Acessibilidade / Reportar erro

Pedogênese em uma seqüência latossolo-podzólico na borda de um platô na depressão periférica paulista

Pedogenesis of an oxisol-ultisol-alfisol sequence on the border of a plateau at the paulista peripherical depression in Brazil

Resumos

Estudou-se uma seqüência de solos (Latossolo Vermelho-Escuro álico textura muito argilosa → Podzólico Vermelho-Escuro distrófico textura argilosa/muito argilosa → Podzólico Vermelho-Amarelo eutrófico abrupto textura média/argilosa), situados na borda de um platô, que representa a superfície mais antiga e dominante da paisagem regional e de boa parte do médio/baixo Vale do rio Piracicaba, em Piracicaba (SP). Foram amostrados e descritos morfologicamente sete perfis de solos em trincheiras nos diferentes segmentos da vertente (topo, ombro, meia encosta e sopé). A configuração lateral dos horizontes foi observada por meio de tradagens. Análises mineralógicas, químicas e granulométricas foram feitas em amostras selecionadas dos horizontes. Nas amostras indeformadas dos horizontes e das transições entre estes, foram feitas a descrição e a análise micromorfológica para apoiar a interpretação da pedogênese. Os Latossolos muito argilosos do topo plano foram interpretados como formados a partir de um sedimento argiloso neocenozóico que recobriu o platô, e os Podzólicos como resultantes de transformação pedológica lateral dos Latossolos com contribuição de siltitos da formação Tatuí (Ptt). A gênese dos microagregados dos Latossolos do topo é complexa, mas dois processos ficaram mais evidentes: o da microestruturação geoquímica e o da zoogenética. A transição lateral Bw-Bt foi atribuída ao adensamento em subsuperfície do manto latossólico, em conseqüência do rebaixamento e convexização da superfície topográfica original durante o Quaternário e da influência crescente para jusante da ação mecânica do fluxo lateral de água. Posteriormente, mecanismos de argiluviação e de degradação de argilas por hidromorfismo temporário no topo do Bt completam a transformação do Bw em Bt e deste em E, respectivamente.

microagregados; adensamento de agregados; degradação do horizonte Bt; relações solo-paisagem; micromorfologia


A soil sequence (Oxisol → Ultisol → Alfisol) was studied on the border of a plateau, which is the oldest regional surface near the Piracicaba river valley (southeastern Brazil). Seven pits were identified, sampled and morphologically described under the different segments of the sequence (end of summit, shoulder, backslope and footslope). A bi-dimensional sketch of the soil horizons was drawn. Undeformed soil samples were taken for micromorphological studies, and mineralogical, chemical and granulometric analyses were performed. The very clayey Oxisols of the flat summit are developed on a neo-cenozoic cover and the Ultisols resulted from a lateral pedologic Latosol transformation gradually receiving at the end of the backslope a contribution from fresh siltites (Tatuí formation, Permian). The genesis of the top Oxisol microaggregates is complex, but two processes became evident: the geochemical microstructure ant the zoogenetics. The Bw → Bt transition was attributed to the subsurface densification of the microaggregates due to the levelling and convexity of the original surface and to the lateral water flow's growing influence downstream. Further mechanisms of argilluviation and clay destruction of the Bt horizon top by temporary hydromorphism will complete the transformation of Bw into Bt and of the latter into E, respectively.

microaggregates; natural aggregate densification; argillic horizon degradation; soil geomorphology; soil micromorphology


SEÇÃO V - GÊNESE, MORFOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO DO SOLO

Pedogênese em uma seqüência latossolo-podzólico na borda de um platô na depressão periférica paulista(1 (1 ) Trabalho apresentado no XXV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Viçosa (MG), 1995. Parte da Tese de Doutorado apresentada pelo primeiro autor à ESALQ/USP. Projeto financiado pela FAPESP. )

Pedogenesis of an oxisol-ultisol-alfisol sequence on the border of a plateau at the paulista peripherical depression in Brazil

P. Vidal-TorradoI; I. F. LepschII; S. S. CastroIII; M. CooperI

IProfessor do Departamento de Ciência do Solo, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo - ESALQ/USP. Caixa Postal 09, CEP 13418-900 Piracicaba (SP). E-mail: pablo@carpa.ciagri.usp.br e mcooper@carpa.ciagri.usp

