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Doses de ácido giberélico na frutificação efetiva e qualidade de frutos de atemoieira 'Gefner'

Gibberellic acid doses on fruit set and fruit quality of atemoya 'Gefner'

Resumos

Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da aplicação de ácido giberélico (GA3) no pegamento, frutificação efetiva e qualidade de frutos de atemoieira 'Gefner', nas condições irrigadas do norte de Minas Gerais. O experimento foi conduzido em pomar comercial de atemoieira 'Gefner', em Matias Cardoso. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com quatro repetições e cinco frutos por parcela. Os tratamentos utilizados foram diferentes doses do produto comercial Pro-Gibb®, composto por 10% de GA3, na forma de pó solúvel, sendo: 0 (testemunha), 250; 500; 750 e 1.000 mg.L-1. O produto foi aplicado diretamente nas flores de atemoieira, no momento da antese, e repetido nos frutos aos 7; 21 e 35 dias após a antese. Foram avaliados quinzenalmente pegamento, comprimento e diâmetro dos frutos. Após a colheita, as características físico-químicas avaliadas foram submetidas à análise de variância, e os efeitos das doses foram testados e ajustados em equações de regressão. A porcentagem de pegamento e frutificação efetiva dos frutos de atemoieira 'Gefner', a massa de polpa, casca e frutos, e o pH aumentaram com o incremento das doses de GA3. A aplicação de GA3 proporcionou a produção de frutos sem sementes e não influenciou no teor de sólidos solúveis dos frutos de atemoieira 'Gefner'.

Annona squamosa x Annona cherimola; GA3; produção de frutos; regulador de crescimento


The objective of present study was to evaluate the effect of gibberellic acid (GA3) on the fruit set and fruit quality in atemoya 'Gefner' under irrigated conditions in the North of Minas Gerais. The experiment was performed in a commercial farm of atemoya 'Gefner'. The experimental design was completely randomized blocks with four replicates and five fruits per parcel. Five different doses of the commercial product Pro-Gibb ®, (10% of GA3) in the form of soluble powder was used as follow: 0 (control), 250, 500, 750 and 1000 mg.L-1. The product was applied directly on flowers at anthesis stage and more three applications were performed (7, 21 and 35 days after anthesis stage). Fruit set, fruit length and fruit diameter were evaluated weekly during 19 weeks. After harvest the physical-chemical characteristics were submitted to analysis of variance and the effects of doses were tested and adjusted in regression equations. The percentage of fruit set, the fruit weight, pulp weight, the peel weight and pH increase with increasing of dose of GA3. The application of GA3 produces seedless fruit and does not affect the soluble solids content of atemoya 'Gefner' fruits.

Annona squamosa x Annona cherimola; GA3; fructification; plant growth regulator


ARTIGOS

BOTÂNICA E FISIOLOGIA

Doses de ácido giberélico na frutificação efetiva e qualidade de frutos de atemoieira 'Gefner'1 1 (Trabalho 117-13) - Recebido em: 14-03-2013. Aceito para publicação em: 05-07-2013. V Congresso Internacional & Encontro Brasileiro sobre Annonaceae: do gene à exportação (19 a 23 de Agosto de 2013). Botucatu-SP. Apoio: Fapemig e Fazenda Simonica.

Gibberellic acid doses on fruit set and fruit quality of atemoya 'Gefner'

Marlon Cristian Toledo PereiraI; Rayka Kristian Alves SantosII; Silvia NietscheI; Gisele Polete MizobutsiI; Edson Fagne dos SantosII

IEng. Agrônomo, D.Sc., Professor do Departamento de Ciências Agrárias, Universidade Estadual de Montes Claros, Rua Reinaldo Viana, 2630, Bairro Bico da Pedra, Janaúba, Minas Gerais, CEP 39.440-000. E-mails: marlon.pereira@unimontes.br; silvia.nietsche@unimontes.br; gisele.mizobutsi@unimontes.br

IIGraduandos em Agronomia, Universidade Estadual de Montes Claros, Rua Reinaldo Viana, 2630, Bairro Bico da Pedra, Janaúba, MG, CEP 39.440-000. E-mails: rayka.kristian@yahoo.com.br; fagner-edson07@hotmail.com

