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DESENVOLVIMENTO INICIAL DE MUDAS DE Euterpe ssp. APÓS A APLICAÇÃO DE HERBICIDAS

HERBICIDE SELECTIVITY IN Euterpe spp.

RESUMO

O conhecimento sobre a aplicação de herbicidas em palmeiras frutíferas é quase inexistente. Assim, esta pesquisa teve como objetivo avaliar o desenvolvimento inicial de mudas de Euterpe oleraceae e Euterpe edulis após a aplicação de herbicidas.Foram conduzidos estudos em duas épocas (fevereiro de 2013 e janeiro de 2014) para cada espécie, no delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro repetições. Os tratamentos testados foram: fluazifop-p-butyl (93,8 g ha-1); sethoxydim (184 g ha-1); quizalofop-p-ethyl (75 g ha-1), (clethodim + fenoxaprop-p-ethyl) (50 + 50 g ha-1); fomesafen (225 g ha-1); lactofen (168 g ha-1); nicosulfuron (50 g ha-1); MSMA (1.422 g ha), al-1ém de uma testemunha sem aplicação de herbicida. A pulverização foi realizada sobre as mudas que apresentavam altura entre 45 e 50 cm. Foram realizadas avaliações visuais de fitotoxidade, altura das plantas aos 7; 14; 21; 28; 35; 42 e 49 dias após a aplicação (DAA)e ao final a massa seca da parte aérea.Visualmente, todos os herbicidas testados foram seletivos às duas espécies de palmeiras estudadas e quando ocorreram sintomas de injúrias(máximo 14%), estes dissiparam-se aos 49 DAA. Ao analisar-se a altura e o acúmulo de massa seca das plantas, observou-se que a palmeira E. oleracea foi mais tolerante aos herbicidas que a E. edulis. Todos os herbicidas testados podem ser recomendados para E. oleracea. Quanto à E. edulis, apenas os herbicidas sethoxydim, nicosulfuron e a mistura de clethodim + fenoxaprop-p-ethyl não afetaram o desenvolvimento inicial das mudas nos dois anos de estudos.

Termos para indexação
açaí; juçara; palmiteiro; fitotoxidade

ABSTRACT

Knowledge regarding the use of herbicides in palms fruit is almost nonexistent. Thus, the objective of this study was to evaluate the initial development of seedlings on Euterpeoleraceae and Euterpeedulis. Studies were conducted in two seasons (February 2013 and January 2014) for each species in a completely randomized design with four replications. The treatments tested were: fluazifop-p-butyl (93,8 g ha-1), sethoxydim (184 g ha-1), quizalofop-p-ethyl (75 g ha-1), (clethodim + fenoxaprop-p-ethyl) (50 + 50 g ha-1), fomesafen (225 g ha-1), lactofen (168 g ha-1), nicosulfuron (50 g ha-1), MSMA (1.422 g ha-1), and a control without herbicide. Spraying was performed over seedlings with 45-50 cm tall. Visual evaluations of phytotoxicity, plant height at 7, 14, 21, 28, 35, 42 and 49 days after spraying (DAS) and at the end of the dry mass of shoot. Visual observations showed that all herbicides were selective to the two palm species studied. Some visual injury symptoms eventually noticed (maximum 14%), dissipated of these occurred over 49 DAS. Analysis of the height and dry mass accumulation of plants showed that E. oleracea palm presented more tolerant to herbicides when compared to E. edulis.All the herbicides can be recommended to the E. oleracea. As to E.edulis, only the herbicides sethoxydim (184 g ha-1), nicosulfuron (50 g ha-1) and mixing clethodim + fenoxaprop-p-ethyl (50 + 50 g ha-1) did not affect the initial development of seedlings during the two years of study.

