Acessibilidade / Reportar erro

Comportamento de predação e conversão alimentar de Podisus nigrispinus sobre a traça-do-tomateiro

Predatory behavior and food conversion of Podisus nigrispinus preying on tomato leafminer

Resumos

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da predação de Tuta absoluta (Meyrick) por ninfas e adultos de Podisus nigrispinus (Dallas) na reprodução desse predador, em casa telada (30±5ºC, 61±23% de UR e fotoperíodo natural) e em laboratório (28±1°C, 53±5% de UR e fotoperíodo de 14L:10E). Ninfas de P. nigrispinus, a partir do segundo ínstar e os adultos originados dessas ninfas, foram confinados em folhas de tomate industrial var. IPA5, com dez lagartas de terceiro ou quarto ínstares de T. absoluta. A taxa de predação do segundo ao quinto ínstar de P. nigrispinus foi de 6,2, 6,6, 8,6 e 15,5 lagartas em casa telada e de 9,1, 11,1, 8,7 e 12,9 lagartas em laboratório, respectivamente. P. nigrispinus predou, durante sua fase ninfal, um número semelhante de lagartas de T. absoluta em casa telada (38,2±1,78) e laboratório (43,1±2,19), alimentandose, em média, de 2,3 e 2,5 lagartas por dia, respectivamente, nesses dois ambientes. Fêmeas de P. nigrispinus predaram, em média, 50,8±6,1 e 50,3±10,6 lagartas no laboratório e casa telada. A conversão do alimento por fêmea de P. nigrispinus foi semelhante nos dois ambientes, tendo produzido 0,31 ovos/lagarta de T. absoluta consumida em casa telada e 0,41 ovos/lagarta em laboratório.

Lycopersicum esculentum; ninfas; predadores; controle biológico; cultivo protegido


This work aimed to determine the predatory behavior of nymphs and adults of Podisus nigrispinus (Dallas) and its reproduction preying upon Tuta absoluta (Meyrick) under open sided greenhouse (30±5ºC, 61±23% RH and natural photophase) and laboratory (28±1°C, 53±5% RH and 14 hours of photophase) conditions. Second to later instars and adults of P. nigrispinus were caged on processing tomato var. IPA5 leaves infested with ten T. absoluta third or fourth instars. P. nigrispinus from second to fifth instar preyed on 9.1, 11.1, 8.7 and 12.9 caterpillars in the laboratory and 6.2, 6.6, 8.6 and 15.5 caterpillars in the open sided greenhouse. Thus, P. nigrispinus fed on similar number of T. absoluta caterpillars under laboratory (43.1±2.19) and open sided greenhouse (38.2±1.78) conditions, preying on 2.5 and 2.3 caterpillars per day, respectively, in these environments. Average P. nigrispinus female predation was 50.8±6.1 and 50.3±10.6 caterpillars in laboratory and open sided greenhouse, respectively. Food conversion per P. nigrispinus female was similar between environments with production of 0.31 eggs per consumed caterpillar in open sided greenhouse, and 0.41 eggs in laboratory.

Lycopersicum esculentum; nymphs; predators; biological control; protected cultivation


Comportamento de predação e conversão alimentar de Podisus nigrispinus sobre a traça-do-tomateiro(1 (1 ) Aceito para publicação em 21 de junho de 2001. (2 )Universidade Federal Rural de Pernambuco, Dep. de Agronomia, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n o, Dois Irmãos, CEP 52171900 Recife, PE. Email: jtorres@bugs.ent.uga.edu (3 ) Universidade Federal de Viçosa, Dep. de Biologia Animal, CEP 36571000 Viçosa, MG. Email: zanuncio@mail.ufv.br )

