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Aspectos fisiológicos e bioquímicos da germinação de sementes de alface em diferentes temperaturas

Physiological and biochemical aspects of lettuce seed germination at different temperatures

Resumos

O objetivo deste trabalho foi avaliar os padrões eletroforéticos das proteínas resistentes ao calor e a atividade da enzima endo-β-mananase durante a germinação de sementes de alface, em alta temperatura. Sementes de oito cultivares de alface foram submetidas aos testes de germinação, primeira contagem e emergência em duas temperaturas, 20 e 35ºC. Foram calculados o índice de velocidade de germinação (IVG) e o índice de velocidade de emergência (IVE). Avaliou-se, também, a expressão das proteínas resistentes ao calor e da enzima endo-β-mananase, para todos os tratamentos. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x8, com duas temperaturas e oito cultivares. A maior germinação é observada a 35ºC na cultivar Everglades, considerada termotolerante. Os padrões de proteínas resistentes ao calor em sementes de alface apresentam bandas específicas na cultivar Everglades, a 35ºC. A atividade da enzima endo-β-mananase é maior na cultivar Everglades, nessa temperatura. Essa cultivar tem potencial para utilização em programas de melhoramento de alface com vistas à tolerância a altas temperaturas durante a germinação.

Lactuca sativa ; endo-β-mananase; proteínas tolerantes ao calor; termoinibição


The objective of this work was to evaluate the electrophoretic patterns of heat-tolerant proteins and the activity of the endo-β-mannanase enzyme during lettuce seed germination, at high temperature. Seeds of eight lettuce cultivars were subjected to germination, first count, and emergence tests at two temperatures, 20 and 35ºC. The index of germination speed (IVG) and the emergence rate index (IVE) were calculated. The expression of heat-tolerant proteins and of the endo-β-mannanase enzyme was also evaluated for all treatments. The experimental design was completely randomized, in a 2x8 factorial arrangement, with two temperatures and eight cultivars. The highest germination is observed at 35ºC in the Everglades cultivar, considered thermotolerant. The patterns of heat-tolerant proteins in lettuce seeds present specific bands in the Everglades cultivar, at 35ºC. The activity of the endo-β-mannanase enzyme is higher in the Everglades cultivar, at this temperature. This cultivar has potential for use in lettuce breeding programs aiming for tolerance to high temperatures during germination.

Lactuca sativa ; endo-β-mannanase; heat-tolerant proteins; thermoinhibition


Introdução

As sementes de alface (Lactuca sativa L.) são sensíveis às variações da umidade e da temperatura do meio em que germinam (Bertagnolli et al., 2003), o que ocasiona problemas na germinação, má qualidade e atraso na produção de mudas (Bufalo et al., 2012), e, consequentemente, queda na produtividade, com prejuízos diretos para o produtor (Nascimento et al., 2012). Diante disso, a identificação de genótipos capazes de germinar em temperaturas mais elevadas torna-se de grande importância como subsídio para o desenvolvimento de programas de melhoramento de alface, para regiões tropicais e subtropicais, com vistas à obtenção de cultivares mais tolerantes e de melhor qualidade quanto à germinação.

De acordo com Finch-Savage & Leubner-Metzger (2006), a dormência em sementes é controlada pelo genótipo associado a: fatores ambientais, como temperatura; fatores físicos, como espessura do tegumento; e regulação de hormônios, como ácido abscísico e giberelina. Quando as sementes de alface são expostas a temperaturas elevadas durante a embebição, pode ocorrer inibição temporária (termoinibição) ou completa da germinação (termodormência), em razão do enrijecimento do endosperma que acaba restringindo a protrusão da radícula (Kozarewa et al., 2006; Nascimento et al., 2012). Silva et al. (2004) afirmam que, quando as sementes têm sua germinação limitada pelo endosperma, há necessidade do enfraquecimento desse tecido para que haja a protrusão da radícula, sendo esse papel desempenhado por enzimas como a endo-β-mananase.

A parede celular do endosperma das sementes de alface é constituída, principalmente, de galactomananos, e a enzima endo-β-mananase faz parte do mecanismo de degradação (Nascimento et al., 2004). Assim, pode-se inferir que a maior atividade dessa enzima, em cultivares germinadas em altas temperaturas, está relacionada à termotolerância da semente.

