Produção e certificação de mudas de videira na França 1: situação Atual da Produção

Production and certification of grapevines plants in France 1: a production overview

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

PRODUÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE MUDAS DE VIDEIRA NA FRANÇA

1. Situação Atual da Produção ¹

MURILLO DE ALBUQUERQUE REGINA²

RESUMO - A França é o principal país produtor de mudas de videira, enxertando anualmente 270 milhões de mudas. Neste país, o programa de certificação de mudas alcança mais de 90% do material produzido, e, para tanto, a área utilizada de matrizes de porta-enxertos e produtoras atinge 3.454 ha. As principais cultivares multiplicadas, em ordem decrescente, são Merlot Noir, Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, e os principais porta-enxertos o SO4, 110 Richter, 3309 Couderc, 41 B e 140 Ruggieri. Os percentuais atuais de pegamento da enxertia situam-se em torno de 58% (ano de 1999), oscilando de 45,2% para a variedade Pinot Noir até 58% para o Cabernet Sauvignon. Do total das mudas enxertadas, 90% são produzidas diretamente em canteiros para comercialização sob a forma de raiz nua, e os 10% restantes em vasos biodegradáveis. A quantidade de mudas enxertadas atingiu 270,4 milhões no ano de 2000, ultrapassando todos os valores produzidos na década de 90, e é considerada como limite para absorção do mercado. As exportações de mudas pela França atingiram o montante de 19,2 milhões de mudas, sendo Itália, Espanha, Portugal, Alemanha e Argentina os principais importadores.

Termos para indexação: Porta-enxerto, matrizeiros, enxertia de mesa, mudas

PRODUCTION AND CERTIFICATION OF GRAPEVINES PLANTS IN FRANCE

1. A Production Overview

ABSTRACT - France is the first world producer of grapevine plants. This country has grafted around 270 millions of plants per year. The certification program cover above 90% of all plants produced in this country. The area used to multiply and to grow grapevine seedlings in France reach 3,454 ha. The varieties more cultivated are Merlot Noir, Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, and the principals rootstocks used are SO4, 110 Richter 3309 Couderc, 41 B and 140 Ruggieri. Actually, the grafting effectiveness remain close to 58% (at the year of 1999), but this percentage tend to decrease around 45,2% for Pinot Noir and 58% for Cabernet Sauvignon. Around 90% of the plants are produced in sand beds and are destined to direct sale without substrate (naked roots) and the remaining are sold in biodegradable pots. The production of grafted plants has reached the number of 270.4 millions in the year of 2000, exceeding the plants production average obtained in the decade of 1990s and reaching the amount bought by the market. The plants exportations from France were o 19.2 millions at 2000, being Italy, Spain, Portugal, Germany and Argentine the main importers.

Index terms: Rootstock, matrix plants, grafting, plants.

No ano 2000, a França realizou 270,4 milhões de enxertos, valor superior em 9% à quantidade enxertada no ano anterior, e comparável à dos anos 1990 e 1991, até então, os anos de maiores produções. Este aumento na produção foi devido, principalmente, ao aumento de número de mudas plantadas em viveiros para produção de mudas com raízes nuas (+ 13%), já que a produção de mudas em vasos ou cartonadas, encontra-se em nítida diminuição (- 26%). Em números gerais, a produção de mudas cartonadas representa atualmente apenas 6,6% do total das mudas produzidas na França (ONIVINS, 1999; ONIVINS, 2000).

Observa-se também que os estoques de mudas conservadas em geladeira estão em franco aumento, passando de 2,8 milhões em 1998 para 6,0 milhões em 2000. A Tabela 1 informa as quantidades de mudas enxertadas e em estoque na França durante a última década (ONIVINS, 2000).

Na França, são cultivados 1.934,75 hectares de matrizes de porta-enxerto e 1.519,69 hectares de matrizes de variedades-copa para atender à demanda de estacas e enxertos a partir de material certificado por parte dos viveiristas. Superfícies estas que se encontram em regressão, pois, no início da década (1993) havia 2.464 hectares cultivados de matrizes de porta-enxertos certificados e 1.676 hectares de produtoras de enxertos (Cordeau, 1998; ENTAV, 1995; ITV, 1995). A Tabela 2 mostra a relação das 10 principais variedades empregadas, bem como suas respectivas áreas cultivadas. Verifica-se que, para as variedades produtoras, as principais são Merlot Noir, Grenache, Chardonnay e Cabernet Sauvignon, sendo que atualmente há uma tendência de aumento de plantio para Cabernet Sauvignon. Com relação aos porta-enxertos, verifica-se que as variedades 110R, SO4, 3309C, 41B, e 140 Ru são as mais importantes, sendo que os plantios atuais estão cada vez mais orientados ao emprego do SO4.

Ao analisar a evolução do número de mudas enxertadas por variedade nos últimos anos, pode-se concluir que a variedade Merlot Noir mantém a sua liderança, representando 20% da produção de mudas de raízes nua na França. Dentre as variedades tradicionalmente enxertadas, os aumentos mais expressivos nos últimos anos têm sido observados para as cultivares Syrah e Cabernet Sauvignon, com 27 e 25%, respectivamente, do ano 1999 para 2000. Por sua vez, a variedade Tempranillo, que, em 1995, praticamente não era enxertada, em 2000 já aparece como a sétima mais multiplicada na França, com 13,3 milhões de enxertos, refletindo a abertura do mercado de exportação dos viveiristas franceses para a Espanha. Já a variedade Chardonnay permaneceu estável, enquanto Grenache N e Pinot Noir apresentaram reduções de 8% e 1% no mesmo período. A Tabela 3 apresenta a evolução das principais variedades enxertadas entre 1995 e 2000 (ONIVINS, 1996; ONIVINS, 2000).

