Acessibilidade / Reportar erro

Limitações nutricionais de mudas de mangostãozeiro

Nutritional limitations of mangosteen seedlings

Resumos

Este trabalho teve o objetivo de avaliar, por meio da análise foliar, as limitações nutricionais para produção de mudas de mangostãozeiro. Após 12 meses do plantio, em condições de viveiro, com sombreamento no início do desenvolvimento, foi observado amarelecimento progressivo das folhas novas, com diminuição significativa dos teores foliares de Fe e Mn. A aplicação de sulfato de manganês (0,8 mg L-1 de Mn) + 2,5 g L-1 de uréia, via foliar, não ocasionou recuperação da tonalidade verde do limbo foliar. Entretanto, com sulfato de ferro, na concentração de 0,8 mg L-1 de Fe + 2,5 g L-1 de uréia, houve aumento da pigmentação verde nas folhas, o que mostra a baixa eficiência do mangostãozeiro na absorção de Fe, apesar da alta concentração desse nutriente no terriço (223,7 mg dm-3). Isto indica a necessidade de aplicação suplementar de Fe, no substrato ou nas folhas, na fase de viveiro do mangostãozeiro.

Garcinia mangostana; macronutrientes; micronutrientes; diagnose visual; diagnose foliar


This work had the objective to evaluate, by foliar analysis, the nutritional limitations to the production of mangosteen seedlings. After 12 months in the nursery, under shade in the initial development, a progressive yellowing of the young leaves was observed, together with significant reduction of Fe and Mn concentrations in the leaf. Foliar sprays of Mn 0.8 mg L-1 as MnSO4 plus 2.5 g L-1 of urea was ineffective to recover green color of the leaf blades. However, this was achieved with application of Fe 0.8 mg L-1, as FeSO4, plus 2.5 g L-1 of urea, with increase of regreening, which highlights the low Fe absorption efficiency of mangosteen, despite the high concentration of this nutrient in the substrate of surface soil (223.7 mg dm-3). This indicates the need of application of Fe in the substrate or on the leaves, during the nursery stage of mangosteen.

Garcinia mangostana; macronutrients; micronutrients; visual diagnosis; foliar diagnosis


NOTAS CIENTÍFICAS

Limitações nutricionais de mudas de mangostãozeiro

Nutritional limitations of mangosteen seedlings

Larissa Alexandra Cardoso MoraesI; Terezinha Batista GarciaI; Adônis MoreiraII

IEmbrapa Amazônia Ocidental, Caixa Postal 319, CEP 69011-970 Manaus, AM. E-mail: larissa@cpaa.embrapa.br, tgarcia@cpaa.embrapa.br

IIEmbrapa Pecuária Sudeste, Caixa Postal 339, CEP 13560-970 São Carlos, SP. E-mail: adonis@cppse.embrapa.br

RESUMO

Este trabalho teve o objetivo de avaliar, por meio da análise foliar, as limitações nutricionais para produção de mudas de mangostãozeiro. Após 12 meses do plantio, em condições de viveiro, com sombreamento no início do desenvolvimento, foi observado amarelecimento progressivo das folhas novas, com diminuição significativa dos teores foliares de Fe e Mn. A aplicação de sulfato de manganês (0,8 mg L-1 de Mn) + 2,5 g L-1 de uréia, via foliar, não ocasionou recuperação da tonalidade verde do limbo foliar. Entretanto, com sulfato de ferro, na concentração de 0,8 mg L-1 de Fe + 2,5 g L-1 de uréia, houve aumento da pigmentação verde nas folhas, o que mostra a baixa eficiência do mangostãozeiro na absorção de Fe, apesar da alta concentração desse nutriente no terriço (223,7 mg dm-3). Isto indica a necessidade de aplicação suplementar de Fe, no substrato ou nas folhas, na fase de viveiro do mangostãozeiro.

Termos para indexação:Garcinia mangostana, macronutrientes, micronutrientes, diagnose visual, diagnose foliar.

