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O produtivismo na era do "publique, apareça ou pereça": um equilíbrio difícil e necessário

Productivism in the age of the "publish, appear or perish":a difficult and necessary balance

El productivismo en la era del "publique, aparezca o perezca":un equilibrio dificil y necesario

Resumos

Na sociedade da cultura digital, um novo imperativo categórico impõe-se: ser significa ser midiática e eletronicamente percebido. Em conformidade com a lógica dessa nova ontologia, também o produtivismo acadêmico metamorfoseia-se numa espécie de produtivismo midiático e performático, na medida em que os artigos e seus respectivos autores se transformam em logotipos de sucesso quando são mais visualizados no ambiente virtual do que outros. Dado esse cenário e tendo como mediações pesquisas anteriores e revisão bibliográfica, objetiva-se, neste artigo, investigar o modo como a expressão "publique ou pereça" se converte em "publique, apareça ou pereça". Conclui-se que se faz cada vez mais necessário engendrar novas políticas de produção acadêmica, de tal maneira que seus autores reflitam criticamente sobre os conceitos de produtivismo, plágio, autoplágio e redundância no contexto da cultura digital.

Produção Acadêmica; Plágio; Cultura Digital


There is a new categorical imperative in the so-called society of digital culture: to exist means to be perceived in both the media and electronically. According to the logic of this new ontology, academic productivism also becomes a kind of media and performative productivism, insofar as the products and their respective authors develop into successful logos that are most viewed in the virtual environment than in others. In this scenario, and based on previous research and literature reviews, this article aims to investigate how the expression "publish or perish" becomes "publish, appear or perish". We conclude that it becomes increasingly necessary to develop new academic production policies, so that authors can reflect critically on the concepts of productivism, plagiarism, self-plagiarism and redundancy in the digital culture.

Academic Production; Plagiarism; Digital Culture


En la sociedad de la cultura digital, se impone un nuevo imperativo categórico: ser significa ser mediática y electrónicamente percibido. De acuerdo con la lógica de esta nueva ontología, también el productivismo académico se metamorfosea en una especie de productivismo mediático y performático, en la medida que los artículos y sus respectivos autores se transforman en logotipos exitosos cuando son más visualizados que los demás en el ambiente virtual. Ante este escenario y con la mediación de investigaciones anteriores y revisión bibliográfica, el objetivo de este artículo es investigar de qué manera la expresión "publique o perezca" se convierte en "publique, aparezca o perezca". Se concluye que es cada vez más necesario engendrar nuevas políticas de producción académica, de tal manera que sus autores reflexionen críticamente sobre los conceptos de productivismo, plagio, autoplagio y redundancia en el contexto de la cultura digital.

Producción Académica; Plagio; Cultura Digital


Só há algo no mundo pior do que ser falado: é não ser.

(WILDE, 2012WATERS, Lindsay. Inimigos da esperança: publicar, perecer e o eclipse da erudição. São Paulo: Editora Unesp, 2006.)

O publish or perish como "mantra" e os riscos das polarizações

Propositadamente, a partir do título do texto, apontamos uma questão que não é meramente de expressão ou de sua condição de metáfora: o dualismo, a polarização na análise de uma temática, exemplificado aqui no tão decantado publish or perish. Ocorre que, quando essa situação dualista/polar se instaura, o resultado é a anulação, a exclusão/subsunção de uma das partes "litigiantes", dado que, se a condição é "ou", somente uma delas sobreviverá.

Temos ciência de que este não é um assunto novo. A história da humanidade tem sido reiteradamente o palco e reproduzido o roteiro de dualismos e polarizações, com suas consequências. Essas manifestações e as reações daqueles nelas envolvidos sempre estiveram e estão presentes, ora tênues, ora extremadas; ora permitidas, incentivadas, toleradas, ora proibidas; ora proclamadas aos quatro ventos, ora caladas com a força do argumento e, quando este não era/é suficiente, com o argumento da força.

As polarizações são partes constitutivas da civilização ocidental judaico-cristã, amalgamando uma forma de ser/fazer na qual a exclusão - visibilizada na partícula "ou" - está sempre presente. Deus ou diabo, bem ou mal, homem ou mulher, branco ou negro... e, para nosso caso, "publique ou pereça" são exemplares dessas manifestações "civilizatórias" em todas as instâncias sociais e, na particular situação que estamos analisando, na universidade, mais precisamente na pós-graduação - PG - financiada e avaliada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes.

Certamente - e nem é nosso objetivo -, seria ocioso e faltaria espaço para alinhavar argumentos ou exemplificações de como, no campo do sapiens e do faber, da ação e da práxis, os seres humanos, individualmente e nos diversos coletivos que foram e são formados, vieram e continuam defrontando-se com esse modus operandi. Na condição de agentes perpetradores, indiferentes ou vítimas, os homens em relação, ao excluir o conflito, ao deletar a dialética como caminho ou estratégia de construção do novo, geram processos e resultados que, se não são irracionais, também não são construtivos, para não dizer que flertam perigosamente com a "pulsão de morte", se nos remetermos a contribuições de Sigmund Freud (1856-1939).1 1 Ver em Trein e Rodrigues (2011) evidências de como esse processo se manifesta especialmente na PG.

Recuando no tempo, perceberemos que essa tendência ao dual, ao polarizado, ao excludente não é novidade. Na base dessa constatação é que os greco-romanos já afirmavam que in medio stat virtus ou, em outras palavras, em vez de procurar a verdade, a virtude nos extremos, o recomendável seria o equilíbrio, o meio. Nessa recomendação não está a prescrição de que se deva evitar os conflitos, mas que o mais promissor é levar em conta os argumentos das partes ou procurar mediações para aproximar extremos e, mediante a disputatio e as convergências possíveis, imprimir o salto de qualidade.

Atualmente, um dos exemplos mais gritantes dentre tantas polarizações materializa-se na expressão "publique ou pereça", transformada em uma espécie de mantra daquilo que acontece no contexto acadêmico em termos de criação e veiculação do conhecimento, seja por parte daqueles que exigem produção, seja daqueles que são pressionados a publicar, seja ainda dos editores das revistas científicas e de outros envolvidos nesse processo, como é o caso dos pareceristas. Nessa perspectiva, embora em termos de pesquisa a temática seja recente, contamos com uma vasta literatura (CHAUI, 2003CHAUI, Marilena. A universidade pública sob nova perspectiva. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, p. 5-15, set./dez. 2003.; SGUISSARDI; SILVA JR., 2009SCHWARTZMAN, Simon. Depois da tempestade., Folha de S. Paulo São Paulo, p. A-3, 11 mar. 1988. ; BIANCHETTI; MACHADO, 2007, 2009______. "Reféns da produtividade" sobre produção do conhecimento, saúde dos pesquisadores e intensificação do trabalho na pós-graduação In: REUNIÃO ANUAL DA ANPEd, 30., 2007. Trabalhos... Disponível em: <http://30reuniao.anped.org.br/trabalhos/GT09-3503--Res.pdf >. Acesso em: 12 dez. 2014.
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; DUARTE JR., 2010DUARTE JR., João-Francisco. The rotten papers (ou adiós que yo me voy). In: DUARTE Jr., João-Francisco. A montanha e o videogame: escritos sobre educação. Campinas, SP: Papirus, 2010.; MACHADO; BIANCHETTI, 2011; DINIZ, 2013DINIZ, Eduardo. Ética e bom senso contra o produtivismo. Revista de Administração de Empresas, v. 53, n. 4, p. 331-331, 2013. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75902013000400001>. Acesso em: 12 dez. 2014.
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; REGO, 2014QUARTIERO, Elisa; BIANCHETTI, Lucídio (Org.). Educação corporativa. Mundo do trabalho e do conhecimento: aproximações. São Paulo: Cortez , Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2005. ), cujos autores a analisam, sob os mais diversos ângulos, que vão do individual ao institucional, evidenciando as causas, as manifestações e as consequências do predomínio desse particular capitalismo em sua versão "acadêmica"2 2 Ao tratar da quantidade de textos, de financiamentos, de rankings, de classificações, dos artigos como "produtos" (commodities?), do "valor de uso e de troca" de um trabalho científico publicável etc., torna-se inevitável a aproximação entre o sistema capitalista em geral e o "capitalismo" em sua versão acadêmica. (SLAUGHTER; RHOADES, 2004SIKES, Pat. Will the real author come forward? Questions of ethics, plagiarism, theft and collusion in academic research writing. International Journal of Research & Method in Education, v. 32, n. 1, p. 13-24, 2009. Disponível em: <www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/17437270902749247-.VHhyujHF9e8>. Acesso em: 28 nov. 2014.
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; PARASKEVA, 2009PALANGANA, Isilda C.; BIANCHETTI, Lucídio A controvérsia da qualificação no debate sobre trabalho e educação. Perspectiva, Revista do CED/UFSC, Florianópolis, v. 10, n. 18, p. 133-163, ago./dez. 1992.).