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da aplicação de ácido giberélico (GA3) no pegamento, frutificação efetiva e qualidade de frutos de atemoieira 'Gefner', nas condições irrigadas do norte de Minas Gerais. O experimento foi conduzido em pomar comercial de atemoieira 'Gefner', em Matias Cardoso. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com quatro repetições e cinco frutos por parcela. Os tratamentos utilizados foram diferentes doses do produto comercial Pro-Gibb®, composto por 10% de GA3, na forma de pó solúvel, sendo: 0 (testemunha), 250; 500; 750 e 1.000 mg.L-1. O produto foi aplicado diretamente nas flores de atemoieira, no momento da antese, e repetido nos frutos aos 7; 21 e 35 dias após a antese. Foram avaliados quinzenalmente pegamento, comprimento e diâmetro dos frutos. Após a colheita, as características físico-químicas avaliadas foram submetidas à análise de variância, e os efeitos das doses foram testados e ajustados em equações de regressão. A porcentagem de pegamento e frutificação efetiva dos frutos de atemoieira 'Gefner', a massa de polpa, casca e frutos, e o pH aumentaram com o incremento das doses de GA3. A aplicação de GA3 proporcionou a produção de frutos sem sementes e não influenciou no teor de sólidos solúveis dos frutos de atemoieira 'Gefner'.

Termos para indexação: Annona squamosa x Annona cherimola, GA3, produção de frutos, regulador de crescimento.

ABSTRACT

The objective of present study was to evaluate the effect of gibberellic acid (GA3) on the fruit set and fruit quality in atemoya 'Gefner' under irrigated conditions in the North of Minas Gerais. The experiment was performed in a commercial farm of atemoya 'Gefner'. The experimental design was completely randomized blocks with four replicates and five fruits per parcel. Five different doses of the commercial product Pro-Gibb ®, (10% of GA3) in the form of soluble powder was used as follow: 0 (control), 250, 500, 750 and 1000 mg.L-1. The product was applied directly on flowers at anthesis stage and more three applications were performed (7, 21 and 35 days after anthesis stage). Fruit set, fruit length and fruit diameter were evaluated weekly during 19 weeks. After harvest the physical-chemical characteristics were submitted to analysis of variance and the effects of doses were tested and adjusted in regression equations. The percentage of fruit set, the fruit weight, pulp weight, the peel weight and pH increase with increasing of dose of GA3. The application of GA3 produces seedless fruit and does not affect the soluble solids content of atemoya 'Gefner' fruits.

Index terms:Annona squamosa x Annona cherimola, GA3, fructification, plant growth regulator.

INTRODUÇÃO

Pegamento de fruto pode ser definido pelo estádio de transição do ovário quiescente para um fruto jovem por meio de um rápido crescimento. Este fenômeno é considerado um dos mais importantes na reprodução sexual das plantas (JONG et al., 2009). Para a maioria das plantas, e em especial os membros da família Annonaceae, o pegamento dos frutos é influenciado pelas condições ambientais, em particular, as altas e baixas temperaturas e umidade relativa do ar, que podem afetar o desenvolvimento do grão de pólen e a deiscência da antera (BETTIOL NETO et al., 2009; PANDOLFINI, 2009).

A independência do desenvolvimento do fruto sem a fertilização (agamospermia) é considerada uma grande vantagem na horticultura, principalmente nos casos em que ocorre o baixo pegamento dos frutos, caso específico da atemoieira. Estudos conduzidos com este híbrido entre pinha (Annona squamosa L.) e cherimólia (Annona cherimola Mill.) apontam a baixa viabilidade polínica e níveis reduzidos de pegamento dos frutos (JALIKOP; KUMAR, 2007; MENDES et al., 2012). Entretanto, os frutos de atemoieira precisam ser polinizados artificialmente, utilizando-se mais recentemente do pólen da pinha que, apesar de se desenvolverem normalmente, têm a desvantagem de apresentar um grande número de sementes, além do alto custo associado à mão de obra da polinização artificial (PEREIRA et al., 2011).

