 4: 433448.
  • Fairchild, G. B. 1981. Tabanidae, p. 452460. In: Hurlbert, S. H.; C. Rodriguez & N. D. Santos, Aquatic Biota of South America, Part 1, Arthropoda San Diego State Univ., San Diego Calif. xii + 323 p.
  • Fairchild, G. B. & J. F. Burger. 1994. A catalog of the Tabanidae (Diptera) of the Americas south of the United States. Memoirs of the American Entomological Institute 55. 249 p.
  • Godoi, F. S. P. de & J. A. Rafael. 2007. Descrição da larva, exúvia pupal e macho de Leucotabanus albovarius (Walker) (Diptera, Tabanidae) da Amazônia Central. Revista Brasileira de Entomologia 51: 101106.
  • Gorayeb, I. S.; J. A. Rafael & G. B. Fairchild. 1982. Tabanidae (Diptera) da Amazônia. II. Descrição de nove machos de mutucas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, N. S., Zoologia 121: 123.
  • Lutz, A. 1913. Sobre a systematica dos tabanideos, subfamilia Tabaninae. Brazil Medico 27: 486490.
  • McAlpine, J. F. 1981. Morphology and terminology Adults [Chapter] 2. In: McAlpine J. F.; B. V. Peterson; G. E. Shewell; H. J. Teskey; J. R. Vockeroth & D. M. Wood. (Coords.), Manual of Neartic Diptera, Volume 1. Agriculture Canada Monograph 27: 963.
  • Philip, C. B. & G. B. Fairchild. 1956. American biting flies of the genera Chlorotabanus Lutz and Cryptotylus Lutz (Diptera, Tabanidae). Annals of the Entomological Society of America 49: 313324.
  • Rafael J. A. & J. D. Charlwood. 1981. Atividade crepuscular de Chlorotabanus inanis (Fab.) and Cryptotylus unicolor (Wied.) (Diptera: Tabanidae). Acta Amazonica 11: 411413.
  • Sinclair, B. J.; J. M. Cumming & D. M. Wood. 1994. Homology and phylogenetic implications of male genitalia in Diptera lower Brachycera. Entomologica Scandinavica 24: 407432.
  • Stone, A. 1938. The horseflies of the Subfamily Tabaninae of the Neartic region. United States Department of Agriculture, Misc. Publ. 305: 1171.
  • Wilkerson, R.C. 1979. Horse flies (Dipt. Taban.) of the Colombian Departments of Choco, Valle and Cauca. Cespedesia VIII: 87433.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jul 2008
  • Data do Fascículo
    2008

Histórico

  • Aceito
    06 Fev 2008
  • Recebido
    22 Nov 2007
Sociedade Brasileira De Entomologia Caixa Postal 19030, 81531-980 Curitiba PR Brasil , Tel./Fax: +55 41 3266-0502 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: sbe@ufpr.br