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CRIAÇÃO DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ESTADO DE SÃO PAULO (1925-1932)

CREATION OF THE DEPARTMENT OF PHYSICAL EDUCATION OF THE SÃO PAULO STATE (1925-1932)

CRÉATION DU DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ESTADO DE SÃO PAULO (1925-1932)

CREACIÓN DEL DEPARTAMENTO DE EDUCACIÓN FÍSICA DEL ESTADO DE SÃO PAULO (1925-1932)

Resumo

O artigo aborda a criação do Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo (DEF-SP), procurando analisar os debates que fomentaram sua implantação, identificar as posições assumidas pelos sujeitos que contribuíram para isso e examinar as iniciativas implementadas durante seu primeiro ano de funcionamento. A criação do DEF-SP esteve relacionada aos debates próprios dos campos esportivo e intelectual paulistas, em intersecção com disputas e tensões sobre a identidade nacional. Foi promovida por figuras do universo esportivo, como cronistas e atletas, e por médicos. A justificativa para sua criação apresentou teor eugenista, sendo a manifestação esportiva interpretada como uma forma de desenvolver o vigor físico e moral da população.

EDUCAÇÃO FÍSICA; ESPORTE; SÃO PAULO; HISTÓRIA

Abstract

This paper focuses on the creation of the Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo [Department of Physical Education of São Paulo State] (DEF-SP). Its objectives are: a) to analyze the debates that led to the creation of the DEF-SP; b) to identify the positions assumed by the subjects who contributed to its creation; c) to verify the initiatives that were implemented in its first year of activity. The creation of the DEF-SP was linked to the debates of the sports field of São Paulo in intersection with disputes and tensions about the national identity. It was promoted by sports figures, such as sports journalist, athletes and also by doctors. The justification for its creation presented a eugenic content, and the sport was interpreted as means to develop physical and moral vigor of the population.

PHYSICAL EDUCATION; SPORT; SÃO PAULO; HISTORY

Résumé

Cet article concerne la création du Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo [Départment d’Éducation Physique de l’État de São Paulo] (DEF-SP). Son but est d’analyser les débats qui aboutirent à sa mise en place, d’identifier les positions des différents discussants et d’examiner les initiatives mises en œuvre au cours de sa première année de fonctionnement. La formation de DEF-SP était liée aux discussions au sein du champ intellectuel et sportif de l’État de São Paulo, à l’intersection des conflits et tensions sur l’identité nationale. La promotion du département était menée par des personnalités de l’univers du sport: chroniqueurs sportifs, athlètes et médecins. Une considération eugéniste en justifiait la création étant donné que l’activité sportive était interprétée comme un moyen de développer la vigueur physique et morale de la population.

EDUCATION PHYSIQUE; SPORTS; SÃO PAULO; HISTOIRE

Resumen

El artículo aborda la creación del Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo [Departamento de Educación Física del Estado de São Paulo] (DEF-SP), buscando analizar los debates que fomentaron su implantación, identificar las posiciones asumidas por los sujetos que contribuyeron a ello y examinar las iniciativas implementadas durante su primer año de funcionamiento. La formación del DEF-SP estuvo relacionada con los debates propios del campo deportivo e intelectual paulista, en intersección con disputas y tensiones sobre la identidad nacional. Fue promovida por figuras del universo deportivo, como cronistas y atletas, y por médicos. La justificación para su creación presentó un cuño eugenista, interpretando la manifestación deportiva como una forma de desarrollar el vigor físico y moral de la población.

EDUCACIÓN FÍSICA; DEPORTE; SÃO PAULO; HISTORIA

O Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo (DEF-SP) foi instituído pelo Decreto n. 4.855, de 27 de janeiro de 1931 (SÃO PAULO, 1931a). Trata-se do primeiro órgão público estabelecido no Brasil, em nível estadual, para a gestão da educação física e do esporte. Sua criação, no entanto, não se resume tão somente às linhas do Decreto em questão ou ao momento político pelo qual passava o país com a ascensão de Getúlio Vargas (1882-1954) ao poder, estando relacionada, também, com uma série de debates, realizados em níveis estadual e nacional, sobre a necessidade de se organizar e controlar a prática esportiva no país. Tais debates contaram com a participação de cronistas esportivos e intelectuais brasileiros e ficaram registrados em matérias de jornais da época, artigos de revistas especializadas em educação física, livros e teses de médicos e professores (DALBEN; GÓIS JUNIOR, 2018DALBEN, André; GÓIS JR., Edivaldo. Embates esportivos: o debate entre médicos, educadores e cronistas sobre o esporte e a educação da juventude (Rio de Janeiro e São Paulo, 1915-1929). Movimento, Porto Alegre, v. 24, n. 1, p. 161-172, jan./mar. 2018.; GÓIS JUNIOR; MELO; SOARES, 2015).

Em São Paulo, uma série de escritos do médico sanitarista Arthur Neiva (1880-1943),1 1 Neiva é bastante conhecido pela historiografia dedicada ao movimento sanitarista brasileiro. No entanto, ainda é pouco conhecida e analisada a sua participação nos debates sobre a prática esportiva em São Paulo (SILVEIRA, 2002), assim como a reforma que realizou na Secretaria dos Negócios do Interior do Estado de São Paulo durante sua gestão entre 05/12/1930 e 13/02/1931 (SOARES, 2017). do educador Fernando de Azevedo (1894-1974),2 2 Apesar de não ter sido responsável direto pela criação do DEF-SP, Azevedo manteve vínculo profissional com Neiva no jornal O Estado de S. Paulo e, em conjunto, alimentaram os debates a favor da regulamentação da prática esportiva. Em 1933, Azevedo assumiu o cargo de diretor geral de Instrução Pública do Estado de São Paulo e promulgou o Código de Educação, o qual viria a alterar a estrutura do então recém-criado DEF-SP. do professor Mário Sérgio Cardim (1888-1953)3 3 Cardim formou-se em direito, educação e educação física. Foi um dos principais cronistas esportivos do jornal O Estado de S. Paulo e grande incentivador do futebol e do escotismo em São Paulo. e do cronista Américo Rego Netto (1892-1974)4 4 Américo Netto foi cronista esportivo do jornal O Estado de S. Paulo, além de representante paulista do Movimento Olímpico Brasileiro. Presidiu a Federação Paulista de Atletismo por alguns meses em 1925. Compôs a comissão de estudos encarregada de formular o decreto para a criação do DEF-SP e foi o seu primeiro secretário geral. alertava para a importância de se organizar um órgão especialmente dedicado ao controle da prática esportiva e à formação de profissionais especializados em educação física. Azevedo, Cardim e Américo Netto estiveram bastante próximos durante a organização do I Congresso Brasileiro de Educação Física, previsto para ocorrer em São Paulo em 1925. Com a realização do evento, pretendia-se reunir os principais temas debatidos na época, sendo uma sessão reservada especialmente para discutir a criação de repartições estaduais e nacionais de educação física. Coube a Neiva, no entanto, organizar as bases para a criação do DEF-SP ao assumir o cargo de Secretário do Interior em dezembro de 1930.

O DEF-SP foi objeto de pesquisa de dissertações e teses defendidas ao longo dos anos 2000. Mastrorosa (2003MASTROROSA, Adriano. Departamento de Educação Física, Escola Superior de Educação Física e Associação dos Professores de Educação Física: o ordenamento da Educação Física no Estado de São Paulo no início da década de 1930. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003.) investigou a interlocução estabelecida entre o DEF-SP, a Associação de Professores de Educação Física de São Paulo (Apef-SP) e a Escola Superior de Educação Física de São Paulo (Esef-SP) ao longo da década de 1930. Gnecco (2005GNECCO, José Roberto. Reforma universitária e a USP: a integração da Escola de Educação Física em 1969. 2005. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.) analisou o processo histórico de criação da Esef-SP e a sua integração à Universidade de São Paulo (USP) em 1969, tendo abordado o papel exercido pelo DEF-SP na criação da faculdade em 1934 e na sua gestão nos anos posteriores. Lourdes (2007LOURDES, Luiz Fernando da Costa. Antonio Boaventura da Silva: o professor e suas concepções sobre a educação física nas décadas de 1940-1970. 2007. 114 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007.) problematizou a função que o professor Antonio Boaventura da Silva (1915-2005) exerceu como funcionário do DEF-SP a partir de 1939. Dalben (2009DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e educação física em São Paulo (1930-1945). 2009. 170 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.) estudou as ações estabelecidas pelo DEF-SP na criação de um sistema escolar e extraescolar de educação ao ar livre, tendo conferido especial atenção a três instituições criadas depois de 1938: colônias de férias, escola ao ar livre e parques infantis em cidades do interior paulista. Cabe destacar ainda o artigo de Vimieiro-Gomes e Dalben (2011VIMIEIRO-GOMES, Ana Carolina; DALBEN, André. O controle médico-esportivo no Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo: aproximações entre esporte e medicina nas décadas de 1930 e 1940. História, Ciência, Saúde: Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 321-336, jun. 2011.) sobre o papel desempenhado pelo DEF-SP no desenvolvimento da medicina esportiva em São Paulo nas décadas de 1930 e 1940.

As pesquisas fornecem importantes elementos para pensarmos a história da educação física em São Paulo, especialmente no que diz respeito às posições assumidas pelo DEF-SP. Em todas encontramos referências ao momento de sua criação, sendo as análises realizadas principalmente a partir do decreto assinado por Neiva em 1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931.. É necessário, no entanto, reforçar que a premissa de se orientar e dirigir a prática esportiva fez parte de um debate maior, travado no meio intelectual paulista ao longo das décadas de 1910 e 1920. Nesse sentido, a presente pesquisa teve por objetivos: analisar os debates no meio intelectual paulista que fomentaram a criação DEF-SP; identificar as posições assumidas pelos sujeitos que contribuíram para sua implantação; e examinar as iniciativas implementadas durante o seu primeiro ano de funcionamento.

O corpo documental da pesquisa abarcou as seguintes fontes:

  • correspondências e documentos datilografados preservados no Fundo Arthur Neiva do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV);

  • livros das Coleções Especiais e Obras Raras da Biblioteca Central Cesar Lattes da Universidade Estadual de Campinas (BC-Unicamp);

  • revistas especializadas em educação física conservadas nas Coleções Especiais da Biblioteca Prof. Asdrúbal Ferreira Batista, localizada na Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (FEF-Unicamp);

  • legislação referente ao DEF-SP existente no sítio eletrônico da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp);

  • anuários de ensino presentes no acervo no sítio eletrônico do Arquivo Público do Estado de São Paulo;

  • matérias de jornais de grande circulação consultadas na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional;

  • matérias do jornal O Estado de S. Paulo, consultadas por meio do seu acervo digital;

  • matérias dos jornais Folha da Manhã e Folha da Noite, consultadas no acervo digital da Folha de S.Paulo.