A ausência de sementes nos frutos é uma das características mais apreciadas pelos consumidores, tanto para o consumo in natura (uva, banana e citros), como para o processamento (tomate) (GOURGET et al., 2005; KAPLAN, 2011). Além dos fenômenos biológicos da partenocarpia e da estenospermocarpia, frutos sem sementes podem ser obtidos por meio do tratamento das flores com diversos tipos de reguladores de crescimento, como as giberelinas, aplicados antes da polinização (VORAQUAX et al., 2000; PANDOLFINI, 2009).

As giberelinas são conhecidas pela habilidade de indução de pegamento de frutos e no incremento do tamanho celular (DORCEY et al., 2009; RAMEZANI; SHEKAFANDESH, 2009). As giberelinas são mais amplamente utilizadas comercialmente na viticultura, sendo as aplicações efetuadas desde o aparecimento da inflorescência até o início da maturação, visando, principalmente, ao aumento da produção através do aumento do peso dos cachos e das bagas e à obtenção de cachos medianamente soltos, que dispensam a operação de desbaste e facilitam o controle de doenças (KAPLAN, 2011). Além da videira, outras espécies, como a oliveira, citros, jambo e cherimólia, vêm sendo beneficiadas com a aplicação do ácido giberélico (RAMEZANI; SHEKAFANDEH, 2009; MONERUZZAMAN et al., 2011).

Embora algumas referências sobre a produção de frutos sem sementes estejam disponíveis na literatura, muito pouco se conhece sobre o pegamento e a frutificação efetiva de frutos de atemoieira por meio da aplicação de reguladores de crescimento. Portanto, não há uma recomendação precisa para incrementar a produção comercial de frutos paternocárpicos de atemoieira 'Gefner', cultivar que tem sido mais plantada no Brasil e também no exterior.

Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito da aplicação de ácido giberélico em diferentes doses no pegamento, frutificação efetiva e qualidade de frutos da atemoieira 'Gefner', nas condições irrigadas do norte de Minas Gerais.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em pomar comercial de atemoieira 'Gefner', com plantas de 8 anos de idade, com espaçamento 4 x 2m, latitude 15º 05' 39,5" SE e longitude 43º 47' 43,9" WO, no município de Matias Cardoso, na região do Jaíba-MG. O sistema de irrigação utilizado foi o de microaspersão.

O experimento foi instalado no dia 25 de abril de 2012, sendo selecionadas e identificadas 20 plantas de atemoieira 'Gefner', observando-se uniformidade, vigor e sanidade. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com quatro repetições e 5 frutos por parcela, sendo que em cada planta foram aplicados todos os tratamentos.

O produto comercial utilizado no experimento foi o Pro-Gibb®, composto por 10% de ácido giberélico (GA3), na forma de pó solúvel. Como tratamentos, foram utilizadas 5 doses do produto: 0 (testemunha), 250; 500; 750 e 1.000 mg.L-1 GA3. Cada dose do produto foi preparada com 250 mL de água, acrescentando-se 0,1% de espalhante adesivo não iônico SILWET L-77 Ag. A primeira aplicação da solução foi direcionada nas flores, no momento da antese, ou seja, flores em estádio fêmea ou funcionalmente pistiladas, efetuada por meio do uso do frasco com aplicador tipo "spray". As aplicações foram repetidas mais 3 vezes após o pegamento dos frutos, direcionadas nos próprios frutos, aos 7; 21 e 35 dias após a antese.

Aos 7 dias após a primeira aplicação do ácido giberélico, no momento da antese, foi iniciada a avaliação do pegamento e da frutificação efetiva dos frutos, que foi seguido semanalmente. Foram avaliados também em campo o comprimento e o diâmetro dos frutos, a cada 14 dias, a partir de 7 dias após a antese. A colheita foi realizada na 19ª semana, correspondendo a 133 dias após a aplicação da giberelina na antese, quando os frutos apresentavam o ponto de colheita com afastamento dos carpelos, coloração dos tecidos intercarpelares verde-amarelada e a cor da casca em verde mais claro. Os frutos de cada tratamento foram identificados, acondicionados em sacolas de papel, em seguida em caixas plásticas, e conduzidos ao laboratório de Pós-Colheita, localizado no Campus da Universidade Estadual de Montes Claros-UNIMONTES, no município de Janaúba-MG. Foram avaliados a massa fresca, o comprimento e o diâmetro dos frutos, ficando armazenados com temperatura constante de 25ºC até a completa maturação.