IIProfessor do Departamento de Agronomia da Universidade Federal de Uberlândia. Caixa Postal 593, CEP 38400-902 Uberlândia (MG). E-mail: Igo@ufu.br

IIIProfessor do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, Universidade Federal de Goiás, Caixa Postal 131, Campus II. CEP 74001-970 Goiânia (GO). E-mail: selma@iesa.ufg.br

RESUMO

Estudou-se uma seqüência de solos (Latossolo Vermelho-Escuro álico textura muito argilosa → Podzólico Vermelho-Escuro distrófico textura argilosa/muito argilosa → Podzólico Vermelho-Amarelo eutrófico abrupto textura média/argilosa), situados na borda de um platô, que representa a superfície mais antiga e dominante da paisagem regional e de boa parte do médio/baixo Vale do rio Piracicaba, em Piracicaba (SP). Foram amostrados e descritos morfologicamente sete perfis de solos em trincheiras nos diferentes segmentos da vertente (topo, ombro, meia encosta e sopé). A configuração lateral dos horizontes foi observada por meio de tradagens. Análises mineralógicas, químicas e granulométricas foram feitas em amostras selecionadas dos horizontes. Nas amostras indeformadas dos horizontes e das transições entre estes, foram feitas a descrição e a análise micromorfológica para apoiar a interpretação da pedogênese. Os Latossolos muito argilosos do topo plano foram interpretados como formados a partir de um sedimento argiloso neocenozóico que recobriu o platô, e os Podzólicos como resultantes de transformação pedológica lateral dos Latossolos com contribuição de siltitos da formação Tatuí (Ptt). A gênese dos microagregados dos Latossolos do topo é complexa, mas dois processos ficaram mais evidentes: o da microestruturação geoquímica e o da zoogenética. A transição lateral Bw-Bt foi atribuída ao adensamento em subsuperfície do manto latossólico, em conseqüência do rebaixamento e convexização da superfície topográfica original durante o Quaternário e da influência crescente para jusante da ação mecânica do fluxo lateral de água. Posteriormente, mecanismos de argiluviação e de degradação de argilas por hidromorfismo temporário no topo do Bt completam a transformação do Bw em Bt e deste em E, respectivamente.

Termos de indexação: microagregados, adensamento de agregados, degradação do horizonte Bt, relações solo-paisagem, micromorfologia.

SUMMARY

A soil sequence (Oxisol → Ultisol → Alfisol) was studied on the border of a plateau, which is the oldest regional surface near the Piracicaba river valley (southeastern Brazil). Seven pits were identified, sampled and morphologically described under the different segments of the sequence (end of summit, shoulder, backslope and footslope). A bi-dimensional sketch of the soil horizons was drawn. Undeformed soil samples were taken for micromorphological studies, and mineralogical, chemical and granulometric analyses were performed. The very clayey Oxisols of the flat summit are developed on a neo-cenozoic cover and the Ultisols resulted from a lateral pedologic Latosol transformation gradually receiving at the end of the backslope a contribution from fresh siltites (Tatuí formation, Permian). The genesis of the top Oxisol microaggregates is complex, but two processes became evident: the geochemical microstructure ant the zoogenetics. The Bw → Bt transition was attributed to the subsurface densification of the microaggregates due to the levelling and convexity of the original surface and to the lateral water flow's growing influence downstream. Further mechanisms of argilluviation and clay destruction of the Bt horizon top by temporary hydromorphism will complete the transformation of Bw into Bt and of the latter into E, respectively.

Index terms: microaggregates, natural aggregate densification, argillic horizon degradation, soil geomorphology, soil micromorphology.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

AGRADECIMENTOS

À FAPESP, pelo auxílio financeiro para a realização deste trabalho; à família Furlan (Usina Furlan), pelas facilidades concedidas para os trabalhos de campo; ao Dr. Edvard Elias de Souza

Filho (Universidade de Maringá), pela contribuição nos trabalhos geológicos, e ao IPT-DIGEO, por permitir a utilização do fotomicroscópio.

LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em setembro de 1998

Aprovado em agosto de 1999

  • ALMEIDA, F.F.M. Fundamentos geológicos do relevo paulista. Geologia do estado de São Paulo. São Paulo, Instituto de Geografia e Geologia,1964. p.167-263. (Boletim, 41)
  • ALMEIDA, J.A.; KLAMT, E. & KÄMPF, N. Gênese do contraste textural e da degradação do horizonte B de um Podzólico Vermelho-Amarelo da Planície Costeira do Rio Grande do Sul. R. Bras. Ci. Solo, 21:221-233, 1997.
  • BEAUDOU, A.G.; CHATEZIN, Y.; COLLINET, J. & SALA, G.H. Notes sur la micromorphologie de certains ferralitiques jaunes de region équatoriels d'Afrique. Cah. ORSTOM, Ser. Pedol., 4:357-370, 1972.
  • BOULET, R., Análise estrutural da cobertura pedológica e cartografia. In: MONIZ, A.C.; FURLANI, A.M.C.; FURLANI, P. & FREITAS, S.S. A responsabilidade social da ciência do solo. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1988. p.79-90.
  • BREWER, R. Fabric and mineral analysis of soils. New York, Robert E. Krieger, 1976. 482p.
  • BREWER, R. & SLEEMAN, J.R. Soil structure and fabric. Adelaide, CSIRO, Division of Soils. 1988. 173p.
  • BRINKMAN, R. Ferrolysis, a hydromorphic soil forming process. Geoderma, 3:199-206, 1969/1970.
  • CAMARGO, M.N.; KLAMT, E. & KAUFTMAN, J.H. Classificação de solos usada em levantamentos pedológicos no Brasil. B. Inf. SBCS, 12:11-33, 1987.
  • CAMARGO, O.A.; MONIZ, A.C.; JORGE, J.A. & VALADARES, J.M.A.S. Métodos de análise química, mineralógica e física de solos do Instituto Agronômico de Campinas. Campinas, Instituto Agronômico de Campinas, 1986. 94p (Boletim Técnico, 106)
  • CASTRO, S.S. Sistemas de transformação pedológica em Marília, SP: B latossólicos e B texturais. São Paulo, Universidade de São Paulo, 1989. 274p. (Tese de Doutorado)
  • CASTRO, S.S. Impregnação de amostras de solo para confecção de lâmina delgada. B. Inf. SBCS, 10:44, 1985.
  • CHAUVEL, G.; BOCQUIER, G. & PEDRO, G. La stabilité et la transformation de la microstructure des sols rouges ferralitiques de Casamance (Senegal). Analyse microscopique et donnés experimentales. In: INTERNATIONAL WORK. MEETING SOIL MICROMORPHOLOGY, 5., Granada, 1979. Proceedings. Granada, Universidad de Granada, 1978. p.779-813.
  • COMISSÃO DE SOLOS - CSS. Levantamento de reconhecimento dos solos do estado de São Paulo. Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura, CNEPA, SNPA, 1960. 634p. (Boletim, 12)
  • EUA. Soil Survey Staff. Soil Taxonomy: A basic system of soil classification for making and interpreting soil surveys. Washington, 1975. v.5. 330p. (Agric. Handb., 436)
  • ESCHENBRENNER, V. Contribution des termites a la microagregation des sols tropicaux. Cah. Orstom, Ser. Pedol., 22:397-408, 1986.
  • ESCHENBRENNER, V. Les glébules des sols de côte d'Ivoire. Dijon, Université de Bourgogne, 2v. 780p. 1987. (Tese de Doutorado)
  • FEDOROFF, N. & ESWARAN, H. Micromorphology of Ultisols. In: SOIL MICROMORPHOLOGY AND SOIL CLASSIFICATION. Proceedings of a symposium sponsored by Division S-5 and S-9 of the Soil Science Society of America. Madison, Soil Science Society of American, 1985. p.145-164.
  • FONTES, M.P.F. Vermiculita ou esmectita com hidróxi nas entrecamadas: proposição de nomenclatura. B. Inf. SBCS,15:24-28, 1990.
  • INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS - IPT. Mapa geológico do estado de São Paulo. Escala 1:1.000.000. Divisão de Minas e Geologia Aplicada do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo. São Paulo, 1981.
  • JACKSON, M.L. Soil chemical analysis. Advanced course. Madison, 1969. 894p.
  • KARATHANASIS, A.D.; ADAMS, F. & HAJEK, B.F. Stability relationships in kaolinite, gibbsite and Al-hidroxyinter-layered vermiculite soil systems. Soil Sci. Soc. Am. J., 47:1247-1251, 1983.