Index terms
açaí; juçara; palm heart; phytotoxicity

INTRODUÇÃO

Além dos palmitos das palmeiras do gênero Euterpe, obtém-se também uma polpa que é extraída de seus frutos, conhecida como açaí. Na região Norte do Brasil, esse fruto é comumente colhido da Euterpe oleracea Mart., e também da E. precatoria Mart., e nas regiões Sul e Sudeste, o açaí pode ser obtido a partir dos frutos da palmeira juçara (MACFADDEN, 2005 MACFADDEN, J. A produção do açaí a partir dos frutos do palmiteiro (Euterpe edulisMartius) na Mata Atlântica. 2005. 100f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina,Florianópolis, 2005. ). A polpa de açaí faz parte de uma cadeia produtiva sólida e com mercado garantido (SILVA et al., 2006 SILVA, I.M.; SANTANA , A.C.; REIS, M.S. Análise dos retornos sociais oriundos de adoçãotecnológica na cultura do açaí no Estado do Pará. Amazônia:Ciência & Desenvolvimento, Belém, v.2, n.3, p.25-37, 2006. ), devido ao crescente interesse internacional por frutos exóticos, produzidos por comunidades em sistemas agroflorestais, por produtos naturais saudáveis, mas também pela maior visibilidade e disponibilidade nos mercados (VIEIRA et al., 2007 VIEIRA, T.A.; ROSA, L.S.; VASCONCELOS,P.C.S.; SANTO S, M.M.; MODESTO , R.S. Sistemas agroflorestais em áreas de agricultores familiares em Igarapé-Açu, Pará: caracterização florística,implantação e manejo. Acta Amazônica, Manaus,v.37, n. 4, p. 549-558, 2007. ; SCHRECKINGER et al., 2010 SCHRECKINGER, M.E.; LOTTON , J.; LILA,M.A.; MEJIA, E.G. Berries from SouthAmerica: A comprehensive review on chemistry, health potential, and commercialization. Journal of Medicinal Food,New Rochelle, v.13, n.2, p.233-246, 2010. ).

A expansão do cultivo de Euterpe spp. para diversas regiões brasileiras, a execução de plantios ao longo do ano, a alta demanda por mudas, bem como o manejo inadequado da cultura têm aumentado a preocupação, por parte dos produtores, com as plantas daninhas, principalmente na fase de produção de mudas (SANTOS et al., 2007 SANTOS, A.F. DOS; TESMANN, D.J.; VIDA,J.B.; SANTANA , D.L.Q. Manejo fitossanitário em viveiros de palmeiras para palmito. Colombo: EMBRAPA, Centro Nacional de Pesquisa de Florestas. 2007. 9p. (Circular Técnica, 146). ). Deste modo, vários trabalhos têm estudado estratégias e procedimentos que possibilitem a produção de palmeiras frutíferas em escala comercial de maneira mais eficiente, possibilitando a rápida formação do pomar (MARTINS et al., 2009a MARTINS, C.C.; BOVI, M.L.A.; SPIERING, S.H.Umedecimento do substrato na emergência e vigor de plântulas de pupunheira. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.31, n.1, p.224-230, 2009a. ;MARTINS et al.b MARTINS, C.C.; NAKAGAWA, J.; BOVI, M.L.A.Avaliação da qualidade fisiológica de sementes de açaí. Revista Brasileira de Fruticultura,Jaboticabal, v.31, n.1, p.231-235, 2009b. ; RAMOS et al., 2011 RAMOS, S.L.F.; MACEDO, J.L.V.; MARTINS,C.C.; LOPES, R.; LOPES, M.T.G. Tratamentos pré-germinativos e procedência de sementes do tucumã-do-amazonas na produção de mudas. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.33, p.962-969, 2011. ). Quanto mais tempo a planta permanecer nos estádios iniciais de desenvolvimento, mais vulnerável estará às condições adversas do meio (MARTINS et al., 2009a MARTINS, C.C.; BOVI, M.L.A.; SPIERING, S.H.Umedecimento do substrato na emergência e vigor de plântulas de pupunheira. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.31, n.1, p.224-230, 2009a. ; RAMOS et al., 2011 RAMOS, S.L.F.; MACEDO, J.L.V.; MARTINS,C.C.; LOPES, R.; LOPES, M.T.G. Tratamentos pré-germinativos e procedência de sementes do tucumã-do-amazonas na produção de mudas. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.33, p.962-969, 2011. ; RIZZARDI; WANDSCHEER, 2014 RIZZARDI, M.A.; WANDSCHEER, A.C.D.Interferência de Sorghum sudanense e Eleucine indica no cultivo de soja e milho. Planta Daninha,Viçosa, MG, v.32, n. 1, p. 19-30, 2014. ), como a competição exercida entre as plantas daninhas e a cultura por água, luz e nutrientes (FREITAS et al., 2007 FREITAS, F.C.L.; GROSSI, J.A.S.; BARROS, A.F.;MESQUITA , E.R.; FERREIRA, F.A. Controle de plantas daninhas na produção de mudas de plantas ornamentais. Planta Daninha, Viçosa, MG,v.25, n.3, p.595-601, 2007. ; BACHEGA et al., 2013 BACHEGA, L.P.S.; CARVALHO, L.B.; BIANCO,S.; FILHO, A.B.C. Períodos de interferência de plantas daninhas na cultura do quiabo. Planta Daninha, Viçosa, MG, v.31, n. 1, p. 63-70, 2013. ).

