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Distribuição de Leptopharsa heveae em seringal no Estado de São Paulo

Distribution of Leptopharsa heveae in rubber tree at São Paulo State, Brazil

Resumos

O objetivo deste trabalho foi determinar a distribuição vertical e sazonal do percevejo-de-renda, Leptopharsa heveae Drake & Poor, 1935 (Hemiptera: Tingidae), em plantio de seringueira, Hevea brasiliensis Müell Arg., localizado em Pindorama, SP. A amostragem foi efetuada considerando-se folhas situadas nos lados norte e sul e na metade interna e externa de ramos nos terços inferior, médio e superior das plantas. As ninfas foram abundantes de março a maio e de outubro a novembro, fato igualmente verificado com adultos, de março até início de julho e durante novembro. Constatou-se que L. heveae distribuiu-se similarmente nas diferentes partes das seringueiras, o que facilita a amostragem. Assim, ninfas e adultos podem ser amostrados em folhas localizadas na parte externa de ramos presentes no terço inferior, lado norte ou sul, de seringueiras.

Hevea brasiliensis; Insecta; percevejo-de-renda


The objective of this work was to determine the within-plant and seasonal distributions of Leptopharsa heveae Drake & Poor, 1935 (Hemiptera: Tingidae) in rubber tree, Hevea brasiliensis Müell Arg., located in Pindorama, SP. The sampling was carried out considering leaves of internal and external parts of branches located in the upper, medium and lower sections of the north and south sides of rubber trees. The highest density of nymphs was observed from March to May and from October to November, the same occurring in adults from March to July and during November. The similar distribution of L. heveae on the different parts of the rubber trees facilitates sampling activities. Nymphs and adults can be sampled from leaves on the external part of branches located in the lower section of the north or south side of rubber trees.

Hevea brasiliensis; Insecta; rubber tree lacebug


NOTAS CIENTÍFICAS

Distribuição de Leptopharsa heveae em seringal no Estado de São Paulo

Distribution of Leptopharsa heveae in rubber tree at São Paulo State, Brazil

Francisco Jorge CividanesI; Fernando da Silva FonsecaII; Terezinha Monteiro dos SantosIII

IUniversidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Dep. de Fitossanidade, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/nº, CEP 14884-900 Jaboticabal, SP. E-mail: fjcivida@fcav.unesp.br

IIPlantações E. Michelin Ltda., Rod. BR-163, Km16,5, Caixa Postal 80, CEP 78700-090 Rondonópolis, MT. E-mail: fernando.fonseca@br.michelin.com

IIIUniversidade Federal de Lavras, Dep. de Entomologia, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras, MG. E-mail: tmonteirodosantos@yahoo.com.br

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi determinar a distribuição vertical e sazonal do percevejo-de-renda, Leptopharsa heveae Drake & Poor, 1935 (Hemiptera: Tingidae), em plantio de seringueira, Hevea brasiliensis Müell Arg., localizado em Pindorama, SP. A amostragem foi efetuada considerando-se folhas situadas nos lados norte e sul e na metade interna e externa de ramos nos terços inferior, médio e superior das plantas. As ninfas foram abundantes de março a maio e de outubro a novembro, fato igualmente verificado com adultos, de março até início de julho e durante novembro. Constatou-se que L. heveae distribuiu-se similarmente nas diferentes partes das seringueiras, o que facilita a amostragem. Assim, ninfas e adultos podem ser amostrados em folhas localizadas na parte externa de ramos presentes no terço inferior, lado norte ou sul, de seringueiras.

Termos para indexação:Hevea brasiliensis, Insecta, percevejo-de-renda.

ABSTRACT

The objective of this work was to determine the within-plant and seasonal distributions of Leptopharsa heveae Drake & Poor, 1935 (Hemiptera: Tingidae) in rubber tree, Hevea brasiliensis Müell Arg., located in Pindorama, SP. The sampling was carried out considering leaves of internal and external parts of branches located in the upper, medium and lower sections of the north and south sides of rubber trees. The highest density of nymphs was observed from March to May and from October to November, the same occurring in adults from March to July and during November. The similar distribution of L. heveae on the different parts of the rubber trees facilitates sampling activities. Nymphs and adults can be sampled from leaves on the external part of branches located in the lower section of the north or south side of rubber trees.

Index terms:Hevea brasiliensis, Insecta, rubber tree lacebug.

