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Extração e quantificação de alumínio trocável em Organossolos

Extraction and quantification of exchangeable aluminum in Fibric Histosol

Resumos

O objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes métodos de extração e quantificação de alumínio trocável em Organossolos. As amostras foram coletadas em três perfis de turfeira e, então, secas ao ar e passadas em peneira de malha de 2 mm. Foram feitas extrações com KCl 1 mol L-1 , Ca(OAc2) 1 mol L-1 e CuCl2 0,5 mol L-1 . Em seguida, os extratos obtidos por KCl e Ca(OAc2) foram analisados por titulação com NaOH 0,025 mol L-1 e por espectrômetro de absorção atômica com forno de grafite (GF-AAE). Os extratos obtidos por CuCl2 foram analisados por GF-AAE. Na quantificação por GF-AAE, os extratores KCl e Ca(OAc2) tiveram capacidade semelhante de extrair alumínio trocável, enquanto o CuCl2 foi capaz de extrair também o Al reativo. Os elevados teores de alumínio trocável observados na titulação após extração com KCl podem estar relacionados aos elevados teores do íon H+ presente nas amostras. O método indicado para determinação do teor de alumínio trocável em Organossolos é a extração com KCl ou com Ca(OAc2) e, para quantificação, a espectrofotometria de absorção atômica com forno de grafite.

espectrometria de absorção atômica; forno de grafite; química do solo; tufeiras


The objective of this work was to evaluate different methods for extraction and quantification of exchangeable aluminum in Fibric Histosol. Samples were collected in three peat bog profiles and then air dried and passed through 2 mm sieve. Extractions were made with KCl 1 mol L-1 , Ca(OAc2) 1 mol L-1 , and CuCl2 0.5 mol L-1 . Then, the extracts obtained by KCl and Ca(OAc2) were analyzed by titration with NaOH 0.025 mol L-1and by graphite furnace atomic absorption spectrometry (GF-AAS). The extracts obtained by CuCl2 were analyzed by GF-AAS. Quantifying with GF-AAS resulted in similar ability of KCl and Ca(OAc2) to extract exchangeable aluminum, whereas CuCl2 was also able to extract the reactive Al. The high levels of exchangeable aluminum observed in titration after extraction by KCl may be related to the high levels of the H+ ion present in the samples. The method recommended for determination of exchangeable aluminum content in Fibric Histosol is extraction with KCl or Ca(OAc2) and, for quantification, the graphite furnace atomic absorption spectrometry.

atomic absorption spectrometry; graphite furnace; soil chemistry; peat bogs


Introdução

Os Organossolos apresentam elevado teor de matéria orgânica, e a maior parte deles situa-se em ambiente saturado com água (Santos et al., 2013SANTOS, H.G. dos; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS, L.H.C. dos; OLIVEIRA, V.A. de; LUMBRERAS, J.F.; COELHO, M.R.; ALMEIDA, J.A. de; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA, J.B.de. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3.ed. rev. e ampl. Brasília: Embrapa, 2013. 353p.). No Brasil, esses solos ocupam aproximadamente 611.883 ha (Valladares et al., 2008VALLADARES, G.S.; GOMES, E.G.; MELLO, J.C.C.B.S. de; PEREIRA, M.G.; ANJOS, L.H.C. dos; EBELING, A.G.; BENITES, V. de M. Análise dos componentes principais e métodos multicritério ordinais no estudo de organossolos e solos afins. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.32, p.285-296, 2008. DOI: 10.1590/S0100-06832008000100027.
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) e, por funcionarem como reservatórios de água, são relevantes em termos ambientais (Silva et al., 2013SILVA, M.L. da; SILVA, A.C.; SILVA, B.P.C. ; BARRAL, U.M. ; SOARES, P.G.S. ; VIDAL-TORRADO, P. Surface mapping, organic matter and water stocks in peatlands of the Serra do Espinhaço Meridional - Brazil. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.37, p.1149-1157, 2013. DOI: 10.1590/S0100-06832013000500004.
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). Além disso, por participarem efetivamente do ciclo do C, os Organossolos funcionam como arquivo cronológico da evolução das paisagens, ao guardar marcas de mudanças climáticas pretéritas (Horák et al., 2011HORÁK, I.; VIDAL-TORRADO, P.; SILVA, A.C.; PESSENDA, L.C.R. Pedological and isotopic relations of a highland tropical peatland, Mountain Range of the Espinhaço Meridional (Brazil). Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.35, p.41-52, 2011. DOI: 10.1590/S0100-06832011000100004.
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).