Lúcia Madalena Vivan(2 (1 ) Aceito para publicação em 21 de junho de 2001. (2 )Universidade Federal Rural de Pernambuco, Dep. de Agronomia, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n o, Dois Irmãos, CEP 52171900 Recife, PE. Email: jtorres@bugs.ent.uga.edu (3 ) Universidade Federal de Viçosa, Dep. de Biologia Animal, CEP 36571000 Viçosa, MG. Email: zanuncio@mail.ufv.br ), Jorge Braz Torres(2 (1 ) Aceito para publicação em 21 de junho de 2001. (2 )Universidade Federal Rural de Pernambuco, Dep. de Agronomia, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n o, Dois Irmãos, CEP 52171900 Recife, PE. Email: jtorres@bugs.ent.uga.edu (3 ) Universidade Federal de Viçosa, Dep. de Biologia Animal, CEP 36571000 Viçosa, MG. Email: zanuncio@mail.ufv.br ), Antônio Fernando de Souza Leão Veiga(2 (1 ) Aceito para publicação em 21 de junho de 2001. (2 )Universidade Federal Rural de Pernambuco, Dep. de Agronomia, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n o, Dois Irmãos, CEP 52171900 Recife, PE. Email: jtorres@bugs.ent.uga.edu (3 ) Universidade Federal de Viçosa, Dep. de Biologia Animal, CEP 36571000 Viçosa, MG. Email: zanuncio@mail.ufv.br ) e José Cola Zanuncio(3 (1 ) Aceito para publicação em 21 de junho de 2001. (2 )Universidade Federal Rural de Pernambuco, Dep. de Agronomia, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n o, Dois Irmãos, CEP 52171900 Recife, PE. Email: jtorres@bugs.ent.uga.edu (3 ) Universidade Federal de Viçosa, Dep. de Biologia Animal, CEP 36571000 Viçosa, MG. Email: zanuncio@mail.ufv.br )

Resumo ¾ O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da predação de Tuta absoluta (Meyrick) por ninfas e adultos de Podisus nigrispinus (Dallas) na reprodução desse predador, em casa telada (30±5oC, 61±23% de UR e fotoperíodo natural) e em laboratório (28±1°C, 53±5% de UR e fotoperíodo de 14L:10E). Ninfas de P. nigrispinus, a partir do segundo ínstar e os adultos originados dessas ninfas, foram confinados em folhas de tomate industrial var. IPA5, com dez lagartas de terceiro ou quarto ínstares de T. absoluta. A taxa de predação do segundo ao quinto ínstar de P. nigrispinus foi de 6,2, 6,6, 8,6 e 15,5 lagartas em casa telada e de 9,1, 11,1, 8,7 e 12,9 lagartas em laboratório, respectivamente. P. nigrispinus predou, durante sua fase ninfal, um número semelhante de lagartas de T. absoluta em casa telada (38,2±1,78) e laboratório (43,1±2,19), alimentandose, em média, de 2,3 e 2,5 lagartas por dia, respectivamente, nesses dois ambientes. Fêmeas de P. nigrispinus predaram, em média, 50,8±6,1 e 50,3±10,6 lagartas no laboratório e casa telada. A conversão do alimento por fêmea de P. nigrispinus foi semelhante nos dois ambientes, tendo produzido 0,31 ovos/lagarta de T. absoluta consumida em casa telada e 0,41 ovos/lagarta em laboratório.

Termos para indexação: Lycopersicum esculentum, ninfas, predadores, controle biológico, cultivo protegido.

Predatory behavior and food conversion of Podisus nigrispinus preying on tomato leafminer

Abstract ¾ This work aimed to determine the predatory behavior of nymphs and adults of Podisus nigrispinus (Dallas) and its reproduction preying upon Tuta absoluta (Meyrick) under open sided greenhouse (30±5oC, 61±23% RH and natural photophase) and laboratory (28±1°C, 53±5% RH and 14 hours of photophase) conditions. Second to later instars and adults of P. nigrispinus were caged on processing tomato var. IPA5 leaves infested with ten T. absoluta third or fourth instars. P. nigrispinus from second to fifth instar preyed on 9.1, 11.1, 8.7 and 12.9 caterpillars in the laboratory and 6.2, 6.6, 8.6 and 15.5 caterpillars in the open sided greenhouse. Thus, P. nigrispinus fed on similar number of T. absoluta caterpillars under laboratory (43.1±2.19) and open sided greenhouse (38.2±1.78) conditions, preying on 2.5 and 2.3 caterpillars per day, respectively, in these environments. Average P. nigrispinus female predation was 50.8±6.1 and 50.3±10.6 caterpillars in laboratory and open sided greenhouse, respectively. Food conversion per P. nigrispinus female was similar between environments with production of 0.31 eggs per consumed caterpillar in open sided greenhouse, and 0.41 eggs in laboratory.

Index terms: Lycopersicum esculentum, nymphs, predators, biological control, protected cultivation.

