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CONCILIAÇÃO ENTRE TRABALHO E FAMÍLIA

A segunda metade do século XX registrou profundas transformações na situação social das mulheres, um notável incremento da escolaridade feminina, uma sensível queda da natalidade e o ingresso maciço das mulheres casadas no mercado de trabalho. Apesar dos grandes avanços nas últimas décadas, torna-se cada vez mais evidente a persistência de importantes desigualdades sociais entre homens e mulheres tanto na esfera pública como na esfera privada.

Enfrentar as questões e os desafios suscitados pela nova configuração do mundo de trabalho e do mundo doméstico de uma óptica de gênero foi um dos objetivos do Seminário internacional Mercado de trabalho e gênero: comparações Brasil-França, realizado entre 9 e 12 de abril de 2007, na Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo e no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Iniciativa conjunta da equipe Socialização e relações de gênero e raça/etnia da Fundação Carlos Chagas e da rede européia de pesquisa Marché de travail et genre – Mage – do Centre National de la Recherche Scientifique na França, o encontro contou com a colaboração de importantes centros de pesquisa brasileiros. Privilegiando as comparações internacionais, abordou a nova dinâmica do mercado de trabalho a partir das profundas transformações produtivas e organizacionais ocorridas recentemente, focalizando novas e velhas discriminações que penalizam as mulheres. Algumas das desigualdades observadas repetem padrões já conhecidos como segregação ocupacional, diferenças salariais, jornadas de trabalho reduzidas, ao mesmo tempo em que outras discriminações emergem acompanhando o surgimento de novas profissões e carreiras no mercado de trabalho.

No dossiê Conciliação entre trabalho e família estão reunidas quatro contribuições – duas brasileiras e duas européias – que iluminam sob ângulos diferentes a intrincada articulação entre trabalho produtivo e trabalho reprodutivo. Neste quadro de atribuições desiguais para homens e mulheres destaca-se nitidamente a centralidade do cuidado das crianças pequenas para as políticas, visando à eqüidade de gênero.

Um balanço da trajetória do conceito de divisão sexual do trabalho e a constatação paradoxal que nesta matéria tudo muda para permanecer igual levam Helena Hirata e Danièle Kergoat, em "Novas configurações da divisão sexual do trabalho", a recorrer à sua definição do conceito para analisar criticamente os modelos que organizam atualmente as relações entre esfera doméstica e profissional.

Danièle Meulders, Robert Plasman, Jérôme De Henau, Leila Maron e Sile O'Dorchai apresentam, em "Trabalho e maternidade na Europa, condições de trabalho e políticas públicas", um panorama abrangente dos efeitos específicos da maternidade sobre a participação e permanência feminina no mercado de trabalho, bem como das políticas públicas de eqüidade de gênero implementadas em 15 países europeus.

Em "Trabalho e gênero no Brasil nos últimos dez anos", Maria Cristina Bruschini apresenta as principais tendências da inserção feminina no mercado de trabalho, aumento constante e contínuo, permanência de mulheres mais velhas, casadas e mães no mercado de trabalho, polarização entre o predomínio do trabalho feminino em atividades precárias e informais e o acesso a profissões de prestígio e cargos de diretoria.

Bila Sorj, Adriana Fontes e Danielle Carusi Machado, analisando as transformações da estrutura das famílias e a composição sexual do mercado de trabalho, mostram como em muitos aspectos o Brasil está-se modernizando e se aproxima dos países desenvolvidos, embora o provimento de equipamentos públicos de cuidado das crianças pequenas seja incipiente e precário. As tensões decorrentes da modernização devem ser resolvidas no âmbito privado da família. São responsabilidade das mulheres.

Albertina de Oliveira Costa

Fundação Carlos Chagas

acosta@fcc.org.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Dez 2007
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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