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Influência de porta-enxertos no crescimento de clones de seringueira no Estado de São Paulo

Influence of rootstocks on scion growth of rubber tree in São Paulo State, Brazil

Resumos

Este trabalho foi instalado na Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, SP, com a finalidade de avaliar a interação enxerto vs. porta-enxertos de seringueira, Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr. de Juss.) Müell. Arg. Os clones utilizados foram IAN 873, RRIM 600, RRIM 701, PB 235, PR 107 e GT 1, enxertados em seis diferentes porta-enxertos provenientes de sementes ilegítimas dos clones IAN 873, RRIM 600, RRIM 701, PB 235, GT 1 e de sementes não selecionadas. O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com parcelas subdivididas, tendo os porta-enxertos como tratamentos e os clones (enxertos) como subtratamentos, em quatro repetições. Os resultadosmostram que no período de avaliação o porta-enxerto GT 1 e IAN 873 foram os que produziram os maiores perímetros por planta, sendo 10,20 % maior que o de sementes não selecionadas. Paralelamente, os enxertos em vigor mostraram que os clones PB 235, RRIM 600 e PR 107 apresentaram melhor desempenho, com um perímetro do caule 8,12% maior que o dos clonesRRIM 701 e GT 1,notadamente os de menor vigor. A interação enxerto vs. porta-enxerto não foi significativa.

Hevea brasiliensis; clonagem; propagação vegetativa; compatibilidade do enxerto; vigor de semente


This paper was established in the experimental fields of Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, SP, Brazil, in order to evaluate rootstocks vs. scion interaction in rubber tree, Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr de Juss.) Müell. Arg. The clones involved were: IAN 873, RRIM 600, RRIM 701, PB 235, PR 107 and GT 1 grafted in six different rootstocks from illegitimate seeds ofthe clones IAN 873, RRIM 600, RRIM 701, PB 235, GT 1 and from unselected seeds. The lay out used was that of randomized blocks in split-splot design, with four replications. The outcome has shown that in the evaluation period the GT 1 and IAN 873 rootstocks were the ones which produced the mayor girth per plant, being 10.20% larger than that of unselected seeds. At the same time the clones studied pointed out that PB 235, RRIM 600 and PR 107 had a better achievement with an increase of8.12% in the stem girth compared with RRIM 701 and GT 1 clones that had the worst development. The interaction rootstocks vs. scion was not significant.

Hevea brasiliensis; cloning; vegetative propagation; graft compatibility; seed vigor


INFLUÊNCIA DE PORTA-ENXERTOS NO CRESCIMENTO DE CLONES DE SERINGUEIRA NO ESTADO DE SÃO PAULO1 1 Aceito para publicação em 23 de julho de 1999. Parcialmente financiado pela FAPESP. 2 Eng. Agrôn., M.Sc, Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 14, CEP 15830-000Pindorama, SP. E-mail: lmartins@zup.com.br 3 Eng. Agrôn., Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas, SP. Bolsista do CNPq. 4 Eng. Agrôn., Dr., Embrapa/Programa Integrado de São Paulo, Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. E-mail: paulog@cec.iac.br 5 Eng. Agrôn., Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. Bolsista do CNPq.

