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Toxicidade de extratos vegetais a Scutellonema bradys

Toxicity of plant extracts to Scutellonema bradys

Resumos

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito nematostático e nematicida de extratos aquosos de bulbilhos de alho (Allium sativum L.), folhas de mandioca (Manihot esculenta Crantz), folhas e sementes de mamão (Carica papaya L.), folhas de hortelã (Mentha piperita L.) e casca de gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.) em Scutellonema bradys, agente causal da casca-preta do inhame (Dioscorea cayennensis Lam.). Todos os extratos vegetais inibiram a mobilidade e causaram mortalidade ao fitonematóide. Os extratos de hortelã e de mandioca causaram menos de 45% de mortalidade a S. bradys. As maiores porcentagens de mortalidade são causadas pelos extratos de sementes e folhas do mamoeiro e pelos bulbilhos de alho.

extratos de plantas; casca-preta do inhame; controle alternativo


The objective of this work was to evaluate the nematostatic and nematicide effect of aqueous extracts from garlic bulbs (Allium sativum L.), cassava (Manihot esculenta Crantz) leaves, papaya (Carica papaya L.) leaves and seeds, mentha (Mentha piperita L.) leaves, and gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.) tree bark to Scutellonema bradys, the causal agent of yam (Dioscorea cayennensis Lam.) dry rot. All plant extracts inhibited the mobility and caused mortality to S. bradys. Mentha and cassava extracts cause less than 45% mortality to S. bradys. The highest percentages of mortality are caused by extracts from papaya seeds and leaves, and garlic bulbs.

plant extracts; yam dry rot; alternative control


NOTAS CIENTÍFICAS

Toxicidade de extratos vegetais a Scutellonema bradys

Toxicity of plant extracts to Scutellonema bradys

João Luiz CoimbraI; Ana Cristina Fermino SoaresII; Marlon da Silva GarridoII; Carla da Silva SousaII; Flávia Luciana Borges RibeiroII

IUniversidade Estadual da Bahia, Dep. de Ciências Humanas, Campus IX, CEP 47800-040 Barreiras, Bahia. E-mail: joaoluizcoimbra@hotmail.com

IIUniversidade Federal da Bahia, Escola de Agronomia, Dep. de Fitotecnia, CEP 44380-000 Cruz das Almas, Bahia. E-mail: acsoares@ufba.br

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito nematostático e nematicida de extratos aquosos de bulbilhos de alho (Allium sativum L.), folhas de mandioca (Manihot esculenta Crantz), folhas e sementes de mamão (Carica papaya L.), folhas de hortelã (Mentha piperita L.) e casca de gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.) em Scutellonema bradys, agente causal da casca-preta do inhame (Dioscorea cayennensis Lam.). Todos os extratos vegetais inibiram a mobilidade e causaram mortalidade ao fitonematóide. Os extratos de hortelã e de mandioca causaram menos de 45% de mortalidade a S. bradys. As maiores porcentagens de mortalidade são causadas pelos extratos de sementes e folhas do mamoeiro e pelos bulbilhos de alho.

Termos para indexação: extratos de plantas, casca-preta do inhame, controle alternativo.

ABSTRACT

The objective of this work was to evaluate the nematostatic and nematicide effect of aqueous extracts from garlic bulbs (Allium sativum L.), cassava (Manihot esculenta Crantz) leaves, papaya (Carica papaya L.) leaves and seeds, mentha (Mentha piperita L.) leaves, and gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.) tree bark to Scutellonema bradys, the causal agent of yam (Dioscorea cayennensis Lam.) dry rot. All plant extracts inhibited the mobility and caused mortality to S. bradys. Mentha and cassava extracts cause less than 45% mortality to S. bradys. The highest percentages of mortality are caused by extracts from papaya seeds and leaves, and garlic bulbs.

Index terms: plant extracts, yam dry rot, alternative control.

O nematóide Scutellonema bradys (Stainer & LeHew) é um importante patógeno do inhame (Dioscorea cayennensis Lam.) var. Rotundata ou Cará-da-costa, de grande importância social e econômica no Nordeste brasileiro. Esse fitonematóide causa extensos danos às túberas de inhame, principalmente na camada superficial da epiderme, que fica completamente necrosada, em virtude da penetração e migração do nematóide em seu interior (Moura et al., 2001). Túberas doentes apresentam rachaduras na epiderme, que causam perda de água e intensa incidência de agentes infecciosos secundários, durante o armazenamento (Acosta & Ayala, 1975; Moura et al., 1976). Em conseqüência do intenso comércio de túberas-sementes contaminadas, a casca-preta encontra-se disseminada em todos os Estados produtores de inhame no Nordeste.

Extratos botânicos apresentam algumas vantagens, sobre pesticidas sintéticos, para controle de nematóides. São potencialmente menos tóxicos do que os compostos sintéticos, por serem menos concentrados. Além disso, sofrem biodegradação rápida e podem possuir múltiplos modos de ação, com amplo espectro de uso e ação seletiva dentro de cada classe de praga, o que resulta em menor probabilidade de desenvolvimento de resistência pelo nematóide (Quarles, 1992).

Produtos não prejudiciais ao homem e ao meio ambiente precisam ser estudados para o controle de fitonematóides, visando ao controle populacional desses patógenos, o que poderá beneficiar, principalmente, a agricultura orgânica (Salgado & Campos, 2003).

O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito in vitro de alguns extratos de plantas sobre a mobilidade e a mortalidade de S. bradys.