O elevado conteúdo de matéria orgânica (MO) confere a esses solos características contrastantes em relação aos solos minerais, principalmente quanto ao alumínio, que comumente forma complexos estáveis com ampla variedade de grupos funcionais, como os grupos carboxílicos, fenólicos, enólicos, alcoólicos, entre outros (Silva & Mendonça, 2007SILVA, I.R.; MENDONÇA, E.S. Matéria orgânica do solo. In: NOVAIS, R.F.; ALVAREZ V., V.H.; BARROS, N.F. de; FONTES, R.L.F.; CANTARUTTI, R.B.; NEVES, J.C.L. (Ed.). Fertilidade do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p.275-357.; Kempter & Frenzel, 2008KEMPTER, H.; FRENZEL, B. Titanium in ombrotrophic Sphagnum mosses from various peat bogs of Germany and Belgium. Science of the Total Environment, v.392, p.324-334, 2008. DOI: 10.1016/j.scitotenv.2007.11.030.
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; Silva et al., 2012aSILVA, A.C.; SILVA, V.E.; SILVA, B.P.C.; CAMARGO, P.B. de; PEREIRA, R.C.; BARRAL, U.M.; BOTELHO, A.M.M.; TORRADO, P.V. Composição lignocelulósica e isótopica da vegetação e da matéria orgânica do solo de uma turfeira tropical. II - Substâncias húmicas e processos de humificação. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.37, p.134-144, 2012a. DOI: 10.1590/S0100-06832013000100014.
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). A forma como o Al se liga a esses compostos pode variar consideravelmente, o que resulta em maior ou menor estabilidade de ligação, que inclui ligações por pontes de hidrogênio, atração eletrostática, troca de ligantes e quelação (Ebeling et al., 2008EBELING, A.G.; ANJOS, L.H.C. dos; VIDAL-PEREZ, D.; PEREIRA, M.G.; VALLADARES, G.S. Relação entre acidez e outros atributos químicos em solos com teores elevados de matéria orgânica. Bragantia, v.67, p.429-439, 2008. DOI: 10.1590/S0006-87052008000200019.
https://doi.org/10.1590/S0006-8705200800...
; Kempter & Frenzel, 2008KEMPTER, H.; FRENZEL, B. Titanium in ombrotrophic Sphagnum mosses from various peat bogs of Germany and Belgium. Science of the Total Environment, v.392, p.324-334, 2008. DOI: 10.1016/j.scitotenv.2007.11.030.
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; Silva & Mendonça, 2007SILVA, I.R.; MENDONÇA, E.S. Matéria orgânica do solo. In: NOVAIS, R.F.; ALVAREZ V., V.H.; BARROS, N.F. de; FONTES, R.L.F.; CANTARUTTI, R.B.; NEVES, J.C.L. (Ed.). Fertilidade do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p.275-357.).

Na solução do solo, o Al encontra-se ligado, por coordenação, a seis moléculas de água, em configuração octaedral. À medida que se eleva o pH da solução do solo, as moléculas de água da esfera de hidratação perdem H+ (hidrólise do Al) até o ponto de equilíbrio que ocorre em pH 5, em que a atividade das formas de Al na solução [Al3+ , AlOH2+ , Al(OH)2 + ] se equivalem. Em valores de pH menores que 4,7, comuns em ambientes de turfeiras, a forma Al3+ (trocável) é a predominante (Silva & Mendonça, 2007SILVA, I.R.; MENDONÇA, E.S. Matéria orgânica do solo. In: NOVAIS, R.F.; ALVAREZ V., V.H.; BARROS, N.F. de; FONTES, R.L.F.; CANTARUTTI, R.B.; NEVES, J.C.L. (Ed.). Fertilidade do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p.275-357.; Motta & Melo, 2009MOTTA, N.A.C.V.; MELO, V.F. Química de solos ácidos. In: MELO, V. de F.; ALLEONI, L.R.F. (Ed.). Química e mineralogia do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2009. p.313-381.; Silva et al., 2012b).