ANTONIO LUCIO MELLO MARTINS2 1 Aceito para publicação em 23 de julho de 1999. Parcialmente financiado pela FAPESP. 2 Eng. Agrôn., M.Sc, Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 14, CEP 15830-000Pindorama, SP. E-mail: lmartins@zup.com.br 3 Eng. Agrôn., Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas, SP. Bolsista do CNPq. 4 Eng. Agrôn., Dr., Embrapa/Programa Integrado de São Paulo, Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. E-mail: paulog@cec.iac.br 5 Eng. Agrôn., Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. Bolsista do CNPq. ,NILZA PATRICIA RAMOS3 1 Aceito para publicação em 23 de julho de 1999. Parcialmente financiado pela FAPESP. 2 Eng. Agrôn., M.Sc, Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 14, CEP 15830-000Pindorama, SP. E-mail: lmartins@zup.com.br 3 Eng. Agrôn., Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas, SP. Bolsista do CNPq. 4 Eng. Agrôn., Dr., Embrapa/Programa Integrado de São Paulo, Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. E-mail: paulog@cec.iac.br 5 Eng. Agrôn., Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. Bolsista do CNPq. ,PAULO DE SOUZA GONÇALVES4 1 Aceito para publicação em 23 de julho de 1999. Parcialmente financiado pela FAPESP. 2 Eng. Agrôn., M.Sc, Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 14, CEP 15830-000Pindorama, SP. E-mail: lmartins@zup.com.br 3 Eng. Agrôn., Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas, SP. Bolsista do CNPq. 4 Eng. Agrôn., Dr., Embrapa/Programa Integrado de São Paulo, Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. E-mail: paulog@cec.iac.br 5 Eng. Agrôn., Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. Bolsista do CNPq. e KATIA SCOTT DOVAL5 1 Aceito para publicação em 23 de julho de 1999. Parcialmente financiado pela FAPESP. 2 Eng. Agrôn., M.Sc, Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 14, CEP 15830-000Pindorama, SP. E-mail: lmartins@zup.com.br 3 Eng. Agrôn., Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas, SP. Bolsista do CNPq. 4 Eng. Agrôn., Dr., Embrapa/Programa Integrado de São Paulo, Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. E-mail: paulog@cec.iac.br 5 Eng. Agrôn., Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. Bolsista do CNPq.

RESUMO - Este trabalho foi instalado na Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, SP, com a finalidade de avaliar a interação enxerto vs. porta-enxertos de seringueira, Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr. de Juss.) Müell. Arg. Os clones utilizados foram IAN 873, RRIM 600, RRIM 701, PB 235, PR 107 e GT 1, enxertados em seis diferentes porta-enxertos provenientes de sementes ilegítimas dos clones IAN 873, RRIM 600, RRIM 701, PB 235, GT 1 e de sementes não selecionadas. O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com parcelas subdivididas, tendo os porta-enxertos como tratamentos e os clones (enxertos) como subtratamentos, em quatro repetições. Os resultadosmostram que no período de avaliação o porta-enxerto GT 1 e IAN 873 foram os que produziram os maiores perímetros por planta, sendo 10,20 % maior que o de sementes não selecionadas. Paralelamente, os enxertos em vigor mostraram que os clones PB 235, RRIM 600 e PR 107 apresentaram melhor desempenho, com um perímetro do caule 8,12% maior que o dos clonesRRIM 701 e GT 1,notadamente os de menor vigor. A interação enxerto vs. porta-enxerto não foi significativa.

Termos para indexação: Hevea brasiliensis, clonagem, propagação vegetativa, compatibilidade do enxerto, vigor de semente.

INFLUENCE OF ROOTSTOCKS ON SCION GROWTH OF RUBBER TREE IN SÃO PAULO STATE, BRAZIL

ABSTRACT - This paper was established in the experimental fields of Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, SP, Brazil, in order to evaluate rootstocks vs. scion interaction in rubber tree, Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr de Juss.) Müell. Arg. The clones involved were: IAN 873, RRIM 600, RRIM 701, PB 235, PR 107 and GT 1 grafted in six different rootstocks from illegitimate seeds ofthe clones IAN 873, RRIM 600, RRIM 701, PB 235, GT 1 and from unselected seeds. The lay out used was that of randomized blocks in split-splot design, with four replications. The outcome has shown that in the evaluation period the GT 1 and IAN 873 rootstocks were the ones which produced the mayor girth per plant, being 10.20% larger than that of unselected seeds. At the same time the clones studied pointed out that PB 235, RRIM 600 and PR 107 had a better achievement with an increase of8.12% in the stem girth compared with RRIM 701 and GT 1 clones that had the worst development. The interaction rootstocks vs. scion was not significant.

Index terms: Hevea brasiliensis,cloning, vegetative propagation, graft compatibility, seed vigor.

