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Relação entre número de estegmata na epiderme foliar e intensidade da antracnose em Stylosanthes spp

Relationship between number of stegmata on leaf epidermis and anthracnose intensity in Stylosanthes spp

Resumos

O objetivo deste trabalho foi quantificar o número de estegmata em cinco espécies de Stylosanthes e relacioná-lo à severidade da antracnose. Quantificaram-se os estegmata em secções foliares paradérmicas, coradas com safranina a 1%. A antracnose foi avaliada no 12º dia, depois da inoculação de Colletotrichum gloeosporioides. As espécies apresentaram número semelhante de estegmata na epiderme foliar, à exceção de S. guianensis, que apresentou menor quantidade. Maior severidade da antracnose foi observada em S. macrocephala e, em seguida, em S. capitata. Não foi constatada correlação significativa entre número de estegmata na epiderme foliar e a severidade da doença.

botânica estrutural; fitopatologia; forrageira; resistência; sílica


The objective of this work was to quantify the number of stegmata in leaf epidermis of five Stylosanthes species, and correlate it to anthracnose severity. Counting of stegmata number per cell unit was done on paradermal sections stained with 1% saffranine. Anthracnose severity was appraised 12 days after inoculation using isolate of Colletotrichum gloeosporioides. The number of stegmata was similar among the species, except for S. guianensis, which presented lower quantity. Anthracnose severity was higher on S. macrocephala followed by S. capitata. No significant correlation was observed between anthracnose severity and number of stegmata in leaf epidermal cells of the studied species.

structural botany; phytopathology; forage; resistance; silica


NOTAS CIENTÍFICAS

Relação entre número de estegmata na epiderme foliar e intensidade da antracnose em Stylosanthes spp.

Relationship between number of stegmata on leaf epidermis and anthracnose intensity in Stylosanthes spp.

Vanessa de Fátima Jerba; Celso Dornelas Fernandes; Arnildo Pott

Embrapa Gado de Corte, Caixa Postal 154, CEP 79002-970 Campo Grande, MS. E-mail: vjerba@cnpgc.embrapa.br, celsof@cnpgc.embrapa.br, apott@cnpgc.embrapa.br

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi quantificar o número de estegmata em cinco espécies de Stylosanthes e relacioná-lo à severidade da antracnose. Quantificaram-se os estegmata em secções foliares paradérmicas, coradas com safranina a 1%. A antracnose foi avaliada no 12º dia, depois da inoculação de Colletotrichum gloeosporioides. As espécies apresentaram número semelhante de estegmata na epiderme foliar, à exceção de S. guianensis, que apresentou menor quantidade. Maior severidade da antracnose foi observada em S. macrocephala e, em seguida, em S. capitata. Não foi constatada correlação significativa entre número de estegmata na epiderme foliar e a severidade da doença.

Termos para indexação: botânica estrutural, fitopatologia, forrageira, resistência, sílica.

ABSTRACT

The objective of this work was to quantify the number of stegmata in leaf epidermis of five Stylosanthes species, and correlate it to anthracnose severity. Counting of stegmata number per cell unit was done on paradermal sections stained with 1% saffranine. Anthracnose severity was appraised 12 days after inoculation using isolate of Colletotrichum gloeosporioides. The number of stegmata was similar among the species, except for S. guianensis, which presented lower quantity. Anthracnose severity was higher on S. macrocephala followed by S. capitata. No significant correlation was observed between anthracnose severity and number of stegmata in leaf epidermal cells of the studied species.

Index terms: structural botany, phytopathology, forage, resistance, silica.

O gênero Stylosanthes, nativo das Américas do Sul e Central, é o mais importante entre as leguminosas forrageiras das regiões tropical e subtropical do mundo. É resistente a solos de baixa fertilidade, ao pastejo pesado e ao estresse hídrico (Gardener, 1984), além de apresentar alto teor protéico, fácil propagação e manutenção, bem como boa produção de forragem (Baldión et al., 1975). Apesar da importância do gênero Stylosanthes, seu cultivo tem sido limitado pela ocorrência da antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc. Em germoplasma suscetível, essa doença provoca intensa desfolha e morte de plantas, reduzindo a qualidade e a produção total (Fernandes et al., 1992).

As células epidérmicas de algumas espécies de estilosantes apresentam polímeros de sílica no protoplasto (Metcalfe & Chalk, 1950), denominados por Assumpção (1978) de corpúsculos de sílica. Assumpção (1978) refere-se algumas vezes aos polímeros de sílica como bastonetes silicosos e outras vezes como corpúsculos silicosos. No presente trabalho, optou-se por adotar o termo proposto por Mauseth (1988) – estegmata –, em razão do melhor detalhamento dos critérios usados no emprego da terminologia. A sílica é considerada um dos principais componentes de barreiras estruturais por sua resistência física (Epstein, 1999).

O objetivo deste trabalho foi quantificar o número de estegmata na epiderme foliar de cinco espécies de Stylosanthes e relacioná-lo à severidade da antracnose.