Para a extração do Al trocável, adsorvido por forças eletrostáticas em partículas de argila e de MO do solo, tem-se utilizado solução de KCl 1 mol L-1 (Zambrosi et al., 2007ZAMBROSI, F.C.B.; ALLEONI, L.R.F.; CAIRES, E.F. Teores de alumínio trocável e não trocável após calagem e gessagem em Latossolo sob plantio direto. Bragantia, v.66, p.487-495, 2007. DOI: 10.1590/S0006-87052007000300016.
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; Ebeling et al., 2008EBELING, A.G.; ANJOS, L.H.C. dos; VIDAL-PEREZ, D.; PEREIRA, M.G.; VALLADARES, G.S. Relação entre acidez e outros atributos químicos em solos com teores elevados de matéria orgânica. Bragantia, v.67, p.429-439, 2008. DOI: 10.1590/S0006-87052008000200019.
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). O Al extraído por esta solução corresponde ao Al adsorvido pelos mecanismos de complexação de esfera externa, que possui interação menos intensa entre o Al e o radical orgânico (Vance et al., 1995VANCE, G.F.; STEVENSON, F.K.; SIKORA, F.J. Environmental chemistry of aluminum organic complexes. In: SPOSITO, G. (Ed.). The environmental chemistry of aluminum. Boca Raton: Lewis, 1995. p.169-220.). A solução de Ca(OAc2) 1 mol L-1 também extrai essa mesma forma de Al (Zambrosi et al., 2007ZAMBROSI, F.C.B.; ALLEONI, L.R.F.; CAIRES, E.F. Teores de alumínio trocável e não trocável após calagem e gessagem em Latossolo sob plantio direto. Bragantia, v.66, p.487-495, 2007. DOI: 10.1590/S0006-87052007000300016.
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).

O Al reativo, que se encontra ligado mais fortemente à MO, é extraído com a solução de CuCl2 0,5 mol L-1 . O íon Cu2+ forma complexos muito estáveis com a MO e é capaz de deslocar o Al ligado a radicais orgânicos, a baixos valores de pH da solução, em torno de 3,0. Esse pH favorece a despolimerização de grupos Al-OH e, consequentemente, o deslocamento do Al para a solução (Kaiser & Zech, 1996KAISER, K.; ZECH, W. Defects in estimation of aluminum in humus complexes of podzolic soils by pyrophosphate extraction. Soil Science, v.161, p.452-458, 1996. DOI: 10.1097/00010694-199607000-00005.
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; Coelho et al., 2010COELHO, M.R.; VIDAL-TORRADO, P.; PEREZ, X.L.O.; MARTINS, V.M.; VÁSQUEZ, F.M. Fracionamento do alumínio por técnicas de dissoluções seletivas em espodossolos da Planície Costeira do Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.34, p.1081-1092, 2010. DOI: 10.1590/S0100-06832010000400008.
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). A extração do Al reativo é fundamental para se estabelecer a eficiência dos métodos de determinação do Al trocável, uma vez que a solução de CuCl2 também extrai o Al ligado a grupos orgânicos funcionais (Silva & Mendonça, 2007SILVA, I.R.; MENDONÇA, E.S. Matéria orgânica do solo. In: NOVAIS, R.F.; ALVAREZ V., V.H.; BARROS, N.F. de; FONTES, R.L.F.; CANTARUTTI, R.B.; NEVES, J.C.L. (Ed.). Fertilidade do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p.275-357.).

Os vários métodos de determinação do Al trocável foram propostos principalmente para solos minerais. Entre eles, os métodos colorimétricos têm sido utilizados há anos em análises de rotina, pois têm baixo custo, fácil utilização e boa sensibilidade (Mattiello et al., 2006MATTIELLO, E.M.; PEREIRA, M.G.; ZONTA, E. Efeito da calagem nas propriedades químicas de um Organossolo e no conteúdo de nutrientes da fitomassa do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L. cv. Carioca). Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, v.26, p.51-56, 2006.; Ebeling et al., 2008EBELING, A.G.; ANJOS, L.H.C. dos; VIDAL-PEREZ, D.; PEREIRA, M.G.; VALLADARES, G.S. Relação entre acidez e outros atributos químicos em solos com teores elevados de matéria orgânica. Bragantia, v.67, p.429-439, 2008. DOI: 10.1590/S0006-87052008000200019.
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; Gallego et al., 2013GALLEGO, J.L.R.; ORTIZ, J.E.; SIERRA, C.; TORRES, T.; LLAMAS, J.F. Multivariate study of trace element distribution in the geological record of Roñanzas Peat Bog (Asturias, N. Spain). Paleoenvironmental evolution and human activities over the last 8000 cal yr BP. Science of the Total Environment, v.454, p.16-29, 2013. DOI: 10.1016/j.scitotenv.2013.02.083.
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). Entretanto, sua confiabilidade fica comprometida em solos com elevado conteúdo de MO, pois os teores de Al podem ser superestimados pelos elevados teores de H+ gerados na ionização de ácidos orgânicos (Ebeling et al., 2008EBELING, A.G.; ANJOS, L.H.C. dos; VIDAL-PEREZ, D.; PEREIRA, M.G.; VALLADARES, G.S. Relação entre acidez e outros atributos químicos em solos com teores elevados de matéria orgânica. Bragantia, v.67, p.429-439, 2008. DOI: 10.1590/S0006-87052008000200019.
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; Coelho et al., 2010COELHO, M.R.; VIDAL-TORRADO, P.; PEREZ, X.L.O.; MARTINS, V.M.; VÁSQUEZ, F.M. Fracionamento do alumínio por técnicas de dissoluções seletivas em espodossolos da Planície Costeira do Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.34, p.1081-1092, 2010. DOI: 10.1590/S0100-06832010000400008.
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). Assim, a quantificação dos teores de Al trocável por meio de titulação pode resultar em erros na interpretação de processos e da dinâmica desse elemento no solo.