O levantamento das fontes se circunscreveu ao período entre 1925, quando foi aventada a realização de um congresso brasileiro de educação física com sede em São Paulo, e 1932, quando o DEF-SP completou um ano de suas atividades.

A TRAMA DE IDEIAS E REIVINDICAÇÕES ÀS VESPERAS DA CRIAÇÃO DO DEF-SP

O debate sobre a criação de um sistema nacional de repartições de educação física era anterior ao governo Vargas, já estando presente em 1925, no plano do I Congresso Brasileiro de Educação Física, evento que Américo Netto, Azevedo e Cardim pretendiam realizar em São Paulo. Apesar de o evento não ter ocorrido, devido às disputas entre sua comissão organizadora e a Federação Paulista de Atletismo (I CONGRESSO..., 1925I CONGRESSO Brasileiro de Educação Physica. Correio Paulistano, São Paulo, p. 5, 2 dez. 1925.), entre as sessões concebidas para compor seu programa oficial havia uma especialmente destinada ao debate de um “31) Plano para a organização oficial da educação física: a) departamento nacional de educação física, como organismo coordenador e diretor b) departamento estadual subordinado ao nacional” (GRANDIOSA..., 1925GRANDIOSA iniciativa, Uma. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 3, 24 jun. 1925., p. 3).

A presença de Cardim na comissão organizadora do congresso era especialmente expressiva. Ainda em 1918CARDIM, Mário Sérgio. A educação physica na Argentina e no Uruguay. In: SÃO PAULO (Estado). Annuario do Ensino do Estado de São Paulo. Publicação organizada pela Directoria Geral da Instrucção Pública, com autorização do Governo do Estado. São Paulo: Augusto Siqueira & C., 1918. p. 186-211., Cardim publicou relatório a respeito da viagem oficial que realizou à Argentina e ao Uruguai para levantar dados sobre como a educação física se organizava naqueles países. Após longa descrição, ele concluiu pela necessidade da criação de uma Escola Normal Superior de Educação Física (como então existente na Argentina) e de uma Inspetoria Estadual de Educação Física (como então existente no Uruguai), com comissões regionais sediadas em cidades do interior do estado paulista (CARDIM, 1918CARDIM, Mário Sérgio. A educação physica na Argentina e no Uruguay. In: SÃO PAULO (Estado). Annuario do Ensino do Estado de São Paulo. Publicação organizada pela Directoria Geral da Instrucção Pública, com autorização do Governo do Estado. São Paulo: Augusto Siqueira & C., 1918. p. 186-211.). A partir dos exemplos argentino e uruguaio, Cardim foi provavelmente um dos primeiros a propor a criação de um órgão público destinado à gestão da educação física em São Paulo e desenhar sua possível estrutura.5 5 Neiva (1931) considerou o relatório de Cardim de grande relevância para a educação física paulista. É possível que o relatório tenha sido consultado durante a elaboração do decreto de criação do DEF-SP, uma vez que alguns dos pontos estabelecidos por Cardim se assemelham às finalidades atribuídas ao Departamento. Somava força, assim, com demais intelectuais que viriam a se posicionar a favor da intervenção do Estado no âmbito da educação física e dos esportes.

A organização da educação física em um departamento estadual, no entanto, não era o único tema que se pretendia debater no I Congresso Brasileiro de Educação Física. Segundo Azevedo (1960aAZEVEDO, Fernando de. Congresso Brasileiro de Educação Física: entrevista do “Diário da Noite”. In: AZEVEDO, Fernando de. Da educação física: o que ela é, o que tem sido e o que deveria ser. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1960a. p. 225-331. (Obras Completas)., p. 326), “É duplo o objetivo, que visará o Congresso de acordo com o nosso pensamento: ‘revista do que se tem feito e programa do que se deve fazer’”. Entre os assuntos a serem abordados, estavam previstos “desde o problema da formação dos professores de educação física até o projeto do grande estádio nacional” (COMMENTANDO..., 1925COMMENTANDO uma “iniciativa grandiosa”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 6, 16 ago. 1925., p. 6). No que se refere especificamente à questão da construção de um grande estádio na capital paulista para fomentar jogos dos campeonatos de futebol, essa era uma reivindicação já antiga entre os cronistas e dirigentes esportivos (SEVCENKO, 1992SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.). De modo geral, é plausível analisar que a construção do estádio poderia afirmar simbolicamente a liderança esportiva de São Paulo sobre as demais cidades brasileiras, especialmente sobre o Rio de Janeiro. Desde a década de 1910, havia uma grande disputa esportiva entre as equipes de futebol do Rio de Janeiro e de São Paulo, não apenas dentro de campo. Clubes e federações cariocas e paulistas travaram diversos embates a respeito dos rumos dessa modalidade esportiva (GOMES; PINHEIRO, 2015GOMES, Eduardo de Souza; PINHEIRO, Caio Lucas Morais. Olhares para a profissionalização do futebol. Rio de Janeiro: Multifoco, 2015.). Conforme analisado por Franzini (2003FRANZINI, Fábio. Corações na ponta da chuteira: capítulos iniciais da história do futebol brasileiro (1919-1938). Rio de Janeiro: DP&A, 2003., p. 22), os atritos no futebol podem “ser interpretados como reflexo de uma luta maior, travada no terreno ideológico por grupos empenhados em conquistar a hegemonia política e cultural no país”. No cenário de disputas que atravessaram duas décadas, os dirigentes esportivos e a classe intelectual e política de São Paulo começaram a se articular, no início da década de 1930, para colocar em ação medidas que pudessem alavancar a liderança paulista nos esportes, especialmente no futebol, como a criação de um estádio modelo (S. PAULO..., 1931).

A hegemonia esportiva, contudo, era apenas uma das faces das tensões pelos simbolismos que envolviam a consolidação de uma identidade nacional. Uma identidade paulista que se colocava como responsável pela liderança do país, com manifestações de ideias e comportamentos, que se arvoravam justamente na particularidade, na autodeterminação, na modernidade, na singularidade paulista, que, concomitantemente, absorvia os símbolos nacionais (bandeira, hino, etc.). Ao tencionar uma identidade nacional centrada no Rio de Janeiro, São Paulo tentava constituir modelos de desenvolvimento da saúde e educação públicas, estabelecendo um solo fértil para a institucionalização do esporte e da educação física. Exaltava-se, no período, a necessidade de a educação física ser uma prática comum a todas as idades, defendendo-se tanto a regulamentação do esporte praticado por jovens e adultos quanto a inserção da ginástica nas escolas paulistas.

Este era o caso de médicos e professores que reivindicavam a criação de espaços especialmente projetados para a educação física infantil no interior da malha urbana de São Paulo. Entre as décadas de 1910 e 1920, arquitetos e urbanistas formularam diversos planos para a criação de parques públicos na cidade de São Paulo, com áreas especialmente concebidas para a prática de exercícios físicos. A maior parte deles, no entanto, não saiu do papel (DALBEN, 2016DALBEN, André. Notas sobre a cidade de São Paulo e a natureza de seus parques urbanos. Urbana - Revista Eletrônica do Centro Interdisciplinar de Estudos da Cidade, Campinas, v. 8, n. 2, p. 3-27, maio/ago. 2016.). Para agravar a situação, muitas escolas não contavam com espaços abertos propícios para a educação física. Foi no sentido de solucionar essa questão, por exemplo, que Amadeu Mendes,6 6 Mendes foi diretor geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo de 1927 a 1930. diretor da Instrução Pública do Estado, encaminhou ofício à Câmara Municipal de São Paulo em 1927, solicitando a concessão de terreno para a construção do “Playground escolar ou o Parque Escolar de São Paulo para a Cultura Física da mocidade” (EDUCAÇÃO..., 1927, p. 6).7 7 As denominações desses espaços/instituições variavam largamente na imprensa paulista. Escola de Saúde, Escola de Débeis, Escola ao Ar Livre, Escola ao Sol, Solário, Jardim de Recreio, Parque Escolar, Praça de Jogos Infantis, Parque Infantil e Playground foram algumas das denominações empregadas. Essa multiplicidade indica se tratar tanto de iniciativas específicas quanto de propostas vinculadas a diferentes vertentes e tradições médico-pedagógicas. Em comum, todas referiam-se a espaços ao ar livre para a prática de exercícios físicos pela população infantil. As principais referências empregadas eram os exemplos existentes, naquele momento, no Uruguai, na Argentina e nos Estados Unidos (KUHLMANN JR., 2017). Anos antes, em 1924, iniciativa semelhante havia sido tomada pelo então prefeito municipal ao enviar correspondência a Azevedo e Cardim, solicitando a elaboração de um projeto de “praça de jogos infantis” (AZEVEDO, 1960bAZEVEDO, Fernando de. Praça de jogos para crianças: ensaio social de higiene. In: AZEVEDO, Fernando de. Da educação física: o que ela é, o que tem sido e o que deveria ser. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1960b. p. 307-324. (Obras Completas).).

O tema das “praças e jardins de jogos para crianças” seria retomado pelos dois professores no ano seguinte, na ocasião da organização do I Congresso Brasileiro de Educação Física, sendo reservada uma sessão especialmente destinada ao seu debate (GRANDIOSA..., 1925GRANDIOSA iniciativa, Uma. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 3, 24 jun. 1925.). Durante 1929, o urbanista Luiz Ignácio de Anhaia Mello (1891-1974) também se ocupou do assunto em duas palestras que proferiu sobre os playgrounds, sugerindo sua construção em São Paulo (DALBEN, 2016DALBEN, André. Notas sobre a cidade de São Paulo e a natureza de seus parques urbanos. Urbana - Revista Eletrônica do Centro Interdisciplinar de Estudos da Cidade, Campinas, v. 8, n. 2, p. 3-27, maio/ago. 2016.; TIMÓTEO, 2008TIMÓTEO, Jhoyce Povoa. A cidade de São Paulo em “escala humana”: Luiz de Anhaia Mello e sua proposta de recreio ativo e organizado. 2008. 114 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008. ).