A análise da expressão de enzimas e proteínas pode proporcionar a discriminação das cultivares, o que possibilita identificar variações relacionadas a fatores abióticos, como temperaturas elevadas de germinação. Dessa forma, é possível identificar marcadores que possam se tornar ferramenta para seleção de materiais tolerantes a altas temperaturas de germinação (Roveri José et al., 2004).

Os marcadores mais estudados na adaptação dos organismos à condição de estresse são as proteínas tolerantes ao calor, a exemplo das "heat shock proteins" (HSP) (Andrade et al., 2013). Essa é uma ferramenta essencial para a identificação de cultivares que tolerem temperaturas elevadas, uma vez que essas proteínas conservam sua natureza, além de manter suas propriedades físicas e abundância em condições de estresse (Roveri José et al., 2004). Segundo Roveri José et al. (2005), essas proteínas têm sido relacionadas à preservação e ao reparo das estruturas macromoleculares durante a desidratação ou a reidratação, respectivamente.

O objetivo deste trabalho foi avaliar os padrões eletroforéticos das proteínas resistentes ao calor e a atividade da enzima endo-β-mananase durante a germinação de sementes de alface, em alta temperatura.

Materials and Methods

A pesquisa foi realizada em área experimental no Município de Ijaci, MG, e no Laboratório Central de Sementes do Departamento de Agricultura da Universidade Federal de Lavras, MG.

O processo de produção de sementes de alface foi conduzido entre outubro de 2011 e fevereiro de 2012, em área da Fazenda Palmital, Ijaci, MG (21º9'24"S, 44º55'34"W), cujo solo é classificado como Latossolo Vermelho de textura argilosa.

Foram utilizadas mudas de diferentes cultivares de alface: Everglades, Baba de Verão, Elisa e Luiza (lisa), Grand Rapids e Hortência (crespa), e Salinas 88 e Rubete (americana), semeadas em bandejas de isopor de 128 células contendo substrato comercial Multiplant Hortaliças (Terra do Paraíso Ltda., Holambra, SP). Após 21 dias, as mudas foram transplantadas para canteiros em área sob cultivo protegido.

Durante o processo de produção de sementes, as temperaturas média máxima e mínima do ar, medidas a 1,5 m do solo, foram, respectivamente, de 45,6 e 31,2ºC. Tais condições ambientais influenciam a dormência das sementes de alface, tornando necessário que as sementes sejam produzidas com monitoramento da temperatura. Antes da realização dos testes, as sementes das diferentes cultivares foram submetidas à determinação do teor de água em percentagem, conforme descrito em Regras para análise de sementes (2009). Emseguida, avaliou-se sua qualidade fisiológica e bioquímica, nas temperaturas de 20 e 35ºC. Para o teste de germinação, a semeadura foi realizada sobre duas folhas de papel mata-borrão, umedecidas com água, na proporção de 2,5 vezes o peso do substrato seco, em caixas de plástico do tipo gerbox. As caixas com as sementes foram mantidas em câmaras do tipo "biochemical oxygen demand" (BOD), em regime alternado de luz e temperatura, 12 horas no escuro e 12 horas na presença de luz, a 20 e 35ºC. Para avaliação do vigor, no quarto dia realizou-se a primeira contagem de germinação. A primeira contagem foi realizada em conjunto com o teste de germinação. No sétimo dia, observou-se germinação total e procedeu-se à avaliação das plântulas, segundo Regras para análise de sementes (2009). Foram analisadas quatro subamostras de 50 sementes de cada cultivar. Os resultados foram expressos em percentagem de plântulas normais no teste de germinação. O teste de tetrazólio foi realizado nas sementes remanescentes (sementes que não germinaram) do teste de germinação, sendo retirados os tegumentos e os embriões submetidos ao teste de tetrazólio. A coloração foi realizada em solução de 2,3,5-trifenil cloreto de tetrazólio em concentração de 1%, durante 3 horas no escuro, a 30ºC. Após este período e verificação da coloração, os embriões foram lavados em água corrente e mantidos submersos em água até sua avaliação, quando foram analisados individualmente para determinar sua viabilidade. A interpretação foi realizada de acordo com Regras para análise de sementes (2009), e os resultados, expressos em percentagem de sementes viáveis.

