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O periódico Ciência da Informação na década de 90: um retrato da área refletido em seus artigos

The journal Ciência da Informação in the decade of 90

Resumos

Os artigos publicados na revista Ciência da Informação (editada pelo IBICT) no período 1990-1999 são examinados com o objetivo de identificar certas características as quais, dada a importância desse periódico no panorama da área no Brasil, podem ser consideradas indicadores significativos da produção científica da área: volume de pesquisas, temas predominantes, identificação e número de autores segundo grupos temáticos, cooperação entre autores e produtividade individual. Foi feita ainda uma comparação entre a freqüência dos temas dos artigos examinados e os descritores registrados no LISA no mesmo período, verificando-se diferenças significativas de ênfase.

Periódicos científicos; Artigos científicos; Ciência da Informação


Articles published in the Brazilian periodical Ciência da Informação (issued by IBICT) between 1990-1999 are examined to identify predominant subjects and to group authors according to interest; other characteristics such as collaborative authorship and author's productivity were also identified. A tentative comparison was made between subjects of these articles and descriptors in LISA in the same period, which showed marked differences. Given the role the periodical Ciência da Informação has played in the area, results may constitute important indicators of research activity for the period in that area.

Scientific periodicals; Information Science; Information Science


O periódico Ciência da Informação na década de 90: um retrato da área refletido em seus artigos

Suzana Pinheiro Machado Mueller

Professora, Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília

Cláudia Maria Pinho de Abreu Pecegueiro

Aluna do Curso de Mestrado em Ciência da Informação da Universidade de Brasília

Resumo

Os artigos publicados na revista Ciência da Informação (editada pelo IBICT) no período 1990-1999 são examinados com o objetivo de identificar certas características as quais, dada a importância desse periódico no panorama da área no Brasil, podem ser consideradas indicadores significativos da produção científica da área: volume de pesquisas, temas predominantes, identificação e número de autores segundo grupos temáticos, cooperação entre autores e produtividade individual. Foi feita ainda uma comparação entre a freqüência dos temas dos artigos examinados e os descritores registrados no LISA no mesmo período, verificando-se diferenças significativas de ênfase.

Palavras-chave

Periódicos científicos - Ciência da Informação; Artigos científicos - Ciência da Informação; Ciência da Informação - temática dos artigos.

The journal Ciência da Informação in the decade of 90

Abstract

Articles published in the Brazilian periodical Ciência da Informação (issued by IBICT) between 1990-1999 are examined to identify predominant subjects and to group authors according to interest; other characteristics such as collaborative authorship and author's productivity were also identified. A tentative comparison was made between subjects of these articles and descriptors in LISA in the same period, which showed marked differences. Given the role the periodical Ciência da Informação has played in the area, results may constitute important indicators of research activity for the period in that area.

Keywords

Scientific periodicals - Brazil: Ciência da Informação; Information Science - periodical articles - subjects.

INTRODUÇÃO

Estudos sobre revistas científicas não são raros na literatura profissional. Entre esses estão dois estudos publicados em 1990 e 1993, por Javerlin & Vakkari, que tiveram muita influência sobre estudos posteriores, estabelecendo um modelo de análise. Esses autores examinaram artigos publicados em um grupo de periódicos internacionais de elite, na área de ciência da informação, para identificar assuntos predominantes, metodologias e estratégias empregadas nas pesquisa relatadas. No Brasil, sua metodologia foi seguida, entre outros, por Teixeira (1997), que a adaptou para estudar dissertações de mestrado defendidas por alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília.

O presente artigo segue a linha geral proposta por Javerlin & Vakkari e faz uso de uma tabela de assunto proposta por Teixeira, adaptada. O objetivo é identificar características na literatura científica brasileira da área de ciência da informação e assim contribuir para o entendimento da área no país. Tem como objeto de estudo a revista Ciência da Informação, publicada sem interrupções desde 1972 pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). O período estudado é a década de 90, tendo sido incluídos todos os artigos publicados nos fascículos datados de 1990 a 1999 (volumes 19 a 28 ). Esses artigos foram examinados com o objetivo de identificar:

¾ volume e distribuição dos artigos ao longo da década;

¾ características da autoria: identificação, colaboração e produtividade;

