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Comportamento de espécies de adubos verdes em diferentes épocas de semeadura e espaçamentos na região dos Cerrados

Evaluation of green manures in different sowing dates and row-spacings in the Cerrados region

Resumos

Com o objetivo de avaliar o crescimento e desenvolvimento de leguminosas utilizadas como adubos verdes, instalaram-se três ensaios, em três épocas de semeadura e dois espaçamentos na região dos Cerrados, durante o ano agrícola de 1991/1992, na área experimental da Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa do Solo (CNPS), em Senador Canedo, GO. As espécies avaliadas foram Crotalaria juncea L., mucuna-preta (Mucuna aterrima (Piper & Tracy) Merr.), guandu cv. Kaki (Cajanus cajan (L.) Millsp.) e Crotalaria ochroleuca G. Don. O delineamento experimental utilizado, dentro de cada época, foi o de blocos ao acaso com parcelas subdivididas, com três repetições. Os resultados indicaram que C. juncea e C. cajan apresentaram as maiores produções de fitomassa seca. O atraso da semeadura, em relação ao início da estação chuvosa, reduziu os rendimentos de fitomassas verde e seca produzidos pelas leguminosas, exceto pela mucuna-preta. Os espaçamentos de 0,5 m e 0,4 m não influenciaram o período para o florescimento e as produções de fitomassas verde e seca.

Mucuna aterrima; Crotalaria juncea; Crotalaria ochroleuca; Cajanus cajan; adubação verde


In 1991/1992 growing season, three field experiments were carried out to evaluate the growth and development of sunn (Crotalaria juncea), Crotalaria ochroleuca, black velvet bean (Mucuna aterrima), pigeon pea cv. Kaki (Cajanus cajan) as green manures at three sowing dates and two row spacings at Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Solos (CNPS), Senador Canedo, GO, Brazil. The experimental design used was a complete randomized block with split-plot and three replicates. Highest yields of dry matter were obtained with C. juncea and C. cajan. The delay in sowing dates to the beginning of the rainy season, reduced yield of fresh and dry matter of all legume species, except black velvet bean. Row-spacings of 0,5 and 0,4 cm did not influence the time for flowering and the yield of fresh and dry matter.

Mucuna aterrima; Crotalaria juncea; Crotalaria ochroleuca; Cajanus cajan


COMPORTAMENTO DE ESPÉCIES DE ADUBOS VERDES EM DIFERENTES ÉPOCAS DE SEMEADURA E ESPAÇAMENTOS NA REGIÃO DOS CERRADOS1 1 Aceito para publicação em 23 de fevereiro de 1999. Extraído da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor a ESALQ/USP. 2 Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC), Caixa Postal 70.023, CEP 73301-970 Planaltina, DF. E-mail: amabile@cpac.embrapa.br 3 Eng. Agrôn., Dr., Dep. de Agricultura, ESALQ/USP, Caixa Postal 9, CEP 13418-900 Piracicaba, SP.

Renato Fernando Amabile2 1 Aceito para publicação em 23 de fevereiro de 1999. Extraído da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor a ESALQ/USP. 2 Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC), Caixa Postal 70.023, CEP 73301-970 Planaltina, DF. E-mail: amabile@cpac.embrapa.br 3 Eng. Agrôn., Dr., Dep. de Agricultura, ESALQ/USP, Caixa Postal 9, CEP 13418-900 Piracicaba, SP. , Antonio Luiz Fancelli3 1 Aceito para publicação em 23 de fevereiro de 1999. Extraído da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor a ESALQ/USP. 2 Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC), Caixa Postal 70.023, CEP 73301-970 Planaltina, DF. E-mail: amabile@cpac.embrapa.br 3 Eng. Agrôn., Dr., Dep. de Agricultura, ESALQ/USP, Caixa Postal 9, CEP 13418-900 Piracicaba, SP. e Arminda Moreira de Carvalho2 1 Aceito para publicação em 23 de fevereiro de 1999. Extraído da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor a ESALQ/USP. 2 Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC), Caixa Postal 70.023, CEP 73301-970 Planaltina, DF. E-mail: amabile@cpac.embrapa.br 3 Eng. Agrôn., Dr., Dep. de Agricultura, ESALQ/USP, Caixa Postal 9, CEP 13418-900 Piracicaba, SP.

RESUMO - Com o objetivo de avaliar o crescimento e desenvolvimento de leguminosas utilizadas como adubos verdes, instalaram-se três ensaios, em três épocas de semeadura e dois espaçamentos na região dos Cerrados, durante o ano agrícola de 1991/1992, na área experimental da Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa do Solo (CNPS), em Senador Canedo, GO. As espécies avaliadas foram

Crotalaria juncea

L., mucuna-preta (

Mucuna aterrima

(Piper & Tracy) Merr.)