Para evitar a interferência do H+ nas leituras de Al, pode-se utilizar a quantificação por espectroscopia de absorção atômica com forno de grafite (GF-AAE), em que as amostras passam por um processo de atomização e excitação de íons. Após excitação, os íons voltam ao seu estado fundamental e emitem um comprimento de onda específico que será captado pelo espectrômetro. Especificamente para o Al, os limites de detecção podem chegar a valores de 0,2 ng mL-1 (Skoog et al., 2002SKOOG, D.A.; HOLLER, F.J.; NIEMAN, T.A. Princípios de análise instrumental. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. 836p.). Portanto, essa ferramenta é muito seletiva, além de rápida e capaz de determinar elementos em quantidades ínfimas (Skoog et al., 2002SKOOG, D.A.; HOLLER, F.J.; NIEMAN, T.A. Princípios de análise instrumental. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. 836p.).

O objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes métodos de extração e quantificação de alumínio trocável em Organossolos.

Material e Métodos

O estudo foi realizado em tufeira da área de proteção ambiental (APA) Pau-de-Fruta, situada no Município de Diamantina, MG. O embasamento rochoso é predominantemente quartzítico, pertencente à Formação Sopa Brumadinho (Abreu, 1995ABREU, P.A.A. O supergrupo espinhaço da Serra do Espinhaço Meridional (Minas Gerais): o rifte, a bacia e o orógeno. Geonomos, v.3, p.1-18, 1995.); o relevo é de plano a suave ondulado, com frequente afloramento de rochas no entorno. A amostragem foi realizada em julho de 2007, em três pontos, P1, P2 e P3, localizados a 18º16'19"S, 43º40'58"W. As amostras foram coletadas a cada 27 cm com auxílio de vibrotestemunhador (Martin et al., 1995MARTIN, L.; FLEXOR, J.M.; SUGUIO, K. Vibrotestemunhador leve: construção, utilização e possibilidades. Revista do Instituto Geológico, v.16, p.59-66, 1995. DOI: 10.5935/0100-929X.19950004.
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), até a profundidade de 215 cm. Foi feita a caracterização dos perfis quanto ao teor de fibras esfregadas, ao material mineral, à cor (método de pirofosfato de sódio), ao estágio de decomposição da matéria orgânica (escala de von Post), aos teores de C e de N, à relação C/N e à densidade do solo (Tabela 1). Os três perfis foram descritos e classificados por Campos et al. (2012)CAMPOS, J.R. da R.; SILVA, A.C.; VIDAL-TORRADO, P.V. Mapping, organic matter mass and water volume of a peatland in serra do espinhaço meridional. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.36, p.723-732, 2012. DOI: 10.1590/S0100-06832012000300004.
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como Organossolo Háplico sáprico típico (Santos et al., 2013SANTOS, H.G. dos; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS, L.H.C. dos; OLIVEIRA, V.A. de; LUMBRERAS, J.F.; COELHO, M.R.; ALMEIDA, J.A. de; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA, J.B.de. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3.ed. rev. e ampl. Brasília: Embrapa, 2013. 353p.).

Tabela 1.
Atributos físicos e químicos de três perfis de Organossolos da turfeira da área de proteção ambiental Pau-de-Fruta, em Diamantina, MG(1).

Em cada perfil, as amostras coletadas foram secas ao ar e passadas em peneira de malha de 2 mm (TFSA). As extrações foram feitas com KCl 1 mol L-1 , CuCl2 0,5 mol L-1 e Ca(OAc2) 0,05 mol L-1, em 5 g de TFSA (Zambrosi et al., 2007ZAMBROSI, F.C.B.; ALLEONI, L.R.F.; CAIRES, E.F. Teores de alumínio trocável e não trocável após calagem e gessagem em Latossolo sob plantio direto. Bragantia, v.66, p.487-495, 2007. DOI: 10.1590/S0006-87052007000300016.
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). Em seguida, o Al extraído com KCl e Ca(OAc2) foi quantificado por titulação com NaOH 0,025 mol L-1 e por GF-AAE, modelo Zeiss AAS5 (Zeiss, Oberkochen, Alemanha). Para essa última quantificação, as amostras foram submetidas a temperaturas superiores a 350ºC (Motta & Melo, 2009MOTTA, N.A.C.V.; MELO, V.F. Química de solos ácidos. In: MELO, V. de F.; ALLEONI, L.R.F. (Ed.). Química e mineralogia do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2009. p.313-381.).