A distribuição geográfica dos viveiristas franceses mostra que são nas regiões de clima mais quente, próximas à bacia do Mediterrâneo, onde concentram à maior parte das empresas. É assim que apenas a região Provence _ Alpes _ Cote d'Azur (PACA) detém aproximadamente 32% de todas as mudas de raízes nuas produzidas na França (Tabela 4).

Toda a produção e comercialização de mudas de videira na França é garantida atualmente por 1.534 empresas, envolvendo produtores de estacas de porta-enxertos e de enxertos, de mudas enxertadas e comerciantes. Esta cadeia produtiva tem assistido a uma concentração da produção em empresas de maior porte, pois, em 1980, o número de empresas atingia 3900. Com relação à tipificação do viveirista francês, sabe-se que 50% de toda à produção está concentrada em 48 empresas que enxertam mais e 800.000 mudas/ano, e que 417 empresas enxertam menos de 100.00 mudas/ano (Mayoux, 2000; ONIVINS, 2000).

Apesar dos enormes progressos técnicos alcançados nos últimos anos, os rendimentos médios de enxertia, considerando todas as combinações de variedades porta-enxertos/enxertos, por esta técnica, ainda encontram-se próximos aos 50% de pegamento para as mudas chamadas tradicionais, ou de raiz nua, considerando-se número de enxertos realizados e mudas vendidas, índices variáveis segundo as condições climáticas de cada ano. A Tabela 5 mostra a evolução dos índices de pegamento verificados para os últimos cinco anos para as principais variedades de enxerto (Guillot et Mercier, 1982; ONIVINS, 1999).

Pôde-se observar que a taxa média de pegamento de enxertos para as principais variedades limitou-se a 52%, e que as variações são consideráveis entre anos: 47,9 a 58,7% entre 1997, considerado ano ruim e 1999 como um ano bom; e variedades: média de 45,2% para Pinot Noir, considerada variedade difícil, contra 58% para Cabernet Sauvignon, que demonstrou os melhores índices de pegamento em todos os anos observados. Para a produção de plantas em vasos, sabe-se que as taxas de pegamento são normalmente mais elevadas, situando-se, para o conjunto das variedades enxertadas, na faixa de 65 e 73% para os anos 1999 e 1998, respectivamente (ONIVINS, 1999).

Os preços pagos na França em 2000 foram de R$2,11 por muda enxertada de raiz nua certificada, e de R$0,22 por estaca lisa de porta-enxerto certificado.

Finalmente, com relação às exportações francesas de mudas de videira, observou-se que, para a temporada de 1999, as exportações dentro da CEE totalizaram 12,6 milhões de mudas enxertadas, sendo em ordem decrescente: Itália, Espanha, Portugal e Alemanha os principais importadores. Para os países fora da CEE, as exportações no mesmo período limitaram-se a 6,6 milhões de mudas, sendo Argentina, Canadá, Suíça, Marrocos e Uruguai os principais importadores. O Brasil importa preferencialmente da Itália, sendo que, no ano de 1999, as compras de mudas enxertadas francesas limitaram-se a 52.525 unidades (ONIVINS, 1999).

AGRADECIMENTOS

O autor agradece ao CNPq, pela concessão de Bolsa de estudos, aos funcionários do ENTAV, pelo suporte técnico, e ao pesquisador da EPAMIG Geraldo Magela de Almeida Cançado, pela colaboração na redação do trabalho.

• MAYOUX, L. Contraintes Sanitaires et Consequences Pratiques pour lęs Vignes-Mčres et Pépiničres, en Multiplication et Prémultiplication. In : ASSISES DE LA PÉPINIČRE VITICOLE FRANÇAISE, 1, 2000, Valence. Resumos.. Valence: ONIVINS, 2000. p.1-4.
• ONIVINS. La certification des plants de vigne. Progrčs Agricole et Viticole, Montpellier, v. 113, n.7, p. 158-160, 1996.
• ONIVINS. Rapport Annuel Campagne 1998/99. Paris, 1999. 93p. (Documento de Circulaçăo restrita).
• ONIVINS. Estimation des mises en oevres dans lês pépinières au 10 août 2000. Paris, 2000. 14p. (Documento de circulação restrita).
• CORDEAU, J. Création d'un vignoble. Greffage de la vigne et porte-greffes. Elimination des maladies ŕ virus. Bordeaux : Féret, 1998. 182 p.
• ENTAV. Catalogue des Variétés et Clones de Vigne Cultivés en France. LeGrau du Roi : ENTAV, 1995. 357p.
• GUILLOT, R. ; MERCIER, J.P. Les orientations actuelles des techinques de la pépiničre viticole en France. In : COLLOQUE INTERNATIONAL SUR LA MULTIPLICATION DE LA VIGNE, 1, 1982, Bordeaux. Anais... Bordeaux: Fédération Française des Syndicats de Producteurs de Plants de Vigne, 1982. p.97-99.
• ITV. Les Plants de Vigne. In ITV (Ed.) Guide d'établissement du vignoble Paris, 1995. Chapitre 4, p.4.1-4.13.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  04 Dez 2002
• Data do Fascículo
  Ago 2002