EDITORIAL
Em comemoração aos 40 anos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa - a revista Pesquisa Agropecuária Brasileira (PAB) apresenta ao público mais um Número Temático, sob o título "Pesquisa, Desenvolvimento e Inovações em Aquacultura".
Dispensando-me, por alguns instantes, da diuturna exigência com a objetividade e concisão dos artigos científicos, permito-me uma aparente digressão.
A relevância do tema Aquacultura é, indiretamente, enfatizada desde os primeiros dias de existência de nossa Nação. Revisitei a Carta de Pêro Vaz de Caminha(11) Carta de Pêro Vaz de Caminha. Terra de Vera Cruz (Brasil), 1 de maio de 1500. Portugal, Torre do Tombo, Gavetas, Gavetas, gaveta 8, mç. 2, doc. 8. (), ao Rei de Portugal, redigida em 1º de maio de 1500, dez dias após o Descobrimento, disponível em Português moderno, na Torre do Tombo, em Portugal.
Após descrever a terra que,
"[...] De ponta a ponta é toda praia parma, muito chã e muito formosa; pelo sertão nos pareceu do mar muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão a terra e arvoredos, que nos parecia mui longa terra [...]",
Caminha menciona as águas:
"[...] Águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem [...]".
Assim, com base neste primeiro documento literário de nossa Pátria, atualmente podemos bater na mesma tecla, adotando a linguagem da Marinha do Brasil, e referindo-se a uma Amazônia Azul. Essa nossa riqueza, nossas águas oceânicas, estende-se ao longo de oito mil quilômetros de litoral e projeta-se por duzentas milhas oceano a dentro, em extensão para trezentas. A ela somam-se as águas fluviais, cuja dimensão pode ser expressa mencionando-se uma descarga média de longo período de 182.633 metros cúbicos por segundo, conforme Rebouças (2003)(22) REBOUÇAS, A. da C. Água no Brasil: abundância, desperdício e escassez. Bahia Análise e Dados, v.13, p.341-345. 2003. Número especial.). E ainda temos a considerar as águas subterrâneas, entre as quais sobreleva o Aquífero Guarany.
Na verdade aproveitamos muito pouco deste imenso potencial. Ou seja, ainda temos muitíssimo espaço disponível para cumprir a proposta de Pêro Vaz de Caminha ao Rei Dom Manuel I. Inumeráveis são as questões ainda pendentes de equacionamento e solução. Ainda estão ocorrendo graves assimetrias na geração e distribuição de água potável: de um lado desperdício pela abundância e, de outro lado, mortalidade infantil pela ausência ou escassez. Secas e enchentes, inevitáveis em sua origem, mas causando graves prejuízos e injúrias à população, ainda demandam grandes investimentos para sua mitigação e controle. Ademais, a poluição das águas pelos dejetos humanos e efluentes industriais não submetidos a tratamento adequado. Etc., etc. e etc...
Retendo-se apenas ao objeto da Aquacultura, que se refere, principalmente, à alimentação e ao combate à fome no Brasil e no mundo, muito temos o que fazer para aproveitar, sustentavelmente, nosso imenso potencial. Muito temos que equacionar e solucionar para reduzir a pressão sobre os ecossistemas e sua respectiva fauna, a qual, desde tempos imemoriáveis, é preciosa fonte de alimentos. Incomensuráveis são as possibilidades concretas de geração de emprego e renda e produção de alimentos de alta qualidade, para todas as camadas da população. Inestimáveis são os benefícios do desenvolvimento da Aquacultura para a pequena propriedade, especializada ou não, em todo o Território Nacional.
A criação do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e respectiva estrutura e, no âmbito do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), a criação da Embrapa Pesca e Aquicultura (Centro Nacional de Pesquisa em Pesca, Aquicultura e Sistemas Agrícolas - CNPASA), exprimem a decisão do Governo Federal, neste alvorecer do Século XXI, de continuar atendendo a este desiderato, no que se refere às atribuições específicas do MPA e do Mapa. Decisões e ações similares ocorrem no âmbito dos demais Ministérios, especialmente, no Ministério de Minas e Energia, Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Defesa e Ministério da Ciência e da Tecnologia.
Pretendendo aliar-se a este esforço de valor histórico, e essencial para o Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil, este Número Temático apresenta um conjunto de artigos técnicocientíficos que apresentam resultados, obtidos por dedicados pesquisadores, integrantes dos quadros de prestigiosas instituições do Setor Brasileiro de Ciência&Tecnologia.
Espera-se que a publicação destes resultados contribua para o desenvolvimento da Aquacultura no País, e que o alcance dos artigos nela incluídos seja o mais amplo possível, o que contribuiria para aumentar o seu campo de aplicação, em benefício da população brasileira.
É gratificante constatar que este esforço técnico-científico, além do aumento da produção, também permitirá a redução da pressão sobre estes componentes de nossa fauna e respectivos ecossistemas. Neste sentido, também poderá subsidiar a elaboração de uma legislação ambiental baseada no conhecimento científico e no comportamento das espécies demandadas pela nossa crescente população.
Entre os objetivos do número, também não poderiam deixar de estar a ampliação e a intensificação das parcerias entre as diversas instituições atuantes na área e destas com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, por meio de todas as suas Unidades e, especialmente, por meio da Embrapa Pesca e Aquicultura e da Embrapa Pantanal.
Expresso aqui os agradecimentos da revista Pesquisa Agropecuária Brasileira (PAB), a todos os autores que submeteram seus manuscritos à chamada para esse número, à assessoria científica consultada e aos demais membros da comissão técnico-científica. A maioria destes profissionais integra os quadros da Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática, prestigiosa sociedade científica, brilhantemente presidida pela Professora Débora Machado Fracalossi, da Universidade Federal de Santa Catarina, cuja imprescindível parceria também se mostrou essencial para a construção deste número.
Nossos agradecimentos também se estendem ao Ministério da Pesca e Aquicultura, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pelo apoio financeiro.
Finalmente, a publicação deste Número Temático não teria sido possível sem o apoio e o estímulo contínuos do Dr. Waldyr Stumpf Junior, Diretor de Transferência de Tecnologia da Embrapa, e dos Gerentes Gerais da Embrapa Informação Tecnológica, Dr. Fernando do Amaral Pereira e Dra. Selma Lúcia Lira Beltrão.
Boa leitura a todos.
Emilson França de Queiroz
Editor-Chefe
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
29 Nov 2013 -
Data do Fascículo
Ago 2013