Frente a esse quadro que impacta a vida e o trabalho dos envolvidos com a universidade, particularmente aqueles vinculados à PG, bem como os editores de revistas científicas, pretendemos refletir sobre o modo como a expressão "publique ou pereça" se converte em "publique, apareça ou pereça" e, desse modo, encetar dois movimentos complementares. Em um primeiro, faremos um exercício de recuperação de alguns elementos que nos ajudem a entender as origens e a instauração do publish or perish nos campi norte-americanos - e anglo-americanos em geral - e sua irradiação para as universidades brasileiras. Com esse pano de fundo, buscaremos, em um segundo momento, apreender as possíveis positividades e negatividades da base infraestrutural, materializada na tecnologia digital - ocupando o espaço da analógica -, a qual, dependendo de seu uso e objetivos, fornece as condições para a substituição da produção e veiculação de conhecimentos qualificados e quantificados no contexto da "cultura da performatividade",3 3 Remetendo-se a Ball, Moreira (2009, p. 32) afirma: "A performatividade corresponde a uma tecnologia, a uma cultura e a uma forma de regulação que se serve de críticas, comparações e demonstrações como meio de controle, pressões e mudanças. Trata-se de uma luta por visibilidade, que pode ser vista como um verdadeiro 'sistema de terror'". de acordo com expressão de Moreira (2009MING CHIU, Dah; FU, Tom Z. J. Publish or perish in the internet age: a study of publication statistics in computer networking research. Computer Communication Review, v. 40, n. 1, p. 34-43, 2010. Disponível em <www.sigcomm.org/node/2818>. Acesso em: 29 nov. 2014.
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), baseando-se nas contribuições seminais de Ball (2005BALL, Stephan J. Profissionalismo, gerencialismo e performatividade. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 35, n. 126, p. 539-564, 2005.). Justamente a confluência desses dois movimentos suscita as seguintes questões: 1) como pode ser entendida a atual produção acadêmica no contexto da denominada cultura digital?; 2) que tipos de consequências em relação à ética de produção das pesquisas podem ser observadas em decorrência da ubíqua divulgação digital?; 3) como conceber o atual produtivismo acadêmico no cenário espetacular da cultura digital?

Para que questões como essas possam ser respondidas, é preciso, primeiramente, apresentar algumas considerações históricas a respeito das origens do "publique ou pereça".

Alguns apontamentos sobre as origens do publish or perish

Se levarmos em conta as contribuições teórico-empíricas de Adam Smith (1723-1790), Frederich Taylor (1856-1915) e Henry Ford (1863-1947) para o mundo da produção, perceberemos que foi dada uma série de passos, foram implementadas inovações para que, no contexto do modo de produção capitalista, se passasse de uma produção atrelada às condições físico-mentais dos trabalhadores para uma produtividade cujo ritmo passou a ser determinado por fatores ou meios externos ao trabalhador ou a seu aparato psíquico-orgânico, na direção do "progredir ou perecer" (FERRY, 2010FERRY, Luc. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010., p. 261). O paroxismo desse processo, em uma materialização de teorizações e experimentos, é alcançado com a inovação representada pela "esteira rolante" ou "linha de montagem" fordista (PALANGANA; BIANCHETTI, 1992NEGROPONTE, Nícolas. Vida digital. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.). Com esta, definitivamente, os tempos e movimentos dos trabalhadores passaram a ser comandados por mecanismos externos, independentemente das características e peculiaridades de cada trabalhador. Portanto, o produtor é duplamente alienado: do processo e do produto de seu trabalho. E caso ele não consiga alcançar os índices de produtividade previamente estabelecidos, o perish se materializa na perspectiva metafórica ou material, respectivamente via perda do emprego ou perecendo mesmo, em consequência das condições de (sobre)trabalho.

Estamos alertas no sentido de que não podemos transpor linearmente o contexto do mundo da produção ao da educação. Não podemos deixar, contudo, de remeter à emergência do publish or perish na universidade em um contexto industrial/empresarial em que esse modus operandi havia sido forçosamente naturalizado. Seja por esse quadro de fundo cristalizado no mundo da produção, seja pela cada vez mais fluida relação entre universidade e empresa (QUARTIERO; BIANCHETTI, 2005PAULA, Maria de Fátima de. O processo de modernização da universidade: casos USP e UFRJ., Tempo Social São Paulo, v. 12, n. 2, p. 189-202, nov. 2000. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702000000200013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 17 dez. 2014.
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), seja pela competição entre e intrainstitucional, seja ainda pela concorrência imposta em função dos rankings - com recompensas e punições -, fica mais fácil de compreender, embora difícil de aceitar, como e por que o publish or perish adentra a academia. Nesse novo locus, passará a ser sinônimo de pressão sobre os professores e pós-graduandos, em particular, para que escrevam/publiquem mais, como pré-condição para manter-se ou progredir na carreira. Enfim, passa-se a exigir mais produtividade com tanta pressão que, gradativamente, essa ganha o epíteto de "produtivismo", denominação com características negativas de um processo no qual a tendência é a quantidade subsumir a qualidade.

As origens anglo-saxãs, particularmente norte-americanas, do publish or perish

A expressão publish or perish aparece pela primeira vez no contexto industrial-empresarial e depois acadêmico, nas décadas de 1930 e 1940. É difícil precisar a gênese exata de tal expressão no campo acadêmico; contudo, atualmente prevalece a versão de que tal origem se encontra na obra The academic man: a study in the sociology of a profession , do sociólogo americano Logan Wilson, publicada em 1942WILDE, Oscar. The picture of Dorian Gray. London: Penguin Books, 2012.. É interessante destacar o modo como o sentido irônico original do publish or perish foi sendo gradativamente substituído pela imposição contundente da publicação como forma de sobrevivência e, portanto, de permanência do pesquisador na esfera acadêmica (RICHARDS; WASSERMAN, 2013REGO, Teresa C. Produtivismo, pesquisa e comunicação científica: entre o veneno e o remédio. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 40, n. 2, p. 325-346, abr./jun. 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1517-97022014061843>. Acesso em: 10 dez. 2014.
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; GARFIELD, 1996GARFIELD, Eugene. What is the primordial reference for the frase publish or perish? The Scientist, v. 10, n. 12, p. 11, 1996. Disponível em: <www.the-scientist.com/?articles.view/articleNo/17944/title/What-Is-The-Primordial-Reference-For-The-Phrase--Publish-Or-Perish--/>. Acesso em: 21 dez. 2014.
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). Se a respeito das origens da expressão as fontes de ordem cronológica e analítica são pouco precisas, o mesmo não se pode dizer das fontes e críticas ao caráter hegemônico que as induções e exigências por produção/produtivismo e performatividade vão assumindo na academia, em especial na PG. Atemo-nos apenas a dois autores, uma vez que suas corrosivas críticas são modelares ao analisarem as consequências do publish or perish nos campi norte-americanos. Referimo-nos a Jacoby (1990, 2001JACOBY, Russel. O fim da utopia: política e cultura na era da apatia. Rio de Janeiro: Record, 2001.) e Waters (2006VAN DALEN, Hendrik P.; HENKENS, Kène. Intended and unintended consequences of a publish-or-perish culture: a worldwire survey. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v. 63, n. 7, p. 1282-1293, 2012. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1983205>. Acesso em: 25 nov. 2014.
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).

A opção por esses dois está relacionada a seus espaços de atuação e, portanto, a seus privilegiados ângulos de análise. Enquanto o primeiro é/foi professor em diversas universidades norte-americanas e aborda, portanto, aquilo que observa entre estudantes e colegas, o segundo, em sua condição de editor4 4 Diz o autor: "Falo do ponto de vista privilegiado de um editor sem fins lucrativos dentro da academia, que procura apenas cobrir os custos e, ao mesmo tempo, preservar a dignidade do pensamento e dos livros" (WATERS, 2006, p. 10). da prestigiosa Harvard University Press, manifesta suas preocupações, particularmente com a redução do número de livros escritos/publicados, em especial nas humanidades, em favor dos artigos. O interessante é que Chaui (2003CHAUI, Marilena. A universidade pública sob nova perspectiva. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, p. 5-15, set./dez. 2003.), três anos antes da publicação do livro de Waters, alertava para o fato de que os acadêmicos estavam abandonando a publicação de livros em favor de papers. E é compreensível que isso venha ocorrendo, uma vez que o critério que acaba prevalecendo é a contagem dos "produtos" e não a análise da qualidade das obras. Duarte JrDUARTE JR., João-Francisco. The rotten papers (ou adiós que yo me voy). In: DUARTE Jr., João-Francisco. A montanha e o videogame: escritos sobre educação. Campinas, SP: Papirus, 2010.. (2010), em alusão aos "papéis podres", que levaram ao desencadeamento da crise que atingiu os Estados Unidos e a União Europeia, com repercussões em todo o mundo, a partir de 2008, é mais radical: publicam-se predominantemente rotten papers. Leite (2015LASCH, Christopher. The culture of narcissism: american life in an age of diminishing expectations. New York: W.W. Norton & Company, 1979.), por sua vez, refere-se a "lixo acadêmico", ao constatar que está havendo uma percepção, na universidade, em relação ao declínio da qualidade da produção científica atual.