INTRODUÇÃO

A borracha natural ocupa papel de grande destaque como matéria-prima mundial, com probabilidade de aumento de demanda por vários consumidores, mas principalmente pela indústria de pneumáticos, que atualmente consome 75% do total produzido. A produção tem atendido às necessidades dos mercados até o presente momento, mas para o futuro as perspectivas são de necessidade de aumento de produção, mediante melhorias de produtividade da seringueira, Hevea brasiliensis (Wild. Ex Adr. de Juss.) Müell. Agr., redução no período de imaturidade, melhorias no manejo a fim de minimizar custos, além de revisão dos preços e maiores investimentos na área de pesquisa, para possibilitar uma explotação mais viável e melhor competição do Brasil com os mercados internacionais.

Atualmente, os maiores produtores mundiais de borracha natural são a Tailândia, seguida da Indonésia, Malásia e Sri Lanka; com relação aos maiores consumidores, podemos citar os Estados Unidos, além da União Européia e Japão. O Brasil, que já foi um dos maiores produtores mundiais, hoje necessita importar parte da borracha natural necessária para seu consumo interno. Com relação à produção brasileira, o Estado de São Paulo contribui com aproximadamente 50% da borracha, estimada em 40 mil toneladas produzidas em 1999. Daí a importância de estudos da cultura da seringueira para o Estado.

Com a domesticação da cultura, facilitada pelo uso da técnica de enxertia como método de propagação, aumentaram as possibilidades de obtenção de plantas mais homogêneas e produtivas no seringal (Dijkman, 1951). Uma vez que a seringueira é uma planta alógama com alto grau de segregação, a propagação vegetativa é a mais recomendada, e visa assegurar a integridade genotípica dos clones estabelecidos. O método mais empregado é o da enxertia por borbulha em porta-enxertos provenientes de sementes. Sendo assim, em plantações comerciais os clones são escolhidos em razão de sua adaptabilidade ao local e da sua produtividade; já os porta-enxertos, desde que preencham as condições ideais de enxertia, pouca importância lhes é dada quanto à sua procedência ou descendência.

A seleção de material a ser enxertado levou a aumento de produtividade e resistência a doenças. Nunca houve, porém, preocupação com a influência do porta-enxerto, até que Schweizer (1938),Buttery(1961) e Yahampath (1968) mostraram a existência de influência do porta-enxerto no crescimento e na produção do enxerto. Entre as principais influências causadas pelo porta-enxerto em relação ao enxerto,Combe & Gener(1977) eNg et al. (1982) evidenciaram a existência de grande variabilidade intraclonal para vigor e produção.

Geralmente, as sementes utilizadas nos viveiros não possuem nenhum rigor de coleta, e empregam-se sementes das mais variadas origens e procedências, o que influencia as variáveis de crescimento e produção do seringal. Assim, o uso de sementes capazes de produzir porta-enxertos homogêneos, vigorosos e de alta produtividade, é indispensável para realçar o potencial dos clones empregados (McIndoe, 1958; Senanayake & Wijewantha, 1968; Jayasekera & Senanayake, 1971).

Segundo Nouy & Nicolas (1984), uma recomendação para plantio deveria levar em conta tanto o clone como o porta-enxerto, porém Ng et al. (1982) observaram que a disponibilidade de mudas de porta-enxertos depende da área plantada deste material, e é notoriamente conhecido que áreas de certos clones estão diminuindo consideravelmente e dão lugar a materiais mais produtivos ou ainda a outras culturas.

Nos países asiáticos, onde a cultura da seringueira é tecnicamente mais adiantada, já são conhecidas as melhores combinações entre enxertos e porta-enxertos oriundos de sementes ilegítimas. Este fato tem proporcionado um melhor desempenho nos plantios comerciais, e, conseqüentemente, maior sucesso no empreendimento. No Brasil, porém, poucos são os resultados de pesquisas sobre interação de clones com porta-enxertos obtidos a partir de sementes clonais. Santos (1982), em experimento conduzido na Bahia, não encontrou diferença significativa na interação entre os enxertos vs. porta-enxertos estudados, e afirma que o comportamento do enxerto independe do porta-enxerto utilizado.