ABSTRACT

This work had the objective to evaluate, by foliar analysis, the nutritional limitations to the production of mangosteen seedlings. After 12 months in the nursery, under shade in the initial development, a progressive yellowing of the young leaves was observed, together with significant reduction of Fe and Mn concentrations in the leaf. Foliar sprays of Mn 0.8 mg L-1 as MnSO4 plus 2.5 g L-1 of urea was ineffective to recover green color of the leaf blades. However, this was achieved with application of Fe 0.8 mg L-1, as FeSO4, plus 2.5 g L-1 of urea, with increase of regreening, which highlights the low Fe absorption efficiency of mangosteen, despite the high concentration of this nutrient in the substrate of surface soil (223.7 mg dm-3). This indicates the need of application of Fe in the substrate or on the leaves, during the nursery stage of mangosteen.

Index terms:Garcinia mangostana, macronutrients, micronutrients, visual diagnosis, foliar diagnosis.

Entre os inúmeros frutos tropicais, o mangostão (Garcinia mangostana L.) é considerado o mais famoso do trópico asiático, graças ao sabor e ao aroma agradável de sua polpa (Müller et al., 1995). O mangostãozeiro é nativo das ilhas de Sundra e da Península da Malásia, adaptado às condições de clima quente e úmido (Richards, 1990; Yaacob & Subhadrabandhu, 1995), semelhantes às encontradas nos locais de plantio comercial no Brasil, como o Recôncavo Baiano e a Região da Amazônia, em especial, o Estado do Pará.

Apesar de seu lento crescimento inicial, cerca de dois anos cultivadas em condições de viveiro (Moraes & Garcia, 1998), e do longo período para início da frutificação no seu centro de origem (aproximadamente nove anos) serem características que dificultam a sua expansão, existem vantagens em seu cultivo no Brasil, tais como: viabilidade para o consumo por duas semanas após a colheita, início de produção mais precoce, quando cultivada nas condições climáticas do Brasil, e produção na entressafra dos maiores produtores asiáticos, o que torna o cultivo do mangostãozeiro um investimento atrativo (Moraes & Garcia, 1998). Mas ainda são incipientes as informações sobre aplicação de fertilizantes e corretivos, e a definição dos níveis adequados dos nutrientes nas folhas, sendo atualmente utilizadas as recomendações empíricas ou baseadas em práticas tradicionais (Müller et al., 1995; Yaacob et al., 1995). Poovarodom et al. (2002) sugerem que as folhas amostradas para análise devem ter de oito a dez meses, retiradas logo após a frutificação.

O objetivo deste trabalho foi avaliar, por meio da análise foliar, as limitações nutricionais para produção de mudas de mangostãozeiro.

Mudas de mangostãozeiro foram cultivadas em condições de viveiro telado na Embrapa Amazônia Ocidental, a 3º8'S e 59º52'W, no Município de Manaus, AM. O clima da região é o tropical úmido, tipo Afi pela classificação de Köppen, que apresenta chuvas relativamente abundantes durante todo o ano (média de 2.250 mm), cuja quantidade no mês de menor precipitação é sempre superior a 60 mm; a temperatura média é de aproximadamente 26ºC (Vieira & Santos, 1987).

Sementes apomíticas, coletadas de um mangostãozeiro de 15 anos (planta matriz), foram colocadas para germinar em sementeira com areia lavada. Depois do enraizamento e da emissão de um par de folhas, as plantas foram selecionadas, levadas para o viveiro e plantadas em sacos de polietileno com capacidade de 25 L, tendo como substrato uma mistura de terriço [pH em água 4,53, P (Mehlich-1) 2 mg dm-3, K (Mehlich-1) 24,7 mg dm-3, Na (Mehlich-1) 7,6 mg dm-3, Ca (KCl 1,0 mol L-1) 0,26 cmolc dm-3, Mg (KCl 1 mol L-1) 0,15 cmolc dm-3, Al (KCl 1,0 mol L-1) 1,67 cmolc dm-3, B (água quente) 0,37 mg kg-1, Cu (Mehlich-1) 0,15 mg dm-3, Fe (Mehlich-1) 223,7 mg dm-3, Mn (Mehlich-1) 1,25 mg dm-3, Zn (Mehlich-1) 1,46 mg dm-3, CTC 9,86 cmolc dm-3, V%, 5,13] + areia + esterco curtido de galinha poedeira, na proporção de 10:2:1. Para cada 100 L dessa mistura foram acrescentados 200 g de superfosfato triplo (370 g kg-1 de P2O5), 100 g de calcário dolomítico (260 g kg-1 de CaO, 120 g kg-1 de MgO e PRNT 80%) e 50 g de KCl (580 g kg-1 de K2O).

