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Práticas rurais de leitura: dos acervos aos modos de ler

Prácticas rurales de lectura: de los acervos a los modos de leer

Resumos

O artigo discute questões relativas à prática de leitura de seis leitores assíduos oriundos do meio rural, dando ênfase à análise dos acervos particulares e aos meios e modos de ler. A abordagem que se estabelece advém do resultado de uma pesquisa realizada com base nos pressupostos teóricos vinculados à história da leitura e nas proposições do historiador Roger Chartier, e aos conceitos da sociologia da leitura e da cultura discutidos por Bernard Lahire. Através da análise dos acervos particulares, classificados a partir das esferas de circulação social, identificaram-se os temas de maior interesse dos leitores, assim como modos de ler que revelam práticas de leituras silenciosas e extensivas.

hábito de leitura; meio rural; sociologia da leitura; acervo


El artículo discute temas relativos a la práctica de lectura de seis lectores asiduos oriundos del medio rural, dando énfasis al análisis de los acervos particulares y a los medios y modos de leer. El abordaje que se establece proviene del resultado de una investigación realizada en base a las presuposiciones teóricas vinculadas a la historia de la lectura y en las proposiciones del historiador Roger Chartier, así como a los conceptos de la sociología de la lectura y la cultura discutidos por Bernard Lahire. A través del análisis de los acervos particulares, clasificados a partir de las esferas de circulación social, se identificaron los temas de mayor interés de los lectores, así como modos de leer que revelan prácticas de lecturas silenciosas y extensivas.

hábito de lectura; zona rural; sociología de la lectura; colección


This article discusses issues related to the reading practice of six assiduous readers coming from rural areas; emphasis is given to the analysis of private collections and the means and ways of reading. The approach derives from the results of a survey based on theoretical assumptions related to the history of reading and the propositions by historian Roger Chartier, and the concepts of the sociology of reading and culture discussed by Bernard Lahire. Through the analysis of the private collections, classified according to the spheres of social circulation, the topics of greatest interest to the readers were identified, as well as modes of reading which revealed silent and extensive reading practices.

reading habits; rural areas; sociology of reading; book collection


OUTROS TEMAS

Práticas rurais de leitura: dos acervos aos modos de ler

Prácticas rurales de lectura: de los acervos a los modos de leer

Lisiane Sias Manke

Professora do Departamento de História da Universidade Federal de Pelotas – UFPel; mestre e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE –; integrante do grupo de pesquisa História da Alfabetização, Leitura, Escrita e dos Livros Escolares – HISALES –; coordenadora do Laboratório de Ensino de História da mesma universidade lisianemanke@yahoo.com.br

RESUMO

O artigo discute questões relativas à prática de leitura de seis leitores assíduos oriundos do meio rural, dando ênfase à análise dos acervos particulares e aos meios e modos de ler. A abordagem que se estabelece advém do resultado de uma pesquisa realizada com base nos pressupostos teóricos vinculados à história da leitura e nas proposições do historiador Roger Chartier, e aos conceitos da sociologia da leitura e da cultura discutidos por Bernard Lahire. Através da análise dos acervos particulares, classificados a partir das esferas de circulação social, identificaram-se os temas de maior interesse dos leitores, assim como modos de ler que revelam práticas de leituras silenciosas e extensivas.

Palavras-chave: hábito de leitura; meio rural; sociologia da leitura; acervo

RESUMEN

El artículo discute temas relativos a la práctica de lectura de seis lectores asiduos oriundos del medio rural, dando énfasis al análisis de los acervos particulares y a los medios y modos de leer. El abordaje que se establece proviene del resultado de una investigación realizada en base a las presuposiciones teóricas vinculadas a la historia de la lectura y en las proposiciones del historiador Roger Chartier, así como a los conceptos de la sociología de la lectura y la cultura discutidos por Bernard Lahire. A través del análisis de los acervos particulares, clasificados a partir de las esferas de circulación social, se identificaron los temas de mayor interés de los lectores, así como modos de leer que revelan prácticas de lecturas silenciosas y extensivas.

Palabras clave: hábito de lectura; zona rural; sociología de la lectura; colección

A cultura escrita está presente no cotidiano da sociedade grafocêntrica, e é uma prática recorrente e consolidada entre alguns grupos sociais ou em determinados contextos geográficos. Os estudos que tratam da aquisição ou do uso da leitura e da escrita estão vinculados, na maioria das vezes, às práticas escolares ou à cultura urbana, nas quais as relações sociais e as atividades profissionais exigem nível mais elevado de letramento dos indivíduos. Dessa forma, por vezes, pode-se considerar a inexistência ou a rarefação da cultura escrita em outros contextos sociais, como o rural. Diante desse fato, algumas questões podem ser colocadas: qual a presença da leitura no meio rural? Que relação os indivíduos vinculados a esses locais estabelecem com a leitura? Se leem, o que leem e como o fazem? Este artigo pretende dar visibilidade às práticas de leitura existentes no meio rural, ao analisar a trajetória individual de seis leitores assíduos.

Esse tema é discutido a partir dos resultados de uma pesquisa realizada que tinha como objetivo a análise da trajetória individual de seis leitores assíduos1 1 Caracterizam-se como "leitores assíduos" aqueles indivíduos que leem constantemente e intensamente com o intuito de se instruírem ou por prazer de ler. que viveram grande parte de suas vidas em comunidades rurais, onde estabeleceram as primeiras relações com a cultura escrita e incorporaram a disposição leitora. Os seis atores analisados residem em municípios do sul do Estado do Rio Grande do Sul, quatro homens e duas mulheres: Antonio, Nei, Henrique, Ismael, Ondina e Tecla.2 2 Optou-se por utilizar apenas o primeiro nome dos atores e não divulgar os locais de residência, de modo a preservar as identidades deles. Os leitores em evidência nasceram entre os anos de 1916 e 1936, tendo cursado de três a cinco anos a escola primária, com exceção de Ismael, que não frequentou a escola formal, e de Nei, que cursou o secundário. Todos são oriundos de famílias de agricultores, descendentes de imigrantes europeus, que durante a vida profissional trabalharam em atividades rurais com mão de obra familiar, estabelecendo significativo vínculo com o meio rural. Diante das questões que se colocam sobre as práticas de leitura, busca-se analisar aqui, com mais ênfase, a constituição dos acervos particulares, os meios e modos de ler desses atores. Para tanto, os pressupostos teóricos que nortearam a investigação estão vinculados aos estudos da história da leitura e aos conceitos da sociologia da leitura e da cultura, com o suporte teórico de autores como Bernard Lahire e Roger Chartier.

Conforme ensina Chartier (2001), para além de vincular os objetos e as práticas aos grupos sociais a que pertencem, é pertinente compreender a utilização e o consumo que esses grupos fazem dos impressos. Na pesquisa realizada, a partir da trajetória dos leitores em evidência, foi possível esboçar uma imagem sobre as práticas de leitura no mundo social, evidenciando o leitor como indivíduo singular no campo social, permeado por relações de sociabilidade que o constituem. Nessa investigação em escala individual o indivíduo ganha espaço e representatividade como sujeito único, porém, vinculado a um determinado grupo social, o que possibilita "responder a interrogações do dia a dia, leigas, mas essenciais, quanto à vida dos indivíduos em sociedade" (LAHIRE, 2005, p. 36).

