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Comparação de testadores na avaliação de famílias S2 de milho

Comparison of testers in the evaluation of S2 families of maize

Resumos

O objetivo deste trabalho foi comparar testadores para discriminação e avaliação da capacidade de combinação de 64 famílias S2 de milho (Zea mays L.), provenientes do composto CMS-39. As famílias S2 foram avaliadas pelo seu desempenho per se e em cruzamento com três testadores de base genética ampla. Estes foram constituídos pelo híbrido duplo BR-201, pela própria população CMS-39 e a CMS-50. Os topcrosses e famílias S2 foram avaliados em quatro látices 8 x 8, com duas repetições, instalados em áreas contíguas no campo experimental do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras, em Lavras, MG, no ano agrícola 1996/97. Estimou-se a capacidade geral e específica de combinação, considerando-se dialelo parcial, e a heterose em relação às famílias S2 per se. Foram obtidas estimativas das correlações do desempenho médio das famílias S2 per se e dos seus híbridos com os diferentes testadores. Constatou-se que só foi possível discriminar os testadores de acordo com a capacidade de combinação e das estimativas das heteroses. A população CMS-50 destacou-se como a melhor testadora.

Zea mays; métodos de melhoramento; híbridos; heterose


The objective of this work was to compare testers for discrimination and evaluation of the combining ability of 64 S2 families from the maize (Zea mays L.) hybrid CMS-39. The families were evaluated based on their performance per se and in crossing to three broad base testers. The testers were BR-201, a double hybrid, and two populations, CMS-50 and CMS-39. The topcrosses and S2 families were evaluated in four 8 x 8 lattices, with two replications, set up in adjacent areas on the experimental field of UFLA, Lavras, MG, Brazil, in 1996/97. General and specific combining ability, following partial diallel, and the heterosis of each topcross based on the performance of S2 families per se were estimated. Estimates of correlations were obtained from performance means of the S2 families and the hybrids with the different testers. It was only possible to discriminate the testers according to combining ability and heterosis estimates. Population CMS-50 was identified as the best tester.

Zea mays; breeding methods; hybrids; heterosis


COMPARAÇÃO DE TESTADORES NA AVALIAÇÃO DE FAMÍLIAS S2 DE MILHO1 1 Aceito para publicação em 10 de novembro de 1999. Extraído da dissertação de mestrado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras, MG.

HAROLDO TAVARES ELIAS2 2 Eng. Agrôn., M.Sc., Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades (CPPP), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Caixa Postal 791, CEP 89801-470 Chapecó, SC. E-mail: htelias@epagri.rct-sc.br , SAMUEL PEREIRA CARVALHO3 2 Eng. Agrôn., M.Sc., Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades (CPPP), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Caixa Postal 791, CEP 89801-470 Chapecó, SC. E-mail: htelias@epagri.rct-sc.br e CLAUDOMIRO GOMES MOURA ANDRÉ4 2 Eng. Agrôn., M.Sc., Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades (CPPP), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Caixa Postal 791, CEP 89801-470 Chapecó, SC. E-mail: htelias@epagri.rct-sc.br

RESUMO - O objetivo deste trabalho foi comparar testadores para discriminação e avaliação da capacidade de combinação de 64 famílias S2 de milho (Zea mays L.), provenientes do composto CMS-39. As famílias S2 foram avaliadas pelo seu desempenho per se e em cruzamento com três testadores de base genética ampla. Estes foram constituídos pelo híbrido duplo BR-201, pela própria população CMS-39 e a CMS-50. Os topcrosses e famílias S2 foram avaliados em quatro látices 8 x 8, com duas repetições, instalados em áreas contíguas no campo experimental do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras, em Lavras, MG, no ano agrícola 1996/97. Estimou-se a capacidade geral e específica de combinação, considerando-se dialelo parcial, e a heterose em relação às famílias S2per se. Foram obtidas estimativas das correlações do desempenho médio das famílias S2per se e dos seus híbridos com os diferentes testadores. Constatou-se que só foi possível discriminar os testadores de acordo com a capacidade de combinação e das estimativas das heteroses. A população CMS-50 destacou-se como a melhor testadora.

Termos para indexação: Zea mays, métodos de melhoramento, híbridos, heterose.

