Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação da produção científica e o Projeto SciELO

Scientific literature evaluation and the SciELO Project

Resumos

Partindo da análise da produção científica brasileira e da carência de bases de dados em informação científica, o autor aborda o Projeto SciELO - Scientific Electronic Library Online como instrumento para tornar a produção nacional mais visível e acessível via meio eletrônico e, ao mesmo tempo, criar uma base de dados através da qual seja possível avaliar a produção científica do país e aumentar a sua visibilidade internacional.

Produção científica brasileira; Avaliação da literatura científica; Periódicos eletrônicos; SciELO - Scientific Electronic Library Online


Beginning with the analysis of the state of the Brazilian scientific literature and the lack of bibliographical databases in the science fields, this lecture examines the SciELO Project - Scientific Electronic Library Online as a tool to make the scientific literature more accessible by way of electronic means, as well as create a database that enables the evaluation of this literature in the country, and the increase of its international visibility.

Brazilian scientific literature; Scientific literature evaluation; Electronic journals; SciELO - Scientific Electronic Library Online


Avaliação da produção científica e o Projeto SciELO* * Trabalho apresentado no Seminário sobre Avaliação da Produção Científica, realizado em São Paulo pelo Projeto SciELO, de 4 a 6 de março de 1998.

Rogério Meneghini

Resumo

Partindo da análise da produção científica brasileira e da carência de bases de dados em informação científica, o autor aborda o Projeto SciELO – Scientific Electronic Library Online como instrumento para tornar a produção nacional mais visível e acessível via meio eletrônico e, ao mesmo tempo, criar uma base de dados através da qual seja possível avaliar a produção científica do país e aumentar a sua visibilidade internacional.

Palavras-chave

Produção científica brasileira; Avaliação da literatura científica; Periódicos eletrônicos; SciELO – Scientific Electronic Library Online.

Vou tecer considerações breves a respeito do Projeto SciELO – Scientific Electronic Library Online porque, na verdade, o nosso interesse maior, neste momento, é proceder a uma discussão técnica aprofundada, recebendo críticas e feedback de todos os convidados para o aprimoramento do projeto.

O professor José Fernando Perez já contou um pouco da origem do projeto. Na verdade, uma grande dificuldade que existe no Brasil para se estabelecer estratégias de política científica é exatamente a falta de bases de dados que permitam perceber a produção científica num contexto amplo. Que permitam também avaliar o impacto dessa produção local e internacionalmente e que possibilitem perceber, enfim, a dinâmica da circulação de informações. Isso tem obrigado as pessoas que se interessam por esse assunto a recorrer às bases de dados internacionais, principalmente a do ISI (Institute for Scientific Information). Muitos pesquisadores têm feito trabalhos utilizando essa base de dados, mostrando algumas características da ciência brasileira que é produzida em revistas indexadas pelo ISI. Vou, a título de ilustração, brevemente mencionar um estudo que fizemos utilizando essa base de dados. O professor Perez se referiu ao crescimento da ciência brasileira visto pela base do ISI. Se examinarmos o crescimento no período de 1981 a 1993, vemos que ele foi de 60%. Ainda maior do que esse valor foi o crescimento do número de citações desses trabalhos. Portanto, além do crescimento da produção científica, tem havido um crescimento da média do índice de citações dos trabalhos brasileiros indexados no ISI.

Pode-se notar também que no período de 1987 a 1998 o crescimento da produção nacional foi de 65%. Comparado com o crescimento dessa produção no Chile, Argentina, Colômbia e México, o crescimento da produção brasileira foi o mais expressivo. Na verdade, na América Latina toda tem havido um crescimento significativo da produção científica indexada no ISI, a qual é maior do que o aumento da produção mundial.

Um outro fato interessante é que a produção científica brasileira cresceu muito em função de trabalhos de colaboração. Em outras palavras, o crescimento global observado no Brasil foi primordialmente devido ao crescimento do número de publicações dos trabalhos de colaboração, na verdade, um fenômeno internacional que se repete no Brasil.

Pode-se verificar que, de fato, não houve crescimento quase nenhum de publicações de grupos isolados. Essas prevaleciam há dez anos e hoje se constituem em minoria.

Essas informações são fornecidas a título de ilustração do que se pode extrair de uma base de dados como a do ISI. O problema está no fato de que a nossa ciência pode ser representada por um iceberg que tem uma parte visível acima da água, que estaria representando a produção científica brasileira nas bases de dados internacionais, no caso do ISI, e que corresponde a 20% - 25% do total. A produção nacional que não está indexada no ISI corresponde a cerca de 80% e se mantém submersa, pouco visível. Isso de imediato traz uma preocupação óbvia para todos nós, pesquisadores brasileiros. A de não podermos saber qual é a qualidade dessa produção e qual o impacto de sua circulação. Ainda mais: existe outra preocupação, que é a falta de visibilidade internacional dessa produção.