De acordo com Gunathilake et al. (1993) GUNATHILAKE, H.A.J.; SOMASIRI, L.L.W.;PERIS, T.S.G.; FERNANDO, M.T.N. An appraisal of coconut grower’s reaction and observation on coconut research institute recommended cultural practices and other related issues. CRI Report,Cambridge, v.2, n.1, p.89-96, 1993. , a competição de plantas daninhas com o coqueiro (Cocos nucifera L.) pode resultar em redução de 18 a 20% na produtividade. Também em viveiros de palmeiras, o controle de plantas daninhas tem sido um problema, pois é realizado por meio de mondas periódicas, o que tem onerado o custo da muda e nem sempre é efetivo para o controle da comunidade infestante (ROMANI et al., 2010 ROMANI; G.N.; SILVA, M.T.; PIVETTA ;K.F.L.; PITELLI; R.A.; ALVES; P.L.C. Controle de brilhantina em mudas de Palmeira-açaí. In:CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTA S DANINHAS, 27., 2010, Ribeirão Preto. Anais... p.187-191. ).

Vieira et al. (2007) VIEIRA, T.A.; ROSA, L.S.; VASCONCELOS,P.C.S.; SANTO S, M.M.; MODESTO , R.S. Sistemas agroflorestais em áreas de agricultores familiares em Igarapé-Açu, Pará: caracterização florística,implantação e manejo. Acta Amazônica, Manaus,v.37, n. 4, p. 549-558, 2007. relatam que o controle de plantas daninhas na cultura do açaí é realizado mais frequentemente por meio de capinas e roçagem, a cada dois meses, durante todo o seu ciclo, visando a minimizar a competição com estas plantas. Segundo estes pesquisadores, o uso de herbicidas em jato dirigido foi verificado em 69% das propriedades em sistema agroflorestal com glyphosate e amônioglufosinato.

Nas últimas décadas, inúmeros herbicidas foram introduzidos no manejo de plantas daninhas visando ao controle seletivo destas espécies. No entanto, possíveis efeitos tóxicos desses produtos ainda não foram avaliados de forma satisfatória para várias espécies (MARTINS et al., 2007 MARTINS, D.; TRIGUEIRO, L.R.C.; DOMINGOS,V.D.; MARTINS, C.C.; MARCHI, S. R.; COSTA ,N.V. Seletividade de herbicidas aplicados em pós-emergência sobre capim-braquiária. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.36, p.1969- 1974, 2007. ), inclusive frutíferas de interesse comercial no Brasil, o que limita seu uso nos pomares. A seletividade dos herbicidas baseia-se na capacidade da planta em metabolizar rapidamente o composto químico pulverizado, formando compostos não fitotóxicos (MARTINS et al., 2007 MARTINS, D.; TRIGUEIRO, L.R.C.; DOMINGOS,V.D.; MARTINS, C.C.; MARCHI, S. R.; COSTA ,N.V. Seletividade de herbicidas aplicados em pós-emergência sobre capim-braquiária. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.36, p.1969- 1974, 2007. ; SOUZA et al., 2014 SOUZA, G.S.F.; VITO RINO, H.S.; FIOREZE,A.C.L.; PEREIRA, M.R.R.; MARTINS, D.Seletividade de herbicidas na cultura de crambe.Semina. Ciências Agrárias, Londrina, v. 35, p.161, 2014. ).