COMPARISON OF TESTERS IN THE EVALUATION OF S2 FAMILIES OF MAIZE

ABSTRACT - The objective of this work was to compare testers for discrimination and evaluation of the combining ability of 64 S2 families from the maize (Zea mays L.) hybrid CMS-39. The families were evaluated based on their performance per se and in crossing to three broad base testers. The testers were BR-201, a double hybrid, and two populations, CMS-50 and CMS-39. The topcrosses and S2 families were evaluated in four 8 x 8 lattices, with two replications, set up in adjacent areas on the experimental field of UFLA, Lavras, MG, Brazil, in 1996/97. General and specific combining ability, following partial diallel, and the heterosis of each topcross based on the performance of S2 families per se were estimated. Estimates of correlations were obtained from performance means of the S2 families and the hybrids with the different testers. It was only possible to discriminate the testers according to combining ability and heterosis estimates. Population CMS-50 was identified as the best tester.

Index terms: Zea mays, breeding methods, hybrids, heterosis.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do milho híbrido está fundamentado na obtenção de linhagens e avaliação da capacidade de combinação dessas. A obtenção é feita principalmente pelo método chamado padrão, no qual a seleção é efetuada visualmente entre e dentro de progênies endogâmicas até atingir a maioria dos locos em homozigose.

Inicialmente a avaliação da capacidade combinatória das linhagens era efetuada diretamente comparando-se as n(n-1)/2 combinações híbridas possíveis, quando o número de linhagens não excedia a 20.

Para superar a dificuldade experimental decorrente da avaliação de um elevado número de linhagens, sugeriu-se, inicialmente, que essas fossem avaliadas em topcross (Lindstron, 1931; Jenkins & Brunson,1932). O topcross consiste no cruzamento de um grupo de linhagens com um ou mais testadores. O objetivo é eliminar linhagens que não tenham mérito considerável para que se promova sua seleção ou autofecundação, de modo a racionalizar e tornar mais eficiente o programa de desenvolvimento de híbridos.

Embora o método topcross seja aceito para avaliar linhagens, a própria escolha do testador continua sendo um problema para os melhoristas de milho, pois desde sua adoção estudos teóricos e experimentais têm sido registrados sobre base genética, número e eficiência dos testadores, e correlações entre desempenhos de linhagens avaliadas por diferentes tipos de testadores (Paterniani & Miranda Filho, 1987; Aguilar Moran, 1990; Rissi & Hallauer, 1991; Troyer, 1994; Souza Júnior, 1997). Estes estudos têm servido como auxílio na escolha dos testadores, mas não têm fornecido respostas satisfatórias a todas as questões.

Este trabalho foi realizado para comparar três testadores quanto à capacidade de combinação e discriminação de famílias S2 da população CMS-39, e para verificar o grau de associação do desempenho das famílias per se em combinações híbridas.

MATERIAL E MÉTODOS

Os híbridos topcrosses foram obtidos no município de Lavras, MG, na área experimental do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras, no ano agrícola 1995/96. Sua avaliação foi realizada no mesmo local, durante o ano agrícola 1996/97. O solo da região dos experimentos é classificado como Latossolo Vermelho-Roxo distrófico, fase cerrado.

Foram utilizadas 64 famílias S2 provenientes da população CMS-39, obtidas nos anos de 1994 e 1995. A população CMS-39 foi sintetizada pela Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo (cnpms), pelo intercruzamento de 55 materiais envolvendo híbridos simples, duplos e intervarietais, escolhidos a partir dos ensaios nacionais de cultivares de milho (Aguiar, 1986).

Como testadores, foram utilizados CMS-39 (a própria população base utilizada), BR-201 (híbrido duplo desenvolvido pela Embrapa) e CMS-50, denominado composto vega precoce, formado pelo intercruzamento de três híbridos simples e dois híbridos duplos.

O presente estudo foi desenvolvido em duas etapas: a primeira foi a obtenção dos híbridos topcrosses, através do cruzamento entre as famílias S2 com os três testadores, em campos isolados. A segunda etapa consistiu na avaliação dos topcrosses em ensaios de campo.

Foram utilizados quatro látices 8 x 8, dispostos em duas repetições para avaliar os três topcrosses e as famílias S2per se. Cada grupo dos topcrosses e as S2 foram avaliados em experimentos distintos, porém contíguos, em uma mesma área. Adicionalmente, foram incluídas duas testemunhas intercalares em cada bloquinho (sub-bloco) do látice. O híbrido duplo BR-201 participou nos quatro experimentos, e a outra testemunha foi o próprio testador utilizado. No caso das S2 per se, além do BR-201 foi incluído CMS-39 como a segunda testemunha.