Introdução

Os ecossistemas agrícolas podem ser, temporariamente, colonizados por artrópodes predadores, que obtêm energia de diversas presas para satisfazer suas demandas fisiológicas e se manter nesses ecossistemas. Entretanto, isto depende das condições ambientais e da capacidade adaptativa de cada espécie, uma vez que cada uma precisa de um número suficiente de presas para assegurar sua sobrevivência e reprodução (Wiedenmann et al., 1996; Legaspi & Legaspi, 1998).

Os fatores básicos relacionados com a predação, que podem explicar a relação predadorpresa e os mecanismos envolvidos nessa interação, incluem a densidade das presas e dos predadores e a diversidade do alimento alternativo, além de mecanismos de defesa da planta hospedeira e o comportamento de ataque do predador (Holling, 1961). Percevejos predadores como Podisus nigrispinus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) podem sobreviver por longos períodos com presas de baixa qualidade. No entanto, precisam de presas em quantidade e qualidade para recuperar seu potencial reprodutivo (Mukerji & Leroux, 1969; Colazza et al., 1995; Santos et al., 1995; Zanuncio et al., 1996 e 1998). As funções reprodutivas de predadores são priorizadas em ambientes com abundância de alimento, mas à medida que o alimento escasseia em qualidade e quantidade, sua reprodução tende a diminuir, beneficiando a sobrevivência (Murdoch, 1966). Se na fase adulta a energia for utilizada para reprodução, poderá ser reduzida a sobrevivência, o que mostra correlação significativa entre o número de oviposições com a freqüência de presas que recebem (Wiedenmann & O'Neil, 1990).

P. nigrispinus é uma espécie Neotropical que ocorre desde a Argentina até a Costa Rica (Thomas, 1992). No Brasil, esta espécie tem sido encontrada predando diferentes pragas e em diversas culturas, incluindo pragas do tomateiro, o que caracteriza sua amplitude de ocorrência e presas (Torres et al., 1996; De Clercq, 2000). Esse predador apresenta elevado potencial de predação de lagartas da traça-do-tomateiro, Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) em laboratório (Salas, 1996) e de Chrysodeixis chalcites (Esper) (Lepidoptera: Noctuidae) e Spodoptera spp. (Lepidoptera: Noctuidae) em cultivos protegidos (De Clercq et al., 1998, 2000), sendo considerado um predador em potencial para manejo de lagartas desfolhadoras de solanáceas em cultivos protegidos (Linden, 1996). Verifica-se, portanto, a importância de se medir a taxa de predação deste predador, para que seja possível estimar a contribuição relativa desta espécie na dinâmica da praga, avaliar a taxa de predação e sua relação com a reprodução do predador em ambientes que se aproximem das condições naturais, e se há impacto dessas condições nestes parâmetros.

Este trabalho teve o objetivo de avaliar o efeito da predação de Tuta absoluta por ninfas e adultos de Podisus nigrispinus na reprodução desse predador, em casa telada e em laboratório.

Material e Métodos

O experimento foi realizado em laboratório (28±1°C, 53±5% de UR e fotoperíodo 14L:10E), e em casa telada (30±5oC, 61±23% de UR e fotoperíodo natural), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife, PE. As condições de temperatura e UR foram monitoradas por termoigrógrafo nos intervalos de -10 a +50oC e de 0 a 100%, respectivamente (Sato Keiryoki Co., Ltda).

Plantas de tomate industrial (Lycopersicum esculentum Mill.) var. IPA-5 foram cultivadas em casa telada, empregandose vasos de 25 cm de diâmetro e 20 cm de altura, com uma mistura de solo e húmus (4:1). Os plantios foram efetuados em intervalos de 15 dias, visando à manutenção da colônia de T. absoluta, em laboratório. O experimento foi iniciado quando as plantas de tomate apresentaram seis a sete folhas desenvolvidas.

