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Florescimento e produção de maracujazeiro-amarelo obtido por enxertia hipocotiledonar em Jaboticabal-SP e Araguari-MG

Flowering and production of yellow passion fruit obtained by hypocotyledonary grafted in Jaboticabal-SP e Araguari-MG

Resumos

O trabalho foi realizado no ripado e na área de Fruticultura do Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista (FCAV/UNESP), em Jaboticabal-SP, e em área de pequeno produtor fornecedor da Maguari (Kraft Foods do Brasil) em Araguari-MG, tendo por objetivo avaliar o desenvolvimento de maracujazeiro-amarelo enxertado por enxertia hipocotiledonar, sobre seis espécies de Passifloraceas. Foram utilizados sete tratamentos, sendo seis tratamentos com as espécies: P. edulis f. flavicarpa, P. caerulea, P. alata, P. gibertii, P. coccinea, P. cincinnata e um tratamento com pé-franco de P. edulis f. flavicarpa. Para todos os tratamentos, a variedade-copa utilizada foi o maracujazeiro-amarelo 'FB 200'. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com três repetições. A parcela foi constituída de uma linha de quatro plantas (20m lineares). A condução foi realizada conforme os tratos culturais recomendados para a cultura. As características avaliadas foram florescimento, produção, número e peso médio de frutos. Em Jaboticabal-SP, o pé-franco apresentou melhor desenvolvimento e maior produção que as plantas enxertadas. Em Araguari-MG, P. edulis f. flavicarpa, P. caerulea e pé-franco apresentaram melhor produção. Não houve diferença significativa no número de frutos, e o P. alata diminuiu, em relação aos outros porta-enxertos, o peso dos frutos.

Passiflora spp.; propagação vegetativa; desempenho agronômico


The study was conducted in the ripped and in the area of Fruit of the Department of Plant Production, Faculty of Agricultural and Veterinary Sciences, Universidade Estadual Paulista (FCAV/UNESP), in Jaboticabal-SP and in an area of a small producer supplier of Maguari (Kraft Foods of Brazil) in Araguari-MG, and aimed to assess the development of yellow passion fruit grafted by hypocotyledonary grafting, on six rootstocks of Passifloraceas. Seven treatments were used, with six treatments and rootstocks: P. edulis f. flavicarpa, P. caerulea, P. alata, P. gibertii, P. coccinea, P. cincinnata and treatment with non-grafted plants of the P. edulis f. flavicarpa. For all treatments the crown variety used was the yellow passion fruit plant 'FB 200'. The experimental design used was randomized blocks with 03 repetitions. The plot was formed in a line of four plants (20 linear meters). The conduction was done according to cultural treatments recommended for this culture. The evaluated characteristics were flowering, production, number and average fruit weight. In Jaboticabal-SP the seedling plants presented the better development and higher production than the others. In Araguari-MG P. edulis f. flavicarpa, P. caerulea, and seedling plants presented the better production. No differences between rootstocks were found to fruit number and P. alata decreased compared to the other rootstocks the fruit weight.

Passiflora spp.; vegetative propagation; agronomic performance


Florescimento e produção de maracujazeiro-amarelo obtido por enxertia hipocotiledonar em Jaboticabal-SP e Araguari-MG1 1 (Trabalho 019-10).

Flowering and production of yellow passion fruit obtained by hypocotyledonary grafted in Jaboticabal-SP e Araguari-MG

Geraldo Costa Nogueira FilhoI; Givanildo RoncattoII; Carlos RuggieroIII; João Carlos de OliveiraIII; Euclides Braga MalheirosIII

IIn memorian

IIPesquisador A - Embrapa Acre. Rodovia BR 364 km 14, Zona Rural, Cep 69901180 Rio Branco-AC. E-mail: givanildo@cpafac.embrapa.br

IIIProfessor Titular da Unesp/Fcav. Via de acesso Paulo Donato Castellane, s/n Cep 14884-900 Jaboticabal-SP. E-mails: ruggiero@fcav.unesp.br; jocaoliv@fcav.unesp.br; euclides@fcav.unesp.br