¾ tendência temática dos artigos;

¾ relação de temas dos artigos com temas internacionais indexados, no mesmo período, no Library Information Science (LISA);

¾ grupo de autores por interesse temático

Vários estudos sobre a produção de periódicos científicos no Brasil têm revelado problemas relacionados à qualidade de editoração, falta de recursos financeiros e apoio institucional, irregularidade (atraso) nas edições, problemas na distribuição e comercialização1 1 Veja por exemplo: Mostafa (1996), Mueller (1999), Miranda A. (1981), Miranda D e Pereira (1996). . Mas a Ciência da Informação sempre teve suficiente apoio institucional do Ibict, o que lhe permitiu publicação ininterrupta e crescimento. Foi iniciada com periodicidade semestral que vigorou até o ano de 1991, quanto passou a quadrimestral. Segundo Mueller, Campello & Dias (1996), "...talvez tenha sido a interrupção da Revista de Biblioteconomia de Brasília, entre 1990 a 1994, e o atraso quase crônico das demais que tenha estimulado esse aumento da periodicidade da Ciência da Informação" (p.340).

O tema proposto neste artigo é pertinente para uma área que busca conhecer-se melhor, e a fonte escolhida ¾ o artigo publicado ¾ certamente reflete as preocupações e interesses dessa área. A revista ciência da informação é considerada um dos periódicos de maior credibilidade na área da ciência da informação no Brasil. Com 28 anos de publicação sem interrupção, seu prestígio e influência justificam sua escolha. O período escolhido para análise, década de 90, é significativo, pois testemunhou o desenvolvimento e difusão das tecnologias de informação que provocaram modificações profundas na comunicação científica e no próprio objeto de estudo da área, tais como a aceleração na geração e disseminação da informação, modificações na forma de tratamento e armazenagem e a generalização do uso de meios eletrônicos primeiramente na comunicação informal e mais recentemente, também formal:

"A última década foi marcada por mudanças tecnológicas incessantes e dramáticas nos três principais ramos das tecnologias de informação: a informática, as comunicações e os conteúdos. Assistimos ao surgimento dos computadores pessoais, das redes mundiais de transmissão por pacotes, do disco ótico e outros meios de armazenamento em massa, da tecnologia de vídeo interativo, das técnicas de tratamento de imagens, das técnicas de digitalização com o uso dos scanners, das tecnologias de computação gráfica e ao crescimento de grandes bases de dados públicas e privadas". Chen (1999, p. 26)".

Espera-se que essa análise venha contribuir na avaliação do desenvolvimento científico alcançado pela ciência da informação no Brasil.

Metodologia e Resultados

Como unidade de análise foram tomados somente os artigos publicados na revista Ciência da Informação no período 1990-1999, desprezando-se as demais seções: Editorial, Entrevista, Ponto de Vista, Relatos de Experiência. O universo totaliza 248 artigos, assinados por 270 autores. Os artigos foram classificados por ano de publicação, volume, número e mês, conforme mostra a figura 1. Para obtenção dos dados, foram utilizadas as informações contidas na primeira página de cada artigo: título, autor(es), resumo e palavra(s)-chave.


Número de artigos por fascículo

Os dados relacionados ao volume de artigos publicados e a sua distribuição ao longo da década foram coletados com a intenção de se obter um indicador da atividade científica da área, ainda que parcial. Os 248 artigos publicados estão distribuídos em 28 fascículos. A distribuição variou entre 2 e 16 artigos por fascículo, mas 26 dos 28 fascículos examinados publicaram seis ou mais artigos. O fascículo com apenas dois artigos traz um índice remissivo entre 1972 e 1993, que ocupa quase todas as suas páginas. Não parece haver ligação entre a quantidade de artigos publicados por fascículo e ano de publicação, pois os fascículos que publicaram quantidade mais elevada de artigos (10 ou mais) estão espalhados ao longo da década (figura 1).