Cada parcela experimental foi constituída de uma fileira de 3 m, com espaçamento de 0,90 m entre parcelas. Foram semeadas oito sementes/metro; após o desbaste, ficaram cinco plantas/metro. A adubação e tratos culturais foram os normais requeridos pela cultura. O desbaste foi realizado 15 dias após a emergência.

Neste estudo foi dada ênfase ao peso de espigas despalhadas, corrigidas para a umidade padrão de 15,5%.

Foi realizada a análise de variância do peso de espiga despalhada, utilizando o seguinte modelo estatístico: Yijk = m + ti + rj + bk(j) + eijk. Utilizou-se o quadrado médio do tratamento ajustado e quadrado médio do resíduo para compor o teste F. As médias obtidas foram ajustadas levando-se em consideração a recuperação da informação interblocos. O experimento em que não ocorreu eficiência do látice foi analisado como se fosse blocos casualizados.

A partir das análises individuais, realizou-se a análise do dialelo parcial, utilizando modelo proposto por Griffing (1956), adaptado aos cruzamentos dialélicos parciais por Geraldi & Miranda Filho (1988), onde foram avaliadas "pq" combinações híbridas, sendo "p" famílias S2 (Grupo 1), e "q" testadores (Grupo 2). O modelo estatístico adotado foi : Yij = m + gi + gj + sij + eij, em que:

Yij: valor médio da combinação híbrida entre o i-ésimo progenitor do grupo 1 e j-ésimo progenitor do grupo 2;

m: média geral;

gi: efeito da capacidade geral de combinação da i-ésima família S2 do grupo 1;

gj: efeito da capacidade geral de combinação do j-ésimo testador do grupo 2;

sij: efeito da capacidade específica de combinação entre a família S2 de ordem i e o testador de ordem j, dos grupos 1 e 2, respectivamente, e

eij: erro experimental médio.

A análise dialélica foi realizada utilizando-se o programa GENES desenvolvido por Cruz (1997).

Realizaram-se também as estimativas das correlações classificatória de Spearman (Steel & Torrie, 1980), para verificar o grau de coincidência nas classificações das S2 em função do testador.

A estimativa da heterose de cada híbrido topcross foi obtida pela seguinte expressão:

, em que:

hij: heterose do cruzamento de famílias S2 i com testador j;

: média do topcross da família i com o testador j, e

: média de cada família S2 per se.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As estimativas do coeficiente de variação neste estudo situaram-se entre 15,37% e 31,2%, das quais apenas uma delas foi superior a 20% (Tabela 1). Neste caso, não foi considerado o CVe das S2per se, que, em virtude de sua constituição genotípica, naturalmente apresentam variação dentro maior do que os topcrosses, no caso meios-irmãos. Isto também foi verificado em outros trabalhos, como o de Pena Neto (1982). Segundo Pimentel-Gomes (1985), CVe entre 10% e 20% é considerado médio, e acima de 20% é considerado alto. Já Scapin et al. (1995) encontraram um CVe médio de 16,2% em levantamento baseado em 66 dissertações da área de genética e melhoramento na cultura do milho. Propuseram, então, uma nova classificação do CVe, considerando como médios os valores no intervalo de 10,5% a 22% para peso de espigas.

Não foram encontradas, na literatura, informações sobre tamanho de parcela com famílias S2 de milho. Há resultados disponíveis utilizando famílias de meios-irmãos que demonstram a viabilidade da utilização de parcelas com as dimensões empregadas neste trabalho (Chaves, 1985).

Detectaram-se diferenças significativas entre as famílias S2 com todos os testadores, e também per se (Tabela 1). Os desempenhos médios dos topcrosses dos diferentes testadores foram semelhantes entre si, porém bem superiores ao obtido pelas famílias per se, o que evidencia a ocorrência de heterose nos topcrosses.

Para as estimativas da capacidade de combinação, considerou-se cruzamento em dialelo parcial (Tabela 2). Constata-se que todas as fontes de variação foram significativas, o que indica que ocorrem diferenças entre as famílias e os testadores, tanto no que diz respeito à capacidade geral de combinação como no tocante à capacidade específica.

Coerentemente com a significância observada em relação ao efeito da capacidade geral de combinação (CGC) do Grupo I, constata-se uma enorme variação nas estimativas de gi entre as famílias S2 . Destacaram-se as famílias de número 15, 41, 19, 36 e 4 (Tabela 3) como as que possuem maior capacidade geral de combinação. O mais expressivo é o resultado da estimativa dos testadores. Verifica-se que a maior estimativa de CGC foi obtida na variedade CMS-50.

