Acessibilidade / Reportar erro

Novos acessos de tomateiro resistentes à mosca-branca biótipo B

New accessions of tomato resistant to whitefly biotype B

Resumos

O objetivo deste trabalho foi selecionar novas fontes de resistência a Bemisia tabaci biótipo B, entre 34 acessos de tomateiro (Lycopersicon esculentum), do Banco de Germoplasma de Hortaliças da UFV. Avaliaram-se os números de adultos, ovos e ninfas por planta, além da densidade de tricomas. Detectaram-se diferenças entre os acessos nas variáveis avaliadas. Os acessos BGH-166, BGH-616, BGH-850, BGH-990, BGH-2102 e BGH-2125 apresentaram menor número de adultos, ovos e ninfas por planta e tiveram menor densidade de tricomas. A resistência dos acessos de tomate à mosca-branca foi associada a uma menor densidade de tricomas.

Bemisia argentifolii; Bemisia tabaci; Lycopersicon esculentum; germoplasma; resistência a pragas; Solanaceae


The objective of this work was to evaluate resistance to Bemisia tabaci biotype B in 34 tomato (Lycopersicon esculentum) accessions from the Banco de Germoplasma de Hortaliças of UFV. The number of adults, eggs and nymphs per plant besides of trichome density were evaluated. Differences between accessions were found for the evaluated variables. Accessions BGH-166, BGH-616, BGH-850, BGH-990, BGH-2102 and BGH-2125 presented less infestation of adults, eggs and nymphs per plant and showed lower trichome density. The resistance of these tomato accessions to whitefly was associated to a lower trichome density.

Bemisia argentifolii; Bemisia tabaci; Lycopersicon esculentum; germplasm; resistance to pests; Solanaceae


NOTAS CIENTÍFICAS

Novos acessos de tomateiro resistentes à mosca-branca biótipo B

New accessions of tomato resistant to whitefly biotype B

Maria Elisa de Sena FernandesI; Derly José Henriques da SilvaI; Flávio Lemes FernandesII; Marcelo Coutinho PicançoII; Pablo Costa GontijoII; Tarcísio Visintim da Silva GaldinoII

IUniversidade Federal de Viçosa (UFV), Departamento de Fitotecnia, Genética e Melhoramento de Plantas, CEP 36570-000 Viçosa, MG. E-mail: mariaelisasena@yahoo.com.br, derly@ufv.br

IIUFV, Departamento de Biologia Animal, CEP 36570-000 Viçosa, MG. E-mail: flavio.lemes@yahoo.com.br, picanco@ufv.br, pablocgontijo@yahoo.com.br, tarcsilva@gmail.com

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi selecionar novas fontes de resistência a Bemisia tabaci biótipo B, entre 34 acessos de tomateiro (Lycopersicon esculentum), do Banco de Germoplasma de Hortaliças da UFV. Avaliaram-se os números de adultos, ovos e ninfas por planta, além da densidade de tricomas. Detectaram-se diferenças entre os acessos nas variáveis avaliadas. Os acessos BGH-166, BGH-616, BGH-850, BGH-990, BGH-2102 e BGH-2125 apresentaram menor número de adultos, ovos e ninfas por planta e tiveram menor densidade de tricomas. A resistência dos acessos de tomate à mosca-branca foi associada a uma menor densidade de tricomas.

Termos para indexação:Bemisia argentifolii, Bemisia tabaci, Lycopersicon esculentum, germoplasma, resistência a pragas, Solanaceae.

ABSTRACT

The objective of this work was to evaluate resistance to Bemisia tabaci biotype B in 34 tomato (Lycopersicon esculentum) accessions from the Banco de Germoplasma de Hortaliças of UFV. The number of adults, eggs and nymphs per plant besides of trichome density were evaluated. Differences between accessions were found for the evaluated variables. Accessions BGH-166, BGH-616, BGH-850, BGH-990, BGH-2102 and BGH-2125 presented less infestation of adults, eggs and nymphs per plant and showed lower trichome density. The resistance of these tomato accessions to whitefly was associated to a lower trichome density.

