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Efeito anestésico do eugenol em juvenis de pacamã

Anesthetic effect of eugenol in juvenile pacamã

Resumos

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do eugenol como anestésico para juvenis de pacamã (Lophiosilurus alexandri). Os animais foram divididos em dois grupos, denominados juvenil I (0,72 g) e juvenil II (7,44 g), e submetidos a seis tratamentos de eugenol (20, 40, 60, 80, 100 e 120 mg L-1), em dez repetições. Durante o experimento, foram realizadas biometrias e cronometragens dos tempos de indução e recuperação. Com o aumento das doses, o tempo de anestesia foi reduzido de 69 para 27 s, em juvenis I, e de 93,8 para 37,3 s em juvenis II. A sobrevivência foi de 100%.

Lophiosilurus alexandri; anestesia; manejo; sobrevivência


The objective of this work was to evaluate the effect of eugenol as an anesthetic in juvenile pacamã (Lophiosilurus alexandri). The animals were divided into two groups, named juvenile I (0.72 g) and juvenile II (7.44 g), and subjected to six treatments of eugenol (20, 40, 60, 80, 100, and 120 mg L-1) in ten replicates. During the experiment, biometrics and timing of induction and recovery times were measured. With the increasing doses, the anesthesia duration was shortened from 69 to 27 s in juvenile I and from 93.8 to 37.3 s in juvenile II. The survival rate was 100%.

Lophiosilurus alexandri; anesthesia; handling; survival


NOTAS CIENTÍFICAS

Efeito anestésico do eugenol em juvenis de pacamã

Anesthetic effect of eugenol in juvenile pacamã

Paula Adriane Perez Ribeiro; Kleber Campos Miranda Filho; Reinaldo Melillo Filho; André Eduardo Heringer Santos; Walisson de Souza e Silva; Lucas Alves Rodrigues; Ronald Kennedy Luz

Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, Laboratório de Aquacultura, Avenida Antônio Carlos, nº 6.627, CEP 31270-901 Belo Horizonte, MG. E-mail: paulaperezribeiro@hotmail.com, kleber08@gmail.com, reimelillo@yahoo.com.br, andreeduardohs@globo.com, wmoeda@gmail.com, lar_vet@yahoo.com.br, luzrk@yahoo.com

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do eugenol como anestésico para juvenis de pacamã (Lophiosilurus alexandri). Os animais foram divididos em dois grupos, denominados juvenil I (0,72 g) e juvenil II (7,44 g), e submetidos a seis tratamentos de eugenol (20, 40, 60, 80, 100 e 120 mg L-1), em dez repetições. Durante o experimento, foram realizadas biometrias e cronometragens dos tempos de indução e recuperação. Com o aumento das doses, o tempo de anestesia foi reduzido de 69 para 27 s, em juvenis I, e de 93,8 para 37,3 s em juvenis II. A sobrevivência foi de 100%.

Termos para indexação:Lophiosilurus alexandri, anestesia, manejo, sobrevivência.

ABSTRACT

The objective of this work was to evaluate the effect of eugenol as an anesthetic in juvenile pacamã (Lophiosilurus alexandri). The animals were divided into two groups, named juvenile I (0.72 g) and juvenile II (7.44 g), and subjected to six treatments of eugenol (20, 40, 60, 80, 100, and 120 mg L-1) in ten replicates. During the experiment, biometrics and timing of induction and recovery times were measured. With the increasing doses, the anesthesia duration was shortened from 69 to 27 s in juvenile I and from 93.8 to 37.3 s in juvenile II. The survival rate was 100%.

Index terms:Lophiosilurus alexandri, anesthesia, handling, survival.

O pacamã (Lophiosilurus alexandri) é um peixe carnívoro pertencente à ordem Siluriforme, que apresenta desova parcelada e comportamento sedentário (Travassos, 1959). Esta espécie é comumente utilizada em programas de repovoamento da bacia do Rio São Francisco. Acarne, sem espinhos intramusculares e com sabor apreciado pelo consumidor, tem motivado a sua introdução na aquacultura. Estudos têm registrado altas taxas de sobrevivência durante a fase de larvicultura, quando do uso de alimento vivo em diferentes sistemas de cultivo (Santos & Luz, 2009). No entanto, pouco se sabe sobre a tolerância dessa espécie aos manejos diários da piscicultura, os quais podem levar a problemas sanitários ou de estresse quando realizados de forma incorreta. Esses problemas podem ser minimizados pelo uso de anestésicos, porém é necessário conhecimento das concentrações e dos tempos de exposição adequados para cada espécie e fase de desenvolvimento (Vidal et al., 2006).

A escolha de um anestésico é pautada na viabilidade econômica e em implicações legais. O eugenol (4-Alil-2-Metoxifenol), componente ativo do óleo de cravo, é um composto fenólico resultante da destilação das folhas das árvores de cravo-da-índia, Syzygium aromaticum (Syn. Eugenia aromatica), que apresenta baixo custo e relativa segurança para peixes e seres humanos (Keene et al., 1998). De acordo com Kildea et al. (2004), outra vantagem do emprego do eugenol estaria ligada à sua eliminação, pois este deixa de ser detectado no tecido após 48 horas de uso.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do eugenol como anestésico para juvenis de pacamã.

O experimento foi conduzido no Laboratório de Aquacultura (Laqua), da Escola de Veterinária, da Universidade Federal de Minas Gerais, de janeiro a abril de 2011.