De modo geral, apesar das denominações distintas, as intenções partiam dos pressupostos de se criarem espaços propícios para que as crianças se recreassem ao ar livre, sob vigilância e supervisão de médicos e professores, transformando os divertimentos infantis ora espontâneos e tradicionais, realizados nas ruas e descampados da cidade, em projetos médico-pedagógicos, ou então de se criarem espaços que oferecessem as condições necessárias para o ensino da ginástica às crianças matriculadas no sistema de ensino público.

Apesar de o I Congresso Brasileiro de Educação Física não ter sido realizado, sua organização representou um momento de colaboração entre os profissionais que se dedicavam à educação física naquele momento em São Paulo e de afirmação de suas redes de sociabilidade. É possível afirmar que, nas sessões previstas para o evento, se congregavam os principais temas debatidos pela classe intelectual paulista sobre a educação física e os esportes. Embora não compusesse a comissão responsável pela organização do evento, Neiva havia se dedicado ao tema do esporte em uma série de artigos publicados em 1922 no jornal O Estado de S. Paulo (NEIVA, 1929NEIVA, Arthur. Daqui e de longe... chronicas nacionaes e de viagem. São Paulo: Melhoramentos, 1929.). De modo geral, médicos, professores e críticos esportivos entoavam o coro em defesa da intervenção estatal no campo dos esportes e da educação física para que fossem concretizadas as demandas levantadas ao longo das décadas de 1910 e 1920 (DALBEN; GÓIS JUNIOR, 2018DALBEN, André; GÓIS JR., Edivaldo. Embates esportivos: o debate entre médicos, educadores e cronistas sobre o esporte e a educação da juventude (Rio de Janeiro e São Paulo, 1915-1929). Movimento, Porto Alegre, v. 24, n. 1, p. 161-172, jan./mar. 2018.).

Em concomitância, na passagem para a década de 1930, ganhavam força, no campo político, as disputas que culminaram no golpe de Estado promovido por Getúlio Vargas (1882-1954), responsável por nomear João Alberto Lins de Barros (1897-1955) como interventor federal no estado de São Paulo no final de 1930. Em dezembro, o então interventor paulista convidou Neiva para assumir a Secretaria do Interior do Estado de São Paulo. A gestão de Neiva seria bastante curta, sendo transferido para a Bahia, em fevereiro de 1931, para assumir o cargo de interventor federal. Sua rápida passagem pela Secretaria do Interior do Estado de São Paulo, no entanto, foi suficiente para marcar sua participação nos debates referentes à educação física e ao esporte paulistas, com a criação do DEF-SP.

A CRIAÇÃO DO DEF-SP: ENTRE INCENTIVOS, RESTRIÇÕES E NEGOCIAÇÕES

O dr. Neiva ficou convencido de que a educação física carecia ser racionalmente orientada, dirigida e fiscalizada em que, ainda, só ao Governo poderiam, deveriam caber essa orientação, direção e fiscalização - que uma das principais providências, ao ser nomeado Secretário do Interior do primeiro Governo revolucionário de São Paulo, foi formar uma comissão encarregada de estudar as bases de uma repartição do Estado, exclusiva e especializada para tratar da educação física. (HISTÓRICO..., 1936HISTÓRICO do Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo, de 1931 e 1934. Revista de Educação Física, Rio de Janeiro, v. 5, n. 31, p. 40, maio 1936., p. 40)

No final de 1930, Neiva organizou a comissão de estudos encarregada de formular as bases do DEF-SP (QUE SERIA..., 1931). A comissão foi composta por: Américo R. Netto; Francisco Figueira de Mello, médico e então chefe da Inspetoria de Educação Sanitária e dos Centros de Saúde de São Paulo; Benjamin Alves Ribeiro, médico, professor de higiene do trabalho e inspetor técnico de educação física na Diretoria de Instrução Pública do Estado de São Paulo; Erasmo de Assumpção Junior, jogador de tênis; Jorge Martins Rodrigues, automobilista; Manuel Carlos Aranha, jogador de tênis; e Antonio Smith Bayma, engenheiro e jogador de tênis (ACERTADA..., 1931BAYMA, Antonio Smith et al. Decreto. 10 jan. 1931. (documento datilografado - CPDOC).). De modo geral, os integrantes da comissão eram esportistas membros de famílias da elite econômica e política paulistana, médicos que desempenhavam funções de destaque em órgãos públicos e cronistas esportivos. Interessante observar a ausência de possíveis educadores e normalistas interessados na educação física infantil. A comissão concluiu os estudos em 10 de janeiro de 1931 e apresentou a proposta de decreto para a criação do DEF-SP (BAYMA et al., 1931BAYMA, Antonio Smith et al. Decreto. 10 jan. 1931. (documento datilografado - CPDOC).).

No dia 27 de janeiro, Neiva assinou o Decreto n. 4.855, com algumas mudanças em relação à proposta formulada pela comissão. Entre as alterações, destaca-se o fato de Neiva ter acrescentado como consideração preliminar que os esportes “aperfeiçoam a raça, combatem o alcoolismo, habituam a disciplina e ao espirito de renuncia pela causa comum” (SÃO PAULO, 1931aSÃO PAULO (Estado). Decreto n. 4.855, de 27 de janeiro de 1931. Cria o Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo. São Paulo, 1931a.). Em outros escritos, Neiva expressou que o esporte já vinha sendo utilizado no Chile no combate ao alcoolismo (NEIVA, 1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931.) e que nos Estados Unidos uma campanha obtivera sucesso ao adotar o esporte como auxiliar, “o mais decidido inimigo do álcool” (NEIVA, 1929NEIVA, Arthur. Daqui e de longe... chronicas nacionaes e de viagem. São Paulo: Melhoramentos, 1929., p. 62). A argumentação se alinhava às campanhas antialcoólicas promovidas por associações civis de caráter higienista e eugenista ao longo da década de 1920. O combate ao consumo de bebidas alcoólicas era, de fato, uma das principais bandeiras da eugenia preventiva8 8 Eugenia preventiva ou positiva refere-se a uma interpretação francesa que propunha inciativas para o “melhoramento racial da população” a partir da educação higiênica e de medidas sanitárias. No Brasil, essa corrente prevaleceu em relação aos defensores da eugenia negativa, a qual pregava a esterilização compulsória, o aborto seletivo e a regulamentação de casamentos (STEPAN, 2005). no Brasil, uma vez que o alcoolismo era interpretado como um “veneno racial”, uma das grandes causas da degeneração da “raça brasileira”. Neiva acrescentou também ao decreto a consideração de que “o esporte atende aos mais altos interesses eugênicos” (SÃO PAULO, 1931a). O esporte seria pensado, nesse sentido, como uma forma de educação moral que impediria a propagação de vícios e males que supostamente poderiam prejudicar a hereditariedade da população brasileira. Para Neiva, a criação do DEF-SP atendia a um projeto de moralização dos costumes da população quanto aos seus divertimentos e estava alinhada aos debates estabelecidos pelo movimento eugenista, desde o final da década de 1910, em defesa das supostas virtudes morais da prática esportiva. Ao comentar sobre a criação do DEF-SP, em correspondência trocada com Benedito Augusto de Freitas Montenegro (1888-1979),9 9 Montenegro formou-se em medicina pela Universidade da Pensilvânia. Foi professor da Faculdade de Medicina de São Paulo. No campo esportivo, liderou a Associação Atlética do Mackenzie College. então secretário da Educação e da Saúde Pública,10 10 O DEF-SP foi criado em janeiro de 1931 diretamente subordinado à Secretaria do Interior, mas passou a compor, a partir de março de 1931, a Secretaria da Educação e da Saúde Pública do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1931a, 1931b). “De janeiro a novembro de 1931, ocuparam sucessivamente o posto de secretário do Interior ou da Educação, os srs. drs. Arthur Neiva, Edmundo Navarro de Andrade, Theodoro Ramos, Benedito Montenegro, Alberto de Oliveira Coutinho e A. de Almeida Prado” (SÃO PAULO, 1936, p. 297, grifos nossos). Montenegro trocou correspondência com Neiva, em abril de 1931, solicitando mais informações sobre as suas pretensões ao criar o DEF-SP, pois assumira naquela data a direção da Secretaria da Educação e da Saúde Pública (NEIVA, 1931). Neiva (1931, p. 6) expôs de maneira detalhada sua visão do esporte enquanto fator eugênico, afirmando que:

Devemos dar a mentalidade da mulher brasileira a consciência de que no companheiro que vai escolher, deve querer além dos dotes morais e intelectuais, um de importância decisiva: que filhos o futuro marido lhe dará, isto é, a mulher deverá ter horror a homens de faces macilentas, tipos de 1830, capazes de dizer versos e orações famosas, mas também procriadores de seres informes que vão atentar contra o futuro da própria raça.

A argumentação coincide com os ideais esportivos defendidos por Neiva nos artigos que havia publicado em 1922 no jornal O Estado de S. Paulo. A elaboração dos artigos foi motivada em resposta à polêmica iniciada por Carlos Sussekind de Mendonça (1899-1968),11 11 Sussekind de Mendonça formou-se pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro e atuou como promotor até 1931. Ao longo de sua carreira, publicou ensaios literários de temas variados. ensaísta que criticou a prática esportiva por supostamente deseducar os mais jovens ao afastá-los dos livros. Seu principal opositor em São Paulo foi justamente Neiva, que argumentava que o esporte deveria se tornar um elemento a ser cultuado pela elite dirigente, por conta de sua presumida capacidade de formar personalidades fortes, viris e disciplinadas (NEIVA, 1929NEIVA, Arthur. Daqui e de longe... chronicas nacionaes e de viagem. São Paulo: Melhoramentos, 1929.). Na citação destacada anteriormente, Neiva retomou a defesa do esporte, não mais ironizando a tese de Sussekind de Mendonça (1921MENDONÇA, Carlos Sussekind de. O sport está deseducando a mocidade brasileira. Rio de Janeiro: Empreza Brasil, 1921.) de que a prática esportiva afastava a juventude da formação intelectual, mas colocando aqueles que não aderiam à cultura esportiva como antiquados e responsáveis pela degeneração da raça por não desenvolverem fisicamente seus corpos. Muito embora não chegasse a expressar as bandeiras da eugenia negativa, ele advogava pela criação entre as mulheres do gosto por parceiros de aparência física atlética para o desenvolvimento de uma prole geneticamente selecionada. Tratava-se de uma estratégia adotada pelos intelectuais ligados à eugenia preventiva para promover mudanças mais profundas no âmbito da cultura, ou seja, ensinar ao desejo humano o que desejar em benefício de uma visão particular de mundo. A interpretação de Neiva sobre o artigo que estabelecia como função do DEF-SP “incentivar a educação física feminina” (SÃO PAULO, 1931aSÃO PAULO (Estado). Decreto n. 4.855, de 27 de janeiro de 1931. Cria o Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo. São Paulo, 1931a.) provavelmente caminhava no mesmo sentido, ou seja, da formação de corpos femininos considerados aptos a gerarem filhos “geneticamente fortes”.12 12 Segundo Goellner (2000), o incentivo à educação física feminina com fins reprodutivos era um argumento bastante recorrente na época. Na correspondência com Benedito Montenegro, Neiva comentou que considerava indispensável que o DEF-SP atuasse no sentido de “levar o amor ao esporte sobretudo aos meios femininos” e acrescentou que