Autores

Características da autoria: autoria única e em colaboração

A autoria única predomina sobre autoria em colaboração, confirmando tendência das ciências sociais já verificada em vários estudos (Arenas 2000). Na área específica de ciência da informação, Mueller et alii, (2000) analisaram os anais de quatro encontros da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (EnAncibs), realizados entre 1994 e 2000, e verificaram a mesma tendência nos trabalhos apresentados nos três últimos encontros:

¾ EnAncib 1994 ¾ 50% autoria única e 50% autoria múltipla;

¾ EnAncib 1995 ¾ 77,19% autoria única e 22,81 % autoria múltipla;

¾ EnAncib 1997 ¾ 70,15% autoria única e 29,85 % autoria múltipla;

¾ EnAncib 2000 ¾ 75,20% autoria única e 24,80 % autoria múltipla.

No caso presente, 194 dos 248 artigos (78,23%) foram escritos por autor único e 54 artigos (21,77%) por mais de um autor, proporção semelhante à encontrada nos três últimos EnAncibs. Os dados ora levantados na Ciência da Informação 1990-1999 revelam que a colaboração entre dois autores foi a forma mais freqüente (12,90%) de autoria entre os 54 trabalhos escritos por mais de um autor (figura 2). A soma dos artigos escritos por mais de dois autores chega a apenas 8,47% do total do universo, com a intensidade de freqüência em ordem inversa ao número de autores.


Produtividade de autor

Foram registrados 270 autores para os 248 artigos publicados no período estudado. Dentre esses autores, 225 (83,33%) ¾ como autores únicos ou em parcerias ¾ assinaram apenas um artigo e os restantes 45 (16,66%) ¾ como autores únicos ou em parcerias ¾ assinaram entre dois e cinco artigos. Se, para efeito de cálculo, atribuirmos a cada autor um artigo inteiro tantas vezes quantas seu nome aparece como autor único ou em colaboração (e assim aumentarmos artificialmente o número total de artigos para 347), veremos que os dois autores mais produtivos (com cinco artigos cada um) teriam contribuído com 1,44% do total desses 347 artigos, enquanto os 225 autores que publicaram apenas um artigo teriam contribuído, cada um, com 0,29% (figura 3).


A contribuição real da cada autor, no entanto, pode ser calculada com maior precisão por meio de ponderação inversa ao número de autores por artigo. Isto é, o autor único teria peso 1, dois autores escrevendo um artigo teriam peso 0,5 cada um, e assim por diante. Nesse caso, autores que escreveram sozinhos contribuíram, por artigo, o equivalente a 0,40% do total dos 248 artigos publicados, enquanto a contribuição individual dos autores que escreveram em colaboração variou entre 0,20% a 0,06%, conforme o número de autores por artigo. Como são apenas 45 os autores que escreveram mais de um artigo (sozinhos ou em colaboração), e considerando que os dois mais produtivos escreveram 5 artigos cada (figura 4), a contribuição máxima possível do universo estudado (se o autor tivesse escrito os cinco artigos como autor único) seria de 2% do total de artigos. Mas, segundo os dados coletados, um dos dois autores mais produtivos escreveu três artigos como autor único e dois em colaboração, enquanto o outro escreveu um artigo como autor único e quatro em colaboração. Logo, o autor mais produtivo do grupo estudado contribuiu com apenas 1,6% do total. O elevado número de autores e a baixa participação de cada um no universo de artigos publicados na Ciência da Informação na década estudada indicam que os autores estudados ou não escolheram essa revista como veículo freqüente de suas publicações, ou não foram muito produtivos.


Qualificação e origem institucional dos autores mais produtivos

São os professores dos cursos de pós-graduação na área os autores que mais contribuíram com artigos no período estudado, como pode ser visto na figura 5.


A predominância de professores como autores não pode ser vista com surpresa, pois pesquisar e escrever artigos faz parte da carreira universitária. A presença acentuada dos professores e pesquisadores do curso mantido pelo convênio UFRJ/Ibict indica ligação óbvia entre duas atividades do Ibict, o curso e a revista. Note-se a posição da UFSC, que ainda não tinha curso de pós-graduação no período estudado, e registra um artigo a mais que a Puccamp, cujo curso data da década de 70, o que talvez se deva a existência da revista Transinformação, editada por este curso. Também chama a atenção a presença de técnicos (não professores ou pesquisadores) e de uma estudante.