Nos frutos maduros, foi avaliada a firmeza, utilizando o texturômetro da marca Brookfield modelo CT3 10K, medida em Newton, com o uso da ponteira com 4 mm de diâmetro. Em seguida, realizou-se a separação da casca, engaço, polpa e sementes, para a determinação de suas respectivas massas. Foi feita a contagem do número de sementes, quando encontradas, e uma alíquota de polpa dos frutos foi separada para a análise dos teores de sólidos solúveis, por refratometria, utilizando um refratômetro de bancada ATAGO. O pH foi medido em peagâmetro DIGIMED, modelo DM20, em amostras trituradas e homogeneizadas, as quais também foram usadas para a análise de acidez titulável, tendo seu resultado expresso em mg de ácido cítrico por 100 g de amostra.

As características avaliadas foram submetidas à análise de variância, e os efeitos das doses foram testados e ajustados em equações de regressão. Os modelos foram escolhidos com base na significância dos coeficientes de regressão, utilizando-se do teste de t, a 5% de probabilidade. O sistema SigmaPlot foi utilizado para ajustar algumas variáveis. As análises estatísticas foram efetuadas com uso do software estatístico SISVAR.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A porcentagem de pegamento dos frutos e da frutificação efetiva ao longo das 19 semanas após a antese foi decrescente, entretanto foi sempre maior considerando o incremento das doses de GA3 aplicadas (Figura 1). Não foi observado pegamento de frutos no tratamento-controle (com ausência da aplicação de GA3). A dose de 1.000 mg.L-1 de GA3 foi a que proporcionou a maior porcentagem de pegamento e frutificação efetiva ao longo das semanas, variando de 100% dos frutos da 1ª a 3ª semana, 95% da 4ª à 6ª semana, e na colheita, na 19ª semana,estava com 85%. Em relação aos demais tratamentos com GA3, as porcentagens de pegamento e frutificação efetiva foram inferiores, apresentando na 19ª semana após a antese, no momento da colheita, 35%, 55% e 70% de frutificação efetiva nas doses de 250 mg.L-1, 500 mg.L-1 e 750 mg.L-1 de GA3, respectivamente (Figura 1).


O aumento do pegamento dos frutos e da frutificação efetiva na maior dose do produto pode ser explicado devido a uma característica da giberelina de ser indutora da formação de enzimas proteolíticas, as quais podem liberar triptofano, precursor do ácido indolacético (AIA). Este fitormônio, por sua vez, regula quase todos os processos nas plantas, incluindo o pegamento e o desenvolvimento dos frutos (WANG et al., 2009).

As giberelinas são consideradas o segundo grupo de fitormônios que apresentam função essencial na coordenação do crescimento dos frutos e das sementes. Giberelinas ativas do tipo GA1 e GA3 são capazes de induzir pegamento de frutos e frutificação efetiva em várias espécies hortícolas (DORCEY et al., 2009). Diversos autores sugerem que a aplicação de giberelina exógena no momento da antese das flores, em alguns frutos, promove o alongamento celular do ovário e o desenvolvimento de frutos partenocárpicos, e já a giberelina produzida pelos grãos de pólen possuem a função de incrementar a produção de auxina no ovário, a qual serve como um sinal para a fixação dos frutos (SRIVASTAVA & HANDA, 2005).

Estudo conduzido por Mota Filho et al. (2012) demonstrou que o uso de auxinas sintéticas (ácido indolacético, ácido naftalenoacético, ácido indolbutírico e o diclorofenoxiacético), em diferentes doses, não foram eficientes, promovendo baixos índices de pegamento de frutos em atemoieira 'Gefner'. Em contrapartida, Pereira et al. (2012), ao aplicarem 1.000 ppm de GA3 na atemoia 'Gefner' plantada no estado da Flórida, EUA, sem polinização artificial, observaram frutificação efetiva acima de 80%, até o momento da colheita dos frutos, na 15ª semana após a antese. Estes resultados demonstram o potencial superior do uso do GA3, com destaque para a dose de 1.000 mg.L-1 de GA3, em substituição à polinização artificial, e à aplicação de auxinas sintéticas, devido à elevada fixação de frutos observada.