O Sr. poderá encontrar um grande exemplo no que fez, em poucos anos, na Alemanha, onde a mulher tomou um interesse, sem precedentes, pelo esporte e quase que estou certo ser a nação que, nesse particular, está mais adiantada de todo mundo. (NEIVA, 1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931., p. 6)

Entre as alterações realizadas por Neiva na proposta formulada pela comissão de estudos, alguns artigos foram suprimidos, como o que se referia a “velar pela moralização dos torneios esportivos, intervindo, sempre que necessário, junto aos seus promotores e responsáveis” (BAYMA et al., 1931BAYMA, Antonio Smith et al. Decreto. 10 jan. 1931. (documento datilografado - CPDOC).). A retirada do artigo esteve associada aos conflitos que poderiam gerar a intervenção direta de uma nova estrutura administrativa sobre as entidades esportivas privadas, as quais eram, até então, as únicas responsáveis por fomentar a prática esportiva em São Paulo. Neiva também suprimiu os dizeres que permitiriam ao DEF-SP liberar o funcionamento apenas de agremiações e federações esportivas que preenchessem um mínimo de exigências técnicas, assim como as multas inicialmente previstas para aqueles que não cumprissem as suas determinações. Também ficou de fora do decreto a elevação das taxas cobradas sobre a venda de entradas das competições esportivas, pensada inicialmente como uma forma de custear os trabalhos do DEF-SP (BAYMA et al., 1931BAYMA, Antonio Smith et al. Decreto. 10 jan. 1931. (documento datilografado - CPDOC).). As alterações na proposta inicial revelam a preocupação de não impor uma ação repressora e evitar confrontos com federações e clubes (ANNIVERSÁRIO..., 1932ANNIVERSARIO do Departamento de Educação Physica, O. Folha da Manhã, São Paulo, p. 12, 30 jan. 1932.). Rodrigues, um dos nomes que compuseram a comissão de estudos encarregada de formular o projeto para a criação do DEF-SP, afirmou que as relações entre o DEF-SP e as entidades esportivas seria um ponto delicado, tendo que ser pensada com diplomacia para que conflitos não se iniciassem (QUE SERIA..., 1931). Ao se recordar do momento de criação do DEF-SP, Neiva (1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931., p. 6) afirmou que diminuiu os ordenados previstos inicialmente para subsidiar as ações da repartição estadual “pelo receio da grita que os amigos temiam iria a levantar nos meios esportivos, coisa que estou convencido até hoje eles exageraram”.

AS PRIMEIRAS AÇÕES DO DEF-SP: ORIENTAR, DIRIGIR E FISCALIZAR

Logo após a criação do DEF-SP, foram nomeados Bayma como seu diretor, Ribeiro como inspetor técnico e Américo Netto como secretário geral (NOMEAÇÕES..., 1931NOMEAÇÕES para o novo departamento, As. Diário Nacional, São Paulo, p. 5, 27 jan. 1931.). Meses depois, o médico e cronista esportivo Arne Ragnar Enge13 13 Enge era cronista esportivo do jornal Folha da Manhã. Formado pela Faculdade de Medicina de São Paulo, em 1929, com trabalho de conclusão de curso intitulado “Do controle médico da educação física”. se juntou ao grupo na função de inspetor técnico (INSPECTOR..., 1931INSPECTOR technico de educação physica. Folha da Manhã, São Paulo, p. 10, 22 out. 1931.). Para que o DEF-SP conseguisse implementar os projetos estabelecidos no seu decreto de criação, foi necessário, no entanto, estreitar suas relações com as entidades esportivas existentes em São Paulo. Os temores dos colegas de Neiva não eram de todo exagerados. Na imprensa, além das manifestações de congratulações e aplausos à iniciativa do estado, também foram veiculados alguns alardes que se levantaram entre médicos e dirigentes esportivos (ACERTADA..., 1931ACERTADA iniciativa, Uma. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 8, 25 jan. 1931.; PROBLEMA..., 1931PROBLEMA de nossa cultura physica, O. Folha da Manhã, São Paulo, p. 14, 27 jan. 1931.; PELO REVIGORAMENTO..., 1931; AMARAL, 1931aAMARAL, F. Pompêo. Grandiosidades. Folha da Manhã, São Paulo, p. 13, 28 jan. 1931a., 1931bAMARAL, F. Pompêo. O que não se deve fazer. Folha da Manhã, São Paulo, p. 14, 20 jan. 1931b.; SILVEIRA, 1931SILVEIRA, J. Dias. Uma crítica antecipada. Folha da Manhã, São Paulo, p. 14, 5 fev. 1931.).

Um dos maiores receios foi justamente a possível ingerência que a nova repartição estadual poderia promover sobre as atividades desenvolvidas pelos clubes e federações. As declarações mais contundentes vieram de Elpídio de Paiva Azevedo, diretor da entidade esportiva de maior representatividade em São Paulo, a Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea) (NÃO SE DEVE..., 1931NÃO SE DEVE confundir prática esportiva com cultura physica. Folha da Manhã, São Paulo, p. 14, 4 fev. 1931.). Ao que tudo indica, o receio advinha principalmente do fato de não haver nenhum representante da Apea entre os nomeados para compor o quadro de funcionários do DEF-SP e por conta de disputas a respeito do nome de Américo Netto (FABBRI, 1931aFABBRI, Honorino. Encerrando a questão. Folha da Manhã, São Paulo, p. 6, 14 fev. 1931a., 1931bFABBRI, Honorino. Errou o alvo. Folha da Noite, São Paulo, p. 6, 16 fev. 1931b., 1931cFABBRI, Honorino. Resposta necessária. Folha da Manhã, São Paulo, p. 17, 8 fev. 1931c.). Os cronistas esportivos logo se articularam na defesa do DEF-SP e Bayma não tardou em realizar uma visita diplomática à Apea assim que assumiu a direção do Departamento (PRESIDENTE..., 1931PRESIDENTE do Departamento de Educação Physica visita a sede da Associação Paulista de Esportes Athleticos, O. Diário Nacional, São Paulo, p. 1, 6 fev. 1931.).

Junto às estruturas do DEF-SP, estava prevista a formação de comissões de ginástica, escotismo, natação e polo aquático, remo, futebol, tênis e golfe, esgrima e tiro, hipismo, basquete e voleibol, pugilismo e luta, basebol e esportes mecânicos (SÃO PAULO, 1931aSÃO PAULO (Estado). Decreto n. 4.855, de 27 de janeiro de 1931. Cria o Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo. São Paulo, 1931a.). As comissões poderiam agir justamente como um ponto de intersecção e comunicação entre o DEF-SP e as diferentes federações esportivas existentes em São Paulo naquele momento. Das comissões previstas, a primeira a ser criada foi a de atletismo, composta por Max de Barros Erhart,14 14 Erhart formou-se pela Faculdade de Medicina de São Paulo e era presidente da Federação Paulista de Atletismo na ocasião. Plínio Botelho do Amaral e Mário Teixeira de Freitas, todos nomes ligados à Federação Paulista de Atletismo (FPA) (DEPARTAMENTO..., 1931aDEPARTAMENTO de Educação Physica: suas atividades iniciais I. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 7, 28 maio 1931a.; INSTALOU-SE..., 1931INSTALOU-SE o Departamento de Educação Physica. Diário Nacional, São Paulo, p. 2, 21 jun. 1931.).

A maior aproximação entre o DEF-SP e as federações esportivas começaria a se estabelecer na ocasião de um aumento dos impostos municipais que incidiam sobre os ingressos das partidas esportivas. Naquele momento, a Apea solicitou a intervenção do DEF-SP para reverter o aumento dos impostos municipais e reduzir o valor dos alvarás de licença cobrados pela polícia para o funcionamento de espaços esportivos (DR. ANTONIO..., 1931DR. ANTONIO Bayma julga absurdos os impostos que oneram os clubes esportivos de S. Paulo, O. Diário Nacional, São Paulo, p. 6, 20 ago. 1931.). Uma reunião foi organizada com a Apea e demais federações esportivas paulistas15 15 Federação Paulista das Sociedades do Remo, Federação Paulista de Atletismo, Federação Paulista de Tênis, Federação Paulista de Bola ao Cesto, Sociedade Hípica Paulista, Federação Paulista de Pugilismo. para discutir a questão. Na ocasião, o diretor do novo departamento estadual aproveitou para afirmar que “não era intenção do governo intervir repentinamente e modo minucioso na organização e no funcionamento das coletividades esportivas” (COGITANDO..., 1931, p. 8). Na imprensa foi noticiado que o DEF-SP estudava formas de reverter os impostos municipais sobre os divertimentos públicos,16 16 Divertimentos públicos eram compreendidos tanto como eventos de caráter artístico (peças de teatro, apresentações musicais e circenses, sessões de cinema e bailes) quanto como eventos esportivos (QUESTÃO..., 1931). então destinados à assistência hospitalar, para a construção de um estádio modelo e para a organização de uma escola superior de educação física (DEPARTAMENTO..., 1931f). O estudo realizado pelo DEF-SP se estabeleceu no “sentido de obter redução dos impostos que oneram a educação física, e também conseguir unificá-los sob uma única entidade taxadora, que seria o Estado” (DEPARTAMENTO..., 1932DEPARTAMENTO de Educação Physica: seu primeiro aniversário. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 5, 29 jan. 1932., p. 5). A intenção do DEF-SP em unificar os impostos e revertê-los da administração municipal para a estadual era justamente redirecioná-los em seu proveito próprio, para que conseguisse os recursos financeiros necessários para custear seus trabalhos (QUESTÃO..., 1931QUESTÃO dos impostos esportivos, A. Folha da Noite, São Paulo, p. 6, 29 out. 1931.).