Não vamos estender-nos aqui resenhando as obras de JacobyJACOBY, Russel. O fim da utopia: política e cultura na era da apatia. Rio de Janeiro: Record, 2001. e WatersWATERS, Lindsay. Inimigos da esperança: publicar, perecer e o eclipse da erudição. São Paulo: Editora Unesp, 2006.. O ideal é que sejam lidas e que cada um possa olhar pelo olho desses críticos e, ao mesmo tempo, possa fazer uma análise de sua própria práxis na universidade. De Jacoby cabe destacar o quanto ele percebe, critica e acaba por ver poucas saídas para a reconstrução da universidade em outro patamar, que ultrapasse a mediocridade a que se chegou ao submeter-se a esse american way of doing science.5 5 As características negativas a que nos referimos aqui não são apreendidas uniformemente. Para determinadas áreas, a preocupação com resultados ou o predomínio de uma perspectiva pragmática e utilitária são visualizados exclusivamente em sua positividade e, portanto, apontados como paradigma. O título dos dois livros referenciados dão a dimensão do quanto foi e é perniciosa à pesquisa, à ciência, à universidade, enfim, à práxis, a forma hegemônica como o publish or perish se incrustrou nos campi. As denúncias contidas n'Os últimos intelectuais e n'O fim da utopia (JACOBY, 1990, 2001JACOBY, Russel. O fim da utopia: política e cultura na era da apatia. Rio de Janeiro: Record, 2001.) são de tal monta que demandam uma leitura urgente, seja para entendermos um pouco da origem dos problemas que nos afligem, seja para olharmo-nos em um "espelho" que torne mais transparente o que somos e fazemos e, assim, pelo conhecimento, termos a opção de não "perecer". Desconexão com a esfera pública, constrição das "ágoras" de socialização dos processos e resultados das investigações, plágio, autoplágio, redundância,6 6 Segundo Moreira (2009, p. 31), com eventos repetindo-se de forma exaustiva, certas tendências parecem delinear-se: "a repetição de ideias nem sempre bem-digeridas; o uso frequente do mecanismo de 'recortar e colar'; a apresentação da mesma temática [...]; ou, então, o desenvolvimento de uma inacreditável capacidade de se 'falar sobre tudo'". preocupação com rankings, competição, pressão, desânimo, fastio, apatia etc. são alguns dos aspectos que tornam a leitura dessas obras impostergável. O autor, após afirmar que o "enfado" se transformou em um "espectro (que) ronda as universidades americanas", atingindo particularmente os docentes, ressalta: "Uma geração de professores entrou nas universidades em meados e no final da década de 1960, quando os campi explodiam de tanta energia; hoje esses professores estão visivelmente entediados, se não desmoralizados" (JACOBY, 1990JACOBY, Russel. O fim da utopia: política e cultura na era da apatia. Rio de Janeiro: Record, 2001., p. 13).

De Waters cabe destacar a denúncia de que há um processo de mercantilização atravessando o espaço acadêmico, com os administradores, os contabilistas ganhando cada vez mais espaço. Ou, conforme suas palavras: "O grupo dos MBAs está no comando" (2006, p. 23). Nessa nova ambiência, "as publicações acadêmicas se tornam tarefas em série, como as peças que rolam pelas esteiras de uma linha de montagem. A produção é ofuscada, do mesmo modo que a recepção de tais produtos" (WATERS, 2006VAN DALEN, Hendrik P.; HENKENS, Kène. Intended and unintended consequences of a publish-or-perish culture: a worldwire survey. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v. 63, n. 7, p. 1282-1293, 2012. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1983205>. Acesso em: 25 nov. 2014.
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, p. 42). Em síntese, a prevalecer tal situação, jogando com palavras que compõem o título da obra, a esperança conta com muitos inimigos e a erudição será crescentemente eclipsada caso persista a exigência de publicar pelo critério da administração e da contabilidade.

Para concluir este item, não podemos deixar de mencionar outra consequência daquilo que predomina hoje na academia, com base na obra de outro editor, Germano (2008GARFIELD, Eugene. What is the primordial reference for the frase publish or perish? The Scientist, v. 10, n. 12, p. 11, 1996. Disponível em: <www.the-scientist.com/?articles.view/articleNo/17944/title/What-Is-The-Primordial-Reference-For-The-Phrase--Publish-Or-Perish--/>. Acesso em: 21 dez. 2014.
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), este da Columbia University Press. Depois de 40 anos na função, enfadado de tanto ler dissertações e teses, submetidas à publicação por seus autores, e para "facilitar" a vida/trabalho dos pós-graduandos, Germano publica uma obra que, sem deixarmos de reconhecer sua validade e qualidade, pode ser considerada um livro de autoajuda para mestrandos e doutorandos. O autor dedica-se com afinco, qualificação e bom humor a prescrever como estes deveriam elaborar suas dissertações e teses, não as vendo como um ponto de chegada, mas de tal forma que já possam ser publicadas imediatamente depois do processo de defesa. O título do livro é revelador: From dissertation to book. Ao ser traduzido para o espanhol, recebeu o significativo título Cómo transformar tu tesis en libro.

O publish or perish adentra a universidade brasileira

Embora a Capes tenha sido criada em 1951, é somente em 1965, a partir da edição do Parecer n. 977/65, que os cursos de PG stricto sensu são regulamentados, em consonância com o previsto no artigo 69 da LDB n. 4024, de 1961. O ano de 1965 marca também a criação do primeiro curso de PG em Educação, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CURY, 2005CURY, Carlos Roberto J. Quadragésimo ano do Parecer CFE n. 977/65., Revista Brasileira de Educação Rio de Janeiro, n. 30, p. 7-22, set./dez. 2005.).

A análise desse parecer evidencia alguns aspectos interessantes para nossa reflexão. Da criação da Capes até meados da década de 1990, a preocupação expressa, especialmente por Anísio Teixeira (1900-1971), era no sentido de que, por meio da PG, se objetivava a formação de professores visando à necessária reconstrução da universidade brasileira (MENDONÇA, 2003MACHADO, Ana Maria N.;. BIANCHETTI, Lucídio (Des)fetichização do produtivismo acadêmico: desafios para o trabalhador-pesquisador., Revista de Administração de Empresas v. 51, n. 3, p. 244-254, 2011. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75902011000300005>. Acesso em: 11 dez. 2014.
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), uma vez que esta continuava na dependência da atuação de professores improvisados. No parecer está expresso:

Em nosso entender um programa eficiente de estudos pós-graduados é condição básica para se conferir à nossa universidade caráter verdadeiramente universitário, para que deixe de ser instituição apenas formadora de profissionais e se tansforme em centro criador de ciência e de cultura. Acrescente-se, ainda, que o funcionamento regular dos cursos de pós-graduação constitui imperativo da formação do professor universitário. (CFE, 1965, p. 165, destaque nosso)

Um segundo aspecto a destacar diz respeito ao reconhecimento explícito, no parecer, de que o modelo de PG implantado no Brasil se espelharia no exemplo do sistema de PG em vigência nos Estados Unidos. Embora tendo presente a influência germânica na organização deste, o parecerista justifica que o modelo seria o norte-americano, reforçando que, "sendo, ainda, incipiente a nossa experiência em matéria de pós-graduação, teremos de recorrer inevitavelmente a modelos estrangeiros para criar nosso próprio sistema" (CFE, 1965, p. 166). Dessa forma, toda a organização, estrutura, funcionamento etc. da PG brasileira nascem com a marca do sistema norte-americano,7 7 A respeito de outras influências na organização e no funcionamento da PG brasileira, ver Lüdke (2005). congruente com o início do período de exceção no Brasil e com a hoje sobejamente reconhecida influência dos Estados Unidos em todos os setores da sociedade brasileira. E as leituras sobre a história da educação e da PG brasileiras, desse momento histórico, evidenciam o quanto isso ocorreu, de forma explícita, como é o caso da forte influência e poder exercidos pelo consultor Rudolph Atcon durante o regime militar, a ponto de ter desempenhado por um longo período a função de secretário do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras - Crub - (FÁVERO, 1991FÁVERO, Maria de Lourdes. Da universidade modernizada à universidade disciplinada: Atcon e Meira Mattos. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.).

O que impressiona na leitura do parecer é a pouca ou inexistente referência à questão da orientação e autoria, seja de teses, de dissertações, de artigos, de publicações, enfim. É evidente que, se o objetivo é a formação de professores, questões relacionadas à produção e veiculação do conhecimento ficam secundadas. Veja-se, a título de exemplo, uma das manifestações do parecerista, que aborda a inserção do aluno na PG:

O programa de estudo comportará duas fases. A primeira compreende principalmente a frequência às aulas, seminários culminando com um exame geral que verifique o aproveitamento e a capacidade do candidato. No segundo período o aluno se dedicará mais à investigação de um tópico especial da matéria de opção, preparando a dissertação ou tese que exprimirá o resultado de suas pesquisas. (CFE, 1965, p. 171)

Se o Parecer n. 977/65 pode ser considerado um dos fatores primevos de influência ou de "preparação do terreno" para que o publish or perish se tenha entranhado na universidade brasileira, em virtude da reconhecida influência norte-americana na organização e implementação de nossa PG, pensamos que esta é ainda uma influência bastante difusa ou pouco perceptível. Porém, certamente na implementação da PG podemos detectar tênues sinais de uma cultura que emergeria com uma violência e um poder disseminador sem precedentes na década de 1980, particularmente com o episódio que passou para a história da universidade brasileira como a "Lista dos improdutivos da USP".8 8 Para uma detalhada descrição e análise da "lista", consultar o texto de Paula (2000). Essa lista foi elaborada pela reitoria e dela constava uma relação de professores/pesquisadores dos quadros da instituição que, segundo os autores do documento, não haviam publicado nenhum artigo ou trabalho científico nos anos de 1985 e 1986.