O grupo de leitores analisados foi localizado a partir do que se denominou "redes de contato". Assim, foi contatado um número superior a 20 leitores, dos quais 14 foram efetivamente entrevistados. Contudo, diante das exigências metodológicas que envolvem uma pesquisa em escala individual, na qual os atores devem ser investigados profundamente, de modo a apreender a pluralidade interna dos indivíduos singulares, observou-se a necessidade de diminuir o número de leitores pesquisados. Dessa forma, o processo de seleção dos leitores ficou condicionado inicialmente à disponibilidade e interesse pessoal destes, e à disposição de falar sobre os acontecimentos socioculturais vivenciados e, especialmente, sobre suas práticas de leitura. Esse é um aspecto bastante importante no processo de seleção do grupo investigado por se tratar de um estudo que busca "confidências" dos leitores sobre suas leituras. Verificada a disponibilidade e disposição dos atores, optou-se por trabalhar com um grupo de seis leitores, aparentemente mais homogêneo, para que se pudesse ter controle de variáveis como idade, origem social, período e nível de escolarização, e então vislumbrar a unicidade/pluralidade de cada indivíduo social. Contudo, diante da análise das seis trajetórias sociais, percebeu-se que, mesmo tendo no social "desdobrado" um grupo homogêneo, os atores possuem "dobraduras" singulares decorrentes das diferentes formas de socialização (LAHIRE, 2002).

Para apreender essa realidade social interiorizada no indivíduo singular, conforme Lahire (2002), é necessária uma série de informações que precisam ser comparadas e cruzadas sobre um mesmo ator. Para tanto, a análise ocorreu no sentido vertical, ou seja, no cruzamento de diversos dados que correspondem à trajetória de um mesmo indivíduo. As fontes orais se apresentaram como o principal aporte metodológico para a coleta de dados; foram realizadas 30 entrevistas com os seis atores, definidas como "entrevistas em profundidade", ou seja, longos depoimentos nos quais eles podiam falar livremente sobre suas trajetórias de vida e a relação com a leitura. Além das entrevistas, outros documentos se somaram aos materiais empíricos, como notas de campo (BOGDAN; BIKLEN, 1994), o registro dos livros que compõem o acervo particular dos depoentes, além de dedicatórias escritas nos livros, inventários, cartas, fotos e textos redigidos pelos próprios leitores sobre suas leituras. Esses documentos, na maioria dos casos, eram apresentados como forma de ilustrar o que estava sendo narrado.

O registro dos livros componentes do acervo particular de cada um dos entrevistados foi feito a partir do título e dos principais dados bibliográficos dos exemplares. Détrez (2004) diz que a classificação de gêneros literários depende da experiência pessoal de leitura de cada indivíduo e sugere que a coleta de dados seja realizada a partir do título das obras: "la pregunta por los títulos no excluye en absoluto un análisis por géneros. El conjunto de corpus de títulos fue codificado por gênero a posteriori" (p. 100). Essa foi a postura assumida na pesquisa ao se tratar da análise dos acervos, ou seja, após o registro dos acervos realizou-se a classificação a partir das esferas de circulação social.

Para a análise dos dados levou-se em conta o alerta de Lahire (2004) em relação ao cuidado que se deve ter para não homogeneizar contextos heterogêneos, buscando considerar as singularidades dos princípios de socialização nos diferentes períodos de uma trajetória. Assim, atentou-se às variações e permanências de modo a apreender as dissonâncias e contradições que os depoimentos apresentavam, mesmo observando que, muitas vezes, tais aspectos se colocam de maneiras quase imperceptíveis ao entrevistado, que, normalmente, procura manter um discurso coerente sobre sua trajetória social.

AS PREFERÊNCIAS LITERÁRIAS NA COMPOSIÇÃO DOS ACERVOS PARTICULARES

Conforme Darnton (1995, p. 152), o acervo de uma biblioteca particular pode identificar o perfil de um leitor, mesmo que os livros possuídos não correspondam diretamente aos livros lidos, ou mesmo que muitos livros lidos não pertençam às bibliotecas particulares. Os leitores podem possuir livros que nunca leram, ou mesmo terem lido livros que não possuem, considerando as redes de socialização estabelecidas diante do empréstimo dos materiais escritos. No caso dos leitores analisados, pôde-se observar que vários livros foram presenteados por amigos e familiares, fato que reforça a representação desses enquanto leitores assíduos entre as pessoas com quem convivem, por serem "merecedores" de tal presente. Inicialmente, com a análise dos acervos particulares, considera-se possível mapear os temas pelos quais os leitores apresentam maior interesse e assim "ligar o 'quê' com o 'quem' da leitura" (DARNTON, 1995, p. 152). Contudo, quando ainda se pode contar com os depoimentos sobre a relação que o leitor estabelece com o seu acervo, a possibilidade de delinear os modos de ler torna-se ainda maior.

Adentrar os espaços nos quais os acervos particulares eram armazenados exigiu paciência e, especialmente, respeito a reservas e restrições dos entrevistados. Na maioria dos casos, os acervos estavam guardados no quarto, em gavetas da cômoda ou no guarda-roupa. O registro das obras, revistas e jornais que compunham os acervos foi realizado normalmente a partir da terceira entrevista realizada com cada depoente, quando uma relação de confiança começava a ser estabelecida. Assim, após o registro dos livros que cada leitor possuía, estes foram classificados a partir das esferas de circulação social, tornando possível vislumbrar suas preferências literárias, mesmo diante da imponderabilidade dos fatores que envolvem tal classificação, devido à complexa categorização relacionada aos gêneros literários.

O sociólogo da leitura Donnat (2004), a esse respeito, questiona: "Como clasificar los libros? Qué criterio utilizar para definir los géneros? Esta cuestión de la categorización de los géneros [...] es particularmente difícil en el caso de los libros, ya que no existe um verdadeiro consenso para la nomenclatura" (p. 70). Isso ocorre, segundo o autor, porque o reconhecimento de um gênero não é uma propriedade intrínseca e atemporal, sendo o estatuto dos gêneros variável. Conforme Marcuschi (2002, p. 30), "os gêneros não são entidades naturais como as borboletas, as pedras, os rios e as estrelas, mas são artefatos culturais construídos historicamente pelo ser humano". Em outras palavras, os gêneros são fenômenos sócio-históricos e culturalmente sensíveis que resistem a uma classificação precisa e estável. Marcuschi (2002) adota a expressão "domínios de discurso", utilizada por Mikhail Bakhtin, para designar uma esfera da atividade humana. Esses domínios propiciam discursos bastante específicos que podem ser compreendidos como jurídicos, jornalísticos, religiosos, entre outros. As esferas da atividade humana ou esferas de circulação social não abrangem um gênero em particular, mas dão origem a vários gêneros que lhes são próprios enquanto práticas ou rotinas comunicativas institucionalizadas (MARCUSCHI, 2002, p. 24).