O estabelecimento de multas às entidades esportivas que não cumprissem as determinações do DEF-SP e o aumento de impostos cobrados aos clubes e federações, como proposto inicialmente pela comissão de estudos, por certo gerariam uma repercussão bastante negativa. Em oposição, a criação de comissões esportivas e a tentativa de desonerar parte dos impostos que incidiam sobre os clubes e federações poderiam proporcionar a consolidação da união pretendida entre o Estado e as entidades esportivas, sem que houvesse grandes embates, afirmando o DEF-SP como a principal entidade reguladora do esporte em São Paulo. Ao tentar reverter os impostos para a administração estadual, o DEF-SP estabelecia também uma estratégia para obter os recursos financeiros para garantir seu pleno funcionamento. A construção de um estádio modelo e a abertura de uma escola superior de educação física com os impostos pagos constituíam importantes promessas do DEF-SP para convencer os dirigentes esportivos. Outra medida tomada para beneficiar os clubes e federações foi o contato estabelecido por Bayma com a Contadoria Central Ferroviária na tentativa de reduzir o valor das passagens dos esportistas que precisassem se deslocar para participar de campeonatos (DEPARTAMENTO..., 1931cDEPARTAMENTO de Educação Physica em ação, O. Folha da Manhã, São Paulo, p. 11, 1 set. 1931c.; É MUITO..., 1931É MUITO provável que as estradas de ferro attendam ao pedido do Departamento de Educação Physica. Folha da Manhã, São Paulo, p. 10, 3 set. 1931.).

No entanto, nenhuma das iniciativas se efetivou em 1931. Neiva aventou a hipótese de taxar os bilhetes de aposta das corridas de cavalo para custear os trabalhos do DEF-SP, mas reconhecia a dificuldade de implementação do novo imposto devido aos “privilégios especiais que os prados de corrida tinham em São Paulo” (NEIVA, 1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931., p. 5). Durante a direção de Antônio de Almeida Prado (1889-1962)17 17 Almeida Prado formou-se em medicina no Rio de Janeiro e trabalhou como professor da Faculdade de Medicina de São Paulo. Foi diretor do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo de outubro a dezembro de 1930 e secretário da Educação e Saúde Pública do Estado de São Paulo de julho a novembro de 1931. frente à Secretaria da Educação e da Saúde Pública, foi cogitado ainda o aumento de 2% no imposto das passagens de trem para subsidiar o DEF-SP (DEPARTAMENTO..., 1932DEPARTAMENTO de Educação Physica: seu primeiro aniversário. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 5, 29 jan. 1932.). Essas propostas também não se efetivaram e a falta de recursos financeiros acabou sendo um dos principais entraves para a concretização plena dos planos estabelecidos para o DEF-SP no seu primeiro ano de funcionamento (ANNIVERSARIO..., 1932ANNIVERSARIO do Departamento de Educação Physica, O. Folha da Manhã, São Paulo, p. 12, 30 jan. 1932.; DEPARTAMENTO..., 1932DEPARTAMENTO de Educação Physica: seu primeiro aniversário. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 5, 29 jan. 1932., HISTORIANDO..., 1931HISTORIANDO a ação do nosso Departamento de Educação Physica. Folha da Noite, São Paulo, p. 6, 10 dez. 1931.).

Ainda que limitado ao seu baixo orçamento, o DEF-SP não deixou de colocar em prática algumas ações e, em maio de 1931, deu início ao recenseamento esportivo, sendo enviados cerca de 400 questionários às associações esportivas e prefeituras de todo o estado, com o objetivo de conhecer de forma pormenorizada a situação de cada clube (DEPARTAMENTO..., 1931bDEPARTAMENTO de Educação Physica: suas atividades iniciais II. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 7, 29 maio 1931b., 1931dDEPARTAMENTO de Educação Physica está realizando o recenseamento de nossos clubes, O. Folha da Manhã, São Paulo, p. 13, 16 jul. 1931d.; INQUERITOS..., 1931INQUERITOS do Departamento de Educação Physica, Os. Folha da Noite, São Paulo, p. 7, 17 set. 1931.; RECENSEAMENTO..., 1931RECENSEAMENTO esportivo de S. Paulo, O. Folha da Manhã, São Paulo, p. 12, 14 out. 1931.). As questões eram bastante minuciosas e abordavam diversos aspectos dos clubes, como suas estruturas físicas, modalidades esportivas praticadas, número de sócios, profissionais contratados e impostos pagos. Com o recenseamento, o DEF-SP, ao mesmo tempo que requisitava informações sobre os clubes, se colocava próximo dos mesmos, estabelecendo-se como uma entidade que poderia trazer benefícios ao trabalho desenvolvido no interior de cada um. Foi a partir das informações dos 131 clubes que responderam aos questionários, por exemplo, que o DEF-SP elaborou o estudo que solicitava a redução e a unificação dos impostos pagos pelos clubes e federações (RECENSEAMENTO..., 1931RECENSEAMENTO esportivo de S. Paulo, O. Folha da Manhã, São Paulo, p. 12, 14 out. 1931.; HISTÓRICO..., 1936HISTÓRICO do Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo, de 1931 e 1934. Revista de Educação Física, Rio de Janeiro, v. 5, n. 31, p. 40, maio 1936.).

Para Neiva, entre as questões que o DEF-SP deveria se ocupar logo de início, encontrava-se “a realização de um grande estádio e procurar a todo o transe desenvolver o atletismo segundo normas modernas, sem matar o futebol que é jogado em todo o país e o único esporte que atrai a massa criando o indispensável ambiente para pugnas melhores” (1931, p. 1). Como já abordamos, a construção de um estádio modelo era uma das grandes reivindicações dos cronistas esportivos, muitos deles dirigentes de clubes e federações. Conforme analisado por Sevcenko (1992SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.), a paixão pelo futebol cresceu rápido em São Paulo, não havendo naquele momento infraestrutura e serviços urbanos capazes de garantir sua plena vazão e desenvolvimento. Diversas partidas recebiam um número de torcedores acima do que os espaços até então existentes poderiam comportar. Os ânimos acirrados das torcidas rivais comprimidas em estreitos espaços e com instalações precárias eram, muitas vezes, refreados pela ação policial. Neiva (1931, p. 5) inquietava-se com a possibilidade de se chegar ao ponto de “se disputar o futebol protegendo os jogadores do público por três fileiras de arame farpado”. Outra questão divulgada na imprensa e para a qual se requisitava a intervenção do DEF-SP eram as brigas entre os jogadores das equipes adversárias que disputavam as partidas de futebol (SÓ O DEPARTAMENTO..., 1931SÓ O DEPARTAMENTO de Educação Physica é capaz de impedir a repetição de lamentáveis incidentes em nosso futebol. Folha da Noite, São Paulo, p. 6, 30 set. 1931.). Nas ações a serem tomadas pelo DEF-SP, Neiva (1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931., p. 2) considerava imprescindível que não se “matasse” o futebol simplesmente, tendo em vista que “sem esse jogo [...] nunca teremos ambiente para selecionar corpos de atletas”. Ademais, era o futebol, pelo seu poder de atrair a atenção da população, a modalidade que garantia maior retorno financeiro aos clubes e federações: “Como quase tudo depende de dinheiro, só o futebol poderá dar recursos para as sociedades manterem corpos de atletas, guarnições de remadores, turmas de nadadores, etc.” (NEIVA, 1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931., p. 2). A sua esperança era de que o DEF-SP encontrasse meios adequados para que os jogos de futebol não se transformassem em “rudes pelejas em que a polícia terá que intervir cada vez em maior número e mais valentemente” (NEIVA, 1931, p. 5). Como solução, Neiva considerava necessários a construção de um estádio e o desenvolvimento do atletismo, apreciado por ele como uma das formas mais adequadas de preparação corporal, a exemplo da tradição anglo-americana de educação física.

Em julho de 1931, o DEF-SP apresentou um plano para a construção de um grande estádio no bairro do Pacaembu, em terreno doado ao município pela Companhia City (DEPARTAMENTO..., 1931eDEPARTAMENTO de Educação Physica vae construir o Estádio do Pacaembu, O. Folha da Manhã, São Paulo, p. 12, 14 jul. 1931e.). Apesar de a construção do estádio não ter se efetivado naquele momento, o DEF-SP procurou incorporar à sua biblioteca material bibliográfico a respeito do tema e elaborou um plano de padronização dos campos de futebol existentes em São Paulo, ou seja, de uniformização de suas medidas. O plano apresentava, ainda, propostas para implementar ao redor dos campos “pistas sumárias de atletismo, a fim de favorecer a expansão dos esportes atléticos” (HISTÓRICO..., 1936, p. 40). Outra ação sugerida por Neiva (1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931., p. 4) era de o DEF-SP encontrar formas de não permitir “a prática esportiva em nenhum lugar público e particular, sem prévio consentimento da repartição oficial”, como dizia ocorrer no Chile. Esta poderia ser também uma medida para criar o “ambiente para pugnas melhores” que Neiva se referia ao comentar sobre o futebol.

Se, por um lado, a prática esportiva era considerada uma forma de desenvolver corpos saudáveis, de personalidade forte e moral virtuosa, tornava-se imperativo para os intelectuais paulistas enfrentar o seu outro lado, associado à improvisação, ao vício e ao descontrole. Ao que tudo indica, a medida de proibir a prática esportiva em lugares que não tivessem o aval do DEF-SP consistia em uma forma de apaziguar “as queixas, reclamações e apelos do público e da redação [dos jornais] contra os jogos improvisados de futebol, promovidos dentre os operários, pelas ruas e praças da cidade”, conforme relatado por Sevcenko (1992SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992., p. 61). Nesse sentido, podemos compreender, de forma mais ampla, que ao regulamentar os espaços da prática esportiva, o DEF-SP pretendia também combater o esporte informal, caracterizado, nas colunas policiais, como indisciplinado e fonte de perturbação da ordem pública e, no discurso eugenista, como moralmente pernicioso e uma extrapolação dos limites da fadiga física.