A cultura de S. bradys foi obtida de túberas de inhame infectadas pelo nematóide, provenientes do Município de Cruz das Almas, BA. Para extração do nematóide, pedaços de túberas foram triturados em liquidificador e centrifugados em sacarose (Coolen & D'Herde, 1972). A suspensão de nematóides obtida foi quantificada, e o nematóide foi identificado com o auxílio de lâmina de Peters, em microscópio óptico.

A obtenção dos extratos variou de acordo com as características dos compostos bioativos, presentes nas espécies de plantas. Foram utilizadas folhas de mandioca (Manihot esculenta Crantz) e de hortelã (Mentha piperita L.), bulbilhos do alho (Allium sativum L.), sementes e folhas do mamoeiro (Carica papaya L.) e casca de gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud).

Pelo método de infusão em água, foram preparados os extratos de gliricídia, mamão e hortelã e, por trituração, foram obtidos os extratos do alho e da mandioca. Para isso, foram pesadas 20 g da casca da gliricídia, 5 g de folhas de hortelã, 2,5 g de folhas de mamoeiro e 2,5 g de sementes de mamoeiro. A infusão foi realizada pela fervura, durante 3 minutos, da folha, casca ou semente das plantas, em um béquer, com 250 mL de água destilada. Em seguida, o extrato obtido foi filtrado em gaze. Os extratos de alho e de mandioca foram obtidos por trituração, em liquidificador, durante 15 segundos, de 10 g de folhas de mandioca e 10 g de bulbilho de alho, em 250 mL de água destilada, seguida de filtração em gaze.

Em células de placas tipo ELISA foram colocados 200 µL do extrato de plantas e 20 nematóides juvenis e adultos, extraídos conforme descrição anterior. As placas foram vedadas com parafilme e colocadas em câmara de crescimento tipo BOD, a 25°C. Depois de 24 horas, fez-se a contagem, com auxílio de microscópio óptico, dos nematóides imobilizados (sendo considerados imóveis aqueles que não se movimentavam ou apresentavam o corpo com aspecto retilíneo ou retorcido). Espécimes que permaneceram imóveis foram transferidos para a água potável. Foram considerados mortos, os nematóides que não recuperaram o movimento depois de 24 horas de incubação em água.

O ensaio foi montado em delineamento inteiramente casualizado, com seis tratamentos e quatro repetições, tendo-se empregado água como testemunha. Os dados foram analisados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Todos os extratos vegetais foram capazes de inibir a mobilidade e causar mortalidade a S. bradys. MA maior mortalidade de S. bradys foi decorrente dos extratos de alho e das sementes e folhas do mamoeiro (Tabela 1). Segundo Kermanshai et al. (2001), o efeito nematicida da semente de mamão se deve ao composto isoticianato de benzila.

Alguns trabalhos demonstraram o efeito nematicida do extrato de alho a alguns gêneros de nematóides. Nath et al. (1982), em um ensaio in vitro, observaram que o extrato de alho causou 100% de mortalidade de uma população de juvenis dos nematóides Tylenchulus semipenetrans e Aphelenchoides sacchari, depois de 48 horas de exposição ao extrato. Costa (2000) também constatou o efeito nematicida de extratos de alho, quando testados em juvenis de segundo estádio de Meloidogyne incognita.

Os extratos de hortelã e mandioca, apesar do efeito nematostático a S. bradys, causaram menos de 45% de mortalidade de S. bradys (Tabela 1), embora tenham se diferenciado da testemunha (água), o que indica a presença de substâncias menos tóxicas a S. bradys, ou em menor concentração. Dias-Arieira et al. (2000) avaliaram o extrato de hortelã em juvenis de M. incognita e observaram baixa atividade nematicida, embora tenham registrado, também, efeito nematostático; Mareggiani et al. (1997) não observaram atividade nematicida do extrato acetônico de Mentha spp. sobre M. incognita. No entanto, o extrato aquoso de Mentha viridis apresentou-se ativo sobre juvenis de M. incognita no trabalho realizado por Haseeb et al. (1982). Segundo Abd-Elgawad & Omer (1995), os compostos oxigenados, presentes no óleo essencial carvona, obtido a partir de espécies de Mentha, como M. spicata e M. longifolia, podem ser parcialmente responsáveis pelo efeito nematicida dessas espécies.

Extratos de gliricídia são conhecidos por sua ação inseticida (Sharma-Nirmal et al., 1998). Contudo, pouco se sabe sobre seu efeito em nematóides de plantas.

O forte efeito nematostático exercido pelos extratos testados sobre S. bradys, se ocorrer no solo, mais precisamente na região da rizosfera das plantas, pode proporcionar o controle do nematóide (Tabela 1). A imobilização do nematóide poderá favorecer a ação de antagonistas do solo e, conseqüentemente, o seu controle.

Os extratos de folhas de mandioca e de hortelã, de bulbilhos de alho, de sementes e folhas de mamoeiro e de casca de gliricídia possuem efeito nematicida sobre o nematóide do inhame Scutellonema bradys.

Agradecimentos

À Fapesb, pelo apoio financeiro; ao CNPq, pela bolsa concedida.

Recebido em 10 de junho de 2005 e aprovado em 27 de março de 2006

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Set 2006
  • Data do Fascículo
    Jul 2006

Histórico

  • Recebido
    10 Jun 2005
  • Aceito
    27 Mar 2006
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