A forma como o documento veio a público gerou um impacto muito grande - paradigmático, pode-se afirmar (BIANCHETTI; ZUIN, 2012BIANCHETTI, Lucídio; ZUIN, Antonio A. S. O intelectual universitário e seu trabalho em tempos de "pesquisa administrada". Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 28, n. 3, p. 55-75, set. 2012.) - exatamente por desnudar um aspecto considerado improvável, dado que se tratava da mais conceituada universidade do país: a improdutividade de parte expressiva do corpo docente. A polêmica, com seu caráter midiático, disseminou-se, com argumentos de todos os calibres e tonalidades, com cobranças e justificativas de todos os matizes, na direção daquilo que apontamos e criticamos no início deste texto: a polarização, o dualismo, o confronto, cujo resultado é conhecido antecipadamente, isto é, cada contendor não abre mão de seus argumentos, não convence e não se deixa convencer. No caso específico, a alcunha de "improdutivos" foi colada como uma etiqueta, um rótulo desqualificador, com mais forte aderência àqueles que atuavam nas humanidades (CHAUI, 1989CHAUI, Marilena. A universidade pública sob nova perspectiva. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, p. 5-15, set./dez. 2003.).

Além do artigo de Paula (2000PARASKEVA, João M. (Org.). Capitalismo académico. Mangualde, Portugal: Pedago, 2009.), que faz um estudo comparativo a respeito dos processos racionalizadores no interior da Universidade de São Paulo - USP - e da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ -, nos anos de 1970, 1980 e 1990, dando destaque à questão da produtividade, na especificidade do caso dos "improdutivos" da USP, apontamos dois textos que podem ser considerados representativos das manifestações e polêmicas pós-publicação da "lista". Optamos pelos textos de dois acadêmicos, de origens diversas - um artigo jornalístico e outro, resultante de uma conferência - publicados em meios diferentes, nos quais, mesmo que identifiquemos algum ponto de aproximação, se evidenciam posicionamentos divergentes a respeito do mesmo fato.

Em um texto de vulgarização e análise das manifestações sobre o episódio publicado em jornal, Schwartzman (1988RICHARDS, Ian; WASSERMAN, Herman. The heart of the matter: journal editors and journals. Journalism: theory, practice and criticism, v. 14, n. 6, p. 823-836, 2013. Disponível em: <http://jou.sagepub.com/content/14/6/823.refs>. Acesso em: 21 dez. 2014.
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) afirma que a um leitor desavisado "a tormenta" provocada pela publicação da "lista" pode passar a "impressão de que a Universidade está prestes a naufragar". Sua posição, contudo, é a de que ocorreu exatamente o contrário, pois somente uma universidade da estatura da USP poderia "dar-se ao luxo" de ter essa crise. Ao veicular que em torno de 75% dos docentes são "produtivos", a divulgação da "lista" acabou evidenciando o quanto a USP se diferenciava das outras universidades. O autor, no artigo, foca três aspectos: a divulgação da "lista", as "repercussões" e as "reações". Quanto ao primeiro, destaca:

O usual, no Brasil como em qualquer outra parte do mundo, em instituições de ensino voltadas para o ensino de graduação, é que seus professores se dediquem primordialmente às atividades de ensino, e não participem da síndrome do "publish or perish" que emana das grandes e mais famosas "research universities" norte-americanas. A reforma universitária de 1968, ao postular a indissolubilidade do ensino e da pesquisa em todo o sistema de ensino superior no Brasil, criou para nossas instituições de ensino uma exigência muitas vezes impossível de ser atendida e que levou a muitas deformações. (SCHWARTZMAN, 1988, p. A-3)

No tocante às "repercussões", aponta a importância de a imprensa pautar a discussão de um assunto que, em princípio, deveria ser considerado de caráter interno à instituição de ensino superior - IES. A divulgação evidenciou, assim, o caráter de conexão da USP com a sociedade. No que diz respeito às "reações", considera que:

Todos condenaram, como não poderia deixar de ser, a publicação da "lista", e quase todos clamaram por processos adequados de avaliação. Existe muita divergência quanto ao que deveria ser isto, mas o simples fato de que todos concordem que a universidade necessita ser avaliada, que os professores devem, de alguma forma, prestar contas à sociedade dos trabalhos que realizam, que os princípios do mérito e da competência devem prevalecer, já coloca o debate em um patamar muito acima do que em outros lugares onde esta discussão ainda nem chegou, e a responsabilidade de tudo que é ruim é atribuída "aos outros" (o governo, a oposição, a imprensa, os tecnocratas, o imperialismo, os infiltrados). Este debate revela que na USP ainda predomina uma ética do desempenho e da responsabilidade social, e isto, de novo, não é nada desprezível em instituições públicas do Brasil de hoje. (SCHWARTZMAN, 1988, p. A-3)

Essa apreciação, de viés positivo à publicação da "lista", por parte do autor, até por estar limitada pelo próprio espaço de um artigo de jornal, contrasta com a análise de Paula (2000PARASKEVA, João M. (Org.). Capitalismo académico. Mangualde, Portugal: Pedago, 2009.). De outra parte, temos o texto de Chaui (1989), que amplia aspectos da análise de Paula e apresenta outros não convergentes com os de Schwartzman (1988RICHARDS, Ian; WASSERMAN, Herman. The heart of the matter: journal editors and journals. Journalism: theory, practice and criticism, v. 14, n. 6, p. 823-836, 2013. Disponível em: <http://jou.sagepub.com/content/14/6/823.refs>. Acesso em: 21 dez. 2014.
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), em especial ao tratar da "produtividade e humanidades", no episódio particular da "lista" e no geral da universidade.

Chaui (1989) inicia sua análise constatando que há uma convergência em relação ao fato de que predomina a posição de não satisfação geral da sociedade com a universidade. Porém afirma que "as insatisfações não são as mesmas para todos", destacando que, para cada segmento, as queixas dirigidas à IES são diversas, pois sendo a sociedade composta de classes, necessariamente as demandas são diferentes, quando não antagônicas, especialmente nas propostas de "modernização" para uns e de "democratização" para outros.

Ao acercar-se da polêmica dos "improdutivos", assim relaciona as duas propostas, refinando a análise ao referir-se à situação dos professores das humanidades:9 9 A autora, começando com a questão: "O que seria a produtividade nas humanidades?", alinhava uma série de outras que detalham esta, para finalmente concluir: "Se a universidade for um super-mercado, então, teremos uma resposta para os critérios de produtividade" (CHAUI, 1989, p. 12).

A diferença entre elas passa pelos remédios que receitam e é na hora da receita que as primeiras introduzem as palavras produção e produtividade. Ao fazê-lo, imputam às demais propostas seu antônimo, isto é, a improdutividade. É difícil, num campo assim balizado, criticar essas noções, pois estão conotadas positivamente e seus críticos já têm meia batalha perdida. Prova disso foi o episódio do "listão de improdutivos": respondemos provando que éramos produtivos, aceitando as regras do jogo porque os interlocutores, no caso, a classe média leitora de jornais e cujos filhos são nossos estudantes, já haviam assumido a suposta verdade da produtividade. (CHAUI, 1989, p. 11)

Ao referir-se a um desinteresse de quem "mede" e "avalia" e como isto é entendido pelos universitários, a autora ressalta:

Em particular, merece atenção, o deslizamento da noção controvertida de produção para a de produtividade e a identificação entre esta última e a quantidade de publicações, deslizamento incompreensível quando se leva em conta a multiplicidade de atividades que os universitários realizam e das quais a publicação é a menos apta à medida, uma vez que os autores estão sujeitos ou às decisões do mercado editorial ou às dificuldades e lentidão das editoras universitárias. (CHAUI, 1989, p. 4, destaque da autora)

E assim poderíamos ir avançando no aprofundamento das discussões e alinhavando episódios ou decisões pontuais, que no conjunto contribuem para apreendermos como e o que esteve na gênese e no processo do adentrar do publish or perish na universidade brasileira, particularmente na PG. Porém, tanto pelo espaço quanto pelo escopo do texto, procuramos apenas estabelecer alguns antecedentes para compreender como chegamos a meados da década de 1990, com o "mapa" desenhado e o "território" preparado para a implementação de medidas que se tornariam uma espécie de divisor de águas na história da PG brasileira: a implementação de um "tempo médio de titulação" - TMT - que impôs uma mudança de cultura nos campi e demarcou uma redução drástica no prazo de conclusão do mestrado e do doutorado - dois e quatro anos, respectivamente -; a supremacia de uma "avaliação" dos programas de PG, caracterizada pela mensuração ou quantificação de "produtos" etc. Enfim, quando a avaliação feita pela Capes10 10 A avaliação foi concebida e é executada sob o signo da heteronomia, com ônus e bônus aos Programas, dependendo dos resultados. Outra estratégia atenuante de uma avaliação assim levada a termo é o fato de ser executada pelos "pares", aspecto frequentemente ressaltado para diminuir resistências ou torná-la mais "palatável". - acoplada ao fomento - assumiu a forma que apresenta atualmente, a partir de meados da década de 1990, aquilo que foi implementado ou metaforicamente falando, aquilo que foi semeado, foi feito em "terreno" preparado e fértil, garantindo os "frutos" que conhecemos hoje, sintetizados na expressão "produtivismo acadêmico", em todas suas consequências, seja para a ciência, seja para os envolvidos com a PG, em sua subjetividade e em sua condição de sujeitos de um coletivo.