A medida aventada por Neiva poderia oferecer condições práticas para estimular a atividade esportiva considerada eugênica e coibir as demais, mantendo sob a vista dos inspetores técnicos do DEF-SP o que ocorria no cenário esportivo estadual. Ao procurar organizar os esportes praticados nos clubes e federações, a recém-criada repartição estadual conferia um status de oficial a essa prática, colocando as demais sob suspeita. Cabe ressaltar que suas ações nos clubes paulistas tinham por objetivo tanto orientar a construção dos espaços esportivos, promovendo a criação de pistas de atletismo para o treinamento físico, quanto implementar um controle médico sobre o corpo dos atletas, de modo a configurar formas específicas ao fenômeno esportivo (VIMIEIRO-GOMES; DALBEN, 2011VIMIEIRO-GOMES, Ana Carolina; DALBEN, André. O controle médico-esportivo no Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo: aproximações entre esporte e medicina nas décadas de 1930 e 1940. História, Ciência, Saúde: Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 321-336, jun. 2011.).

Desse modo, percebe-se que não era qualquer prática esportiva que seria considerada pelo DEF-SP uma atividade benéfica ao corpo e à formação moral. Para que o esporte apresentasse o caráter eugênico requisitado, tornava-se necessário, antes de mais nada, orientá-lo segundo padrões condizentes com os parâmetros médico-higienistas. Como analisado por Gambeta (2015GAMBETA, Wilson. A bola rolou: o Velódromo Paulista e os espetáculos de futebol (1895-1916). São Paulo: Sesi-SP Editora, 2015., p. 414), “os jovens que se apropriam do futebol nos campos informais visavam à diversão e não estavam sujeitos ao treinamento nem as orientações de qualquer entidade”. A regulamentação do esporte no estado visava, assim, à diminuição das práticas indiscriminadas das atividades “esportivas nas várzeas e terrenos baldios da cidade, fazendo com que as pessoas utilizassem lugares ‘apropriados’ a esta prática” (MASTROROSA, 2003MASTROROSA, Adriano. Departamento de Educação Física, Escola Superior de Educação Física e Associação dos Professores de Educação Física: o ordenamento da Educação Física no Estado de São Paulo no início da década de 1930. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003., p. 32): o clube e o estádio providos de pistas de atletismo, sob supervisão médica e de um professor da educação física. O que estava em jogo era a criação de estratégias para se definir uma educação física e moral baseada nos esportes, por meio da regulamentação dos espaços onde ocorriam as práticas e os treinos esportivos.

Entre as reivindicações que o DEF-SP procurava atender, encontravam-se tanto a dos cronistas esportivos, pela construção do estádio, quanto a de médicos e professores pela criação de espaços ao ar livre para a prática de exercícios físicos pela população infantil. É nesse sentido que o decreto assinado por Neiva trazia como atribuição do DEF-SP “estabelecer e dirigir campos de recreio e jogos” (BAYMA et al., 1931BAYMA, Antonio Smith et al. Decreto. 10 jan. 1931. (documento datilografado - CPDOC).; SÃO PAULO, 1931a). É importante observar que o primeiro playground paulistano foi inaugurado em dezembro de 1930, pelo então prefeito Anhaia Mello (INAUGURA-SE..., 1930; PRIMEIRO..., 1930), mesmo momento que se encontrava reunida a comissão de estudos para a criação do DEF-SP. Ao longo de 1931, o DEF-SP realizou:

Seleção de locais para a instalação de parques infantis em vários pontos da capital, de preferência nos bairros operários de maior população [...] Propaganda desenvolvida junto as municipalidades do interior de São Paulo, no sentido de levá-las a instalar em suas sedes parques infantis, com aparelhamento econômico indicado pelo Departamento, ou, então, a ir reservando, desde já, áreas adequadas para a futura instalação de tais parques. (DEPARTAMENTO..., 1932DEPARTAMENTO de Educação Physica: seu primeiro aniversário. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 5, 29 jan. 1932., p. 5; ANNIVERSARIO..., 1932, p. 12)

Apesar de o decreto de criação do DEF-SP prever como de sua responsabilidade a direção de espaços reservados ao recreio e aos jogos, sua atuação se deu no sentido de propagar a ideia dos parques infantis às cidades do interior e selecionar locais na capital para a construção de novas unidades. Em março de 1931, o prefeito Anhaia Mello passou a administração do primeiro playground, então instalado no interior do Parque Dom Pedro II, para a sociedade filantrópica Cruzada Pró-Infância (MELHOR..., 1931MELHOR aproveitamento do “playground” do parque Pedro II: a grande praça de recreio infantil será confiada a Cruzada Pró-Infância. Diário Nacional, São Paulo, p. 5, 19 mar. 1931.). A sua atuação se consolidaria anos mais tarde, a partir de 1939, quando se tornou o principal órgão de difusão dos parques infantis para cidades do interior do estado de São Paulo (KUHLMANN JR., 2017KUHLMANN JR., Moysés. Processos de difusão do parque infantil e instituições congêneres no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 9., 2017, João Pessoa. Anais Eletrônicos [...] João Pessoa: UFPB, 2017. p. 165-176.; FONSECA; FERREIRA; PRANDI, 2015FONSECA, Sérgio César de; FERREIRA, Débora Menengotti; PRANDI, Maria Beatriz Ribeiro. O Departamento de Educação Física de São Paulo e a interiorização dos Parques Infantis: o caso de Ribeirão Preto. História e Cultura, Franca, v. 4, n. 2, p. 237-261, set. 2015.; DALBEN, 2009DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e educação física em São Paulo (1930-1945). 2009. 170 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.).

É necessário destacar que, entre as atribuições previstas no decreto de criação do DEF-SP, praticamente nenhuma versava sobre a educação física no âmbito escolar. Apenas o oitavo artigo instituía que periodicamente poderia “nomear uma comissão para verificar a orientação dos exercícios de educação física nas escolas públicas e particulares, dando parecer a respeito” (SÃO PAULO, 1931a). O trabalho realizado em 1931, no entanto, se configurou no formato de um inquérito, com envio de questionários às 51 escolas públicas existentes na capital paulista, versando sobre a possível existência de locais específicos para as aulas de ginástica nos prédios escolares e a sua frequência semanal (RIBEIRO; DETTHOW, 1932RIBEIRO, Benjamin Alves; DETTHOW, Fritjof. Inquerito sobre as condições actuaes do ensino de gymnastica. Educação, São Paulo, v. 7, n. 4/5, p. 81-87, abr./maio 1932.). Benjamin Alves Ribeiro18 18 Ribeiro formou-se pela Faculdade de Medicina de São Paulo e foi professor do Instituto de Higiene. Foi inspetor técnico de educação física na Diretoria de Instrução Pública do Estado de São Paulo a partir de 1927. No final de 1930, compôs a comissão de estudos encarregada de formular o projeto para a criação do DEF-SP e, a partir de 1931, passou a acumular o cargo de inspetor técnico também no DEF-SP. Foi também vice-presidente da Federação Paulista das Sociedades de Remo. e Fritjof Detthow,19 19 “Especialista laureado na Suécia pelo Instituto Central de Stockholm e contratado pelo governo para semear as doutrinas de Henrik Ling na Escola Normal da Capital” (SÃO PAULO, 1926, p. 314). Detthow foi assistente técnico de educação física da Diretoria de Instrução Pública do Estado de São Paulo. A Profa. Dra. Andrea Moreno tem pesquisado a participação de Detthow na divulgação e apropriação do método sueco de ginástica no Brasil. nomes ligados à Diretoria de Instrução Pública do Estado de São Paulo (DIP-SP), foram os responsáveis pela elaboração do relatório final e por realizar visitas às escolas investigadas. O inquérito ofereceu um panorama sobre a presença da ginástica no cotidiano escolar de São Paulo daquele momento e possibilitou a realização de algumas sugestões de reformas nos edifícios escolares para que o seu ensino fosse ampliado (INICIATIVA..., 1931). Mais do que uma iniciativa própria do DEF-SP, o inquérito parece ter sido uma continuidade dos trabalhos que a DIP-SP20 20 A Diretoria de Instrução Pública do Estado de São Paulo teve o educador Manuel Bergström Lourenço Filho (1897-1970) como diretor geral em 1931. já vinha desenvolvendo há algum tempo, tendo o DEF-SP prestado colaboração a partir de sua criação (SR. LOURENÇO..., 1931; INQUERITO..., 1931; CULTURA..., 1931).

O vínculo entre as duas repartições estaduais também se estreitou com os cursos para professoras normalistas promovidos em 1931. Tratava-se de “dois cursos sumários de educação física, um de caráter rápido, para professoras do interior e outro mais desenvolvido, conquanto ainda elementar, para professoras da capital paulista” (ORGANIZAÇÃO..., 1944ORGANIZAÇÃO da educação física no estado de São Paulo, A. Revista Brasileira de Educação Física, Rio de Janeiro, v. 1, n. 5, p. 6-9, maio 1944., p. 6). O primeiro curso, realizado em maio e denominado curso de uniformização de ginástica sueca, foi dirigido por Detthow e contou com 26 alunos. Seus assistentes, Carmen de Barros e Alfredo Ebert, ficaram responsáveis por ministrar as aulas práticas; Benjamin Alves Ribeiro, pelas aulas de ginástica médica; e Bernardo Itapema Alves,21 21 Alves formou-se pela Faculdade de Medicina de São Paulo e trabalhou na Santa Casa de Misericórdia. pelas aulas de ginástica ortopédica (DESENVOLVIMENTO..., 1931). O segundo curso, realizado em outubro e novembro e denominado curso elementar de educação física, contou com 40 alunos, sendo que as aulas teóricas ocorreram na Escola Normal Caetano de Campos e as práticas no Instituto Jaguaribe. Detthow assumiu a disciplina de ginástica; Itapema Alves, a de deficiências físicas na idade escolar; Arne Enge, as de anatomia e fisiologia; Américo Netto, a de história da educação física; e Oswaldo Diniz Magalhães,22 22 Magalhães iniciou curso de educação física no Instituto Técnico da Associação Cristã de Moços do Rio de Janeiro em 1924 e o concluiu na matriz do instituto em Montevidéu em 1927. Entre a conclusão dos estudos para a criação do DEF-SP e a promulgação do seu decreto de criação, Magalhães enviou correspondência para Neiva com cópia de uma de suas conferências, na qual defendia a criação de um sistema de departamentos estaduais e de escolas superiores de educação física (MAGALHÃES, 1931). a de jogos educativos (CURSO..., 1931MAGALHÃES, Oswaldo Diniz. Correspondência com Arthur Neiva, São Paulo, 16 jan. 1931.a). O tenente Silvio Santa Rosa, diretor do Centro Regional de Educação Física do Exército, foi convidado pelo DEF-SP para ministrar aula de biometria (CURSO..., 1931b).