Sessenta dias depois do plantio, foi aplicada solução via foliar, com concentrações iguais de B, Cu, Mn e Zn (0,4 mg L-1), mais 2,5 g L-1 de uréia, repetindo-se tal solução a cada 60 dias. As mudas foram irrigadas diariamente, a fim de se repor a água perdida por transpiração e evaporação.

Aos 12 meses as mudas começaram a apresentar clorose amarela progressiva das folhas novas. No princípio, essa tonalidade foi observada apenas entre as nervuras; com o progresso do sintoma de deficiência, somente a nervura principal apresentava tonalidade verde (Figura 1), havendo, também, redução da área foliar (Figura 2) e aumento no número de brotações.



Com esse diagnóstico visual, foram coletadas três amostras compostas de folhas de mudas que apresentavam sintomas de clorose ou deficiência, e três amostras compostas de folhas de mudas de seis meses, sem sintomas de clorose ou deficiência; como referência, também se coletaram folhas do mangostãozeiro adulto (planta matriz). Essas folhas foram lavadas em água corrente e, posteriormente, enxaguadas em água destilada, submetidas à secagem em estufa de aeração forçada a 65ºC, moídas em moinho tipo Wiley, e digeridas para obtenção dos extratos.

Os teores totais de P foram determinados pelo método da colorimetria do metavanadato, e os de K por fotometria de chama; os de Ca, Mg, Cu, Fe, Mn e Zn, por espectrometria de absorção atômica; e os de S, por turbidimetria do BaSO4. O N total foi determinado pelo método semimicro Kjeldahl, enquanto o B foi analisado por colorimetria de azometina H (Malavolta et al., 1997).

Para realização das análises estatísticas, os dados foram dispostos em delineamento inteiramente casualizado, em que os tratamentos consistiram de plantas com sintomas e sem sintomas, com três repetições. As médias dos teores foliares foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (Pimentel-Gomes & Garcia, 2002).

Os resultados da análise foliar confirmaram o diagnóstico visual e mostraram diminuições significativas dos teores foliares de Fe e de Mn (Tabela 1), enquanto os demais nutrientes, obtidos de plantas adultas e da planta matriz cultivada nas mesmas condições edafoclimáticas, ficaram nos limites considerados adequados por Poovarodom et al. (2002).

Segundo Malavolta et al. (1997) e Epstein & Bloom (2005), os nutrientes Fe e Mn participam do transporte eletrônico na fotossíntese; o Fe atua na biossíntese de metalporfirina e, através deste, da formação da clorofila e de outras porfirinas (citocromo, catalases, pexosidades, entre outras), enquanto o Mn participa como doador de elétrons, na liberação fotoquímica do O2 na reação de Hill, que ocorre nos cloroplastos.

O fraco desenvolvimento inicial do sistema radicular, caracterizado pela ausência de raízes capilares e pelo pobre desenvolvimento de raízes laterais, característicos dessa espécie (Verheij, 1992), pode comprometer a biossíntese de metabólitos importantes para o crescimento da planta, como as citocininas e giberelinas e, também, prejudicar a absorção de Fe e Mn, afetando a realização da fotossíntese, em particular, a síntese de clorofila (Loué, 1993; Marschner, 1995; Malavolta et al., 1997).

