Acessibilidade / Reportar erro

Similaridades entre o caráter coeso dos solos e o comportamento hardsetting: estudo de caso

Similarities between brazilian "cohesive" soils and hardsetting soils: a case study

Resumos

O termo coeso é utilizado, no Brasil, para distinguir horizontes subsuperficiais de solos que apresentam consistência dura, muito dura ou extremamente dura, quando secos, e friável, quando úmidos. Solos australianos com características similares foram identificados como hardsetting. Muitos solos da África e de outras regiões semi-áridas podem ser caracterizados como hardsetting, segundo vários pesquisadores. O objetivo deste trabalho foi testar a hipótese de que os solos com caráter coeso, identificados sobre os sedimentos do Terciário, na região nordeste do Brasil, apresentam propriedades morfológicas e físicas similares aos solos hardsetting. O estudo foi realizado em um Latossolo Amarelo Coeso, localizado em Cruz das Almas (BA), sob floresta secundária. Durante o período de secamento do solo, foram caracterizadas as mudanças morfológicas ocorrentes no perfil e, ainda, realizadas medidas da resistência do solo à penetração em horizontes: não-coeso (A1) e coeso (AB1). Os resultados indicaram que os parâmetros morfológicos e físicos do horizonte coeso foram similares àqueles utilizados para definir o comportamento hardsetting.

solos coesos; solos hardsetting; parâmetros morfológicos; resistência do solo à penetração


The term "cohesive" has been used in Brazil to distinguish sub-surface soil horizons that have hard, very hard or extremely hard consistency when the soil is dry, and friable when the soil is wet. Australian soils with similar behavior were identified as hardsetting. Researchers have indicated that many soils in Africa and other semi-arid regions can also be characterized as hardsetting. Based on the definition and characteristics of the hardsetting soils, it is believed that "cohesive" soils of the Low Coastal Tablelands, the northeastern region of Brazil have similar behavior. The aim of this work was to test the hypothesis that "cohesive" soils have morphological and physical properties similar to the hardsetting soils. The study was carried out in a "cohesive" Yellow Latosol, located in Cruz das Almas (BA), under a secondary forest. During a soil-drying period, morphological analysis of the soil profile and measurements of the soil resistance to penetration were made in normal and cohesive horizons. The results indicated that both morphological and physical parameters of the cohesive soil were similar to those used to identify hardsetting soils.

“cohesive” soils; hardsetting soils; morphological attributes; soil resistance to penetration


NOTA

N. F. B. GiarolaI; A. P. SilvaII; C. TormenaIII; L. S. SouzaIV; L. P. RibeiroV

IDoutoranda no Departamento de Solos e Nutrição de Plantas, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ. Av. Pádua Dias 11, CEP 13400-970 Piracicaba (SP). E-mail: neydef@carpa.ciagri.usp.br

IIProfessor do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - ESALQ/USP. E-mail: apisilva@carpa.ciagri.usp.br

IIIProfessor do Departamento de Agronomia, Universidade Estadual de Maringá - UEM. Av. Colombo 5790, CEP 87030-121 Maringá (PR). E-mail: catormen@wnet.com.br

IVPesquisador da Embrapa Centro Nacional de Pesquisa de Mandioca e Fruticultura Tropical. CEP 44380-000 Cruz das Almas (BA). E-mail: lsouza@cnpmf.embrapa.br

VProfessor do Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia - UFBa. CEP 44380-000 Salvador (BA). E-mail: lucedino@ufba.br

RESUMO

O termo coeso é utilizado, no Brasil, para distinguir horizontes subsuperficiais de solos que apresentam consistência dura, muito dura ou extremamente dura, quando secos, e friável, quando úmidos. Solos australianos com características similares foram identificados como hardsetting. Muitos solos da África e de outras regiões semi-áridas podem ser caracterizados como hardsetting, segundo vários pesquisadores. O objetivo deste trabalho foi testar a hipótese de que os solos com caráter coeso, identificados sobre os sedimentos do Terciário, na região nordeste do Brasil, apresentam propriedades morfológicas e físicas similares aos solos hardsetting. O estudo foi realizado em um Latossolo Amarelo Coeso, localizado em Cruz das Almas (BA), sob floresta secundária. Durante o período de secamento do solo, foram caracterizadas as mudanças morfológicas ocorrentes no perfil e, ainda, realizadas medidas da resistência do solo à penetração em horizontes: não-coeso (A1) e coeso (AB1). Os resultados indicaram que os parâmetros morfológicos e físicos do horizonte coeso foram similares àqueles utilizados para definir o comportamento hardsetting.

Termos de indexação: solos coesos, solos hardsetting, parâmetros morfológicos, resistência do solo à penetração.