O primeiro curso contou com a presença de Benjamin Alves Ribeiro, nome que garantia a interlocução entre a DIP-SP e o DEF-SP, uma vez que ocupava concomitantemente os cargos de inspetor técnico nas duas repartições estaduais. Mas foi no segundo curso que de fato se consolidou a atuação conjunta da DIP-SP e do DEF-SP, sendo o seu corpo docente composto por funcionários de ambas repartições. As ações mais efetivas do DEF-SP no que se refere à ginástica iniciaram-se logo após a conclusão do primeiro curso, quando foi criada a sua comissão de ginástica, composta por Bernardo Itapema Alves, Oswaldo Diniz Magalhães e Alberto ReichenbacMAGALHÃES, Oswaldo Diniz. Correspondência com Arthur Neiva, São Paulo, 16 jan. 1931. 23 23 Reichenbach foi professor de ginástica do Clube Atlético Paulistano. (DEPARTAMENTO..., 1931a). O nome de Magalhães era especialmente relevante por ser diretor de educação física da Associação Cristã de Moços (ACM), entidade com a qual o DEF-SP vinha estabelecendo proximidade desde a sua criação (CLASSE..., 1931; REALIZA-SE..., 1931; MAGALHÃES, 1931MAGALHÃES, Oswaldo Diniz. Correspondência com Arthur Neiva, São Paulo, 16 jan. 1931.).

A realização do segundo curso visava assegurar a ampliação da implementação da ginástica no sistema de ensino a partir da habilitação das professoras normalistas na disciplina de educação física. Configurou-se como parte da reforma do ensino normal promovida por Lourenço Filho, a qual separou os exercícios de educação física do regime de aulas do curso de normalistas (SR. LOURENÇO..., 1931SR. LOURENÇO Filho, diretor geral de ensino, fala a Folha da Manhã sobre a reforma do ensino normal, O. Folha da Manhã, São Paulo, p. 1, 19 fev. 1931.; CULTURA..., 1931CULTURA physica nos grupos escolares. Folha da Noite, São Paulo, p. 6, 6 maio 1931.). O plano do DEF-SP de criar uma escola superior de educação física, instituído no seu decreto de criação, não se consolidou naquele momento. Era sobretudo por meio de uma escola superior própria que o DEF-SP almejava congregar os profissionais que deteriam o saber científico referente à educação física e que atuariam na condição de professores técnicos, levando adiante seu projeto de institucionalização do esporte e da educação física no estado de São Paulo (GÓIS JR., 2017GÓIS JR., Edivaldo. A institucionalização da educação física na imprensa: a construção da Escola Superior de Educação Physica de São Paulo na década de 1930. Movimento, Porto Alegre, n. 2, p. 701-714, abr./jun. 2017.; DALBEN, 2009DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e educação física em São Paulo (1930-1945). 2009. 170 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.; GNECCO, 2005GNECCO, José Roberto. Reforma universitária e a USP: a integração da Escola de Educação Física em 1969. 2005. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.; MASTROROSA, 2003MASTROROSA, Adriano. Departamento de Educação Física, Escola Superior de Educação Física e Associação dos Professores de Educação Física: o ordenamento da Educação Física no Estado de São Paulo no início da década de 1930. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003.).

Nem todas as finalidades atribuídas ao DEF-SP em seu decreto de criação puderam ser iniciadas em 1931. Observa-se que as ações tomadas pelos sujeitos que participaram do DEF-SP naquele momento foram se adaptando às forças políticas vigentes e à realidade encontrada. Apesar de não apresentar em seu decreto de criação praticamente nenhuma atribuição que versava sobre a educação física escolar, o DEF-SP estabeleceu parcerias com a DIP-SP para fomentar a prática da ginástica às crianças atendidas pelo sistema de ensino. Já a atuação do DEF-SP no campo dos esportes se estabeleceu a partir de parcerias com clubes e federações, apostando no atletismo como a forma de treinamento corporal mais benéfica para jovens e adultos (HISTORIANDO..., 1931HISTORIANDO a ação do nosso Departamento de Educação Physica. Folha da Noite, São Paulo, p. 6, 10 dez. 1931.). Tratava-se, pois, de um projeto que visava orientar, dirigir e fiscalizar a educação física ofertada tanto pelo sistema de ensino quanto pelos clubes e federações, abrangendo todas as idades. Suas ações iniciais, no entanto, foram interrompidas pelos conflitos armados da Revolução Constitucionalista de 1932. Mas este já é um outro capítulo de sua história...

CONCLUSÃO

Ao criar o DEF-SP, Neiva almejava afirmar São Paulo na vanguarda esportiva do país. Sua ideia principal era alavancar ainda mais o esporte em São Paulo, estado representado por ele pela metáfora da pujante locomotiva que carregava os demais vagões da economia brasileira.24 24 É de Neiva (1940, p. 26) a famosa frase: “São Paulo é a locomotiva que arrasta vinte vagões, constituídos pelos Estados, e cujos passageiros bramam e reclamam da máquina, quando esta solicita dos poderes combustível para arrastar o trem pesadíssimo que ela, a arfar, vai puxando em rampa forte”. A partir do ufanismo paulista que lhe era próprio, ainda que baiano de nascença, Neiva (1931, p. 2) esperava que o DEF-SP se tornasse o “alto exemplo para todo o país, pois o paulista tem mais tenacidade e maior espírito de organização que o restante dos brasileiros”. Ao comentar sobre as rivalidades e os atritos existentes naquele momento entre os clubes e federações paulistas e cariocas, Neiva (1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931., p. 4) acreditava que, em breve, seria “necessário impedir a possibilidade de São Paulo desligar-se do Rio de Janeiro formando uma entidade esportiva a parte, caso os dirigentes cariocas se oponham ao progresso esportivo de São Paulo”.

A criação do primeiro órgão oficial voltado à educação física, em 1931, não pode ser analisada tão somente a partir do momento político pelo qual passava o país com a ascensão de Vargas ao poder. Sua implantação esteve também relacionada aos debates próprios dos campos esportivo e intelectual paulistas, em intersecção com disputas e tensões em relação à identidade nacional. São Paulo, por parte de seus intelectuais e de suas políticas governamentais nas áreas da saúde, educação e esporte, almejava, ao constituir uma identidade paulista, se tornar o grande exemplo para o restante do país, tencionando a identidade nacional.

Para Benedict Anderson (2013ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. 3. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 2013., p. 32), a identidade nacional sempre está em disputa, nunca está acabada, pois no campo dinâmico da cultura ela é conflituosa, uma vez que é pautada pelo simbolismo de uma comunidade política imaginada, já que seus membros constituintes não se conhecem, “embora todos tenham em mente a imagem viva da comunhão entre eles”. Enquanto sentimento de pertencimento, a identidade nacional deve ser interpretada a partir das escolhas desses grupos limitados pelas fronteiras territoriais e políticas no que concerne ao que deve ser evidenciado ou silenciado na constituição da identidade. Desse modo, a comunidade não parte do zero, ela é imaginada destacando seus valores considerados positivos e criticando seus desvios, o que é bastante evidente quando identidades regionais se sobrepõem à nacional, criando tensões e disputas. Podemos perceber, a partir das fontes, que no caso de São Paulo, o seu papel estava situado nesta ideia de um “modelo a ser seguido”.

Ao fomentar a identidade paulista, intelectuais como Neiva, em grande parte ligados ao movimento eugenista, justificavam o investimento público no esporte com apelos ao desenvolvimento racial do brasileiro, pois a manifestação esportiva era interpretada como uma forma de desenvolver o vigor físico e moral da população. A partir da criação do DEF-SP, foi estabelecida a intervenção do Estado na área esportiva, até então de responsabilidade da iniciativa privada, com o objetivo de alavancar o esporte paulista no cenário nacional e transformá-lo na prática moralmente educativa requisitada por muitos intelectuais. Em seu primeiro ano de funcionamento, o DEF-SP procurou estruturar ações de regulamentação e orientação da prática esportiva, a partir de parcerias estabelecidas com clubes e federações, com o objetivo de se afirmar como a principal entidade gestora dos esportes no estado de São Paulo. Apesar de não estabelecer no seu decreto de criação a educação física escolar como sua ocupação, o DEF-SP procurou ampliar a presença da ginástica nas escolas paulistas por meio das parcerias realizadas com a DIP-SP. Ao combinar o ensino da ginástica para as crianças atendidas nas escolas com os esportes praticados na juventude e na fase adulta nos clubes, o DEF-SP dava os primeiros passos no sentido de implementar um amplo projeto de orientação, direção e fiscalização da educação física no Estado de São Paulo, ou seja, de sua institucionalização.