,

guandu cv. Kaki (

Cajanus cajan

(L.) Millsp.) e

Crotalaria ochroleuca

G. Don. O delineamento experimental utilizado, dentro de cada época, foi o de blocos ao acaso com parcelas subdivididas, com três repetições. Os resultados indicaram que

C. juncea

e

C. cajan

apresentaram as maiores produções de fitomassa seca. O atraso da semeadura, em relação ao início da estação chuvosa, reduziu os rendimentos de fitomassas verde e seca produzidos pelas leguminosas, exceto pela mucuna-preta. Os espaçamentos de 0,5 m e 0,4 m não influenciaram o período para o florescimento e as produções de fitomassas verde e seca.

Termos para indexação:

Mucuna aterrima

,

Crotalaria juncea

,

Crotalaria ochroleuca, Cajanus cajan

, adubação verde.

EVALUATION OF GREEN MANURES IN DIFFERENT SOWING DATES AND ROW-SPACINGS IN THE CERRADOS REGION

ABSTRACT - In 1991/1992 growing season, three field experiments were carried out to evaluate the growth and development of sunn (

Crotalaria juncea), Crotalaria ochroleuca,

black velvet bean (

Mucuna aterrima

), pigeon pea cv. Kaki (

Cajanus cajan

) as green manures at three sowing dates and two row spacings at Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Solos (CNPS), Senador Canedo, GO, Brazil. The experimental design used was a complete randomized block with split-plot and three replicates

.

Highest yields of dry matter were obtained with

C. juncea

and

C. cajan

. The delay in sowing dates to the beginning of the rainy season, reduced yield of fresh and dry matter of all legume species, except black velvet bean. Row-spacings of 0,5 and 0,4 cm did not influence the time for flowering and the yield of fresh and dry matter.

Index terms:

Mucuna aterrima

,

Crotalaria juncea

,

Crotalaria ochroleuca

,

Cajanus cajan.

Introdução

Uma das principais limitações ao uso da adubação verde na região dos Cerrados está relacionada à época de plantio dos adubos pelo prejuízo que poderá causar à produção da cultura comercial. Seu uso pode ser viabilizado com a semeadura no final da estação chuvosa, em sucessão à cultura (Pereira et al., 1992). Esse plantio pode ser realizado, ainda, aproveitando a ocorrência de veranicos, quando o preparo do solo e a semeadura são passíveis de serem realizados, e no início do período das chuvas, à medida que o plantio da cultura principal possa ser efetuado a posteriori.

Atualmente, entre as diversas leguminosas promissoras para adubação verde na região dos Cerrados, destacam-se: mucuna-preta (Mucuna aterrima), guandu (Cajanus cajan), crotalárias (Crotalaria juncea, Crotalaria ochroleuca, Crotalaria paulina e Crotalaria spectabilis), feijão-bravo-do-ceará (Canavalia brasiliensis), feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), estilosantes (Stylosanthes guianensis) (Pereira & Peres, 1986; Burle et al., 1988; Pereira, 1988; Pereira et al., 1992).

A mucuna-preta apresenta desenvolvimento vegetativo eficiente e acentuada rusticidade nesse ecossistema, adaptando-se bem às condições de deficiência hídrica e de temperaturas altas. Floresce e frutifica de maneira variável, porém não possui reação fotoperiódica (Pereira & Kage, 1980; Pereira, 1982; Sabadin, 1984; Burle et al., 1988).

A C. juncea responde ao fotoperíodo, comportando-se como planta de dias curtos (Purseglove, 1968). A C. ochroleuca foi introduzida recentemente na região dos Cerrados, destacando-se pela possibilidade de desenvolver-se em solos quimicamente pobres e com baixo teor de matéria orgânica (Rupper, 1987; Salema, 1987).

O guandu (Cajanus cajan), de ciclo anual ou perene, é uma leguminosa forrageira comumente semeada nas regiões tropicais e subtropicais. Adaptada a ampla faixa de precipitação, mostra-se resistente à seca, desenvolvendo-se melhor em temperaturas mais elevadas (Mitidieri, 1983; Seiffert & Thiago, 1983). A maioria dos acessos é sensível ao fotoperíodo e tem resposta positiva ao florescimento em dias curtos (Summerfiled & Roberts, 1985). Na estação seca, na região dos Cerrados, torna-se caducifólia devido à severa deficiência hídrica registrada na região nesse período (Pereira et al., 1992).