A pressão sobre estes é tanta que autores utilizam expressões como se indivíduos e coletivos fossem "reféns da produtividade" (BIANCHETTI; MACHADO, 2007______. "Reféns da produtividade" sobre produção do conhecimento, saúde dos pesquisadores e intensificação do trabalho na pós-graduação In: REUNIÃO ANUAL DA ANPEd, 30., 2007. Trabalhos... Disponível em: <http://30reuniao.anped.org.br/trabalhos/GT09-3503--Res.pdf >. Acesso em: 12 dez. 2014.
http://30reuniao.anped.org.br/trabalhos/...
). O enfrentamento dessa condição, que deixa pouca margem de manobra ou poder de barganha por parte dos envolvidos com a PG, materializa-se de duas formas. Uma de caráter mais subjetivo e outra de cunho objetivo.

Quanto à primeira, estamos fazendo referência aos chistes, às piadas, às metáforas etc. que são criadas e repetidas à exaustão na universidade como estratégia ou válvula de escape para lidar diuturnamente com a pressão a que são submetidos, em especial, pesquisadores e pós-graduandos. Alguns exemplos evidenciam o afirmado: "lattes, mas não mordes"; "Lattes, Lattes meu, existe alguém mais produtivo do que eu"; "artigos passados não movem o lattes". E, naquilo que mais se aproxima da perspectiva da performatividade, relaciona-se a plataforma Lattes com a revista Caras, ao afirmar-se que o "Lattes é a Carasda Academia". Ora, temos presente o efeito catártico dessas manifestações, mas não perdemos de vista o quanto, por esse caminho, naturaliza-se algo que é social e historicamente construído. Em termos de literatura, ao manifestarem-se sobre a pressão a que estão submetidos os pesquisadores, Fernández Liria e Serrano García (2009, p. 14) afirmam: "Eso provocó que, para salvar su puesto o su sueldo, los profesores comenzaran a trabajar más en el marketing de su currículo que en sus clases y en sus investigaciones" (destaque nosso).

A segunda forma materializa-se naquilo que se convencionou sintetizar na expressão "produtivismo acadêmico", em cujo leque estão incluídos a quantidade de publicações, a pressão para publicar, os meios para tal e as estratégias lícitas, e outras nem tanto, para a "produção" ser veiculada. A seguir, voltaremos nossas atenções para o modo como o marketing de tais publicações se amalgama com o produtivismo acadêmico, cuja síntese encontra-se na expressão "publique, apareça ou pereça".

Publique, apareça ou pereça: produtivismo midiático como condição de sobrevivência

Uma simples busca no Google da expressão publish or perish aponta mais de 560 mil resultados. Se a expressão for antecedida por origins of, aparecem mais de 470 mil indicações. E, por mais estranho que pareça, apondo-se on academy, o montante, ao invés de diminuir, em virtude de uma variável a mais, sobe para mais de 480 mil resultados, possivelmente significando a maior aderência à universidade quando se fala de produtivismo. Por mais simplista que seja essa consulta, os dados impressionam. Porém, não é nosso objetivo fazer uma análise desses quantitativos, até porque esses resultados, caso fossem criteriosamente depurados nas manifestações que dizem diretamente respeito ao publish or perish - já transformado em mantra como estratégia para fustigar os envolvidos na produção e veiculação do conhecimento, bem como indicador de produtividade, fator de impacto etc. -, certamente revelariam um leque de outras nuances e dados quantitativos. O que nos levou a essa primeira busca foi, de um lado, a procura de um marco temporal para a expressão - e da materialidade que lhe deu origem - e, de outro, a necessidade de explicitar que esse quantum, em suas diversas manifestações, somente pode conhecer essa materialidade a partir da virtualidade, passível de realização com as tecnologias digitais. Ou dizendo de outra forma: foi a criação e implementação de uma poderosa - em termos quantitativos e qualitativos - base infraestrutural disponibilizada pela digitalização de bens, meios e processos (hardwares e softwares) ou pela transformação de átomos em bits (NEGROPONTE, 1995MOREIRA, Antonio Flavio B. A cultura da performatividade e a avaliação da pós-graduação em Educação no Brasil., Educação em Revista Belo Horizonte, v. 25, n. 3, p. 23-42, dez. 2009.),11 11 Negroponte, um entusiasta da tecnologia digital, é conhecido no Brasil, seja por sua obra Vida digital (1995), seja por suas investidas para a inserção de computadores nas escolas. No original, seu livro intitula-seBeing digital e, segundo o autor, aponta para o novo. O polar deste seria: being analogic? que propiciou gradativamente condições à humanidade de dispor dessas mediações que fazem com que a lentidão e a pobreza das relações emissor-receptor - características do período de predomínio da tecnologia analógica - ou as distorções nesse processo sejam, hoje, mais de cunho político-ético-moral do que de base tecnológica.12 12 Aqui valeria ter presente o questionamento de Chaui (1989, p. 10): "Que tal lembrarmos que o objetivismo positivista tende a conceber o movimento temporal a partir do desenvolvimento das forças produtivas como sujeitos, em vez de pensá-las como predicados do capital?". Não é, portanto, a tecnologia o problema, mas as opções em relação a ela: quem poderá contar com ela e quem será excluído, parcial ou integralmente em termos de sua posse e uso. Em síntese, a questão é de possibilidades de contar com ela e das opções em torno de sua utilização.

Seguindo essa linha de raciocínio, determinadas expressões afeitas ao mundo acadêmico precisam ser compreendidas de acordo com as características da sociedade na qual predomina a chamada cultura digital. Nesse sentido, talvez nunca uma expressão tal como "fator de impacto" - FI - tenha sido tão reveladora do modo como o espírito objetivo de um tempo, ou seja, de uma cultura, se materializa na forma de uma determinada produção, no caso a acadêmica. Como se sabe, o FI de um periódico é calculado pelo número de vezes em que artigos indexados foram citados num certo intervalo de tempo, geralmente dois anos anteriores à avaliação, dividido pelo número total de artigos publicados nesse período. Assim, o FI é objetivado num número específico que pode, portanto, ser comparado com outros números, de tal modo que os periódicos com maior FI, bem como os artigos que neles são publicados, serão muito mais valorizados do que outros. Historicamente, talvez nunca a palavra impactar tenha estado tão associada com a palavra aparecer, de preferência de forma espetacular. Ao divulgar os fatores de impacto dos periódicos de 2011, por meio do Journal Citation Reports, a Thomson Reuters destacou a revista Naturecomo a de maior FI: 36.280 (FAPESP, 2014FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Thomson Reuters divulga novos fatores de impacto. 13 jul. 2012. Disponível em: <http://agencia.fapesp.br/thomson_reuters_divulga_novos_fatores_de_impacto_/15874/>. Acesso em: 25 nov. 2014.
http://agencia.fapesp.br/thomson_reuters...
).

Publicar numa revista desse porte rende dividendos que se espraiam para toda a vida do ator/pesquisador. Ao conversar com um pesquisador que pleiteava a publicação de um artigo nessa revista, este expressou o seguinte ponto de vista: "Se eu conseguir publicar este artigo na Nature, minha carreira nunca mais será a mesma". No caso em questão, tal pesquisador tinha plena consciência de que seus ganhos não se restringiriam ao momento da publicação do artigo, mas se acumulariam de forma absoluta e contínua, pois a visibilidade adquirida lhe permitiria que seus futuros pedidos de auxílio à pesquisa junto às agências de fomento fossem literalmente vistos com outros olhos. Ele se tornaria então um pesquisador espetacular. Diante desse quadro, uma nova propaganda poderia ser criada: "Há vários produtos culturais que podem ser comprados, mas associar a marca Nature com a marca de seu nome não tem preço". E não tem preço porque justamente todos os preços futuros encontram-se presentes na força da visibilidade da marca Nature, que, ironicamente, não é nada natural, mas sim historicamente construída, uma segunda natureza engendrada pelo atual mercado de bens simbólicos.