Para a avaliação da emergência, a semeadura foi realizada em caixas de plástico do tipo gerbox, contendo substrato comercial Multiplant Hortaliças (Terra do Paraíso Ltda., Holambra, SP), com capacidade de retenção de água ajustada para 60%. As caixas gerbox foram mantidas em BODs, nas temperaturas de 20 e 35ºC, com fotoperíodo de 12 horas no escuro e 12 horas na presença de luz. Colocou-se, no interior de cada BOD, um recipiente contendo água para manter a umidade. Foram utilizadas quatro subamostras de 50 sementes de cada cultivar. Foram realizadas avaliações diárias a partir do início da emergência, tendo-se computado o número de plântulas emergidas até a estabilização do estande (Queiroz et al., 2011).

As avaliações da velocidade de germinação e de emergência foram realizadas simultaneamente aos testes de germinação e de emergência, tendose computado, diariamente e no mesmo horário, o número de plântulas que apresentavam dois folíolos completamente abertos. Os cálculos dos índices foram realizados com fórmula proposta por Maguire (1962). Todos os testes, com exceção do teor de água, foram aplicados após as sementes terem sido submetidas aos tratamentos de 20 e 35ºC.

Para a extração das proteínas resistentes ao calor e da enzima endo-β-mananase, três amostras de sementes de alface de cada tratamento foram colocadas para embeber em caixas de plástico sobre papel mata-borrão umedecido com água destilada, em quantidade equivalente a 2,5 vezes o peso do substrato seco, conforme Regras para análise de sementes (2009), por um período de 5 horas, a 20 e 35ºC, em câmara do tipo BOD. Após a embebição, 150 sementes de cada tratamento foram maceradas em cadinho com nitrogênio líquido e polivinilpirrolidona (PVP). Foram adicionados 100 mg do pó macerado a 1.000 µL de tampão de extração (50 mmol L-1 tris-HCl, pH 7,5; 500 mmol L-1 de NaCl; 5 mmol L-1 de MgCl2; 1 mmol L-1 PMSF); em seguida, microtubos de 2 mL foram agitados em vortex e centrifugados a 12.000 g por 30 min, a 4ºC. O sobrenadante foi, então, incubado em banho-maria a 85ºC por 15 min e novamente centrifugado por 30 min. O sobrenadante foi vertido em microtubos, e o pellet foi descartado. Antes da aplicação, os microtubos contendo 70 mL do extrato de proteína + 40 mL do tampão da amostra (5 mL de glicerol, 2,5 mL de solução tampão do gel concentrador e 2,5 mg de azul de bromofenol, para completar o volume para 25 mL de água destilada) foram levados ao banho-maria, em ebulição, por 5 min (Alfenas, 2006). Em seguida, foram aplicados 50 µL de cada amostra em gel de poliacrilamida SDS-Page a 12,5% (gel separador) e 6% (gel concentrador), e a revelação, para detecção das proteínas resistentes ao calor, foi conduzida como em Alfenas (2006).

Para a enzima endo-β-mananase, em cada microtubo com 100 mg de pó de cada amostra, foram adicionados 300 µL de tampão de extração - 0,1 mol L-1 Hepes por 0,5 mol L-1 de NaCl e ácido ascórbico (5 mg de ácido ascórbico por mL de tampão), pH 8,0. Em seguida, os microtubos foram centrifugados por 30 min a 12.000 g, e 2 µL do sobrenadante foram aplicados em gel contendo 6 mL de "locust bean gum" (LBG), 0,24 g de agarose e 24 mL de tampão pH 5,0 (1 mol L-1 de ácido cítrico por 0,4 mol L-1 de Na2HPO4 2H2O). As alíquotas foram aplicadas em furos de 2 mm feitos no gel de poliacrilamida com auxílio de furador. O gel foi incubado por 21 horas em geladeira e revelado como descrito em Silva et al. (2004). A atividade da enzima endo-β-mananase foi calculada segundo Downie et al. (1994). A avaliação dos padrões proteicos foi realizada de acordo com a intensidade das bandas, tendose utilizado transiluminador de luz branca, modelo TFP-C/WL (Biosystems, Curitiba, PR).