Em relação a C. juncea, C. ochroleuca e C. cajan, o alongamento das noites favorece a indução ao florescimento. Assim, o desenvolvimento fenológico é afetado pela interação fotoperíodo x temperatura, e pela época de semeadura e latitude (Spence & Williams, 1972; Wallis et al., 1981). Wallis et al. (1979) atribuíram a essa interação uma redução no desenvolvimento vegetativo do guandu, à medida que se atrasa a época de semeadura.

A manipulação da interação entre a espécie e a época de semeadura constitui um importante instrumento para avaliar e melhorar a capacidade agronômica de plantas leguminosas tropicais (Pereira & Kage, 1980; Pereira, 1985; Burle et al., 1988; Pereira et al., 1992).

O presente estudo teve por objetivo obter informações sobre o crescimento e desenvolvimento de espécies de adubos verdes (Crotalaria juncea, Crotalaria ochroleuca, Cajanus cajan e Mucuna aterrima) em diferentes épocas de semeadura e espaçamentos nas condições dos Cerrados.

Material e Métodos

Os ensaios foram conduzidos na área experimental da Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Solos (CNPS), Coordenadoria Regional Centro-Oeste, localizada na Estação Experimental da Emater-GO, em Senador Canedo, GO, no ano agrícola de 1991/1992.

Classificou-seosolocomoLatossolo Vermelho-Escuro distrófico, A moderado, textura argilosa, fase cerrado tropical subcaducifólio, relevo suave ondulado. Os resultados das análises físicas e químicas foram: pH em H2O, 5,3; M.O.27,2gdm-3;Al+3,0,05cmol cdm-3; Ca+2, 2,2 cmolc dm-3; Mg+2, 0,5 cmolc dm-3; P, 8 mg dm-3 ; K, 104 mg dm-3; areia grossa, 9 g dm-3; areia fina, 24 g dm-3; silte, 16 g dm-3 e argila, 51 g dm-3. O clima, conforme a classificação de Köppen, é do tipo Aw. Os dados meteorológicos coletados no decorrer da condução dos experimentos são apresentados na Tabela 1.

O preparo do solo foi realizado com uma aração, utilizando o arado de discos de 32" e uma gradagem com grade de discos de 20" e, em seguida, sulcagem, nos espaçamentos de 0,40 e 0,50 m. Efetuaram-se as adubações de manutenção nos sulcos de semeadura, de acordo com os resultados das análises, empregando-se 50 kg ha-1 de P2O5 (superfosfato simples) e 30 kg ha-1 de K2O (cloreto de potássio).

As espécies estudadas foram a C. juncea, M. aterrima, C. ochroleuca e Cajanus cajan (guandu cv. Kaki), semeadas em três épocas: início (12/11/1991); meados (7/1/1992) e final da estação chuvosa (4/3/1992). A mucuna-preta, por apresentar dormência, recebeu tratamento para superar a impermeabilidade do tegumento, conforme metodologia descrita por Maeda & Lago (1986).

Efetuou-se a semeadura por meio de plantadeira experimental de uma linha, com o adicional de 20% na sua densidade de sementes. Após dez dias da emergência, executou-se o desbaste, estabelecendo um estande de 25 plantas/metro para a C. juncea e a C. ochroleuca, 30 plantas/metro para o Cajanus cajan e 10 plantas/metro para a M. aterrima. As populações obtidas, por hectare, no espaçamento de 0,40 m, foram de 625.000 plantas para a C. ochroleuca e a C. juncea, 750.000 plantas para o guandu, e 250.000 plantas para a mucuna-preta. No espaçamento de 0,50 m, as populações de a C. ochroleuca e C. juncea foram de 500.000 plantas ha-1; de guandu foi 600.000 plantas ha-1 e de mucuna-preta, 200.000 plantas ha-1.

O delineamento experimental utilizado, dentro de cada época, foi o de blocos ao acaso, com três repetições, em parcelas subdivididas, aplicando as espécies nas parcelas e os espaçamentos nas subparcelas, perfazendo um grupo de três experimentos. A parcela teve uma área de 32 m2, enquanto a subparcela constou de 16 m2, com área útil de 9 m2. Em cada parcela, após a emergência das plantas, foi definida a área de 1 m2, para a contagem dos dias necessários ao florescimento de 50% das plantas. Nesse período, as plantas foram cortadas rente ao solo na área útil de cada subparcela, e pesadas, para a determinação da fitomassa verde. A seguir, foram levadas à estufa de ventilação a 65oC, até o peso constante, para determinação da fitomassa seca de cada material.

