Acessibilidade / Reportar erro

Influência do alumínio de um Podzólico Vermelho-Amarelo do Acre sobre o crescimento das plantas

Aluminum influence on plants grown in a Brazilian Red-yellow Podzolic soil

Resumos

Este trabalho foi realizado em Piracicaba (SP), em 1995, com o objetivo de investigar a causa da ausência de sintomas de toxidez de alumínio ou da redução de produtividade de plantas cultivadas em um solo Podzólico Vermelho-Amarelo do Acre. O teor de Al trocável nesse solo ultrapassa 14 cmol c dm-3 no horizonte B. Amostras dos horizontes A e B foram incubadas com diferentes doses de calcário e submetidas à determinação do pH em H2O, do pH em CaCl2 0,01 mol L-1 e do teor de Al trocável extraído com KCl 1 mol L-1 e determinado por titulação com NaOH 0,02 mol L-1 e por espectrofotometria de absorção atômica. Em outro experimento, quatro espécies ou cultivares (arroz, cultivares Fernandes e IAC 1131; feijão, cultivar Rosinha, e milho, cultivar C511-A) foram plantados em vasos contendo amostras dos horizontes A e B do solo em estudo; em 50% dos vasos, as amostras foram previamente tratadas com carbonatos de cálcio e de magnésio para elevar a saturação por bases a 80%. Após 60 dias, as raízes e a parte aérea foram secas, pesadas e submetidas à determinação do teor de Al. Em uma terceira etapa, foi determinado o teor de alumínio na solução do solo, empregando-se extratos da pasta de saturação de amostras incubadas com doses crescentes de calcário. Os teores de Al trocável obtidos por titulação do extrato com NaOH 0,02 mol L-1 mostraram-se coerentes com os determinados por espectrofotometria de absorção atômica. A influência da calagem sobre a produção de matéria seca e sobre a absorção de Al pelas plantas foi pequena, não havendo relação clara entre o desenvolvimento destas ou ocorrência de sintomas de toxidez e a presença de Al trocável nesse solo. As amostras não tratadas com corretivos apresentaram teores elevados de Al na solução; contudo, não foram observados sintomas de toxidez nos vegetais. No Podzólico Vermelho-Amarelo estudado, o teor de alumínio trocável e a concentração de Al na solução não constituíram índices adequados para estimar a toxidez desse elemento nas plantas.

alumínio trocável; alumínio na solução do solo; alumínio na planta; toxidez do alumínio; arroz; feijão; milho


The present study was carried out in 1995 to investigate why plants cultivated in a Red-Yellow Podzolic in the State of Acre, in the Brazilian Amazon, presenting high amounts of exchangeable aluminum, have not shown symptoms of toxicity to this element or yield reduction. The exchangeable Al3+ in the B horizon is higher than 14 cmol c dm-3. Samples of the A and B horizons were incubated with increasing rates of lime and subjected to determination of pH in H2O, pH in 0.01 mol L-1 CaCl2 and of the content of exchangeable Al extracted with 1 mol L-1 KCl, determined either by titration with 0.02 mol L-1 NaOH or by atomic absorption spectrophotometry. In a second experiment, two cultivars of rice plus common beans and corn were planted in pots containing samples of the A and B horizons of the soil; in 50% of the pots the samples were previously limed in order to increase the base saturation to 80%. After 60 days, plant roots and tops were removed, dried, weighed and subjected to determination of Al. In a third study, aluminum concentration in the soil solution was determined utilizing extracts collected from saturated samples previously incubated with increasing rates of lime. The concentrations of exchangeable Al determined by titration with 0.02 mol L-1 NaOH were similar to those obtained by atomic absorption spectrophotometry. The influence of liming on dry matter yield and the absorption of Al by the plants was small and no clear relation was found between plant development or toxicity symptoms and exchangeable Al in the soil. The non-limed soil showed high concentrations of Al in the solution; however, toxicity symptoms were not found in the plants. For the Red-Yellow Podzolic, the exchangeable Al and the concentration of Al in solution were not reliable indexes for estimating the toxicity of this element to plants.

exchangeable aluminum; aluminum in soil solution; aluminum in plants; aluminum toxicity; rice; common bean; corn


NOTA

Influência do alumínio de um Podzólico Vermelho-Amarelo do Acre sobre o crescimento das plantas(1 (1 ) Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor, apresentada à Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo - ESALQ/USP. Trabalho apresentado no XXV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, realizado em Viçosa (MG). )

Aluminum influence on plants grown in a Brazilian Red-yellow Podzolic soil

J. R. N. F. GamaI; J. C. KiehlII

IPesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. Caixa Postal 48, CEP 66000-000 Belém (PA)

IIProfessor do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas, ESALQ/USP, Caixa Postal 9. CEP 13418-900 Piracicaba (SP). E-mail: jdckiehl@carpa.ciagri.usp.br