A valorização do capital cultural da Nature faz parte de um contexto situado nos anos 1980 no qual as universidades europeias e estadunidenses estimularam a produção internacional de seus docentes, inclusive por meio do pagamento em dinheiro conforme o índice de FI do periódico no qual o artigo seria publicado. Assim:

[...] a recompensa tácita de um passado distante - no qual imperavam as qualidades educacionais, o serviço público e a qualidade das pesquisas, as quais eram avaliadas de uma maneira informal, uma vez que a prioridade da descoberta era a de oferecer incentivos não mercadológicos para os membros da academia - foi substituída por um sistema de recompensa explícito e formal por meio do qual o desempenho individual e mensurável passara a ser gratificado. Em outras palavras, as forças competitivas não mercadológicas que caracterizavam a descoberta científica foram, em alguma extensão, preteridas pelos sistemas de fundos e recompensas vinculados à competição de mercado. (VAN DALEN; HENKENS, 2012, p. 1282)

A passagem desse estado de produção acadêmica no qual, embora já regido pelas leis do mercado dos produtos simbólicos, havia ainda certa ênfase na dimensão educacional/formativa para um estado imperiosamente administrado pelas leis de tal mercado foi também consolidada pela presença cada vez mais constante dos fatores de impacto de tais produtos. Com efeito, a valorização atribuída a determinados artigos que impactavam mais do que outros, justamente por terem sido publicados em periódicos de maior FI, produzia benesses financeiras tanto para os autores - na forma de obtenção de maiores recursos materiais para o desenvolvimento de suas pesquisas, bem como pagamentos em dinheiro feitos pelos programas de pós-graduação das respectivas universidades -, quanto para as próprias instituições que se tornavam mais valorizadas do que outras e para os próprios periódicos, que recebiam mais pedidos de assinaturas, ao mesmo tempo que vendiam os downloads de seus artigos.

Na era da cultura digital, visibilidade e performatividade transformam-se em fatores decisivos para o sucesso acadêmico, a ponto de o que verdadeiramente importar quanto à publicação de um artigo não ser tanto mais seu conteúdo, mas sim "com que frequência, onde e com quem se publica" (VAN DALEN; HENKENS, 2012TZARNAS, Stephanie; TZARNAS, Chris. Publish or Perish, and pay: the new paradigm of open-acess journals. Journal of Surgical Education, v. 14, p. 11-13, Oct. 2014. Disponível em: <www.jsurged.org/article/S1931-7204%2814%2900257-8/abstract>. Acesso em: 23 dez. 2014.
http://www.jsurged.org/article/S1931-720...
, p. 1283; destaques do original). Atualmente, tais vínculos entre produção acadêmica e pesquisadores, cujos nomes transformam-se em marcas mais ou menos valorizadas, podem ser observados no site de relacionamentos LinkedIn. Lançado em maio de 2003, esse site de divulgação da identidade profissional fundamenta-se no número de conexões com outros profissionais que podem auxiliar determinada pessoa, cujo perfil está cadastrado, a encontrar oportunidades de desenvolvimento na carreira. Transformado numa logomarca, o nome do profissional converte-se num objeto de valorização ou não, na medida em que recebe ou rejeita convites de conexão, ao mesmo tempo que outras pessoas também decidem se incluem ou não o nome desse profissional em suas respectivas conexões. Novamente, o que de fato importa é com quem determinada pessoa se encontra profissionalmente conectada, pois esse tipo de visibilidade possui a característica de determinar o modo como os produtos simbólicos serão mais ou menos valorizados em relação a outros.

De acordo com Van Dalen e HenkensVAN DALEN, Hendrik P.; HENKENS, Kène. Intended and unintended consequences of a publish-or-perish culture: a worldwire survey. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v. 63, n. 7, p. 1282-1293, 2012. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1983205>. Acesso em: 25 nov. 2014.
http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?a...
(2012), publicar e ser citado em periódicos internacionais torna-se cada vez mais o objeto de desejo de pesquisadores de universidades de vários países. A lógica da visibilidade internacional também se faz presente em nosso país há certo tempo, principalmente quando se trata da produção acadêmica de pesquisadores das chamadas ciências exatas e biológicas. Mais recentemente, observam-se sinais de internacionalização nas denominadas ciências humanas. No que concerne à área de Educação, é possível encontrar vários periódicos internacionais classificados como nível A1 e A2 no Qualis-Capes. Contudo, também vários deles recomendam que seus artigos sejam publicados na modalidade open access se os respectivos autores e/ou instituições pagarem uma taxa que varia de 1000 a 3000 dólares. De acordo com a atual lógica da mercantilização dos produtos simbólicos, ou o autor consegue obter recursos institucionais para o pagamento de tal taxa, ou decidirá pagá-la com seus próprios meios. No caso do periódico Teaching and Teatcher Education, por exemplo, cujo atual FI é 1607, o que efetivamente está em jogo é a visibilidade proporcionada pelo pagamento de 1.100 dólares, caso o artigo seja aceito para publicação na modalidade open access. De conformidade com as normas de publicação da Elsevier, por exemplo, se o autor ou a instituição pagarem tal taxa, o artigo pode ser lido gratuitamente por qualquer pessoa através do sistema open access articles. Já na página da Taylor & Francis, um dos maiores grupos editoriais do mundo acadêmico, as vantagens prometidas para aqueles que pagam a taxa de publicação do programa open access referem-se ao acesso imediato, por parte dos leitores do artigo, à alta visibilidade, à publicidade e ao marketing globais, entre outras. Torna-se extremamente sedutora a oportunidade de disponibilizar determinado artigo para que possa ser acessado por meio desse sistema e, quem sabe, ser citado por pesquisadores dos mais variados países, sobretudo diante do atual quadro de aumento contínuo do números de artigos que circulam pela internet (MING CHIU; FU, 2010MENDONÇA, Ana Waleska P. C. A pós-graduação como estratégia de reconstrução da universidade brasileira. Educar em Revista, Curitiba, n. 21, p. 289-308, 2003. ; TZARNAS, S.; TZARNAS, C., 2014TÜRCKE, Christoph. Sociedade excitada: filosofia da sensação. Tradução de Antônio Zuin, Fabio Durão, Francisco Fontanella e Mario Frungillo. Campinas: Editora da Unicamp, 2010.). Além disso, se um determinado artigo for mais acessado e visto do que outros, certamente os conceitos, as propostas metodológicas e as conclusões desse artigo "viral" serão muito mais difundidas, debatidas e provavelmente aceitas do que as apresentadas em outros artigos situados na câmara obscura da invisibilidade.

De fato, o aparente teor democrático de tal sistema de acesso aberto aos artigos fundamenta-se, na verdade, na produção, comercialização e circulação internacional de produtos simbólicos na forma dos artigos publicados. Assim, o que efetivamente interessa são a comunicação e a visibilidade proporcionadas pelo sistema open access articles, as quais, em muitas ocasiões, sobrepujam a relevância dos conteúdos publicados (KIRBY, 2012______. Os últimos intelectuais: a cultura americana na era da Academia. São Paulo: Edusp/Trajetória Cultural, 1990.). Quanto mais o artigo se torna comunicável e notado, mais ele é visto e acessado por pessoas de qualquer parte do mundo, e não apenas do chamado mundo acadêmico. Assim, aumentam as chances de se obter uma bolsa de produtividade em pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq -; à medida que se publica em periódicos classificados como A1 e A2, ampliam-se as possibilidades de obtenção de recursos de bolsas e projetos de auxílio à pesquisa e publicação de livros e artigos, além de o pesquisador passar a ser convidado para proferir palestras em universidades de diferentes países, uma vez que se torna internacionalmente conhecido, entre outras possibilidades de progressão profissional. E quanto mais os artigos são acessados por meio desse sistema de acesso aberto, mais os mecanismos de busca dos sites da Elsevier ou da Thomson Reuters remeterão a tais trabalhos quando alguém digitar as palavras-chave concernentes à determinada pesquisa.

Os algoritmos dos mecanismos de busca dos sites da Elsevier e/ou da Taylor & Francis determinarão quais artigos serão mais acessados e vistos do que outros e, portanto, quais deles terão mais chance de ser citados ou não. Desse modo, de acordo com Beer (2012BEER, David. Open access and academic publishing: some lessons from music culture. Political Geography, n. 31, p. 256-259, 2012. Disponível em: <http://content.elsevierjournals.intuitiv.net/content/files/guesteditorial-09124101.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2014.
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, p. 480):

[...] esta forma acadêmica de mobilidade social pode ocorrer por meio de razões arbitrárias ou então porque o indivíduo em questão se torna habilitado a jogar as novas regras do jogo acadêmico: o jogo da visibilidade algoritimamente taxada. Provavelmente, os pesquisadores que são capazes de se tornar mercadorias do tipo viral são aqueles que se transformarão em vencedores.