Os estudos de seletividade de herbicidas em espécies perenes costumam ser realizados inicialmente sobre mudas, pois plantas resistentes nas fases iniciais de desenvolvimento em viveiro podem ser também na etapa adulta do pomar no campo (BRANCALION et al, 2009 BRANCALION , P.H.S.; ISENHAGEN, I.;MACHADO, R.P.; CHRISTOFFOLETI, P.J.;RODRIGUES, R.R. Seletividade dos herbicidas setoxidim, isoxaflutol e bentazon a espécies arbóreas nativas. Pesquisa Agropecuária Brasileira,Brasília, v.44, p.251-257, 2009. ; PEREIRA et al., 2011 PEREIRA, M.R.R; MARTINS, D.; RODRIGUES,A.C.P.; SOUZA, G.S.F.; CARDOSO, L.A. Seletividade do herbicida saflufenacil a Eucalyptusurograndis. Planta daninha, Viçosa,MG, v.29, n.3, p.617-624, 2011. ).

Na implantação de áreas de produção de culturas com crescimento lento, como as do gênero Euterpe ssp., faz-se necessário ter o conhecimento e a identificação de herbicidas seletivos à cultura para que se tenha uma ferramenta a mais no manejo de plantas daninhas.

Assim, este estudo teve como objetivo avaliar o desenvolvimento inicial de mudas de palmeira-açaí (E. oleracea) e palmeira-juçara (E. edulis) quando submetidas à aplicação de herbicidas com potencial uso em áreas de produção.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi instalado e conduzido na FCA/UNESP, Câmpus de Botucatu-SP, em um delineamento experimental inteiramente casualizado, com nove tratamentos e quatro repetições, em dois anos consecutivos, fevereiro de 2013 e janeiro de 2014. A aplicação foi realizada sobre mudas comerciais (45 a 50 cm) da palmeira-açaí (E. oleraceae) e palmeira-juçara (E. edulis) obtidas a cada ano em viveiros de produção de mudas. As mudas foram transplantadas para vasos plásticos, com capacidade de 3,1 L, preenchidos com solo classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo (EMBRAPA, 2006 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2.ed. Rio de Janeiro:EMBRAPA-SPI, 2006. 306p. ), e a adubação foi realizada com base na análise de solo (AGUIAR et al., 2014 AGUIAR, T.E.A.; GONÇALVES, C.; PAT ERNIANI,M.E.A.Z.G.; TUCCI, M.L.S.; CASTRO, C.E.F.Boletim 200: instruções agrícolas para as principais culturas econômicas. 7.ed. Campinas: IAC, 2014.452 p. ). Os tratamentos e as doses testadas estão apresentados na Tabela 1.

Para a aplicação dos herbicidas, foi utilizado um pulverizador costal pressurizado a CO2, munido de pontas de jato plano Teejet XR 11002VS, espaçados entre si de 50 cm, a uma pressão constante de trabalho (200 kPa), o que proporcionou um volume de calda de 200 L ha-1. As características ambientais por ocasião da aplicação foram: temperatura de 25ºC e UR de 76% no primeiro ano, e de 27ºC e UR de 70% no segundo ano.

Foram realizadas avaliações visuais de fitotoxidade aos 7; 14; 21; 28; 35; 42 e 49 dias após a aplicação (DAA), por meio de uma escala de notas, na qual, ‘0’ correspondeu a nenhuma injúria demonstrada pelas plantas, e ‘100’, à morte das plantas (SBCPD, 1995 SBCPD - Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas. Procedimentos para instalação,avaliação e análise de experimentos com herbicidas. Londrina: SBCPD, 1995. 42 p. ). Também foi avaliada a altura das plantas (desde a sua base rente ao colo até ao ápice da folha mais alta, completamente expandida);e ao final de cada estudo, a massa seca da parte aérea. Os resultados foram submetidos à análise de variância, pelo Teste F, e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de “t”, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No primeiro estudo (2013), para as plantas de açaí (E. oleracea), a aplicação dos herbicidas proporcionou sintomas leves de injúrias às plantas, e estas permaneceram até os 35 DAA, sendo que aos 42 DAA os sintomas dissiparam-se completamente, exceto para o setoxydim (184 g ha-1) e o fomesafen (225 g ha-1) (Tabela 2).Observou-se que os herbicidas sethoxydim (184 g ha-1), fomesafen (225 g ha-1) e MSMA (1.422 g ha-1) proporcionaram injúrias de até 14% de fitotoxidade às plantas de E. oleracea. Contudo, aos 49 DAA, as plantas não mostravam mais fitointoxicação.

Para as plantas de juçara (E. edulis), no primeiro estudo (2013), as injúrias ocasionadas pelos tratamentos não superaram os 6%, sendo que as maiores intoxicações foram proporcionadas pelos herbicidas sethoxydim (184 g ha-1), fomesafen (225 g ha-1) e MSMA (1.422 g ha-1) e, novamente ao final do estudo (49 DAA), as folhas já não mostravam mais danos visuais (Tabela 3).