Index terms:Bemisia argentifolii, Bemisia tabaci, Lycopersicon esculentum, germplasm, resistance to pests, Solanaceae.

Os principais fatores que reduzem a produtividade do tomateiro são as pragas e as doenças. Entre as pragas, Bemisia tabaci (Gennadius) biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae) constitui importante causador de perdas (Lima et al., 2000). Os danos diretos consistem na sucção de seiva e injeção de toxinas que reduzem o desenvolvimento e a produtividade (Toscano et al., 2004), mas além desses, a praga também causa danos indiretos como vetor de diversas viroses.

O controle de B. tabaci é feito com inseticidas que muitas vezes não são eficazes (Bacci et al., 2007). Uma alternativa para o controle de B. tabaci biótipo B é o uso de cultivares resistentes. Acessos de tomateiro do Banco de Germoplasma de Hortaliças (2009), da Universidade Federal de Viçosa (BGH-UFV), têm sido testados em relação a outras pragas como Tuta absoluta (Lepidoptera: Gelechiidae) (Oliveira et al., 2009). No entanto, poucos são os trabalhos que buscaram fontes de resistência a B. tabaci em tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.) (Oliveira et al., 2009); a maioria tem sido realizada com L. hirsutum, L. peruvianum, L. pennellii e L. pimpinellifolium (Baldin et al., 2005).

Toscano et al. (2002) consideraram os acessos PI-134417 (L. hirsutum) e LA 716 (L. pennellii) como resistentes a B. tabaci, por apresentarem menor infestação de ovos que a variedade Santa Clara (L. esculentum). Baldin et al. (2005) observaram que os acessos LA-716, PI-134417 e PI-134418 foram os menos atrativos à mosca-branca biótipo B. Fancelli et al. (2005) também verificaram que o acesso LA 716 reduziu a oviposição dessa praga, o que indica efeito antixenótico.

Este trabalho teve como objetivo identificar novas fontes de resistência a B. tabaci biótipo B entre 34 acessos de tomate do BGH-UFV.

O experimento foi realizado em casa de vegetação do Departamento de Biologia Animal da UFV, em 2008. Foram estudados 34 acessos de tomateiro do BGH-UFV, além da cultivar Santa Clara (padrão de suscetibilidade) (Tabela 1). As mudas de tomate foram cultivadas até 35 dias após a germinação e transplantadas para vasos de plástico de 500 mL com terriço de barranco e esterco bovino (2:1).

Foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado, com três repetições. Cada parcela experimental foi constituída por uma planta de tomate com seis folhas totalmente expandidas. Os tratamentos foram 34 acessos e a cultivar Santa Clara. A resistência por antixenose foi avaliada por meio do teste de chance de escolha. Para isto, liberaram-se, na parte central da casa de vegetação, 3.600 adultos de mosca-branca.

As características avaliadas foram números de adultos, ovos e ninfas por planta, além da densidade de tricomas avaliada em 0,04 cm2 de área foliar. Os adultos foram avaliados em toda a planta por contagem direta, quatro dias após a liberação dos adultos. Os ovos foram contados em toda a planta, com auxílio de lupa manual (aumento 20x) seis dias após a infestação com os adultos, e as ninfas foram avaliadas em toda a planta por contagem direta oito dias após a infestação. Para a avaliação da densidade de tricomas, em cada parcela experimental, coletou-se a primeira folha totalmente expandida a partir do ápice de cada planta. Nessa folha, avaliou-se o primeiro folíolo localizado na direção do ápice para a base da folha, numa área de 0,04 cm2, na lateral esquerda, sem sobrepor a região de nervuras da folha. A contagem de tricomas foi feita com auxílio de microscópio (aumento 40x), não tendo sido feita distinção entre os tipos de tricomas. Os valores obtidos foram submetidos à análise de variância e ao teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade.