Os teores de H+ foram obtidos pela diferença entre o teor de H++Al3+ , pela titulação com acetato de cálcio, e os teores de Al3+ foram obtidos por GF-AAE (Motta & Melo, 2009MOTTA, N.A.C.V.; MELO, V.F. Química de solos ácidos. In: MELO, V. de F.; ALLEONI, L.R.F. (Ed.). Química e mineralogia do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2009. p.313-381.). Os extratos obtidos por CuCl2 0,5 mol L-1foram analisados com GF-AAE (Figueiredo & Almeida, 1991FIGUEIREDO, O.A.R.; ALMEIDA, J.A. Quantificação das formas trocáveis e não trocáveis de alumínio em solos ácidos do estado de Santa Catarina. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.15, p.151-156, 1991.). Para as leituras em GF-AAE, foram utilizadas soluções padrão, com concentrações conhecidas, tendo-se gerado uma curva de calibração para se estimar os teores de Al nas amostras (Skoog et al., 2002SKOOG, D.A.; HOLLER, F.J.; NIEMAN, T.A. Princípios de análise instrumental. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. 836p.). As análises laboratoriais foram feitas em triplicatas.

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, tendo-se utilizado, como procedimento estatístico, a classificação cruzada. Os perfis e as profundidades foram considerados como fonte de variação. Portanto, foram analisadas as variações em duas dimensões: uma vertical, entre as camadas de solo, e outra horizontal, entre os perfis amostrados. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Também foram obtidos os coeficientes de correlação de Person (r) para as correlações entre os teores de alumínio e as profundidades avaliadas. Os níveis de significância de r foram verificados pelo teste t, para observações pareadas, a 1 e 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

A distribuição espacial do Al extraído por KCl 1 mol L-1 variou de acordo com o método de quantificação (Tabela 2). Os três perfis não apresentaram diferenças quanto aos teores de Al quantificados por GF-AAE. No entanto, quando a quantificação foi feita por titulação, os valores foram mais elevados no perfil 1 (P1), sem que tenha, no entanto, diferido do perfil 3 (P3). Os resultados obtidos por GF-AAE mostraram que os teores de Al foram maiores nas camadas mais profundas; porém, os obtidos por titulação, não variaram significativamente com a profundidade. Como a MO das camadas mais profundas dos perfis está em estágio de decomposição mais avançado (sáprico) (Tabela 1), e o Al tem pouca mobilidade no solo (Breemen & Buurman, 2002BREEMEN, N.V.; BUURMAN, P. Soil formation. Dordrecht: Kluwer, 2002. 376p. DOI: 10.1007/0-306-48163-4.
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), pode-se inferir que o aumento de seu teor em profundidade ocorreu pela proximidade com o substrato basal (Zaccone et al., 2011ZACCONE, C.; SANEI, H.; OUTRIDGE, P.M.; MIANO, T.M. Studying the humification degree and evolution of peat down a Holocene bog profile (Inuvik, NW Canada): a petrological and chemical perspective. Organic Geochemistry, v.42, p.399-408, 2011. DOI: 10.1016/j.orggeochem.2011.02.004.
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; Gallego et al., 2013GALLEGO, J.L.R.; ORTIZ, J.E.; SIERRA, C.; TORRES, T.; LLAMAS, J.F. Multivariate study of trace element distribution in the geological record of Roñanzas Peat Bog (Asturias, N. Spain). Paleoenvironmental evolution and human activities over the last 8000 cal yr BP. Science of the Total Environment, v.454, p.16-29, 2013. DOI: 10.1016/j.scitotenv.2013.02.083.
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).

Tabela 2.
Teores de Al (cmolc dm-3) extraídos por KCl, Ca(OAc2) e CuCl2 e quantificados por espectrofotometria de absorção atômica (Al3+) com forno de grafite (GF-AAE), e por titulação (H+Al), em três perfis de Organossolos da turfeira da área de proteção ambiental Pau-de-Fruta, em Diamantina, MG(1).

