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Qual o seu diagnóstico?

Qual o seu diagnóstico?

Ricardo Jorge VitalI; Leandro Accardo de MattosI; Luis Pecci NetoI; Hugo Alexandre Sócrates de CastroI; Thiago Arraes de FrançaI; Giuseppe D'IppolitoII

IMédicos Residentes do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/EPM

IIProfessor Adjunto do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/EPM

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Dr. Ricardo Jorge Vital Rua Pedroso Alvarenga, 333, ap. 144, Itaim Bibi São Paulo, SP, 04531-010 E-mail: rjvital@gmail.com

Paciente do sexo feminino, 35 anos de idade, procedente de São Paulo, relata queda da própria altura há dois dias, evoluindo com dor lombar e massa palpável no flanco esquerdo. Encaminhada para realização de tomografia computadorizada (Figuras 1 e 2) e, posteriormente, ressonância magnética do abdome (Figuras 3 e 4).





Achados de imagem

O exame tomográfico revela volumosa massa retroperitoneal esquerda, heterogênea, com áreas de maior e menor densidade, sem realce significativo após injeção endovenosa do meio de contraste, aderida ao rim esquerdo e promovendo compressão do seu parênquima. Esta massa mede cerca de 9 cm no seu maior diâmetro.

O exame de ressonância evidencia volumosa massa heterogênea com área central hiperintensa em T1 e hipointensa em T2, em correspondência à área de maior densidade vista na tomografia, sem realce após a injeção do meio de contraste paramagnético, compatível com sangue. O restante da lesão apresenta hipersinal em T1 e hipossinal na sequência com supressão de gordura, indicando componente lipomatoso correlacionado às áreas de menor densidade identificadas na tomografia.

Interessante observar a presença de pequeno nódulo no parênquima da região mesorrenal esquerda, cuja densidade e comportamento de sinal são compatíveis com conteúdo lipomatoso.

Diagnóstico: Angiomiolipoma renal com sangramento intratumoral.

COMENTÁRIOS

Angiomiolipomas ocorrem como entidades isoladas, esporádicas em 80% dos casos, geralmente manifestando-se em mulheres de meia idade. Os outros 20% desenvolvem-se em associação com a esclerose tuberosa. A penetrância de tais lesões no complexo da esclerose tuberosa pode ser de até 80%(1,2).

São geralmente achados incidentais, mas podem manifestar-se com sintomas de dor abdominal, náuseas, vômitos e febre. Os achados comumente descritos incluem massa palpável, hematúria, anemia, choque, hipertensão, infecções do trato urinário e insuficiência renal. Estes sinais e sintomas são geralmente resultado do efeito de massa e da hemorragia, ocorrendo em 68% a 80% dos pacientes em que o tumor alcança 4 cm ou mais. A propensão ao sangramento é multifatorial e inclui também deficiências focais do tecido elástico em vasos sanguíneos anormalmente rígidos e espessos, hipervascularização e invasão venosa(3–5).

Os defeitos do tecido elástico dos vasos sanguíneos também predispõem o angiomiolipoma ao desenvolvimento de aneurismas(6).

Os componentes deste tumor incluem tecido adiposo maduro, músculo liso e vasos sanguíneos de paredes espessas, tendo sido nomeado finalmente por Morgan em 1951(7).

Em virtude dessa histologia, os achados mais típicos do angiomiolipoma podem ser vistos à tomografia computadorizada. No exame sem contraste, são mais comumente observadas massas renais corticais únicas ou múltiplas, bem definidas e não calcificadas, contendo tecido com atenuação menor do que –20 UH(8). Os angiomiolipomas podem apresentar graus variados de atenuação de tecidos moles, devido a proporção relativa de músculo liso, vasos e presença de hemorragia intratumoral, que ocorre em até 17% a 20% dos pacientes com hemorragia perinéfrica espontânea(9).

Tal como outros tumores que contêm gordura, à ressonância magnética, os angiomiolipomas tipicamente exibem hipersinal nas imagens ponderadas em T1 e marcada redução de sinal nas imagens com supressão(6).

REFERÊNCIAS

1.Steiner MS, Goldman SM, Fishman EK, Marshall FF. The natural history of renal angiomyolipoma. J Urol 1993;150:1782–6.

2.Wagner BJ, Wong-You-Cheong JJ, Davis CJ Jr. Adult renal hamartomas. RadioGraphics 1997;17: 155–69.

3.Gentry LR, Gould HR, Alter AJ, Wegenke JD, Atwell DT. Hemorrhagic angiomyolipoma: demonstration by computed tomography. J Comput Assist Tomogr 1981;5:861–5.

4.Mouded IM, Tolia BM, Bernie JE, Newman HR. Symptomatic renal angiomyolipoma: report of 8 cases, 2 with spontaneous rupture. J Urol 1978; 119:684–8

5.Price EB Jr, Mostofi FK. Symptomatic angiomyolipoma of the kidney. Cancer 1965;18:761–74.

6.Logue LG, Acker RE, Sienko AE. Best cases from the AFIP: angiomyolipomas in tuberous sclerosis. RadioGraphics 2003;23:241–6.

7.Morgan GS, Straumfjord JV, Hall EJ. Angiomyolipoma of the kidney. J Urol 1951;65:525.

8.Helenon O, Merran S, Paraf F, et al. Unusual fat-containing tumors of the kidney: a diagnostic dilemma. RadioGraphics 1997;17:129–44.

9.Frauenfelder T, Wildermuth S, Marincek B, Boehm T. Nontraumatic emergent abdominal vascular conditions: advantages of multi-detector row CT and three-dimensional imaging. RadioGraphics 2004;24:481–96.

* Trabalho realizado no Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM).

  • Endereço para correspondência
    Dr. Ricardo Jorge Vital
    Rua Pedroso Alvarenga, 333, ap. 144, Itaim Bibi
    São Paulo, SP, 04531-010
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Jul 2005
    • Data do Fascículo
      Jun 2005
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