Detectaram-se diferenças significativas no que se refere ao número de adultos, ovos e ninfas por planta (p<0,001). Os acessos BGH-2076 e BGH-322 apresentaram maior número de adultos - (65 e 61, respectivamente) (Tabela 2). Do total de acessos, 40% apresentaram baixa densidade de adultos por planta - menos que 14 -, entre os quais os acessos BGH-616 e BGH-973 apresentaram os menores valores (5,33). O acesso BGH-2076 apresentou o maior número de ovos por planta (75), e 22 acessos foram classificados no grupo com o menor número (abaixo de 14,67), entre esses o BGH-2125 apresentou o menor valor (0,33). O BGH-2074 abrigou o maior número de ninfas (114,67), enquanto que 51,42% dos demais acessos foram classificados no grupo com o menor número de ninfas (abaixo de 30,33), entre os quais o BGH-2102 apresentou o menor valor (10,00).

Observaram-se diferenças significativas entre os acessos também no que se refere à densidade de tricomas, avaliada em 0,04 cm2 do limbo foliar (p<0,001). O BGH-1990 apresentou a maior densidade de tricomas (387) e o BGH-2092, a menor (77), este último sem diferir de outros 14 acessos.

Os acessos BGH-166, BGH-616, BGH-850, BGH-990, BGH-2102 e BGH-2125, que foram classificados nos grupos com menor número de adultos, ovos e ninfas por planta, simultaneamente, também apresentaram menor densidade de tricomas (Tabela 2). Gonçalves et al. (2006), no entanto, constataram correlação significativa entre teores de zingibereno - um aleloquímico eficiente em conferir resistência a artropodes-praga - e número de tricomas glandulares, no segundo retrocruzamento para L. esculentum, a partir da linhagem selvagem L. hirsutum.

As diferenças na infestação de B. tabaci biótipo B nos acessos do BGH-UFV podem ter ocorrido em razão da variabilidade genética. Os 34 acessos avaliados eram provenientes de várias regiões brasileiras e de outros países. Marin et al. (2009) observaram grande variabilidade genética entre 70 acessos de tomateiro do BGH-UFV para características morfológicas, agronômicas e de qualidade dos frutos.

A resistência de L. esculentum tem sido estudada para identificar mecanismos que conferem resistência a artrópodes-praga (Kennedy, 2003). O baixo número de adultos, ovos e ninfas por planta, em BGH-160, BGH-166, BGH-616, BGH-850, BGH-980, BGH-990, BGH-1990, BGH-2026, BGH-2102 e BGH-2125 pode estar associada ao mecanismo de antixenose, que se caracteriza pela ocorrência de menor preferência dos insetos quanto à oviposição, alimentação ou abrigo, decorrentes de estímulos químicos, morfológicos e físicos das plantas, que são governados por fatores genéticos (Panda & Krush, 1995). Channarayappa et al. (1992) observaram que o acesso LA 1777 de L. hirsutum apresenta resistência à mosca-branca mediada pelo mecanismo de antixenose.

Tendo-se em vista que a performance da prole é determinada pela escolha dos insetos adultos para a oviposição (Mayhew, 2001), a baixa densidade de tricomas em folhas de tomateiro pode ser importante para que um acesso seja menos visitado por B. tabaci biótipo B. Os acessos BGH-166, BGH-616, BGH-850, BGH-990, BGH-2102 e BGH-2125 foram selecionados como fontes de resistência à B. tabaci. O mecanismo de resistência associado a esses acessos foi a antixenose. Além disso, a baixa densidade de tricomas pode ser uma das possíveis causas da resistência à praga. Goffreda et al. (1990) e Gonçalves (2006), no entanto, constataram que a densidade de tricomas está diretamente relacionada à resistência de pragas em tomateiro.