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  • SÃO PAULO (Estado). Annuario do Ensino do Estado de São Paulo. São Paulo: Irmãos Ferraz, 1926.
  • SÃO PAULO (Estado). Annuario do Ensino do Estado de São Paulo. São Paulo: Typ. Siqueira, 1936.
  • SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 4.855, de 27 de janeiro de 1931. Cria o Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo. São Paulo, 1931a.
  • SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 4.917, de 03 de março de 1931. Transforma a Secretaria de Estado dos Negócios do Interior em Secretaria de Estado da Educação e da Saúde Pública e da outras providencias. São Paulo, 1931b.
  • SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • SILVEIRA, Éder. Revisitando Artur Neiva: eugenia, educação física e identidade nacional. Intellèctus, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 1-14, 2002.
  • SILVEIRA, J. Dias. Uma crítica antecipada. Folha da Manhã, São Paulo, p. 14, 5 fev. 1931.
  • SÓ O DEPARTAMENTO de Educação Physica é capaz de impedir a repetição de lamentáveis incidentes em nosso futebol. Folha da Noite, São Paulo, p. 6, 30 set. 1931.
  • SOARES, Márcia Guedes. As políticas de educação do Serviço Sanitário de São Paulo entre a República Velha e o Estado Novo. 2017. 127 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2017.
  • STEPAN, Nancy Leys. A hora da eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.
  • TIMÓTEO, Jhoyce Povoa. A cidade de São Paulo em “escala humana”: Luiz de Anhaia Mello e sua proposta de recreio ativo e organizado. 2008. 114 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008.
  • VIMIEIRO-GOMES, Ana Carolina; DALBEN, André. O controle médico-esportivo no Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo: aproximações entre esporte e medicina nas décadas de 1930 e 1940. História, Ciência, Saúde: Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 321-336, jun. 2011.
  • NOTA:

    Prof. Dr. André Dalben foi responsável pelo levantamento das fontes nos acervos físicos do CPDOC-FGV, BC-Unicamp e FEF-Unicamp. Orientou o Prof. Rodrigo Jeronimo Correa Lima e o discente Lucas Polli da Palma, responsáveis pelo levantamento e tratamento das fontes dos acervos digitais da ALESP, Arquivo Público do Estado de São Paulo, Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo. Prof. Dr. Edvaldo Góis Júnior atuou em conjunto com o Prof. Dr. André Dalben no levantamento bibliográfico, na análise das fontes e na escrita do artigo. As revisões do texto final foram realizadas em comum acordo por todos os autores.
  • 1
    Neiva é bastante conhecido pela historiografia dedicada ao movimento sanitarista brasileiro. No entanto, ainda é pouco conhecida e analisada a sua participação nos debates sobre a prática esportiva em São Paulo (SILVEIRA, 2002SILVEIRA, Éder. Revisitando Artur Neiva: eugenia, educação física e identidade nacional. Intellèctus, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 1-14, 2002.), assim como a reforma que realizou na Secretaria dos Negócios do Interior do Estado de São Paulo durante sua gestão entre 05/12/1930 e 13/02/1931 (SOARES, 2017SOARES, Márcia Guedes. As políticas de educação do Serviço Sanitário de São Paulo entre a República Velha e o Estado Novo. 2017. 127 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2017.).
  • 2
    Apesar de não ter sido responsável direto pela criação do DEF-SP, Azevedo manteve vínculo profissional com Neiva no jornal O Estado de S. Paulo e, em conjunto, alimentaram os debates a favor da regulamentação da prática esportiva. Em 1933, Azevedo assumiu o cargo de diretor geral de Instrução Pública do Estado de São Paulo e promulgou o Código de Educação, o qual viria a alterar a estrutura do então recém-criado DEF-SP.
  • 3
    Cardim formou-se em direito, educação e educação física. Foi um dos principais cronistas esportivos do jornal O Estado de S. Paulo e grande incentivador do futebol e do escotismo em São Paulo.
  • 4
    Américo Netto foi cronista esportivo do jornal O Estado de S. Paulo, além de representante paulista do Movimento Olímpico Brasileiro. Presidiu a Federação Paulista de Atletismo por alguns meses em 1925. Compôs a comissão de estudos encarregada de formular o decreto para a criação do DEF-SP e foi o seu primeiro secretário geral.
  • 5
    Neiva (1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931.) considerou o relatório de Cardim de grande relevância para a educação física paulista. É possível que o relatório tenha sido consultado durante a elaboração do decreto de criação do DEF-SP, uma vez que alguns dos pontos estabelecidos por Cardim se assemelham às finalidades atribuídas ao Departamento.
  • 6
    Mendes foi diretor geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo de 1927 a 1930.
  • 7
    As denominações desses espaços/instituições variavam largamente na imprensa paulista. Escola de Saúde, Escola de Débeis, Escola ao Ar Livre, Escola ao Sol, Solário, Jardim de Recreio, Parque Escolar, Praça de Jogos Infantis, Parque Infantil e Playground foram algumas das denominações empregadas. Essa multiplicidade indica se tratar tanto de iniciativas específicas quanto de propostas vinculadas a diferentes vertentes e tradições médico-pedagógicas. Em comum, todas referiam-se a espaços ao ar livre para a prática de exercícios físicos pela população infantil. As principais referências empregadas eram os exemplos existentes, naquele momento, no Uruguai, na Argentina e nos Estados Unidos (KUHLMANN JR., 2017KUHLMANN JR., Moysés. Processos de difusão do parque infantil e instituições congêneres no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 9., 2017, João Pessoa. Anais Eletrônicos [...] João Pessoa: UFPB, 2017. p. 165-176.).
  • 8
    Eugenia preventiva ou positiva refere-se a uma interpretação francesa que propunha inciativas para o “melhoramento racial da população” a partir da educação higiênica e de medidas sanitárias. No Brasil, essa corrente prevaleceu em relação aos defensores da eugenia negativa, a qual pregava a esterilização compulsória, o aborto seletivo e a regulamentação de casamentos (STEPAN, 2005STEPAN, Nancy Leys. A hora da eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.).
  • 9
    Montenegro formou-se em medicina pela Universidade da Pensilvânia. Foi professor da Faculdade de Medicina de São Paulo. No campo esportivo, liderou a Associação Atlética do Mackenzie College.
  • 10
    O DEF-SP foi criado em janeiro de 1931 diretamente subordinado à Secretaria do Interior, mas passou a compor, a partir de março de 1931, a Secretaria da Educação e da Saúde Pública do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1931aSÃO PAULO (Estado). Decreto n. 4.855, de 27 de janeiro de 1931. Cria o Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo. São Paulo, 1931a., 1931bSÃO PAULO (Estado). Decreto n. 4.917, de 03 de março de 1931. Transforma a Secretaria de Estado dos Negócios do Interior em Secretaria de Estado da Educação e da Saúde Pública e da outras providencias. São Paulo, 1931b.). “De janeiro a novembro de 1931, ocuparam sucessivamente o posto de secretário do Interior ou da Educação, os srs. drs. Arthur Neiva, Edmundo Navarro de Andrade, Theodoro Ramos, Benedito Montenegro, Alberto de Oliveira Coutinho e A. de Almeida Prado” (SÃO PAULO, 1936SÃO PAULO (Estado). Annuario do Ensino do Estado de São Paulo. São Paulo: Typ. Siqueira, 1936., p. 297, grifos nossos). Montenegro trocou correspondência com Neiva, em abril de 1931, solicitando mais informações sobre as suas pretensões ao criar o DEF-SP, pois assumira naquela data a direção da Secretaria da Educação e da Saúde Pública (NEIVA, 1931NEIVA, Arthur. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 ago. 1931.).
  • 11
    Sussekind de Mendonça formou-se pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro e atuou como promotor até 1931. Ao longo de sua carreira, publicou ensaios literários de temas variados.
  • 12
    Segundo Goellner (2000), o incentivo à educação física feminina com fins reprodutivos era um argumento bastante recorrente na época.
  • 13
    Enge era cronista esportivo do jornal Folha da Manhã. Formado pela Faculdade de Medicina de São Paulo, em 1929, com trabalho de conclusão de curso intitulado “Do controle médico da educação física”.
  • 14
    Erhart formou-se pela Faculdade de Medicina de São Paulo e era presidente da Federação Paulista de Atletismo na ocasião.
  • 15
    Federação Paulista das Sociedades do Remo, Federação Paulista de Atletismo, Federação Paulista de Tênis, Federação Paulista de Bola ao Cesto, Sociedade Hípica Paulista, Federação Paulista de Pugilismo.
  • 16
    Divertimentos públicos eram compreendidos tanto como eventos de caráter artístico (peças de teatro, apresentações musicais e circenses, sessões de cinema e bailes) quanto como eventos esportivos (QUESTÃO..., 1931QUESTÃO dos impostos esportivos, A. Folha da Noite, São Paulo, p. 6, 29 out. 1931.).
  • 17
    Almeida Prado formou-se em medicina no Rio de Janeiro e trabalhou como professor da Faculdade de Medicina de São Paulo. Foi diretor do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo de outubro a dezembro de 1930 e secretário da Educação e Saúde Pública do Estado de São Paulo de julho a novembro de 1931.
  • 18
    Ribeiro formou-se pela Faculdade de Medicina de São Paulo e foi professor do Instituto de Higiene. Foi inspetor técnico de educação física na Diretoria de Instrução Pública do Estado de São Paulo a partir de 1927. No final de 1930, compôs a comissão de estudos encarregada de formular o projeto para a criação do DEF-SP e, a partir de 1931, passou a acumular o cargo de inspetor técnico também no DEF-SP. Foi também vice-presidente da Federação Paulista das Sociedades de Remo.
  • 19
    “Especialista laureado na Suécia pelo Instituto Central de Stockholm e contratado pelo governo para semear as doutrinas de Henrik Ling na Escola Normal da Capital” (SÃO PAULO, 1926SÃO PAULO (Estado). Annuario do Ensino do Estado de São Paulo. São Paulo: Irmãos Ferraz, 1926., p. 314). Detthow foi assistente técnico de educação física da Diretoria de Instrução Pública do Estado de São Paulo. A Profa. Dra. Andrea Moreno tem pesquisado a participação de Detthow na divulgação e apropriação do método sueco de ginástica no Brasil.
  • 20
    A Diretoria de Instrução Pública do Estado de São Paulo teve o educador Manuel Bergström Lourenço Filho (1897-1970) como diretor geral em 1931.
  • 21
    Alves formou-se pela Faculdade de Medicina de São Paulo e trabalhou na Santa Casa de Misericórdia.
  • 22
    Magalhães iniciou curso de educação física no Instituto Técnico da Associação Cristã de Moços do Rio de Janeiro em 1924 e o concluiu na matriz do instituto em Montevidéu em 1927. Entre a conclusão dos estudos para a criação do DEF-SP e a promulgação do seu decreto de criação, Magalhães enviou correspondência para Neiva com cópia de uma de suas conferências, na qual defendia a criação de um sistema de departamentos estaduais e de escolas superiores de educação física (MAGALHÃES, 1931MAGALHÃES, Oswaldo Diniz. Correspondência com Arthur Neiva, São Paulo, 16 jan. 1931.).
  • 23
    Reichenbach foi professor de ginástica do Clube Atlético Paulistano.
  • 24
    É de Neiva (1940NEIVA, Arthur. Coletânea. Rio de Janeiro: [s. n.], 1940., p. 26) a famosa frase: “São Paulo é a locomotiva que arrasta vinte vagões, constituídos pelos Estados, e cujos passageiros bramam e reclamam da máquina, quando esta solicita dos poderes combustível para arrastar o trem pesadíssimo que ela, a arfar, vai puxando em rampa forte”.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Maio 2019
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2019

Histórico

  • Recebido
    21 Jan 2018
  • Aceito
    10 Out 2018
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