A colônia de T. absoluta foi estabelecida em laboratório, a partir de pupas e lagartas coletadas em um plantio comercial de tomate Santa Clara, no Município de Camocim de São Félix, PE. Os adultos de T. absoluta foram mantidos em gaiolas de madeira e tela de náilon 2 mm (100 x 40 x 40 cm), e alimentados com solução açucarada a 10%, fornecida em vidros com chumaço de algodão umedecido com a solução. Folhas e ponteiros de tomate, cultivados em casa telada, foram acondicionados em recipientes de 50 mL contendo água e expostos à oviposição por T. absoluta, durante uma noite. Após a oviposição, esses recipientes foram transferidos para bandejas contendo areia esterilizada que servia como substrato para a pupação de T. absoluta. Folhas de tomate consumidas pelas lagartas dessa praga foram substituídas, e as com pupas, mais as pupas coletadas na areia, foram colocadas na gaiola destinada aos adultos.

A criação de P. nigrispinus foi iniciada com ovos e incrementada com indivíduos coletados em um surto de lagartas desfolhadoras [Agraulis vanillae maculosa Stichel (Lepidoptera: Nymphalidae)] em maracujazeiro (Passiflora alata), situado no Município de Recife, PE. Essa criação foi mantida de acordo com Torres et al. (1996), nas mesmas condições de laboratório. A partir desta metodologia, foi adicionado papel-toalha no interior dos recipientes, para facilitar a coleta das posturas. Como alimento, foram utilizadas larvas de T. molitor (25 a 30 mm de comprimento). Ninfas de primeiro ínstar receberam apenas água, através de um chumaço de algodão colocado no meio da placa de Petri. A partir do segundo ínstar até adulto, foram mantidas dez ninfas de P. nigrispinus por pote plástico de 500 mL com papel-toalha amassado no seu interior. Presa e água foram repostos a cada dois dias.

Ninfas de segundo ínstar de P. nigrispinus, provenientes de laboratório, com menos de 12 horas de idade, foram individualizadas em folhas de tomate var. IPA-5, utilizando-se gaiolas feitas de tecido organza. A infestação com lagartas de T. absoluta foi realizada pela manhã, ao se constatar a mudança de P. nigrispinus para o segundo ínstar em laboratório. Dez lagartas de T. absoluta, terceiro e quarto ínstares, foram colocadas com auxílio de pincel, na terceira e quarta folha do ápice, e engaioladas. A partir das 17 horas do mesmo dia, uma ninfa de segundo ínstar de P. nigrispinus foi introduzida por gaiola com auxílio de um pincel. A predação foi estudada com 37 e 39 ninfas de P. nigrispinus, de segundo ínstar, mantidas sobre plantas de tomate, em laboratório e em casa telada, respectivamente. A infestação de dez lagartas por folha foi mantida, e as lagartas eram repostas a cada 48 horas. Os adultos foram acasalados dois dias após a emergência, e mantidos em condições semelhantes às das ninfas. Após três dias de acasalamento ou após a constatação da cópula, os machos foram descartados, mantendose somente as fêmeas nas gaiolas.

O número de lagartas de T. absoluta predadas por ninfas ou fêmeas de P. nigrispinus foi quantificado a cada 48 horas, e anotado o número de posturas por fêmea. A partir da taxa de predação de fêmeas de P. nigrispinus, foi determinada a sua eficiência na conversão alimentar em produção de ovos (ER = número total de ovos/número total de lagartas predadas) nos dois ambientes. Os resultados do número de lagartas predadas por ínstar e por dia, e o número de ovos por fêmea, foram transformados em raiz (x + 0,5) e submetidos à análise de variância pelo programa Statistica 3.0 (Statsoft Inc., 1993).

Resultados e Discussão

Em casa telada, a taxa diária de predação de lagartas de T. absoluta por ninfas do segundo ao quinto ínstares de P. nigrispinus aumentou de 11, 24 e 36% em relação ao segundo ínstar, sendo maior no quinto ínstar (Tabela 1).

Em laboratório, a taxa de predação diária do segundo ao quinto ínstares do predador apresentou acréscimo de 25, 38 e 33,3% em relação ao segundo ínstar, com diferenças significativas para o quarto e quinto ínstares em relação aos ínstares anteriores (Tabela 1). A predação por ínstar variou de 9,1 a 12,9 lagartas, e não ocorreu diferença significativa entre os ínstares.

Comparando-se os dois ambientes, a taxa diária de predação foi maior no quarto ínstar, em laboratório, enquanto a predação por ínstar foi maior no segundo e terceiro ínstares, no laboratório, e semelhante no quarto e quinto ínstares (Tabela 1). Nos dois ambientes, o maior número de lagartas predadas ocorreu no quinto ínstar. Durante a fase ninfal, a predação foi semelhante entre ambientes, sendo de 38,2±1,78 e de 43,1±2,19 lagartas predadas, em casa telada e em laboratório, respectivamente. O mesmo foi observado quanto à taxa de predação diária entre os ambientes (Tabela 1).