Ocorreu também ampla variabilidade nas estimativas da capacidade específica de combinação (CEC) dos topcrosses de acordo com o testador; tais informações da CEC são importantes se algum dos testadores for utilizado para a extração de linhagens voltadas para a produção de híbridos. Esse, inclusive, é o principal argumento para se utilizar como testador de famílias endogâmicas, uma população que esteja sendo utilizada como fonte de linhagem, mas que seja de grupo heterótico diferente (Hallauer & Miranda Filho, 1988).

Para ter certeza sobre se ocorreu coincidência entre os testadores para classificação das famílias S2, foi estimado o coeficiente de correlação classificatória de Spearman. Constata-se que todas as estimativas não diferiram de zero, encontrando-se valores entre -0,0852 e 0,1026, indicando, assim, que a classificação das famílias foi diferente de acordo com o testador utilizado.

O desempenho do topcross dependeu do testador utilizado. Isto está de acordo com vários trabalhos apresentados na literatura, como o de Keller (1949), que encontrou baixa correlação entre o desempenho das famílias topcrosses quando utilizou diferentes testadores. O mesmo fato foi constatado por Lonquist & Rumbaugh (1958). Estes avaliaram o mérito relativo de dois testadores: um, de ampla base genética, e outro, híbrido simples, obtendo-se uma estimativa de r = - 0,08. Por outro lado, Aguilar Moran (1990) avaliou linhagens S6 de dois compostos de milho em cruzamento com quatro testadores de base genética estreita (duas linhagens e dois híbridos simples). Obteve estimativas das correlações de Spearman variando de 0,26 a 0,70. Embora esses valores sejam maiores do que os obtidos no presente trabalho, foram observadas discrepâncias de classificação entre os testadores.

É particularmente expressiva a baixa correlação entre o desempenho das famílias S2per se e o do topcross com o CMS-39 (-0,0528), ou seja: a correlação entre as famílias S2per se e o meio-irmão interpopulacional, como mencionado, foi nula também. Há que ressaltar que essa correlação pode ter sido baixa por algumas razões: a primeira delas é a baixa precisão experimental com que foram obtidas as médias, especialmente das famílias per se. Uma segunda causa está relacionada à amostragem deficiente das famílias S2. Isto é, para representar estas famílias, foram utilizadas duas repetições com parcelas de 3 m, ou seja, 30 plantas. Considerando a segregação dentro das famílias S2, é possível que esse número não seja suficiente para representá-la. Não foram encontradas na literatura informações sobre o número adequado de indivíduos para representar a família S2. Essa observação é também válida na amostragem dos indivíduos S2 para a obtenção dos topcrosses. Esse erro amostral deve contribuir para reduzir as estimativas das correlações entre o desempenho do S2per se e em topcross.

Finalmente, uma terceira causa da baixa correlação entre S2 e meios-irmãos é a diferença na depressão endogâmica das famílias utilizadas. Esse fato contribui também para que não haja concordância no desempenho das famílias do S2per se e os respectivos meios-irmãos.

Resultados semelhantes foram obtidos por Gama & Hallauer (1977). Esses autores conduziram estudos com linhagens não selecionadas e seus cruzamentos simples, no desenvolvimento de híbridos do sintético Iowa (BSSS). As correlações genéticas foram determinadas de oito caracteres, e foram também pequenas em todas as instâncias para serem consideradas preditivas. Coeficientes de correlações para produção, por exemplo, foram somente 0,09 e 0,11. Esses autores fazem considerações quanto à grande variação das estimativas de correlações em diferentes experimentos. Apresentam como possíveis causas o tamanho de amostra das populações, os tipos de cruzamentos avaliados, e as diferenças ambientais em que as linhagens e híbridos são avaliados. Isto pode minimizar as estimativas das correlações de linhagens e seus híbridos.

Buitrago (1996) fez a comparação de três processos seletivos para identificação de linhagens superiores em duas populações de milho (BR-105 e BR-106), e obteve correlações genéticas entre S1per se e topcrosses bem superiores entre as progênies da população BR-106 (0,56-0,57) em comparação com as progênies da população BR-105 (0,18-0,24). Segundo o autor, tais discrepâncias resultaram, possivelmente, de diferenças na estrutura genética nas populações.

Estudos teóricos foram realizados por Smith (1986), a respeito da relação entre linhagens per se e o comportamento dos topcrosses, para examinar as possíveis razões dos baixos valores das correlações. Os resultados indicaram que, no que concerne a caracteres condicionados por um grande número de locos com dominância completa, espera-se que as correlações entre linhagens per se e o comportamento dos topcrosses sejam menores que 0,5. Isto se deve aos efeitos mascaradores de alelos favoráveis dominantes no testador. A baixa correlação entre linhagens per se e o comportamento dos topcrosses pode indicar que a quantidade de ação gênica não-aditiva está afetando o comportamento dos topcrosses.