Recentemente, no Estado de São Paulo, Gonçalves et al. (1994) avaliaram o vigor de seis populações de porta-enxertos anteriores ao processo da enxertia. Na avaliação, foram utilizadas variáveis de crescimento, e foi mostrada, inclusive, a existência de diferenças significativas entre os porta-enxertos no que tange a qualquer das variáveis estudadas. Entre os resultados, foi observado que a maior variação ocorreu em porta-enxertos oriundos de sementes não-selecionadas, seguida de porta-enxertos do cloneRRIM 600.

Este trabalho teve por finalidade determinar a melhor combinação enxerto vs. porta-enxerto em relação ao vigor, para recomendações de plantio no Estado de São Paulo.

MATERIAL E MÉTODOS

Utilizaram-se, como porta-enxertos, mudas provenientes de sementes dos clones GT 1, PB 235, RRIM 600, RRIM 701 e IAN 873 e sementes não-selecionadas (SNS). As sementes dos clones IAN 873, RRIM 600 e RRIM 701 foram coletadas dentro de parcelas do experimento de avaliação de clones do Programa Seringueira, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), estabelecido na Fazenda Água Milagrosa, Tabapuã, SP. Os clones GT 1 e PB 235 tiveram as sementes coletadas de seringal comercial, no município de Marília, SP. Na coleta preferiram-se sempre os frutos expostos nas laterais e extremidades dos blocos monoclonais, conforme recomendações de Bouychou (1969). Já as sementes não selecionadas foram colhidas de pés francos da Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, SP. Cada porta-enxerto recebeu borbulhas dos clones GT 1, IAN 873, PB 235, RRIM 600, RRIM 701 e PR 107, provenientes de jardim clonal instalado na referida estação.

Colhidos os frutos e separadas as sementes, fez-se a semeadura em canteiros de germinação. Na fase de "palito", as mudas foram transplantadas para sacos de polietileno. Após dez meses, as mudas ensacoladas foram transferidas para o local definitivo, e a enxertia, realizada 12 meses após a instalação no campo, usando-se gemas maduras dos clones em estudo.

O local de instalação foi a Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, pertencente ao IAC, localizada a 21º 13' S de latitude e 48º 56' W de longitude, com 560 m de altitude, em solo Podzólico Vermelho-Amarelo Tb eutrófico, de textura média, profundo, abrupto e bem drenado (Lepsch & Valadares, 1976). Predomina, nesta região o clima Aw (Köppen) com estação seca definida, amplitude média de 23,8ºC a 19,3ºC, precipitação média anual de 1.258 mm. As deficiências hídricas e os baixos níveis térmicos ocorrem de junho ao início de setembro, com um período favorável ao crescimento da seringueira nos meses de outubro a março (Ortolani, 1986).

Adotou-se o delineamentode blocos ao acaso, com parcelas subdivididas, em seis tratamentos (porta-enxertos) e seis subtratamentos (enxertos), com quatro repetições. Cada parcela constou de 20 plantas, sendo seis úteis, no espaçamento 7,0 m entre linhas e 3,0 m entre plantas, distribuídas em 6,0 ha. As bordaduras utilizadas foram simples, ou seja, do próprio tratamento da parcela.

A determinação do vigor na fase de crescimento das plantas foi feita por avaliação das variáveis: perímetro e incremento anual do caule. O incremento anual do caule foi obtido pela diferença das avaliações posteriores do perímetro com as anteriores.

Para a avaliação do ensaio, realizaram-se mensurações anuais do perímetro do caule. Os primeiros dados foram coletados aos 12 meses após a enxertia a 0,50 m de altura a partir do calo de enxertia; para isto, utilizou-se paquímetro, e posteriormente converteu-se a medida para perímetro. As demais avaliações efetuadas nos seis anos subseqüentes foram feitas a 1,30 m a partir do calo de enxertia.