Com o surgimento dos sintomas de deficiência e o baixo teor de Mn e Fe nas folhas, foi realizada primeiramente uma adubação foliar com sulfato de manganês (0,8 mg L-1 de Mn) + 2,5 g L-1 de uréia, o que não ocasionou recuperação da tonalidade verde do limbo foliar, mesmo com o aumento no teor foliar de Mn de 5,0±1,0 mg kg-1 para 9,9±1,0 mg kg-1. Entretanto, com aplicação de sulfato de ferro, na concentração de 0,8 mg L-1 de Fe + 2,5 g L-1 de uréia, houve aumento da pigmentação verde nas folhas (Figura 2) e incremento nos teores foliares, que passaram de 6±5 mg kg-1, nas folhas com deficiência, para 51,3±20 mg kg-1, valor próximo da faixa de 70±30 mg kg-1, considerada adequada por Poovarodom et al. (2002) para planta adulta.

Tais observações mostram a baixa eficiência do mangostãozeiro na absorção de Fe, mesmo com a alta concentração desse nutriente no terriço utilizado (223,7 mg dm-3 de Fe disponível), o que indica a necessidade da aplicação de Fe ao solo ou nas folhas, na fase de viveiro do mangostãozeiro.

Recebido em 13 de abril de 2005 e aprovado em 11 de abril de 2006

  • EPSTEIN, E.; BLOOM, A.J. Mineral nutrition of plants: principles and perspectives. Sunderland: Sinauer Associates, 2005. 400p.
  • LOUÉ, A. Oligoéléments en agriculture Antibes: SCPA-Nathan, 1993. 577p.
  • MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S.A. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. Piracicaba: Potafos, 1997. 319p.
  • MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants London: Academic Press, 1995. 889p.
  • MORAES, L.A.C.; GARCIA, T.B. Enraizamento de estacas de mangostão com diferentes concentrações de auxinas Manaus: Embrapa-CPAA, 1998. 3p. (Embrapa-CPAA. Pesquisa em andamento, 35).
  • MÜLLER, C.H.; FIGUEIREDO, F.J.C.; NASCIMENTO, W.M. de O.; CARVALHO, J.E.U. de; STEIN, R.L.B.; SILVA, A. de B.; RODRIGUES, J.E.L.F. A cultura do mangostão Belém: Embrapa-CPATU; Brasília: Embrapa-SPI, 1995. 56p. (Coleção plantar, 28).
  • PIMENTEL-GOMES, F.; GARCIA, C.H. Estatística aplicada a experimentos agronômicos e florestais: exposição com exemplos e orientações pra uso de aplicativos. Piracicaba: Fealq, 2002. 309p.
  • POOVARODOM, S.; KANYAWONGHA, P.; LERTRAT, P.; BOONPLANG, N. Leaf age and position on mineral composition of mangosteen leaves. In: WORLD CONGRESS OF SOIL SCIENCE, 17., Bangkok, Thailand. Proceedings Bangkok, Thailand: ISSS, 2002. p.656-664.
  • RICHARDS, A.J. Studies in Garcinia, dioecious tropical forest trees; the origin of the mangosteen (G. mangostana L.). Botanical Journal of the Linnean Society, v.103, p.301-308, 1990.
  • VERHEIJ, E.W.M. Garcinia mangostana L. In: VERHEIJ, E.W.M.; CORONEL, R.E. Edible fruits and nuts Bogor: Prosea Foundation, 1992. p.177-181. (Plant resources of South East Asia, 2).
  • VIEIRA, L.S.; SANTOS, P.C.T.C. Amazônia: seus solos e outros recursos naturais. São Paulo: Ceres, 1987. 416p.
  • YAACOB, O.; SUBHADRABANDHU, S. The production of economic fruits in South-East Asia Kuala Lumpur: Oxford University Press, 1995. 419p.
  • YAACOB, O.; TINDALL, H.D.; MENINI, U.G.; HODDER, A. Mangosteen cultivation Roma: FAO, 1995. 100p. (FAO. Plant production and protection paper, 129).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Set 2006
  • Data do Fascículo
    Jul 2006

Histórico

  • Aceito
    11 Abr 2005
  • Recebido
    13 Abr 2005
Embrapa Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento; Pesquisa Agropecuária Brasileira Caixa Postal 040315, 70770-901 Brasília DF Brazil, Tel. +55 61 3448-1813, Fax +55 61 3340-5483 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: pab@embrapa.br