RESUMO

O trabalho foi realizado no ripado e na área de Fruticultura do Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista (FCAV/UNESP), em Jaboticabal-SP, e em área de pequeno produtor fornecedor da Maguari (Kraft Foods do Brasil) em Araguari-MG, tendo por objetivo avaliar o desenvolvimento de maracujazeiro-amarelo enxertado por enxertia hipocotiledonar, sobre seis espécies de Passifloraceas. Foram utilizados sete tratamentos, sendo seis tratamentos com as espécies: P. edulis f. flavicarpa, P. caerulea, P. alata, P. gibertii, P. coccinea, P. cincinnata e um tratamento com pé-franco de P. edulis f. flavicarpa. Para todos os tratamentos, a variedade-copa utilizada foi o maracujazeiro-amarelo 'FB 200'. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com três repetições. A parcela foi constituída de uma linha de quatro plantas (20m lineares). A condução foi realizada conforme os tratos culturais recomendados para a cultura. As características avaliadas foram florescimento, produção, número e peso médio de frutos. Em Jaboticabal-SP, o pé-franco apresentou melhor desenvolvimento e maior produção que as plantas enxertadas. Em Araguari-MG, P. edulis f. flavicarpa, P. caerulea e pé-franco apresentaram melhor produção. Não houve diferença significativa no número de frutos, e o P. alata diminuiu, em relação aos outros porta-enxertos, o peso dos frutos.

Termos para indexação:Passiflora spp., propagação vegetativa, desempenho agronômico.

ABSTRACT

The study was conducted in the ripped and in the area of Fruit of the Department of Plant Production, Faculty of Agricultural and Veterinary Sciences, Universidade Estadual Paulista (FCAV/UNESP), in Jaboticabal-SP and in an area of a small producer supplier of Maguari (Kraft Foods of Brazil) in Araguari-MG, and aimed to assess the development of yellow passion fruit grafted by hypocotyledonary grafting, on six rootstocks of Passifloraceas. Seven treatments were used, with six treatments and rootstocks: P. edulis f. flavicarpa, P. caerulea, P. alata, P. gibertii, P. coccinea, P. cincinnata and treatment with non-grafted plants of the P. edulis f. flavicarpa. For all treatments the crown variety used was the yellow passion fruit plant 'FB 200'. The experimental design used was randomized blocks with 03 repetitions. The plot was formed in a line of four plants (20 linear meters). The conduction was done according to cultural treatments recommended for this culture. The evaluated characteristics were flowering, production, number and average fruit weight. In Jaboticabal-SP the seedling plants presented the better development and higher production than the others. In Araguari-MG P. edulis f. flavicarpa, P. caerulea, and seedling plants presented the better production. No differences between rootstocks were found to fruit number and P. alata decreased compared to the other rootstocks the fruit weight.

Index Terms:Passiflora spp., vegetative propagation, agronomic performance.

INTRODUÇÃO

O Brasil é o maior produtor mundial de maracujá (Passiflora spp.). Em 2008, apresentou uma produção de 684 mil toneladas, com área de aproximadamente 49 mil hectares, destacando-se o Estado da Bahia como o principal produtor, com 275 mil toneladas, em 20 mil hectares. Em seguida, Ceará, com 112 mil, em 5 mil hectares; Espírito Santo, com 66 mil toneladas, em 2,5 mil hectares; Sergipe, com 44 mil toneladas, em 4,5 mil hectares, e Minas Gerais, com 38 mil toneladas, em 2,6 mil hectares (IBGE, 2009).

A região de Marília - SP, tem-se caracterizado como a principal região produtora no Estado, com produção de frutos destinados ao consumo de fruta fresca. Já a região de Araguari - MG (2.800 ha), tem possibilitado o cultivo desde 1971, há mais de 30 anos, praticamente nas mesmas áreas, voltado principalmente para atender à indústria de suco (SILVA, 2005).