As extrações de Al feitas com Ca(OAc2) e GF-AAE não diferiram entre os perfis. Os teores de H+ +Al3+ também não variaram entre os perfis e nem entre as médias das diferentes profundidades, comportamento verificado também para H+ . Nesse caso, considera-se que o aumento da concentração de Al seria compensado pela diminuição do pH em profundidade e pelo consequente aumento na atividade de H+ (Ebeling et al., 2008EBELING, A.G.; ANJOS, L.H.C. dos; VIDAL-PEREZ, D.; PEREIRA, M.G.; VALLADARES, G.S. Relação entre acidez e outros atributos químicos em solos com teores elevados de matéria orgânica. Bragantia, v.67, p.429-439, 2008. DOI: 10.1590/S0006-87052008000200019.
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; Campos et al., 2010CAMPOS, J.R. da R.; SILVA, A.C.; VASCONCELLOS, L.L.; SILVA, D.V.; ROMÃO, R.V.; SILVA, E. de B.; GRAZZIOTTI, P.H. Pedochronology and development of peat bog in the environmental protection area Pau-de-Fruta - Diamantina, Brazil. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.34, p.1965-1975, 2010. DOI: 10.1590/S0100-06832010000600021.
https://doi.org/10.1590/S0100-0683201000...
).

Os teores totais de Al extraídos por CuCl2 foram mais elevados em P3 e nas camadas mais profundas, independentemente do método de quantificação utilizado. A variação vertical no teor de Al pode estar relacionada ao processo de paludização, responsável pela gênese da turfeira. Nesse processo, o acúmulo em sucessão de restos vegetais que promovem o crescimento vertical do perfil orgânico do solo reduz a influência do embasamento rochoso sobre as camadas superficiais (Zaccone et al., 2011ZACCONE, C.; SANEI, H.; OUTRIDGE, P.M.; MIANO, T.M. Studying the humification degree and evolution of peat down a Holocene bog profile (Inuvik, NW Canada): a petrological and chemical perspective. Organic Geochemistry, v.42, p.399-408, 2011. DOI: 10.1016/j.orggeochem.2011.02.004.
https://doi.org/10.1016/j.orggeochem.201...
; Gallego et al., 2013GALLEGO, J.L.R.; ORTIZ, J.E.; SIERRA, C.; TORRES, T.; LLAMAS, J.F. Multivariate study of trace element distribution in the geological record of Roñanzas Peat Bog (Asturias, N. Spain). Paleoenvironmental evolution and human activities over the last 8000 cal yr BP. Science of the Total Environment, v.454, p.16-29, 2013. DOI: 10.1016/j.scitotenv.2013.02.083.
https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2013...
). Contudo, a capacidade da MO em formar complexos estáveis com o Al não pode ser negligenciada, principalmente nas camadas mais profundas, onde ela se encontra em estágio mais avançado de decomposição (Cunha et al., 2005CUNHA, T.J.F.; CANELLAS, L.P.; SANTOS, G. de A.; RIBEIRO, L.P. Fracionamento da matéria orgânica humificada em solos brasileiros. In: CANELLAS, L.P.; SANTOS, G. de A. (Ed.). Humosfera: tratado preliminar sobre a química das substâncias húmicas. Campos dos Goytacazes: Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, 2005. p.54-80., 2009CUNHA, T.J.F.; CANELLAS, L.P.; MADARI, B. ; RIBEIRO, L.P.; BENITES, V.M. ; SANTOS, G.A. Soil organic matter and fertility of anthropogenic dark earths (Terra Preta de Índio) in the Brazilian Amazon basin. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.33, p.85-93, 2009. DOI: 10.1590/S0100-06832009000100009.
https://doi.org/10.1590/S0100-0683200900...
).