A expansão dos seringais favorece o surgimento de pragas, entre as quais destaca-se o percevejo-de-renda, Leptopharsa heveae Drake & Poor. Esse hemíptero, ao sugar a seiva do limbo foliar, diminui a capacidade fotossintética da planta, reduzindo a produção de látex em até 30% (Abreu, 1996).

Estudos sobre a distribuição vertical e sazonal de insetos-praga na planta hospedeira têm contribuído para programas de manejo integrado de pragas, pelo fato de identificarem as partes da planta preferidas pelos insetos. Permitem ainda o desenvolvimento de técnicas de amostragem mais efetivas, reduzindo o tempo e o custo do monitoramento e proporcionando a previsão da época de ocorrência e a seleção de métodos de controle de pragas (Granadino & Cave, 1997; Schuster, 1998; Snodgrass, 1998). Além disso, os estudos permitem identificar mais precisamente os pontos de liberação de inimigos naturais na planta, aumentando a eficiência do controle biológico (Spangler & Calvin, 2001).

Apesar da importância dos estudos mencionados, não existem no Brasil informações sobre a distribuição de L. heveae em seringueira.

O presente trabalho teve por objetivo determinar a distribuição vertical e sazonal de L. heveae em seringueira.

O estudo foi realizado na Estação Experimental do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), situado no Município de Pindorama, SP, no período de outubro de 1998 a novembro de 1999.

A amostragem foi realizada em seringueiras, clone PB 235, com quatro anos e oito meses de idade, plantadas em espaçamento 7x3 m e com, em média, 7 m de altura. As avaliações foram realizadas no período da manhã e totalizaram 22 épocas. As árvores tiveram os lados norte e sul amostrados nos terços inferior (1 a 3 m), médio (3 a 5 m) e superior (5 a 7 m). A coleta das folhas foi efetuada utilizando-se escada com alcance de 5,4 m, sendo que as folhas localizadas no terço superior foram amostradas empregando-se também gancho com cabo de 2 m de comprimento, que possibilitou puxar os ramos para baixo e coletar as folhas. Em cada terço foram escolhidas ao acaso cinco folhas da parte interna e cinco da parte externa dos ramos, totalizando 600 folhas coletadas. Cada grupo de cinco folhas foi mantido em saco de plástico, identificado e encaminhado ao laboratório, onde se procedeu a contagem de adultos, ninfas de 1º ao 3º ínstar e de 4º ao 5º ínstar.

Os tratamentos constituíram-se de um fatorial 2x3x2 (lados norte e sul x terços superior, médio e inferior x partes interna e externa dos ramos), com blocos casualizados e dez repetições (cada seringueira consistindo em um bloco). Os dados foram transformados em e submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

A influência de fatores meteorológicos foi verificada por correlação simples, considerando-se o número médio de ninfas e adultos amostrados por seringueira e os fatores meteorológicos temperaturas máxima, mínima e média (ºC), umidade relativa (%) e precipitação pluvial (mm). Quanto à temperatura e umidade relativa, utilizou-se a média de zero, sete e quinze dias anteriores às datas de amostragem, e quanto à precipitação, considerou-se a soma dos índices registrados nesses períodos. Os registros desses fatores foram obtidos junto ao Posto Meteorológico da Estação Experimental de Pindorama (IAC).

As ninfas de L. heveae foram abundantes de março a maio e de outubro a novembro, o mesmo ocorrendo com os adultos, de março até início de julho e durante novembro (Tabela 1). A menor densidade populacional de ninfas e adultos foi constatada durante junho, julho e agosto, coincidindo com a época de senescência foliar da seringueira.

As interações entre os fatores terços, lados e partes dos ramos não foram significativas na maioria das datas de amostragem, evidenciando que tais fatores em associação foram pouco importantes para a distribuição de L. heveae nas seringueiras.

Não houve diferença significativa na abundância das ninfas entre os lados norte e sul das árvores, exceto no mês de dezembro/1998 e nos dias 3 e 30/3/1999, quando a densidade de ninfas de 1º ao 5º ínstar foi significativamente maior no lado sul, correspondendo a menos de 16% do total das datas de amostragem (Tabela 1). Fato semelhante ocorreu com os adultos, pois foram significativamente mais numerosos no lado sul das árvores apenas nos meses dezembro/1998 e janeiro/1999.