Nos testes para a avaliação da qualidade fisiológica das sementes de alface, utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x8, cujos fatores foram duas temperaturas (20 e 35ºC) e oito cultivares de alface, com quatro repetições. Para a atividade da enzima endo-β-mananase também foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado, em triplicata, sendo os tratamentos compostos por oito cultivares de alface, em duas temperaturas de embebição (20 e 35ºC). Foi realizada análise de variância para todos os testes, com uso do programa estatístico Sisvar (Ferreira, 2011). Para a comparação entre as médias, empregou-se o teste de Scott & Knott, a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Os valores dos teores de água das sementes das diferentes cultivares, após a secagem, variaram de 5,2 a 6,3%, percentuais também relatados por Barbosa et al. (2011), em diferentes lotes de sementes de alface. Houve diferenças significativas entre as cultivares e entre as temperaturas, assim como para a interação dos fatores avaliados (Tabela 1).

Tabela 1
Testes de primeira contagem de germinação (PCG), germinação e emergência, e índices de velocidade de germinação (IVG) e de velocidade de emergência (IVE), em oito cultivares de alface (Lactuca sativa), em função da temperatura de 20 e de 35ºC(1) (1) Médias seguidas por letras iguais, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, não diferem pelo teste de Scott & Knott, a 5% de probabilidade. .

Em todas as cultivares, a emergência e a percentagem e velocidade de germinação a 35ºC apresentaram menores valores, o que indica dormência da semente nessa temperatura. Resultados semelhantes também foram obtidos por Argyris et al. (2011) e Deng & Song (2012), ao analisar a dormência, em sementes de alface, causada por temperaturas elevadas.

Nascimento et al. (2012), ao avaliar a germinação de sementes de alface em altas temperaturas, também relataram diferenças entre cultivares. Houve redução na germinação e no vigor das sementes quando a temperatura de germinação foi elevada de 20 para 35ºC. A alta temperatura afetou a qualidade das sementes, porém em menor intensidade na cultivar Everglades. Percentagens reduzidas de germinação e emergência de plântulas em temperaturas elevadas podem estar associadas à dormência (termodormência), pois, durante a avaliação do teste de germinação, observouse a presença de sementes embebidas sem protrusão radicular. Por meio do teste de tetrazólio, verificou-se que a maioria das sementes embebidas estavam viáveis (Tabela 2). De acordo com Dias & Alves (2008), o teste de tetrazólio e a germinação são complementares, e, em conjunto, permitem avaliar a qualidade fisiológica das sementes por meio de sua viabilidade. Na temperatura de 35ºC, constatou-se que as sementes estavam termodormentes.

Tabela 2
Número de sementes remanescentes (N) e viabilidade (%) de sementes de oito cultivares de alface (Lactuca sativa) pelo teste de tetrazólio, em função da temperatura de germinação de 20 e de 35ºC.

A 20ºC, as cultivares Elisa e Salinas 88 apresentaram as menores percentagens de germinação, além de baixo vigor, obtidas pelo teste de emergência e pelos índices de velocidade de germinação e de emergência. Ao contrário do observado no presente trabalho, Villela et al. (2010) concluíram que a cultivar Elisa apresentou elevados índices de germinação e de vigor.

Na temperatura de 20ºC, recomendada para a germinação de sementes de alface, foram obtidas as maiores percentagens de germinação, com valores acima de 80%, considerado mínimo para comercialização de sementes dessa espécie. Já a 35ºC, apenas a cultivar Everglades manteve valores de germinação de 74%, o que está de acordo com trabalhos que caracterizam essa cultivar como termotolerante (Nascimento et al., 2004; Kozarewa et al., 2006). A germinação das cultivares Luiza e Elisa, a 35ºC, foi intermediária em relação à das demais cultivares, que foram inibidas (termoinibidas). No entanto, há relatos de alta viabilidade e vigor das sementes da cultivar Luiza, a 35ºC (Villela et al., 2010). Para Nascimento et al. (2012), acima de 30ºC, a germinação das sementes da maioria dos genótipos de alface é errática ou completamente inibida. Isso ocorre por causa do enfraquecimento do endosperma das sementes, o que impede o crescimento do embrião e restringe a protrusão radicular (Sung et al., 2008).