Durante a execução do experimento, empregaram-se todas as práticas culturais, convencionais ao cultivo da seringueira (Cardoso, 1982).

Realizaram-se análises de variância com média das parcelas e subparcelas de cada perímetro e incremento do caule. Em seguida, foram conduzidas análises combinadas de cada variável, com o delineamento em parcelas subdivididas no tempo, uma vez que foram efetuadas medidas sucessivas numa mesma subparcela, num certo período de tempo. Em seguida, foi realizado o teste de Tukey a 5% de probabilidade, para comparação das médias de cada um dos parâmetros estudados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores dos quadrados médios, bem como os coeficientes de variação experimental das análises de variância individuais de perímetro e incremento do caule, assim como o teste F, encontram-se na Tabela 1. A interação enxerto vs. porta-enxerto não foi significativa em nenhuma das variáveis estudadas, o que revela que os efeitos dos porta-enxertos e dos enxertos são independentes. Resultado semelhante foi observado no Estado da Bahia, por Santos (1982), no primeiro ano de avaliação, em estudo de efeito de interação enxerto vs. porta-enxerto com clones amazônicos. Gonçalves et al. (1994) atribuírama inexistência de interações significativas de enxertos vs. porta-enxertos no que se refere a caracteres de crescimento à habilidade do porta-enxerto de influir no desenvolvimento do vigor de forma igual para todos os clones. Outros autores, comoNg et al. (1982), na Malásia, e Alves (1987), no Pará, também não encontraramefeito significativo referente à interação enxerto vs. porta-enxerto.

Os resultados da análise de variância conjunta para perímetro e incremento do caule (Tabela 2) evidenciam que a interação enxerto vs. porta-enxerto não foi significativa. Os porta-enxertos obtiveram significância a 1%, e os enxertos, a 5% de probabilidade. Os coeficientes de variação foram relativamente baixos, chegando a 3,13% para porta-enxerto e 8,28% para enxerto, no tocante à variável perímetro do caule. Quanto ao incremento anual do caule, os coeficientes foram de 4,09% em relação ao porta-enxerto e 6,46% em relação ao enxerto, que podem ser considerados resultados confiáveis uma vez que os coeficientes de variação em ensaios de campo geralmente são maiores que esses dados.

A Tabela 3 apresenta os valores médios de perímetro do caule de seringueira, e o teste de Tukey, aos sete anos de idade, podendo-se afirmar que os porta-enxertos de GT 1 e IAN 873 mantiveram-se com os maiores valores de perímetro do caule, levando a uma diferença de, aproximadamente, 10,20% em relação aos de porta-enxertos provenientes de sementes não-selecionadas SNS, que apresentaram o menor perímetro de caule antes da explotação. Nouy & Nicolas (1984) também encontraram superioridade do clone GT 1, usado como porta-enxerto; já Valois et al. (1978) encontraram superioridade do clone IAN 873usado como porta-enxerto, em comparação aos clones IAN 717, HBSP e Fx 3899, cultivados em Belém, PA. Os clones PB 235, RRIM 600, PR 107 e IAN 873 apresentaram valores do perímetro do caule superiores aos observados no RRIM 701 e no GT 1. O clone IAN 873 apresentou valores semelhantes ao do PR 107, o qual não diferiu de PB 235 e RRIM 600.

Todos os porta-enxertos apresentaram desenvolvimento bastante similar até o quarto ano de crescimento (Fig. 1). A partir do quinto ano, houve uma diferenciação, ou seja, os clones de GT 1, IAN 873 e PB 235 apresentaram maiores valores em relação aos demais porta-enxertos estudados. Já aqueles oriundos de sementes não selecionadas mostraram desempenho inferior, chegando aos sete anos com perímetro de caule insuficiente para sangria, ou seja, menor que 0,45 cm a 1,30 m de altura a partir do calo de enxertia.