A classificação dos acervos particulares revela os temas de maior interesse dos leitores investigados, que estão vinculados, na maioria das vezes, a um processo de reconstrução de suas identidades, como se observa na preferência literária de Henrique, um dos seis leitores. Henrique é um trabalhador rural "das mãos calejadas pela enxada", conforme suas palavras, um leitor que, ao olhar para o acervo de livros que possui, se orgulha da relação que estabeleceu com a cultura escrita, transmitida também aos seus filhos. A pouca escolarização (terceiro ano primário), devido à ausência de escolas que permitissem dar sequência aos estudos no meio rural, é algo lamentado por Henrique. Ele se refere ainda às dificuldades de acesso aos impressos na zona rural. Contudo, considera ter superado tais dificuldades ao valorizar cotidianamente a prática da leitura e da escrita no contexto familiar como algo indispensável para a formação humana.

O acervo de Henrique é composto por 35 livros, conforme relacionado no Quadro 1.


A esfera mais presente no seu acervo é a literária, composta por obras que apresentam, em sua maioria, enredos com temas históricos, seguida pelos títulos da esfera histórica. Nessa relação, encontram-se vários livros sobre os assuntos de mais ênfase em seus relatos, como a II Guerra Mundial e o governo de Getúlio Vargas. Henrique tem interesse especial por esses assuntos por ter sido convocado a servir o Exército durante a Guerra e ser partidário de Getúlio Vargas. No entanto, ele parece não fazer distinção entre os gêneros literários lidos e, por vezes, demonstra compreender os livros somente pelo conteúdo histórico. Por exemplo, ao se referir ao exemplar O homem que matou Getúlio Vargas, de Jô Soares, menciona ter encontrado um livro que conta outra história sobre a morte do personagem, sugerindo que essa poderia ser a "versão verdadeira" da história, sem considerar o caráter literário da obra.

Para além dos livros listados, outros impressos foram observados na casa de Henrique. As filhas solteiras, que também são leitoras, mesmo se colocando de forma muito reservada e não se dispondo a falar sobre suas práticas, durante uma das entrevistas decidiram mostrar alguns dos livros que possuem. Com isso, descobriram-se outros espaços da casa que abrigavam materiais escritos. Além dos livros das filhas de Henrique, havia algumas revistas, como, por exemplo, exemplares da Veja, Isto é e Caras. Em relação a estas, Henrique não deixou de mencionar: "Eu gosto de história e de tudo que é tipo de novidade, isso tudo eu prezo". Contudo, embora demonstre interesse, nenhuma de suas falas remete a essas leituras, o que parece indicar que as revistas são lidas especialmente por suas filhas.

A família nunca adquiriu jornais ou revistas por assinatura; a compra desses impressos ocorre quando alguém se desloca para a zona urbana do município de Pelotas e os compra de forma avulsa, embora seja um meio de informação muito valorizado por Henrique: "O jornal traz aquilo na hora, o livro descreve, mas não como está no jornal. O jornal é uma grande coisa. Pra mim, então, que sou curioso por novidade...". Ao falar sobre o acesso aos materiais escritos, Henrique enfatizou as dificuldades de aquisição destes na zona rural, citando o exemplo do jornal que, devido à distância geográfica de sua propriedade rural, nunca foi possível ter uma assinatura. Contou ainda que familiares ou amigos, sempre que vão visitá-lo, levam jornais de semanas anteriores, que ele lê mesmo com atraso.

O jornal também compõe o rol de leituras realizadas por Nei, morador em outra localidade rural. Ele afirma que, apesar das dificuldades de acesso, sempre foi leitor assíduo desses periódicos, prática vivenciada desde a infância e que se tornou indispensável em sua vida. Nei relembrou que, aos 5 anos de idade, já lia os jornais assinados por seu pai, que por longo período recebeu o Correio do Sul e O Libertador3 3 O Correio do Sul foi um jornal diário, editado em Bagé (RS), que circulou de 1914 a 2008. (Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Correio_do_Sul>). O Libertador iniciou suas atividades em 1924, na cidade de Pelotas (RS); era um jornal de oposição, vinculado ao partido Aliança Libertadora, e teve suas atividades encerradas em 1937, quando o Estado Novo aboliu os partidos políticos e decretou o fechamento de vários jornais partidários (LONER, 1998). : "O primeiro jornal que ele assinou, até era em sociedade com um cunhado dele, era de Bagé, o Correio do Sul. Depois meu pai assinou O Libertador, que era de Pelotas, só que era um órgão do Partido, tinha o noticiário geral, mas era do Partido. Agora, pra chegar aqui no interior...". De acordo com o que relatou, os exemplares que seu pai assinava percorriam um longo caminho até chegar ao destino final: "De Bagé vinha de trem pra Pelotas, de lá distribuíam para Canguçu, vinha numa carruagem chamada diligência, uma carruagem de quatro rodas, ali o encarregado classificava e distribuía. Depois alguém ia buscar ou mandavam por alguém". Dessa forma, a leitura do jornal, por vezes, poderia ser embaraçosa diante das várias edições que chegavam ao mesmo tempo, como explicou Nei:

...o jornal era diário, mas pra chegar nas mãos aqui no interior só quando a gente ia a Canguçu, [...] só a cavalo, então quando ia, vinha uma pilha de jornal. Para a gente ler era meio complicado, a gente queria ver as últimas notícias, então iam ficando aquelas outras, que sempre tinha muita coisa interessante. Aquela época não era fácil, as notícias quando chegavam aqui já se estava interessando nas outras mais novas, já se olhava as mais novas.

No momento em que as entrevistas foram realizadas, Nei assinava o jornal Diário Popular, que era entregue diariamente na clínica veterinária de um sobrinho, na cidade de Canguçu, e encaminhado à sua residência; os demais jornais eram comprados esporadicamente. Os textos provenientes de jornais eram, para ele, uma fonte de leitura com características e benefícios únicos, como revelou:

...considero o jornal uma das maiores fontes de instrução, porque é uma leitura diversificada, porque hoje, com a globalização, a gente tem que saber o que há em todo o mundo, apesar de ter outros meios de comunicação. Agora o jornal tem uma vantagem, quem assina o jornal está a par das modificações da ortografia.

Além do jornal, ele assinou durante alguns anos as revistas Noite Ilustrada, Cruzeiro e Seleções Reader's Digest.

Em relação ao acervo de livros, a esfera de maior predominância é a histórica. Temas relacionados à história local e regional são os de maior evidência tanto no acervo quanto em suas narrativas, como apresenta o Quadro 2.


Os livros da esfera histórica eram frequentemente comentados por Nei durante as entrevistas realizadas. Ao falar sobre a história local referiu-se à obra Canguçu: reencontro com a memória, de Claudio Moreira Bento, afirmando que naquele livro muitas das histórias que ele conhecia "só de ouvir falar" haviam sido registradas e, assim, conservadas. Nei contou que um dos livros sobre história do Brasil ganhou de presente de um neto, dias antes da terceira entrevista, e estava lendo naquele momento. No entanto, fez referência a outras obras que não foram localizadas entre os materiais disponibilizados, pois, segundo ele, lia muitos livros emprestados, assim como havia emprestado alguns exemplares que não lhe foram devolvidos.

Ao analisar o acervo particular de Nei, composto por livros, revistas e jornais, paralelamente aos seus depoimentos, constata-se a diversidade de temas e suportes por ele utilizados. O reduzido número de materiais escritos encontrados em sua residência não revela sua ampla relação com a cultura escrita, evidenciada durante as entrevistas, mas mostra que a prática de leitura sempre esteve presente em sua vida; entre as obras encontradas há edições de 1929, 1947 e 1960. Não existem períodos em que a disposição foi colocada em "estado de vigília" (LAHIRE, 2002), ou reativada por determinado contexto, o que é confirmado em seus depoimentos, especialmente na frase: "Vivia de livro na mão, agora envelheci, fui envelhecendo e lendo". O acervo particular de Nei corrobora o argumento de Darnton (1995) de que o número de livros presentes em uma biblioteca particular pode não corresponder diretamente a todos os livros lidos por um indivíduo.