De fato, da mesma forma como as imagens de um vídeo se tornam virais, ou seja, são vistas em sites tais como o YouTube por milhares ou até mesmo milhões de pessoas, um professor também pode se tornar viral à medida que seus artigos são cada vez mais citados, o que impulsiona o aumento de seu índice h, que é calculado em função do número de citações de suas produções acadêmicas.

O que importa, em grande parte dos casos, é publicar os artigos em periódicos com os maiores fatores de impacto, pois justamente isso possibilita fazer com que os respectivos índices h de cada pesquisador também sejam cada vez mais incrementados. É notória a pressão das IES, principalmente por meio de seus programas de PG, para que os professores que compõem seus quadros publiquem cada vez mais e, de preferência, nos melhores periódicos, até porque a própria avaliação do programa de PG, bem como os recursos que receberá em virtude dessa nota, dependem também disso. Porém, não menos relevante é a presença, cada vez mais constante, do impulso narcísico fomentado pelo desejo de visibilidade viral da produção acadêmica. Com efeito, o conceito de narcisismo revela-se decisivo para a compreensão do processo de consolidação da ontologia da cultura digital, pois atualmente ser significa ser midiática e eletronicamente percebido (TÜRCKE, 2010TREIN, Eunice; RODRIGUES, José. O mal-estar na academia: produtivismo científico, o fetichismo do conhecimento-mercadoria., Revista Brasileira de Educação v. 16, n. 48, p. 769-792, 2011. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n48/v16n48a12.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2014.
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n48/v1...
). Certamente, a elaboração das identidades profissionais do meio acadêmico também deve ser refletida sob o prisma dessa nova ontologia. Contudo, para tal, é necessário considerar a formação de personalidades narcísicas como um fenômeno que é produto da cultura de seu tempo.

Quando se menciona o mito, sabe-se que Narciso demonstra paixão extrema por seu próprio reflexo, mas é também interessante notar que ele, ao proceder dessa forma, dificilmente consegue discernir-se em relação aos outros (LASCH, 1979KUHLMANN JR., Moysés. Publicação em periódicos científicos: ética, qualidade e avaliação da pesquisa., Cadernos de Pesquisa São Paulo, v. 44, n. 151, p. 16-32, jan./mar. 2014. Disponível em: <http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/2699/2666>. Acesso em: 29 nov. 2014.
http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index....
). Ao projetar a maior parte de sua libido na própria imagem, Narciso tem extrema dificuldade de compreender e diferenciar o que é dele e o que é do outro. Justamente esse aspecto do mito pode ser metaforicamente utilizado para apreender o narcisismo como produto da cultura digital. Fascinado pela perspectiva de tornar-se eletronicamente viral, o indivídio hodierno, em muitas ocasiões, literalmente não avalia as consequências de postar determinadas imagens, uma vez que as fronteiras entre as esferas pública e privada tornam-se cada vez mais eclipsadas. Na sociedade cujas imagens narcísicas, os chamados selfies, disseminam-se aos bilhões, o impulso praticamente irresistível de se fazer midiaticamente notado provoca situações absolutamente inusitadas, tais como a dos criminosos que ostentam suas imagens ao lado dos produtos roubados nas páginas do Facebook e, assim, são facilmente identificados pela polícia. Se essa linha de raciocínio estiver correta, torna-se possível refletir sobre as consequências do afã de publicar desmesuradamente, inclusive em relação à esfera ética. Assim, os cada vez mais frequentes casos de plágio, autoplágio e redundância precisariam ser analisados em decorrência de vários tipos de pressão: ao lado das exigências das IES e seus respectivos programas de PG quanto à necessidade de publicar cada vez mais, nota-se também a presença da pressão/compulsão de que o nome associado ao artigo de sucesso seja identificado como viral.

A consciência moral que agia no sentido de incitar a autorreflexão crítica sobre os limites de ação entre o que é público e o que é privado tende a esfacelar-se, na medida em que o que efetivamente interessa é a ostentação de um alto índice h e que pode ser conferido por qualquer pessoa que acessar o Google Scholar, por exemplo. Do mesmo modo, o próprio FI deixa de ser um indicador de qualidade para transformar-se na qualidade em si, ou seja, uma qualidade absoluta (BRUMBACK, 2012BRUMBACK, Roger A. 3... 2... 1... Impact Factor: Target Academic Career; destroyed: just another statistical casualty. Journal of Child Neurology, n. 27, p. 1565-1576, 2012. Disponível em: <www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23183597>. Acesso em: 28 nov. 2014.
htp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/231835...
). Há vários casos de artigos cujos conteúdos são de importância extrema para a área de medicina, por exemplo, mas que, por não terem sido publicados em periódicos de alto FI, são quase imperceptíveis no meio acadêmico.

Ora, tal como foi destacado neste artigo, ser imperceptível na sociedade da cultura digital significa praticamente não existir. Assim, talvez a proliferação dos casos de plágio e similares de textos acadêmicos possa também ser entendida como um fenômeno consubstanciado a uma cultura que determina a hegemonia da aparência em relação à substância, a ponto de mitigar a força da reflexão ética sobre as fronteiras entre as esferas pública e privada e, portanto, das próprias consequências de determinados comportamentos. Por conseguinte, espraiam-se casos absurdos, tal como este: ao acessar um site de vendas de artigos e teses acadêmicas e ser prontamente atendida, uma pesquisadora informou-se sobre o preço que pagaria por um artigo de sete páginas cujo título seria "Plágio é roubo". Para obter tal artigo, a pesquisadora precisaria pagar 68,95 dólares (HOWARD, 2007HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. 1914-1991. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.). Há também vários sites de vendas de textos acadêmicos que cobram preços diferenciados, dependendo da urgência da entrega ou se o cliente é freguês assíduo (SIKES, 2009SGUISSARDI, Valdemar; SILVA JR., João dos Reis. Trabalho intensificado nas federais: pós-graduação e produtivismo acadêmico. São Paulo: Xamã, 2009.).

Esse tipo de postura contrasta com o propósito de fomentar pedagogicamente uma discussão sobre o significado do plágio, seja este cometido por alunos ou professores. Sabe-se da existência dos softwares de detecção de plágio, tal como o Turnitin.com plagiarism-detection, os quais são muito empregados para descobrir principalmente se as monografias dos alunos são, na verdade, produtos de plágio.

Porém, há autores que defendem a ideia de que não se podem utilizar tais softwares com a intenção de aplicar exclusivamente alguma medida punitiva. Para Howard (2007HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. 1914-1991. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.), a visibilidade proporcionada pelo hipertexto pode auxiliar os educadores a entenderem que o software de detecção de plágio não protege a experiência do aprendizado, pois somente a ação pedagógica é capaz de produzir tal vivência, sendo essa postura compartilhada também por DeVoss e Rosati (2002). Ou seja, os alunos precisam ser estimulados, por meio da discussão pedagógica sobre os temas plágio, autoplágio e redundância, a perceber que a experiência educacional/formativa ocorre quando há o esforço de pesquisar, refletir e escrever suas próprias opiniões em um determinado texto acadêmico. É por meio desse esforço de concentração que o conhecimento aprendido pode ser realmente apreendido, de tal modo que ambos, alunos e professores, podem inclusive utilizar conjuntamente os recursos de hiperlinks dos mais variados sites para que as informações coletadas possam, ao ser refletidas e relacionadas entre si, servir de lastro para que novos conceitos sejam engendrados. No caso da relação professor-aluno, quando o Turnitin.com é empregado apenas com o objetivo de punir os alunos que copiaram e colaram determinadas afirmações de outrem em seus trabalhos sem reconhecer os devidos créditos, abandona-se a perspectiva de que, por meio do processo educacional/formativo, o próprio aluno perceba a importância de ser reconhecido e se reconhecer como o autor de suas obras.

Conclusão

O equilíbrio entre a indução da produção acadêmica e sua visibilidade, provida principalmente pelas redes sociais, revela-se tão distante quanto necessário. Justamente a reflexão sobre tal equilíbrio permitiria analisar as razões pelas quais essas mesmas redes sociais são, na atualidade, extremamente utilizadas para a produção e a reprodução do plágio acadêmico, da pressão na forma do "publique, apareça ou/e pereça" e da falta de uma postura ética relacionada à própria produção acadêmica, uma vez que o produtivismo cobra seus dividendos em relação à qualidade da pesquisa que é feita e divulgada de forma açodada (KUHLMANN JR., 2014KIRBY, Andrew. Scientific communication open access and publishing industry. Political Geography,n. 31, p. 256-259, 2012. Disponível em: <http://content.elsevierjournals.intuitiv.net/content/files/guesteditorial-09124101.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2014.
http://content.elsevierjournals.intuitiv...
).

Porém, são essas mesmas redes sociais, cujos sites e seus respectivos mecanismos de busca de palavras-chave são aperfeiçoados a cada dia, que permitem também o acesso imediato a quaisquer tipos de informações. Seguindo essa linha de raciocínio, a necessária e desejada publicação dos dados de quaisquer pesquisas não pode ser subordinada a um tipo de veiculação que valoriza as aparências acima dos conteúdos dessas mesmas pesquisas. Desse modo, deparamo-nos com uma contradição que deve permanecer à vista para que possa ser continuamente refletida: o questionamento da publicização virtual e espetacular do produtivismo acadêmico deve ser acompanhado da ponderação de que a própria produção acadêmica fenece caso não seja divulgada pelas redes sociais.