A composição da comissão editorial da revista durante o período examinado foi verificada, com o objetivo de identificar a origem institucional dos membros para comparação com a origem institucional dos autores. No entanto, em vários fascículos a origem institucional dos membros não foi citada, frustando assim qualquer comparação. O levantamento com os dados disponíveis e complementado com informações externas apontou a predominância de três instituições na comissão editorial: a UFRJ/Ibict, a USP e a UnB. A presença da UFMG também é freqüente, especialmente nos números mais antigos.

Tendência temática dos artigos

Para a classificação dos artigos foi utilizada a tabela de temas proposta por Teixeira (1997), com algumas adaptações. A figura A-1 (anexo) mostra as classes maiores com suas subdivisões. Para este trabalho, no entanto, foram utilizadas apenas as nove classes maiores, grafadas em negrito na figura A-1 (anexo); as subdivisões foram utilizadas apenas para orientar a classificação.

A figura 6 mostra a freqüência de temas por classe e também a freqüência de descritores registrados no Library and Information Science Abstract (Lisa) no período estudado. Considerando-se primeiramente apenas os temas encontrados em Ciência da Informação, podemos ver na figura 6 a predominância de dois temas: o Tema 8 - Entrada, tratamento, armazenamento, recuperação e disseminação da informação, com 30,70% dos artigos, e o Tema 4 - Estudo de usuários, transferência e usos da informação e uso de biblioteca, com 29,87%. Os demais temas ficaram abaixo de 12%. Não houve artigo sobre o Tema 6 - Prédios de bibliotecas. Se, por um lado, a abrangência dos Temas 8 e 4 poderia explicar a maior incidência de artigos nessas categorias. Por outro, a distribuição apresentada está de acordo com a tradição da biblioteconomia, herdada pela ciência da informação (no Brasil), entre cujas preocupações principais estão o tratamento da informação e a gerência das instituições, como atestaram alguns estudos sobre currículos de formação bibliotecária2 1 Veja por exemplo: Mostafa (1996), Mueller (1999), Miranda A. (1981), Miranda D e Pereira (1996). .


Na figura 6, estão também dados referentes à freqüência de descritores utilizados pelo periódico de resumo LISA, para artigos publicados no mesmo período, segundo dados obtidos no site da WebSpirs3 1 Veja por exemplo: Mostafa (1996), Mueller (1999), Miranda A. (1981), Miranda D e Pereira (1996). acessado em 15/1/2001. A diferença em quantidade é muito grande, pois estamos comparando o periódico de resumos Lisa, que indexa publicações do mundo inteiro, com dados de apenas um periódico, mas o uso de percentagens torna os dados comparáveis, pelo menos por grandes assuntos. A comparação mostra não haver coincidência na trajetória das linhas ¾ a Ciência da Informação apresenta distribuição mais equilibrada dos artigos por tema, enquanto LISA apresenta um grande pico para o Tema 2 ¾ Teaching of Library Science; Librarian, com mais de 70% dos descritores, e pouca freqüência relativa para os demais temas. A concentração de descritores no Tema 2 está de acordo com a informação obtida na fonte consultada, mas desperta dúvidas quanto aos critérios utilizados, cuja adequação para a comparação realizada não foi verificada neste estudo.

A distribuição dos temas por ano de publicação está representada na figura 7. Chama a atenção a concentração de artigos sobre determinados temas em alguns anos, como, por exemplo, o Tema 3 ¾ Organização e Gerência de Atividades de Informação, de Bibliotecas e Centros de Pesquisa em 1994 (16 artigos) e em 1999 (10 artigos), o Tema 4 ¾ Estudo de usuários, transferência e usos da informação e uso de biblioteca (zero artigos em 1992 e 18 em 1993), o Tema 5 ¾ Estudo da Literatura e do Documento em 1996 (16 artigos) e 1998 (8 artigos) e o Tema 9 ¾ Outros assuntos em 1995 (11 artigos). O Tema 8 ¾ Entrada, tratamento, armazenamento, recuperação e disseminação da informação ¾ apresenta quantidades altas em vários anos. Examinando-se a tabela no sentido vertical, por ano, podemos verificar concentração de artigos sobre um mesmo tema, sugerindo fascículos temáticos ou quase temáticos, os quais podem ser vistos como indicadores de interesse da época. Da mesma forma, a ausência de artigos sobre o Tema 6, Prédios de bibliotecas, indica falta de interesse que, por sua vez, talvez reflita falta de investimento na construção de prédios, mais comuns em décadas anteriores e que cedeu espaço para bibliotecas digitais e virtuais da década de 90.