O número de lagartas predadas por fêmea de P. nigrispinus foi semelhante entre laboratório (50,8±6,17) e casa telada (50,3±10,68). No entanto, a taxa diária de predação em casa telada decresceu com a idade da fêmea (Figura 1). Por outro lado, no laboratório, essa taxa não variou significativamente com a idade das fêmeas, com acúmulo constante de lagartas predadas ao longo da sua vida (Figura 2).



A oviposição foi observada em 64,3% e 57,1% das fêmeas mantidas em laboratório (n = 14) e em casa telada (n = 7), apresentando uma conversão de 0,31±0,16 e de 0,41±0,15 ovos/lagarta predada, respectivamente. Fêmeas criadas em casa telada apresentaram pico de oviposição entre o 11o e o 16o dia (r = 0,69; P = 0,0413), enquanto em laboratório, a oviposição foi mais dispersa e sem pico de deposição de ovos (r = 0,45; P = 0,0595). A menor freqüência de oviposições esteve associada ao menor número de ovos por postura (Figura 2). No entanto, fêmeas de P. nigrispinus produziram número se- melhante de ovos nos dois ambientes (laboratório, 15,7 ± 3,7 ovos; casa telada, 20,6±5,6 ovos). Este fato ocorreu devido à maior longevidade das fêmeas em laboratório.

O percevejo-predador P. nigrispinus apresenta potencial para se adaptar em plantios protegidos de tomate, pois sua predação e reprodução foram semelhantes aos observados em laboratório, predando somente lagartas de T. absoluta. Em laboratório, o número de lagartas predadas e a taxa de predação diária foram maiores durante o segundo e terceiro ínstar, sugerindo, assim, que nesse ambiente, com temperatura e umidade relativa mais estável que em casa telada, foi favorável aos ínstares iniciais, como observado por Torres et al. (1998). No entanto, no terceiro e quarto ínstar, a taxa de predação foi semelhante, e sendo maior no quinto ínstar. Stamopoulos & Chloridis (1994) observaram esse mesmo fato em relação ao P. maculiventris e Colazza et al. (1995) e De Clercq et al. (1998), quanto à P. maculiventris e ao P. nigrispinus sobre Leptinotarsa decemlineata (Say) (Coleoptera: Chrysomelidae) e C. chalcites, pragas que atacam o tomateiro nos Estados Unidos e na Europa, tanto em campo como em cultivos protegidos. Salas (1996) relatou, quanto a esse mesmo predador, 138,9 lagartas de T. absoluta predadas, em placas de Petri durante sua fase ninfal. Tais resultados mostram o potencial de P. nigrispinus predando T. absoluta, embora isto possa ser drasticamente afetado em condições de casa telada, como foi observado neste estudo. A maior taxa de predação, observada por Salas (1996) pode ser explicada pelo fato de que predadores como Podisus spp. predam até saciarse, mas continuam atacando presas, em baixa intensidade, quando são facilmente encontradas. A habilidade do predador em encontrar a presa e o menor número de ataques em condições de campo explicam-se pela maior área de procura neste ambiente, e constituem os fatores mais importantes que podem afetar essa taxa de predação (O'Neil, 1989). Segundo esse autor, a taxa de predação de P. maculiventris foi de 0,43 e de 4,4 larvas de Epilachna varivestis Mulsant (Coleoptera: Coccinellidae) por dia, em condições de campo e laboratório, respectivamente, durante 24 horas. Saavedra et al. (1997) relataram comportamento similar para P. nigrispinus com 1,0 a 1,1 lagartas de terceiro ínstar de Anticarsia gemmatalis Huebner (Lepidoptera: Noctuidae) predadas por dia, durante três dias em casa telada, e de 6 a 7 lagartas predadas, quando confinados em placas de Petri, em laboratório.