Antonio, um dos leitores analisados, reside em uma casa cuidadosamente decorada com objetos que fazem do passado uma lembrança constante. Ao lado de sua esposa, ocupa-se atualmente de preservar e resgatar a história familiar e comunitária através de objetos, fotos e livros. Para ele, o principal suporte de leitura são os livros, tendo sido registrados 131 em seu acervo particular, como relacionado no Quadro 3.


Antonio diz ser um indivíduo que busca "conhecer a história", em especial a história da imigração alemã no sul do Estado do Rio Grande do Sul. Em seus depoimentos, ele deixa evidente que a história é a principal motivação para suas leituras, o que se confirma na análise de seu acervo particular. A esfera histórica é predominante entre seus livros; além disso, os livros da esfera didática em grande parte também correspondem a temáticas históricas. Outro aspecto que caracteriza esse conjunto de títulos são os anos de edição bastante antigos; vários livros datam da primeira metade do século XX. Antonio não soube precisar a procedência da maioria das obras, dizendo apenas que as comprou ou ganhou, mas lembra de dois livros que, segundo conta, fizeram parte de sua infância e adolescência. Um deles é Manuscrito brasileiro, de 1935, utilizado na escola, que aborda a história do Brasil, especialmente a partir da biografia de "grandes nomes", como Pedro Álvares Cabral e Tomé de Souza, por exemplo. O outro é A juventude no Estado Novo, composto de textos extraídos de discursos e entrevistas do então presidente Getúlio Vargas que exaltam o nacionalismo brasileiro. Ele ganhou esse livro em um evento de que participou em Porto Alegre, durante as festividades da Semana da Pátria, organizado pelo Estado Novo, que tinha por objetivo propagar os princípios do nacionalismo, ou ainda, como disse, "ensinar a ser brasileiro".

Os 13 livros em língua alemã de seu acerco lhe foram presenteados por parentes e pessoas herdeiras das obras que desconheciam o idioma. Ao se referir a esse conjunto de livros, afirmou orgulhoso saber ler alemão, inclusive em letra gótica: "Aprendi aqui na escola São Domingos, estudei até o terceiro livro em letra gótica, eu sei ler ainda, quando se soletrava letra por letra". Ele possui um significativo número de fotos que retratam várias gerações de sua família e de famílias da localidade onde reside e uma considerável coleção de documentos – inventários, passaportes, mapas territoriais, entre outros –, além de vários objetos que remetem a práticas socioculturais vivenciadas por ele, demonstrando grande preocupação em salvaguardar a história familiar e local. Bosi, retomando Halbwachs, refere-se à função social do "indivíduo que lembra":

Há um momento em que o homem maduro deixa de ser um membro ativo da sociedade, deixa de ser um propulsor da vida presente do seu grupo: neste momento de velhice social resta-lhe, no entanto, uma função própria: a de lembrar. A de ser a memória da família, do grupo, da instituição, da sociedade. (BOSI, 1994, p. 63)

Antonio ocupa-se atualmente de desempenhar esse papel social de lembrar, de guardar objetos e documentos históricos, de se voltar ao passado a partir da leitura, motivado em "apreender o passado". Assim, a análise de seu acervo e de seus depoimentos converge; suas preferências de leitura estão voltadas especialmente a assuntos que lhe permitem reviver acontecimentos e reconstruir suas memórias.

No caso de Ismael, que afirmava, sempre que se referia à sua condição de leitor, ser "um quase analfabeto", a leitura e a escrita ocupam grande parte do seu tempo atualmente. Ele não frequentou a escola formal e diz, com certa tristeza, não saber o que significa ir à escola, lamentando não ter entre seus documentos nenhum boletim escolar. Devido à ausência de escolas no seu local de moradia, ele foi alfabetizado por uma professora leiga (sem formação pedagógica para o exercício da profissão), que durante um ano morou na casa de seus pais com o objetivo de alfabetizar as crianças da vizinhança. Seu acervo, organizado após a aposentadoria, é composto por 17 obras, conforme o Quadro 4.


Ismael afirma que as leituras de sua preferência são aquelas –relacionadas a temas históricos; entre os livros predominam assuntos referentes à história do Rio Grande do Sul e de municípios da sua região. Os livros didáticos de história também são bastante utilizados por Ismael para suas leitura e escritas, pois através deles faz anotações e escreve resumos sobre diferentes assuntos. Mas fica evidente que ele leu mais do que os 17 livros que possui; seu conhecimento sobre os acontecimentos históricos e geográficos confirmam sua condição de leitor assíduo. Como diz Chartier (2000, p. 159), "debemos recordar que hay otros accesos al libro además de la posesión privada; que los textos impresos no son todos libros leídos en el espacio privado". Além dos livros, Ismael possui uma série de documentos e fotocópias de textos de obras que lhe foram emprestadas por algum tempo.

Os livros de seu acervo, em grande parte, têm dedicatória, sobretudo os que lhe foram presenteados pelas filhas, netos, amigos e demais pessoas da família. Os presentes recebidos certamente expressam o que simbolicamente Ismael representa para as pessoas que convivem com ele. Isso pode ser percebido observando-se as temáticas dos livros que ganha, que não variam substancialmente. Apesar do gosto de Ismael pela leitura, notou-se que ele não tem o hábito de comprar livros nem de assinar jornais ou revistas. Ao relatar que há algum tempo falou às filhas sobre seu desejo de ter um Atlas atualizado, deixou transparecer sua impossibilidade de comprá-lo por conta própria. Esse fato pode ser atribuído, mesmo com ressalvas, à ausência de livrarias na zona urbana do município onde reside e à distância de um centro urbano maior. Entretanto, deve-se considerar a existência de uma biblioteca pública a algumas quadras da casa de Ismael, local que jamais foi visitado por ele. Quando questionado sobre suas possíveis visitas à biblioteca pública, respondeu: "Não, não, eu sou um velho quase analfabeto!". Compreende-se com isso que sua condição de cidadão não escolarizado faz com que não se sinta capaz para frequentar certos espaços próprios da cultura letrada, o que provavelmente também justifica o fato de Ismael não comprar seus próprios livros.

Tecla, por sua vez, frequentou a escola até o quinto ano do primário, tendo convivido desde a infância com livros, revistas e jornais presentes na casa paterna. Atualmente, organiza seu acervo particular em três grupos distintos: os livros que pertenceram ao seu pai, os de sua irmã e os seus próprios. O conjunto de livros que eram de seu pai é composto por 25 obras, todas em língua alemã, e, segundo Tecla, "são de literatura, religião e até de histórias infantis tem, alguns em letra gótica". O acervo que pertenceu à irmã consiste de 12 títulos, todos da esfera literária. Entre os que foram adquiridos por Tecla, existem diferentes esferas de circulação social, contudo, também predomina a literária, como mostra o Quadro 5.