Ao comparar-se estes resultados com os de Brancalion et al. (2009) BRANCALION , P.H.S.; ISENHAGEN, I.;MACHADO, R.P.; CHRISTOFFOLETI, P.J.;RODRIGUES, R.R. Seletividade dos herbicidas setoxidim, isoxaflutol e bentazon a espécies arbóreas nativas. Pesquisa Agropecuária Brasileira,Brasília, v.44, p.251-257, 2009. , que trabalharam com diversas espécies arbóreas nativas, observou-se que plantas de palmeira-juçara mantidas em tubetes também apresentaram tolerância ao sethoxydim com doses de até 736 g ha-1, porém dissiparam-se com o decorrer do tempo, o que corrobora os resultados ora encontrados.

Ressalta-se que, no segundo estudo (2014), para ambas as espécies de palmeiras, nenhum dos herbicidas testados ocasionou qualquer sintoma de fitointoxicação, sendo atribuída nota zero de fitotoxidade visual em todas as épocas de avaliação, até ao final do estudo, aos 49 DAA.

Para a altura de plantas de palmeira-açaí no primeiro estudo (Tabela 4), não se verificaram efeitos negativos resultantes da aplicação da maioria dos herbicidas avaliados, com exceção do fluazifop-pbutyl (inibidor da Accase); porém, no primeiro ano, pode ter ocorrido um efeito da escolha da muda, uma vez que no segundo ano não se observou nenhum efeito deste herbicida sobre estes parâmetros avaliados. Apesar de o herbicida fluazifop-p-butyl ter proporcionado menor altura de plantas, nenhum dos herbicidas avaliados interferiu no acúmulo de massa seca das palmeiras (Tabela 4 e Tabela 5).

Já, para a altura de plantas da palmeiraaçaí no segundo estudo (Tabela 5), nenhum dos tratamentos interferiu nesta característica, bem como para sua massa seca.

Com relação à altura de planta para a palmeira-juçara, no primeiro estudo (Tabela 6), nota-se que apenas os herbicidas fluazifopp- butyl (93,8 g ha-1), quizalofop-p-ethyl (75 g ha-1) e a mistura clethodim + fenoxapropp- ethyl (50 + 50 g ha-1) proporcionaram redução no crescimento das plantas de 18%, 24,5% e 22%, respectivamente, quando comparado com a testemunha, sendo que, para os herbicidas fluazifopp- butyl (93,8 g ha-1) e quizalofop-p-ethyl (75 g ha-1), ainda houve redução da massa seca da parte aérea de 37% e 42%, respectivamente. Apesar de os herbicidas fomesafen, lactofen e MSMA não terem interferido na altura de plantas, estes proporcionaram decréscimos no acúmulo de massa seca da parte aérea, de aproximadamente 41%, 31% e 37%, respectivamente, o que pode prejudicar a recomendação destes herbicidas para o palmitojuçara como seletivos, pois a redução da massa seca poderá afetar, também, o diâmetro e a emissão de novas folhas.

No segundo estudo (Tabela 7), para as plantas de palmeira-juçara, nenhum dos tratamentos aplicados apresentou efeito negativo sobre a altura de plantas até ao final do estudo (42 DAA). Ressalta-se que os herbicidas nicosulfuron (50 g ha-1) e lactofen (168 g ha-1) proporcionaram decréscimos no acúmulo de massa seca de plantas, porém não significativos. Devese salientar que, no primeiro ano, o herbicida lactofen (168 g ha-1) reduziu significativamente a biomassa seca de plantas (Tabela 6), o que talvez esteja relacionado com a escolha de mudas. Tal fato traz preocupações quanto à origem da muda, pois poderá afetar o potencial de seletividade deste herbicida.

Assim, espécies de interesse florestal podem apresentar respostas distintas aos herbicidas, uma vez que estes indivíduos, mesmo sendo da mesma espécie, podem apresentar alta variabilidade genética devido a sua origem (FERREIRA et al., 2005 FERREIRA, R.A.; DAVIDE, A.C.; ALCÂNTARA,E.N.; MOTTA , M.S. Efeito de herbicidas de pré-emergência sobre o desenvolvimento inicial de espécies arbóreas. Revista Brasileira de Herbicidas, Maringá, v.4, p. 133-145, 2005. ).