O maracujazeiro-amarelo, normalmente propagado por via sexuada, tem apresentado uma redução da longevidade de seus pomares, principalmente devido aos problemas fitossanitários que atingem o sistema radicular e a parte aérea (SILVA et al., 2005).

A pesquisa vem buscando fontes de resistência como solução a esses problemas fitossanitários entre outras espécies de Passifloráceas. Essas seriam usadas possivelmente em programas de melhoramento, tentando-se transferir a característica de resistência ao maracujazeiro-amarelo, ou de forma mais fácil e imediata como porta-enxertos (JUNQUEIRA at al., 2006).

Alguns profissionais que trabalham com essa cultura têm apontado o uso da enxertia como forma de resolver esses problemas, baseados em experiência semelhante em outros países e ainda em problemas similares com outras culturas, como a gomose em citros e a filoxera na uva europeia (Vitis vinifera) (CHAVES et al., 2004).

Dessa forma, tem-se procurado estudar aspectos relativos à produção de mudas enxertadas, compatibilidade entre enxerto e porta-enxerto, e, em alguns casos, a sobrevivência dessas mudas no campo. Mas ainda é pequeno o número de espécies testadas e mesmo acerca daquelas sobre as quais tem sido feito algum estudo, fazendo-se necessário aprofundar os mesmos, inclusive envolvendo a fase de produção propriamente dita e as relações porta-enxerto/copa, que podem intervir na qualidade do fruto e/ou suco. Além de avaliar-se outras espécies ainda não testadas como porta-enxerto.

Por isso, constituiu-se como objetivo deste trabalho a avaliação do florescimento e da produção de seis espécies nativas de passifloras como porta-enxerto para o maracujazeiro-amarelo, em Jaboticabal-SP, e em Araguari-MG.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no ripado e na área de fruticultura do Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal-SP (FCAV), Universidade Estadual Paulista (UNESP), localizada a 610 m de altitude, 21º15'17" S de latitude e 48º19'20" W de longitude, e em área de pequeno produtor, em Araguari-MG, no período de abril de 2002 a março de 2003. De acordo com a classificação de Köeppen, o clima é do tipo Cwa, isto é, subtropical temperado, seco no inverno, com temperatura do mês mais quente superior a 22ºC. A precipitação média anual e a temperatura oscilam em torno de 1.400 mm e 22ºC, respectivamente. Em Araguari-MG, as coordenadas são 18º38'30"S e 48º11'18"W, e a altitude média de 900 m. De acordo com a classificação de Köeppen, o clima é do tipo Cwb, tropical quente e úmido, seco no inverno, temperatura média de 20,7ºC, com máxima de 24,2ºC e mínima de 20ºC, precipitação média anual de 1.484 mm.

Foram realizadas duas semeaduras para a obtenção dos porta-enxertos. Na primeira (30-10-2001), utilizaram-se 100 sementes de cada porta-enxerto sem qualquer tratamento prévio. Na segunda (07-12-2001), foram utilizadas 120 sementes de cada porta-enxerto, previamente embebidas em água destilada por cerca de doze horas e, posteriormente, semeadas em bandejas plásticas com substrato comercial Plantmax para hortaliças, composto por uma mistura de casca de Pinus, vermiculita e carvão ativado, na proporção de 3:1:1 (v:v). Da mesma forma, foram produzidos os "seedlings" de maracujazeiro-amarelo para fornecimento dos garfos, semeando-se a cada semana 100 sementes em uma bandeja, durante sete semanas. Quando os porta-enxertos e enxertos atingiram a fase de enxertia (janeiro de 2002), cerca de 6 a 8 cm de altura, e uma a duas folhas definitivas, o que ocorreu com cerca de 30 dias após a semeadura para as espécies mais precoces ou vigorosas, e 90 para as de crescimento mais lento, realizou-se a enxertia.