As entrevistas realizadas com Tecla revelaram que, após os 50 anos de idade, quando ficou viúva, ela voltou a ler com mais intensidade e assiduidade, como fazia quando morava na casa paterna. Assim, nos últimos anos, teve a possibilidade de adquirir mais livros; 13 obras do seu acervo foram editadas entre 2002 e 2010, indicando, portanto, aquisições mais recentes. Esses livros não foram comprados de maneira convencional, em livrarias, como ela esclarece: "Sabe de onde eu tenho comprado? Do Avon [risos]. Agora ultimamente não tem vindo muito bom, o que vem mais é de autoajuda". Tecla disse que comprar através do Catálogo Avon4 4 A empresa Avon, conhecida por seus cosméticos vendidos de porta em porta, vem se destacando, nos últimos anos, no segmento de venda de livros, atuando em regiões onde o acesso aos livros praticamente não existe por outros meios. (Reportagem Exame "Como a Avon se transformou numa máquina de vender... livros", 21/04/2011). é uma forma de facilitar a compra, pois não precisa se deslocar até a cidade de Pelotas (RS) para adquirir um livro. Além disso, o preço oferecido também motiva a aquisição: "Às vezes são bem baratos os livros do Avon". No município onde ela reside, mesmo no meio urbano não há livrarias, o que dificulta o acesso aos materiais escritos obriga a adotar outras estratégias de aquisição, como é o caso da compra através do Catálogo Avon.

Além dos livros que possui, Tecla lê os que retira na biblioteca do seu município, espaço que passou a frequentar assiduamente após a viuvez: "Depois dos 50 anos que eu comecei a ir na biblioteca, eu sempre tirava alguma coisa." Em todas as entrevistas referiu-se à Biblioteca Municipal5 5 Trata-se da biblioteca de Canguçu (RS), município com cerca de 53 mil habitantes. Conforme informações fornecidas pela bibliotecária, ela está em funcionamento desde o ano de 1945. Atualmente, apresenta um acervo de aproximadamente 12 mil volumes, mantidos e atualizados com verbas municipais e com o auxílio de programas do governo federal. como um lugar de muitas opções de leitura, que teria contribuído significativamente para o seu acesso a diferentes obras. Tecla parece ter encontrado ali um lugar de liberdade, de descobertas, um ponto de encontro com os livros lidos por prazer, por deleite. Para Petit (2008), a razão de ser das bibliotecas é justamente "permitir a cada um o acesso a seus direitos culturais, o acesso a um universo cultural mais amplo" (p. 177).

Além dos livros, Tecla é leitora do jornal Zero Hora e das revistas Veja e Seleções. Segundo ela, essas são leituras atualizadas e indispensáveis: "Nós recebemos o jornal sábado e segunda, na terça vem a revista [Veja] e depois, uma vez por mês, vem a Seleções. E quando chega o jornal eu não deixo, e o que eu mais gosto é do caderno Donna".6 6 Donna é um caderno especial dominical do jornal Zero Hora que trata de temas como beleza, moda, relacionamento, comportamento e saúde. A leitura de jornal, a presença de revistas e livros não é algo novo em sua trajetória. Ela mencionou que na infância presenciava a ansiedade do pai ao aguardar a chegada do jornal impresso e a importância dispensada a esse meio de informação. Tecla herdou não apenas o acervo de livros que pertenceu à sua família, mas também a disposição para a prática da leitura, para a busca do conhecimento e exercício da cidadania. Como afirma Lahire (2005, p. 21), quando a socialização ou a instalação corporal dos hábitos tiver ocorrido de forma precoce, regular e intensa, maior será a probabilidade de se ter uma disposição fortemente interiorizada. O relato de Tecla mostra que ela incorporou na casa paterna um "estoque de disposições", segundo a expressão de Lahire (2002), que, embora tenha ficado em "estado de vigília" durante a vida de casada, encontrou contextos de atualização e de reorganização após a viuvez.

Ondina, a outra participante da pesquisa, é uma leitora da Bíblia ("O meu livro é a Bíblia", diz ela) que compreende a leitura como uma prática de reverência e fé. Sua trajetória foi marcada pela religiosidade da família, pela submissão à sogra após o casamento e pelas duplas jornadas de trabalho, no lar e na lavoura. A leitura intensiva da Bíblia começou após os 60 anos de idade, quando ficou impossibilitada de trabalhar devido a uma doença. Quando questionada sobre a leitura de outros gêneros literários, afirmou: "Não, outro livro não, porque se eu quiser ler outra coisa eu arrumo, mas minha leitura é da Bíblia".

Ondina possui um pequeno acervo de livros, composto por oito obras, todas da esfera religiosa, como livros de oração e de devoções diárias. Todos os volumes foram editados nos anos 2000, o que, segundo seus depoimentos, se justifica pela dificuldade que tinha anteriormente de acesso ao impresso. Mas também se observa que existe uma cultura do não guardar. Ela mesma disse que folhetos recebidos ou adquiridos na igreja com o tempo "eram deixados de lado e se perdiam", revelando o hábito de não guardar ou de não reservar espaço específico na casa para a organização dos materiais escritos, o que parece ainda ocorrer nos dias atuais. Contudo, sua primeira Bíblia foi preservada mesmo depois de ter sido substituída, certamente por ser reconhecida como um livro diferenciado, por vezes não sendo considerado como um livro, mas como objeto sagrado.

A primeira Bíblia que Ondina ganhou em língua portuguesa, visto que na casa paterna havia somente uma Bíblia em língua alemã, foi presente de casamento do pastor que realizou a cerimônia. Em 2007, foi presenteada por sua filha com uma nova Bíblia, editada em 2001 pela Sociedade Bíblica do Brasil, com uma nova tradução atualizada para a linguagem de hoje. Essa é a Bíblia que Ondina lê atualmente e que esteve em suas mãos durante as entrevistas. A primeira Bíblia, que foi lida por quatro vezes integralmente, somente foi mostrada durante a quinta entrevista. Percebeu-se depois que um dos motivos para essa reserva, mesmo diante do pedido para que a mostrasse, era o seu mau estado de conservação. Ela era guardada no fundo de um guarda-roupa, sem capa, com muitas dobras e com folhas amareladas, manchadas e soltas; sua materialidade demonstrava o quanto havia sido manuseada. Como afirma Chartier (1994, p. 8), uma obra não existe fora de sua realidade física. No caso da Bíblia de Ondina, seu uso irrestrito, diário e intensivo se dá a ver no estado de desgaste material de seu suporte.

A prática constante de leitura de Ondina ocorre de duas maneiras: através da leitura integral de todos os livros da Bíblia e da releitura de alguns livros eventualmente. Ela justifica essas duas práticas intensivas de leitura de forma diferente. Quanto à leitura integral de toda a Bíblia, diz que é motivada unicamente pela fé: "porque eu tenho muita fé, então a minha religião é ler a Bíblia. [...] Me traz alegria, eu fico tão feliz. Quando eu estava ruim mesmo, a Bíblia que me levantou". Já em relação à releitura de apenas alguns textos explicou que o propósito é outro: "Eu estou cortando pasto, estou capinando, estou trabalhando na lavora, e fico pensando o que li ontem. [...] Fico pensando como é que foi, como é que é, aí eu tenho que ler de novo". Desse modo, Ondina distingue o ato intensivo de ler motivado pela fé, que se relaciona aos seus sentimentos mais íntimos, da releitura de alguns textos, que ocorre de modo a relembrar ou a buscar um melhor entendimento sobre o que já havia sido lido.