Os teores de Al3+ extraídos por KCl e quantificados por titulação foram mais elevados do que os quantificados por GF-AAE (Figura 1). O baixo coeficiente de correlação entre os teores de Al3+quantificados por esses métodos sugere que parte do H+ liberado da MO do solo pela ação do extrator KCl estaria superestimando os teores de Al3+determinados por titulação (Figura 2). Esses teores são obtidos de forma indireta, pela titulação da acidez do solo com NaOH 0,025 mol L-1 (Claessen, 1997CLAESSEN, M.E.C. (Org.). Manual de métodos de análise de solo. 2.ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Embrapa-CNPS, 1997. 212p.; García-Rodeja et al., 2004GARCÍA-RODEJA, E.; NÓVOA, J.C.; PONTEVEDRA, X.; MARTÍNEZ-CORTIZAS, A.; BUURMAN, P. Aluminium fractionation of European volcanic soils by selective dissolution techniques. Catena, v.56, p.155-183, 2004. DOI: 10.1016/j.catena.2003.10.009.
https://doi.org/10.1016/j.catena.2003.10...
; Silva et al., 2008SILVA, E. de B.; SILVA, A.C.; GRAZZIOTTI, P.H.; FARNEZI, M.M. de M.; FERREIRA, C.A.; COSTA, H.A.O.; HORAK, I. Comparação de métodos para estimar a acidez potencial mediante determinação do pH SMP em Organossolos da Serra do Espinhaço Meridional. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.32, p.2007-2013, 2008. DOI: 10.1590/S0100-06832008000500022.
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). Nesse caso, parte dos íons H+liberados da MO estaria sendo quantificada em conjunto com os íons H+ gerados pela hidrólise do íon Al3+ , o que não acontece quando a quantificação é feita por GF-AAE, pois o sinal captado pelo espectrômetro é específico de cada átomo (Skoog et al., 2002SKOOG, D.A.; HOLLER, F.J.; NIEMAN, T.A. Princípios de análise instrumental. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. 836p.).

Figura 1.
Teores de Al3+: M1, extraído por Ca(OAc2) 0,05 mol L-1 e determinado por espectrofotômetro de absorção atômica com forno de grafite (GF-AAE); M2, extraído por KCl 1 mol L-1 e determinado por GF-AAE; M3, extraído por KCl 1 mol L-1 e determinado por titulação; e M4, extraído por CuCl2 0,5 mol L-1 e determinado por GF-AAE. Médias seguidas por letras iguais não diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Figura 2.
Correlação linear simples (r): A, entre os teores de Al extraídos com KCl e quantificados por espectrofotômetro de absorção atômica com forno de grafite (GF-AAE) (M2), e os extraídos com KCl e quantificados por titulação com NaOH (M3); e B, entre os teores de Al extraídos por KCl e quantificados por GF-AAE (M2), e os extraídos por Ca(OAc2) e quantificados por GF-AAE (M1). ** e *Significativo pelo teste t, a 1 e 5% de probabilidade, respectivamente.

Quando quantificados por GF-AAE, os teores de Al3+ extraídos por Ca(OAc2) e por KCl não diferiram significativamente entre si (Figura 1) e correlacionaram-se positivamente (Figura 2). Entretanto, a participação dos íons H+ em solos com alto teor de matéria orgânica não deve ser negligenciada, uma vez que, dada a sua elevada concentração no extrato analisado (Tabela 2), eles podem fazer com que os resultados obtidos entre os métodos de quantificação sejam diferentes.

Ao se considerar somente o Al3+ como fonte de acidez do solo, e analisar a estequiometria de sua hidrólise, espera-se obter, para uma concentração de 1 cmolc dm-3 de Al3+ , uma concentração de aproximadamente 3 cmolc dm-3 de H+ (relação 3:1) (Silva & Mendonça, 2007SILVA, I.R.; MENDONÇA, E.S. Matéria orgânica do solo. In: NOVAIS, R.F.; ALVAREZ V., V.H.; BARROS, N.F. de; FONTES, R.L.F.; CANTARUTTI, R.B.; NEVES, J.C.L. (Ed.). Fertilidade do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p.275-357.; Silva et al., 2008SILVA, E. de B.; SILVA, A.C.; GRAZZIOTTI, P.H.; FARNEZI, M.M. de M.; FERREIRA, C.A.; COSTA, H.A.O.; HORAK, I. Comparação de métodos para estimar a acidez potencial mediante determinação do pH SMP em Organossolos da Serra do Espinhaço Meridional. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.32, p.2007-2013, 2008. DOI: 10.1590/S0100-06832008000500022.
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). Constatou-se que, para uma concentração média de 1,43 cmolc dm-3 de Al3+ extraído por KCl e determinado por GF-AAE, foi produzida uma concentração média de 31,09 cmolcdm-3 de H+ , ou seja, uma relação 21:1, quando o esperado seria uma concentração de aproximadamente 4,3 cmolc dm-3 de H+ . Como os teores de Al3+ nos perfis estudados não foram altos (Tabela 2), pode-se inferir que a acidez nos Organossolos foi resultante, principalmente, do H+ proveniente dos compostos orgânicos e da hidrólise de outros compostos (Ebeling et al., 2008EBELING, A.G.; ANJOS, L.H.C. dos; VIDAL-PEREZ, D.; PEREIRA, M.G.; VALLADARES, G.S. Relação entre acidez e outros atributos químicos em solos com teores elevados de matéria orgânica. Bragantia, v.67, p.429-439, 2008. DOI: 10.1590/S0006-87052008000200019.
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).