Os dados referentes a dias até o florescimento (50%) e produções de fitomassas verde e seca foram submetidos às análises de variância individuais e conjunta. As médias foram comparadas entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

A análise de variância para o período necessário ao florescimento de 50% das plantas mostra efeitos significativos das espécies de leguminosas, das épocas de semeadura e da interação entre esses dois parâmetros (Tabela 2). Essa interação indica que o florescimento das espécies foi afetado pelas condições de ambiente e, possivelmente, pelo fotoperíodo.

Apenas na mucuna-preta não foi observada influência das condições e do fotoperíodo sobre o florescimento, em função das épocas de semeadura (Tabela 3), mesmo com a diminuição da precipitação de 1.092,8 mm para 455,3 mm da primeira para a segunda época (Tabela 1). De acordo com as informações de Pereira & Kage (1980) e Sabadin (1984), a mucuna-preta não possui reação à variação do comprimento do dia.

O florescimento do guandu foi afetado pela época de semeadura (Tabela 3), o que concorda com vários estudos que relataram variações nas fases fenológicas do guandu quando semeado em épocas diferentes (Hammerton, 1976; Summerfiled & Roberts, 1985; Bishnoi et al., 1991; Nam et al., 1993). É possível que a variação das temperaturas máxima e mínima do ar, durante o período experimental (Tabela 1), tenha colaborado para a antecipação do florescimento, de acordo com Akinola & Whiteman (1975a), Mohamed & Ariyanayagam (1983) e Troedson et al. (1990). As equações obtidas entre as épocas de semeadura e o florescimento referentes ao guandu e à mucuna-preta foram: y=139,064 _ 0,37529x; R2=0,97** e y=139,147 _ 0,09664x; R2=0,87**, respectivamente. C. juncea e C. ochroleuca apresentaram a mesma tendência que a verificada no guandu, e as equações obtidas foram, respectivamente,y=116,567_0,4482x; R2=0,99** e y=140,164 _ 0,42237x; R2=0,92**. Com o atraso da semeadura, ocorreu uma redução no número de dias para atingir o florescimento (Tabela 3), corroborando a pesquisa de Purseglove (1968), que menciona as crotalárias como espécies sensíveis ao fotoperíodo, e a de Wildner & Dadalto (1991), apontando o mesmo comportamento para C. juncea.

A interação entre as épocas e as espécies sobre a produção de fitomassa verde pode estar expressando a influência do material genético empregado, das condições de ambiente e do fotoperíodo, na época de semeadura, e provavelmente causaram diferenças nessa variável (Tabela 2).

Com o deslocamento da época considerada como favorável (início de novembro) para outras, dadas como marginais (janeiro e março), os dias tornaram-se curtos, e causaram, assim, a diminuição da fase vegetativa das espécies C. ochroleuca, C. juncea e Cajamus cajan (Tabela 4). Tal comportamento pode ser confirmado ao se avaliarem os resultados reportados por Spence & Williams (1972), Wallis et al. (1981), Aponte & Salas (1984) e Chauhan (1990). Guandu e C. juncea, apresentaram redução linear na produção de matéria verde com o atraso na época de semeaduras (y=47.286,4 _ 282,864x; R2=0,99** e y=48.206,1 _ 231,941x; R2=0,91**). Em relação a C. juncea, os resultados concordam com Souza (1953) e Lovadini et al. (1970). A resposta do guandu às diferentes épocas de semeadura certifica as observações de Souza (1953), Relatório... (1981) e Nakagawa (1984). Crotalaria ochroleuca apresentou resposta quadrática significativa da fitomassa verde à variação das épocas de semeadura (y=23.232,6 + 445,784x _ 4,298x2; R2=0,89**), com menor rendimento na última época, semelhante ao verificado por Amabile (1993) e por Weber (1991), que o atribuiu às condições climáticas, principalmente a precipitação. Mucuna-preta, que apresenta baixa sensibilidade à diminuição da precipitação e ao fotoperíodo, não demonstrou resposta significativa às épocas de semeadura testadas y=14.350,7 _ 27,697x + 0,355x2; R2=0,34ns). Resultados semelhantes foram obtidos por Pereira & Kage (1980), Pereira (1982) e Pereira et al. (1992). Assim, é uma espécie com potencial para sistemas de produção que necessitem retardar a semeadura, realizando-a, por exemplo, no final da estação chuvosa.

Em relação à produção de fitomassa seca, também foram constatados efeitos significativos das épocas de semeadura, dos adubos verdes e da interação entre eles (Tabela 2), atribuídos à ação do ambiente sobre essa variável. Wildner & Dadalto (1991), Chauhan et al. (1993), Nam et al. (1993) e Calegari (1995) reportaram o mesmo efeito, tanto para C. juncea, como para guandu. Balakrishnan & Natarajaratnam (1989, 1990) e Rana & Malhotra (1992) confirmaram a interferência da época de semeadura sobre a matéria seca acumulada pelo guandu, com acentuadas reduções desse parâmetro com o deslocamento da época adequada de plantio.

