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Efeito da remoção de folhas no desenvolvimento vegetativo e na produção do algodoeiro

Effect of leaf remotion on vegetative development and production in cotton

Resumos

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da remoção das folhas da haste principal e dos ramos frutíferos no desenvolvimento vegetativo e produção do algodoeiro (Gossypium hirsutum L.), cultivar CNPA 7H em casa de vegetação. A remoção das folhas da haste principal do algodoeiro reduz a altura das plantas, a área foliar, o diâmetro do fruto e do caule e principalmente a produção de frutos nas primeiras e segundas posições-chaves de frutificação.

Gossypium hirsutum; área foliar; caule; etapas de desenvolvimento da planta


The objective of this work was to evaluate the effect of the removal of the leaves of the main stem and of the fruitful branches on the vegetative development and production of cotton (Gossypium hirsutum L.), cultivar CNPA 7H, in greenhouse. According to results, removal of the main leaves reduces the plant height, leaf area, fruit and stem diameter and mainly the production of fruits in the first and second fruiting positions.

Gossypium hirsutum; leaf area; stems; plant developmental stages


Efeito da remoção de folhas no desenvolvimento vegetativo e na produção do algodoeiro(1 (1 ) Aceito para publicação em 22 de setembro de 2000. )

Aleksandra Gomes Jácome(2 (2 ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA), Caixa Postal 174, CEP 58107720 Campina Grande, PB. Email: soares@cnpa.embrapa.br ), José Janduí Soares(2 (2 ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA), Caixa Postal 174, CEP 58107720 Campina Grande, PB. Email: soares@cnpa.embrapa.br ), Rosa Honorato de Oliveira(2 (2 ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA), Caixa Postal 174, CEP 58107720 Campina Grande, PB. Email: soares@cnpa.embrapa.br ) e Francisco Pereira Cordão Sobrinho(2 (2 ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA), Caixa Postal 174, CEP 58107720 Campina Grande, PB. Email: soares@cnpa.embrapa.br )

Resumo ¾ O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da remoção das folhas da haste principal e dos ramos frutíferos no desenvolvimento vegetativo e produção do algodoeiro (Gossypium hirsutum L.), cultivar CNPA 7H em casa de vegetação. A remoção das folhas da haste principal do algodoeiro reduz a altura das plantas, a área foliar, o diâmetro do fruto e do caule e principalmente a produção de frutos nas primeiras e segundas posições-chaves de frutificação.

Termos para indexação: Gossypium hirsutum, área foliar, caule, etapas de desenvolvimento da planta.

Effect of leaf remotion on vegetative development and production in cotton

Abstract ¾ The objective of this work was to evaluate the effect of the removal of the leaves of the main stem and of the fruitful branches on the vegetative development and production of cotton (Gossypium hirsutum L.), cultivar CNPA 7H, in greenhouse. According to results, removal of the main leaves reduces the plant height, leaf area, fruit and stem diameter and mainly the production of fruits in the first and second fruiting positions.

Index terms: Gossypium hirsutum, leaf area, stems, plant developmental stages.

Introdução

De acordo com Ashley et al. (1965) e Jensen (1986) a produção das culturas é limitada pela área foliar, disposição das folhas, envolvendo o ângulo foliar e distribuição vertical macrofoliar, e a quantidade de CO2 existente na atmosfera. As folhas da haste principal são as principais responsáveis pela nutrição do ramo e dos frutos, principalmente nos nós abaixo do nono ramo frutífero (Wullschleger & Oosterhuis, 1990). Beltrão & Azevedo (1993) observaram que ao retirar as folhas da haste principal houve uma redução na produção de mais de 30% e o desenvolvimento da planta foi afetado.

O curuquerê-do-algodoeiro (Alabama argillacea, Hueb. 1818), considerada a praga mais importante do algodoeiro (Soares et al., 1997), depois do pulgão (Aphis gossypii, Glover, 1876), alimenta-se,inicialmente, das três primeiras folhas da haste principal, e como até os 45 dias de idade as plantas não suportam redução da área foliar, ocorrem quedas na produção (Cavalcante, 1977; Cavalcante & Cavalcante, 1981; Silva et al., 1981; Bleicher et al., 1983). Segundo Calafiori et al. (1986), caso a praga não seja controlada, ocorre o depauperamento da planta e a conseqüente queda de produção, fazendo com que as maçãs amadureçam precocemente, comprometendo as fibras e a qualidade das sementes.

Objetivou-se, com este trabalho, avaliar o efeito da remoção das folhas da haste principal e das folhas dos ramos frutíferos no desenvolvimento vegetativo do algodoeiro.

Material e Métodos

O trabalho foi realizado na base física da Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA), Município de Campina Grande, PB, em casa de vegetação, em dois experimentos, sendo a primeira semeadura realizada no dia 8 de abril de 1995, e a segunda, em 8 de março de 1996.

Ambos os experimentos tiveram delineamento experimental inteiramente casualizado, com três tratamentos e dez repetições. A cultivar utilizada foi a CNPA 7H, desenvolvida na Embrapa-CNPA. Tem como característica principal os ramos frutíferos mais longos que os de algumas cultivares, como a cultivar Precoce 2. Foram utilizados vasos de plástico preenchidos com 10 kg de solo, proveniente do Município de Souza, PB, previamente destorroado e adubado, conforme indicação da análise de solo. Semearam-se cinco sementes, por vaso. Os tratamentos utilizados foram: remoção das folhas da haste principal ou ramo; remoção das folhas dos ramos frutíferos; sem remoção de folhas. A remoção das folhas da haste principal ¾ simulando o ataque do curuquerê-do-algodoeiro ¾ foi feita à medida que iam surgindo, durante o ciclo vegetativo, após sua identificação. A remoção das folhas do ramo frutífero iniciou com a primeira folha e terminou quando as plantas pararam de crescer.

