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Editorial

EDITORIAL

Cultura Popular e Educação em Sociedades Contemporâneas é o Tema em Destaque deste número, organizado pela Professora Neusa Gusmão, a quem muito agradecemos. Ele oferece elementos para elucidar a trama complexa das relações entre cultura, cultura popular e os processos educativos, hoje tão em evidência por conta das lutas identitárias, da transformação dos bens culturais em produtos de consumo, do direito à diversidade e das tensões entre o local e global nos currículos.

Carlos Rodrigues Brandão, antropólogo brasileiro, abre o debate examinando diferentes dimensões da cultura, da cultura popular e das polêmicas por ambas suscitadas, para então discutir as relações entre elas e a educação por meio das práticas dialógicas e dos processos de partilha e reprodução do saber nos movimentos de cultura popular dos anos 60 e nos dias atuais.

José Machado Pais, coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, ao comparar tendências musicais de matriz comum, como o samba no Brasil e o fado em Portugal, argumenta que das culturas ditas marginais podem emergir ícones de nacionalidade, o que dá mostras do seu caráter criativo e da sua densidade. Evidencia ainda, por meio de estudo de caso, as possibilidades emancipatórias abertas pelas artes da música e da dança a jovens portugueses afrodescendentes que abandonaram o ensino formal, e discute as potencialidades da educação como forma de reconhecimento do patrimônio cultural dos segmentos populares.

Ceres Karam Brum, da Universidade Federal de Santa Maria, busca caracterizar como movimento cultural organizado o Movimento Tradicionalista Gaúcho, bem como apreender aspectos dos seus processos de formação e das relações que estabelece com as escolas.

Abre a sessão Outros Temas um artigo de Juan Carlos Tedesco, conhecido especialista em políticas educacionais da Unesco, que estreou recentemente também como Ministro da Educação da Argentina. Ao abordar a questão que está na ordem do dia das agendas educacionais contemporâneas: a melhoria da qualidade do ensino, o autor pondera sobre as grandes dificuldades que diferentes países têm encontrado para obter progressos significativos nas aprendizagens dos alunos, a despeito das muitas tentativas realizadas. Procura entender esse quadro considerando as profundas mudanças que decorrem da nova ordem mundial e que tornam mais complexas as funções sociais da escola. Admitindo que as reformas dos anos 90, com ênfase na medição dos resultados da aprendizagem, mudanças de currículo e avaliação docente, não produziram os impactos esperados, sugere que se recupere a importância do trabalho pedagógico e que se confira maior atenção à subjetividade dos atores envolvidos com os processos educacionais.

Os três artigos que se seguem abordam questões referentes à relação de gênero, raça/cor, origem social e escolarização. Alceu Ravanello Ferraro e Rafael Guerreiro Osorio trabalham com dados dos censos demográficos e chegam a conclusões importantes para as atuais políticas de ação afirmativa. O estudo de Marília Pinto de Carvalho, de natureza qualitativa, procura verificar se alterações na definição de objetivos educacionais e critérios de avaliação podem minimizar o viés socioeconômico de sexo e de raça encontrado entre os alunos que são encaminhados para atividades de reforço em escolas de ensino fundamental da Cidade de São Paulo.

Ainda sobre a questão étnico-racial, Petrônio Domingues recupera historicamente aspectos da atuação do movimento negro após a abolição da escravatura, evidenciando a importância por este atribuída à educação como meio de assegurar melhor inserção social dos negros e combater o racismo.

Abordando um tema raramente contemplado pela área da educação, a análise da revisão bibliográfica sobre a construção de dificuldades de aprendizagem em crianças adotadas, realizada por Sueli Cristina de Pauli e Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, aponta a necessidade de pesquisas que deem visibilidade ao volume de ocorrências encontradas e aos fatores que podem estar relacionados ao seu aparecimento.

O estudo de Circe Mary S. da Silva lança luz sobre o papel desempenhado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada, criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em meados do século passado, na formação do campo científico da Matemática no Brasil.

Luciana G. Loponte, apoiando-se em referencial foucaultiano, problematiza a possibilidade de invenção artista no processo de formação docente, recorrendo, para tanto, a discussões de um grupo de professoras de Arte-Educação.

A despeito da expansão do ensino superior no país, Ana Paula Salheb Alves e Ana Maria Almeida, analisando os processos de seleção de engenheiros recém-formados por grandes empresas na região de Campinas, Estado de São Paulo, encontram evidências de que o diploma obtido nas universidades reconhecidas como de excelência acadêmica ainda constitui a variável mais importante na contratação desses profissionais. Ele também contribui decisivamente para o acesso a postos de comando em que se situam as remunerações mais altas e o maior prestígio. Os achados levam as autoras a discutirem suas implicações no âmbito das políticas públicas.

Cada vez mais encontrado entre os estudantes das escolas brasileiras frequentadas por diferentes estratos sociais, o fenômeno do bullying é tomado como objeto de estudo no artigo assinado por Fernanda M. França Pinheiro e Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams, cujo objetivo é investigar a associação da intimidação entre pares e violência familiar.

Fecha este número o texto de Rita M. R. Pereira, Raquel G. Salgado e Solange Jobim e Souza, com uma reflexão de cunho teórico-metodológico sobre a produção da subjetividade na relação entre pesquisador e criança.

Esperamos que os artigos possam-lhes ser úteis.

As Editoras

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Maio 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 2009
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