A falta de pegamento dos frutos na testemunha pode ser explicada devido à ausência de um sinalizador para fixação dos frutos na planta, já que não foi realizada a polinização, não sendo possível o desenvolvimento da semente, que seria uma fonte de auxina necessária para promover a fixação dos frutos. Como nestes frutos da testemunha (controle) não houve aplicação de giberelina exógena, é provável que a produção de auxina tenha sido direta ou indiretamente comprometida, ocasionando a consequente abscisão dos frutos.

As massas do fruto, polpa e casca ajustaram-se ao modelo racional de regressão não linear (Figura 2). Observou-se que a massa do fruto incrementou de acordo com o aumento da dose de GA3 aplicada, demonstrando, na dose de 1.000 mg.L-1, o valor máximo, com média de 196,49 g. A massa da polpa seguiu o mesmo efeito, tendo na dose de 1.000 mg.L-1 o seu valor máximo, com média de 91,21g, assim como a massa da casca, que seguiu o mesmo padrão, tendo o valor máximo com média de 78,38 g na dose de 1.000 mg.L-1. De acordo com as tendências dos gráficos, observa-se que, em futuros trabalhos, podem ser testadas maiores dosagens para atemoia, já que, conforme resultados obtidos por Yonemoto et al. (2004) em cherimólia utilizando 1.600 mg.L-1, foram obtidos frutos com mais de 300 g. São encontradas diversas recomendações na literatura acerca da concentração do ácido giberélico a ser aplicado, variando de 40 a 400 mg.L-1 para videira e de 20 a 100 mg.L-1 para o jambo (CASANOVA et al., 2009; MONERUZZAMAN et al., 2011). Em oliveiras, a aplicação de ácido giberélico a 30 mg.L-1 acelerou o crescimento do fruto, peso do fruto e produção total (RAMEZANI; SHEKAFANDEH, 2009). É de consenso que as dosagens são fortemente afetadas pelas condições ambientais, genótipo e estação do ano (CASANOVA et al., 2009). A dosagem deve ser definida de acordo com a espécie e a cultivar.


Segundo Jong et al. (2009), o crescimento de órgãos vegetais promovidos por giberelinas deve-se principalmente a um aumento do volume das células já existentes ou recentemente divididas. Entretanto, frutos sem sementes obtidos via aplicação de ácido giberélico são geralmente menores que os frutos com semente formados a partir da polinização natural ou artificial.

A porcentagem de polpa e casca ajustaram-se ao modelo quadrático da regressão. Ambas na dose 796,96 mg.L-1 tiveram seu melhor ponto, porém com efeito contrário, sendo a porcentagem de polpa com 60% seu maior valor, e a casca com 40%, seu menor valor (Figura 3). De forma geral, constatou-se que as menores doses proporcionam menor porcentagem de polpa e maior porcentagem de casca no fruto, e com o aumento das doses ocorre o inverso. Para o consumidor, quanto maior a porcentagem de polpa e menor a porcentagem de casca é mais interessante. Entretanto, os valores de casca do presente trabalho foram superiores aos relatados na literatura para frutos com sementes. Jong et al. (2009) relatam que, embora o volume de frutos induzidos com aplicação de GA3 seja pequeno, a espessura do pericarpo é comparável a frutos com sementes. Além disso, esse pericarpo de frutos com aplicação de GA3 possui menor quantidade de células, mas com maior volume celular do que frutos com sementes.


O pH da polpa dos frutos demonstrou incremento linear com o aumento nas doses de GA3, que iniciou em 4,83 na dose de 250 mg.L-1 e atingiu 5,37 na dose de 1.000 mg.L-1 (Figura 4). Segundo Leiser (2006), além dos meristemas e folhas jovens, a produção de auxinas também é detectada nas sementes, e este regulador participa ativamente no processo de crescimento do fruto por meio do incremento da divisão celular. No presente trabalho, foi observada uma redução significativa no número de sementes; desta forma, sem a presença de sementes, possivelmente pode ter ocorrido redução na produção de auxina promovendo em contrapartida um incremento no potencial hidrogeniônico.