Os maiores valores de incremento médio anual de crescimento do caule foram obtidos do segundo para o terceiro ano de desenvolvimento da seringueira (incremento 2), obtendo-se o pico de 10 cm para os porta-enxertos oriundos dos clones de GT 1 (Fig.1). Nos demais intervalos, os valores de incremento do caule permaneceram abaixo do referido crescimento.

O porcentual de plantas aptas à sangria está relacionado com a médiado perímetro do caule das plantas aptas à abertura dos painéis dos porta-enxertos e clones em estudo. Esse porcentual, representado na Fig. 2, variou de 14% (SNS) a 64% (GT 1), mostrando uma diferença de 50% entre eles. Também os porta-enxertos oriundos dos clones RRIM 600 e RRIM 701 não possibilitaram que as plantas enxertadas sobre eles entrassem em sangria, uma vez que apresentaram porcentagens inferiores a 50% das plantas aptas à explotação. Pode-se então afirmar que os porta-enxertos provenientes de SNS, seguidos de RRIM 600 e RRIM 701, levam a menor uniformidade dos clones enxertados sobre eles. Quanto aos porta-enxertos oriundos de SNS, sua desuniformidade pode ser atribuída ao mais variado tipo de recombinação genética, já que eles foram originados de uma população de pés-francos. Gonçalves et al. (1994) obtiveram resultado semelhante, em que maiores variações ocorreram em SNS e RRIM 600.


Todos os dados analisados neste estudo referem-se apenas às variáveis de perímetro e incremento do caule, como proposto, mostrando não haver diferença significativa na interação enxerto vs. porta-enxerto. Por outro lado, este quadro pode ser modificado a partir do momento em que as plantas entrarem em explotação, visto que muitos autores afirmam que a produção de um clone pode ser influenciada pelas características genéticas do porta-enxerto (Tan, 1977). Buttery (1961), Ng et al. (1982),concluíram que a produção relativa à interação enxerto vs. porta-enxerto é independente da influência do porta-enxerto no crescimento da planta. Soares Filho et al. (1981), estudando competição de porta-enxertos em citrus, concluíram que nem sempre o maior vigor induzido à copa está associado à maior produção por planta.

Quanto à recomendação de melhores combinações enxerto vs. porta-enxerto para o Estado de São Paulo, nada pode ser afirmado, mas quanto ao porta-enxerto pode-se recomendar os clones GT 1 e IAN 873, que mostraram ser bem mais uniformes e precoces com relação à entrada em sangria. Com isto, aumentam as opções de porta-enxertos a serem tecnicamente utilizados.

CONCLUSÕES

1. A interação enxerto vs. porta-enxerto não é significativa; o comportamento do enxerto independe do porta-enxerto utilizado.

2. No tocante a enxerto e porta-enxerto, há efeito significativo tanto no que se refere ao perímetro como ao crescimento do caule.

3. Os porta-enxertos GT 1 e IAN 873 apresentam as maiores médias de perímetro do caule dos clones antes da sangria.

4. O pior comportamento no que se refere a vigor no crescimento é apresentado pelo porta-enxerto de sementes não selecionadas, induzindo o menor crescimento dos clones nele enxertados, o que leva, conseqüentemente, a uma menor porcentagem de plantas aptas à sangria.

5. Os clones PB 235,RRIM 600 e PR 107 apresentam maiores médias de perímetro do caule, em comparação com os clones RRIM 600 e GT 1 antes da sangria.

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    Aceito para publicação em 23 de julho de 1999. Parcialmente financiado pela FAPESP.
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    Eng. Agrôn., M.Sc, Estação Experimental de Agronomia de Pindorama, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 14, CEP 15830-000Pindorama, SP. E-mail:
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    Eng. Agrôn., Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas, SP. Bolsista do CNPq.
    4
    Eng. Agrôn., Dr., Embrapa/Programa Integrado de São Paulo, Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. E-mail:
    5
    Eng. Agrôn., Programa Seringueira, Centro de Café e Plantas Tropicais, IAC. Bolsista do CNPq.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Jun 2001
    • Data do Fascículo
      Set 2000

    Histórico

    • Aceito
      23 Jul 1999
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