Juvenis de pacamã, previamente condicionados ao alimento formulado no Laqua, foram mantidos em tanques de 30 L, ligados a um sistema de recirculação de água. Para a filtragem mecânica, foi utilizada lã acrílica e, para a biológica, fitilhos como substrato para as bactérias nitrificantes. O fluxo de água nos tanques foi de 40 mL min-1, com temperatura de 27,5±0,5ºC, oxigênio dissolvido acima de 4,5 mg L-1 e fotoperíodo de 10 horas de luz. A alimentação foi realizada até saciedade aparente, três vezes ao dia (às 8h, 13h e 17h), com ração comercial extrusada (45% de proteína bruta e 2,5 mm de diâmetro).

Os animais foram classificados em juvenil I (60 animais com 0,72±0,18 g e 4,27±0,35 cm) e juvenil II (60 animais com 7,44 g±0,44 g e 4,38±0,83 cm). Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com seis tratamentos de eugenol (20, 40, 60, 80, 100 e 120 mg L-1) e dez repetições - cada animal foi considerado uma repetição.

Previamente aos testes, os animais foram submetidos a jejum de 14 horas. O eugenol foi diluído em 5 mL de álcool absoluto (P.A.) e adicionado em aquário que continha 1 L de água. Em cada avaliação, os juvenis foram introduzidos, individualmente, no aquário que continha a solução anestésica, para cronometragem dos tempos de indução à anestesia. Os parâmetros limnológicos pH, oxigênio dissolvido e temperatura da água foram monitorados por meio de sonda multiparâmetro YSI 6920 V2 (YSI Incorporated, Yellow Springs, OH, EUA).

Durante os experimentos, a perda dos reflexos a estímulos externos e o movimento opercular lento caracterizaram o estado de anestesia, momento em que os animais passaram por biometria (peso e comprimento). Em seguida, cada peixe foi colocado em um aquário com 1 L de água limpa para recuperação da condição de anestesia. Os peixes foram considerados recuperados quando apresentaram equilíbrio normal e reação a estímulos externos (Ross & Ross, 2008). O tempo de recuperação considerado estendeu-se desde o início da biometria até a recuperação total dos animais. Ao final das avaliações, os peixes de cada tratamento foram alojados em tanques de 30 L, mantidos no sistema de recirculação de água, e observados durante 24 horas para verificação da sobrevivência.

Os dados obtidos foram analisados com auxílio do programa Sisvar e submetidos a estudo de regressão para escolha da equação que melhor descrevesse o comportamento nos estágios de anestesia e recuperação dos peixes.

Os parâmetros de qualidade de água, independentemente da concentração de eugenol, mantiveram-se estáveis e dentro dos padrões considerados adequados para a maioria das espécies de peixes tropicais de água doce (Arana, 2004), com valores médios de pH, oxigênio dissolvido e temperatura de 8,3±0,1, 6,4±0,3 mg e 28,1±0,6ºC, respectivamente.

Para as duas classes estudadas (juvenil I e II), a sobrevivência foi de 100% após 24 horas da realização dos testes. Perdikaris et al. (2010), ao avaliar truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) e peixe dourado (Carassius auratus), relataram efetividade no uso de eugenol, em razão do baixo estresse gerado e da sobrevivência total, 24 horas depois do período de recuperação dos animais. No entanto, adultos de "fathead minnows" (Pimephales promelas) anestesiados com 100 mg L-1 de eugenol apresentaram apenas 60% de sobrevivência (Palic et al., 2006), o que torna imperativo o exame espécie-específico para o emprego de anestésicos.

Houve efeito da concentração de eugenol sobre o tempo de anestesia para as duas classes de peso estudadas (Figura 1). O aumento na concentração do anestésico, de 20 para 120 mg L-1, reduziu o tempo de indução à anestesia de 69 para 27 s, em juvenil I, e de 93,8 para 37,3 s, em juvenil II. Também constatouse que doses de eugenol acima de 125 e 200 mg L-1 tendem à estabilidade no tempo de anestesia em Brycon cephalus (Vidal et al., 2007) e em tilápia (Vidal et al., 2008), respectivamente. O tempo de recuperação aumentou gradativamente com o incremento na concentração de eugenol para os juvenis I de pacamã, tendo passado de 69,7 para 120,2 s, da menor para a maior concentração (Figura 2). Esses tempos de recuperação foram inferiores aos 1,29 e 2,46 min, para as concentrações de 50 e 100 mg L-1 de eugenol, respectivamente, observados para juvenis de Pseudoplatystoma corruscans, um siluriforme como o pacamã, com peso médio de 27 g (Vidal et al., 2006).



As concentrações de eugenol avaliadas promoveram, para juvenis I e II de pacamã, tempos de anestesia e recuperação inferiores aos limites máximos ideais de 150 e 300 s, conforme preconizado por Keene et al. (1998). Contudo, durante o processo de anestesia, até que seja atingida a perda de reflexos a estímulos externos, há liberação de corticosteroides e catecolaminas, relacionados à ação do anestésico. Portanto, quanto mais rápido esta fase ocorrer, menor será a liberação destas substâncias pelo organismo (Rothwell et al., 2005). Assim, para juvenis de pacamã, a concentração mais elevada de eugenol (120 mg L-1) pode ser recomendada para minimizar o estresse dos animais. As concentrações de eugenol sugeridas para juvenis de P. corruscans, com média de 27 g, é de 50 mg L-1 de eugenol (Vidal et al., 2006). Para juvenis de pacamã, o eugenol atende aos requisitos de atuação rápida e curto tempo de recuperação, assim como de facilidade na aplicação e baixo risco para os animais e o tratador, como recomendado por Keene et al. (1998).

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e ao Ministério da Pesca e Aquicultura, pelo apoio financeiro e pela concessão de bolsas.

Recebido em 25 de junho de 2011 e aprovado em 23 de outubro de 2012

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Nov 2013
  • Data do Fascículo
    Ago 2013

Histórico

  • Recebido
    25 Jun 2011
  • Aceito
    23 Out 2012
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