Os acervos particulares dos seis leitores participantes da pesquisa permitem visualizar, no conjunto das obras listadas, o perfil dos entrevistados. As esferas de circulação social mais presentes entre os livros arrolados – histórica, literária, didática e, em especial, religiosa – possibilitam compreender as preferências de leitura. Os assuntos de maior interesse de suas leituras referem-se a aspectos relacionados à origem familiar, a acontecimentos que marcaram suas trajetórias, a fatos que correspondem à história regional ou local. São leituras de temas que permitem, como afirma Petit (2008, p. 78), "pensar a própria vida, com a ajuda de textos de ficção ou de testemunhos que tocam no mais profundo da experiência humana".

Para Lahire (2002), são variados os fatores que produzem as preferências literárias dos leitores. Aspectos profissionais, sociais ou econômicos não agem sozinhos, mas dependem do estoque de "resumos de experiências incorporados" (LAHIRE, 2002, p. 96), ou seja, da gama de situações vivenciadas por cada ator que, somadas, produzem suas experiências sociais.

OS MODOS DE LER NA EXPERIÊNCIA DOS INDIVÍDUOS LEITORES

Conforme Chartier (2001b), na análise dos acervos é preciso compreender a utilização e o consumo que os grupos fazem dos impressos antes de vinculá-los diretamente a determinados grupos sociais. Segundo o autor, é necessário acrescentar ao conhecimento da presença dos livros as maneiras de ler (2001, p. 79). Ao se referir às pesquisas relacionadas à história das práticas de leitura da sociedade do Antigo Regime europeu, ele afirma que "falta às enumerações dos livros impressos ou possuídos uma questão central, a dos usos, dos manuseios, das formas de apropriação dos materiais impressos" (CHARTIER, 2001, p. 78). Assim, é fundamental compreender que o ato de ler produz sentidos plurais e móveis que estão relacionadas às "maneiras de ler, coletivas ou individuais, herdadas ou inovadoras, íntimas ou públicas e de protocolos de leitura depositados no objeto lido, [...] em conformidade com os hábitos de seu tempo" (CHARTIER, 2001, p. 78).

Em uma obra anterior (CHARTIER, 1994), o autor trata das mudanças pelas quais passaram as maneiras de ler ao longo dos anos. Segundo ele, a primeira revolução das práticas de leitura estaria relacionada à modalidade física e corporal do ato de ler "que incide sobre a importância decisiva da passagem de uma leitura necessariamente oralizada, indispensável ao leitor para a compreensão do seu sentido, a uma leitura possivelmente silenciosa e visual" (p. 98). A passagem da leitura oral para a leitura silenciosa teria ocorrido durante a longa Idade Média, tornando-se prática recorrente no século XIV entre a aristocracia leiga. Essa revolução foi sucedida por uma segunda, relativa ao estilo de leitura, situada na segunda metade do século XVIII, na qual a leitura intensiva, limitada a um seleto número de textos, que são lidos e relidos, é alterada por uma prática de leitura extensiva, ávida e veloz, que consome significativo número de impressos.

Contudo, com as revoluções nas maneiras de ler, não houve a substituição de uma prática pela outra, mas a ampliação de uma em relação à outra, como esclarece Chartier (2001, p. 89): "Valeria dizer que esse estilo antigo estava desaparecendo no curso do século XVIII e que existiu somente antes? Sem dúvida que não, seria necessário reinterpretar a oposição entre os dois modos de leitura".

Os leitores analisados revelam, nas narrativas sobre suas práticas, que realizam a leitura de forma silenciosa e extensiva, com exceção de Ondina, a leitora da Bíblia, que lê intensivamente e de forma silenciosa. Para Nei a leitura silenciosa representa agilidade: "Eu leio só com os olhos, tem pessoas que leem baixo pronunciando as palavras, aí fica uma leitura que o sujeito lê um poucadinho por dia". Nenhum deles fez qualquer menção a momentos de leitura coletiva em voz alta, realizada durante reunião familiar que corroborasse a representação da leitura enquanto prática oralizada e coletiva própria dos grupos camponeses, recorrente nos estudos sobre as práticas de leitura na sociedade antiga (CHARTIER, 2001, p. 93).

Mesmo para aqueles que cresceram em famílias em cujos pais tinham o hábito da leitura, como no caso de Tecla e Nei, a leitura não é relembrada como uma prática coletiva e oral. E eles próprios afirmaram nunca terem lido em voz alta para os filhos. Henrique disse ter tido grande preocupação em relação ao ensino da cultura escrita para os seus 12 filhos. Em seus relatos, relembrou várias vezes os momentos em que os filhos eram colocados sentados em volta da mesa para aprender: "Enquanto a mulher fazia a janta, eu lecionava". Mesmo nessas oportunidades Henrique não lia para os filhos, mas apenas lhes ensinava a ler, escrever e fazer as quatro operações. As leituras que realizava ocorriam de forma individual, para a sua própria instrução: "Ali eu bebia do conhecimento para depois ensinar os filhos". Assim, a família apenas presenciava a leitura como um exemplo de instrução a ser seguido, mas como prática silenciosa e individual.

Ondina, ao realizar a leitura da Bíblia, nunca teve por hábito ler em voz alta para o marido, os filhos ou os netos: "Sempre em silêncio, não leio alto, sempre quietinho". No entanto, os ensinamentos bíblicos são transmitidos para a família de forma oral: "Muitas vezes eu explico tudo, mas as crianças não dão muita atenção, eu já expliquei muitas vezes o livro de Jó, como aconteceu, como é que aconteceu, para ele também [marido], mas a leitura é em silêncio".

Para Chartier (2001, p. 84), "essa leitura ouvida não distingue o ler do contar e alimenta-se dos mesmos textos escutados muitas vezes". Sendo assim, pode-se considerar que, no ato de contar as passagens bíblicas a partir da leitura do texto impresso, Ondina estaria realizando não uma leitura oral, mas a oralização da leitura. As maneiras de ler, porém, não se limitam a esses dois grandes modelos; há outros aspectos a serem analisados, como, por exemplo, os protocolos de leitura (CHARTIER, 2001, p. 89). A leitura é, portanto, uma prática que envolve o corpo leitor que interage com o texto, que ocupa um espaço, um horário e exige determinada posição corporal.

Goulemot (2001) fala do rito da leitura, da instituição do corpo que lê. Ao longo dos anos, as práticas de leitura foram desenvolvidas em diferentes posições corporais e mediante alternados suportes técnicos de auxílio a essa prática (vela, lampião, abajur): "Somos um corpo leitor que cansa ou fica sonolento, que boceja, experimenta dores, formigamentos, sofre de cãibras" (2001, p. 109). Os livros também determinam a posição e o lugar da leitura, por exemplo: "Ler em público uma obra de filosofia ou um texto pornográfico é reconhecer, através da provocação, que tais livros constituem por si mesmos o espaço de suas leituras" (p. 109). Dessa forma, para o autor, o comportamento dos leitores é tanto uma imposição quanto uma livre escolha e é dessas atitudes leitoras que os sentidos são constituídos e empregados nos textos lidos.