Os tratamentos utilizados foram seis porta-enxertos: P. edulis f. flavicarpa, P. caerulea, P. alata, P. gibertii, P. coccinea, P. cincinnata e um tratamento pé-franco de P. edulis f. flavicarpa. Para todos os tratamentos, a variedade-copa utilizada foi o maracujazeiro-amarelo 'FB 200'. Essa seleção foi obtida através da mistura de vários genótipos desenvolvidos na região de Araguari - MG, com objetivo de obter frutos para a indústria; entretanto, usa-se para o consumo in natura, pois tem como características frutos com maior uniformidade de tamanho, formato e cor (peso médio de 240 g), casca mais grossa, proporcionando maior resistência durante o transporte, rendimento de suco em torno de 36%, 14,0ºBrix, produzindo 50 t/ha/ano.

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com três repetições. A parcela era constituída de uma linha de 20 metros de comprimento, contendo quatro plantas. O espaçamento utilizado foi de 3 m entre linhas e 5 m entre plantas. Previamente, foi feita a análise de solo da área a instalar-se ao pomar e, de acordo com o resultado da análise de solo (Tabela 1), verificou-se a necessidade de calagem e adubação.

Assim, a adubação baseou-se nas recomendações de adubação feitas por Van Raij (1997). Como o valor da saturação por bases (V), em Jaboticabal-SP, foi maior que 60%, e o teor de magnésio foi maior que 9 mmolc/dm3, não foi necessária a realização da calagem. O preparo do solo constituiu-se em uma aragem profunda, seguida de duas gradagens em sentido cruzado. A seguir, abriram-se sete sulcos de 60 m de comprimento e distanciados de 3 m entre si, no local onde seriam instaladas as espaldeiras. Nos sulcos, com auxílio de uma pipa, distribuíram-se 7.000 L de fluido de biodigestor. Posteriormente, piquetiaram-se as linhas, marcando o local das plantas e das estacas das espaldeiras, e usando-se uma broca acoplada ao trator perfuraram-se covas de cerca de 0,5 m de profundidade para plantas e 1,2 m para estacas. Construíram-se, então, as espaldeiras com um fio de arame a 2m de altura e realizou-se a adubação de fundação com 200 g de calcário dolomítico, 40 g de FTE BR-12 e 1,18kg de superfosfato simples por cova.

Passados 30 dias, efetuou-se o plantio das mudas, em 02 de abril de 2002, seu tutoramento com uma pequena estaca de bambu e um fio de barbante, e o coroamento da cova. As mudas foram regadas duas vezes por semana até a época das chuvas. A adubação de formação foi realizada em cobertura, com 22 g de ureia, aos 30 dias, 33 g de ureia aos 60 dias, 112 g de ureia e 83 g de KCl aos 90 dias, por planta. A adubação de produção foi realizada também em cobertura, com 150 g de superfosfato simples, mais 40g de FTE BR-12, em setembro/2002, 0,7 kg de NPK 20-5-20 divididos em 5 parcelas mensais/planta, de setembro/2002 a janeiro/2003.

A adubação e a calagem, em Araguari-MG, particularmente, obedeceram a outras formas de aplicação, de acordo com a recomendação. A calagem foi feita previamente, em área total, conforme análise de solo, visando a elevar a saturação por bases a V% = 80, utilizando calcário calcítico, PRNT 80. O preparo do solo constituiu-se em uma aração profunda (25 cm), seguida de uma gradagem. Foram feitas covas de 50x50x50 cm. A adubação de fundação foi de 20 L de esterco de curral curtido, 450 g de superfosfato simples e 50 g de FTE BR 12 por planta. A adubação de formação foi realizada em cobertura, com 250 g de (NH4)2SO4 e 250 g de KCl por planta, parcelada em três aplicações espaçadas a cada 30 dias. O plantio foi realizado em 09-04-2002. A adubação de produção foi realizada em cobertura, com 1,6 kg de (NH4)2SO4 e 1,6 kg de KCl, em parcelas iguais, aplicados quinzenalmente por cova, a partir do mês de agosto de 2002 até abril de 2003. Além disso, em 15 de setembro de 2002, foi feita uma adubação de reforço de produção, com 500 g de superfosfato simples, 10 L de esterco de curral curtido e 50 g de FTE BR 12 por planta.