A planta de tomate pode ter afetado a taxa de predação de P. nigrispinus, como ocorre com outros percevejos predadores (Coll & Ridgway, 1995; Coll et al., 1997), através de sua pilosidade e aleloquímicos. Plantas de tomate podem afetar a taxa de procura e, conseqüentemente, a predação de ninfas. Além disso, o tipo de planta afeta o tempo de manipulação de presas. De Clercq et al. (2000) observaram um tempo de manipulação de 5,63 horas de lagartas de Spodoptera exigua (Huebner) (Lepidoptera: Noctuidae), em plantas de tomate, comparado a 3,02 horas sobre plantas de berinjela e 3,25 horas sobre plantas de pimentão, por P. nigrispinus. Além disso, a presença de aleloquímicos pode afetar a taxa de predação de percevejos predadores. Weiser & Stamp (1998) constataram que aleloquímicos em plantas de tomate afetaram negativamente os parâmetros da história de vida de P. maculiventris, especialmente quando a presa é escassa. De acordo com Osier et al. (1996) e Traugott & Stamp (1996), temperaturas acima de 32oC influenciaram o efeito de substâncias como ácido clorogênico e tomatina, os quais reduziram a taxa de alimentação e prejudicaram o desenvolvimento de P. maculiventris. Estes fatos, associados ao pequeno tamanho da lagarta de T. absoluta, afetaram negativamente a reprodução de P. nigrispinus, pois os resultados quanto à reprodução e à predação foram semelhantes entre as condições estudadas, o que caracteriza o efeito associado da presa e da planta hospedeira nas condições deste estudo. O tamanho da presa tem sido considerado fator importante para o desenvolvimento e reprodução de percevejos predadores. Mukerji & Leroux (1969) reportaram que lagartas de Galleria mellonella L. (Lepidoptera: Pyralidae) de 15 a 20 mg, mesmo em abundância, não propiciaram a reprodução de P. maculiventris, semelhante à dos que se alimentaram de lagartas com 25 a 30 mg. Do mesmo modo, lagartas de T. absoluta de quarto e quinto ínstares pesam menos de 15 mg, e portanto, este fato deve ser considerado. Santos et al. (1995) também constataram menor desempenho de P. nigrispinus quando predando lagartas de segundo ínstar de Alabama argillacea (Huebner) (Lepidoptera: Noctuidae), o que caracteriza uma situação de escassez de presas.

Em geral, percevejos predadores apresentam maior período de reprodução em presas mais adequadas, e, geralmente, ovipositam menos e mais tardiamente em presas inadequadas (Evans, 1982). Espécies de Podisus têm mostrado mudanças nas características de sua história de vida, reduzindo a velocidade de desenvolvimento, ganho de peso e produção de ovos, usando energia para manter-se vivos, em situações de escassez de presas (Legaspi & Legaspi, 1998) ou com presas de menor qualidade (Stamopoulos & Chloridis, 1994; Colazza et al., 1995; Zanuncio et al., 1996, 1998), como foi verificado em relação a P. nigrispinus predando lagartas de T. absoluta. Embora apresentando baixa produção de ovos, quando comparado com presas mais adequadas, P. nigrispinus foi capaz de se desenvolver e reproduzir-se predando T. absoluta em condições de casa telada. Isto justifica sua ocorrência natural no agroecossistema tomateiro, e que seja possível sua utilização para controle de lagartas-desfolhadoras, concorrendo para reduzir o uso de inseticidas nesse ambiente.

Conclusões

1. Podisus nigrispinus, predando Tuta absoluta, apresenta produção de ovos, número de lagartas predadas, e conversão do número de presas consumidas em produção de ovos, semelhantes entre casa telada e laboratório.

2. Podisus nigrispinus consome número semelhante de lagartas de T. absoluta na fase ninfal e adulta, nos dois ambientes estudados.

3. A idade da fêmea do predador P. nigrispinus afeta negativamente a sua taxa diária de predação apenas em casa telada.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) e à Capes, pelo apoio; a Walter Santos Evangelista Júnior, pela manutenção da colônia do predador; ao Dr. Donald B. Thomas do USDA, Weslaco,Texas, pela identificação do predador coletado predando a lagarta desfolhadora Agraulis vanillae maculosa.