SUMMARY

The term "cohesive" has been used in Brazil to distinguish sub-surface soil horizons that have hard, very hard or extremely hard consistency when the soil is dry, and friable when the soil is wet. Australian soils with similar behavior were identified as hardsetting. Researchers have indicated that many soils in Africa and other semi-arid regions can also be characterized as hardsetting. Based on the definition and characteristics of the hardsetting soils, it is believed that "cohesive" soils of the Low Coastal Tablelands, the northeastern region of Brazil have similar behavior. The aim of this work was to test the hypothesis that "cohesive" soils have morphological and physical properties similar to the hardsetting soils. The study was carried out in a "cohesive" Yellow Latosol, located in Cruz das Almas (BA), under a secondary forest. During a soil-drying period, morphological analysis of the soil profile and measurements of the soil resistance to penetration were made in normal and cohesive horizons. The results indicated that both morphological and physical parameters of the cohesive soil were similar to those used to identify hardsetting soils.

Index terms: “cohesive” soils, hardsetting soils, morphological attributes, soil resistance to penetration.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em agosto de 1999

Aprovado em outubro de 2000

  • ALMEIDA, J.A.; KÄMPF, N. & KLAMT, E. Amidas e hidrazina na identificação de caulinita desordenada em solos brunos subtropicias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. R. Bras. Ci. Solo, 16:169-175, 1992.
  • ANJOS, L.H.C. Caracterização, gênese, classificação e aptidão agrícola de uma seqüência de solos do Terciário na região de Campos, RJ. Itaguaí, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 1985. 194p. (Tese de Mestrado)
  • BLAKE, G.R. & HARTGE, K.H. Bulk density. In: KLUTE, A., ed. Methods of soil analysis - physical and mineralogical methods. 2.ed. Part 1. Madison, American Society of Agronomy, 1986. p.363-375.
  • BUSSCHER, W.J. Corretion of cone index for soil water content differences in a coastal plain soil. Soil Till. Res., 43:205-217, 1997.
  • BUTLER, B.E. Soil classification for soil survey. Oxford, Clarendon Press: 1980.
  • CHARTRES, C.J.; KIRBY, J.M. & RAUPACH, M. Poorly ordered silica and aluminosilicates as temporary cementing agents in hard-setting soils. Soil Sci. Soc. Am. J., 54:1060-1067, 1990.
  • COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA - CEPLAC. Guia da excursão técnica: solos coesos de tabuleiros costeiros. Campinas, Fundação Cargill, 1998. 84p.
  • EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Reunião de classificação, correlação e aplicação de levantamento de solos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 23., Rio de Janeiro, 1995. Anais. Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1995. 157p.
  • EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de solos. Rio de Janeiro, 1999. 257p.
  • EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Manual de Métodos de Análise de solo. Rio de Janeiro, 1979. 247p.
  • FONSECA, O.O.M. Caracterização e classificação de solos Latossólicos e Podzólicos desenvolvidos nos sedimentos do Terciário no litoral brasileiro. Itaguaí, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 1986. 185p. (Tese de Mestrado)
  • FRANZMEIER, D.P.; CHARTRES, C.J. & WOOD, J.T. Hardsetting Soils in Southeast Australia: Landscape and Profile Processes. Soil Sci. Soc. Am. J., 60:1178-1187, 1996.
  • HARPER, R.J. & GILKES, R.J. Hardsetting in the surface horizons of sandy soils and its implications for soil classification and management. Aust. J. Soil Res., 32:603-619. 1994.
  • JACOMINE, P.K.T. Distribuição geográfica, características e classificação dos solos coesos dos Tabuleiros Costeiros. In: NOGUEIRA, L.R.Q. & NOGUEIRA, L.C., eds. REUNIÃO TÉCNICA SOBRE SOLOS COESOS DOS TABULEIROS COSTEIROS, Cruz das Almas, 1996. Anais. Cruz das Almas, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 1996. p.13-26.