As estimativas da heterose relativa de cada topcross e a média dessas heteroses em seus respectivos testadores estão relacionadas na Tabela 4. Observa-se grande variação entre as médias dos topcrosses e heteroses dentro de cada testador. A média das estimativas das heteroses, quando se usou o CMS-50, foi superior às demais, o que caracteriza maior divergência genética entre o CMS-50 e as famílias testadas; isto representa maior complementaridade alélica com esse material. Em termos práticos, pode-se obter melhores combinações híbridas entre as famílias S2 e a população CMS-50, em comparação com os demais cruzamentos efetuados. Há que ressaltar que o testador CMS-50 é considerado do grupo heterótico "flint", ao passo que as linhagens oriundas do CMS-39 são do grupo "dent", o que explica essa maior divergência. As estimativas da heterose dentro de cada testador variaram, conferindo destaque positivo ao desempenho das progênies 41, 15 e 46, que com todos os testadores obtiveram uma estimativa da heterose no mínimo quatro vezes superior à do desempenho per se.

A expressão

é apresentada por Vencovsky (1987), onde:

= a freqüência alélica média de determinado loco dos n materiais avaliados;

pi = freqüência do alelo favorável do material i;

t = freqüência alélica do testador utilizado;

a = desvio dos homozigotos em relação à média (efeito aditivo);

d = desvio dos heterozigotos em relação à média, também denominado de efeito de dominância dos genes.

Assim, pode-se fazer inferências sobre as estimativas da heterose obtidas.

Nesta expressão pi é a freqüência do alelo favorável na família S2 considerada, e , a freqüência alélica média do grupo de famílias avaliadas.

Comparando os valores das médias de produção e a heterose dos topcrosses, dentro de cada testador, verifica-se que, como o testador é comum ao grupo analisado, a freqüência t será constante. Sendo assim, as diferenças nas estimativas da capacidade de combinação dependem diretamente da freqüência alélica da família (pi - ). Com isso, altas capacidades de combinação ocorrerão, em geral, nas famílias dotadas de maior freqüência de alelos favoráveis (pi). Dessa forma, pode-se argumentar que as famílias 41, 15 e 46 possuem maior freqüência de alelos favoráveis.

Outra comparação refere-se às estimativas da heterose relacional de cada topcross, ou seja, de cada família com os diferentes testadores. Agora, a primeira parte da expressão (pi - ) será constante, pois a freqüência alélica da família (pi) é a mesma. Desta forma, a estimativa da CGC dependerá diretamente da freqüência de alelos favoráveis do testador (t), ou seja, da segunda parte da expressão, (1-2 t), considerando a presença dos efeitos de dominância (d¹0). Verifica-se, assim, que, quanto menor a freqüência alélica no testador, maior será a estimativa da capacidade geral de combinação. Portanto, considerando as estimativas da CGC dos três testadores, constata-se que o CMS-50 apresentou o maior valor. Há que considerar, também, que este mesmo testador foi o que apresentou menor média de produção per se, ou seja, menor freqüência alélica (Tabela 4). Os resultados obtidos estão coerentes com a teoria genética de que o melhor testador é aquele que possui menor freqüência de alelos favoráveis, como é constantemente realçado na literatura (Rawling & Thompson,1962; Hallauer & Miranda Filho, 1988; Aguilar Moran, 1990; Vencovsky & Barriga, 1992).

CONCLUSÃO

Pelas estimativas da capacidade de combinação e das heteroses, o melhor testador para as famílias S2 avaliadas é o composto CMS-50.

3 Eng. Agrôn., Ph.D., UFLA, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras, MG. E-mail: samuelpc@ufla.br

4 Eng. Agrôn., M.Sc., Universidade de Tocantins (UNITINS), Caixa Postal 173, CEP 77123-360 Palmas, TO. E-mail: andrecmg@unitins.br

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    Aceito para publicação em 10 de novembro de 1999.
    Extraído da dissertação de mestrado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras, MG.
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    Eng. Agrôn., M.Sc., Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades (CPPP), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Caixa Postal 791, CEP 89801-470 Chapecó, SC. E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Set 2001
    • Data do Fascículo
      Jun 2000

    Histórico

    • Aceito
      10 Nov 1999
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