As características comprimento, diâmetro, massa de sementes, número de sementes, percentagem de sementes, acidez titulável, teor de sólidos solúveis e firmeza não apresentaram diferenças significativas entre as doses de GA3 a 5% de probabilidade, pelo teste de F. Os frutos apresentaram, em média, 6,53 cm de comprimento e 4,93 cm de diâmetro, dimensões menores que as encontradas por Pereira et al. (2012) em frutos advindos da polinização artificial, com 10,3 cm de comprimento e 8,7 cm de diâmetro. Com relação às análises de sementes nos frutos, embora prevista, já que as flores não foram ensacadas na antese, com possibilidade de polinização natural por pequenos coleópteros, foi observada a produção de frutos sem sementes ou partenocárpicos. Segundo Pereira et al. (2012), estudando atemoieira 'Gefner' na Flórida, a aplicação de 1.000 ppm de GA3 sem polinização artificial proporcionou frutos sem sementes, e esta mesma dose aplicada em frutos polinizados resultou em menor relação número de sementes por 100 g de fruto e polpa quando comparado às menores doses testadas.

A polpa dos frutos apresentou acidez titulável média de 0,16 mg ácido cítrico/100 g polpa e teor de sólidos solúveis de 18,24ºBrix. Em média, os frutos demonstraram firmeza de 6,39 N. Pereira et al. (2012) também não verificaram diferenças significativas no teor de sólidos solúveis de frutos de atemoia 'Gefner' testando doses de GA3, no entanto obtiveram média de 24,4ºBrix, valor superior ao do presente trabalho. Essa alteração possivelmente se deve à diferenças nas condições edafoclimáticas e de manejo cultural de cada local. Apesar disso, os frutos do presente trabalho com menores valores apresentaram sabor agradável para consumo. Casanova et al. (2009), trabalhando com variedades de uva sem semente, demonstraram o efeito da aplicação do ácido giberélico no incremento, no conteúdo total de açúcares e no conteúdo total de água. Estes resultados demonstram o efeito do GA3 em não interferir negativamente sobre o teor de sólidos solúveis e interferindo positivamente sobre o acúmulo de açúcares e água em frutos.

Foi observado no presente trabalho uma deformação de 27% dos frutos da atemoieira 'Gefner' com aplicação do ácido giberélico, principalmente com pequeno anelamento na região central do fruto. Pereira et al. (2002) também observaram desuniformidade no formato de frutos de pinha com polinização artificial, nos horários de 5; 6 e 7 horas, com valor de 6%, 11% e 7%, respectivamente. Normalmente, a deformidade de frutos polinizados ocorre devido a algum problema com a efetiva deposição de grãos de pólen no estigma, seguido da posterior não formação das sementes em partes do fruto. No presente experimento, a irregularidade do formato dos frutos ocorreu, provavelmente, em função da ausência de sementes e polpa em algumas partes dos frutos e consequente atrofia dos carpelos, alterando a forma natural destes, semelhante a um cone. Este fato não é interessante comercialmente depreciando os frutos; portanto, novos estudos devem ser realizados para minimizar este problema.

De acordo com Jong et al. (2009), os frutos induzidos por meio do uso de giberelinas são menores e de formato mais irregular quando comparados com frutos tratados com auxinas. Serrani et al. (2007) relataram a importância da indução de frutos via aplicação combinada de giberelinas e auxinas. Os autores apoiam a hipótese de que as atividades de elongação celular e divisão celular são atividades cocoordenadas e dirigidas por um delicado balanço entre os dois fitormônios.

CONCLUSÕES

A aplicação de 1.000 mg.L-1 de GA3 proporciona elevada produção de frutos de atemoieira 'Gefner' sem sementes com sabor agradável, porém com certa desuniformidade no formato.

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    (Trabalho 117-13) - Recebido em: 14-03-2013. Aceito para publicação em: 05-07-2013. V Congresso Internacional & Encontro Brasileiro sobre Annonaceae: do gene à exportação (19 a 23 de Agosto de 2013). Botucatu-SP. Apoio: Fapemig e Fazenda Simonica.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Abr 2014
    • Data do Fascículo
      2014

    Histórico

    • Aceito
      05 Jul 2013
    • Recebido
      14 Mar 2013
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