No primeiro experimento (1995), o desbaste ocorreu 25 dias após o plantio, deixando-se duas plantas por vaso; no segundo experimento (1996), procedeu-se a outro desbaste aos 35 dias, deixando uma planta por vaso. No primeiro experimento, foram medidos a altura das plantas e o diâmetro caulinar aos 40, 60 e 110 dias após a emergência (DAE) das plântulas. No segundo experimento, a altura da planta e o diâmetro caulinar foram avaliados aos 40, 60, 80 e 110 dias. A área foliar foi medida, em ambos os experimentos, aos 40, 60, 80 e 110 dias após a emergência, nas mesmas plantas. Os cálculos da área foliar foram realizados mediante a fórmula log y = 0,045 + 1,910log x (onde: x é o comprimento da folha e y é a área foliar). Foram medidos, além desses parâmetros, a fitomassa, em 1995, a produção por planta, em 1996, e o número de frutos, nos dois experimentos. Para controlar o pulgão, foram feitas pulverizações com thiometon 250 CE, na dose de 65 g ha1 de ingrediente ativo. A irrigação foi efetuada segundo a necessidade hídrica das plantas.A análise dos dados foi realizada de acordo com Pimentel-Gomes (1987).

Resultados e Discussão

No primeiro experimento, a remoção das folhas dos ramos frutíferos não interferiu no crescimento do diâmetro caulinar, mas a remoção das folhas da haste principal reduziu o diâmetro do caule e a altura das plantas a partir dos 40 e 60 dias após a emergência das plântulas, respectivamente (Tabela 1). Este resultado confirma a importância da folha principal para o desenvolvimento vegetativo da planta de algodão, e conseqüentemente, para a formação e retenção dos frutos nos dois primeiros pontos de frutificação. De acordo com Mauney (1979, 1986) isto ocorre devido à facilidade com que os assimilados fotossintéticos chegam a estes frutos (Figura 1). Os resultados deste trabalho estão em consonância com os obtidos por Oosterhuis & Urwiler (1988), que afirmaram que a importância das folhas principais está condicionada ao estádio de desenvolvimento da planta do algodão.


No segundo experimento, em 1996 (Tabela 1), o diâmetro caulinar foi afetado pela remoção das folhas da haste, dos 40 aos 110 DAE, enquanto a altura da planta foi reduzida a partir dos 80 DAE. Estes resultados assemelham-se aos encontrados por Oosterhuis & Urwiler (1988), que verificaram que a remoção das folhas da haste principal provoca redução no rendimento da planta de algodão. Os resultados dos dois experimentos indicam que as folhas da haste principal exercem maior influência no desenvolvimento do diâmetro caulinar e na altura da planta do que as folhas dos ramos frutíferos. Soares & Busoli (1996) e Soares et al. (1999) fizeram a mesma observação em relação ao diâmetro caulinar. A fitomassa, a produção de capulhos e o número de frutos do tratamento com remoção das folhas da haste principal foram inferiores aos do tratamento sem remoção (Tabela 2). Isso ocorreu, provavelmente, pelo fato de as folhas vegetativas viverem mais e possuírem maior área foliar que as frutíferas (Hearn & Constable, 1984). Essas folhas são as mais importantes, pois além de nutrirem o ramo em crescimento fornecem a maior parte dos assimilados para os dois primeiros frutos do ramo frutífero, que são salientados por Mauney (1986) como os principais responsáveis pela produção da planta de algodão (Figuras 1 e 2). No segundo experimento ocorreu redução no número de frutos, em relação a 1995, provavelmente em decorrência do sombreamento nas plantas e conseqüente redução na capacidade fotossintética (Beltrão & Azevedo, 1993).


Nos levantamentos de área foliar efetuados aos 40 DAE, os tratamentos não foram diferentes; porém, aos 60, 80 e 110 DAE, o tratamento com remoção de folhas da haste principal diferiu do tratamento sem remoção de folhas, observando-se, aos 110 DAE, diferença estatística entre os três tratamentos, com uma redução da área foliar em torno de 50% no tratamento com remoção de folhas da haste principal, e de 40% no tratamento com remoção das folhas do ramo frutífero em relação ao controle (Tabela 3).

De acordo com Eaton & Ercle (1965), desfolhamentos de 50% em plantas de algodão, até a formação dos frutos, resultam em redução de até 14% na produção. O algodoeiro possui crescimento seqüencial e bem definido, onde os intervalos de crescimento e florescimento vertical e horizontal são estimados em três e seis dias respectivamente, isto é, a cada três dias haverá a emissão de um novo ramo frutífero ou simpodial, e a cada seis dias haverá a emissão de uma nova estrutura frutífera (botão floral) nesse mesmo ramo (Figura 2) (Soares et al., 1999). Portanto, as folhas da haste principal são responsáveis pela produção e desenvolvimento vegetativo da planta de algodão.

Conclusão

A remoção das folhas da haste principal do algodoeiro afeta o diâmetro caulinar, a altura das plantas, a fitomassa, e a produção e número de frutos.

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  • (1
    ) Aceito para publicação em 22 de setembro de 2000.
  • (2
    ) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA), Caixa Postal 174, CEP 58107720 Campina Grande, PB. Email:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Set 2001
    • Data do Fascículo
      Maio 2001

    Histórico

    • Aceito
      22 Set 2000
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