Referências

  • COLAZZA, S.; CZEPAK, C.; ISIDORO, N. Introduzione di due predatori Americani in Italia, Podisus maculiventris (Say) e P. connexivus Bergroth, per il controllo biologico di fitofagi esotici (Heteroptera: Pentatomidae). Redia, Perugia, v. 78, n. 2, p. 379-388, 1995.
  • COLL, M.; RIDGWAY, R. L. Functional and numerical responses of Orius insidiosus (Heteroptera: Anthocoridae) to its prey in different vegetable crops. Annals of the Entomological Society of America, Lanham, v. 88, n. 3, p. 732-738, 1995.
  • COLL, M.; SMITH, L. A.; RIDGWAY, R. L. Effect of the plants on the searching efficiency of a generalist predator: the importance of predator-prey spatial association. Entomologia Experimentalis et Applicata, Dordrecht, v. 83, p. 1-10, 1997.
  • DE CLERCQ, P. Predaceous stinkbugs (Pentatomidae: Asopinae). In: SCHAEFER, C. W.; PANIZZI, A. R. (Ed.). Heteroptera of economic importance Boca Raton: CRC, 2000. p. 737-789.
  • DE CLERCQ, P.; MELEVEDE, F.; MESTDAGH, I.; VANDENDURPEL, K.; MOHAGHEGH, J.; DEGHEELE, D. Predation on the tomato looper Chrysodeixis chalcites (Esper) (Lep., Noctuidae) by Podisus maculiventris (Say) and Podisus nigrispinus (Dallas) (Het., Pentatomidae). Journal of Applied Entomology, Berlin, v. 122, n. 8, p. 93-98, 1998.
  • DE CLERCQ, P.; MOHAGHEGH, J.; TIRRY, L. Effect of host plant on the functional response of the predator Podisus nigrispinus (Heteroptera: Pentatomidae). Biological Control, San Diego, v. 18, p. 65-70, 2000.
  • EVANS, E. W. Timing of reproduction by predatory stinkbugs (Hemiptera: Pentatomidae): patterns and consequences for a generalist and a specialist. Ecology, Washington, v. 63, n. 1, p. 147-158, 1982.
  • HOLLING, C. S. Principles of insect predation. Annual Review of Entomology, Palo Alto, v. 6, p. 163-182, 1961.
  • LEGASPI, J. C.; LEGASPI, B. C. Life-history trade-offs in insects, with emphasis on Podisus maculiventris (Heteroptera: Pentatomidae). In: COLL, M.; RUBERSON, J. R. (Ed.). Predatory Heteroptera: their ecology and use in biological control. Lanham: Entomological Society of America, 1998. p. 71-87.
  • LINDEN, A. Control of caterpillars in integrated pest management. IOBC/WRPS Bulletin, Avignon, v. 19, n. 1, p. 91-94, 1996.
  • MUKERJI, M. K.; LEROUX, E. J. The effect of predator age on the functional response of Podisus maculiventris to the prey size of Galleria mellonella Canadian Entomologist, Ottawa, v. 101, p. 314-327, 1969.
  • MURDOCH, W. W. Population stability and life history phenomena. American Naturalist, Chicago, v. 100, p. 5-11, 1966.
  • O'NEIL, R. J. Comparison of laboratory and field measurements of the functional response of Podisus maculiventris (Heteroptera: Pentatomidae). Journal of the Kansas Entomological Society, Lawrence, v. 62, n. 1, p. 148-155, 1989.
  • OSIER, T. L.; TRAUGOTT, M. S.; STAMP, N. E. Allelochemicals in tomato leaves affect a specialist insect herbivore Manduca sexta negatively but with no ill effects on a generalist predator, Podisus maculiventris Oikos, Copenhagen, v. 77, p. 481-488, 1996.
  • SAAVEDRA, J. L. D.; ZANUNCIO, J. C.; ZANUNCIO, T. V.; GUEDES, R. N. C. Prey capture ability of Podisus nigrispinus (Dallas) (Het., Pentatomidae) reared for successive generations on a meridic diet. Journal of Applied Entomology, Berlin, v. 121, n. 2, p. 327-330, 1997.
  • SALAS, S. J. M. Manejo integrado de Tuta absoluta (Meyrick, 1917) (Lepidoptera: Gelechiidae) através de inseticidas fisiológicos e Podisus nigrispinus (Dallas, 1851) (Hemiptera: Pentatomidae) 1996. 128 f. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba.