RESUMO

Este trabalho foi realizado em Piracicaba (SP), em 1995, com o objetivo de investigar a causa da ausência de sintomas de toxidez de alumínio ou da redução de produtividade de plantas cultivadas em um solo Podzólico Vermelho-Amarelo do Acre. O teor de Al trocável nesse solo ultrapassa 14 cmolc dm-3 no horizonte B. Amostras dos horizontes A e B foram incubadas com diferentes doses de calcário e submetidas à determinação do pH em H2O, do pH em CaCl2 0,01 mol L-1 e do teor de Al trocável extraído com KCl 1 mol L-1 e determinado por titulação com NaOH 0,02 mol L-1 e por espectrofotometria de absorção atômica. Em outro experimento, quatro espécies ou cultivares (arroz, cultivares Fernandes e IAC 1131; feijão, cultivar Rosinha, e milho, cultivar C511-A) foram plantados em vasos contendo amostras dos horizontes A e B do solo em estudo; em 50% dos vasos, as amostras foram previamente tratadas com carbonatos de cálcio e de magnésio para elevar a saturação por bases a 80%. Após 60 dias, as raízes e a parte aérea foram secas, pesadas e submetidas à determinação do teor de Al. Em uma terceira etapa, foi determinado o teor de alumínio na solução do solo, empregando-se extratos da pasta de saturação de amostras incubadas com doses crescentes de calcário. Os teores de Al trocável obtidos por titulação do extrato com NaOH 0,02 mol L-1 mostraram-se coerentes com os determinados por espectrofotometria de absorção atômica. A influência da calagem sobre a produção de matéria seca e sobre a absorção de Al pelas plantas foi pequena, não havendo relação clara entre o desenvolvimento destas ou ocorrência de sintomas de toxidez e a presença de Al trocável nesse solo. As amostras não tratadas com corretivos apresentaram teores elevados de Al na solução; contudo, não foram observados sintomas de toxidez nos vegetais. No Podzólico Vermelho-Amarelo estudado, o teor de alumínio trocável e a concentração de Al na solução não constituíram índices adequados para estimar a toxidez desse elemento nas plantas.

Termos de indexação: alumínio trocável, alumínio na solução do solo, alumínio na planta, toxidez do alumínio, arroz, feijão, milho.

SUMMARY

The present study was carried out in 1995 to investigate why plants cultivated in a Red-Yellow Podzolic in the State of Acre, in the Brazilian Amazon, presenting high amounts of exchangeable aluminum, have not shown symptoms of toxicity to this element or yield reduction. The exchangeable Al3+ in the B horizon is higher than 14 cmolc dm-3. Samples of the A and B horizons were incubated with increasing rates of lime and subjected to determination of pH in H2O, pH in 0.01 mol L-1 CaCl2 and of the content of exchangeable Al extracted with 1 mol L-1 KCl, determined either by titration with 0.02 mol L-1 NaOH or by atomic absorption spectrophotometry. In a second experiment, two cultivars of rice plus common beans and corn were planted in pots containing samples of the A and B horizons of the soil; in 50% of the pots the samples were previously limed in order to increase the base saturation to 80%. After 60 days, plant roots and tops were removed, dried, weighed and subjected to determination of Al. In a third study, aluminum concentration in the soil solution was determined utilizing extracts collected from saturated samples previously incubated with increasing rates of lime. The concentrations of exchangeable Al determined by titration with 0.02 mol L-1 NaOH were similar to those obtained by atomic absorption spectrophotometry. The influence of liming on dry matter yield and the absorption of Al by the plants was small and no clear relation was found between plant development or toxicity symptoms and exchangeable Al in the soil. The non-limed soil showed high concentrations of Al in the solution; however, toxicity symptoms were not found in the plants. For the Red-Yellow Podzolic, the exchangeable Al and the concentration of Al in solution were not reliable indexes for estimating the toxicity of this element to plants.

Index terms: exchangeable aluminum, aluminum in soil solution, aluminum in plants, aluminum toxicity, rice, common bean, corn.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em novembro de 1997