As ninfas e os adultos de L. heveae não apresentaram preferência pelo terço superior, médio ou inferior na maioria das avaliações, apesar de no período quente do ano (30/10/1998 a 19/2/1999 e 14/9 a 29/11/1999) as ninfas de 1º ao 3º ínstar tenderem a ser mais numerosas no terço inferior (Tabela 1). Na avaliação do dia 2/7/1999, todas as ninfas e adultos coletados concentraram-se no terço superior das seringueiras (Tabela 1). Este fato deve estar relacionado com a fenologia da planta, pois nos meses de junho e julho ocorreu a senescência foliar da seringueira. Taylor (1983) observou que ninfas de 1º ínstar do tingídeo Corythucha ciliata (Say) apresentaram distribuição vertical similar em árvores de Acer pseudoplatanus L. (Bergahorn).

Com relação à distribuição de L. heveae em folhas das partes externas e internas dos ramos, observou-se que o inseto ocorreu em número significativamente maior em folhas da parte externa em 18% das datas de amostragem (Tabela 1). Nas demais épocas, não ocorreu diferença significativa na densidade da praga. No entanto, em mais de 70% das vezes, o número de ninfas e adultos foi maior na parte externa das árvores. A análise dos resultados indica que as ninfas e os adultos moveram-se para folhas situadas na superfície externa das seringueiras para ficarem mais expostos aos raios solares, comportamento já observado em Hemiptera (Steinbauer & Clarke, 1998). Destaca-se que tal comportamento favorece a amostragem de L. heveae na parte externa das seringueiras e a aplicação de inseticidas para seu controle.

A preferência por determinado local da árvore pelos insetos pode ser influenciada por fatores relacionados com características das folhas (Ganzhorn, 1995), arquitetura da planta (Price et al., 1995) e existência de diferentes microclimas na copa, em virtude dos efeitos do vento, da temperatura e da incidência da radiação solar sobre a árvore (Bernays & Chapman, 1994; Alonso, 1997). Um ou vários desses fatores, que não foram considerados neste trabalho, podem ter contribuído para os resultados observados, fazendo-se necessário o desenvolvimento de estudos que considerem a atuação de tais fatores para maior entendimento das causas da distribuição de L. heveae na seringueira.

Verificou-se distribuição similar de ninfas e adultos de L. heveae nas folhas das diferentes partes das seringueiras. Este fato facilita a amostragem da praga e possibilita que tal atividade seja efetuada mais rapidamente, pois as populações de L. heveae podem ser estimadas amostrando-se apenas folhas da parte externa de ramos do terço inferior localizados no lado norte ou sul das seringueiras.

As temperaturas máxima, mínima e média, representadas pela média de sete dias anteriores às datas de amostragem, correlacionaram-se positiva e significativamente (r = 0,55, r = 0,55 e r = 0,45, respectivamente) apenas com ninfas de 1º a 3º ínstar, não sendo observada correlação significativa entre a variação da densidade populacional de L. heveae, a precipitação pluvial e a umidade relativa. Ou seja, os fatores meteorológicos considerados pouco influíram na ocorrência de ninfas de 4º a 5º ínstar e de adultos de L. heveae nas seringueiras, mas, por outro lado, evidenciam que ninfas de 1º a 3º ínstar foram sensíveis à variação térmica ambiental e que o incremento da temperatura teve influência significativa no aumento da densidade populacional dos ínstares iniciais de L. heveae e, conseqüentemente, da população do pervevejo-de-renda.

Os resultados evidenciam ainda que a temperatura pode afetar a distribuição vertical de L. heveae nas seringueiras. Gianchecchi & Crovetti (1990) relataram que o aumento da temperatura fez com que adultos do tingídeo Corythucha ciliata (Say) preferissem se manter nos terços médio (5 m) e inferior (3 m) de árvores de Platanus acerifolia (Aiton) Willd.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo financiamento da pesquisa (Processo 98/10657-5); ao Dr. Richard C. Froeschner, Smithsonian Institution, Washington D.C., E.U.A., pela identificação de L. heveae; ao CNPq, pela bolsa concedida ao primeiro autor.

Recebido em 7 de junho de 2004 e aprovado em 18 de setembro de 2004

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Nov 2004
  • Data do Fascículo
    Out 2004

Histórico

  • Aceito
    18 Set 2004
  • Recebido
    07 Jun 2004
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