Não por acaso, observa-se cotidianamente o incremento das pesquisas de ponta em praticamente todas as áreas do conhecimento humano, assim como a permeabilização de suas fronteiras. São novas relações conceituais que se formam a todo instante, muito em função da possibilidade da troca online de conhecimentos entre pesquisadores dos mais diversos países do globo. É esse tipo de internacionalização da produção acadêmica que verdadeiramente importa, e não aquele que solapa as características de cada cultura em nome da quantificação e da homogeneização dessa mesma produção.

De fato, a palavra relação adquire uma importância decisiva na sociedade do bombardeamento contínuo de estímulos audiovisuais e da tentativa de os profissionais da pesquisa e do ensino se transformarem em espetaculares e performáticos fatores de impacto. É através das relações estabelecidas entre as informações que são obtidas por meio da velocidade online que esses mesmos profissionais, juntamente com seus alunos, podem se sentir exortados a construir conjuntamente novos conceitos, de tal maneira que da informação coletada se origine formação cultural. A resistência ao uso instrumental da atual tecnologia computacional pode ser feita através desses mesmos instrumentos que são, no momento, mais usados para vender pela internet um texto intitulado "Plágio é crime" do que para refletir com o aluno que o comprou sobre quais foram os motivos pelos quais ele agiu dessa forma. Assim, o que é indiscutível é que não será via moralismo que se chegará a um bom termo na discussão e na tomada de decisões sobre o que é plágio, autoplágio e redundância na era digital. Se a materialidade está avançada, precisamos compreender que a lógica da era analógica não serve mais para discutir e decidir sobre o que é ético e moral nessa nova ambiência da era digital. O "mapa e o território" (HOBSBAWM, 1996GERMANO, William. Cómo transformar tu tesis en libro. Madrid: Siglo XXI, 2008.) precisam reconectar-se nesse novo patamar. Nesse sentido, torna-se possível pensar em novos tipos de produção acadêmica, inclusive entre professores e alunos, de tal modo que ambos, em determinados momentos, possam ser identificados como autores de produções derivadas das informações coletadas por eles através do uso de redes sociais, por exemplo.

Se a busca de determinadas informações pela internet é propiciada por seus algoritmos que selecionam e exibem os resultados, é preciso questionar como os arquivos de dados são organizados, quem os classifica e quais são os interesses que orientam tal classificação (BEER, 2012BEER, David. Open access and academic publishing: some lessons from music culture. Political Geography, n. 31, p. 256-259, 2012. Disponível em: <http://content.elsevierjournals.intuitiv.net/content/files/guesteditorial-09124101.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2014.
http://content.elsevierjournals.intuitiv...
). É ilusão defender a ideologia da neutralidade do algoritmo quando se trata de pensar o modo como determinados artigos são mais divulgados do que outros por meio dos periódicos de ranqueamento produzidos em ambientes virtuais. É necessário realizar esse tipo de crítica da ideologia da neutralidade da produção acadêmica pois, caso contrário, formar-se-á um tal ciclo vicioso de modo que apenas os artigos mais citados, cujos autores possuem os maiores índices h, serão lidos e discutidos.13 13 Essa questão pode ser caracterizada como um "círculo vicioso" ou um raciocínio tautológico: um artigo é mais lido porque é mais mostrado; é mais veiculado porque é mais lido! Comparativamente, faz lembrar a letra da música "O papa é pop", dos Engenheiros do Hawaii (1990): "Todo mundo está comprando o mais vendido". Até porque são os links desses artigos que são apresentados pelos sites de pesquisa em posição de destaque, os quais vencem, assim, a luta titânica que travam com outros artigos para que possam ser percebidos. É como se eles se tornassem entes descolados de seus autores! Na ocasião em que tal supremacia é não apenas açulada, como praticamente imposta pelas grandes editoras, então cada vez mais o FI deixa de representar um índice da qualidade do artigo para se tornar a qualidade em si. Quando esse tipo de conclusão reificada se transforma em algo aceito sem contestação, então compreendem-se os motivos pelos quais outros absolutos vão sendo cotidianamente alinhavados no meio universitário, tal como no caso dos professores que são convidados a se retirar dos programas de PG de que fazem parte pois, num determinado período, não publicaram um número X de artigos e, portanto, não foram considerados produtivos. E se a lista de tais professores for publicada nas páginas dos sites da internet e de seus sistemas de ranqueamento, então a denominada memória digital se encarregará de perpetuar ad aeternum este momento presente, como bem o atesta a "lista dos improdutivos" da USP. Trata-se mesmo de um presente perpétuo que reproduz indefinidamente a morte do professor "marcado" como improdutivo. Este sim pode ser identificado como um poderoso e performático fator de impacto.

Mas a produção conjunta do conhecimento, feita por meio do uso dessa mesma tecnologia, não poderia impactar alunos e professores quanto às imensas possibilidades conceituais que ambos poderiam efetivamente acessar, para usar um termo afeito à internet? Por que a vida acadêmica tem que estar vinculada à "morte" do professor/pesquisador considerado improdutivo? Por que o FI se torna mais importante do que o próprio conteúdo do artigo? A internet pode auxiliar a encontrar respostas para tais questões, mas são os agentes educacionais aqueles que podem não somente respondê-las como também, na medida do possível, engendrar novas políticas de produção acadêmica que suscitem outros tipos de impactos.

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  • 1
    Ver em Trein e Rodrigues (2011) evidências de como esse processo se manifesta especialmente na PG.
  • 2
    Ao tratar da quantidade de textos, de financiamentos, de rankings, de classificações, dos artigos como "produtos" (commodities?), do "valor de uso e de troca" de um trabalho científico publicável etc., torna-se inevitável a aproximação entre o sistema capitalista em geral e o "capitalismo" em sua versão acadêmica.
  • 3
    Remetendo-se a Ball, Moreira (2009, p. 32) afirma: "A performatividade corresponde a uma tecnologia, a uma cultura e a uma forma de regulação que se serve de críticas, comparações e demonstrações como meio de controle, pressões e mudanças. Trata-se de uma luta por visibilidade, que pode ser vista como um verdadeiro 'sistema de terror'".
  • 4
    Diz o autor: "Falo do ponto de vista privilegiado de um editor sem fins lucrativos dentro da academia, que procura apenas cobrir os custos e, ao mesmo tempo, preservar a dignidade do pensamento e dos livros" (WATERS, 2006, p. 10).
  • 5
    As características negativas a que nos referimos aqui não são apreendidas uniformemente. Para determinadas áreas, a preocupação com resultados ou o predomínio de uma perspectiva pragmática e utilitária são visualizados exclusivamente em sua positividade e, portanto, apontados como paradigma.
  • 6
    Segundo Moreira (2009, p. 31), com eventos repetindo-se de forma exaustiva, certas tendências parecem delinear-se: "a repetição de ideias nem sempre bem-digeridas; o uso frequente do mecanismo de 'recortar e colar'; a apresentação da mesma temática [...]; ou, então, o desenvolvimento de uma inacreditável capacidade de se 'falar sobre tudo'".
  • 7
    A respeito de outras influências na organização e no funcionamento da PG brasileira, ver Lüdke (2005).
  • 8
    Para uma detalhada descrição e análise da "lista", consultar o texto de Paula (2000).
  • 9
    A autora, começando com a questão: "O que seria a produtividade nas humanidades?", alinhava uma série de outras que detalham esta, para finalmente concluir: "Se a universidade for um super-mercado, então, teremos uma resposta para os critérios de produtividade" (CHAUI, 1989, p. 12).
  • 10
    A avaliação foi concebida e é executada sob o signo da heteronomia, com ônus e bônus aos Programas, dependendo dos resultados. Outra estratégia atenuante de uma avaliação assim levada a termo é o fato de ser executada pelos "pares", aspecto frequentemente ressaltado para diminuir resistências ou torná-la mais "palatável".
  • 11
    Negroponte, um entusiasta da tecnologia digital, é conhecido no Brasil, seja por sua obra Vida digital (1995), seja por suas investidas para a inserção de computadores nas escolas. No original, seu livro intitula-seBeing digital e, segundo o autor, aponta para o novo. O polar deste seria: being analogic?
  • 12
    Aqui valeria ter presente o questionamento de Chaui (1989, p. 10): "Que tal lembrarmos que o objetivismo positivista tende a conceber o movimento temporal a partir do desenvolvimento das forças produtivas como sujeitos, em vez de pensá-las como predicados do capital?".
  • 13
    Essa questão pode ser caracterizada como um "círculo vicioso" ou um raciocínio tautológico: um artigo é mais lido porque é mais mostrado; é mais veiculado porque é mais lido! Comparativamente, faz lembrar a letra da música "O papa é pop", dos Engenheiros do Hawaii (1990): "Todo mundo está comprando o mais vendido".

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    Maio 2015
  • Aceito
    Jun 2015
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