Essa parte majoritária da produção científica nacional não está imersa necessariamente por falta de qualidade. Ela está nessa circunstância por razões diversas que não cabem aqui discutir . É importante, no entanto, dizer que existe interesse da comunidade científica internacional por muito do que está na base do iceberg. W.W. Gibbs, em artigo do Scientific American há cerca de três anos, chamou-a de ciência perdida no Terceiro Mundo.

Então, por que não partir para um projeto em que se procura tornar mais visível e acessível a produção nacional via meio eletrônico e, ao mesmo tempo, cria-se uma base de dados através da qual seja possível obter indicadores, como índices de citação e de impacto etc. Foi justamente esse o desafio que nos propusemos. Através de uma parceria entre a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e a BIREME (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), criou-se o projeto que passou a receber o nome de SciELO. Ele visa, em última análise, tornar mais visível a literatura científica brasileira e, ao mesmo tempo, criar uma base de dados que possa ser utilizada para a obtenção de informações úteis em termos de sociologia da ciência no Brasil, que permita, entre outras coisas, o estabelecimento de estratégias e de políticas de gestão científica.

Estamos terminando, de fato, uma fase piloto em que poucas revistas foram incluídas, cuja finalidade foi estabelecer uma metodologia para a produção de revistas científicas eletrônicas, permitindo simultaneamente a criação de base de dados. Pretendemos, agora, passar para uma escala maior, talvez cem revistas brasileiras no período de dois anos, iniciando-se em abril. O que se espera com isso é que brevemente se alcance uma situação de igualdade de posições com os periódicos internacionais em termos de potencial de visibilidade.

Por outro lado, acredito que a indexação FAPESP deve, com o tempo, estabelecer mecanismos de estímulo para a melhoria da qualidade das revistas, fazendo com que haja maiores cuidados com a constituição de corpos editoriais, maior rigor no processo de revisão e que essas revistas tenham mais empenho quanto à periodicidade de circulação. Acho que a FAPESP, a partir de um certo momento, irá estabelecer critérios para que novas revistas sejam incorporadas à SciELO. Obviamente, a possibilidade de se fazer estudos de ciência será bastante aumentada com essa base de dados. Quer dizer, poderemos perceber a dinâmica da nossa produção científica e tentar responder a questões tais como: por que em muitas áreas da ciência brasileira não se publica no mainstream? Essencialmente, acho que esses seriam os principais resultados do projeto a médio prazo.

Temos também, através da FAPESP, a possibilidade de colocar disponível brevemente para a comunidade científica e para as bibliotecas do Estado de São Paulo a base de dados do ISI de 1977 até o presente, a qual deverá continuar a acrescentar a produção científica nos anos vindouros.

Essa é realmente uma iniciativa extremamente importante que está, de certa forma, ligada ao projeto SciELO. Aspiramos, até, que haja a possibilidade de se estabelecer algum tipo de link entre a nossa base de dados e a base do ISI. Infelizmente ela terá que ficar restrita à comunidade científica do Estado de São Paulo pelo contrato estabelecido entre a FAPESP e o ISI. Seria interessante que a acessibilidade pudesse ser ampliada para todo o Brasil, porque, além de suas qualidades já mencionadas ela é um instrumento poderoso de busca bibliográfica. Talvez o CNPq e as FAPs de outros estados pudessem participar desse empreendimento.

Scientific literature evaluation and the SciELO Project

Abstract

Beginning with the analysis of the state of the Brazilian scientific literature and the lack of bibliographical databases in the science fields, this lecture examines the SciELO Project – Scientific Electronic Library Online as a tool to make the scientific literature more accessible by way of electronic means, as well as create a database that enables the evaluation of this literature in the country, and the increase of its international visibility.

Keywords

Brazilian scientific literature; Scientific literature evaluation; Electronic journals; SciELO – Scientific Electronic Library Online.

Rogério Meneghini

Coordenador Geral do Projeto SciELO e

Professor da Universidade de São Paulo

rogmeneg@quim.iq.usp.br

  • *
    Trabalho apresentado no Seminário sobre Avaliação da Produção Científica, realizado em São Paulo pelo Projeto SciELO, de 4 a 6 de março de 1998.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Out 1998
    • Data do Fascículo
      1998
    IBICT SAS, Quadra 5, Lote 6, Bloco H, 70070-914 Brasília DF - Brazil, Tel.: (55 61) 3217-6360 / 3217-6350, Fax: (55 61) 321.6490 - Brasília - DF - Brazil
    E-mail: ciinf@ibict.br