Aprovado em novembro de 1998

  • CARMELLO, Q.A.C.; MÖLLER, M.R.F.; BERTON, R.S.; GAMA, J.R.N.F. & KIEHL, J.C. Especiação iônica da solução do solo para avaliar o alumínio trocável. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 26., Rio de Janeiro, 1997. Anais. Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1997. (CD-ROM)
  • CLARKSON, D.T. The effect of aluminum and other trivalent metal cations on cell division in root apices of Allium cepa Ann. Bot. N. Ser., 29:309-314, 1965.
  • EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Rio de Janeiro, Manual de Métodos de Análise de Solos, 1979. 255p.
  • FAGERIA, N.K. & KLUTHCOUSKI, J. Metodologia para avaliação das culturas de arroz e feijão, para condições adversas de solo. Goiânia, EMBRAPA/CNPAF, 1980. 22p. (Circular Técnica, 8)
  • FAGERIA, N.K. & ZIMMERMANN, F.J.P. Seleção de cultivares de arroz para tolerância de alumínio em solução nutritiva. Pesq. Agropec. Bras., 14:141-147, 1979.
  • FOY, C.D. Effect of aluminum on the uptake and metabolism of phosphorus by barley seedling. Plant Physiol., 41:165-172, 1966.
  • FOY, C.D. Effects of aluminum on plant growth. In: CARSON, E.W., ed. The plant root and its environment. Charlottesville, University Press of Virginia, 1974. p.601-642.
  • FOY, C.D. Soil chemical factors limiting plant root growth. In: HATFIEL, J.L. & STEWART, B.A., eds. Limitations to plant root growth. New York, Springer-Verlag, 1992. p.97-149.
  • FOY, C.D.; ARMIGER, W.H.; BRIGGLE, L.W. & REID, D.A. Differential aluminum tolerance of two wheat varieties associated with plant-induced pH changes around their roots. Soil Sci. Soc. Am. Proc., 29:64-67, 1965.
  • FOY, C.D.; CHANEY, R.L. & WHITE, M.C. The physiology of metal toxicity in plants. Ann. Rev. Plant Phisiol., 29:511-566, 1978.
  • FOY, C.D.; GERLOFF, G.C. & GABELMEN, W.H. Differencial effects of alumimum on the vegetative growth of tomato cultivars in acid soils and nutrient solution. J. Am. Soc. Hort. Sci., 98:427-432, 1973.
  • FURLANI, P.R. Efeitos fisiológicos do alumínio em plantas. In: SIMPÓSIO AVANÇADO EM SOLOS E NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 2., Piracicaba, 1989. Anais. Campinas, Fundação Cargill, 1989. p.73-90.
  • GAMA, J.R.N.F. Caracterização e formação de solos com argila de atividade alta no estado do Acre. Itaguaí, UFRJ, 1986. 150p. (Tese de Mestrado)
  • GOMES, F.P. Curso de estatística experimental. São Paulo, Nobel, 1970. 430p.
  • HELYAR, K.R. Effects of aluminum and manganese toxicity on legume growth. In: ANDREW, C.S. & KAMPRATH, E.J., eds. Mineral nutrition of legumes in tropical and subtropical soils. Melbourne, CSIRO, 1978. p. 207-231.
  • KAMPRATH, E.J. Lime in relation to aluminum toxicity in tropical soils. In: ANDREW, C.S. & KAMPRATH, E.J., eds. Mineral nutrition of legumes in tropical and subtropical soils. Melbourne, CSIRO, 1978. p. 233-245.
  • MALAVOLTA, E. Elementos de nutrição mineral de plantas. São Paulo, Agronômica Ceres, 1980. 251p.
  • MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C. & OLIVEIRA, S.A. Avaliação do estado nutricional das plantas. Piracicaba, Potafos, 1989. 201p.
  • MENGEL, K. & KIRKBY, E.A. Principles of plant nutrition. Bern, International Potash Institute, 1987. 687p.
  • MESQUITA FILHO, M.V. & SOUZA, A.F. Resposta do tomateiro à aplicação da calagem e da adubação fosfatada. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 26., Salvador, 1986. Resumos; Hortic. Bras., 4:61-66, 1986.
  • PAVAN, M.A. Efeitos tóxicos de alumínio em mudas de cafeeiro em relação à nutrição de cálcio. R. Bras. Ci. Solo, 6:209-213, 1982.
  • PAVAN, M.A. & BINGHAM, F.T. Toxidez de alumínio em cafeeiros cultivados em solução nutritiva. Pesq. Agropec. Bras., 17:1293-1302, 1982.
  • PAVAN, M.A.; BINGHAM, F.T. & PRATT, P.F. Toxicity of aluminum to coffee in Ultisols and Oxisols amended with CaCO3, MgCO3, and CaSO42H2O. Soil Sci. Soc. Am. J., 46:1201-1207, 1982.
  • RHOADES, J.R. Soluble salts. In: PAGE, A.L.; MILLER, R.H. & KEENEY, D.R., eds. Methods of soil analysis. Madison, ASA, 1982. p.167-179 (Agronomy 9)
  • ROY, K.A.; SHARMA, A. & TALUKDER, G. Some aspects of aluminum toxicity in plants. The Bot. Rev., 54:145-178, 1988.
  • SMYTH, T.J. & CRAVO, M.S. Aluminum and calcium constraints to continuous crop production in a brazilian amazon Oxisol. Agron. J., 84:843-850, 1992.
  • SPOSITO, G. & MATTIGOD, S.V. Geochem: a computer program for the calculation of chemical equilibria in soil solution and other natural water systems. Riverside, Kearney Foundation of Soil Science, University of California, 1980. 110p.
  • (1
    ) Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor, apresentada à Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo - ESALQ/USP. Trabalho apresentado no XXV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, realizado em Viçosa (MG).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Out 2014
    • Data do Fascículo
      Jun 1999

    Histórico

    • Aceito
      Nov 1998
    • Recebido
      Nov 1997
    Sociedade Brasileira de Ciência do Solo Secretaria Executiva , Caixa Postal 231, 36570-000 Viçosa MG Brasil, Tel.: (55 31) 3899 2471 - Viçosa - MG - Brazil
    E-mail: sbcs@ufv.br