Em estudos realizados com alface, Franzin et al. (2004) mostraram que a emergência de plântulas pode ser usada na avaliação do potencial fisiológico de sementes. No presente trabalho, esse teste também permitiu diferenciar o vigor das sementes e observar o maior vigor das sementes da cultivar Everglades, em ambas as temperaturas.

Os índices de velocidade de germinação e de emergência também foram reduzidos quando se aumentou a temperatura para 35ºC. Bertagnolli et al. (2003) e Bufalo et al. (2012), ao analisar o desempenho de sementes de alface submetidas ao estresse térmico, também concluíram que, em temperaturas iguais ou superiores a 25ºC, houve redução na velocidade e na percentagem de germinação, e, que a 35ºC, ocorreu paralisação da germinação das sementes.

A maior atividade da enzima endo-β-mananase ocorreu nas sementes da cultivar Everglades embebidas a 35ºC, seguida das cultivares Elisa e Luiza (Tabela 3). A cultivar Hortência foi a que apresentou menor atividade dessa enzima. Schwember & Bradford (2010) observaram que a cultivar Dark Green Boston, considerada termossensível, também apresentou menor atividade da endo-β-mananase. De acordo com Nascimento et al. (2004), essa enzima é responsável pelo enfraquecimento das paredes celulares do endosperma das sementes de alface quando germinadas a temperaturas elevadas; com isso, genótipos termotolerantes apresentam maior atividade enzimática do que aqueles termossensíveis. Os resultados de maior atividade da endo-β-mananase seguem a tendência dos maiores resultados de germinação, a 20ºC, nas cultivares avaliadas (Tabela 1) e nos resultados obtidos por Nascimento et al. (2004).

Tabela 3
Atividade da enzima endo-β-mananase (picomol por min g-1) em oito cultivares de alface (Lactuca sativa), em função da temperatura de embebição de 20 e de 35ºC(1) (1) Médias seguidas de letras iguais, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, não diferem pelo teste de Scott & Knott, a 5% de probabilidade. .

A temperatura, durante o processo de embebição, alterou a expressão das proteínas tolerantes ao calor (Figura 1). Nas bandas proteicas analisadas, os padrões eletroforéticos foram diferentes nas cultivares termotolerantes e termossensíveis. Roveri José et al. (2005) sugeriu que a habilidade ou a falta de algum fator para expressar as proteínas HSP, por si só, não pode ser tomada como indicativo de que as sementes de uma espécie em particular podem ou não resistir à desidratação. Entretanto, foi possível verificar a presença de bandas específicas quando as sementes foram embebidas a 35ºC, com destaque para a cultivar Everglades. Conforme Queitsch et al. (2000), todos os organismos, embora sintetizem HSP em resposta ao calor, apresentam grande variação no balanço de proteínas sintetizadas na tolerância ao estresse.

Figura 1
Perfil eletroforético de proteínas resistentes ao calor que indica bandas específicas extraídas de sementes de oito cultivares de alface (Lactuca sativa), em função da temperatura de embebição de 20 e de 35ºC.

Ressalta-se que a cultivar Everglades, além de apresentar bandas específicas a 20 e 35ºC, também apresentou maior quantidade dessas proteínas, tendo relação direta, tanto com a germinação à alta temperatura quanto com a maior atividade da enzima endo-β-mananase. Dessa forma, esse material pode ser considerado termotolerante, quando comparado às demais cultivares testadas. Nessa perspectiva, a cultivar Everglades torna-se importante para utilização em programas de melhoramento de alface, para obtenção de cultivares de melhor qualidade quanto à germinação, em regiões tropicais e subtropicais.

Conclusões

1. A mais alta germinação é observada na cultivar de alface Everglades, na temperatura de 35ºC; e as cultivares Luiza e Elisa são intermediárias quanto à tolerância a altas temperaturas de germinação.

2. A atividade da enzima endo-β-mananase é maior na cultivar Everglades, a 35ºC.

3. Os genótipos termotolerantes são identificados por meio do perfil de proteínas resistentes ao calor.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), à Universidade Federal de Lavras (Ufla) e à HortiAgro Sementes S/A, pelo apoio financeiro e pela viabilização da pesquisa.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2014

Histórico

  • Recebido
    13 Dez 2013
  • Aceito
    27 Mar 2014
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