As plantas foram conduzidas em hastes únicas até ultrapassarem o arame da espaldeira (2 m de altura) em cerca de 10 cm, quando foram despontadas para induzir a emissão dos ramos secundários. Esses, por sua vez, foram despontados quando atingiram a planta vizinha para forçar a emissão de ramos terciários. As plantas eram pulverizadas preventiva e/ou curativamente a cada quinze dias, com oxicloreto de cobre, na proporção de 3 g do produto comercial por litro de água. Para o controle de pragas, sempre que necessário, aplicou-se dimetoato, à proporção de 2 mL do produto comercial por litro.

Diariamente, à tarde, após o horário de abertura das flores, que acontece a partir das 14 horas, percorria-se o pomar recolhendo anteras de flores de várias plantas em um recipiente e em quantidade suficiente para a florada do dia, que se encerra no final do período matutino com o fechamento das flores. Essas abrem-se apenas uma vez, não se permitindo polinizar no dia seguinte. Posteriormente, enquanto as flores permaneciam abertas durante o período matutino, misturavam-se as anteras e voltava-se a percorrer todo o pomar, transferindo-se uma miscelânea de grãos de pólen de várias plantas para os estigmas de cada flor, fazendo-se o trabalho de distribuição de pólen flor a flor com uso de dedal, por todas as flores, processo similar ao executado pelas mamangavas,que são os insetos polinizadores naturais do maracujazeiro. Dessa forma, tentou-se evitar o efeito da auto-incompatibilidade e incompatibilidade cruzada apresentadas pelo maracujazeiro-amarelo. Foram avaliados o florescimento pela contagem do número de flores, a produção, o número e o peso médio de frutos pela contagem e pesagem dos frutos.

Resultados e discussão

As características peso médio semanal de frutos e número semanal de frutos mostraram comportamentos semelhantes; as duas apresentaram diferença significativa entre porta-enxertos apenas na 8ª e 12ª semanas, sendo que o número semanal de frutos também diferiu na 14ª (Tabelas 2;3;4;6 ;7 e 8 ). Para essas duas características, o comportamento das espécies, ao longo do tempo, foi de primeiro apresentar uma tendência de crescimento até a 13ª semana e,a partir daí, passaram a decrescer, tendo sido registrado o pico de produção entre a 8ª e a 14ª semana. Já o peso médio semanal de frutos não apresentou diferença significativa nem entre espécies, nem entre as diversas avaliações realizadas, apesar de ter apresentado uma ligeira tendência decrescente a partir da 8ª semana. Esse fato pode ser explicado pelo aumento do número de frutos na planta, com o passar do tempo, e por isso, maior número de frutos a serem nutridos, como também, fisiologicamente, mais por competição entre os frutos do que pelo gradual esgotamento das reservas da planta, além do clima e seus efeitos na planta, refletindo-se na nutrição dos frutos.

