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Pêssego cultivar BRS Libra

Pêssego cultivar BRS Libra

Originário da China, embora antes do século XIX muitos acreditassem ser proveniente da Pérsia - daí o nome Prunus persica - o pessegueiro foi uma das espécies de clima temperado que mais rapidamente se espalhou pelo mundo. Na China, onde há relatos da existência de pessegueiros, em estado selvagem, que datam de 6000 a 7000 a C., o pessegueiro é considerado símbolo da longevidade.

Poucas espécies frutíferas adaptaram-se a tão diversas situações climáticas como esta. Embora a maioria das regiões produtoras esteja entre as latitudes de 30º e 45º N e S, os programas de melhoramento genético ao redor do mundo, aliados a práticas de manejo, incluindo podas diferenciadas, tratamentos de quebra de dormência, controle de geadas, entre outras, permitiram o cultivo do pessegueiro mesmo em áreas de latitudes tão baixas como 18-20º.

No Brasil, o pessegueiro foi introduzido em 1532 por Martim Afonso de Souza na Capitania de São Vicente, hoje Estado de São Paulo. Aliás, foi também nesse Estado, no início da década de 1950, no Instituto Agronômico de Campinas, que se iniciou o primeiro programa brasileiro de melhoramento genético de pessegueiro, visando à adaptação às condições de inverno ameno. Poucos anos depois, programa semelhante era iniciado no Rio Grande do Sul, na Estação Fitotécnica de Taquari, e, posteriormente, em 1957, transferido para a Estação Experimental de Pelotas, hoje Embrapa Clima Temperado. O programa paulista trabalhava com germoplasma com ainda menor necessidade em frio do que o programa do Sul. Entretanto, a maior diferença entre os dois programas é que o gaúcho tinha como prioridade o desenvolvimento de cultivares produtoras de frutas cujas características fossem adequadas ao processamento. Ainda hoje, este programa mantém uma linha do melhoramento destinada a este setor. Isto se deve às características da produção de pêssego no sul do Rio Grande do Sul, onde mais de 90% se destinam à industrialização. Cerca de 40 a 50 milhões de latas são aí processadas anualmente.

Quando do início do programa gaúcho de melhoramento do pessegueiro, praticamente a única cultivar tipo indústria, plantada no Rio Grande do Sul era 'Aldrighi' (que recebeu o nome do produtor que a selecionou), cujos frutos amadureciam ao final de dezembro. A colheita estendia-se por cerca de 15 dias, sendo o pico ao final de dezembro, que, consequentemente, era o período de industrialização. Com o avanço do programa de melhoramento, o período de safra foi estendido para cerca de 100 dias, sendo o resultado mais impactante a antecipação da colheita. As primeiras cultivares precoces, em geral obtidas por hibridações entre algum clone da cv. Aldrighi ou algum material introduzido do exterior, por uma cultivar de mesa, mais precoce e "retrocruzamento" (modificado) com uma cultivar tipo indústria, eram, geralmente, colhidas apenas três dias a uma semana antes de ' Aldrighi'. O grande avanço foi dado na década de 1970, quando foi lançada a cultivar Diamante, com colheita 20 a 30 dias antes da tradicional cv. Aldrighi. O trabalho continuou e, em 2009, a Embrapa Clima Temperado lançou a cultivar BRS Libra, a primeira cultivar tipo indústria protegida no Brasil.

No sul do Rio Grande do Sul, BRS Libra amadurece em meados ou início de outubro, portanto, pelo menos, 50 dias antes da época em que era a safra, quando do início do programa. Dificilmente, frutos colhidos tão precocemente têm bom sabor ou aroma. Não é o caso do BRS Libra. De um modo geral, as indústrias da região Sul ainda não estão enlatando pêssegos na época em que esta cultivar está sendo colhida, mas o bom sabor das frutas, seu aroma agradável e intenso, aliado à forma redonda, película de cor amarela e baixa pilosidade, as tornam-nas interessantes para consumo fresco.

Atualmente, esta cultivar está sendo validada em vários locais do Brasil. Foi também testada no sul da Espanha - onde se consome pêssego tipo conserva no mercado fresco - e despertou interesse da maior companhia espanhola de comercialização de frutas, pois os pêssegos de ´BRS Libra' amadureceram, em Huelva (sul da Espanha), em 20 de maio e apresentaram teor de sólidos solúveis totais de 13º Brix , com diâmetro médio das frutas entre 8 e 8,5 cm. No Sul do Brasil, os diâmetros das frutas têm ficado entre 4,7 e 6,6 cm, mas nos pomares onde essa cultivar foi testada, não foi utilizada irrigação, e o manejo das plantas foi o comumente adotado na região, e realizado na mesma época em que o das cultivares mais tardias.

Sabe-se que só após uns cinco anos de seu lançamento, uma nova cultivar passa a ter expressão significativa na cultura. Mas pode-se antecipar que a 'BRS Libra' tem grande possibilidade de sucesso pela alta produtividade de frutas de boa aparência e qualidade, para consumo tanto in natura quanto para industrialização. Para isso, é importante que se atente para o fato de que, como ela é mais precoce, todas as práticas culturais, como raleio, adubação, etc., devem ser executadas mais precocemente do que nas demais cultivares.

MARIA DO CARMO BASSOLS RASEIRA

Engº Agrº, Ph.D., Pesquisador da Embrapa Clima Temperado, C.P. 403, CEP 96001-970, Pelotas-RS.

e-mail: maria.bassols@cpact.embrapa.br.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 2010
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