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Cajucultura

Cajucultura

Originário da América Tropical, o cajueiro pertence à família Anacardiaceae, que inclui árvores e arbustos tropicais e subtropicais, encontrando-se disperso numa extensa faixa compreendida entre os paralelos de 27º N, no sudeste da Flórida, e 28º S, na África do Sul.

Considerada uma das mais importantes espécies cultivadas das regiões tropicais, o cajueiro ocupa, no mundo, uma área estimada em 3,39 milhões de hectares, apresentando como principais produtos de expressão econômica a amêndoa comestível e o líquido da casca da castanha (LCC). A produção mundial de castanha é estimada em 3,1 milhões de toneladas, destacando-se o Vietnã, a Índia, o Brasil e a Nigéria como principais países produtores.

No Brasil, a cajucultura mobiliza cerca de 280 mil pessoas e possui uma área cultivada de 740.000 ha, proporcionando uma produção de aproximadamente 250 mil toneladas de castanha e 2 milhões de toneladas de pedúnculo por ano. Distribuída em várias regiões do País, concentra-se na região Nordeste, que responde por 94% da produção nacional, onde os maiores plantios se localizam principalmente nas faixas litorâneas e de transição do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. A matéria-prima castanha alimenta um parque industrial formado por uma dezena de fábricas de grande porte e cerca de oitenta minifábricas, responsáveis pela obtenção da amêndoa de castanha de caju - ACC, destinada em sua maioria à exportação, gerando em média divisas da ordem de U$ 225 milhões anuais.

Por sua vez, o consumo do caju de mesa no mercado interno (caju in natura) vem crescendo significativamente nos últimos cinco anos, principalmente na região Sudeste, a preços cada vez mais atrativos para o produtor, estimulando, ainda que em pequena escala, novos investimentos na expansão e modernização dos pomares e na adoção de Boas Práticas Agrícolas e Sistemas de Produção que possibilitem a certificação da matéria-prima produzida.

Além do aspecto econômico, os produtos derivados do caju apresentam elevada importância alimentar, verificando-se um expressivo aumento das vendas e conquista de novos mercados com 30 subprodutos, dos quais se destacam o suco concentrado, hoje o mais vendido no País, além de doces, refrigerante e cajuína, um suco puro e clarificado, bastante consumido na região Nordeste.

A variabilidade genética do cajueiro vem sendo agrupada em dois tipos, comum e anão, denominados em função do porte. O tipo comum ainda é o mais cultivado, apresentando porte elevado, altura entre 8 e 15 m e envergadura (medida da expansão da copa) atingindo 20 m. A capacidade produtiva individual é muito variável, com algumas plantas produzindo abaixo de 1 kg e outras até próximo de 180 kg de castanha por safra. O tipo anão caracteriza-se pelo porte baixo, altura inferior a 4 m, copa homogênea, diâmetro do caule e envergadura de copa inferiores ao do tipo comum, precocidade etária, iniciando o florescimento entre 6 e 18 meses.

Os clones de cajueiro-anão precoce mais difundidos no País (CCP 06, CCP 09, CCP 76 e CCP 1001) foram obtidos a partir de introduções de plantas no Campo Experimental de Pacajus-CE, oriundas de populações naturais existentes na região litorânea do Nordeste brasileiro, seguida de seleção fenotípica individual e controle anual da produção nas plantas selecionadas. Posteriormente, novos procedimentos metodológicos, como o método do policruzamento, seleção entre e dentro de progênies e hibridação inter e intra-específica, resultaram na obtenção dos clones de cajueiro-anão precoce Embrapa 50, Embrapa 51, BRS 189, BRS 226 e BRS 265. Recentemente, a Embrapa Agroindústria Tropical lançou dois novos clones: o BRS 274, primeiro clone de cajueiro comum para o plantio comercial, e o BRS 275, primeiro clone de cajueiro híbrido, gerado a partir do cruzamento do cajueiro comum com o clone de um cajueiro-anão precoce (CCP 1001).

A produtividade esperada por hectare, para o cajueiro-anão precoce sob sequeiro, é cerca de 1.000 kg de castanha e 10.000 kg de pedúnculo, enquanto, sob irrigação, pode chegar a 3.800 kg de castanha e 30.000 kg de pedúnculo.

A propagação do cajueiro pode ser feita pelos métodos sexuado e assexuado. A propagação sexuada é feita através do plantio da semente (castanha), enquanto a propagação assexuada é feita utilizando as partes vegetativas da planta, como garfos, gemas e estacas. A propagação assexuada ou vegetativa é a mais recomendada porque assegura a obtenção de plantios mais uniformes, com características desejáveis e mais produtivos.

Enfrentando um mercado cada vez mais competitivo, liderado por Índia e Vietnã, a cajucultura brasileira procura alternativas para melhorar sua posição no mercado mundial de nozes, especialmente no tocante à produtividade dos pomares e à qualidade da amêndoa processada.

Embora tenha havido um acréscimo substancial da área cultivada com cajueiro nos últimos anos, a produção e a produtividade vêm mantendo-se em níveis baixos, com a média brasileira, em 2007, em torno de 190 kg de castanha por hectare, reflexo principalmente da deficiente infra-estrutura de produção na maioria das áreas cultivadas, das secas cíclicas nas principais regiões produtoras, da ocorrência de pragas e doenças em todas as fases do desenvolvimento da cultura e do tipo de propagação utilizado para a formação dos pomares (sexuada).

Com a introdução do cajueiro-anão precoce, o sistema de produção baseado no emprego de clones melhorados, cultivo adensado, aplicação de fertilizantes e controle fitossanitário tem evoluído significativamente. Vários pomares vêm utilizando, inclusive, a irrigação. Conjuntamente, esses fatores podem promover aumento da produtividade, menor risco de perda de produção, ampliação do período de colheita e melhoria da qualidade da castanha e do pedúnculo.

Vitor Hugo de Oliveira

Ph.D., Fitotecnia

Pesquisador A, Embrapa Agroindústria Tropical

Rua Sara Mesquita, 2270 – CEP 60511-110 - Fortaleza, Ceará, Brazil

e-mail: vitor@cnpat.embrapa.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2008
  • Data do Fascículo
    Mar 2008
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