Recebido em 26 de junho de 2009 e aprovado em 29 de outubro de 2009

  • BACCI, L.; CRESPO, A.L.B.; GALVAN, T.L.; PEREIRA, E.J.G.; PICANÇO, M.C.; SILVA, G.A.; CHEDIAK, M. Toxicity of insecticides to the sweetpotato whitefly (Hemiptera: Aleyrodidae) and its natural enemies. Pest Management Science, v.63, p.699-706, 2007.
  • BALDIN, E.L.L.; VENDRAMIM, J.D.; LOURENÇÃO, A.L. Resistência de genótipos de tomateiro à mosca-branca Bemisia tabaci (Gennadius) biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae). Neotropical Entomology, v.34, p.435-441, 2005.
  • BANCO DE GERMOPLASMA DE HORTALIÇAS. Banco de germoplasma de hortaliças da Universidade Federal de Viçosa Disponível em: <http://www.ufv.br/BGH/files/pag/tomate.htm>. Acesso em: 25 jun. 2009.
  • CHANNARAYAPPA, C.; SHIVASHANKAR, G.; MUNIYAPPA, V. Resistance of Lycopersicon species to Bemisia tabaci, a tomato leaf curl virus vector. Canadian Journal of Botany, v.70, p.2184-2192, 1992.
  • FANCELLI, M.; VENDRAMIM, J.D.; FRIGHETTO, R.T.S.; LOURENÇÃO, A.L. Exsudato glandular de genótipos de tomateiro e desenvolvimento de Bemisia tabaci Genn. (Sternorryncha: Aleyrodidae) biótipo B. Neotropical Entomology, v.34, p.659-665, 2005.
  • GOFFREDA, J.C.; STEFFENS, J.C.; MUTSCHLER, M.A. Association of epicuticular sugars with aphid resistance in hybrids with wild tomato. Journal of the American Society of Horticultural Science, v.115, p.161-165, 1990.
  • GONÇALVES, L.D.; MALUF, W.R.; CARDOSO, M.G; RESENDE, J.T.V.; CASTRO, E.M.; SANTOS, N.M.; NASCIMENTO, I.R.; FARIA, M.V. Relação entre zingibereno, tricomas foliares e repelência de tomateiros a Tetranychus evansi Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.41, p.267-273, 2006.
  • KENNEDY, G.G. Tomato, pests, parasitoids, and predators: tritrophic interactions involving the genus Lycopersicon Annual Review of Entomology, v.48, p.51-72, 2003.
  • LIMA, L.H.C.; NAVIA, D.; INGLIS, P.W.; OLIVEIRA, M.R.V. de. Survey of Bemisia tabaci (Gennadius) (Hemiptera: Aleyrodidae) biotypes in Brazil using RAPD markers. Genetics and Molecular Biology, v.23, p.781-785, 2000.
  • MARIM, B.G; SILVA, D.J.H.; CARNEIRO, P.C.S.; MIRANDA, G.V.; MATTEDI, A.P.; CALIMAN, F.R.B. Variabilidade genética e importância relativa de caracteres em acessos de germoplasma de tomateiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.44, p.1283-1290, 2009.
  • MAYHEW, P.J. Herbivore host choice and optimal bad motherhood. Trends in Ecology and Evolution, v.16, p.165-167, 2001.
  • OLIVEIRA, F.A.; SILVA, D.J.H. da; LEITE, G.L.D.; JHAM, G.N.; PICANÇO, M.C. Resistance of 57 greenhouse-grown accessions of Lycopersicon esculentum and three cultivars to Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae). Scientia Horticulturae, v.119, p.182-187, 2009.
  • PANDA, N.; KRUSH, G.S. Host plant resistance to pest Guildford: Biddles, 1995. 431p.
  • TOSCANO, L.C.; BOIÇA JÚNIOR, A.L.; MARUYAMA, W.I. Nonpreference of whitefly for oviposition in tomato genotypes. Scientia Agricola, v.59, p.677-681, 2002.
  • TOSCANO, L.C.; BOIÇA JÚNIOR, A.L.; MARUYAMA, W.I. Assessment of physiological aspects of three tomato genotypes infested by Bemisia tabaci Gennadius biotype B (Hemiptera: Aleyrodidae). Neotropical Entomology, v.33, p.777-782, 2004.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Set 2010
  • Data do Fascículo
    Nov 2009

Histórico

  • Aceito
    29 Out 2009
  • Recebido
    26 Jun 2009
Embrapa Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento; Pesquisa Agropecuária Brasileira Caixa Postal 040315, 70770-901 Brasília DF Brazil, Tel. +55 61 3448-1813, Fax +55 61 3340-5483 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: pab@embrapa.br