Os leitores analisados nesta pesquisa também relatam as alterações pelas quais passaram seus modos de ler ao longo dos anos, em especial em relação ao horário destinado à leitura. Henrique, por exemplo, disse que atualmente não tem hora nem local para ler, fazendo dos livros seu principal entretenimento, mas prefere ler durante o dia devido à iluminação, sentado à sombra de uma árvore nos meses de verão. Diferente do tempo em que tinha vida profissional, quando só tinha disponibilidade à noite e costumava ler à mesa, à luz de lampião.

Para Antonio e Ismael, após a aposentadoria, o principal entretenimento são os livros. Em seus relatos, eles não mencionaram um lugar ou posição de preferência para realizar suas leituras; apenas lembraram que durante a vida profissional o período da noite era o que destinavam para esta prática. E se referiram a posturas e lugares que acreditam não serem condizentes com a atitude de um leitor. Por exemplo, ambos declararam que nunca liam sentados na cama. Como afirma Darnton (1995), além das atitudes próprias às gerações, há uma disposição pessoal de cada um em relação à posição adequada à leitura.

Nos depoimentos de Tecla, a figura do pai leitor é sempre lembrada, inclusive em relação à postura corporal que assumia ao ler. Segundo contou, seu pai sentava-se após o trabalho rural, cobria as pernas com uma manta e, assim, deleitava-se com seus livros. Em duas das entrevistas realizadas, Tecla estava sentada com as pernas cobertas por uma manta e em uma dessas ocasiões lembrou: "Assim como estou, com os pés tapados, ele tapava, sentava e ali ele lia". Essa era também uma das posturas preferidas para fazer suas leituras, sentada no sofá com as pernas cobertas por uma manta. Observa-se que os modos de ler presentes na casa paterna foram incorporados e conservados, inclusive no que diz respeito ao horário destinado à leitura. Durante a infância e a adolescência Tecla aprendeu que essa é uma prática a ser realizada quando o dia chega ao fim e as atividades de trabalho foram encerradas. Em relação ao horário destinado à leitura na casa paterna, segundo ela, "era de noite, porque naquele tempo a gente tinha muitas obrigações, não é como hoje." Atualmente, Tecla está aposentada, mora sozinha e há menos afazeres diários. Mesmo assim a leitura é uma prática que continua a ser realizada à noite: "Durante o dia eu faço tricô, crochê, às vezes escuto rádio. Mas sempre leio à noite, e nos domingos de tarde, aí eu sento na cama e leio". Durante o dia fazer tricô e crochê é algo permitido e "bem visto", como uma conduta correta a uma "dona de casa", que se dedica a uma atividade útil.

Michele Petit, ao se referir à prática de leitura de moradores rurais da França, menciona o interdito da leitura enquanto prática do ócio:

Ao ler, a pessoa se entrega a uma atividade cuja "utilidade" não é bem definida. Nossos interlocutores se referiam a essa prescrição secular da seguinte forma: "não se deve perder tempo", "não se deve ficar desocupado", "não se deve ficar sem fazer nada". Eles recordavam essa ética compartilhada que, por muito tempo, foi a garantia da sobrevivência em toda a França rural, fazendo do trabalho o valor mais alto e rejeitando o ócio. (2008, p. 105)

Para além de uma atividade de lazer concebida como ócio e que, portanto, deve ser realizada em momentos específicos, compreende-se que o tempo destinado à leitura é mais restrito, sobretudo no caso das mulheres que se dedicam cotidianamente a tarefas domésticas. Tecla, por exemplo, afirmou que na casa do pai só liam à noite, pois tinham muitas obrigações. No entanto, mesmo estando aposentada atualmente e tendo menos afazeres domésticos, continua não lendo durante o dia, mas somente à noite, exceto nos domingos, dia em que faz suas leituras à tarde. Percebe-se, assim, que há uma relação entre práticas de leitura e gênero. As representações acerca das práticas de leitura de homens e de mulheres podem variar na sociedade, inclusive entre os próprios leitores, a exemplo de Tecla, que revelou ter uma conduta controlada e cuidadosa com sua prática de leitura pelo fato de ser mulher.

O mesmo ocorre no caso de Ondina em relação ao tempo dedicado à leitura. No período em que o trabalho era realizado com seus sogros, os momentos destinados à leitura eram bastante restritos: "Eu lia, mas conforme dava, aos domingos e dia de chuva". O envolvimento cotidiano com as tarefas domésticas e com o trabalho na lavoura foi evidenciado por diversas vezes em seus relatos ao se referir-se à dupla jornada de trabalho da mulher rural. Ondina disse ter tido tempo integral para a leitura somente quando esteve enferma e não podia trabalhar nem na lavoura, nem em casa: "Aquele tempo que eu estava com câncer, eu passava o dia lendo e fazendo o que podia". Depois de curada da doença, mesmo aposentada, voltou a realizar todas as tarefas às quais se dedicava anteriormente, reservando alguns momentos à leitura: "Agora leio domingo de tarde, [...] de noite e nos domingos, porque também não dá, durante o dia eu vou pra lavoura ainda". Assim, sentada em uma cadeira de praia, na cozinha, com a Bíblia sobre as pernas, Ondina desfruta das horas noturnas dedicadas à leitura.

No caso dos quatro leitores homens, com a aposentadoria, o tempo destinado à leitura foi sendo ampliado. Para os que liam especialmente à noite, por ser o momento de descanso do trabalho rural, os horários de leitura se tornaram mais flexíveis, sendo o ato de ler assumido como prática de lazer, realizado a qualquer hora, sem constrangimento. Ao contrário, para as mulheres, que assumem inúmeras responsabilidades domésticas, a aposentadoria parece não ter alterado significativamente suas rotinas, e por isso a leitura continua sendo uma prática noturna. No caso de Tecla e Ondina, a construção social dessa imagem e dessa representação da mulher ligada às tarefas domésticas e ao desempenho constante de atividades consideradas úteis parece resistir à aposentadoria, contribuindo para estabelecer interditos em relação às práticas de leitura entendidas como práticas do ócio.

Observando-se os meios e os modos que envolvem as práticas de leitura dos leitores pesquisados, assim como o comportamento ligado ao seu ato de ler, tem-se a possibilidade de compreender esses indivíduos e as práticas leitoras que caracterizam suas trajetórias. Esses são aspectos externos à leitura que, segundo Darnton (1995), podem responder a perguntas relacionadas a "quem", "onde" e "quando", o que contribui significativamente para responder a questões mais complexas sobre os "como" e os "porquês" da leitura. Lahire (2002), referindo-se à sociologia da leitura, afirma que as análises estiveram sempre muito voltadas ao consumo cultural, e que "o sentido das leituras, ou melhor, as experiências que os leitores vivem com os livros, são questões que os sociólogos praticamente deixaram de lado" (p. 95).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parodiando o Dr. Assis Brasil:

Bem-vindo seja a esta mansão que encerra,

Encerra dura lida e doce calma;

Abriga o arado que lavra a terra,

E o livro que educa a alma. (Nei)

Esses versos de Nei, ditos quando se despediu ao final da primeira entrevista realizada em 2007, são bastante representativos da acolhida, da receptividade e da vontade de "contar" dos seis leitores investigados. Tecla, Nei, Ismael, Antonio, Henrique e Ondina, através de seus depoimentos, deram visibilidade à presença da cultura escrita entre moradores do meio rural, possibilitando que a representação da rarefação destas práticas no contexto rural pudesse ser questionada e problematizada.