Grupos de autores por interesse temático

Os autores foram agrupados por grupos temáticos, isto é, de acordo com as palavras-chave dos artigos que publicaram. Autores de mais de um artigo podem ser classificados em mais de um grupo, o que ocorre quando os artigos que escreveram foram classificados em grupos diferentes. Essa diversidade de interesses ocorreu com freqüência entre os autores que publicaram mais de um artigo. Três foi o maior número de artigos publicados por um mesmo autor sobre um mesmo tema; 16 autores publicaram pelo menos dois artigos no mesmo tema, entre os quais estão nove que publicaram exclusivamente em um mesmo tema. A distribuição está representada na figura 8.


O Tema 9, Outros assuntos, abrange temas que não se enquadram nos demais grupos e não se repetiram em quantidade suficiente para formar um grupo distinto. O total de 14 trabalhos, no entanto, é elevado para essa categoria sem definição específica e mostra que o leque de assuntos efetivamente tratados é mais amplo do que os temas que foram escolhidos como parâmetros de classificação. Segundo a figura 6, dentre aqueles artigos, 11 foram publicados em 1995, sugerindo um fascículo temático, com tema atípico, ou para os quais não havia previsão na tabela utilizada, indicando necessidade de adequação em estudos posteriores.

Na figura A-2 (anexo 2), os autores foram agrupados conforme os temas de seus artigos. O fato de que apenas 45 autores contribuíram com mais de um artigo para a revista Ciência da Informação no período de 10 anos faz com que a noção de grupo como "um conjunto de autores que pesquisa os mesmos assuntos" seja tomada com cautela e confirmada com a identificação de pesquisas publicadas por esses autores em outros veículos.


A tabela utilizada para classificação dos artigos mostrou-se deficiente para mostrar com a devida ênfase temas mais recentes, ou pelo menos cujas denominações são recentes. Por exemplo, temas como inteligência competitiva, bibliotecas virtuais e outros ficaram imperceptíveis sob cabeçalhos mais amplos e tradicionais, tais como organização e gerência de atividades de informação, de bibliotecas e centros de pesquisa.

COMENTÁRIOS FINAIS

Os resultados obtidos neste levantamento apresentam alguns aspectos interessantes, que serão comentados a seguir:

Embora o universo de 248 artigos publicados na década de 90 não tenha, à primeira vista, distribuído-se uniformemente no período, 20 dentre os 28 fascículos publicaram mais de oito artigos. Esse dado caracteriza a revista como estável, com boa capacidade de atração de artigos. Outras duas revistas da área, fundadas no mesmo período (início da década de 70) e freqüentemente incluídas entre as mais importantes, não apresentaram a mesma estabilidade, tendo sofrido atrasos freqüentes, interrupções4 1 Veja por exemplo: Mostafa (1996), Mueller (1999), Miranda A. (1981), Miranda D e Pereira (1996). e mudança de nome5 1 Veja por exemplo: Mostafa (1996), Mueller (1999), Miranda A. (1981), Miranda D e Pereira (1996). . A diferença mais óbvia entre as três revistas é a instituição responsável: o órgão responsável pela Ciência da Informação é o Ibict, um instituto de pesquisa vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e as outras duas são publicadas por cursos (departamentos) mantidos por universidades federais.

Mais de três quartos (78%) dos indivíduos do universo de 270 autores assinaram seu artigo como autor único. Também é elevado (83%) o número de autores que publicaram apenas um artigo no periódico Ciência da Informação no período estudado, como autor único ou em colaboração. Os outros 16% do universo de autores assinaram de dois a cinco artigos (como autor único ou em parceria). A produtividade de autores de uma área do conhecimento não pode ser visualizada com dados de uma só revista científica, por mais prestigiosa e constante que ela seja, mas é interessante notar que 25 desses 45 autores mais produtivos contribuíram com não mais que dois artigos, e os dois autores que mais contribuíram assinaram cinco trabalhos. Poucos autores escreveram mais de uma vez sobre o mesmo tema, de novo sugerindo pesquisa mais abrangente em busca de um quadro mais completo, envolvendo outras fontes.