  • SANTOS, T. M.; SILVA, E. N.; RAMALHO, F. S. Desenvolvimento ninfal de Podisus connexivus Bergroth (Hemiptera: Pentatomidae) alimentado com curuquerê-do-algodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 30, n. 1, p. 163-167, 1995.
  • STAMOPOULOS, D. C.; CHLORIDIS, A. Predation rates, survivorship and development of Podisus maculiventris (Het.: Pentatomidae) on larvae of Leptinotarsa decemlineata (Col.: Chrysomelidae) and Pieris brassicae (Lep.: Pieridae), under field conditions. Entomophaga, Paris, v. 39, p. 13-19, 1994.
  • STATSOFT INC. (Tulsa, Estados Unidos). Statistica 3.0. Tulsa, 1993. v. 1.
  • THOMAS, D. B. Taxonomic synopsis of the Asopinae Pentatomidae (Heteroptera) of the Western Hemisphere Lanham: Entomological Society of America, 1992. 147 p.
  • TORRES, J. B.; ZANUNCIO, J. C.; OLIVEIRA, H. N. Nymphal development and adult reproduction of the stinkbug predator Podisus nigrispinus (Het., Pentatomidae) under fluctuating temperatures. Journal of Applied Entomology, Berlin, v. 122, n. 7, p. 509-514, 1998.
  • TORRES, J. B.; ZANUNCIO, J. C.; ZANUNCIO, T. V. Produção e uso de percevejos predadores no controle biológico de pragas florestais. In: WORKSHOP SOBRE PROTEÇÃO FLORESTAL DO MERCOSUL, 1996, Santa Maria. Anais Santa Maria: UFSM, 1996. p. 41-51.
  • TRAUGOTT, M. S.; STAMP, N. E. Effects of chlorogenic acid- and tomatine-fed caterpillars on performance of an insect predator. Oecologia, Dordrecht, v. 109, p. 265-272, 1996.
  • WEISER, L. A.; STAMP, N. E. Combined effects of allelochemicals, prey availability, and supplemental plant material on growth of a generalist insect predator. Entomologia Experimentalis et Applicata, Dordrecht, v. 87, p. 181-189, 1998.
  • WIEDENMANN, R. N.; LEGASPI, J. C.; O'NEIL, R. J. Impact of prey and facultative plant feeding on the life history of the predator Podisus maculiventris (Heteroptera: Pentatomidae). In: ALOMAR, O.; WIEDENMANN, R. N. Zoophytophagous Heteroptera: implications for life history and integrated pest management. Lanham: Entomological Society of America, 1996. p. 94-118.
  • WIEDENMANN, R. N.; O'NEIL, R. J. Effects of low rates of predation on selected life-history characteristics of Podisus maculiventris (Say) (Heteroptera: Pentatomidae). Canadian Entomologist, Ottawa, v. 122, p. 271-283, 1990.
  • ZANUNCIO, J. C.; SAAVEDRA, J. L.; ZANUNCIO, T. V.; SANTOS, G. P. Incremento en el peso de ninfas y adultos de Podisus nigrispinus (Heteroptera: Pentatomidae) alimentados con dos tipos de larva. Revista de Biología Tropical, San José, v. 44, n. 1, p. 241-245, 1996.
  • ZANUNCIO, T. V.; TORRES, J. B.; ZANUNCIO, J. C.; SANTOS, G. P. Ciclo de vida e reprodução de Podisus distinctus (Stal) (Heteroptera: Pentatomidae) alimentado com dois tipos de presas. Revista Brasileira de Entomologia, São Paulo, v. 41, n. 2, p. 335-337, 1998.
  • (1
    ) Aceito para publicação em 21 de junho de 2001.
    (2
    )Universidade Federal Rural de Pernambuco, Dep. de Agronomia, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n
    o, Dois Irmãos, CEP 52171900 Recife, PE. Email:
    (3
    ) Universidade Federal de Viçosa, Dep. de Biologia Animal, CEP 36571000 Viçosa, MG. Email:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Jul 2002
    • Data do Fascículo
      Maio 2002

    Histórico

    • Aceito
      21 Jul 2001
    Embrapa Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento; Pesquisa Agropecuária Brasileira Caixa Postal 040315, 70770-901 Brasília DF Brazil, Tel. +55 61 3448-1813, Fax +55 61 3340-5483 - Brasília - DF - Brazil
    E-mail: pab@embrapa.br