  • JACOMINE, P.K.T.; MONTENEGRO, J.O. & RIBEIRO, M.R. Levantamento exploratório - reconhecimento de solos do Estado de Sergipe. Recife, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 1975. 506p. (EMBRAPA.CPP, Boletim Técnico, 36 - SUDENE/DRNN, Série Recursos de Solos, 6)
  • LEMOS, R.C. & SANTOS, R.D. Manual de descrição e coleta de solos no campo. 3 ed. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1996. 45p.
  • LEY, G.J. & LARYEA, K.B. Spatial variability in penetration resistance of a hardsetting tropical alfisol. Soil Till. Res., 29:367-381, 1994.
  • McDONALD, R.C.; ISBELL, R.F.; SPEIGHT, J.G.; WALKER, J. & HOPKINS, M.S. Australian soil and land survey field handbook. 2ed. Mellbourn, Inkata Press, 1990.
  • MULLINS, C.E. Hardsetting Soils. In: SUMNER, M.E., ed. Handbook of Soil Science. Madison, CRC Press, 1999. p.G65-G87.
  • MULLINS, C.E. Hardsetting. In: LAL, R.; BLUM, W.H.; VALENTINE, C. & STEWART, B.A., eds. Methods for assesment of soil degradation. New York, Advance Soil Sci. CRC Press, 1997. p.109-128.
  • MULLINS, C.E.; BLACKWELL, P.S. & TISDALL, J.M. Strength development during drying of a cultivated, flood-irrigated hardsetting soil. I. Comparison with a structurally stable soil. Soil Till. Res., 25:113-128, 1992.
  • MULLINS, C.E.; MacLEOD, D.A.; NORTHCOTE, K.H.; TISDALL, J.M. & YOUNG, I.M. Hardsetting soils: Behaviour, ocurrence and management. Adv. Soil Sci., 11:37-108, 1990.
  • MULLINS, C.E.; YOUNG, I.M.; BENGHOUGH, A.G. & LEY, G.J. Hardsetting soils. Soil Use Managen., 3:79-83, 1987.
  • NORRISH, K. & PICKERING, J.G. Clay minerals. In: Soils: An Australian viewpoint. Melbourne, CSIRO, 1983. p.281-308.
  • NORTHCOTE, K.H.; HUBBLE, G.D.; ISBELL, R.F.; THOMPSON, C.F. & BETTANY, E. A description of Australian Soils. Melbourne, CSIRO, 1975.
  • RIBEIRO, L.P. Os Latossolos Amarelos do Recôncavo Baiano: gênese, evolução e degradação. Salvador, Secretaria de Planejamento e Tecnologia, 1998. 99p.
  • RIBEIRO, L.P. Premiers resultas sur la genése des sols a horizons indures dans la region du Cruz das Almas, BA, Brésil. In: TABLE RONDE SUR L'ORGANIZATION ET DINAMIQUE INTERNE DE LA COUVERTURE PEDOLOGIQUE, Caen, 1991. Anais. Caen, National Center for Scientific Research, 1991.
  • SILVA, A.J.N.; RIBEIRO, M.R.; MERMUT, A.R. & BENKE, M.B. Influência do cultivo contínuo da cana-de-açúcar em Latossolos Amarelos Coesos do estado de Alagoas: propriedades micromorfológicas. R. Bras. Ci. Solo, 22:515-525, 1998.
  • SILVA, M.S.L. & RIBEIRO, M.R. Influência do cultivo contínuo da cana-de-açúcar em propriedades morfológicas e físicas de solos argilosos de tabuleiro no estado de Alagoas. R. Bras. Ci. Solo, 16:397-402, 1992.
  • SILVA, M.S.L. Caracterização de Latossolos Amarelos sob cultivo contínuo de cana-de-açúcar no estado de Alagoas. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, 1996. 133p. (Tese de Mestrado)
  • SILVA, M.S.L. Efeito do cultivo da cana-de-açúcar em propriedades do solo de tabuleiro do estado de Alagoas. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, 1989. 106p. (Tese de Mestrado)
  • SINCLAIR, J. Crusting, soil strenght and seedling emergence in Botswana. Aberdeen University, UK. 1985. 223p. (Tese de Doutorado)
  • SAS INSTITUTE. SAS/STAT Procedure guide for personal computers. Version 5, SAS Inst. Cary, NC. 1991.
  • VETTORI, L. Métodos de análises de solos. Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura, 1969. 24p. (Boletim Técnico, 7)
  • WEAICH, K.; CAS, A. & BRISTOW, K.L. Use of a penetration resistance characteristic to predict soil strength development during drying. Soil Till. Res., 25:149-166, 1992.
  • YOUNG, I.M. Hardsetting soils in the UK. Soil Till. Res., 25:187-193, 1992.
  • Similaridades entre o caráter coeso dos solos e o comportamento hardsetting: estudo de caso

    Similarities between brazilian "cohesive" soils and hardsetting soils: a case study
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Out 2014
    • Data do Fascículo
      Mar 2001

    Histórico

    • Aceito
      Out 2000
    • Recebido
      Ago 1999
    Sociedade Brasileira de Ciência do Solo Secretaria Executiva , Caixa Postal 231, 36570-000 Viçosa MG Brasil, Tel.: (55 31) 3899 2471 - Viçosa - MG - Brazil
    E-mail: sbcs@ufv.br