Foram publicados 54 artigos em parceria de dois a sete autores, uma quantidade baixa que representa aproximadamente 8,5% do universo de artigos. O grande número de autores que publicaram apenas um artigo não parece ter prejudicado a revista, que conseguiu manter um número elevado de artigos por fascículo durante toda a década. A capacidade de atrair autores tem sido comentada na literatura como um problema comum a muitas revistas nacionais, pois a primeira escolha de muitos pesquisadores são as revistas internacionais, com maior visibilidade no panorama mundial. As agências de fomento, tais como Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) costumam atribuir pontuação mais elevada a artigos publicados nas revistas internacionais quando avaliam cursos de pós-graduação e curriculum vitae de pesquisadores. O fato de (aparentemente) a Ciência da Informação não sofrer com o problema da baixa oferta de artigos mereceria investigação mais aprofundada.

O número de autores que compõem cada grupo temático é bastante diferenciado. Os dois grupos maiores (Tema 8 - Entrada, Tratamento, Armazenamento, Recuperação e Disseminação da Informação ¾ e Tema 4 ¾ Estudo de usuário, Transferência e usos de informação e Uso de Biblioteca) têm em comum a preocupação com a organização do conhecimento e de instituições dedicadas à sua custódia, ao uso e ao usuário da informação. A política editorial da Ciência da Informação é abrangente, e não é possível dizer com os dados levantados se essa característica é própria desta revista apenas ou da área como um todo. Para tanto, seria necessário estender o estudo para outras revistas.

A comparação com os descritores do periódico de resumo LISA levantou algumas dúvidas relacionadas à compatibilidade desses dados para comparação e, por conseguinte, à sua validade. De qualquer forma, a própria escolha de descritores fornece um indicador de ênfases. A escolha da Tabela de Teixeira também mostrou deficiências que ainda foram acentuadas, por terem sido adotados apenas os cabeçalhos mais amplos, embora as subdivisões tenham guiado a classificação. Assim, ficaram obscurecidos temas emergentes e presentes na revista nos últimos anos, aos quais foram dedicados fascículos especiais, como é o caso, por exemplo, do v. 26, n. 3, 1997, dedicado ao tema Informação como recurso estratégico para a empresa; v. 27, n. 2, 1998, dedicado ao tema Rumo à publicação eletrônica; v. 28, n. 1, 1999, dedicado ao tema Gerência estratégica do conhecimento; v. 28, n. 2, 1999, dedicado ao tema Políticas e gestão da Informação. Esses temas estão incluídos no levantamento, mas não ficou clara a emergência como assuntos específicos6 1 Veja por exemplo: Mostafa (1996), Mueller (1999), Miranda A. (1981), Miranda D e Pereira (1996). .

O exercício relatado neste artigo mostrou as potencialidades do método utilizado para estudo de literaturas específicas, especialmente artigos científicos. A revista Ciência da Informação tem apresentado papel relevante na literatura da área, e os resultados obtidos são significativos. O levantamento realizado, baseado em dados quantitativos, não pretende explicar as causas dos fenômenos encontrados, mas aponta facetas que poderão ser exploradas em estudos posteriores, por meio de técnicas adequadas. É preciso ter em mente também que, por mais significativa e prestigiosa que a revista Ciência da Informação seja, não é possível generalizar esses resultados para toda a área.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2 Veja, por exemplo, estudos sobre o currículo mínimo e a educação profissional para biblioteconomia realizados nas décadas de 70 e 80 - tais como Lemos (1973), Robredo et alii (1984) e outros.

3 http://200.219.29.133:8590/?sp.nextform=history.htm&sp.usernumber. p=351945>

4 Revista de Biblioteconomia de Brasília.

5Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, hoje Perspectivas em Informação.

6 Agradecemos a colaboração do avaliador não identificado por levantar este ponto.


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  • 1
    Veja por exemplo: Mostafa (1996), Mueller (1999), Miranda A. (1981), Miranda D e Pereira (1996).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      31 Out 2001
    • Data do Fascículo
      Ago 2001
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