A maior tolerância da palmeira E. oleracea aos herbicidas testados em relação à palmeira E. edulis, nos dois anos de estudos, pode estar relacionado à maior capacidade de metabolização das moléculas herbicidas, bem como devido a sua agressividade, independentemente de pertencerem ao mesmo gênero, como a presença de perfilhamento em E. oleracea e sua ausência em E. edulis; a menor quantidade, bem como o diâmetro mais estreito de vasos condutores nas folhas de E. oleracea, em comparação a E. edulis, além de maior concentração de corpos silicosos presentes nas células dos vasos condutores de E. oleracea (PEREIRA; QUADROS, 2007 PEREIRA, R.A.; QUADROS, K.E. Euterpe edulis Mart. eE. oleracea Mart. (Arecacea): identificação pela análise de palmitos em conserva. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v.5, supl.1, p.333-335, 2007. ). Tais características podem estar relacionadas à maior tolerância aos herbicidas por parte de E.oleracea em relação a E. edulis.

Foram observadas diferenças entre as duas espécies de palmeira quanto à sensibilidade aos herbicidas testados, sendo estes responsáveis por quatro diferentes mecanismos de ação nas plantas.

Quando ocorreram injúrias visuais, que foram dependentes das moléculas de herbicidas testados, estes dissiparam-se até ao final do estudo, o que pode caracterizar estes herbicidas como tendo bom potencial de seletividade às espécies estudadas.

Contudo, diferenças no acúmulo de biomassa seca foram observadas na palmeira-juçara, mas houve um efeito do ano, que pode estar relacionado à origem do material testado, o que leva a ter-se mais cuidados com esta espécie.

Em culturas perenes, devido ao ciclo ser longo, pode-se exigir métodos e manejos consecutivos para o controle de plantas daninhas até ao momento da colheita. A possibilidade de ter herbicidas com seletividade comprovada sobre espécies de palmeiras permite ao produtor ter uma ferramenta eficaz a mais. O uso de herbicidas com mecanismos de ação diferentes pode auxiliar na rotatividade destes, o que evita a seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes, problemas estes que vêm ocorrendo em boa parte de cultivos de interesse agrícola.

TABELA 1
Descrição dos tratamentos experimentais. Botucatu-SP, 2013/2014.
TABELA 2
Porcentagem de fitotoxidade em plantas de Euterpe oleracea(açaí), após a aplicação de diferentes herbicidas. Botucatu-SP, 2013.
TABELA 3
Porcentagem de fitotoxidade em plantas de Euterpe edulis(juçara), após a aplicação de diferentes herbicidas. Botucatu-SP, 2013.
TABELA 4
Efeito de diferentes herbicidas sobre a altura e a massa seca de plantas de Euterpe oleracea(açaí). Botucatu-SP, 2013.
TABELA 5
Efeito de diferentes herbicidas sobre a altura e a massa seca de plantas de Euterpe oleracea(açaí). Botucatu-SP, 2014.
TABELA 6
Efeito de diferentes herbicidas sobre a altura e a massa seca de plantas de Euterpe edulis(juçara). Botucatu-SP, 2013.
TABELA 7
Efeito de diferentes herbicidas sobre a altura e a massa seca de plantas de Euterpe edulis(juçara). Botucatu-SP, 2014.

CONCLUSÕES

Os herbicidas causaram sintomas de fitointoxicação leves a moderados com dissipação total ao final do estudo para ambas as espécies.

Todos os herbicidas testados podem ser recomendados para a palmeira E. oleraceae em seu desenvolvimento inicial. Para a palmeira E. edulis, apenas os herbicidas sethoxydim (184 g ha-1), nicosulfuron (50 g ha-1) e a mistura clethodim + fenoxaprop-p-ethyl (50 + 50 g ha-1) não afetaram seu desenvolvimento inicial.

  • AGUIAR, T.E.A.; GONÇALVES, C.; PAT ERNIANI,M.E.A.Z.G.; TUCCI, M.L.S.; CASTRO, C.E.F.Boletim 200: instruções agrícolas para as principais culturas econômicas. 7.ed. Campinas: IAC, 2014.452 p.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2016

Histórico

  • Recebido
    14 Nov 2014
  • Aceito
    08 Jun 2015
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