  • LEPSCH, I.F. & BUOL, S.W.. Investigations in an oxissol-ultissol topossequence in São Paulo State, Brazil. Soil Sci. Soc. Am. Proc., 38:491-496, 1976.
  • LEPSCH, I.F.; BUOL, S.W. & DANIELS, R.B. Soil landscape relationships in the occidental plateau of São Paulo, Brazil: II Soil morphology, genesis and classification. Soil Sci. Soc. Am. J., 41:109-115, 1977.
  • MIKLÓS, A.A.W. Byodinamique d'une couverture pedologique dans la région de Botucatu, Brésil. Paris, Université Paris VI. 2v. 438p. 1992. (Tese de Doutorado)
  • MIKLÓS, A.A.W. Funcionamento biodinâmico da paisagem. Ci. & Amb., 4:75-83, 1993.
  • MONIZ, A.C. & BUOL, S.W. Formation of an oxisol-ultisol transition in São Paulo, Brazil: I-Double-water flow model of soil development. Soil Sci. Soc. Am. J., 46:1234-1237, 1982.
  • MONIZ, A.C. Evolução de conceitos no estudo da gênese de solos. R. Bras. Ci. Solo, 20:349-362, 1996.
  • MULLER, J.P. Microstructuration des structichrons rouges ferralitiques, à l'amont des modelés convexes (Centre-Cameroun). Aspecs morphologiques. Cah. Orstom, Ser. Pédol., 15:239-258, 1977.
  • OLIVEIRA, J.B.; ALFONSI, R.R. & PEDRO Jr., M.J. Regimes hídricos e térmicos dos solos do estado de São Paulo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 15., Campinas, 1976. Anais. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1976. p.359-362.
  • PENTEADO, M.M. Geomorfologia do Setor Centro Ocidental da Depressão Periférica Paulista. Rio Claro, Universidade de São Paulo, 1968. 86p. (Tese de Doutorado)
  • QUEIROZ NETO, J.P.; CASTRO, S.S.; FERNANDES BARROS, O.N.; MANFREDINI, S.; PELLERIN, J.; RUELLAN, A. & TOLEDO, G.S. Um estudo de dinâmica de solos: formação e transformação de perfis com horizonte B textural. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, Salvador, 1980. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1981. p.67.
  • RAIJ, B. van; QUAGGIO, J.A.; CANTARELLA, H.; FERREIRA, M.E.; LOPES, A.S. & BATAGLIA, O.A. Análise química do solo para fins de fertilidade. Campinas, Fundação Cargill, 1987. 165p.
  • STOOPS, G. Le profil dálteration au Bas-Congo (Kinshasa). As description et as genèse. Pedologie, 17:60-105, 1967.
  • STOOPS, G. Micromorphology of the oxic horizon. In: BULLOCK, P. & MURPHY, C.P., eds. Soil micromorphology. Soil genesis. Berkhamsted, Herts. AB Academic, 1983.v.2. p.419-440.
  • STOOPS, G. & JONGERIUS, A. Proposal for a micromorphological classification of soil materials. I. A classification of the related distribuion of fine and coarse particles. Geoderma, 13:189-199, 1975.
  • STOOPS, G. & BUOL S.W. Micromorphology of Oxisols. In: DOUGLAS, L.A. & THOMPSON, M.L., eds. Soil micromorphology and soil classification. Madison, Soil Science Society of American, 1985. p.105-119.
  • VIDAL TORRADO, P. & LEPSCH, I.F. Morfogênese dos solos de uma toposseqüência com transição B latossólico x B textural sobre migmatitos em Mococa (SP). R. Bras. Ci. Solo, 17:109-119, 1993.
  • VIDAL-TORRADO, P.; LEPSCH, I.F. & SOUZA FILHO. Relações solos-estratigrafia-geomorfologia em uma área sobre sedimentos paleozóicos em Piracicaba (SP). R. Bras. Ci. Solo, 1999. (no prelo)
  • (1
    ) Trabalho apresentado no XXV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Viçosa (MG), 1995. Parte da Tese de Doutorado apresentada pelo primeiro autor à ESALQ/USP. Projeto financiado pela FAPESP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Out 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 1999

    Histórico

    • Recebido
      Set 1998
    • Aceito
      Ago 1999
    Sociedade Brasileira de Ciência do Solo Secretaria Executiva , Caixa Postal 231, 36570-000 Viçosa MG Brasil, Tel.: (55 31) 3899 2471 - Viçosa - MG - Brazil
    E-mail: sbcs@ufv.br