Os maiores teores de Al3+ foram obtidos pela extração com CuCl20,5 mol L-1 e determinados com GF-AAE (Tabela 2 e Figura 1). O CuCl2, além de extrair o Al3+ , proporciona a liberação tanto de formas de Al potencialmente ativas, originadas da complexação do cátion com a MO, como de polímeros de Al(OH) e Al de baixa cristalinidade (Kaiser & Zech, 1996KAISER, K.; ZECH, W. Defects in estimation of aluminum in humus complexes of podzolic soils by pyrophosphate extraction. Soil Science, v.161, p.452-458, 1996. DOI: 10.1097/00010694-199607000-00005.
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). Em decorrência da sua elevada capacidade extratora, alguns autores, como Arai (1975)ARAI, S. Extraction of active aluminum from acid soils in Japan with different reagents. Geoderma, v.14, p.63-74, 1975. DOI: 10.1016/0016-7061(75)90013-0.
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, consideram o Al extraído por CuCl2 como o Al total do solo.

Em duas amostras (81-108 e 108-135 cm, P1), os teores de Al3+ extraídos com CuCl2 e quantificados por GF-AAE foram inferiores aos extraídos com KCl e quantificados por titulação (Tabela 2). Esse resultado evidencia a imprecisão na quantificação do teor de Al3+ por titulação, com uso do KCl como extrator. Da mesma forma, a maior homogeneidade dos valores de Al obtidos com a utilização do extrator CuCl2 mostra que este é o mais indicado para a extração do Al reativo em Organossolos, em razão do elevado poder de complexação dos íons Cu2+ e da acidez gerada pela solução de CuCl2 (pH 3,3) (Arai, 1975ARAI, S. Extraction of active aluminum from acid soils in Japan with different reagents. Geoderma, v.14, p.63-74, 1975. DOI: 10.1016/0016-7061(75)90013-0.
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; Kaiser & Zech, 1996KAISER, K.; ZECH, W. Defects in estimation of aluminum in humus complexes of podzolic soils by pyrophosphate extraction. Soil Science, v.161, p.452-458, 1996. DOI: 10.1097/00010694-199607000-00005.
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; Coelho et al., 2010COELHO, M.R.; VIDAL-TORRADO, P.; PEREZ, X.L.O.; MARTINS, V.M.; VÁSQUEZ, F.M. Fracionamento do alumínio por técnicas de dissoluções seletivas em espodossolos da Planície Costeira do Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.34, p.1081-1092, 2010. DOI: 10.1590/S0100-06832010000400008.
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).

Nenhum dos métodos apresentou correlação significativa com os teores de C. No entanto, todos os métodos, exceto o da titulação, apresentaram correlações significativas e positivas entre os teores de Al e a relação C/N. Os coeficientes de correlação entre a relação C/N e os teores de Al extraídos com KCl, CuCl2 e Ca(OAc2) e quantificados por GF-AAE foram de 0,7**, 0,64* e 0,71**, respectivamente. Para os teores de Al extraídos com KCl e quantificados por titulação, o coeficiente de correlação foi de 0,003. A relação C/N, no presente trabalho, foi utilizada como indicadora de estágio mais avançado de decomposição da MO e de maior diversidade de grupos funcionais (Nelson & Sommers, 1996NELSON, D.W.; SOMMERS, L.E. Total carbon, organic carbon, and organic matter. In: SPARKS, D.L. Methods of soil analysis. Part 3. Chemical methods. Madison: Soil Science Society of America: American Society of Agronomy, 1996. p.961-1009.; Silva et al., 2008SILVA, E. de B.; SILVA, A.C.; GRAZZIOTTI, P.H.; FARNEZI, M.M. de M.; FERREIRA, C.A.; COSTA, H.A.O.; HORAK, I. Comparação de métodos para estimar a acidez potencial mediante determinação do pH SMP em Organossolos da Serra do Espinhaço Meridional. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.32, p.2007-2013, 2008. DOI: 10.1590/S0100-06832008000500022.
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). Os valores mais elevados da relação C/N ocorrem nas camadas mais profundas, onde a matéria orgânica apresenta estágio mais avançado de decomposição (Tabela 1), e sob maior influência do substrato basal inorgânico, o que facilita a complexação de Al proveniente da dissolução de minerais das rochas do embasamento.

Conclusão

O método indicado para determinação do teor de alumínio trocável em Organossolos é a extração com KCl ou com Ca(OAc2) e quantificação com espectrofotometria de absorção atômica com forno de grafite.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar 2014

Histórico

  • Recebido
    01 Nov 2013
  • Aceito
    10 Fev 2014
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