As plantas de Stylosanthes foram coletadas no campo de produção de leguminosas forrageiras, da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS. Foram coletados os folíolos centrais da terceira folha apical de Stylosanthes capitata (GC798), S. guianensis (GC1546), S. macrocephala (GC170), S. scabra (GC1500) e S. seabrana (GC1588), e foram amostrados os fragmentos dos terços médios desses folíolos.

Em delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições, efetuou-se a quantificação de estegmata na epiderme foliar, mediante secções paradérmicas das faces abaxial e adaxial do folíolo amostrado. As secções foram coradas com safranina aquosa a 1% e montadas em glicerina a 50% (Kraus & Arduim, 1997). Em cada repetição, as contagens do número de estegmata por unidade celular foram realizadas sob microscópio óptico, em dez campos de cada corte paradérmico. Os dados foram analisados estatisticamente e comparados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

O isolado monospórico GC29 de Colletotrichum gloeosporioides foi cultivado por 12 dias, em meio de cultura de aveia-ágar, mantido em estufa BOD, a 27ºC e fotoperíodo de 12 horas. Esse isolado foi obtido de lesões foliares, provenientes de S. capitata, e demonstrou-se altamente agressivo nas cinco espécies utilizadas neste estudo, em experimentos anteriores. Em delineamento inteiramente casualizado, uma suspensão de 106 conídeos mL-1 do fungo foi inoculada em sete plantas de cada espécie de Stylosanthes, com seis semanas. As plantas permaneceram 48 horas em câmara úmida, tendo sido, depois, transferidas para a casa de vegetação. A avaliação dos sintomas da doença foi realizada no 12º dia depois da inoculação, com uma escala de notas de 0–9, em que 0 é planta sadia e 9 é planta morta (Chakraborty, 1990).

A severidade da antracnose foi superior em S. macrocephala, seguida por S. capitata, ao passo que S. guianensis, S. scabra e S. seabrana não diferiram entre si, quanto à resistência à doença (Tabela 1).

Charchar et al. (2002) relataram que os acessos de S. macrocephala, S. capitata, S. seabrana, além da cultivar Estilosantes Campo Grande, apresentam ótimo grau de resistência à antracnose. No entanto, de acordo com esses mesmos autores, acessos e cultivares de S. capitata, S. macrocephala e S. seabrana já haviam sido classificados como suscetíveis em outros ensaios realizados. Essa variação das reações de resistência ocorre devido ao sistema complexo e diverso, existente entre a planta hospedeira e o patógeno, como é o caso de Stylosanthes e Colletotrichum (Kelemu et al., 1996).

As reações patógeno-hospedeiro variam muito e são dependentes de combinações de muitas variáveis, dentre as quais estão: variabilidade genética do patógeno, resistência do hospedeiro e condições ambientais. Pode-se citar, como exemplo de complexidade das reações patógeno-hospedeiro, o caso da cultivar Endeavour de S. guianensis, que é suscetível a isolados australianos e resistente aos isolados sul-americanos (Kelemu et al., 1996).

O isolado de C. gloeosporioides, GC29, utilizado neste trabalho, embora seja originário de S. capitata, foi altamente agressivo a acessos de todas as espécies de Stylosanthes estudadas, fato que pode explicar os resultados de severidade de antracnose obtidos. Verificou-se que, em todas as espécies de Stylosanthes estudadas, houve a formação de estegmata (Figura 1). No entanto, quanto ao número dessas estruturas, observou-se menor concentração em S. guianensis (Tabela 1). As demais espécies não diferiram entre si.


A análise de correlação entre a severidade da antracnose e o número de estegmata por unidade celular não foi significativa a 5% de probabilidade, nas condições experimentais, comprovando que a quantidade de estegmata nas células não influencia a resistência do hospedeiro à antracnose. Tal fato não era esperado, uma vez que o silício, além de contribuir com a estrutura física da planta, também influencia na interação patógeno-hospedeiro, resultando em ativação rápida e extensiva dos mecanismos de defesa pré-formados e pós-formados (Epstein, 1999). Tanto a sílica quanto o ácido silícico atuam, primariamente, como barreiras físicas às estruturas fúngicas, seja na forma de cristais ou em complexo com a parede celular (Pozza et al., 2004).

Apesar do número de estegmata na epiderme foliar do hospedeiro sugerir a quantidade de sílica e de silício presente na planta, essas estruturas não consistiram em mecanismo de resistência à antracnose, que deve estar relacionado a outros fatores, como a síntese de quitinase e b-glucanase (Brown & Davis, 1992), a síntese de peroxidases, a deposição de calose e agregação citoplasmática (Sharp et al., 1990), assim como a composição da cutícula (Vinijsanum et al., 1987).

Agradecimentos

Ao convênio Fundect-MS/CNPq, pelo suporte financeiro.

Recebido em 23 de dezembro de 2004 e aprovado em 6 de maio de 2005

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Jan 2006

Histórico

  • Aceito
    06 Maio 2005
  • Recebido
    23 Dez 2004
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