As trajetórias individuais revelaram as estratégias de acesso a –livros, revista e jornais, considerando-se especialmente as distâncias –geográficas, características do meio rural. Sendo possível observar a cultura escrita nas práticas de indivíduos inseridos no meio rural, ainda na primeira metade do século XX, mesmo quando a presença da escola era ainda bastante discreta, como relevam os depoimentos. O que ratifica a presença e os usos da cultura escrita é a presença de jornais como principal meio de comunicação neste período. Conforme as narrativas, o jornal era enviado por diversos meios; às vezes, os destinatários recebiam várias edições de uma única vez, o que dificultava, em razão da sequência a ser escolhida, a prática da leitura. Percebe-se, contudo, que o jornal, mesmo chegando com atraso ao meio rural, não deixou de despertar interesse, pelos artigos, crônicas, palavras cruzadas e, até mesmo, pelas "últimas notícias". Assim, o jornal não se limitava à brevidade da notícia datada, que faz da edição do dia anterior uma fonte desatualizada. Na prática de leitura desses leitores o jornal era uma fonte de informação que possibilitava o acesso às notícias, mesmo que fossem da semana anterior.

Para todos eles, frequentar a escola, entre as décadas de 1920 a 1940, significou vencer obstáculos ou criar estratégias em face da distância, da inexistência ou do custo das mensalidades, no caso das escolas paroquiais. As dificuldades de acesso à escola eram muitas e as trajetórias escolares, quando havia escolas nas localidades, não ultrapassavam, em média, cinco anos, durante a primeira metade do século XX. Contudo, o valor atribuído às práticas escolares revela a crença na cultura escrita como algo fundamental para a formação cidadã, o que é observado nos relatos que apontaram para a iniciação dos filhos na cultura escrita antes mesmo do ingresso na escola.

Através da análise dos acervos de livros particulares, classificados a partir das esferas de circulação social e dos depoimentos que foram coletados, identificaram-se os temas de maior interesse dos leitores, que, de modo geral, estão relacionados ao que se caracterizou como esferas históricas, literárias e religiosas. No caso dos leitores homens, eles leem especialmente textos sobre assuntos históricos, mesmo que em alguns casos o texto seja literário e ficcional, mas apresente em seu enredo a história de determinada personalidade ou acontecimento histórico. Nestas leituras históricas, os textos mais lidos são aqueles que se concentram em assuntos que dizem respeito à história familiar, da origem étnica ou regional e local. A propósito das maneiras de ler, é relevante reafirmar que os leitores investigados apresentam práticas de leitura silenciosas e extensivas. Com exceção de Ondina, que lê intensivamente e de forma silenciosa, os demais leitores leem extensivamente, mas também de maneira solitária e em silêncio, o que possibilita agilidade na leitura, segundo relatam.

Constatou-se ainda que o gosto e a sensibilidade literária estão vinculados ao momento do ciclo de vida dos leitores e às experiências sociais que os absorvem no período da leitura, assim como, à pertença sexual destes (LAHIRE, 2002, p. 96). Os seis perfis analisados revelam que os temas de leitura privilegiados são aqueles que fazem trabalhar as experiências sociais, a memória de acontecimentos públicos e privados; são leituras sobre o passado realizadas com os olhos do presente. É relevante, também, salientar que o gosto literário também está relacionado "à pertença sexual", ou seja, a questões de gênero. As leitoras mulheres parecem conceber de modo diferente a experiência que estabelecem com os textos que leem. Tecla, por exemplo, lê especialmente textos literários com o objetivo de adquirir conhecimento sobre outros espaços, outros modos de vida, o que evidencia o sentido prático e utilitário de suas leituras, paralelamente à leitura realizada pela emoção literária, pelo deleite. Os leitores homens dizem não ler literatura, mesmo que alguns textos históricos sejam literários. Também são variadas as estratégias de acesso ao impresso, várias são as redes de socialização estabelecidas para o acesso dos materiais impressos: compra de livros em livrarias, sebos e, até mesmo, através do Catálogo Avon, assinaturas de revistas e jornais; empréstimo entre amigos e em biblioteca pública; recebimento de livros como presente, entre outros. Os leitores demonstraram ainda que têm interlocutores de leitura, pessoas que possibilitam o acesso aos livros e que trocam informações e indicam leituras, motivando e possibilitando novas práticas.

Considerando o que foi apresentado e problematizado, é necessário frisar que o trabalho em escala individual permite visualizar a variação das práticas e preferências em um mesmo grupo social. Ao analisar o perfil destes leitores não se teve por objetivo realizar a generalização das práticas de leitura no meio rural, limitando a análise a um registro cultural único, mas, antes, dar visibilidade às práticas de leitura neste contexto, observando as especificidades, as variações e as ambivalências de cada trajetória social. Assim, pode-se afirmar que a leitura enquanto prática cultural é permeada por experiências sociais que intervêm nos modos e nas apropriações realizadas pelo indivíduo social, sendo uma prática criadora que possibilita a elaboração de uma identidade que ultrapassa os modelos preestabelecidos e que permite a construção de sentidos à própria existência.

Recebido em: MAIO 2012

Aprovado para publicação em: SETEMBRO 2013

Este texto é resultado da tese de doutorado defendida no PPGE/FAE UFPel, sob a orientação da Profa. Eliane Peres, com o titulo: História e Sociologia das Práticas de leitura: a trajetória de seis leitores oriundos do meio rural.

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  • PETIT, Michele. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Editora 34, 2008.
  • 1
    Caracterizam-se como "leitores assíduos" aqueles indivíduos que leem constantemente e intensamente com o intuito de se instruírem ou por prazer de ler.
  • 2
    Optou-se por utilizar apenas o primeiro nome dos atores e não divulgar os locais de residência, de modo a preservar as identidades deles.
  • 3
    O
    Correio do Sul foi um jornal diário, editado em Bagé (RS), que circulou de 1914 a 2008. (Disponível em: <
    O Libertador iniciou suas atividades em 1924, na cidade de Pelotas (RS); era um jornal de oposição, vinculado ao partido Aliança Libertadora, e teve suas atividades encerradas em 1937, quando o Estado Novo aboliu os partidos políticos e decretou o fechamento de vários jornais partidários (LONER, 1998).
  • 4
    A empresa Avon, conhecida por seus cosméticos vendidos de porta em porta, vem se destacando, nos últimos anos, no segmento de venda de livros, atuando em regiões onde o acesso aos livros praticamente não existe por outros meios. (Reportagem
    Exame "Como a Avon se transformou numa máquina de vender... livros", 21/04/2011).
  • 5
    Trata-se da biblioteca de Canguçu (RS), município com cerca de 53 mil habitantes. Conforme informações fornecidas pela bibliotecária, ela está em funcionamento desde o ano de 1945. Atualmente, apresenta um acervo de aproximadamente 12 mil volumes, mantidos e atualizados com verbas municipais e com o auxílio de programas do governo federal.
  • 6
    Donna é um caderno especial dominical do jornal
    Zero Hora que trata de temas como beleza, moda, relacionamento, comportamento e saúde.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Abr 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      Maio 2012
    • Aceito
      Set 2013
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