A contagem do número de flores foi uma tentativa de estabelecer-se uma metodologia para estimar o potencial produtivo das plantas, uma vez que muitos fatores como: autoincompatibilidade, incompatibilidade cruzada, esterilidade, ausência ou número insuficiente de polinizadores, polinização artificial deficiente, lavagem do pólen por chuva antes que duas horas se completassem após a polinização, o estresse hídrico, deficiência nutricional, a ocorrência de pragas e doenças diretamente relacionadas a flores e frutos (STAVELEY;WOLSTENHOLME, 1990; BRUCKNER, 1994A; BRUCKNER, 1994B; BRUCKNER et al., 1995;RUGGIERO et al., 1998; NOGUEIRA FILHO;RUGGIERO, 1998; BRUCKNER et al., 2002; LIBERATO, 2002) influenciam no pegamento de frutos e na produção final. Considera-se que a maioria dos fatores acima citados foram relativamente controlados através da realização de polinização artificial eficiente com uma miscelânea de pólen, controle fitossanitário preventivo e/ou curativo sistemáticos, adubação adequada e rega periódica no período crítico de seca. Exceto dois fatores que não puderam ser controlados: a incidência de pancadas de chuva à tarde, logo após a polinização, em alguns dias, e a esterilidade, pois uma planta (enxertada sobre P. alata), das 84, apresentou uma fêmea esterilidade severa. Assim, esperava-se que houvesse uma coincidência entre o número de flores e as variáveis: produção total e número total de frutos, o que não aconteceu completamente (Tabelas 5; 9 e 10 ). Esse fato pode ter ocorrido por influência dos fatores que não se podem controlar. Mas há também que se ponderar que os diferentes porta-enxertos apresentaram diferenças de precocidade e, mesmo entre plantas de um mesmo porta-enxerto, notou-se essa diferença de precocidade. Assim sendo, quando se escolheram os três períodos de dez dias para realizar-se a avaliação de florescimento, pode-se ter privilegiado um ou outro tratamento por estar apresentando ou não um pico de florescimento. Dessa forma, recomenda-se que, em experimentos futuros, esta avaliação seja ampliada para 60 dias ininterruptos, abrangendo o pico de produção do pomar. Vale ressaltar que essa é uma tarefa quase hercúlea, devido à grande mão de obra exigida, associando-se essa avaliação aos procedimentos normais de condução do pomar em alguns dias.

Entretanto, observando-se os resultados obtidos para o florescimento (Tabelas 5 e 9 ), nota-se a formação de um grupo bastante profícuo, formado por P. cincinnata, pé-franco, P. alata e P. edulis f. flavicarpa sob P. edulis f. flavicarpa, em contraste com outro grupo de menor potencial produtivo, formado por P. alata, P. coccinea e P. caerulea sob P. edulis f. flavicarpa. Vale ressaltar que P. edulis f. flavicarpa permaneceu num intermédio entre os dois grupos, tendo diferido significativamente apenas de P. caerulea.

As variáveis produção total e número total de frutos tiveram comportamento semelhante. O pé-franco apresentou igual desempenho em relação aos demais tratamentos, com maior valor para as duas características, embora não tenha diferido significativamente dos outros porta-enxertos. Já para peso médio do total de frutos, houve diferença significativa entre os tratamentos, e o P. cincinnata mostrou o melhor desempenho, tendo diferido significativamente apenas de P. alata (Tabela 10 ).

À luz dos resultados obtidos por estes outros autores (OLIVEIRA et al.,1983; SEIXAS et al., 1987; MALDONADO, 1991; STENZEL; CARVALHO, 1992), para características de produção, pode-se dizer que os resultados aqui são coincidentes e seguem na mesma direção. Ou seja, a planta enxertada é menos produtiva que a de pé-franco. Já em relação ao peso médio de frutos, observou-se a influência da espécie utilizada como porta-enxerto, o que diverge dos resultados encontrados na literatura e até mesmo dos resultados obtidos nos experimentos conduzidos em Jaboticabal-SP, e Araguari-MG.

CONCLUSÕES

1-A metodologia utilizada para avaliação de florescimento deve ser modificada em experimentos futuros, de forma a abranger todo o pico de florescimento de maneira ininterrupta.

2-As espécies P. edulis f. flavicarpa, P. alata e P. cincinatta determinaram o aparecimento inicial das flores precocemente.

3-Embora as plantas de pé-franco tenham superado numericamente a produção das enxertadas, não diferiram significativamente delas.

4-A espécie P. alata diminuiu o peso dos frutos.

Recebido em: 05-01-2010.

Aceito para publicação em: 16-04-2010.

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  • 1
    (Trabalho 019-10).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Mar 2011
    • Data do Fascículo
      Mar 2011

    Histórico

    • Recebido
      05 Jan 2010
    • Aceito
      16 Abr 2010
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