Resultados relativos à matéria seca (Tabela 5) foram análogos aos da matéria verde para o caso da mucuna-preta y=3.596,8 + 12,7567x - 0,082082x2; R2=0,53ns). A estabilidade desses parâmetros caracterizou a adaptabilidade dessa espécie às épocas de semeadura em condições climáticas variáveis, associando-se às observações de Pereira (1982) e Fornasieri Filho et al. (1989). Burle et al. (1988) também constataram que a mucuna-preta desenvolveu-se bem, apesar da deficiência hídrica nos Cerrados. O guandu foi influenciado pelas épocas de semeadura, apresentando elevado ajuste quadrático entre épocas e fitomassa seca (y=12.655,55 + 7,4516x _ 0,59646x2; R2=0,99**). A dependência dessa variável às épocas de semeadura do guandu foi mencionada em diversos trabalhos (Wallis et al.,1979; Chauhan et al., 1987; Puste & Jana, 1990; Bishnoi et al., 1991; Böhringer et al., 1994). Tanto C. juncea como C. ochroleuca apresentaram resposta quadrática à variação das épocas (y=17.266,15 _ 226,7664x + 1,121766x2; R2=0,98** e y=8.774,3 _ 71,1484x _ 0,59646x2; R2=0,96**, respectivamente). A redução do rendimento da matéria seca com o atraso da semeadura com relação a essas espécies confirma os resultados de outras pesquisas (Fornasieri Filho et al., 1989; Pereira et al., 1992; Calegari, 1995), podendo ser explicado pela sensibilidade dessas leguminosas à ação fotoperiódica. C. juncea e guandu apresentaram valores superiores aos obtidos por Castro & Guimarães (1982), Sharma et al. (1982) e Chagas et al. (1987). Apesar do maior rendimento de C. juncea e guandu, também na última época, as quatro espécies tenderam a diminuir suas produções de matéria seca. Esses resultados estão de acordo com os de Pereira (1988) e Pereira et al. (1992), que recomendaram a semeadura de C. juncea e guandu no início do período chuvoso na região dos Cerrados. Amabile et al. (1994) encontraram resultados similares em relação a guandu, mucuna-preta e C. juncea semeados no início das chuvas (novembro) nessa região.

O fator espaçamento, as interações deste com as épocas de semeadura e com as espécies, e a interação entre esses três fatores não influenciaram o número de dias para que ocorresse o florescimento (Tabela 2). Abrams & Juliá (1973) encontraram em relação a guandu cv. Kaki, resultados análogos. Ressalta-se que os espaçamentos empregados neste trabalho, de 0,40 e 0,50 m, foram escolhidos em função de serem muito utilizados por grande parte dos produtores de outras culturas, como a soja e o feijão, o que facilitaria o uso de plantadeiras para os adubos verdes.

O efeito simples do espaçamento, bem como os das interações, não foi significativo sobre o rendimento da fitomassa verde em relação a todas as espécies e épocas. Tal fato deveu-se ao arranjo populacional empregado, que não causou competição intra-específica entre as plantas por água, luz e nutrientes. Esse resultado confirma o de Akinola & Whiteman (1975b), que concluíram que a população de plantas depende diretamente da competição que possa existir no sistema.

A falta de significância entre espaçamentos, épocas e espécies, em relação à fitomassa seca, comprovou que as populações de plantas adaptaram-se perfeitamente ao ambiente imposto pelas épocas de semeadura (Tabela 2).

Conclusões

1.Crotalaria juncea e Cajanus cajan apresentam as maiores produções de fitomassa seca.

2. O atraso da semeadura reduz as fitomassas verde e seca produzidas pelas leguminosas, exceto pela mucuna-preta.

3. Os espaçamentos de 0,40 m e 0,50 m não alteram a idade do florescimento, nem influenciam a produção de fitomassa verde e seca.

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  • 1
    Aceito para publicação em 23 de fevereiro de 1999.
    Extraído da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor a ESALQ/USP.
    2
    Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC), Caixa Postal 70.023, CEP 73301-970 Planaltina, DF. E-mail:
    3
    Eng. Agrôn., Dr., Dep. de Agricultura, ESALQ/USP, Caixa Postal 9, CEP 13418-900 Piracicaba, SP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Jul 2003
    • Data do Fascículo
      Jan 2000

    Histórico

    • Aceito
      23 Fev 1999
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